Niemeyer na Itália na Casa Zalszupin.

16/dez

Milagre. Com esta palavra, Oscar Niemeyer foi definido por Lucio Costa no fundamental artigo “Muita construção, alguma arquitetura e um milagre”, de 1951. O vínculo entre Niemeyer e a Itália teve início quando o arquiteto carioca tinha 60 anos de idade, havendo já concebido os palácios da nova capital de seu país, participado do projeto da sede da ONU e realizado dezenas de projetos na Europa, América do Norte, África e Oriente Médio. 

A relação com a Península Itálica começou com o encantamento do proprietário da editora Mondadori ao visitar o Palácio do Itamaraty, em Brasília. Seu maravilhamento foi tamanho, que ele resolveu procurar Niemeyer para encomendar um projeto com as mesmas colunas e arcos para sediar sua empresa: o mestre moderno fez uma estrutura semelhante, mas, nos arredores de Milão, o espaçamento entre pilares não é equidistante e possui uma variação rítmica. O Palazzo Mondadori foi inaugurado em 1975 e abriu uma sequência de projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer na Itália. Mais três edificações foram construídas: as sedes das empresas Fata e Cartiere Burgo, nas cercanias de Turim, e o Auditório de Ravello, na Costa Amalfitana, aberto quando o dédalo brasileiro estava com 102 anos. 

Esta mostra-inventário também apresenta projetos que ficaram no papel. Em 1985, Niemeyer visitou Veneza e idealizou uma versão alternativa para a Ponte dell’Accademia: seu desenho arquitetônico era respeitoso com o contexto e, simultaneamente, uma saudável provocação para incitar transformações na singular cidade de incontáveis canais e mais de 1600 anos de existência. Para Pádua, o arquiteto engendrou um auditório para 2 mil pessoas, cuja cobertura seria um anfiteatro para 3 mil espectadores ao ar livre. Em Vicenza, ele planejou um teatro emergindo em meio a uma praça rebaixada. Oscar Niemeyer idealizou até um World Trade Center em Milão, uma versão em miniatura do Copan para a cidadela de Este, um campus de desenvolvimento automobilístico e um grande estádio em Turim. 

Nesta Casa Zalszupin, optou-se por não expor maquetes de projetos arquitetônicos: em vez de modelos em escalas reduzidas, apresenta-se um amplo conjunto de móveis desenhados pelo arquiteto. O banco Marquesa, a cadeira de balanço Rio, e as poltronas Alta e Baixa comprovam aqui a profunda correspondência entre as formas inventadas por Niemeyer em todos os âmbitos de projeto que ele se propôs ao longo da vida. 

Feito com o apoio da Fundação Oscar Niemeyer e fundamentado em pesquisas realizadas em bibliotecas e arquivos históricos no Brasil e na Itália, este mapeamento de treze projetos – quatro construídos e nove não executados – do arquiteto brasileiro na Península Itálica confirma a capilaridade global adquirida pela sua obra. Uma das dimensões do “milagre” identificado por Lucio Costa reside na capacidade de Oscar Niemeyer subverter o fluxo do colonialismo no século XX. 

Francesco Perrotta-Bosch, curador.

Até 14 de março de 2026.

Revelando riqueza artística e densidade simbólica.

 

O Museu de Imagens do Inconsciente, Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura, em 20 de dezembro, às 10h, da exposição “Riquezas do mundo interno – coleções e leituras”, que reúne mais de 60 obras produzidas por pacientes psiquiátricos, oriundas de quatro museus: o próprio MII, o Museu Arthur Bispo do Rosário – ambos no Rio de Janeiro -, o Museu de Arte Osório Cesar, em Franco da Rocha, São Paulo, e o Museu da Oficina de Criatividade, em Porto Alegre.

A curadoria é de Luiz Carlos Mello, diretor do Museu de Imagens do Inconsciente, criado pela Dra. Nise da Silveira (1905-1999) em 1952. O ponto de partida para a mostra – que será de longa duração, e estará no edifício -sede do MII – foi o livro “Do asilo ao museu – Nise da Silveira e as coleções da loucura” (2024, Hólos Consultoria), de Eurípedes Gomes Cruz Jr., músico e museólogo que trabalhou por 25 anos junto com a Dra. Nise, em que analisa a formação, ao longo do último século, das coleções criadas em vários países com as obras produzidas por pacientes psiquiátricos.

