Segall na Pinakotheke

20/ago

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Lasar Segall – Obras sobre papel: pinturas, desenhos e gravuras”, com 71 trabalhos, obras pertencentes a família do artista. Grande parte dessas obras é inédita ao público, em seleção feita pelo curador Max Perlingeiro. A exposição abrange obras produzidas entre 1910 e 1956, na maior diversidade de técnicas e processos, e na maior variação temática já apresentada em uma única exposição sobre Lasar Segall. São 17 pinturas, 23 desenhos e 31 gravuras, reunidos em temas como retratos e autorretratos, flores e naturezas-mortas, figuras e grupos de figuras, judaísmo, brasileiros e europeus, negros e brancos, guerra, paisagens, animais, e séries importantes como “Emigrantes” e “Mangue”.

 

Max Perlingeiro desenhou a exposição de modo a que público possa apreciar a mestria de Segall como pintor, desenhista e gravador. Uma temática recorrente na obra de Lasar Segal, o judaísmo está destacada na gravura “Vigília fúnebre”, de 1928, uma das obras que o artista fez após a morte de seu pai, Abel Segall, em 1927. Esta mesma imagem, Segall reproduz em pintura a óleo sobre tela, obra exibida nesta exposição.

 

A exposição na Pinakotheke resgata ainda várias obras apresentadas na marcante exposição de 1943, no Museu Nacional de Belas Artes – como as séries “Mangue” e “Emigrantes” – que causou enorme impacto e dividiu a opinião pública.

 

Na abertura da exposição será lançado um livro com 176 páginas, português/inglês, apresentado por Max Perlingeiro, e ensaio inédito no Brasil escrito por Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall e outros assinados pelo chanceler Celso Lafer; Rodrigo Naves  e Vera d’Horta.

 

 

O artista

 

Nascido em 1891 em Vilna, capital da Lituânia, cedo Segall aprende desenho, e viaja para estudar e expor em Berlim, depois Dresden e Amsterdã. Em 1912 e 1913 mora em São Paulo, onde estão seus irmãos. Nesse período, já tem obras suas adquiridas por coleções  brasileiras. De volta a Berlim, fica até 1923, quando se muda definitivamente para o Brasil, país que adota até sua morte, em 1957.

 

 

A palavra do curador

 

Quando propus à família do artista a realização desta exposição já tinha consciência da dificuldade na seleção das obras, pois como colecionador de papel − um suporte dito “frágil” −, sei bem do extraordinário fascínio sobre os colecionadores.

 

As primeiras obras de grandes coleções, geralmente, são pequenos papéis. E assim, foram meses de pesquisa até chegar a um ponto onde nada mais poderia ser incluído e, muito menos, retirado. Tornou-se semelhante ao sentimento de um artista. Um trabalho solitário. A partir daí a tarefa foi criar uma narrativa para as setenta e uma obras selecionadas, a grande maioria inédita, produzidas entre 1910 e 1956, na maior diversidade de técnicas e processos, na maior variação temática já apresentada em uma única exposição: retratos e autorretratos, flores e naturezas-mortas, figuras e grupos de figuras, judaísmo, brasileiros e europeus, negros e brancos, vivos e mortos, a guerra, paisagens, animais, e séries importantes como Emigrantes (1926-1930) e Mangue (1926-1929).

 

Quando Segall chega ao Rio de Janeiro, em 1923, conhece o Mangue, célebre zona de prostituição no centro da cidade. Daí resulta uma série de pinturas e gravuras executadas em metal e madeira a partir de 1928, na França. São cenas sensuais e misteriosas. Mulheres, vistas através de cortinas e persianas, estabelecendo um clima de mistério entre seus personagens.

 

O judaísmo, temática recorrente na obra de Segall, está presente nesta exposição, na gravura Vigília fúnebre. Sobre esta obra, comenta Cláudia Valladão de Mattos* que após imigração definitiva para o Brasil, Segall afasta-se novamente do ambiente judaico que fora um importante estímulo para sua obra durante o período entre 1918 e 1923. Ao chegar, ele foi recebido e valorizado pelo ambiente artístico local como um membro importante do movimento expressionista alemão, sem que sua vinculação com a cultura judaica fosse posta em evidência. Segall retornaria, no entanto, à representação direta de temas judaicos em 1927, por ocasião da morte de seu pai, Abel Segall. A gravura Vigília fúnebre de 1928 entre outros, fazem parte desse conjunto. Diferentemente das obras de temática judaica do período alemão, que, como vimos, aspiravam à expressão de uma experiência universal por meio da especificidade judaica, essas obras parecem sublinhar o caráter pessoal e particular do evento retratado. Não por acaso são, em sua maioria, obras em papel, um meio mais intimista do que a pintura. Elas não falam de uma “dor universal”, ou da condição humana em geral, mas da dor da família Segall diante da perda de um ente querido. Assim também, as pessoas retratadas são reconhecíveis e seu sofrimento descrito com precisão. Tal registro pessoal e singular parece justificar o largo uso que Segall faz de símbolos e referências religiosas. Na parte superior desta gravura lê-se a inscrição: “Pai Segall”, em hebraico, invertida.

