Esculturas de Advânio Lessa

08/mar

A Gomide&Co e a Galeria Marco Zero apresentam “Redemoinho não leva pilão”, primeira individual de Advânio Lessa em São Paulo, SP. Com curadoria de Valquíria Prates, a mostra inaugura o programa anual de exposições da Gomide&Co em 2024. Advânio Lessa (1981) nasceu e vive em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto (MG). Tanto o seu local de origem, marcado pela herança quilombola, quanto os ofícios de seus pais (cesteira e tropeiro) são partes fundamentais do universo no qual se baseia sua poética como artista e agricultor desde a adolescência. Realizando esculturas em escala humana a partir de troncos de madeira de árvores mortas, raízes e trançados de cipó, o artista vincula os conhecimentos da cestaria e da marcenaria com madeiras e fibras encontradas nas matas da região de Ouro Preto, como cipó-alho, cipó-de-são-joão, candeia, jacarandá, folha miúda e alecrim. É em estreito diálogo com esse repertório que Lessa realiza suas obras, nas quais a natureza é uma espécie de coautora. Em entrevista concedida a Valquíria Prates, pesquisadora de sua obra, o artista afirma: “As sensações impressionantes que eu já tive, seja de estética, de energia, de movimento, de equilíbrio, de textura, eu nunca vi nada mais vibrante que a própria natureza. Então, para mim, tudo já está aí. A gente precisa compreender e ser humilde o suficiente para conectar mais com o que já está aí.” (Valquíria Prates, “Em tudo que é grande, a emenda é pequena: uma conversa caminhada com Advânio Lessa”, 2023).

Sempre interessado na capacidade humana de transformar contextos, lugares, situações e relações, Lessa tem em sua pesquisa artística o foco no trabalho, nos saberes e nas espiritualidades dos povos sequestrados da África e trazidos para o Brasil. Para “Redemoinho não leva pilão”, o artista convida os visitantes a um profundo processo de reflexão em torno de uma das plantas mais importante ligadas à história da Avenida Paulista: o café. A exposição consiste em um circuito composto por seis esculturas, tramas e flores de cipó-de-são-joão, pilões e milhares de grãos de café em côco que se interligam, formando uma grande instalação que pretende abordar os sistemas de produção em torno do cultivo desta que é uma planta tão comum no cotidiano de pessoas que vivem em todo o país. Planta de caráter mágico em algumas tradições religiosas, o café está presente nas mesas de casas, padarias, restaurantes, escritórios, salas de trabalho, além de nas bancas espalhadas pelas calçadas da cidade, movimentando esforços econômicos e interferindo nos ciclos de atenção há séculos, passando pelas mãos de quem planta e de quem bebe e gerando recursos em abundância.

O título da exposição é inspirado no provérbio Yorùbá “Ijì kìí kó gbódó” (O redemoinho não leva o pilão), retirado do livro Òwe – Provérbios, de Mãe Stella de Oxóssi, e que celebra a força dos que não são derrotados mesmo em condições e contextos adversos. Procura assim fazer alusão àqueles que são responsáveis pela construção e geração de riquezas, sob todo tipo de violência, opressão e injustiça, em todas as áreas de atuação humana do país. As esculturas a serem apresentadas de maneira inédita na exposição fazem parte da série Nascimento e vêm sendo trabalhadas por Lessa desde 2010, realizadas com madeiras de árvores e épocas diversas das matas de Lavras Novas, no que carregam em si “as histórias dos minerais, insetos e animais que com elas coexistiram temporariamente, camadas abaixo da terra, sobre ela e debaixo das estrelas e planetas que estão sendo com a gente, agora”, segundo palavras do artista. Encontros e conversas sobre modos de produção do café, a possibilidade de instaurar sistemas de bem viver integrados à produção de comida, além de estudos de caso entre a arte e a agricultura, fazem parte da programação pública da exposição.

