Itália Brutalista: a arte do concreto.

02/jul

Fotografias dos italianos Roberto Conte e Stefano Perego serão apresentadas no Polo Cultural ItaliaNoRio, em exposição inédita no Brasil que permanecerá em cartaz até 30 de agosto. Reconhecidos mundialmente por registrar a arquitetura italiana, os fotógrafos Roberto Conte e Stefano Perego percorreram, por mais de cinco anos, toda a península de seu país de origem, cobrindo cerca de 20.000 quilômetros para documentar a grande variedade de edifícios brutalistas de diferentes tipos. Concluídas principalmente entre os anos 1960 e 1980 e caracterizadas pelo uso de concreto armado aparente, bem como por elementos estruturais claros e bem definidos, as construções delineiam uma estética essencial e única. O Ministério da Cultura, Tenaris, Ternium, Grupo Autoglass, Instituto Cultural Vale, Generali Seguros, TIM Brasil e Saipem do Brasil apoiam a exposição, com produção e coordenação da Artepadilla.

 Sobre Roberto Conte e Stefano Perego.

Roberto Conte e Stefano Perego são dois fotógrafos de arquitetura italianos. Eles documentaram inúmeras construções extraordinárias em todo o mundo, com ênfase especial nos estilos arquitetônicos do século XX, apresentando os exemplos mais notáveis ​​dessa época. Suas fotos foram publicadas em diversos livros, como o “Atlas da Arquitetura Brutalista”, “This Brutal World”, “Ruin and Redemption in Architecture” entre muitos outros. Em 2019, publicaram “Soviet Asia” (FUEL), um livro fotográfico sobre o declínio do modernismo soviético na Ásia Central. Uma exposição de fotos do livro abriu o Festival de Cinema de Trieste de 2020, enquanto algumas fotos também foram incluídas em uma exposição realizada dentro do Festival BiArch, em Bari, em 2021. O livro foi apresentado no Politécnico de Milão e na EPFL em Lausanne, com

Panmela Castro em ação no Parque da Catacumba.

No dia 12 de julho, às 13h, será realizada uma oficina de modelo vivo botânico, comandada pela artista Panmela Castro, na exposição “Direito ao Afeto”, no Pavilhão Victor Brecheret, no Parque da Catacumba, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio deJaneiro, RJ. A atividade será gratuita e aberta a crianças e adultos de todas as idades.

Na oficina, realizada em parceria com a Rede NAMI, o público será convidado a desenhar e pintar flores e plantas do Parque da Catacumba ao lado da artista Panmela Castro, em um formato aberto e participativo. A artista contará um pouco sobre o seu processo de trabalho e sobre a escolha do tema, convidando o público a criar livremente seus desenhos, em um momento de experimentação, aflorando a expressão individual de cada participante.

“Quando desenhamos uma flor, estamos nos obrigando a parar e prestar atenção. É um gesto simples, mas que exige tempo e concentração. Nessa oficina, o desenho se torna uma forma de cuidado com a flor, com a nossa percepção e com as histórias que esse encontro pode despertar”, diz Panmela Castro.

O tema da oficina está ligado ao da exposição “Direito ao Afeto”, em cartaz até o dia 02 de agosto. Com curadoria de Keyna Eleison, a exposição transforma flores enviadas pelo público em pinturas feitas pela artista Panmela Castro, em um ritual de escuta, cuidado e presença. Inspirada em um manifesto elaborado pela artista, a mostra parte da premissa de que “o afeto não é privilégio – é um direito fundamental.” A frase sintetiza um percurso iniciado anos antes com a série “Mulheres Negras Não Recebem Flores”, nascida após a viralização do texto da escritora Gabriela Moura, que denunciava a exclusão afetiva de mulheres negras. “Sou uma mulher negra, e por muito tempo fui ensinada a não esperar cuidado. Essa exposição é uma forma de dizer que merecemos afeto, sim. E que merecemos recebê-lo em vida, em público, em gesto. Flores são só o começo”, afirma a artista.

Cildo Meireles: Percurso e Presença.

01/jul

“O desenho é a primeira percepção visual. Numa segunda etapa é preciso voltar ao desenho, detalhar. Ele acompanha esse processo de detalhamento de uma ideia. Mas sua função é captar essa coisa que passou como um relâmpago, que ainda não tem forma, cor, tamanho.”