 

Para concluir, uma pequena historinha: em 1980 tive a ousadia de pedir ao filólogo Antonio Houaiss (1915-1999) para apresentar uma singela exposição de desenhos de artistas brasileiros, com a certeza de ouvir uma recusa elegante como era o hábito do meu saudoso amigo, entretanto, fui presenteado com um belo texto, que com o maior prazer compartilho, e que hoje parece ter sido escrito especialmente para esta exposição: (…) “Eis que essa folha branca tem sido o suporte de tudo o que o Homo Symbolicus pôde fantasiar e criar nesses milênios, multiplicando vertiginosamente a reserva do saber: e não fantasiou e criou pouco. Para essa folha branca, transpôs a arte parietal, fazendo-a traçado, desígnio, embutido, pincelado, riscado, grifado, gravado, grafado, multiplicado dürerianamente; para essa folha, transpôs a cromática aquarelada, aguada, sanguinizada, entremesclada; nela, folha branca, se cristalizaram sonhos os mais díspares, desde os gestuais dos mimos mímicos, até os puramente verbais, nas suas faces fônicas e psíquicas, com seus ensinamentos de amar − plantar, colher, fazer, ser, produzir, irrigar, drenar, construir, gozar, fruir, ouvir, dançar, musicar, sorrir, suspirar, respirar, dormir, sonhar, despertar −, até seus ensinamentos de desamar − conquistar, dominar, ter, destruir, militar, reter, deter, conter, torturar, matar: − eis aí o papel, esse documento (o que ensina) humano mais completo de belezas e tristezas. (…) Não fujamos à benção do papel: eis que − entre nós − a arte do papel, o papel de arte e a arte no papel ou sobre o papel são − ainda! − arte… menor”.

 

Max Perlingeiro

(*) In Lasar Segall e as vanguardas judaicas na Europa e no Brasil.

 

Até 20 de outubro.

A PESQUISA DE GAIS

12/ago

A galeria Huma Art Projects, Humaitá, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Gais – As poucas modificações feitas não desfiguraram o diretório: fotomontagem originalcopia” com 20 trabalhos trabalhos inéditos do artista nascido no Rio em 1980, e oriundo do grafite. Serão apresentadas dez fotomontagens originais com moldura de madeira e dez cópias ampliadas com moldura branca, de tamanhos variados. Esta nova pesquisa surgiu quando o artista comprou revistas da década de 1950 e 1960, em uma banca de jornal perto de casa, e começou a fazer colagens, utilizando também spray e acrílica. A frase “As poucas modificações feitas não desfiguraram o diretório” estava em uma reportagem, que trazia ainda uma imagem de uma mulher parada em uma esquina, que nomeou outro trabalho também presente na exposição.

 

Criado na Maré, conjunto de favelas no Rio, Gais, assinatura de Douglas Santos Tavares, ainda muito jovem começou a grafitar os muros da cidade e a participar de festivais e exposições do gênero. Seu trabalho chegou às ruas de Amsterdan e Roterdan e, no ano passado, teve uma tela de 100cm x 140cm leiloada por dez mil libras esterlinas na prestigiosa Phillips de Pury em Londres. Em março deste ano ele integrou a exposição “Gramática Urbana” no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. A curadoria é de Vanda Klabin. As obras de Gais estão em várias coleções particulares, como o fundo de arte Brazil Golden Art dirigido por Heitor Reis.

 

De 14 de agosto a 29 de setembro.

