Cinco artistas na Galatea SP

21/fev

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresenta até 16 de março “Líquen teso”, exposição coletiva com trabalhos de Camila Leite, Fabiana Preti, Gabriela Melzer, Mariana Rodrigues, Marina Weffort e texto crítico de Fernanda Morse.

Associação simbiótica entre fungos e algas; crosta por cima da casca. Esticado, tenso, inteiriçado, hirto; cimo de monte; duro. “Líquen teso” diz da intervenção e da natureza, dos polos e territórios por onde circulam estes trabalhos.

Tunga no MAM SP

07/fev

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, anuncia a permanência em exibição na Sala de Vidro de “…uma das últimas obras criadas por Tunga  (1952 – 2016), a instalação Eu, Você e a Lua. Inédita no Brasil, a obra reúne elementos frequentes da poética do artista como pedras, espelhos, garrafas de cristal e de gesso e pratos presos em aros e hastes”.

“Eu, Você e a Lua” está entre as últimas obras realizadas pelo artista que iniciou sua produção na segunda metade dos anos de 1960. Ao longo de sua trajetória, Tunga se interessou pela alquimia, pela psicanálise, pelas ciências e pela filosofia. Ele construiu uma mitologia singular com imagens simbólicas e materiais em que as noções de permanência e transformação são fundamentais. É recorrente em sua obra a ideia de que “o trabalho é um conjunto de trabalhos”.

A palavra do curador

Mesmo com a profusão de objetos e materiais, em Eu, Você e a Lua há uma forte coerência entre as partes. Alguns elementos são recorrentes no vocabulário poético do artista, como garrafas de cristal, de gesso ou de resina, tanto ocas como sólidas. Espelhos, cristais, pedras, pratos presos em aros e hastes, além de correntes ou alças de couro fixadas em tripés também aparecem em outras obras de Tunga. Ao lado de um tronco petrificado de milhares de anos, o uso desses materiais pode evocar o orgânico e o inorgânico ou o natural e o artificial. O fóssil de uma árvore que se manteve intacto, como se o tempo estivesse suspenso, convive com uma essência de âmbar, uma fragrância com toques amadeirados que goteja como se uma ampulheta marcasse a passagem do tempo e a transformação da matéria. Recorrendo ao olfato e à visão, os elementos originários e pré-históricos na obra de Tunga se fundem ao contemporâneo e à presença efêmera do perfume. Fragmentos agigantados de um corpo humano, dedos polegares de bronze patinado apontam para baixo, enquanto espelhos arredondados e prateados como a lua refletem a luz que vem de cima. Escultura de dedos, como se estivessem duplicados, apontam para lados contrários, para o céu e para o solo. Uma delas de pedra, na horizontal, alinhada ao tronco, indica sentidos opostos e apontam para o eu e para o outro. O olhar de dois sujeitos pode atravessar o fóssil e se encontrar num único. Os dois lados já não parecem se opor. Na poética de Tunga, o que está no planeta Terra ou fora dele, o interno e o externo, assim como eu, você e a lua, formam um todo indivisível.

Cauê Alves (curador-chefe do MAM São Paulo)

Sobre o artista

Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga, nasceu em 1952, em Palmares, Pernambuco, viveu e trabalhou no Rio de Janeiro. Foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra na pirâmide do Louvre, além de ter participado de exposições como a Bienal de Veneza, em 1982, e Documenta de Kassel, em 1992. Hoje o trabalho do artista está nos acervos do MoMA, em Nova York; do Museum of Fine Arts de Houston; do Centre Pompidou, em Paris; do Barcelona Museum of Contemporary Art, e da Tate Modern, em Londres.

Sobre o Instituto Tunga

Criado em 2017 logo após o falecimento do artista, o Instituto Tunga é uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é estudar, preservar e difundir o legado do artista. Fundado por seu filho Antônio Mourão, diretor executivo, e por Clara Gerchman, gestora do acervo, o Instituto Tunga transformou em realidade uma vontade que o artista manifestava em vida. O Instituto Tunga é formado por uma equipe de profissionais composta por pesquisadoras, museólogas, montadores, arquivista, bibliotecária e gestores que cuidam do acervo que Tunga deixou, contemplando desde as obras de arte até seus materiais e ferramentas de trabalho, cadernos de anotações, fotografias, cromos, publicações e uma importante biblioteca do artista.

Um quilombo cultural urbano

06/fev

Os artistas Dora Smék, Lourival Cuquinha e Ros4 Luz participam da grande coletival ReFundação, em exibição até 07 de abril na Galeria Reocupa da Ocupação 9 de Julho. A mostra reune cerca de 130 trabalhos, entre pinturas, esculturas, intervenções, instalações, vídeos e objetos de mais de 100 artistas de todo o território nacional.

