Os vazios na arte em vidro

31/ago

 

 

Emanuelle Spack informa que a primeira edição da Bienal Internacional Ibero-Americana de Arte em Vidro conta com a participação de Désirée Sessegolo, artista curitibana. O evento acontece entre os meses de agosto e outubro na Costa Rica e apresenta obras de mais de 240 artistas de 27 países.

 

Texto de Emanuelle Spak

 

A primeira edição da Bienal Internacional Ibero-Americana de Arte em Vidro, que será realizada na Costa Rica entre os dias 28 de agosto e 23 de outubro, é um evento que exibe várias exposições em Cartago, San José, Alajuela e Puntarenas, além de contar com uma movimentada agenda de workshops, palestras e desfiles.

 

Désirée Sessegolo é uma das artistas convidadas e exibirá a obra “Vazios”, uma escultura em vidro translúcido azul em suporte de metal e um “Vestido de Vidro” feito com centenas de vidros translúcidos criando um aspecto que pode ser associado à água, um dos bens mais preciosos da natureza, que será apresentado no Glass Fashion Show. São duas obras em composições diferentes trabalhadas com a mesma técnica. Com suas características particulares revelam contornos ligados à natureza, à vida e à espiritualidade.  O convite para expor na primeira edição da Bienal Internacional Ibero-Americana de Arte em Vidro é muito significativo, pois consolida o reconhecimento do trabalho desta curitibana na arte do vidro e agrega valor à produção artística brasileira. Junto com Désirée participam deste evento, também como convidadas, outras duas artistas brasileiras: Jaqueline Noleto e Cristine Baena. “É uma honra representar o Brasil em uma Bienal desta magnitude e poder expor meu trabalho com o vidro, pois, desejo com a minha obra evidenciar a existência do vazio. Hoje as pessoas estão muito ligadas à matéria e esquecem do vazio, da alma, da espiritualidade.”, destaca Désirée.

 

O fascínio de Désirée pelo trabalho com vidro completa 15 anos dedicados a criar obras de arte com dimensões vazadas. Na composição de suas peças a artista utiliza fragmentos de vidro que, sob ação de altas temperaturas, fluidificam e se movimentam buscando um equilíbrio físico originando assim composições em formas orgânicas compostas por espaços vazios que caracterizam o seu trabalho. “Minha obra evidencia a existência do vazio, com leveza e suavidade”, ressalta a artista que concorda com o pensador e escritor Rubem Alves em sua citação: “o vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”.

 

O caráter inovador desse novo modo de trabalhar o vidro colocou a obra de Désirée Sessegolo entre os artistas vidreiros da contemporaneidade, comentou o crítico italiano Jean Blanchaert em sua palestra no Salão Arte em Vidro Brasil 2022, realizado em Curitiba no mês de julho deste ano. Para Désirée, explorar os vazios passou a ser um exercício de liberdade que a tem conduzido a voos nunca imaginados pelo mundo das artes visuais. Quem está à frente da curadoria do trabalho artístico de Désirée é a produtora de eventos culturais Edilene Guzzoni. A participação de Désirée Sessegolo na Bienal conta com o apoio da Embaixada Brasileira na Costa Rica que patrocinou a viagem da artista vidreira.

 

Sobre a artista

 

Désirée Sessegolo é designer e artista vidreira. Seu trabalho é reconhecido pelo Museu Alfredo Andersen, Casa João Turin, Museo del Vidrio de Bogotá, International Biennale of Glass na Bulgária e The Venice Glass Week na Itália dentre mais de 50 mostras, salões e prêmios que participou em 15 anos dedicados à arte do vidro. A denominação “Vidro Celular”, técnica exclusiva da designer e artista visual, se define pelo seu processo de fusão, onde as partículas de vidro se movimentam buscando um equilíbrio físico, originando texturas orgânicas compostas por espaços vazados que remetem a texturas celulares.

 

 

Harmonia nas obras de Patricio Farías

 

 

A exposião “Reticulados & Mitológicos” abrange duas vertentes da produção recente do artista Patricio Farías envolve gravuras digitais, desenhos e esculturas. A mostra – em cartaz até 01 de outubro – é uma realização da Ocre Galeria, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. A exibição conta com o apoio da Fundação Vera Chaves Barcellos, e o texto de apresentação é de Adolfo Montejo Navas.

 

Artista chileno radicado há quase 40 anos no Brasil, Patricio Farías possui uma ampla produção escultórica, além de sua atuação como desenhista, gravador e com experimentações multimídia. Na série “Reticulados” (2020/2022), estão reunidas composições minimalistas com herança cinética incluída, que respondem a uma geometria icônica – mais onírica e sonhadora como pedia o neoconcretismo brasileiro. Já a série “Mitológicos” (2021/2022) traz figuras antropomórficas e animais imaginários mitológicos, com inspiração em formas pré-colombianas que ressaltam a simplificação do essencial.

 

“Há uma compressão visual em ambos trabalhos apresentados, aumentando sua compreensão energética e semântica, seu “minimal” expressivo atinge ao máximo compartido: austeridade, síntese, manufatura em peças que exalam simetria, harmonia, ritmo, com sua chave de humor própria, para abrir a fechadura das imagens. Aliás, no caso do artista chileno, rigor e humor nunca são instâncias antípodas e sim combinatórias.” (Trecho do texto de Adolfo Montejo Navas, em agosto de 2022).