Esta é a primeira vez que o Museu de Imagens do Inconsciente apresenta obras de outros museus, e haverá ainda um segmento com reproduções em papel de algodão fine-art, em tamanhos variados, de coleções similares localizadas na Europa, como a Coleção Prinzhorn, na Alemanha, Arte Bruta, em Lausanne, Suíça, Coleção Adamson, na Wellcome Library, em Londres. As obras – pinturas e esculturas – não estarão dispostas em ordem cronológica, mas agrupadas em aproximações poéticas.

A exposição “Riquezas do mundo interno – coleções e leituras” faz parte das comemorações dos 50 anos da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, atualmente presidida pela Dra. Margareth Dalcolmo, e foi possível graças à emenda parlamentar da deputada federal Jandira Feghalli e o patrocínio, via Lei Rouanet, do Itaú Cultural.

“As mais de 60 obras expostas revelam riqueza artística e densidade simbólica, trazendo universos onde a fantasia e a imaginação alcançam dimensões inusitadas. As riquezas trazidas à superfície por pessoas que experimentaram semelhantes mergulhos estão representadas na exposição. O público será impactado pelas imagens”, afirma o curador Luiz Carlos de Mello.

No dia da abertura da exposição será feito o lançamento das novas edições revistas e ampliadas de dois livros: “Nise da Silveira, Caminhos de uma psiquiatra rebelde”, de Luiz Carlos Mello, como parte das comemorações dos 50 anos da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, com edição da Hólos Consultoria e Automática; e “Nise da Silveira – afeto, liberdade e criatividade”, de Walter Melo, editado pelo Conselho Federal de Psicologia.

Gravuras de Carlos Martins no Paço Imperial.

15/dez

Sombra da Terra

Desde suas primeiras manifestações, na metade da década de 1970, a obra de Carlos Martins propõe uma experiência estética exigente. Sobretudo por reivindicar a observação atenta de suas gravuras, na contramão de um regime de aceleração, intensificação e instantaneidade de significados e sensações na cultura contemporânea. De maneira geral, as imagens produzidas pelo artista são simples e ambíguas, familiares e estranhas, a uma só vez. Por não apresentarem necessariamente uma ação em curso, são também silenciosas e sugestivas de um esgarçamento temporal. 

A minúcia com que são conduzidos os processos de realização do trabalho, na criação de estampas com dimensões, muitas vezes, pequenas e cheias de detalhes, requer, para sua melhor apreensão, a aproximação física do observador e um exame detido de suas partes. Assim, um dos aspectos agudos da obra para intervenção no debate sobre arte, hoje, em meio a essa inflação crescente de estímulos, é sua postura meditativa, que articula análise e afeição, diante do mundo das coisas.

Sombra da Terra é a mais abrangente exposição já organizada da obra de Martins, considerado, no ambiente cultural brasileiro, um dos principais conhecedores de gravura do país – não apenas por sua atividade como artista, mas inclusive pelo exercício das profissões de professor, museólogo e curador. A seleção de trabalhos apresentada aqui compreende cerca de 120 peças, entre gravuras em metal, esculturas, um ambiente e um vídeo inédito, realizados de 1975 a 2025. 

O nome da mostra vem do termo em latim Umbra Terre, que aparece inscrito em uma gravura do artista de 1987, Amiciciae Dexter. Com isso, o título sublinha a recorrência, nessa produção, de imagens de duplicação do real, principalmente por meio de sombras e reflexos. A ênfase demonstra a consideração de Carlos Martins por aquilo que é constitutivo do entorno imediato e por aquilo que, ali, é obsedante, ou temporário, ou até ilusório. Uma espécie de concentração pormenorizada que se dirige à materialidade do mundo e a imagens sem substância própria, combinada com uma curiosidade expansiva, que se estende do ambiente doméstico ao sistema solar, apontando no caminho para enigmas, para o obscuro, o negativo e para ausências.

José Augusto Ribeiro, curador.

Até 1º de março de 2026.

 

Imersão profunda na obra de Carlos Pasquetti.

12/dez

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Porto Alegre, RS, apresenta a exposição “Carlos Pasquetti – Espaços para esconderijos”, primeira grande mostra monográfica institucional dedicada a oferecer uma visão histórica e retrospectiva sobre a obra do artista e professor falecido em 2022. A inauguração será no dia 13 de dezembro, em evento aberto ao público e que marca também o encerramento do ciclo de exposições de 2025 do Museu. 