A proposta de Advânio Lessa para sua primeira individual em São Paulo é uma continuidade de seu processo de pesquisa sobre sistemas de transformação pelo trabalho entre espécies em contextos específicos, que se iniciou com a exposição Se quiser saber do fim, preste atenção no começo (2023), com curadoria de Valquíria Prates. Apresentada no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, a exposição foi realizada pelo Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto (IA) no contexto do Programa Raiz, que investiga a arte contemporânea produzida por artistas da região com mais de 20 anos de carreira.

Sobre a curadora

Valquíria Prates é curadora, pesquisadora e educadora. É mestre em Políticas Públicas de Acessibilidade (USP) e doutora em Artes e Mediação Cultural (UNESP). Atualmente, é curadora do Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto (IA), consultora de Arte e Mediação Cultural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP) e colaboradora em projetos do Pólo Sociocultural Sesc Paraty, do Centro Cultural do Cariri (CE), do Instituto Moreira Salles (SP) e da Fundação Roberto Marinho (RJ).

Sobre o artista

Advânio Lessa nasceu em 1989 e vive até hoje em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto (MG). Tanto a sua terra de origem, marcada pela herança quilombola, quanto os ofícios de seus pais (tropeiro e cesteira), são partes fundamentais do universo que irriga a sua poética. Realizando esculturas de grande escala a partir de troncos de madeira de árvores mortas, raízes etrançados de cipó, o artista vincula os conhecimentos da cestaria e da marcenaria com as madeiras e fibras encontradas nas matas da região de Ouro Preto: Cipó Alho, Cipó São João, Candeia, Jacarandá, Folha Miúda e Alecrim. É em estreito diálogo com esse repertório que Lessa, que também é agricultor, realiza suas peças. Nesse sentido, não nos parece enganoso afirmar que a natureza aqui é uma espécie de coautora de suas obras. A produção do artista ganha o mundo munida, a um só tempo, de uma intensa eloquência formal e de uma relevante conotação discursiva. Suas esculturas, cujas escalas se aproximam àquela do corpo humano, atestam uma relação de reciprocidade entre nós e tudo aquilo que é vivo ao nosso redor. Nesse sentido, ressoam uma tendência importante da atualidade: no lugar de epistemologias caras a um modo Ocidental de conceber o mundo, para as quais nós humanos estamos sempre em posição superior, entram em cena cosmologias onde testemunha-se uma relação não hierárquica entre todos os seres vivos. O trabalho de Advânio Lessa foi apresentado, entre individuais e coletivas, em instituições como o Espaço Cultural CEFET – Ouro Preto (Ouro Preto, Brasil, 1998); Galeria Clélia Valadares (Belo Horizonte, Brasil, 2008); Galeria da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Ouro Preto, Brasil, 2010); Galeria Graphos Brasil (Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Museu Afro Brasil (São Paulo, Brasil, 2013); Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes (Belo Horizonte, Brasil, 2015); IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto e Museu da Inconfidência, com curadoria de Valquíria Prates (Ouro Preto, Brasil, 2023), entre outras. Sua obra compõe a coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil).

Até 04 de maio.

As constelações celestinas

06/mar

 

As fotografias de Wagner Celestino estão em cartaz no SESC 14 Bis, Bela Vista, São Paulo, SP, até 07 de abril. Wagner Celestino, fotógrafo negro e artista periférico nascido em 1952 na zona Leste paulistana. Seus registros revelam trabalhadores, artistas e ritos culturais e religiosos que enaltecem a beleza e a memória da população afrodescendente. São registros em preto e branco de alto contraste, com abordagem entre o projeto artístico e o documentário histórico.