 

A História viva no Museu de Arte Sacra

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe a exposição “TE DEUM” em comemoração ao Bicentenário da Independência. Sob curadoria de Beatriz Cruz e João Rossi, a mostra –  até 23 de outubro – rememora um costumeiro ato litúrgico, à época, utilizado para a recepção de autoridades tanto políticas como eclesiásticas.

 

Recorte da História

 

No dia 14 de agosto de 1822, o Príncipe Regente deu início à jornada de 634 km, com início na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, pela Real Estrada de Santa Cruz com destino a São Paulo, aonde chegaria 12 dias depois. Todas as paradas do percurso – Lorena, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Taubaté, Jacareí, Mogi das Cruzes – haviam sido estrategicamente planejadas na sua passagem pelo Vale do Paraíba, um dos motores econômicos do País a época, para que pudesse encontrar com as lideranças locais e firmar alianças. No momento em questão, a viagem – que se estenderia por quase um mês – era importante do ponto de vista político. A província de São Paulo vivia um momento conturbado, com um princípio de motim em que parte da elite ameaçava se recusar a cumprir ordens da capital. Conforme progredia a viagem, a comitiva de 5 integrantes que deu início à jornada, chega ao destino com muito mais de 30, uma vez que pessoas vão se incorporando a ela no decorrer do percurso. O grupo chega a São Paulo na manhã do dia 25 de agosto onde participa de missa na capela de Nossa Senhora da Penha. Logo após, segue para a Capital e, na Sé, assiste com sua comitiva, à solene “Te Deum” e depois recebe o beija-mão de autoridades e do povo.

 

Te Deum

 

“Recepcionando o Príncipe Dom Pedro e sua comitiva, após a jornada de 13 dias vindo do Rio de Janeiro, o antigo costume religioso – “TE DEUM” – aconteceu na igreja da Sé, no bispado de Dom Matheus de Abreu Pereira, onde o Príncipe Regente foi recebido com grande solenidade”, explica o curador João Rossi. Esse ato solene, até hoje utilizado em cerimônias importantes, foi explicado pelo Papa Bento XVI: “no “Te Deum” está contida uma sabedoria profunda, aquela sabedoria que nos leva a dizer que, apesar de tudo, existe o bem no mundo, e este bem está destinado a vencer graças a Deus, o Deus de Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado”. No séc. XIX, “as cerimônias civis possuíam início nas igrejas, dado o vínculo entre a Igreja e o Estado, fundindo assim os dois poderes”, explica João Rossi.

 

Em 25 de agosto de 1822, o hino do “Te Deum Laudamus” (“A Ti Deus louvamos”), entoado em eventos solenes de ação de graças, foi regido pelo mestre de Capela da Sé, André da Silva Gomes, em homenagem a Dom Pedro e sua comitiva. Como costume colonial, as orações cantadas sempre tiveram grande importância artística e cultural no Brasil. Grandes compositores dessas peças fizeram história na música brasileira, a exemplo do Mestre de Capela da Antiga Sé do Rio de Janeiro, Pe José Maurício Nunes Garcia, seu contemporâneo em São Paulo, André da Silva Gomes, compôs e regeu muitos atos litúrgicos na Velha Sé Paulopolitana, exemplifica João Rossi.

 

Na exposição do Museu de Arte Sacra, relíquias da Antiga Sé e outras peças históricas e de mobiliário compõem a ambientação da Igreja primacial de São Paulo, produzindo uma atmosfera que evoca a Velha Sé paulistana, oferecendo ao visitante a sensação de estar presente à cerimônia da recepção pública do futuro Imperador do Brasil, Dom Pedro. Uma peça que faz as vezes do altar mor utilizado na antiga igreja, estará adornado com peças originais da cerimônia como tocheiros, palmas, imaginária, ornamentos e mobiliário pertencentes ao acervo do museu. Manequins trajados com réplicas dos vestuários da época, compõem a nave da igreja.

 

No vernissage, foram programadas algumas ações especiais que emulam acontecimentos da ocasião: apresentação do coral do MAS com regência da maestrina Denise Castilho Cocareli, uma salva de tiros e os sinos das igrejas das imediações do bairro da Luz entoando a mesma melodia, simultaneamente. As comidinhas foram selecionadas de acordo com pesquisas sobre as iguarias da época: coxinha de frango, cuscuz paulista, mandioca frita e suco de caju, muito apreciado por todos.

 

 

Exposição Coleção Luiz Carlos Ritter

30/ago

 

 

Tarsila do Amaral, Frans Post, Guignard, Portinari, Morandi, Renoir, Di Cavalcanti, Volpi, Pancetti, Lygia Clark e Helio Oiticica são alguns dos artistas com obras do colecionador gaúcho radicado no Rio de Janeiro, que agora chegam ao público em formato de livro e exposição na  Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, sob curadoria de Max Perlingeiro com visitação pública desde 05 a 24 de setembro.