Reunindo acervos institucionais e coleções particulares, a mostra apresenta obras de reconhecida importância, junto de trabalhos históricos resgatados e recuperados, além de proposições inéditas realizadas especialmente para a mostra, a partir de projetos deixados pelo artista. Realizada pelo MARGS em colaboração com o Acervo Pasquetti (projeto mantido pela família para gestão do acervo do artista e a catalogação de sua obra), a exposição é a maior pesquisa até aqui a proporcionar uma imersão profunda e compreensiva sobre a importante produção do artista.

O título “Espaços para esconderijos” vem de emblemáticos trabalhos de Carlos Pasquetti dos anos 1970, em fotografia e desenho, que têm como mesmo motivo a imagem e as formas das chamadas “medas” (os amontoados de feixes de feno). Essa referência é evocada por ser um exemplar icônico entre os signos visuais cultivados pelo artista em seu universo conceitual e criativo.

Dando sequência a um conjunto de exposições monográficas inéditas de artistas que integram o acervo do MARGS, “Carlos Pasquetti – Espaços para esconderijos” tem curadoria de Francisco Dalcol, diretor da instituição, e dos curadores convidados Alexandre Copês e Nelson Azevedo, artistas que conviveram com Carlos Pasquetti no cotidiano de seu ateliê, proporcionando ao projeto uma profunda intimidade com os seus trabalhos e o seu universo criativo.

Sobre o artista.

Em sua produção artística, desenvolvida ao longo de mais de 50 anos, Carlos Pasquetti explorou filme, fotografia, impressos, fotoperformance, desenho, pintura, objeto, elementos gráficos e instalação, sempre combinando e alternando suportes e linguagens. Sua atuação se inicia no contexto do experimental e dos conceitualismos das vanguardas artísticas das décadas de 1960 e 70, incluindo o envolvimento com o grupo Nervo Óptico (1976-1978), passando depois a acompanhar a pluralidade artística que se segue aos anos 1980. No conjunto, sua diversificada obra constitui um dos legados mais significativos, desde o Sul do Brasil, para o alargamento das convenções artísticas modernas e a abertura das práticas e linguagens artísticas contemporâneas. Nascido em Bento Gonçalves (RS), Carlos Pasquetti se iniciou artisticamente no ambiente familiar com o pai fotógrafo, também organizador de grupos de teatro. Estudando em Porto Alegre nos agitados anos 1960, graduou-se em Pintura pelo Instituto de Artes da UFRGS em 1971. Dois anos depois, tornou-se professor na universidade. Nos mais de 40 anos em que deu aulas para estudantes de artes cênicas e artes visuais, influenciou gerações de artistas, que encontravam nele um sólido referencial de abertura e estímulo para novas ideias e possibilidades artísticas.

Até 29 de março de 2026.

Uma proposta para repensar o consumo.

11/dez

A Galatea tem o prazer de compartilhar que a artista Dani Cavalier integra a exposição Dar nome ao futuro, junto de Nathalie Ventura, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), no Rio de Janeiro. Com abertura no dia 11 de dezembro e curadoria de Ana Carla Soler, a mostra ocupa cinco salas do segundo andar do CCJF – duas destinadas a Dani Cavalier e três destinadas a Nathalie Ventura – e integra o programa Clima de Mudança da instituição, voltado a promover diálogos entre arte, sociedade e as urgências ambientais do presente, em sintonia com os debates da COP 30.

Em uma das salas expositivas, Dani Cavalier apresenta a série As Pensadoras: 15 telas tramadas monocromáticas que questionam a invisibilidade das mulheres no pensamento ocidental. Na segunda sala, exibe Gira, um mural colorido de 7,5 metros de comprimento que convoca o movimento e simboliza o presente de uma mulher que cria futuro a partir do resíduo.

A artista afirma que a relação entre “dar nome ao futuro” e as pautas da COP 30 está no modo como suas obras transformam resíduos em novas possibilidades. Ao trabalhar com retalhos industriais de Lycra descartados por fábricas de moda praia do Rio de Janeiro (que são entrelaçados sobre o chassi), Dani Cavalier propõe repensar consumo, gênero e o valor das práticas artesanais, deslocando saberes femininos historicamente marginalizados para o espaço institucional e para uma discussão ambiental de escala internacional.

Até 1º de março de 2026.

A mais abrangente retrospectiva de Vik Muniz.