CAIXA CULTURAL MOSTRA BEATRIZ MILHAZES

11/ago

Uma das mais importantes e valorizadas artistas brasileiras contemporâneas retorna ao Rio de Janeiro após 10 anos sem uma exposição individual na cidade. “Beatriz Milhazes: Gravuras” é o nome da mostra que a Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe em sua Galeria 1, ao público carioca. A coleção de gravuras apresentadas é uma coleção pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

Estarão expostas 17 gravuras de grandes dimensões doadas à Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2008, pela artista e pela Durham Press, da Pensilvânia, EUA, onde, desde 1996, Beatriz Milhazes tem estado em residências regulares, para o planejamento e desenvolvimento desse magnífico conjunto de trabalhos. As gravuras que compõem a mostra não devem ser consideradas apenas como uma analogia de suas pinturas. A exposição foi produzida pela Tisara Artes.

 

Para o diretor-técnico da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Ivo Mesquita, o trabalho de Beatriz Milhazes “…está entre os mais conhecidos e originais no panorama internacional da visualidade contemporânea, tendo criado um vocabulário plástico próprio, com densas superfícies pictóricas, compostas por planos e formas coloridas, vibrantes e evocativas”.

 

“Elas são também uma investigação em torno das possibilidades do meio: a serigrafia oferece cores sólidas, não moduladas, cortes precisos, opacidade, enquanto o bloco de xilogravura possibilita a textura e certo imediatismo. A gravura é um método e processo que nos últimos dez anos, certamente, colabora na estruturação, ampliação e adensamento da pintura e da colagem de Milhazes, assim como na expansão de sua prática em projetos de intervenções na arquitetura de diferentes edifícios”, afirma Ivo Mesquita.

 

 

De 13 de agosto a 30 de setembro.

ANTONY GORMLEY NO RIO

07/ago

Critical Mass II

O CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe “Corpos Presentes – Still Being”, esculturas, vídeos, maquetes e fotografias de Antony Gormley, um dos mais fascinantes nomes da cena contemporânea internacional. “Corpos Presentes – Still Being”, com curadoria de Marcello Dantas, é a primeira exposição individual do artista no Brasil (apresentada anteriormente em São Paulo). O artista é um dos mais célebres e conceituados escultores em atividade. Seus trabalhos exploram a relação do corpo humano com os espaços que ele habita, criando desde esculturas intimistas até megainstalações em escala monumental. Em concreto, aço inoxidável, alumínio, borracha, arame, terracota, ou até pão e cera, os supercorpos construídos por Antony Gormley são maneiras diversas de pensar as relações do homem com a Arquitetura.

 

Homens deitados, pendurados de cabeça para baixo, de pé. Nessas e em outras posições, as obras de Gormley, provocam a passividade do espectador e dificilmente se tornam indiferença. O escultor apresenta um panorama da carreira através da exibição de onze trabalhos que, juntos, somam quase uma centena de esculturas. Na presente seleção, 31 figuras humanas moldadas em ferro fundido e fibra de vidro compõem a única atração da retrospectiva a ser instalada ao ar livre. No Rio, as imagens serão dispostas no entorno do CCBB.

 

Dentro do prédio ficarão representantes de várias fases da trajetória de Gormley. A mais antiga, de 1981, é “Floor”, uma forma plana, de borracha, com a silhueta dos pés do próprio artista e contornos que parecem se expandir, como se ele estivesse pisando em um espelho-d’água. Outro destaque no acervo é “Loss”, figura humana de 1,73 metro formada por blocos de aço inoxidável. Na rotunda do prédio estará uma de suas mais famosas criações: “Critical Mass II”, constituída por sessenta corpos de ferro fundido, com 630 quilos cada um, em doze posições diferentes. Alguns ficam suspensos por cordas. Há ainda uma inédita, “Sum”, composta de cristais, colocada no chão. Cinquenta maquetes, nove gravuras, 25 fotos e seis vídeos completam o conjunto em exibição.

 

De 07 de agosto a 23 de setembro.

DOIS NA GALERIA LAURA MARSIAJ

“Delay”, da artista Waleria Américo apresenta um conjunto de trabalhos inéditos, todos resultados de sua última pesquisa. A exposição na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, é composta por vídeos, fotografias, desenhos e indica a temporalidade particular que se articula entre lugar, corpo e deslocamento. Revela uma série de imagens que servem como relatos e notas, que se ativam por um corpo/memória, em fragmentos de vários lugares, tempos e ritualidades.

 

Dessa investigação entre “corpo subjetivo” e “corpo geográfico” surgem questões no qual o corpo é agente determinante, tanto mecanicamente pelo deslocamento entre diferentes geografias e paisagens, quanto, nas construções subjetivas na qual a instância relacional é ativada, “Delay”, reverbera o desejo pelo outro lugar, pelo desconhecido. Os trabalhos compõem uma cartografia, que se conjuga por proximidade e distanciamento, busca e desejo, limite e risco e anuncia o posicionamento do corpo dentro desse rizoma. A curadoria é de Bitu Cassundé.