 

A Pinakotheke Cultural, em sua sede do Rio de Janeiro, irá lançar, no próximo dia 05 de setembro de 2022, o livro Coleção Luiz Carlos Ritter (Edições Pinakotheke), bilíngue (português/inglês), com 304 páginas, formato 23cm x 31cm, e textos de Nélida Piñon, Ana Cristina Reis, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ricardo Linhares, e uma conversa entre Max Perlingeiro – que organizou e planejou o livro e a exposição – ,e o colecionador Luiz Carlos Ritter.

 

De uma família de cervejeiros gaúchos – que fundaram em meados do século 19 duas das mais importantes cervejarias do Rio Grande do Sul – Luiz Carlos Ritter, que mora no Rio de Janeiro desde a infância, iniciou em 1983 uma coleção que atualmente soma centenas de obras, de grandes nomes da arte brasileira e internacional, bastante abrangente, do século 17 ao 21. Um dos maiores emprestadores de obras para exposições no Brasil e no exterior, Luiz Carlos Ritter agora torna público um conjunto expressivo de suas peças no livro editado pela Pinakotheke, com imagens e fichas técnicas de pinturas, desenhos, aquarelas e gravuras de grandes artistas, como Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti Candido Portinari, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Candido Portinari, José Pancetti, além de nomes como Frans Post, Giorgio Morandi, Pierre-Auguste Renoir, e ainda de Lygia Clark e Hélio Oiticica.

 

O livro traz textos de amigos próximos e conhecedores de sua coleção, que inclui um jardim de esculturas em uma propriedade da família em Guarapari, Espírito Santo, com grandes nomes da arte.

 

Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke montou uma exposição com 60 obras da Coleção Luiz Carlos Ritter. Seguindo as paixões do colecionador, a mostra terá flores e naturezas mortas de Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Candido Portinari, José Pancetti, Maria Leontina, Milton Dacosta, Victor Meirelles; e paisagens de Frans Post, Eliseu Visconti, Nicolau Antônio Facchinetti, Giovanni Battista Castagneto, João Batista da Costa.

 

O modernismo, outro núcleo importante da Coleção Luiz Ritter, é representado no livro e na exposição por obras de Guignard, Volpi, Portinari, Di Cavalcanti, e Flávio de Carvalho. Na categoria estrangeiros, estarão obras de Giorgio Morandi, Alfred Sisley, Joaquín Torres-García e Pierre-Auguste Renoir. A Coleção Luiz Ritter também tem importantes obras de artistas contemporâneos, como Lygia Clark e Hélio Oiticica, que também integram o livro e a mostra.

 

Gauchismo

 

Um capítulo do livro é dedicado a artistas gaúchos, que também terão obras expostas na Pinakotheke como Iberê Camargo e Pedro Weingärtner.

 

Em meio à Arte

 

Luiz Carlos Ritter cresceu em meio a obras de arte, graças a seus pais – a quem o livro é dedicado – que embora não fossem colecionadores tinham boas obras, adquiridas no pós-guerra. Pancetti, Guignard, o gaúcho Angelo Guido, e até mesmo uma escultura de Aleijadinho, exibido pela primeira vez na exposição “Imagens do Aleijadinho”, no Museu de Arte de São Paulo, em 2018, eram artistas com quem ele “conviveu”.

 

Primeiro quadro

 

O primeiro quadro que marcou o futuro colecionador, e que o “acompanha até hoje”, é “Paisagem de Sete Lagoas”, do pintor mineiro Inimá de Paula. Passando em frente à Galeria Bonino, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, em 1983, Luiz Carlos Ritter foi atraído pela montagem de uma exposição, e esta pintura estava sendo instalada na vitrine. Ele voltou à noite, para a abertura da exposição, e conversou muito com a proprietária da galeria, Giovana Bonino. Como o quadro era muito caro para ele à época, “ela me financiou”. “É curioso porque da primeira obra o colecionador nunca esquece, nos mínimos detalhes.

 

Flores

 

A convivência com os avós paternos despertou no menino Luiz Carlos o interesse por flores. Após dois anos de tratamento de tuberculose em um sanatório suíço, o avô paterno, na casa dos quarenta anos, comprou uma chácara afastada da capital, onde o neto, já morando com a família no Rio de Janeiro, passava boa parte de suas férias escolares. Fazia parte da rotina acompanhar o avô “diariamente em suas lides jardineiras”. “Vi meu avô plantando e cultivando muitas flores de clima temperado, algumas inexistentes no Rio de Janeiro, além de árvores frutíferas para a alegria dos passarinhos. Eu ficava dez dias grudado nele, autêntica referência. Isso aconteceu dos meus seis aos dez anos, quando ele faleceu. Depois continuei indo lá visitar a avó e conheci ainda mais flores e árvores floríferas e frutíferas. Lembro-me também de um fato curioso anterior. Quando bem menino, ainda em Porto Alegre, acho que entre meus três e quatro anos, adoeci gravemente e recebia a visita desses avós, que invariavelmente me traziam um pequeno vaso de amor-perfeito, que passou a ser minha flor favorita. Bem mais tarde, tive a alegria de poder adquirir um óleo de Guignard com “amores-perfeitos’”, conta Luiz Carlos Ritter. Para Max Perlingeiro, a Coleção Luiz Carlos Ritter é como uma “coleção viva, em constante mutação”.