 

Sobre o artista:

Veterano fotógrafo que se notabilizou pela qualidade de suas reportagens fotográficas que, desde 1977, enfocam com rara sensibilidade a cena cultural afro-brasileira, Wagner Celestino possui formação não-formal em fotografia que obteve em oficinas de fotografia do Museu Lasar Segall. Sua obra transita entre o projeto artístico e documentário histórico investigativo. O fotógrafo atua na prospecção de imagens que revelam os fazeres do povo proletário e periférico em sua grandeza e humanidade em abordagem de notável acuidade psicológica e sociológica. Retratou nomes da música brasileira e, dentre eles, integrantes da Velha Guarda do Vai-Vai. Também é responsável pela série fotográfica “Cortiços”, de 1988. Nesta exposição individual, são acrescentadas a este acervo novas fotos, de moradores do bairro do Bixiga e da Velha Guarda do Vai-Vai

 

As constelações são áreas específicas do céu compostas por agrupamentos de estrelas aparentemente ligadas por linhas imaginárias. Assim, elas podem assumir a função de referência enquanto dispositivo de localização e instrumento de orientação. É dessa forma que o trabalho do fotógrafo Wagner Celestino direciona nossa caminhada, na soma dos fragmentos da realidade, para apresentar um olhar sobre o universo afropaulista. Wagner Celestino tem, em mais de quarenta anos de trajetória, a experiência que explica a intimidade entre ele e aquilo que ele fotografa, sejam paisagens, festas profanas ou religiosas, ou personagens que posam para suas lentes. Trabalhando sempre em preto e branco e preferencialmente sob luz natural, os retratos evidenciam o profundo respeito dedicado àqueles que nos precederam, bem como à esperança de um futuro luminoso, sem deixar de lado as lutas enfrentadas ao longo do caminho. Como afirma Claudinei Roberto da Silva, curador da mostra, “Celestino se ocupa daqueles e daquelas cuja história, a memória e os afetos, são, frequentemente, preteridos nas narrativas da história da arte que se quer hegemônica”. Pesquisador da cultura popular nas suas matrizes sagradas e profanas, Celestino, cuja arte pode traduzir notas de melancolia, carrega interesse pela complexidade dos sujeitos em seus contextos, onde memórias e afetos são riquezas inestimáveis.

“Em celebração ao início das atividades do Sesc 14 Bis, a exposição Wagner Celestino recorre a uma obra que, ao se voltar a personagens, melodias, cadências e enredos vinculados à negritude, permite o vislumbre da dignidade particular ao cruzamento de olhares, entre fotógrafos e pessoas retratadas, que perfaz a carreira do artista”, comentou Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.

 

Os talentos da Galeria TATO

Coletiva traz obras de 28 artistas que participam de duas turmas da Casa Tato, que se consolidou como um dos programas de desenvolvimento de talentos de maior prestígio na arte visual brasileira. A mostra abre no dia 09 de março, com curadoria de Katia Salvany e Sylvia Werneck, na Barra Funda, novo circuito de arte na capital paulista.

A Galeria TATO, Barra Funda, São Paulo, SP,  – polo de atração e desenvolvimento de talentos na arte contemporânea -, inaugura a coletiva “Que dizer de nós?”. A mostra, que permanecerá em cartaz até 30 de março, reúne cerca de 30 obras de artistas participantes de duas edições da Casa Tato, projeto principal da galeria, com foco na inclusão de artistas promissores no sistema da arte. A curadoria é de Katia Salvany, que responde pela Casa Tato 9; e de Sylvia Werneck, responsável pela Casa Tato 10; com assistência de João Pedro Pedro.

A mostra apresenta obras dos seguintes artistas: Adriana Nataloni (Argentina), Alessandra Mastrogiovanni (SP), Alexandre Vianna (SP), Anna Guerra (PE), Anna Vasquez (BA), Bet Katona (RJ), Bianca Lionheart (SP), Danilo Villin (SP), Desirée Hirtenkauf (RS), Diogo Nógue (SP), Edu Devens (RS), Flávia Matalon (SP), Gela Borges (MG), Giovanna Vilela (SP), Glenn Collard (SP), Isaac Sztutman (SP), Isabel Marroni (RS), Jamile Sayão (SP), Janice Ito (SP), Jaqueline Pauletti (SC), Júnia Azevedo (RJ), Laura Martínez (México), Luciano Panachão (SP), Marcelus Freschet (SP), Marina Marini Mariotto Belotto (PR), Neto Maia (BA), Rogo (TO) e Tomaz Favilla (SP).