Provocando a reflexão sobre outros mundos possíveis, em vias de existir ou a serem refundados, o grupo à frente da exposição propõe novas perspectivas de relações, em uma revisão dos laços sociais e políticos que sustentam nossa cultura, por meio de um coletivo de curadoria que reúne representantes de diversos setores da cultura e da arte. Este novo projeto da Reocupa, cuja abordagem interdisciplinar reflete a necessidade de criar outras formas de pensar, relacionar-se e praticar arte no mundo, tem como objetivo afirmar a Ocupação 9 de Julho como um pólo cultural aberto e permeável, que envolve espaços de circulação, inseridos em uma lógica de Parque, com ações culturais e urbanísticas integradas.

A exposição, realizada em diversos espaços da Ocupação 9 de Julho – antigo prédio do INSS, que ficou abandonado por três décadas, até ser ocupada pelo MSTC (Movimento Sem Teto do Centro) em diferentes ocasiões a partir dos anos 1990. Além da Galeria Reocupa, situada no 1º andar do prédio, as obras estarão em espaços de circulação, em diálogo com moradores do edifício e com a dinâmica que tornou a Ocupação 9 de Julho um lugar aberto à sociedade. Para o MSTC, a exposição contribui para a consolidação de um projeto modelo, que ambiciona seu reconhecimento, em caráter inédito, como um Quilombo Cultural Urbano. A maioria das obras estarão à venda, com o propósito de reunir fundos para operações da exposição e da Galeria, para a manutenção do prédio e dos projetos do MSTC e para o auxílio de todos os artistas participantes da exposição.

Ana Maria Maiolino na Luisa Strina SP

05/fev

Foi inaugurada a nova individual de Anna Maria Maiolino na Galeria Luisa Strina, Jardins, São Paulo. Intitulada “Querer e não querer, desejar e temer”, a exposição reúne uma seleção de obras produzidas desde a década de 1990 até o presente, algumas delas expostas pela primeira vez. Em cartaz até 16 de março.

Sobre a artista

O trabalho de Anna Maria Maiolino desenvolve-se por uma variedade de meios: poesia, xilogravura, fotografia, cinema, performance, escultura, instalação e, acima de tudo, desenho. O amplo espectro de interesses e atitudes que fundamentam sua obra não segue um desenvolvimento linear no próprio trabalho ou no tempo. Pelo contrário, pela diversidade de meios, ela cria uma teia em que temas e atitudes se entrelaçam enquanto significados migram entre um trabalho e outro.

Em 2019, Maiolino teve uma grande retrospectiva de seu trabalho no PAC Milano e na Whitechapel, em Londres. Em 2017, uma importante retrospectiva de sua obra foi apresentada no MoCA Los Angeles, como parte do projeto Pacific Standard Time: LA/LA, da Getty Foundation. Em 2010, uma ampla retrospectiva itinerante foi realizada na Fundação Antoni Tàpies, Barcelona, no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha, e no Malmö Kunsthalle, na Suécia (2011). Sua obra integra mais de 30 acervos de museus, como MoMA, MoCA Los Angeles, MASP, Malba, Reina Sofia, Centre Pompidou, Tate Modern e Galleria Nazionale di Roma. Individuais selecionadas incluem PSSSIIIUUU…, Instituo Tomie Ohtake, São Paulo (2022); EM TUDO – TODO, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2019); Errância Poética, Hauser & Wirth, Nova York (2018); TUDO ISSO, Hauser & Wirth, Zurique (2016); CIOÈ e performance in ATTO, Galleria Raffaella Cortese, Milão (2015); Ponto a Ponto, Galeria Luisa Strina, SP (2014); Afecções, MASP, SP (2012); Continuum, Camden Arts Centre, Londres (2010); Territories of Immanence, Miami Art Center, Miami (2006); Muitos, Pinacoteca, São Paulo (2005); Vida Afora/A Life Line, The Drawing Center, NY (2002). Exposições coletivas recentes: Radical Women: Latin American Art, 1960–1985, Hammer Museum, Los Angeles (2017) e Pinacoteca, São Paulo (2018); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, MET Breuer, Nova York (2017); The EY Exhibition: The World Goes Pop, Tate Modern, Londres (2015); The Great Mother, Palazzo Reale, Milão (2015); Artevida, MAM e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro (2014); dOCUMENTA 13, Kassel (2012); On Line: Drawing Through the 20th Century, MoMA, NY (2010); 29ª Bienal de São Paulo (2010)