 

Sobre a Pinakotheke

 

A Pinakotheke já editou livros sobre as coleções Roberto Marinho, Cultura Inglesa, Aldo Franco, Airton Queiroz, Fundação Edson Queiroz, e ainda este ano publicará um livro dedicado à Coleção Igor Queiroz Barroso.

Livro Coleção Luiz Carlos Ritter – Ficha técnica

Bilíngue (português/inglês), 304 páginas, formato 23cm x 31cm – Edições Pinakotheke, 2022

Autores: Nélida Piñon, Ana Cristina Reis, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ricardo Linhares, e uma conversa entre Max Perlingeiro e Luiz Carlos Ritter.

Organização e Planejamento: Max Perlingeiro – Publisher: Camila Perlingeiro

Preço: R$180

 

O livro estará disponível nas lojas da Livraria Travessa e Martins Fontes de todo o país, além da Amazon e das sedes da Pinakotheke, no Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza (Multiarte).

 

 

 

Inéditos de Di Cavalcanti

 

 

Descobertas em Paris, duas obras-primas de Di Cavalcanti vistas pela última vez em 1936, em Paris, serão exibidas em exposição no Rio de Janeiro, comemorativa aos 125 anos de nascimento do artista

 

As pinturas em óleo sobre tela “Carnaval” (década de 1920) e “Bahia” (1935), exibidas em 1936, na Galeria Rive Gauche, durante o exílio do artista em Paris, serão vistas pelo público após quase 90 anos. Depois da exibição na galeria parisiense, perdeu-se o paradeiro dessas obras, até serem descobertas recentemente em uma coleção francesa. Agora, as duas obras-primas serão mostradas na exposição “Di Cavalcanti – 125 anos”, com curadoria de Denise Mattar, na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 06 de setembro permanecendo em cartaz até 12 de novembro.

 

A exposição “Di Cavalcanti – 125 anos”, um conjunto de aproximadamente 40 obras raras, entre elas duas obras-primas inéditas, localizadas recentemente em Paris, na casa de uma família francesa – as pinturas em óleo sobre tela “Carnaval” (1928), 126x157cm, e “Bahia” (1935), 142 x106 cm. Após a exibição na Galeria Rive Gauche, em Paris, em 1936, durante o exílio do artista na França, perdeu-se o paradeiro dessas obras.

 

Denise Mattar, curadora da exposição na Danielian Galeria, diz sobre o achado: “É uma emoção indescritível para uma pessoa como eu, que pesquisa Di Cavalcanti desde 1997, deparar com duas obras dessa importância, que nunca haviam sido vistas desde 1936, e estavam em uma coleção privada na França. “Carnaval”, é um painel cujas características o situam entre a produção dos anos 1929 e 1931, quando o artista criou obras-primas como “As moças de Guaratinguetá”, os painéis do Teatro João Caetano e “Samba”, a pintura perdida num trágico incêndio. O parentesco com elas é indiscutível”.

 

“A outra obra inédita, Bahia de 1935…”, continua a curadora, “…era uma obra conhecida dos estudiosos apenas pela descrição feita pelo importante crítico francês Benjamin Crémieux quando da realização da exposição do artista em Paris em 1936. Ver o belíssimo trabalho torna a crítica ainda mais impactante e sensível. Mostrar duas obras dessa qualidade da produção de Di Cavalcanti é uma contribuição inestimável da Danielian Galeria à arte brasileira”.

 

Defensor de causas sociais, Di Cavalcanti (1897-1976) havia sido preso duas vezes: a primeira em 1932, durante a Revolução Paulista, acusado de apoiar Getúlio Vargas, e em 1936 por ser comunista. Após a segunda prisão, ele decidiu ir para Paris, com a mulher Noêmia Mourão. Neste mesmo ano, 1936, ele expõe 16 pinturas e quatro desenhos na Galeria Rive Gauche, e ganha texto do crítico francês Benjamin Cremieux (1888-1944) no catálogo. Di Cavalcanti permanece em Paris até 1940, quando decide retornar ao Brasil por causa guerra. Ele costumava guardar suas obras maiores na Embaixada brasileira, e havia incumbido um amigo a despachar esses trabalhos, em torno de 50, para o Brasil via porto de Marselha. Não se sabe o que aconteceu, mas essas obras se extraviaram, e nunca chegaram ao seu destino. Em 1946, Di Cavalcanti voltou a Paris para tentar reaver seus quadros desaparecidos.

 

O povo brasileiro – Tema favorito de Di Cavalcanti

 

A exposição “Di Cavalcanti – 125 anos de nascimento” reúne um conjunto de aproximadamente 40 obras raras e extraordinárias do artista pertencentes a coleções particulares de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. “Uma exposição que mostra Di Cavalcanti na sua integridade – o autor de algumas das mais belas obras da arte brasileira”, destaca Denise Mattar.