Cildo Meireles

Encontra-se em cartaz na Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Cildo Meireles: percurso e presença”, uma homenagem ao icônico artista, referência na arte conceitual brasileira e internacional. A mostra resgata uma seleção de desenhos produzidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980; e gravuras produzidas em 2009, inspiradas em desenhos da década de 1960. Destacando assim uma vertente menos conhecida, mas de grande relevância no processo criativo do artista: os desenhos. Além das obras gráficas, foram reunidos alguns objetos em pequena escala, elementos de instalações simbólicas de sua produção no plano tridimensional.

A prática do desenho permeia a produção artística de Cildo Meireles desde a infância e desempenhou um importante papel em sua trajetória. Desenhar viria a ser uma forma de expressão e reflexão, um meio para detalhamento de ideias e, também, a sua principal fonte de receita até quase 1990. A venda de desenhos para amigos e colecionadores o possibilitou dedicar-se à carreira de artista e realizar projetos mais complexos, pelos quais Cildo Meireles se tornaria mundialmente conhecido. Em entrevista a Frederico Morais, ele conta que quando tinha apenas nove anos de idade, morando em Belém do Pará, ganhou alguns trocados na escola vendendo desenhos. Após se mudar para Brasília, já na escola secundária, seguiu desenhando. Foi a forma que encontrou de estar mais perto do real e de mostrar aos colegas a sua forma de pensar. Em 1963, aos 15 anos, passou a frequentar o Ateliê Livre da Fundação Cultural do Distrito Federal, dirigido pelo artista peruano Felix Alejandro Barrenechea. Lá exercitou o desenho de observação e com modelo vivo. Na mesma época ingressou no curso de cinema do CIEM, escola experimental, vinculada à Universidade de Brasília. Foi nessa ocasião que passou pela cidade uma exposição do acervo de arte africana da Universidade de Dakar, no Senegal, reunindo esculturas e máscaras. A mostra exerceu forte influência na formação do artista, que se sentiu estimulado a enfrentar qualquer superfície com o intuito de resolver o problema da representação, a figura transportada para outro plano. Em 1964, momento de grande adversidade no país com o início ditadura militar, o curso de arte da Fundação Cultural foi fechado, mas Cildo Meireles continuou frequentando o ateliê de Felix Alejandro Barrenechea. Desde então, a prática do desenho o acompanha, e lá se vão mais de seis décadas.

Entre as obras selecionadas para esta exibição, constam desenhos livres de diferentes temáticas e formatos: alguns inspirados nas máscaras africanas mencionadas anteriormente; outros seguindo uma linguagem narrativa, com nichos alusivos aos de histórias em quadrinhos, porém com situações que se desenvolvem de forma arbitrária. Há também composições abstratas com predominância da cor; desenhos que misturam pinceladas arredondadas e tracejados evocando situações de dor e violência; e ainda cenas específicas guardadas na memória do artista.

Um retrospecto para Jorge Selarón.

30/jun

O Gabinete Selarón de Curiosidades em cartaz no Espaço Cultural da Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ, – os degraus para a gestão compartilhada da Escadaria Selarón é uma exposição que homenageia o multifacetado artista chileno Jorge Selarón, cuja obra transformou a Escadaria Selarón em um dos pontos mais visitados e conhecidos do Rio de Janeiro. A mostra reúne cerca de 300 obras, entre pinturas, azulejos, rascunhos e fotografias, revelando o olhar cosmopolita de Selarón. Mais do que um ponto turístico, a escadaria tornou-se um motor da dinâmica econômica e social da cidade, atraindo visitantes do mundo inteiro, gerando renda para o comércio local e valorizando o patrimônio cultural carioca. Estando localizada a poucos metros do Centro Cultural Justiça Federal, instituição que abriga a exposição, a escadaria estabelece um diálogo simbólico e visual com o espaço, fortalecendo o vínculo entre arte, território e cidadania.