Novos artistas na Zipper Galeria

22/jan

A 15ª edição do Salão dos Artistas Sem Galeria, promovido pelo portal Mapa das Artes, já começou na Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, e apresenta obras dos 10 artistas selecionados, permanecendo em cartaz até 24 de fevereiro. Essa edição inclui participantes de diferentes estados do Brasil, e oferece uma  Bolsa Viagem + Fora do Eixo (Rio de Janeiro – São Paulo), ou seja, destinada para um artista residente de fora desses dois estados. O júri formado por Alice Granada (curadora independente), Hiro Kai (produtor independente) e Renato De Cara (curador independente e diretor do Paço das Artes-SP).

O Salão dos Artistas Sem Galeria tem como objetivo avaliar, exibir, documentar e divulgar a produção de artistas plásticos que não tenham contratos verbais ou formais (representação) com qualquer galeria de arte na cidade de São Paulo. O Salão tradicionalmente abre o calendário de artes em São Paulo e é uma porta de entrada para os artistas selecionados no circuito das artes.

Sobre o Mapa das Artes

Criado em 2004 pelo jornalista Celso Fioravante, o Mapa das Artes é o portal de artes visuais mais completo do Brasil, com programação e serviço de museus de todos os Estados do país. O site dispõe de seções diversas, como a dedicada aos salões de arte, com datas e editais; a seção Curtas, com matérias e serviço sobre acontecimentos, eventos e assuntos de interesse do público de artes visuais; além das colunas Supernova, com notas quentes; e seções dedicadas a eventos, mercado de arte, prêmios, personalidades, política cultural, arquitetura, web, patrimônio, polêmicas, críticas e notícias diversas de artes plásticas editadas nos principais veículos jornalísticos do mundo. Sua cobertura abrangente faz do Mapa das Artes uma peça fundamental para o desenvolvimento do circuito brasileiro de arte.

Registros de Ricardo Ribenboim

09/jan

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC-USP, Ibirapuera, São Paulo, SP, exibe a exposição “Rastro dos Restos”, com cerca de 80 obras recentes do artista Ricardo Ribenboim.

As peças evidenciam seu procedimento de trabalho a partir da ação do tempo sobre ideias e materiais que recolhe, observa, avalia os significados e então utiliza na construção de suas obras. Cacos, gravetos, retalhos, troncos calcinados, raízes do mangue, metais fundidos, chapas enferrujadas ou um giz de cera de seu neto encontram os restos do cotidiano do ateliê ao lado de suas memórias e dos registros de sua trajetória.

Sobre o artista

Ricardo Ribenboim foi aluno de Evandro Carlos Jardim e da Escola Brasil, sob a orientação de José Resende e Carlos Fajardo. Ele foi diretor do Paço das Artes e do Itaú Cultural, sendo responsável pela criação dos Eixos Curatoriais, das Enciclopédias em meio digital e do Programa Rumos.

Até 10 de março.

Fonte: Agência FAPESP

Exposição Deserto Oceano Floresta

21/dez

Chama-se “Deserto Oceano Floresta de Alex Červený”, uma mostra especialmente pensada para o espaço da galeria Unidade do Senac – Senac Lapa Scipião, Lapa, São Paulo, SP. Reproduzidas em adesivo, uma série de pinturas recentes organizadas lado a lado, compõem uma espécie de instalação, onde um horizonte dinâmico em forma de um cinturão panorâmico de quase 360° ocupa a sala expositiva.

Característica principal da obra de Ceverny, que une representações de paisagens ficcionais a narrativas pessoais, podemos contemplar com exclusividade a imagem da obra Mondo Reale, a maior pintura que o artista já realizou e que está acompanhada de um vídeo documental de seu processo de realização. Mondo Reale foi feita sob encomenda para a Fundação Cartier para a Arte Contemporânea em 2023 e é a primeira vez que ela é exibida no Brasil, ainda que em versão digital. Além das 14 obras que compõem a instalação, também em exibição, uma vitrine central na sala composta por miniaturas originais realizadas pelo artista em diferentes momentos, que permitem sua visualização através da disponibilização de lupas.

Curadoria de Sandra Tucci.

 

Sobre o artista

Alex Červený (1963). Vive e trabalha em São Paulo. De formação independente, Alex Červený estudou desenho e pintura com Valdir Sarubbi entre 1978 e 1982, gravura em metal e técnicas de impressão com Selma D’Affre entre 1982 e 1986, e frequentou o curso livre de litografia com Odair Magalhães, na FAAP, em 1982. Ainda no início da década de 1980, integrou a Academia Piolin de Artes Circenses e, em seguida, o Circo Escola Picadeiro, experiência que exerceu forte influência sobre o seu universo visual. O personagem que criou quando atuou como contorcionista acrobático, “Elvis Elástico: o Homem de Plástico”, retorna nas figuras retorcidas que povoam suas pinturas.