O Centro Cultural Banco do Brasil e o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_Bahia) têm o prazer de convidar para a exposição “A Olho Nu”, de 13 de dezembro a 29 de março de 2026, a maior e mais abrangente retrospectiva de Vik Muniz. Com curadoria de Daniel Rangel, “A Olho Nu” reúne mais de 200 obras, de 37 diferentes séries, com quatro esculturas feitas recentemente, especialmente para esta mostra em Salvador. O patrocínio é do BB Asset, com a Lei de Incentivo Federal à Cultura, do Ministério da Cultura, e produção é da N+1 Arte Cultura. De junho a agosto “A Olho Nu” esteve no Instituto Ricardo Brennand, em Recife, onde recebeu mais de 70 mil visitantes. No MAC_Bahia, o público verá obras fundamentais do artista, de diferentes fases de sua trajetória, desde os anos 1980 até os dias de hoje. Especialmente para esta exposição em Salvador ele criou as esculturas “Queijo”, “Patins”, “Ninho de ouro” e “Suvenir #18”, todas da série “Relicário”.

“Essa é a primeira grande retrospectiva dedicada ao trabalho de Vik Muniz, com um recorte pensado para criar um diálogo entre suas obras e a cultura da região”, destaca o curador Daniel Rangel. Ele explica que a mostra segue uma linha do tempo que revela a evolução de sua criação artística: das esculturas iniciais à transição para a fotografia, chegando às séries atuais. Logo na entrada do MAC_Bahia, o visitante será recebido pelas esculturas – ponto de partida da exposição e núcleo essencial para compreender o processo criativo do artista. A maior parte dessas peças pertence à série “Relicário”, não exibida desde 2014 e decisiva para entender a passagem do artista do objeto para a fotografia. O recorte curatorial privilegia montagens feitas para serem fotografadas, e revela como o uso de objetos cotidianos aproxima sua obra da arte pop e popular.

Daniel Rangel observa que, ao iniciar sua carreira com esculturas, Vik Muniz passou a explorar massa, volume, volatilidade e suas relações com a percepção. A necessidade de fotografar esses trabalhos para registro despertou seu interesse pela fotografia – inicialmente por insatisfação com imagens produzidas por terceiros. Ao assumir a câmera, percebeu que podia construir cenas pensadas exclusivamente para serem fotografadas, marco que definiu um novo rumo para sua criação. Essa virada – a fotografia como registro à tridimensionalidade concebida para a lente – é um dos eixos centrais da exposição.

A mostra apresenta também as obras “Oklahoma”, “Menino 2” e “Neurônios 2”, só vistas anteriormente em uma exposição do artista em Nova York, em 2022, e recentemente no Instituto Ricardo Brennand. O percurso expositivo se encerra com a série “Dinheiro vivo” (2023), criada em parceria com a Casa da Moeda do Brasil a partir de fragmentos de papel-moeda. O vasto repertório de materiais utilizados por Vik – que vai literalmente do lixo ao dinheiro – sustenta a poética da ilusão e da mimetização que marca sua produção, sempre permeada por humor, crítica social e surpresa. Elementos que, segundo o curador, “seduzem o olhar e convidam o público a despir-se de uma visão tradicional, permitindo enxergar tudo ‘a olho nu’”. “Vik Muniz é um ilusionista”, resume Daniel Rangel. “Um mágico na construção de imagens que não existem, mas que se tornam reais, fazendo do espectador cúmplice de um fazer artístico que nos captura como em uma mágica.”.

Paço Imperial exibe Gilberto Salvador.

10/dez

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Geometria Visceral”, com um panorama da mais recente produção de Gilberto Salvador. Com curadoria de Denise Mattar, serão apresentadas cerca de 40 obras, entre pinturas, esculturas e vídeos, que ocuparão todos os três salões do segundo pavimento do Paço Imperial. Há 17 anos sem expor no Rio de Janeiro, o artista tem uma forte relação com a cidade, tendo criado, inclusive, obras que retratam a paisagem carioca. Preocupado com a acessibilidade, o artista, que tem dificuldade de locomoção devido à paralisia infantil que teve aos 9 meses de vida, criou duas esculturas táteis, que poderão ser tocadas pelos visitantes. “Eu acho fundamental o público ter essa experiência”, afirma o artista.

A exposição será uma oportunidade para o público carioca ter contato com a obra deste importante artista, que tem mais de 60 anos de trajetória e nunca deixou de trabalhar, mesmo diante de tantas adversidades. “Vale observar que a obra de Salvador, integrante essencial da cena artística paulista, é hoje pouco conhecida no Rio de Janeiro, em grande parte devido às dificuldades de locomoção do artista, cadeirante, pouco afeito a evocar suas limitações físicas, e, exatamente por isso, um exemplo de resiliência e coragem. Com isso, a exposição reveste-se também de um caráter de ineditismo, oferecendo ao público carioca a oportunidade rara de descobrir um artista, na madura plenitude de sua produção”, afirma a curadora Denise Mattar.