 

“Os trabalhos traçam um percurso de Di através de seu tema favorito, o povo brasileiro, proporcionando uma oportunidade única de ver algumas de suas obras-primas. Sua produção está inserida na história da arte brasileira, por mais de cinquenta anos, desdobrando-se em muitas facetas: ilustrador, desenhista, caricaturista, pintor e muralista. Seu trabalho não tem par entre os artistas plásticos do Primeiro Modernismo, sendo Di Cavalcanti o único deles a manter uma produção constante e expressiva até sua morte, em 1976”, explica a curadora. Entre as obras apresentadas na exposição estão a pintura a óleo “Serenata” (1925), de 85 x 120cm. “Um trabalho icônico que prenuncia partidos estéticos adotados pelo artista para a criação dos painéis decorativos do Teatro João Caetano”, diz. “A cena tem como pano de fundo uma marinha com barcos a vela, mas se reporta à musicalidade dos morros cariocas, onde o pandeiro e o violão homenageiam uma mulher, cujas formas femininas são destacadas através de uma volumetria com influência da estética art déco. Já está presente a representação de tipos e cenas cariocas que iriam definir toda sua produção posterior”. “Devaneio” (1927), óleo sobre tela, 99,5 x 156 cm, “…também explora o volume das formas através do contraste entre superfícies planas de limites bem definidos e zonas esfumaçadas de onde a cor surge gradativamente a partir do branco, criando relevos espaciais e corporais”. “O título da obra se reafirma pela postura pensativa e um tanto melancólica da figura principal, uma mulher negra, perdida em sonhos, retratada ao lado de um barraco – tempo em que os morros se tornaram o berço do samba”, observa Denise Mattar.

 

Essa descoberta dos tipos brasileiros é vista ainda na obra “Três moças” (c.1925), na qual Di reproduz três mulheres: uma loira, uma morena e uma negra – esta última destacada por sua beleza.

 

O inédito painel “Carnaval” (década de 1920), 126 x 157 cm, “…tem características que o situam na produção realizada entre os anos 1929 e 1931, quando a influência muralista toma ainda mais corpo na obra de Di”, comenta a curadora. “O parentesco com as obras desse momento é absoluto: pela volumetria, composição, características cromáticas e temáticas. O mural apresenta um grupo de homens vestidos como mulheres, preparando-se para o Carnaval. Não são figuras travestidas dentro do entendimento atual, pois os traços masculinos – pelos nas pernas e braços, bigodes e barbas – são evidentes e um tanto caricaturais. O grupo está reunido no alto de um morro, e, atrás das ondulações da paisagem, na linha do horizonte, está o mar. As cores são fortes e vibrantes, construídas em velaturas, criando profundidades e, acentuando a monumentalidade da cena. Di tem como proposta criar um muralismo inteiramente diverso do mexicano, que é marcadamente político, preferindo se debruçar sobre o aspecto humanista. Os sambas, morros, favelas e danças, que ele pinta são verdadeiros, quentes, amorosos e carnais – feitos de dentro. Sua obra tem, de fato, o cheiro, o sabor e a cor do Brasil”.

 

Bahia

 

Em 1936, o artista se autoexilou em Paris, realizando nesse mesmo ano uma exposição na Galerie Rive Gauche, de 17 de junho a 03 de julho, reunindo 20 obras. Entre elas estava “Bahia” (1935), agora apresentada pela primeira vez ao público brasileiro. No prefácio do catálogo da mostra em Paris o crítico francês Benjamin Crémieux assim descrevia a pintura: “E vejam esta árvore amputada, que não renuncia a florir e continua de pé, uma sentinela diante da branca “Bahia de todos os santos”: sua casca é gêmea da pele das mulheres adormecidas. Fraternidade e luta amorosa do homem e do vegetal: todo o Brasil”.

 

Di permaneceu em Paris de 1936 a 1940, e durante esse período “o lirismo e a sensualidade langorosa tomaram conta das suas telas”. “É o momento no qual pintou mulheres olímpicas, quase clássicas, com toques picassianos, aos quais adicionou uma sensualidade tropical, mestiça, calorosa e maliciosa. São representantes desse momento as excepcionais obras “Vênus” (1938) e “Três Mulheres” (1938), que integram a exposição”, explica Denise Mattar.

 

Di pintou mulheres negras, brancas, ricas e pobres; morenas, loiras e ruivas, num clima lírico e sensual, ao qual sempre acrescentava um perfume de melancolia. Esse tema, da vida inteira, pode ser visto na exposição em telas que vão da década de 1940 à década de 1970, permitindo ao visitante acompanhar o percurso pictórico do artista, suas pesquisas estéticas, opções construtivas e afinidades eletivas.

 

A exposição apresenta ainda “Fantoches da Meia Noite”, álbum realizado por Di Cavalcanti em 1921. O conjunto de 16 gravuras, acompanhado de texto do poeta Ribeiro Couto, foi editado por Monteiro Lobato num álbum extremamente moderno para a época e de grande impacto até hoje. O lançamento foi realizado com uma exposição, na livraria O Livro, em São Paulo, um ponto de encontro da elite pensante da época, com a qual Di já articulava a ideia da Semana de Arte Moderna de 22, na qual ele teve um protagonismo frequentemente subavaliado pelos estudiosos.