 

Até 26 de fevereiro de 2024

 

 

Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira

Com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset Management, “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”, foi aberta ao público em 16 de dezembro e permanecerá em cartaz até 18 de março de 2024. A mostra reúne obras produzidas por 61 artistas negros, de diferentes regiões, nos últimos dois séculos no Brasil. São cerca de 150 pinturas, fotografias, esculturas, instalações, vídeos e documentos abordando uma variedade de temáticas, técnicas e descritivos, distribuídos pelos cinco andares do CCBB, São Paulo.

“O propósito da mostra é um diálogo transversal e abrangente da produção artística afro-brasileira no país”, explica o curador Deri Andrade, pesquisador, jornalista, curador assistente no Instituto Inhotim e criador da plataforma Projeto Afro de mapeamento e difusão de artistas negros/as/es da cultura afro-brasileira. A exposição é um desdobramento do Projeto Afro, em desenvolvimento desde 2016 e lançado em 2020, que hoje reúne cerca de 300 artistas catalogados na plataforma. São nomes que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, do século 19 até os contemporâneos nascidos nos anos 2000. “A exposição traz outra referência e um novo olhar da arte nacional aos visitantes”, afirma o curador. “A história da arte do Brasil apaga a presença negra e o artista negro do seu referencial”, completa.

Cinco eixos, cinco artistas. Assim foi desenhada a exposição que, a partir de cinco nomes centrais, revela diferentes épocas e discussões, contextos, gerações e regiões. De grande abrangência, a mostra percorre do período pré-moderno à contemporaneidade e discute eixos temáticos em torno de artistas negros emblemáticos: Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, RJ,1882-1922), Lita Cerqueira (Salvador, BA, 1952), Maria Auxiliadora (Campo Belo, MG, 1935-São Paulo, SP,1974), Mestre Didi (Salvador, BA,1917-2013) e Rubem Valentim (Salvador, BA,1922-São Paulo, SP, 1991). 

Cada um dos nomes acima lidera, respectivamente, um eixo: Tornar-se, Linguagens, Cosmovisão (sobre engajamento político e direitos), Orum (sobre as relações espirituais entre o céu e a terra, a partir do fluxo entre Brasil e África) e Cotidianos (discussão sobre representatividade).

 

Dois artistas argentinos em foco

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, encerra 2023 fortalecendo seus laços com o Malba – Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, ao trazer para São Paulo “Yente – Del Prete. Vida venturosa”, mostra organizada e apresentada no museu argentino em 2022, mesmo ano em que receberam a retrospectiva de Anna Maria Maiolino, organizada originalmente pela instituição cultural paulistana. Até 18 de fevereiro de 2024. 

Focada no casal de artistas Eugenia Crenovich (Eugenia Crenovich, Buenos Aires, Argentina, 1905-1990), conhecida como Yente, e Juan Del Prete (Vasto, 1897 – Buenos Aires, 1987), a presente exposição, com curadoria da pesquisadora e curadora-chefe do Malba, María Amalia García, ressalta a sinergia criativa do casal e o vínculo amoroso como uma forma de abordar o fazer artístico.

Durante mais de 50 anos, Yente e Juan Del Prete não só compartilharam a vida de casal, mas também trocaram diariamente ideias sobre arte. Realizaram inúmeras exposições individuais e participaram de diferentes coletivas, porém nunca expuseram juntos. Esta exposição reúne-os pela primeira vez com uma seleção de mais de 150 obras, entre pinturas, esculturas, tapeçarias, desenhos e livros de artista, abrangendo a ampla gama de suas carreiras, das décadas de 1930 a 1980. Existem dois elementos constantes na produção do casal: o trânsito entre figuração e abstração, abrangendo diversos estilos e a experimentação marcante de materiais. Na paixão pelo fazer, Yente e Del Prete se apropriaram das múltiplas correntes da arte moderna através de diversas referências, sempre usando os materiais como meios de experimentação.

