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AGENDA CULTURAL

Prêmio PIPA 2025.

Premiação ocorre desde 2010 e é considerada um dos mais importantes eventos da arte contemporânea brasileira; Bora e Haddad, que atualmente estão na Unidos de Vila Isabel, são os primeiros carnavalescos a ganhar o prêmio do júri.

Existem fronteiras entre as chamadas “artes carnavalescas” e a “arte contemporânea”? Gabriel Haddad e Leonardo Bora acreditam que não – e a crença nos transbordamentos artísticos que eles defendem acabou de ser reconhecida com um dos mais importantes prêmios da arte brasileira, o PIPA 2025. Os carnavalescos, à frente do projeto artístico da Unidos de Vila Isabel para o desfile de 2026, foram anunciados como ganhadores do prêmio, sendo a primeira vez que artistas cujos trabalhos de maior destaque que foram criados para o Carnaval vencem a premiação.

Tal prêmio é uma iniciativa do Instituto PIPA, criado em 2010, para destacar e promover a arte contemporânea brasileira. Este prêmio tem como objetivos, segundo a sua apresentação oficial, “incentivar artistas, motivar a sua produção e valorizar o cenário artístico nacional”. Anualmente, depois que um júri de pesquisadores é formado, uma lista de indicados é divulgada. Os nomes elencados passam a ter o conjunto da sua produção artística recente observado e avaliado. Dessa lista, quatro artistas (individuais ou coletivos) são premiados pelo júri. Para Ganriel Haddad, a premiação revela uma mudança de olhar para o complexo artístico dos desfiles das escolas de samba:

“Recebemos essa notícia com muita alegria e com muita emoção, porque é a primeira vez que artistas cujos principais trabalhos estão assentados no Carnaval ganham esse importante prêmio da arte contemporânea brasileira. Para nós, os desfiles das escolas de samba são, é claro, uma manifestação artística contemporânea. Que sempre foi contemporânea e esteve na vanguarda, disputando a cidade, pautando os temas do país sob múltiplos olhares, contando histórias, promovendo debates públicos, inventando tecnologias, fundindo linguagens, enfim, muita coisa. Por isso é estranho pensar que nós, carnavalescos, muitas vezes não somos lidos como “artistas”. É incrível, mas às vezes as pessoas perguntam: “vocês são artistas?” Ou então usam a palavra “artista” como forma de diferenciação, numa tentativa esquisita de expressar um elogio, não numa dimensão de trabalho. Isso revela um olhar excludente e hierarquizante, ainda preso a noções enferrujadas como “alta” e “baixa cultura” ou “cultura popular” e “cultura erudita” – noções essas que, no Brasil, se conectam às estruturas do racismo e do classismo que historicamente quiseram diminuir a importância do samba, do carnaval e das suas linguagens artísticas. Ganhar esse importante prêmio não deixa de revelar, portanto, uma mudança de olhar, um reconhecimento. Cada desfile de escola de samba é construído por muitos artistas – infelizmente, a maioria permanece no anonimato. Se esse olhar para o nosso trabalho levantar novos e plurais debates sobre as potências artísticas das escolas de samba, já ficamos orgulhosos. Por isso é que também recebemos essa notícia com muita responsabilidade.” – Declara Gabriel Haddad.

Leonardo Bora e Gabriel Haddad foram os carnavalescos campeões do carnaval de 2022, na Acadêmicos do Grande Rio, desenvolvendo um enredo sobre Exu que firmou parcerias artísticas e se desdobrou em diferentes exposições. Leonardo Bora também comemorou o prêmio e falou sobre a sensação de fazer parte de uma continuidade:

“As artes carnavalescas ocupam o Rio de Janeiro, promovendo instalações gigantescas e atos performáticos, tecendo tapetes humanos, desenhando, pintando e esculpindo imagens que moldam o nosso imaginário, contando histórias em prosa, verso, música e dança…tudo isso há muito, muito tempo. Nós, carnavalescos, trabalhamos com linguagens artísticas plurais, que se renovam a cada dia, no calor dos barracões e na agitação dos ateliês. Na década de 1980, a inventividade de Fernando Pinto gerou uma exposição e alguns debates sobre a natureza daquele trabalho – se era ou não era arte. Algo que hoje nos parece absurdo! Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães participaram de bienais e fizeram exposições, nos anos 90. Mais recentemente, Leandro Vieira ocupou o Paço Imperial e foi indicado para o Prêmio PIPA de 2020. Quando eu e Gabriel vemos o nosso trabalho artístico, que tem dimensões individuais e coletivas, exposto no Museu de Arte do Rio, no SESC Pinheiros ou no CCBB, entendemos que isso é um processo. A premiação do PIPA é um outro passo nessa caminhada ainda tão longa, jamais um ponto de chegada. Desejamos que o nosso trabalho continue conectando artistas e propondo discussões, provocando os sentidos e as certezas das pessoas, desafiando. Nós já trabalhamos em colaboração com pessoas que foram indicadas ou mesmo ganharam o PIPA. Celebramos a entrada nessa lista e a nossa trajetória até hoje, mas não podemos nos dar ao luxo do deslumbramento nem queremos acomodação. O nosso lema é fazer arte e as artes do carnaval são de uma potência infinita.” – finaliza Leonardo Bora.

O trabalho da dupla tem características marcantes, que pavimentaram o caminho que levou ao PIPA: a construção de narrativas circulares que dialogam com as memórias das próprias escolas, a desconstrução e o uso alternativo de materiais, o gosto por formas inusitadas, o apreço pelas técnicas artesanais, pelas sobreposições e pelos saberes tradicionais, o uso expressivo da iluminação cênica, o trabalho em colaboração com outros artistas etc. A partir de agora, os atuais carnavalescos da Unidos de Vila Isabel, juntamente com os outros artistas premiados, terão uma agenda de trabalho que culminará em uma exposição coletiva cujos detalhes ainda não foram revelados. A empolgação é grande, como define Gabriel Haddad:

“Estamos preparando um enredo sobre um multiartista brasileiro, Heitor dos Prazeres, alguém que misturava artes e foi premiado na primeira Bienal de São

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