Os recortes nas obras, destacando as formas, também são outra característica marcante do trabalho do artista, assim como as cores fortes e vibrantes, que fazem referência à brasilidade. “Quando eu era criança uma das coisas que mais me impressionava eram os cartazes que havia na porta dos cinemas, com uma cena pintada na madeira e recortada como se ela estivesse ganhando vida. Esse fator se repetiu durante todo um percurso da minha obra e, ao mesmo tempo, ganhou um elemento de pintura muito forte que é o cromatismo, que são cores vibrantes, que tem a ver com a nossa questão tropical. O Brasil tropical é colorido, a nossa flora é colorida”, diz o artista, que trabalhou muito tempo com paisagismo. “Linhas geométricas, volumes fragmentados e composições calculadas evocam a sua formação como arquiteto e sua capacidade de construir mundos visuais nos quais o rigor formal é permeado por uma inquietação subjetiva. Por vezes seu trabalho se apropria de elementos da fauna, da mitologia indígena e do imaginário popular para compor um léxico visual brasileiro que propõe uma síntese entre memória coletiva e fabulação individual, explodindo em cor, ritmo e densidade simbólica”, ressalta a curadora.

O nome da exposição tem a ver com o fazer artístico de Gilberto Salvador. “O que mais me chama a atenção no trabalho dele, e por isso eu dei este título de Geometria Visceral, é que todo o construtivismo, a geometria, são absolutamente permanentes na obra do Gilberto, mesmo nas primeiras obras, que tem mais o espírito da Pop Arte, há a presença marcante da geometria. Mas sempre há um contraponto de uma forma orgânica presente em toda a obra dele”, diz Denise Mattar.

 Sobre o artista.

Gilberto Salvador (São Paulo, 1946) é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU/USP). Dentre suas principais exposições individuais, destacam-se “Água + Forte”, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas Jose Pancetti (MACC), em Campinas – SP; “Dois momentos”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo; “Gênesis”, no Museu da Casa Brasileira (MCB), em São Paulo, SP; “Reflexões Visuais”, na Galeria de Arte do SESI, no Espaço Cultural da FIESP, em São Paulo, SP; “O Reino Interior”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, e no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, PR; “30 Anos de Pintura”, no Museu de Arte de São Paulo (MASP); “História natural do Homem Segundo Gilberto Salvador”, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), em São Paulo, SP.  

Em cartaz até 1º de março de 2026.

Três artistas no Instituto Ling.

08/dez

Três mostras de artes visuais estão em cartaz no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS: Feraluz, instalação de Leandro Lima que imagina os sonhos do edifício (até 13 de dezembro); Valdson Ramos, pintura que reflete sobre iconografia religiosa e Missões Jesuíticas (até 27 de dezembro); e mezo-móbile, de Guto Lacaz, com uma instalação inédita que transforma e subverte o espaço expositivo (até 27 de dezembro). Entrada franca, de segunda a sábado, das 10h30 às 20h.

Espanha Afro 2025.

01/dez

Atividades em parceria com o Instituto Cervantes RJ, com a Embaixada da Espanha  e com a FLUP celebram o Novembro Negro brasileiro. Desde 2023, o Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, Botafogo, celebra, anualmente, o Dia da Consciência Negra no Brasil através do programa multidisciplinar “Espanha Afro”, já em sua terceira edição. 

Em parceria com a Embaixada da Espanha e com a FLUP, estarão no Brasil a jornalista, escritora e curadora espanhola Lucía Mbomío e o fotógrafo reunionense Laurent Leger-Adame. Eles participaram de duas mesas-redondas no Viaduto de Madureira, quando conversaram sobre fotografia, imigração, memória, direitos, entre outros temas também abordados no último livro de Mbomío, Tierra de la luz.

Já em 02 de dezembro, terça-feira, às 19h, o Instituto Cervantes inaugura “Afromayores”, mostra fotográfica assinada por Leger-Adame, que retratou protagonistas desses legados, sob curadoria de Mbomío. Tanto o reunionense Laurent Leger-Adame como a alcorconeira (Alcorcón-Madri) Lucía Mbomío há anos entrevistam pessoas negras com o objetivo de balancear a narrativa mediática generalista espanhola na qual, ou não aparecem ou somente são vistos de determinada forma. Entre os retratados em destaque estão o pai da curadora, Jose, e também Batata, único carioca, residente em Madri, “afromayor/idoso” da mostra, que entrou especialmente nessa edição no Rio de Janeiro. 