 

 

A Percepção Cinética na América Latina 

29/ago

 

 

A galeria Simões de Assis, Curitiba, PR, anuncia a “A Percepção Cinética na América Latina”, mostra que reúne, pela primeira vez, quatro dos principais expoentes da produção cinética e óptica: Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez, Antonio Asis e Abraham Palatnik.

 

Os quatro artistas têm muito em comum: suas raízes latinas, integram a mesma geração, e criaram arte abstrata de cunho concreto, mais precisamente arte cinética, que envolve luz e movimento, além de contar com a participação do espectador.

 

As primeiras obras de arte cinéticas desses artistas surgiram num período de forte modernização da América Latina, e o continente desempenhou papel fundamental nesse movimento, algo que só recentemente foi reconhecido pela história da arte, sempre eurocêntrica. A mostra, que conta com texto crítico de Pieter Tjabbes, apresenta trabalhos históricos de Palatnik, com dois Objetos Cinéticos da década de 1960, além de dois relevos em cartão e diversas peças da série “W”. Já Antonio Asis integra a exposição com suas icônicas grades, ou “Grilles”, trabalhos que realizou a partir de sua convivência com Jesús Rafael Soto. O argentino foi assistente do venezuelano quando ambos já estavam radicados em Paris. As obras Soto, por sua vez, fazem parte do vocabulário matérico do artista, com o uso do metal e da cor em interações que exploram o movimento real e percebido. Por fim, há três séries distintas – e amplamente conhecidas – de Cruz-Diez, exemplares notáveis das “Physichromies”, das “Colores Aditivas” e das “Cromointerferencias Espaciais”.

 

A obra cinética não quer apenas traduzir ou representar o movimento, busca realmente se movimentar. Algumas peças utilizam o deslocamento ótico, e a op art parece ser uma descrição adequada para todas as obras aqui reunidas: elas mostram um universo vibrante, com movimentos sutis e ritmos envolventes. Embora as obras sejam, na realidade, estáticas, nossa percepção é de um movimento real no caso de Soto, Cruz-Diez e Asis, e de um movimento temporariamente contido na obra de Palatnik.

 

Até 22 de Outubro.

 

Em cartaz no FAMA Museu

 

 

Sob a titulação “Desconstruções e Articulações Dinâmicas espaciais – Galáxias” a exposição de Marcos Amaro no FAMA Museu, Itu, São Paulo, SP, é apresentada e traz a assinatura do crítico de arte Fabio Magalhães em sua curadoria.

 

A palavra do curador

 

Em 2016, incentivado pelo artista Gilberto Salvador (1946), fui à cidade de Itu para conhecer a obra de Marcos Amaro (1984). Gilberto já me informara das qualidades do artista, do modo vigoroso de sua linguagem, do aproveitamento de sucata de aviões que depois de desmontadas as peças eram reaproveitadas para formar grandes esculturas. Ainda assim me surpreendi com o que vi.

 

Marcos Amaro instalou seu ateliê em dois imensos galpões industriais que pertenciam à Fábrica São Pedro, ambos com escala compatível com a dimensão de suas obras. Um dos espaços abrigava um denso conjunto de trabalhos já terminados e, assim, pude constatar que se tratava de um artista de grande força expressiva e de identidade pessoal. Nesse ano, como diretor cultural do MACS – Museu da Arte Contemporânea de Sorocaba – interessei-me em promover uma exposição individual do artista no museu. A exposição com o título de “Desconstruções e Articulações” também foi posteriormente exibida no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, e no MARGS – Museu de Arte de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

 

Hoje, além de artista, Marcos Amaro tornou-se um grande colecionador de artes plásticas e desde 2018 disponibilizou sua coleção à visitação pública. Para tanto, adquiriu todo o espaço da fábrica São Pedro (antiga fábrica têxtil) com 25 mil metros quadrados de área construída, e nela implantou um grande centro cultural que abriga o FAMA Museu.

 

Desconstruções e Articulações Dinâmicas espaciais – Galáxias

 

Quando nos defrontamos com uma nova poética, sempre procuramos estabelecer relações de linguagens para, desse modo, detectar com maior acuidade os aspectos daquela expressão em particular. Percebemos que Marcos Amaro incorporou elementos do dadaísmo em sua produção atual. Alguns exemplos me vêm à memória, entre eles, as colagens de Kurt Schwitters (1887-1948). Também, os readymade de Marcel Duchamp (1887-1968); as assemblages neodadaístas de Robert Rauschenberg (1925-2008), realizadas na década de 1960, com materiais considerados vulgares – trash, ou ainda, as esculturas com fragmentos de carrocerias de automóvel do escultor John Chamberlain (1927-2011). O espírito dadaísta tem forte presença na arte contemporânea e, sobretudo, na arte brasileira.

 

Marcos Amaro não trabalha apenas com sucata de aviões, apesar da aviação ter um forte significado na sua biografia e no seu imaginário. O artista incorpora também inúmeros outros objetos e materiais, todos eles vulgares (brutti, sporchi e cattivi), destituídos de prestígio social. Marcos procura coisas que foram descartadas, que foram afastadas do nosso convívio para revitalizá-las e reincorporá-las à sua obra, agregando a elas novos significados.