Criado em 2020, com o objetivo de dinamizar a carreira de artistas promissores, o programa Casa Tato chega à sua décima edição. “Ao longo de seis meses, os participantes fazem uma imersão de mais de 100 horas em encontros e trocas com diversos profissionais do sistema da arte do Brasil e do exterior”, explica Tato DiLascio, diretor da galeria e idealizador do projeto. Entre os curadores convidados participam: Agnaldo Farias, Alice Granada, Andrés Duprat, Daniela Bousso, Francela Carrera, Filipe Campello, Javier Villa, Lorraine Mendes, Lucas Benatti, Ludimilla Fonseca, Marcello Salles, Nancy Rojas, Paula Borghi e Rejane Cintrão.

Na exposição, os artistas participantes das edições 9 e 10 da Casa Tato se encontram no meio do caminho. O primeiro grupo conclui seu ciclo de acompanhamento, enquanto o segundo o inicia. “Com pesquisas bastante específicas e poéticas variadas, podemos dizer que, em seus trabalhos, os grupos partilham da vontade de esmiuçar o cotidiano e, com sorte, vislumbrar algum nexo na aventura de existir”, diz Katia Salvany. “Lidar com o transitório, encontrar o lugar do corpo na urbe, tentar refazer o elo rompido com a natureza ou compreender a memória são algumas das questões abordadas pelos artistas. As linguagens plásticas são tão variadas quanto os caminhos escolhidos para o mergulho em seus processos”, resume Sylvia Werneck.

 

George Love além do tempo

28/fev

O Museu de Arte Moderna de São Paulo (sala Milú Villela), Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3, apresenta de 02 de março a 12 de maio a exposição “George Love: além do tempo”. George Love nasceu em Charlotte, Carolina do Norte, Estados Unidos da América, 1937 e faleceu no Brasil em 1995.

A palavra do curador

No despertar da cultura fotográfica brasileira na segunda metade do século XX, um nome figura entre as maiores referências: George Love. Artista carismático, ele sempre foi cercado por uma aura de mistério, que beirava a lenda, de tão conhecido quanto enigmático que era, pelo tanto que ele foi exposto e como ficou escondido. Atuando em uma era de efervescência intelectual, de questionamento comportamental e de transição de costumes, George exibia um intenso brilho em suas realizações, na interação profissional e no convívio particular. A luz que trazia ao ambiente extravasava paredes e repercutia na atmosfera e nas pessoas, que vislumbravam as infinitas possibilidades de um marcante meio de expressão. Suas ações no meio cultural, editorial e corporativo expandiam os horizontes da fotografia, abrindo caminhos adiante do seu tempo. Conscientemente ou não, gerações de fotógrafos brasileiros seguem sua inspiração e seu modelo, que se realça entre as raízes de nossa contemporaneidade. Chamá-lo de gênio também não é hipérbole. George Leary Love nasceu em 24 de maio de 1937, em Charlotte, Carolina do Norte, Estados Unidos. Negro, filho único em uma família simples e culta, concluiu seus primeiros estudos superiores antes dos 20 anos. Adotou a câmera fotográfica também cedo, vislumbrando a possibilidade profissional no segmento de fotografia de viagem, representado por arquivos de imagens, um mercado importante na época, com o qual se manteria ligado por toda sua vida profissional. Fixando-se em Nova York para mais estudos, logo passou a se dedicar à fotografia como criação autoral, tendo suas primeiras mostras em galerias de Manhattan, dando cursos e palestras. Assim, foi aceito como um dos mais jovens participantes da Association of Heliographers, um grupo restrito de expoentes da fotografia americana que promovia a arte, propunha sua expansão e inovava no uso de impressões coloridas no meio expositivo. George Love se identificava com a proposta, de forma que o ideário dessa associação é chave importante para compreender a obra que desenvolveu por toda a sua vida. Em pouco tempo, o jovem fotógrafo se tornou vice-presidente e coordenador da galeria da associação. Foram dois anos intensos, entre 1963 e o fim de 1965, até o encerramento da entidade, por carência de recursos. A perspectiva de um novo rumo lhe foi oferecida por uma rara heliógrafa estrangeira, que o estimulou a se aventurar pelo continente sul-americano. Em janeiro de 1966, George juntava-se a Claudia Andujar em Belém para uma inusitada expedição no interior da Amazônia, verdadeira epopeia até a terra dos Xicrin. Voltaram para Belém, subiram pelo rio até Iquitos, depois Lima e Bolívia, e entraram de volta no Brasil pelo famoso “trem da morte”. Fixaram-se em São Paulo, no apartamento da Avenida Paulista, casaram-se…e, então, o resto é história.