Como incentivo, faltava apenas determinar como e quando – infelizmente precipitado após o diagnóstico de demência com corpos de Lewy do pai de Lucía. Em um processo de perda de lembranças inexorável, era o momento de fazer memória antes de que a dele se apagasse completamente. Foi dessa forma como, durante um bom tempo com o cinegrafista José Oyono, sem nenhum tipo de apoio econômico, começaram a fazer as gravações, os retratos e a encapsular suas vidas com o objetivo de eternizá-los. Perceberam imediatamente como se infiltram nelas o colonialismo, questões administrativas, xenofobia, racismo, amor, renúncias, sonhos desfeitos e realizados, família, pertencimento e muita nostalgia do tipo que não cessa, mesmo que estivessem na Espanha há décadas. Seu lema é “Existimos Porque Existiram”.

Até 10 de janeiro de 2026.

Arquipélago imaginário.

27/nov

A grande comemoração dos 50 anos de  carreira do fotógrafo paraense Luiz Braga chega ao Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ, no dia 09 de dezembro, em exposição concebida pelo Instituto Moreira Salles. A mostra reúne 191 fotografias produzidas da década de 1970 até a atualidade – a maioria exibida apenas uma vez. A seleção destaca a forte conexão do fotógrafo com o seu território de origem e a perspectiva intimista diante dos ambientes e personagens retratados.

Com curadoria de Bitu Cassundé, a exposição Arquipélago Imaginário; oferece uma imersão no trabalho do fotógrafo Luiz Braga. Suas imagens retratam paisagens, indivíduos, costumes e tradições do território paraense, capturadas a partir de momentos de troca e convivência. “Meu trabalho se debruça sobre o meu lugar”, orgulha-se Luiz Braga, que mantém um acervo organizado de suas fotografias desde o início da carreira, aos 18 anos.

Nascido em 1956, em Belém, Luiz Braga começou sua trajetória como fotógrafo na década de 1970, atuando na publicidade antes de se tornar fotógrafo autônomo. Em paralelo, cursou arquitetura na Universidade Federal do Pará (UFPA). Em 1979, realizou sua primeira exposição individual e, desde então, passou a colaborar e expor em diversas instituições. “Não poderia ter escolhido outra profissão; tampouco viver em outro lugar”, afirma.

A exposição.

Arquipélago Imaginário; é composta por nove núcleos: Sintaxes populares, O Retrato, O Antirretrato, Territórios e pertencimentos – o Norte, Nightvision – Mapa do Éden, O outro, o alheio, Arquitetura da intimidade, Afazeres e trabalhos e O Marajó. Com uma expografia original e intimista, a seleção de imagens proporciona ao público uma viagem pelos temas e elementos marcantes na obra de Luiz Braga, ressaltando o orgulho de pertencer àquele território e o respeito por cada um dos personagens fotografados.

No início do percurso, estão as imagens em preto e branco, que marcam o período inicial de sua produção. Nos núcleos seguintes, predominam as fotos coloridas, a faceta mais conhecida de seu trabalho, com ênfase na investigação da Ilha do Marajó nos últimos 20 anos. Nos primeiros segmentos da exposição, a curadoria reforça a importância do vínculo do fotógrafo com os locais que registra e as pessoas que os habitam. Outra característica central em sua obra são as cenas do interior de residências e estabelecimentos, apresentadas de forma intimista. Detalhes como cortinas, relógios, vasos de flores e ventiladores evocam memórias, afetos e vestígios do tempo. O universo do trabalho também é um tema recorrente, com fotos de profissionais atuando no espaço público, como cabeleireiros, alfaiates, pescadores e açougueiros, geralmente em ação. Os núcleos Retrato e Antirretrato também merecem destaque. No primeiro, a curadoria ressalta como os retratos de Luiz Braga diferem do formato clássico, onde o ambiente e os objetos ao redor são fundamentais para compor a cena. Roupas, bolas de futebol e barcos tornam-se protagonistas junto aos indivíduos. Já a seção Antirretrato reúne fotografias onde as pessoas aparecem geralmente de costas ou de lado, contemplando o horizonte ou imersas em seu cotidiano. Em cartaz até 1º de março de 2026, a mostra conta com recursos de acessibilidade, como pranchas táteis e audiodescrição.

Em cartaz até 1º de março de 2026.