 

Marcos Amaro descontrói os objetos na forma e no significado para reinventá-los. Entretanto, os fragmentos incorporados e reordenados pelo artista, trazem consigo registros de seus significados anteriores, como, por exemplo, um pedaço de tecido, ou uma camisa, nos remetem aos personagens ocultos que as utilizou. Ou ainda, partes de uma porta de garagem, sugerem o passar do tempo (energias armazenadas) e vivências acumuladas. São, portanto, sinais de vida que ainda palpitam nos objetos descartados aparentemente sem nenhum valor. O artista, ao incorporá-los à sua obra, afere a eles um novo pulsar de vida e agrega expressiva e renovada força poética.

 

A presença desses vestígios (significados anteriores) não foi totalmente apagada pelo artista. Faz parte da sua linguagem manter, ainda que dissimulados, esses vínculos de experiências passadas, esses murmúrios do tempo. Os sinais de origem, atuam como memórias e, retrabalhados pelo artista, são testemunhos pulsantes e revigoram os conteúdos de seus trabalhos.

 

Ao preservar as vozes de tempos anteriores, o artista incorpora no seu trabalho uma sofisticada noção de tempo, da sua intensidade, da sua entropia. Discute ciclos de vida e sua escatologia (ideia de morte e ressurreição); questiona as crenças na tecnologia e no progresso contínuo.

 

Marcos Amaro desenvolve poéticas que articulam os opostos – desconstrução e construção – para ordenar é preciso desordenar. Não obstante, através de uma intervenção de lógica compositiva, que está presente em todos os seus trabalhos, o artista estabelece equilíbrio no aparente caos. Em algumas obras de parede, principalmente naquelas que utilizam chassis como suporte, encontramos princípios de ordem geométrica que são prevalentes. E, nesses trabalhos, não em outros, podemos estabelecer analogias com as linguagens contemporâneas de construção geométrica.

 

Vale ressaltar que a geometria, apesar de não ter protagonismo, está presente nas grandes esculturas de sucatas, de metal, de tecidos e materiais diversos. Nelas sentimos a presença de uma geometria disciplinadora que organiza e ordena o conjunto.

 

Marcos Amaro acrescenta em seus trabalhos dois elementos de grande força expressiva: a luz neon (cor) e as imagens gravadas em vídeos, de programas aleatórios de canais abertos de televisão. A luz de neon, no meu entender, é uma expressão de glamour, culturalmente vinculada à vida noturna, à sedução, mas também se refere aos sinais luminosos presentes no espaço urbano e em determinados códigos de navegação.

 

As imagens gravadas em vídeo trazem testemunhos e experiências de vida que acrescentam e aprofundam as narrativas das obras. Em alguns casos contrastam, noutros ajustam-se com os elementos de conteúdo materializados na plástica de Marcos Amaro.

 

Fabio Magalhães

 

Histórias Brasileiras

26/ago

 

 

As artistas Marcela Cantuária e Vivian Caccuri participam da exposição coletiva “Histórias Brasileiras”, no Museu de Arte de São Paulo, MASP, SP, entre  26 de agosto e de outubro, com curadoria de Adriano Pedrosa, Lilia M. Schwarcz, Amanda Carneiro, André Mesquita, Clarissa Diniz, Fernando Oliva, Glaucea Brito, Guilherme Giufrida, Isabella Rjeille, Sandra Benites e Tomás Toledo.

A mostra acontece em ocasião do Bicentenário da Independência do Brasil, apresentando trabalhos de diferentes mídias, suportes, tipologias, origens, regiões e períodos.

 

Novo representado pela Simões de Assis

25/ago

 

 

O artista visual Mano Penalva agora passa a ser representado pela Simões de Assis. Vive atualmente em São Paulo, onde mantém seu ateliê junto ao projeto Massapê, plataforma que idealizou para possibilitar o pensamento e produção de arte, exposições e ações em conjunto com outros artistas. A pesquisa de Penalva se alinha profundamente ao programa que a Simões de Assis vem desenvolvendo há quase 40 anos, cujo foco principal reside na cultura brasileira. Sua produção parte das mais diferentes manifestações populares do país para, por meio de procedimentos variados, deslocar e ressignificar fragmentos e objetos do cotidiano, muitas vezes reutilizados e apropriados. Sua linguagem transita pela abstração e pela figuração, tendo como linha-mestre o interesse pelas questões materiais que as obras de arte suscitam.