Zé De Boni – curador

A obra de Eliane Duarte na Central Galeria

Em 2023, a Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, em colaboração com a família da artista Eliane Duarte, iniciou uma pesquisa para resgatar sua obra. Duarte nasceu em 1943 no Rio de Janeiro e teve uma produção artística breve, mas intensa, até seu falecimento prematuro em 2006. Agora, de 09 de março até 11 de maio, Eliane Duarte terá a exposição individual “Reza” na Central Galeria, acompanhada por um texto crítico de Catarina Duncan. A mostra não apenas destaca a relevância ainda hoje do trabalho de Eliane Duarte, mas também enfatiza a importância de sua obra ser compartilhada com novas gerações.

Ao conhecer sua prática, acessamos fundamentos da Natureza, formas orgânicas, flores, cachos e vestes que se materializam em suas obras através de um processo de costura visceral. A costura é uma prática ancestral mas frequentemente associada ao universo feminino domesticado. Entretanto, a voracidade com que Eliane Duarte trabalhou com essas técnicas aproximam o fazer artesanal ao cirúrgico. Suas metodologias explicitam também a urgência de se comunicar de outra forma, tridimensional mas não escultórica,  com costura em pele e não só em tecido, sempre driblando das conformidades práticas do mercado de arte. Sua obra é um legado à prática artística de mulheres no Brasil, que seguem sem o devido reconhecimento na memória coletiva de sua geração, evidenciando os processos patriarcais das decisões históricas sobre quem é reconhecido. Acessamos um conjunto de trabalhos que nunca foram apresentados juntos e assim resgatamos e honramos a memória não só dessa grande artista mas de todas as mulheres, artistas que seguem sem o devido reconhecimento.

Sobre a artista

Eliane Duarte nasceu em 1943 no Rio de Janeiro. Suas obras expandem os limites da tela como suporte e ganham corpo como objetos-amuletos-rezos. Feitos com tecidos, algodão, pigmentos naturais, cera, sementes, corda, penas, moedas e outros elementos que, habitam uma mística, ganhando corpo como entidades e forças únicas. Conforme relato da artista: “Meu trabalho é quase uma reza, no sentido de fazê-los de forma lenta e por uni-los uns aos outros, costurando-os como se fossem patuás. Queria uma coisa que desse sorte às pessoas e tudo que eu coloco tem a função de amuletos”. Eliane Duarte estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, de 1987 a 1989. Começou a se destacar no cenário artístico ao ganhar o 1º Prêmio do Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte em 1994, com a obra “Veste”. Desde então, o sentido de maceração associado à ideia de gerar pele tornou-se um tema proeminente em sua poética. Além de inúmeras individuais nas galerias Anna Maria Niemeyer, no Rio, e Camargo Vilaça, em São Paulo, expôs no MAC Niterói; MAM Rio de Janeiro; Paço Imperial; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; Itaú Cultural de São Paulo. No exterior participou de coletivas no Museu Solomon R. Guggenheim, Nova Iorque; Centro Cultural de Arte Contemporâneo, Cidade do México; Museo Alejandro Ottero, Caracas; Centro Cultural Culturgest, Lisboa; Museo del Barrio, Nova Iorque; Museo de Arte Latino-Americana, Buenos Aires; Coconut Grove Center, Miami; BildMuseet, Umea, Suécia; Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris. Suas obras integram as mais importantes coleções brasileiras, como a de João Sattamini/MAC-Niterói; Gilberto Chateaubriand/MAMRio de Janeiro; Coleção do MAC São Paulo; e internacionais como a Coleção Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, Bernard Soguel, Basel; Cisneros e Museo Alejandro Otero, Caracas.