Nas palavras de Maria Amalia García: “A transição entre figuração e abstração foi uma constante no casal, abrangendo vários estilos (cubismo, surrealismo, abstração, expressionismo, entre outros), bem como uma marcada experimentação, tanto com materiais de arte (suportes diversos, têmperas, tintas, tintas a óleo trabalhadas com pincel e espátula; extensos empastamentos e gotejamentos), bem como com uma vasta gama de elementos de bricolagem e materiais descartados. Yente e Del Prete, na sua paixão irreprimível pelo fazer, apropriaram-se do cânone da arte moderna através de diversas referências, correntes e representações”, destaca a curadora. As peças expostas são provenientes principalmente da Coleção Yente – Del Prete, dirigida por Liliana Crenovich (sobrinha da artista) e de importantes coleções privadas e públicas argentinas, como o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires e a Coleção Amalita, entre outros.

 

Embora a abstração tenha sido um caminho de exploração criativa que os uniu de maneira fundamental, a mostra não se limita a esse recorte, percorrendo ambas as trajetórias e abrangendo o arco completo de suas ricas experimentações. “Vida Venturosa” é organizada em dois grandes núcleos: “A união na abstração” e “Voracidade”, que são divididos em subnúcleos, atravessando mais de cinquenta anos de produção. Apesar das diferenças entre si – ele, um imigrante italiano instalado no bairro de La Boca e formado sob tutela dos pintores do bairro; ela, de Buenos Aires, graduada em filosofia e a caçula de uma família judia abastada de origem russa – o casal percorreu um caminho conjunto de pesquisa artística através de diversas linguagens e materiais. Se conheceram no inverno de 1935, quando Del Prete já havia passado três anos na Europa, onde dedicou-se à experimentação com a colagem e à abstração, expondo em companhia da vanguarda construtivista parisiense. De volta a Buenos Aires, realizou duas exposições emblemáticas, onde apresentou fotomontagens, pinturas abstratas, colagens com cordões e chapas metálicas, esculturas em gesso esculpido e projetos de decoração, gerando rejeição e incompreensão na cena artística portenha. Paralelamente a seus estudos de filosofia, Yente realizava retratos familiares e caricaturas e ilustrações para revistas. No início dos anos 1930 ampliou sua formação plástica em passagem pelo Chile. Depois do encontro com Del Prete, começou sua pesquisa na abstração e por volta de 1937 produziu composições biomórficas: núcleos arredondados e coloridos que às vezes apresentam elementos figurativos. Nos anos 1940 seguiu com propostas mais construtivas, escolha que a levou a destruir sua obra anterior, ação em consonância com as sistemáticas destruições de Del Prete, em seu caso justificadas pela falta de espaço. Contudo, a produção aniquilada de Yente não foi documentada como a dele. O casal não escapou aos papéis de gênero vigentes à época, e a carreira de Del Prete foi privilegiada. Nada do entorno do casal parece ter ficado sem exploração em seus trabalhos. Para além de posição crítica diante das modas, Yente e Del Prete tiveram empatia e flexibilidade para se deixarem atrair pelas diversas possibilidades que a visualidade abria. Segundo Maria Amalia García, “Em um constante ir e vir entre figuração e abstração, durante os anos 50 e 60 abraçaram a experimentação pictórica, a colagem, a montagem de objetos e os têxteis. Ainda que de maneiras diferentes, foram vorazes apropriadores de estilos, materiais e técnicas. As anedotas da arte argentina remetem à “gula” de Del Prete para se referir a sua desenfreada produção. Yente, embora mais moderada em seus procedimentos, não foi por isso menos voraz. Sua obra se desdobrou em diversos suportes: não apenas se dedicou ao desenho, à pintura, aos relevos e à escultura, mas também expandiu seu trabalho aos têxteis, aos livros de artista e ao trabalho de arquivo”, completa.

 

 

Celebrando Michelangelo Pistoletto

13/dez

Exposição em São Paulo celebra os 90 anos do artista Michelangelo Pistoletto. A exibição gratuita acompanha o calendário mundial de homenagens ao artista fundamental do movimento italiano Arte Povera e fica em cartaz até 03 de março de 2024.

O Instituto Artium de Cultura apresenta a exposição de arte Terzo Paradiso – uma seleção especial de obras do grande artista italiano Michelangelo Pistoletto, no palacete histórico em Higienópolis, São Paulo. A mostra é parte de uma série de exposições do artista em curso pelo mundo, que aconteceram em Paris; Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos; e Turim, Itália.

Maior expoente do movimento artístico Arte Povera – que se propõe usar materiais inúteis – há quase 20 anos, o trabalho de Pistoletto é dedicado ao que chamou Terceiro Paraíso – uma reconfiguração do símbolo do infinito, que dá nome à mostra. Nas extremidades, a natureza e o artificial; no centro, a inserção de um círculo que simboliza abertura, criação, uma proposta de práticas para uma transformação responsável da cultura e da sociedade.