 

Sobre o artista

 

Mano Penalva transita por diversas linguagens, como instalações, esculturas, pinturas, vídeos e fotografias. Artista visual, formado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2008), frequentou cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 2005 e 2011. Em suas pesquisas, Penalva busca investigar a formação da cultura brasileira e suas manifestações variadas. Um dos procedimentos utilizados em seu trabalho é o deslocamento preciso e incomum de fragmentos e objetos do cotidiano, muitas vezes reutilizados e apropriados, refletindo seu interesse pela antropologia e cultura material. Seus trabalhos operam em diferentes meios, desde a forma cotidiana da construção urbana, passando pelo uso decorativo e prático dos objetos que refletem as realidades socioeconômicas e culturais do povo brasileiro, em suas complexidades, até instalações na natureza e ações performáticas. Para o artista, tudo pode ser fonte de pesquisa, tendo mercados, ruas e casas populares como seus objetos de estudo. Mas é no gesto – escultórico, apropriativo, da costura, da colagem, – que ele busca entender as nuances de separação e sobreposição entre arte e vida. No trabalho “Ode ao vento I” (2020), Penalva reflete sobre a força implacável da natureza, sua imprevisibilidade e como se dão as fronteiras. Na Praia do Pacífico, no México, Penalva içou uma bandeira que trazia as fronteiras internas entre os países latino-americanos, e que com o passar do tempo, os elementos compositivos iam se desvanecendo, apagando as fronteiras, ocasionando na dissolução dos estados e províncias metafóricas no branco. Outro trabalho relevante é “Litro por Kilo” (2019), em que pensou a permutabilidade de funções e valores que os objetos adquirem nos mercados populares e nas típicas chamadas de vendedores ambulantes como “três por dez, dois por cinco” em que revelam uma equivalência incerta. Nos últimos anos participou de diversas residências artísticas, como Casa Wabi, Puerto Escondido (2021); Fountainhead Residency, Miami (2020); LE26by, Felix Frachon Gallery, Bruxelas (2019) e AnnexB, Nova Iorque (2018). Dentre suas exposições individuais, destacam-se: “Hasta Tepito”, B[X] Gallery, Brooklyn (2018); “Requebra”, Frédéric de Goldschmidt Collection, Bruxelas (2018); e “Proyecto para Monumento”, Passaporte Cultural, Cidade do México (2017). Dentre as exposições coletivas integrou: “What I really want to tell you…”, MANA Contemporary, Chicago (2020); “Tropical Gardens”, Felix Frachon Gallery, Bruxelas (2019); Bienal das Artes, SESC DF, Brasília (2018); “Blockchain/Alternative barter: a new method of exchange?”, B[x] Gallery,  Brooklyn (2018); e “L’imaginaire de l’enfance”, Cité Internationale des Arts, Paris (2015). .

Parceria para exibir Zaluar

 

 

Em uma parceria inédita a galeria Arte132, Moema, São Paulo, SP, apresenta, no piso superior da galeria, a exposição individual “Abelardo Zaluar: Rigor e Emoção”, realizada junto à Danielian Galeria de Arte (Gávea, RJ). Em cartaz até 24 de setembro, e com curadoria de Denise Mattar, exibe “… a singularidade do artista, que abraçou o abstracionismo geométrico de forma muito particular, incorporando linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade”.

 

Abelardo Zaluar

 

Rigor e Emoção

 

Nessa exposição a Arte132 une-se à Danielian Galeria de Arte, sediada no Rio de Janeiro, para trazer ao público paulista um conjunto de obras do fluminense Abelardo Zaluar. Uma parceria que é especialmente auspiciosa para o circuito cultural pelo fato das duas galerias desenvolverem um trabalho que transcende o aspecto comercial, realizado através de ações institucionais apoiadas em séria pesquisa.

 

Apesar de sempre ter participado ativamente do circuito cultural, Zaluar nunca se filiou a nenhuma corrente, e abraçou o abstracionismo geométrico de uma forma tão particular que tornou sua obra única. Entre as singularidades de seu trabalho está a incorporação das linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade.

 

O conjunto de obras aqui apresentadas evidencia o processo criativo do artista e a hibridação de técnicas que marca sua trajetória, na qual ele utilizava, sem hierarquia, giz de cera, óleo, acrílica e colagem. Sempre manteve intacta a presença do grafite e do traço, como um lastro – mesmo em meio à progressiva irrupção da cor.

 

A originalidade da produção de Abelardo Zaluar é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o motivo do seu apagamento. Sem nenhum par, sua obra não se encaixa nas gavetas da crítica de arte até agora disponíveis – mas oferece ao espectador uma dupla fruição: uma mescla rara de rigor e emoção.

 

Denise Mattar

 

Sobre o artista

 

Pintor, desenhista, gravador e professor. Nasceu em Niterói – RJ, em 1924 e faleceu em 1987, em um acidente de carro. Entre 1944 e 1948, frequenta as aulas da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro. Na mesma década, cria, com outros colegas, a Escolinha de Arte do Brasil, tornando-se diretor-técnico da instituição carioca. Em 1959, conquista o primeiro lugar em desenho do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo. Em 1967, ganha prêmio aquisição no 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal e menção honrosa na 1ª Bienal Ibero-Americana de Pintura, na Cidade do México, em 1978. Participa de diversas mostras coletivas entre 1959 e 1987, como a Bienal Internacional de São Paulo, Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e o Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), Rio de Janeiro, do qual recebe prêmio de viagem ao exterior em 1963. Em 1975 e 1979 expõe em retrospectivas no MAM/SP e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR), respectivamente. No ano seguinte apresenta trabalhos em outra retrospectiva, desta vez no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Faz parte de comissões de seleção e premiação de salões, como o 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1984, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Nos anos 1980, recebe título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua obra figura, também, em acervos de instituições como o MNBA-RJ, MAM-SP, MAC-Niterói e MASP-SP.