 

No Anexo da galeria, Carlos Mélo apresenta “Sobre humano”, uma instalação na qual dezenas de ossos de boi colados e sobrepostos formam uma escada-escultura, cuja funcionalidade se encerra na fragilidade. A montagem denuncia a precária condição de um corpo estranho sem pele encostado em uma parede.

 

A exposição divulga uma citação de Félix Guatari: “Quanto mais se sobe numa hierarquia, mesmo pseudorrevolucionária, menos possível se torna a expressão do desejo (em compensação, ela aparece nas organizações de base, por mais deformada que seja) a esse fascismo do poder, nós contrapomos as linhas de fugas ativas e positivas, porque essas linhas conduzem ao desejo, às máquinas do desejo, a organização de um campo social de desejo: não se trata de cada um fugir pessoalmente, mas de fazer fugir, como quando se arrebenta um cano ou um abcesso”.

 

 

De 07 de agosto a 05 de setembro.

ANA DURÃES E O “MUNDO DAS COISAS”

O Espaço Cultural Eletrobras Furnas, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição individual de Ana Durães “Mundo das coisas”. A curadoria é de Denise Mattar e serão exibidos cerca de 35 pinturas inéditas, em técnica mista inusitada, além de projeções de trabalhos de outras fases da produção da artista. A produção de Ana Durães transita da artesania à tecnologia, ousando aplicar técnicas das mais diversas em um mesma obra como estêncil, a partir de fotografia digitalizada e spray. “Ana Durães sempre criou situações ambíguas entre fundo e figura, grafia e desenho, fotografia e pintura. Em suas obras ela retrata fragmentos do cotidiano, que, mergulhados em névoas e cores, transformam-se em evocações de um mundo real – repleto de irrealidade”, analisa a curadora Denise Mattar no texto de apresentação da mostra.

 

A exposição se estrutura em três segmentos:

 

“Os anônimos”: uma série de 20 retratos onde alguns rostos são de reconhecimento público, mas a artista optou por “identificá-los” como anônimos.

 

“Mundo das coisas”: pinturas com imagens criadas,  reinventadas do cotidiano ou transpostas de fotografias. Uma delas tem como base um registro do fotógrafo húngaro George Brassaï. Nesse conjunto, a artista usa, pela primeira vez, a tinta spray como base para a pintura a óleo. A poética reside no que não é aparente no mundo das coisas.

 

“Heterônimos”: projeções de trabalhos que Ana Durães cria para personagens de novela e as pinturas expressionistas de “Ingrid Hermanns”, heterônimo que Ana Durães criou para si própria. É uma pintora alemã, fascinada pela paisagem brasileira. Através de “Ingrid”, Ana se investiu de um olhar europeu e produziu telas de natureza tropical.

 

Sobre a artista

 

Ana Durães nasceu em Diamantina, MG, e está radicada no Rio de Janeiro. Começou a pintar aos dez anos. Diferentemente de muitos de seus pares, escolheu ser artista plástica desde então. Estudou na Escola Guignard de Belo Horizonte antes de se mudar para o Rio para cursar a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se graduou. Seu currículo registra uma ação inédita no Rio de Janeiro, quando, em 1999, ela substituiu as bandeiras dos postos BR backlights com imagens de anjos. Ana também assinou a ambientação da sala de promessas da igreja de Aparecida do Norte e da Igreja de Cosme e Damião, no Rio, tirando-lhes o aspecto soturno e imprimindo-lhes uma visualidade alegre.

 

Desde 1983, a artista soma dezenas de exposições individuais e coletivas em várias cidades brasileiras, em Buenos Aires, Washington, Berlim e Paris.

 

Ana Durães é, no momento, a ghost pintora do grafiteiro “Rodinei”, papel do ator Jayme Matarazzo, em “Cheias de Charme” , novela da TV Globo.

 

 

De 09 de agosto a 07 de outubro.

FÁBIO BAROLI NA MOURA MARSIAJ

06/ago

A Galeria Moura Marsiaj, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe “Vendeta”, exposição individual de pinturas de Fábio Baroli. A apresentação da mostra traz a assinatura de Bitu Cassundé. Mineiro, Fábio Baroli nasceu em Uberaba, em 1981. Atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduou-se em bacharelado pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília, UnB. Desenvolveu monografia sobre os conceitos da apropriação e do erotismo em sua obra. Ao longo de sua carreira participou de diversas exposições individuais e coletivas. O artista recebeu prêmios em salões e concursos de arte, e teve a obra publicada em catálogos e revistas como a Poets and Artists de setembro de 2009.