Visualidade afro-brasileira de Luiz Moreira

26/fev

A exposição “A luz da beleza”, de Luiz Moreira, com curadoria de Marcus de Lontra Costa, experiente curador e crítico de arte, que já esteve à frente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, estará em cartaz até 07 de abril, na Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo, SP. A mostra reúne 31 imagens em grande formato, vídeos da série visual do artista “Ayê e Orum” e “Oxum às margens do Rio da Barra”, além de adornos e objetos em colaboração com os artistas Diego Silf, Felipe Maltone e Victor Hugo Mattos. Em 2022, o projeto “A Luz da Beleza” passou pela Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, atingindo recorde de público na instituição. Agora, na icônica biblioteca da capital paulista, a mostra traz imagens inéditas e uma nova expografia.

A palavra do curador

Nos tempos atuais, quando vemos parte significativa da população brasileira ocupando os espaços de ação que sempre lhe foram negados, jovens pretos ainda são assassinados e episódios de racismo se repetem. Existe, assim, um clamor por igualdade e inclusão, também presente no campo da afirmação estética, na valorização do universo da visualidade afro-brasileira…os trabalhos de Luiz Moreira se apropriam da extrema riqueza visual e dos ritos religiosos vindos da África, dando-lhes um sentido transformador, em diálogo com técnicas e materiais tecnológicos contemporâneos. É o “afrofuturismo” vindo à tona em cores chamativas e cheias de contrastes. As imagens vibram diante do nosso olhar e as personagens fotografadas caminham entre nós como num desfile de carnaval, combinando sedução e encantamento.

Sobre o artista

Dividindo-se entre Miami e o centro de São Paulo, Luiz Moreira nasceu na periferia da capital, no Jardim Ângela, onde morou até os 18 anos. Sua relação com a imagem é inspirada em sua própria experiência como morador de um bairro periférico. Começou a fotografar em projetos acadêmicos no curso de comunicação social e então passou a se dedicar à fotografia de rua em São Paulo e Nova York, explorando o cotidiano desses grandes centros. O trabalho estético e documental do fotógrafo combina uma afinidade com a cultura contemporânea com um interesse pelas perspectivas diaspóricas e o culto às orixalidades das religiões de matriz africana. Suas séries documentais como “Porta do Mar” e “Santo Negro” apareceram em importantes festivais e feiras nacionais e internacionais, como a Art Basel (edição de 2019, em Miami), o Festival AfroPunk (as edições que aconteceram em Johanesburgo, Atlanta e Salvador) e o Troy House Art Foundation London, em 2023.

Por dentro dos Museus

A Lustinha, novo selo na Luste, Ateliê Editorial & Multimídia de Marcel Mariano, chega ao circuito editorial e cultural para apresentar sua primeira publicação: “Por dentro dos Museus”. Um box acondiciona livros com narrativas, curiosidades e explicações de museus selecionados em três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Uma série informativa, didática, porém leve e divertida que vai se infiltrar nos museus com os olhos de criança. Tudo para tornar essa experiência muito mais gostosa e divertida”, explica Lica Barros que idealizou o projeto e assina alguns textos em parceria com Monica Figueiredo, responsável pela concepção.