Com curadoria coletiva de Andre Andion Angulo, Marcelo Esteves, Ceci Maciel, Ester Galleguillos, Guilherme Guimarães e Gerardo Millone, a exposição destaca a faceta de pintor de Jorge Selarón e irá propor uma reflexão sobre a preservação e a gestão compartilhada desse patrimônio cultural. O projeto convida o público a pensar formas colaborativas de cuidar da escadaria, ampliando o conceito de gabinete de curiosidades e reconhecendo seu valor como espaço de memória, diversidade e expressão coletiva.

Visita guiada no Paço Imperial.

No dia 05 de julho, às 16h, a artista Amanda Coimbra e a curadora Natália Quinderé farão uma visita guiada, gratuita e aberta ao público, pela exposição “Luz estelar ecoando”, em cartaz até o dia 10 de agosto no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Inspiradas nas incríveis imagens feitas pelo telescópio espacial James Webb, da NASA, as 35 obras inéditas da exposição foram produzidas em diferentes suportes, como fotografias, caixas de luz, vídeo e instrumentos ópticos variados. A sala expositiva está com uma luz mais baixa, difusa, criando um ambiente escuro, contemplativo e estelar.

Para realizar os trabalhos, Amanda Coimbra fotografa o céu de forma analógica, usando uma câmera Rolleiflex. Com as imagens prontas, ela faz interferências no filme slide com objetos pontiagudos, em geral compassos, desenhando planetas, estrelas e elementos cósmicos na superfície da película. O resultado é surpreendente e o espectador precisa trabalhar sua percepção para entender o que é real e o que foi criado pela artista. Cores variadas surgem nas obras, seja através das interferências feitas por Amanda Coimbra com marcador permanente, seja pelo próprio processo de raspagem do filme fotográfico, que faz brotar tons de azul da sua superfície. Essas imagens estão expostas de formas variadas. Muitas delas estão em caixas de luz, com fotogramas em sequências, que criam uma narrativa. Três fotogramas foram impressos em tamanho 64 x 80 cm. Há, ainda, um vídeo feito a partir de animações das obras da artista, levando o espectador a uma viagem pelo espaço. Completam a mostra imagens expostas em 10 dispositivos ópticos variados, como monóculos, lupas e retroprojetor.

A prática artística de Amanda Coimbra sempre foi baseada nos processos analógicos da fotografia. Se antes a artista realizava as intervenções no fotograma e depois imprimia, agora o próprio slide tornou-se a obra de arte. Outra novidade é que o céu diurno também ganhou atenção da artista, que antes só trabalhava com imagens noturnas. Além disso, Amanda Coimbra começou a criar desenhos enquanto fotografa, aumentando a exposição e explorando novos elementos de luz.

Além da visita guiada, também estão previstos uma conversa, no dia 02 de agosto, e o lançamento do catálogo virtual da exposição.

Lançamento do catálogo Djanira 110 anos.

24/jun

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, e o Instituto Pintora Djanira convidam para o lançamento do catálogo “Djanira – 110 anos”, e visita guiada à exposição com os curadores Max Perlingeiro e Fernanda Lopes, no dia 24 de junho, às 19h. O livro bilíngue (port/ingl), tem 128 páginas e formato de 21cm x 27cm, com textos de Max Perlingeiro, Fernanda Lopes e Eduardo Taulois, diretor-geral do Instituto Pintora Djanira, além de uma cronologia da artista e imagens das obras.

Lançamento na Livraria da Travessa.

23/jun

Concluído pelo fotógrafo Gustavo Malheiros no início do ano, o livro “Mulher Viva”, será lançado em julho na Livrara Travessa, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, no dia 04 de julho, às 18h, e também nesse semestre, em São Paulo. A ideia nasceu, como ele mesmo afirma no texto autoral de abertura, de um impulso urgente em amplificar vozes e rostos de mulheres que estão na linha de frente da luta contra o feminicídio.

Para representar estas vozes e estes rostos, foram convidadas 25 personalidades de diferentes áreas de atuação, dentre elas a cantora Alcione, Antônia Pellegrino, Bruna Linzmeyer, Camila Pitanga, Carol Solberg, Clara Buarque, Dira Paes, Eliana Sousa Silva (Diretora Fundadora da Redes da Maré), Erika Hilton, Gabriela Prioli, Marieta Severo, Mart’nália, Regina Casé, Roseana Murray, Tais Araújo, Marisa Orth, Ana Kariri, Deise Monteiro de Carvalho, Jurema Werneck, Marcela Cantuária, Kananda Eller e a própria Maria da Penha, cuja história deu origem à Lei com seu nome, sancionada em 2006.