 

 

Texto de apresentação

Por Bitu Cassundé

 

Sobre “o duelo, a vendeta e a guerra” Georges Bataille no Erotismo, discute o desejo de matar e indica que em todo homem existe um possível matador, que esse ato se localiza na instância do proibido e que isso alimenta o ímpeto de transgredir a regra, o mandamento de “não matar”. Estabelece um paralelo entre sexo, morte e desejo latente e aponta que o ato de matar é admissível no duelo, na vendeta e na guerra, violando assim uma condição. E acerca da Vendeta sentencia: “A vendeta, como o duelo, tem suas regras. É, em suma, uma guerra cujos campos não são determinados pelo habitat em um território, mas por se pertencer a um clã”.

 

No entanto, na poética de Fábio Baroli Vendeta rege uma coreografia, a do duelo que se estabelece entre territórios conflituosos, num jogo sequencial de ações que encena um confronto armado, uma batalha conduzida por crianças, numa avassaladora ironia que confronta pureza e crueldade, bélico e lúdico, ingênuo e perverso. O conjunto de imagens coloca o espectador dentro de um duelo, interagem e reordenam posições, trazendo para o doméstico e o cotidiano questões bélicas.

 

A série de pinturas que compõem Vendeta subverte signos de guerra, ali as armas são de brinquedos e são carregadas por crianças, reconfigura ações expansionistas, territórios. Os soldados dessa batalha lúdica, que se estabelece no ambiente familiar, encenam uma agressividade, que saltam aos olhos como comentários pontuais acerca do nosso tempo, práticas e posturas.

 

 

Até 29 de agosto.

FESTA ANTICONFORMISTA

03/ago

A Galeria Oscar Cruz, Itaim Bibi, São Paulo, SP, apresenta a mostra “Festa Anticonformista”, exposição individual de Éder Roolt. Em 12 pinturas figurativas e uma pintura-escultura, Roolt coloca em xeque noções culturais de real e hiperrealismo, reprodução e identidade, padrões e desvios. Para a curadora Juliana Monachesi, que também assina o texto de apresentação desta primeira exibição individual do artista, a mostra “…é essencialmente ambígua”.

 

Nesta série, Éder Roolt faz uso metafórico da infância para retratar a subjetividade contemporânea, marcada pela infantilização da idade adulta, e também de seu reverso, retratando a queima de etapas psicológicas e culturais do processo de amadurecimento que observa.

 

Ainda de acordo com a curadora, “…a pintura paulistana vive um boom como não se via desde os anos 1980. Porém, como 30 anos atrás, diante da avassaladora quantidade de obras produzidas pelos pintores, é imenso o desafio de diferenciar o bom do mediano, e mais difícil ainda é distinguir o bom do ótimo. Quais destes pintores que despontaram no final da década de 2000 vão ficar? Que artistas da geração 2010 têm condições de continuar produzindo um trabalho relevante daqui a dez ou 20 anos?”.

 

“A pintura crítica, o discurso sofisticado e a técnica da produção reunidos nesta individual servem de contraponto à produção contemporânea, complacente e apaziguadora”, conclui Juliana Monachesi.

 

Sobre o artista

 

Éder Roolt nasceu em Santo André, São Paulo, 1977. Graduado em Engenharia Química, realizou estudos livres de História da Arte na Tate Modern, Londres,  fotografia no Centro de Estudos Fujifilm e Kodak. Vem participando do circuito de exposições do grupo paulistano “Aluga-se” e dos salões de arte nacionais desde 2008. Recebeu o primeiro lugar no Salão de Artes Plásticas do Mapa Cultural Paulista de 2010 e foi um dos finalistas do prêmio Pipa em 2011. Vive e trabalha em Mauá, São Paulo.

 

De 07 a 28 de agosto.

RETROSPECTIVA DE ANNA LETYCIA

02/ago

Anna Letycia

Uma artista que moldou sua carreira a partir de expressivos e sóbrios traços geométricos, Anna Letycia ganha retrospectiva no Museu Nacional de Belas Artes, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição “Anna Letycia: gravuras”, abrange meio século da produção da artista passando por técnicas como gravura em metal, água-tinta, água-forte, relevo e ponta-seca.