Ciente da importância dos museus para formação cultural de um país, a Lustinha traduz este conceito da conexão entre o passado, presente e futuro em uma linguagem acessível incluindo curiosidades e detalhes da arquitetura e das obras além de explicar termos próprios do segmento como acervo, técnicas, expografia e nomes dos principais artistas e profissionais envolvidos tanto em sua construção como criação. Com a série, que vai abarcar outras praças e instituições pelo Brasil e pelo mundo, coloca leveza na definição de que ao olhar para o passado pode-se conhecer o que foi feito para aprimorar mecanismos que podem influenciar o presente para que novos conhecimentos e técnicas sejam disponibilizadas para a sustentabilidade e informações das futuras gerações.

“Por dentro dos Museus” registra nove instituições em quatro cidades diferentes e, em cada uma, destaca 10 artistas que servem como introdução a um primeiro contato com sua coleção. Em São Paulo, tem-se o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). No Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã, Museu de Arte Moderna do Río de Janeiro (MAM-Rio) e Museu de Arte do Rio (MAR). Em Belo Horizonte, o Museu de Arte da Pampulha (MAP) e em Brumadinho, o Instituto Inhotim.

Todas estas instituições – museus – estão a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, abertas a todos os públicos, que também funcionam como centros culturais reunindo atividades como música, dança, teatro, fotografia, literatura, gastronomia e todo tipo de arte. Suas funções primordiais incluem as de conservar, investigar, comunicar e expor o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e encanto. São estas histórias que a Lustinha, de Lica Barros, quer apresentar e aproximar de seu público!

O evento

Lançamento do box “Por dentro dos Museus”, Editora Lustinha, em 03 de março, domingo, das 15 às 18hs na Livraria da Travessa, Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros, São Paulo, SP. Idealização de Lica Barros, concepção de Monica Figueiredo com pesquisa e textos de Lica Barros, Carolina Porne e Beatriz Alves com patrocínio de Machado & Meyer Advogados.

50 Anos da Galeria Raquel Arnaud

22/fev

Para comemorar seus 50 anos, a Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta a mostra “Galeria Raquel Arnaud – 50 anos”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. A exposição mostra como a marchand apostou em expoentes dos movimentos concreto, cinético, abstrato e geométrico, sem deixar de abrir suas portas para artistas de outras vertentes. A marchand iniciou seus trabalho em 1973 com o nome de Gabinete de Arte e promoveu, dentre outros, a obra de artistas como Regina Silveira, Lygia Pape e Vik Muniz.

50 Anos da Galeria Raquel Arnaud.

A história da Galeria Raquel Arnaud é uma jornada pelo mundo da arte contemporânea brasileira e internacional. “Raquel Arnaud na avenida Nove de Julho. Adorei o espaço e fui procurar a Lina Bo Bardi para ver se ela podia me ajudar. Eu tinha pouquíssimo dinheiro. Ela topou de cara. E encontrou soluções incríveis: aquelas ripinhas de madeira entre os tijolos de cimento para podermos bater os pregos, o chão de cimento, e para dar um jeito na iluminação fria, com lâmpadas fluorescentes, ela sugeriu uns panos que colocamos no teto para torná-la mais suave. Depois ela incluiu uma parede que separava o espaço expositivo da reserva técnica e do escritório. Simples e muito bom. A dona Lina era um amor de pessoa, tinha um talento incrível para tirar proveito do espaço. Além disso, era uma mulher que se envolveu profundamente com tudo que fazia. Eu me lembro do sofrimento dela quando decidiram remover as maravilhosas cadeiras de madeira que ela tinha desenhado para o auditório do MASP. Substituindo-as por poltronas comuns. Uma vez ela me chamou para ver o prédio do SESC Pompéia, com janelas recortadas que parecem esculturas do Arp. Naquele momento ficou muito claro para mim que intensidade, além da questão arquitetônica, “as formas” a ocupavam.”

Trecho retirado no livro “Raquel Arnaud  e o olhar contemporâneo” por Rodrigo Naves. 2005

Imagem: Gabinete de Arte Raquel Arnaud na Avenida nove de Julho, SP., 1980 (espaço adaptado pela arquitetura Lina Bo Bardi). (pg 29).