Defensora das causas femininas e feministas em sua obra e trajetória, a escritora e ex-imortal da ABL, Heloísa Teixeira – falecida em março de 2025 e também retratada por Malheiros -, assinou a curadoria do projeto junto com Gringo Cardia. A proposta é reverberar como um manifesto composto por fotos e entrevistas conduzidas pela jornalista Maria Fortuna. Para todas elas, a primeira pergunta feita foi “O que é ser mulher hoje?”.

Na ocasião, Rosiska Darcy de Oliveira prestará homenagem a Heloisa Teixeira, com a participação de Numa Ciro, representante da Universidade das Quebradas, Gringo Cardia e Maria Fortuna.

O momento de Miguel Afa no Paço Imperial.

16/jun

O artista Miguel Afa inaugura sua nova exposição individual, “O vento continua, todavia”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A mostra apresenta um conjunto de obras produzidas entre 2023 e 2025, e marca um momento de síntese e afirmação da trajetória do artista, iniciada em 2001 por meio do graffiti nas ruas do Complexo do Alemão, onde nasceu e cresceu.

Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Miguel Afa transita da rua para as instituições com uma linguagem pictórica profundamente marcada por seu percurso pessoal. Sua produção propõe uma reconfiguração poética da imagem do corpo periférico, contrapondo os estigmas da marginalização com cenas que evocam afeto, cuidado e resistência. Trabalhando com uma paleta cromática enigmática, Migeul Afa cria cenas que não suavizam, mas intensificam a complexidade de suas narrativas. Em sua obra, a cor é discurso, e o gesto de esmaecer é, mais do que técnica, ato de lembrança e posicionamento. Suas pinturas revelam simultaneamente o visível e o invisibilizado, tensionando o olhar e o imaginário social.

O texto de apresentação da exposição é assinado por Jeovanna Vieira, que reflete sobre o título da mostra, inspirado em uma frase de Vincent van Gogh: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Jeovanna Vieira escreve: “O título da exposição fragmenta frase de Van Gogh, que em carta para o irmão Theo provoca: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Diante da obra-itinerário produzida por Miguel Afa, somos conduzidos pelo vento pressupondo a teimosia primordial, que justifica tudo ainda estar.”

“O vento continua, todavia” estará em cartaz no Paço Imperial até o dia 10 de agosto. Um dos centros culturais mais importantes do país, com forte carga simbólica na história do Brasil, o Paço – edifício histórico do século XVIII que tem acolhido algumas das exposições mais relevantes do cenário nacional – é palco de diálogos essenciais sobre arte, cultura e memória brasileira. Agora, recebe a mostra que reafirma Miguel Afa como uma voz potente e em ascensão na arte contemporânea do país.

Miguel Afa vive e trabalha no Rio de Janeiro. Começou sua trajetória por meio do graffiti em 2001, nas ruas e becos do Complexo do Alemão, e estudou na Escola de Belas Artes – UFRJ. Seu trabalho reflete sobre o corpo periférico, contrapondo suas adversidades e propondo uma nova leitura imagética que potencializa e valoriza o afeto. Suas obras alternam entre a sensibilidade poética e mensagens políticas diretas.

O olhar do artista transforma o que captura, dando-lhe uma aura própria por meio das cores que utiliza. Sua paleta amena não é mero recurso estético: é essencial à composição, ampliando a complexidade do que é representado. Longe de neutra, a cor é discurso e um posicionamento diante das cenas retratadas. Esmaecer não é apenas um gesto pictórico, mas um ato de lembrança e questionamento, revelando tanto o visível quanto o invisibilizado.

Em 2024, participou das coletivas “Dos Brasis”, no Sesc Quitandinha, Petrópolis (itinerância da mostra apresentada no Sesc Belenzinho, São Paulo) e “O que te faz olhar para o céu?”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. No mesmo ano, realizou a individual “ENTRA PRA DENTRO”, na galeria A Gentil Carioca. Em 2023, realizou a individual “Em Construção” e participou da coletiva “Da Avenida à Harmonia”, ambas no Instituto Inclusartiz no Rio de Janeiro. Suas obras fazem parte de coleções de destaque, como a Jorge M. Pérez Collection.