 

Sobre a artista

 

Gravadora fluminense nascida em Teresópolis, em 1929, o escritor Anibal Machado dizia que de seus trabalhos emanava uma “atmosfera de silêncio”. Já o critico Frederico Moraes apontava “um máximo de despojamento nas obras, uma espécie de minimalismo gráfico, que revela uma sensibilidade muito apurada e uma beleza serena”.

Aluna de mestres da gravura como Goeldi e Iberê Camargo, na década de 1950, a artista dedicou-se ao ensino por mais de 20 anos. Desde 1956, ano de sua primeira exibição e ao longo das últimas décadas, Anna Letycia já realizou dezenas de exposições individuais e participou de importantes mostras e salões no país e no exterior. Mais recentemente realizou a exposição “Gravuras de Anna Letycia” no Instituto Tomie Ohtake, SP, em 2009 na Caixa Cultural Brasília, e após mostra no Museu de Arte Aloísio Magalhães no Recife.

 

Até 09 de setembro.

VERMELHO: PROGRAMAÇÃO MÚLTIPLA

31/jul

A Galeria Vermelho, Pacaembu, São Paulo, SP, apresenta “Imagens claras x Ideias vagas”, a nova exposição individual de Dora Longo Bahia. A ideia da representação do conflito norteia a nova mostra da artista. Na série de pinturas que integram a exposição, Dora Longo Bahia apresenta imagens de confrontos gerados por guerras e revoltas difundidas diariamente nos meios de comunicação. Simultaneamente, Mauricio Ianês apresenta um conjunto de trabalhos que exploram os limites da linguagem.

 

Em “Imagens claras x Ideias vagas”, Dora Longo Bahia segue abordando a representação da violência social. É o que ocorre nas duas pinturas “Ocupação (Alemão)” e “Ocupação (Brasileira)”, ambas de 2011, exibidas na sala 1 da galeria. As obras de grande formato apresentam imagens retiradas da internet da ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em julho de 2011. A obra propõe uma reflexão sobre a espetacularização da violência pela mídia, questionando a compreensão da representação dos horrores da guerra, da dor e do conflito.

 

Procedimento semelhante aparece na série de 80 pinturas sobre papel pergaminho denominadas como “Desastres da Guerra”. O título da obra faz referência à série de gravuras “Los Desastres de la Guerra” criada por Francisco de Goya y Lucientes, no século XIX. Em “Desastres da Guerra”, Dora Longo Bahia apresenta imagens criadas a partir da leitura do livro de Susan Sontag “Diante da dor dos outros”, que aborda a sedução das imagens de violência e dor através da história. Na série, a artista agrega também os comentários que integram a obra de Goya.

 

Na série “Gel Poetics”, a artista apresenta pinturas criadas a partir de 2011, que repetem os mapas de países ou de regiões do planeta em situação de conflito interno ou com seus vizinhos. Sobre grandes superfícies de lona verde, surgem manchas vermelhas e brilhantes de países como a Colômbia, Sudão e Coreia do Norte.

 

No conjunto, “Imagens claras x Ideias vagas” redesenha o mapa do planeta a partir da ideia de representação do conflito, levantando questões cruciais para a compreensão da vida atual. A crueldade e violência que surgem nas pinturas de Dora Longo Bahia questionam – da mesma forma que no livro de Sontag – como imagens sobre situações de discórdia e violência podem levar à apatia. De sua reflexão surge uma formulação surpreendente e desafiadora: a relevância dessas imagens depende, em última instância, da maneira com as encaramos.

 

Na sala 3 da Galeria Vermelho, Mauricio Ianês apresenta o políptico “A Pedra Detrás da Fronte” criado a partir do livro “Sete Rosas Mais Tarde”, de Paul Celan, além das obras “Discurso”, “Fala” e “Voz”, criadas em neon e tinta a óleo.

 

Já na fachada da galeria Vermelho, o grupo de estudos criado por Dora Longo Bahia, composto pelos artistas Bruno Storni, Fernando Pirata, Felipe Salem, Gabriela Godoi, Giorgia Mesquita, Guilherme Neumann, Henrique César, Janaina Wagner, Keila Alaver, Marcos Kaiser e Paulo Pjota executará, durante todo o período da exposição, uma grande pintura e apresentarão projeções de filmes e vídeos. Filmes de Godard, Resnais, Philippe Mora, Lilina Cavani, Johan Grimonprez, Lars von Trier e Guy Debord.

 

 

De 31 de julho a 25 de agosto.