Pinturas e Objetos do Acaso

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 09 de março e 09 de abril, a primeira mostra do artista Thomaz Ianelli (1932-2001) em nossa unidade Jardins, São Paulo. A exposição “Thomaz Ianelli : Pinturas e Objetos do Acaso” reúne pinturas, aquarelas e objetos realizados pelo artista entre as décadas de 1950 e 1990.

Thomaz Ianelli nasceu em São Paulo em 1932. Pintor, gravador e desenhista, iniciou em 1948 sua vida profissional como cartazista da Companhia dos Anúncios em Bondes em São Paulo e a partir de 1958 integra o Grupo Guanabara ao lado do irmão Arcângelo Ianelli e de outros artistas como Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Wega Nery. De 1958 até 1964 frequenta o Ateliê Abstração, de Samson Flexor, um dos principais pólos irradiadores da arte abstrata no Brasil. Participou de cinco edições da Bienal de São Paulo entre as décadas de 1960 e 1980, sendo premiado nas edições de 1967 e 1975.

Em sua prática, o artista buscava redefinir o olhar não só para objetos do cotidiano, mas também para cenas corriqueiras e domésticas, como o movimento dos peixes no aquário ou o das crianças brincando. Embora preserve em suas pinturas algo da estrutura ortogonal da tradição moderna, produz uma dissolução das formas geométricas, recusando também o uso da perspectiva. Os tons terrosos e rebaixados de suas telas contrastam com a representação frequente de cenas em movimento ou que aludem a alguma vibração.

A exposição conta com um pequeno conjunto de aquarelas e cerca de vinte pinturas realizadas entre as décadas de 1950 e 1990 em óleo sobre tela. Em boa parte delas é possível observar um tipo de trabalho com a tinta característico de Ianelli, que dissolvia o óleo na terebentina e acrescentava um pouco de cera a fim de alcançar uma maior transparência na pintura e alguma espessura no pigmento. Com essa técnica, alcançava uma aproximação visual entre seus óleos e a aquarela, reforçando o caráter lírico de seu universo. Também integram a exposição algumas assemblages produzidas pelo artista entre as décadas de 1980 e 1990, obras que fazem parte de sua investigação sobre a tridimensionalidade iniciada na década de 1970. Essas peças eram construídas com materiais orgânicos como madeira, couro e raízes, provenientes de objetos descartados ou encontrados na natureza já deteriorados, envelhecidos pela ação do tempo, curtidos pela água do mar, areia e luz do sol. Além do caráter de imprecisão da forma e do uso desses objetos, interessava ao artista o fato de serem incorporados ao trabalho através de encontros guiados pelo acaso. O processo de criação, para Ianelli, deveria deixar o pronto e buscar o inesperado, algo que poderia ocorrer tanto na relação com esse objeto encontrado, quanto na passagem das formas planas da pintura para o plano tridimensional.

A palavra do artista

“O impulso e o ritmo irmanam-se com as diretrizes cromáticas que elejo e comando, como se manejasse a aquarela ou a têmpera, dando aos óleos uma familiaridade, como se essas técnicas pertencessem e se diluíssem em uma só.  Nem sempre a cor se acentua, emergindo, às vezes, de transparências soltas sobre a superfície, outras vezes através do sentimento que se impõe juntamente com a mesma necessidade, frente a uma nova concepção, encontrando finalmente a sua própria identidade.”, escreveu Ianelli.

Cinco artistas na Galatea SP

21/fev

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresenta até 16 de março “Líquen teso”, exposição coletiva com trabalhos de Camila Leite, Fabiana Preti, Gabriela Melzer, Mariana Rodrigues, Marina Weffort e texto crítico de Fernanda Morse.

Associação simbiótica entre fungos e algas; crosta por cima da casca. Esticado, tenso, inteiriçado, hirto; cimo de monte; duro. “Líquen teso” diz da intervenção e da natureza, dos polos e territórios por onde circulam estes trabalhos.