A potência emocional de Stella Margarita

10/jun

A trajetória de Stella Margarita pelo circuito artístico do Rio de Janeiro foi breve, mas profundamente marcante. Um recorte significativo de sua produção poderá ser contemplado na exposição “Stella Margarita: Fugas que se movem”, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, Botafogo, no dia 17 de junho. A expressão “fugas que se movem” é da própria Stella Margarita. A partir dela, foi construído este retrato curatorial, um convite à imersão na força psicológica e humana de sua pintura.

Tendo como ponto em comum a investigação da dimensão humana e do movimento físico e emocional, foram selecionadas algumas de suas principais séries, entre elas Abraços, Álbum de Família e Fotogramas. A proposta desta individual é oferecer ao público uma imersão nessas fugas: uma visão de mundo singular, ancorada na dimensão humana mais do que na estética pura. Embora sua técnica fosse apurada, o verdadeiro motor de sua criação sempre foi o sentimento. Stella Margarita buscava traduzir emoções em imagem – por isso, dedicou-se intensamente a retratar olhares, gestos, abraços. Fundos marcantes, muitas vezes abstratos, revelam atmosferas emocionais. Os personagens parecem levitar, cair, escapar, mas como se trata de fugas que se movem, há sempre a possibilidade do reencontro, da volta.

Atualmente, sua obra pode ser vista na novela Vale Tudo (TV Globo), nas telas assinadas pela personagem Heleninha, interpretada por Paolla Oliveira.

“O movimento é um elemento central na linguagem de Stella. Ele se revela na pincelada livre e marcante, nos flagrantes de cenas cotidianas, e nas apropriações que fez do cinema e da performance, incorporando essas expressões a sua própria. Mas trata-se sempre de um movimento em fuga – fugas que se movem, fugas que retornam. É nessa constante busca e deslocamento que sua obra pulsa com uma densidade psicológica única. Muitas vezes perturbadora. Um convite à fuga, e ao retorno”.

Stella Margarita iniciou sua formação artística tardiamente, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Produziu intensamente por cerca de uma década, combinando urgência criativa e consistência técnica. Reinventou-se diversas vezes; adotou novos nomes, novos projetos e abraçou uma nova missão artística. Ganhou prêmios, como o do IBEU, participou de uma residência em Leipzig, e integrou diversas exposições. Sua ascensão, no entanto, foi abruptamente interrompida em 2020 por um diagnóstico de ELA bulbar, uma forma agressiva e rara da doença. Frente à progressiva limitação motora, Stella Margarita impôs a si mesma uma nova resistência: espalhou em seu ateliê a frase “fuerza carajo” como um grito de vida. E seguiu criando. Em 2021, montou um estúdio improvisado em Genebra, onde considerava iniciar um tratamento experimental. Contudo, optou por voltar ao Rio de Janeiro, e transformou sua casa em espaço de produção. Mesmo com a redução da motricidade e do tamanho dos quadros, a potência emocional se manteve intacta. Talvez como um gesto de ironia poética, suas últimas telas retratam cenas leves da vida familiar, cores quentes, ambientes externos, cotidianos ternos. Uma fuga, ou talvez uma síntese. Stella partiu precocemente em 2022, aos 66 anos de idade, deixando um legado artístico admirável.

Até 19 de julho.

Exposição imersiva no Paço Imperial.

09/jun

As incríveis imagens feitas pelo telescópio espacial James Webb, da NASA, foram a inspiração para a artista Amanda Coimbra criar as 35 obras da exposição “Luz estelar ecoando”, que será inaugurada no dia 14 de junho no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Natália Quinderé, serão apresentadas obras inéditas, produzidas desde o ano passado em diferentes suportes, como fotografias, caixas de luz, vídeo e instrumentos ópticos variados. A sala expositiva terá uma luz mais baixa, difusa, criando um ambiente escuro, contemplativo e estelar.

“A ideia é que a pessoa tenha uma imersão nesse cosmos, que é concreto e fictício ao mesmo tempo. Cada um pode ver e imaginar seu próprio universo, através de dispositivos que não são mais tão usuais, como o filme fotográfico, o monóculo e o retroprojetor. A intenção é se reconectar, voltar a olhar para as coisas de uma maneira mais lenta, ter essa pausa para imaginar o espaço”, afirma a artista Amanda Coimbra.

Para realizar os trabalhos, Amanda Coimbra fotografa o céu de forma analógica, usando uma câmera Rolleiflex. Com as imagens prontas, ela faz interferências no filme slide com objetos pontiagudos, em geral compassos, desenhando planetas, estrelas e elementos cósmicos na superfície da película. O resultado é surpreendente e o espectador precisa trabalhar sua percepção para entender o que é real e o que foi criado pela artista. Cores variadas surgem nas obras, seja através das interferências feitas por Amanda Coimbra com marcador permanente, seja pelo próprio processo de raspagem do filme fotográfico, que faz brotar tons de azul da sua superfície. “Os usos da luz são muito poéticos no trabalho de Amanda, pois atravessam todo o processo – desde pensar a medida incomensurável dos anos-luz, passando para a importância da luz na fotografia, o uso de uma caixa de luz para desenhar no filme, até os dispositivos utilizados na exposição. A exposição reúne essas multiplicidades de sentido da luz, para além do trabalho de imaginação de pensar o cosmo”, diz a curadora Natália Quinderé.

O nome da exposição, “Luz estelar ecoando”, também teve como referência os títulos das imagens do telescópio James Webb. “São títulos fantásticos, como a colisão de galáxias, a eclosão de estrelas, então pensei em fazer uma composição a partir do fenômeno galáctico que estou tentando criar ou mostrar. Como meu trabalho tem muito a ver com a luz, pensei nela ecoando, pois há várias camadas de estrelas que se repetem nas imagens de formas diferentes, além da fotografia analógica ser um processo muito relacionado com a luminosidade”, diz a artista.

Ao longo da mostra estão previstos uma visita guiada com a artista e a curadora e o lançamento do catálogo virtual da exposição.

Sobre a artista.

Amanda Coimbra nasceu em Brasília, DF, em 1989). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduada em Artes Visuais pelo School of the Art Institute of Chicago (2011). Participou das residências artísticas Casa da Escada Colorida (2021-2022), DESPINA (2017), Espacio de Arte Contemporáneo (Montevidéu, 2017), Proyecto ‘ace (Buenos Aires, 2012) e Picture Berlin (Berlim, 2009). Desde 2010 mostra seu trabalho em exposições coletivas e individuais no Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Uruguai, Argentina e Perú. Em 2016 publicou o fotolivro “A Memória de um Álbum de Viagem”, com prólogo da curadora argentina Ana María Battistozzi. Em 2021 seu projeto “Nascer de Terras” foi contemplado pelo edital Retomada Cultural RJ (Lei Aldir Blanc – SECEC RJ). O resultado do trabalho produzido foi mostrado em uma exposição individual na Z42 com curadoria de Fernanda Lopes (2022). Participou do programa de acompanhamento para artistas “Imersões Poéticas”, com orientação de Cadu e Natália Quinderé e exposição coletiva do grupo no Paço Imperial (2023).

Sobre a curadora.

Natália Quinderé nasceu em Fortaleza, vive no Rio de Janeiro. Faz curadorias, pesquisa sobre arte e seus arredores e dança. Fez curadorias individuais de Ana Hupe, Eloá Carvalho, Pedro Victor Brandão, Luciana Paiva, Maria Baigur, Darks Miranda, Cristina de Pádula, Mayra Redin, entre outras. Dentre as curadorias coletivas destaca-se O trabalho trabalha trabalha e Formas de abandonar o corpo – parte 1. Idealizou Seis gentes dançam no museu, um projeto que intersecciona artes visuais, performance em dança e arte sonora (MAM, Rio). Em 2024, foi uma das residentes do Pivô (São Paulo). Foi selecionada para a última edição do Abre Alas (Gentil Carioca), em 2025. Alimentou uma plataforma chamada teteia (teteia.org), com colaborações de artistas e pesquisadoras. Atrelado ao trabalho de edição, traduziu ensaios de Hito Steyerl, Chantal Mouffe, Oksana Bulgakova, o curador Bonaventure Soh Bejen Ndikung, dentre outros