Arte e atividades multidisciplinares

15/jun

 

 

Neste sábado, dia 18 de junho, das 13h às 18h, será inaugurada a “Mostra Vagalumes 21″, que ocupará três pavimentos do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, espaço inserido na exuberante Mata Atlântica, no alto da Gávea. A mostra une arte e atividades multidisciplinares de frequências sonoras de cura, meditação e arte educação. A entrada é gratuita!

 

Com curadoria do artista Sergio Mauricio Manon e da antropóloga Ana Amado, e produção do empresário e músico Pedro Borges, serão apresentadas obras de 12 artistas visuais brasileiros do século 21: Antônio Bokel, Bruno Vilela, Danielle Carcav, Ilan Kelson, Marcos Correa, Marcos Prado, Pedro Varela, Rodolpho Parigi, Rogério Reis, Sergio Mauricio Manon, Smael Vagner e Talita Hoffmann.

 

Lugar de beleza extraordinária, de história, cultura e arte, recebe em seus pavilhões recém-inaugurados uma mostra conectada com o espírito de nosso tempo, multidisciplinar.

 

Como parte da mostra, serão realizadas atividades multidisciplinares de meditação e arte educação. Mario Moura fará vibrar as frequências sonoras de cura; Nanda Jank ficará responsável pela coordenação das meditações guiadas; e Aline Froza, coordenará as visitas guiadas e oficinas de arte. “O objetivo é facilitar o acesso à arte contemporânea, criando condições para que um público diversificado viva experiências significativas ao se relacionar com as obras e participar das atividades multidisciplinares, expandindo seu conceito de arte e ampliando sua própria visão de mundo”, afirma Pedro Borges.

 

 

Carlito Carvalhosa, um tributo

 

 

O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta até o dia 10 de setembro a exposição “Linhas do Espaço Tempo: Carlito Carvalhosa” resultando em um verdadeiro tributo ao artista – e obra – através de um conjunto de expressivos trabalhos do consagrado multiartista contemporâneo. A curadoria traz a assinatura de Daniel Rangel.

 

Caminhos circulares

 

Linhas do Espaço Tempo reúne fragmentos cronológicos da trajetória artística de Carlito Carvalhosa. Pinturas, esculturas e instalações que remontam a mais de trinta e cinco anos de produção marcados por elaboradas conexões plásticas, históricas, mentais e sensitivas. A mostra é a primeira no Brasil desde que o artista nos deixou em maio de 2021, motivo central do enfoque retrospectivo e prospectivo. Estruturada por obras-símbolos de diferentes fases, a exposição abarca um recorte compacto, que demonstra a coerência da pesquisa do artista. Registros do seu processo de criação, de reflexões e de memórias marcantes de sua trajetória, além de uma inédita instalação site-specific com postes de madeira, desenhada em um de seus caderninhos para um espaço imaginado com características arquitetônicas similares às da galeria do Instituto Ling. Passado pensado para o futuro, realizado no presente. Pensar, refletir e observar por meio de traços, rabiscos, desenhos, anotações, escritos e achados – em sua maioria guardados em cadernos de bolso – era uma prática comum no dia a dia de Carlito. Um processo típico de pesquisador, mas que, no caso dele, estava conectado a uma personalidade efusivamente curiosa e naturalmente disciplinada. Era um sedento pelo conhecimento; aprendia e ensinava com a mesma generosidade, recorrendo à sensibilidade e à formação privilegiadas para estabelecer profundos intercâmbios com entornos díspares – uma prática que foi marcada por conscientes (des)conexões com a historicidade da arte, sobretudo relacionada a uma constante pesquisa de materiais e suportes. Carlito não seguia um caminho reto e linear; preferia o trânsito circular entre espaços e tempos, suportes e materiais, o branco e as cores, o erudito e o popular, ciências e religiões. Opostos atraíam o artista, que explorava com frequência relações entre transparência, opacidade e reflexividade, criando uma espécie de “trialética” que viria a caracterizar sua produção. Tudo junto e, ao mesmo tempo, separado; uma amálgama de elementos díspares que se encontravam por meio do gesto do artista, tornando o diálogo quase eterno, assim como sua obra, assim como ele.

 

Daniel Rangel

 

Curador

 

Sobre o artista

 

Carlito Carvalhosa, (1961 – 2021). A obra de Carlito Carvalhosa envolve predominantemente as linguagens da instalação, pintura e escultura. Nos anos 1980, integrou o Grupo Casa 7, em São Paulo, do qual faziam parte também Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro. As tendências do neoexpressionismo eram visíveis na produção desses artistas, sobretudo a utilização de superfícies de grandes dimensões e a ênfase no gesto pictórico. No fim dessa década, após a dissolução do grupo e alguns experimentos com encáustica, Carvalhosa concebeu quadros com cera pura ou misturada a pigmentos. Nos anos 1990, dedicou-se à produção de esculturas de aparência orgânica e maleável, utilizando materiais diversos, caso das “ceras perdidas”. Ainda em meados dessa década, fez também esculturas em porcelana. Carvalhosa atribui profunda eloquência à materialidade do suporte, mas a transcende e aborda questões mais amplas, relativas às transformações do espaço e do tempo. Deparamo-nos, em sua prática, com a tensão entre forma e matéria, explicitada na disjunção entre o visível e o tátil. Aquilo que vemos não é o que tocamos, assim como o que se toca não é o que se vê. A partir do início dos anos 2000, o artista começou a realizar pinturas sobre superfícies espelhadas que, nas palavras do curador Paulo Venâncio Filho, “colocam nossa presença dentro delas”. Não raro, Carvalhosa realizou instalações em que, além de técnicas usuais, faz uso de materiais como tecidos e lâmpadas.

 

Sobre o curador

 

Daniel Rangel é curador, produtor e gestor cultural. Mestre e Doutorando em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP, graduado em comunicação social em Salvador, Bahia. Atualmente é curador geral do Museu de Arte Moderna da Bahia. Foi diretor-artístico e curador do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) em São Paulo (2011-16), diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado (2008 a 2011) e atuou como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) na gestão de Solange Farkas (2007-08). Em curadoria, dentre os principais projetos realizados, destacam-se a mostra REVER_Augusto de Campos, (2016); Ready Made in Brasil (2017); Quiet in the Land (2000), uma parceria entre o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, o MAM-BA e o Projeto Axé, em Salvador. Desenvolveu projetos curatoriais para a 8ª Bienal de Curitiba, Brasil (2015), a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2013) e a II Trienal de Luanda, Angola (2010). Realizou ainda curadorias de mostras individuais de importantes artistas brasileiros, como Tunga, Waltercio Caldas, José Resende, Ana Maria Tavares, Carlito Carvalhosa, Eder Santos, Marcos Chaves, Marcelo Silveira, Rodrigo Braga, e Arnaldo Antunes, e com este último recebeu pela mostra “Palavra em Movimento” o prêmio APCA 2015, de Melhor Exposição de Artes Gráficas. É pesquisador associado do Fórum Permanente do IEA-USP.

 

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério do Turismo/Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens e Fitesa.

 

 

Nova mostra de Isabel Becker

14/jun

 

 

Encontra-se em exibição no Martha Pagy Escritório de Arte, Brasília, DF, a recente série de trabalhos da fotógrafa Isabel Becker. Inspirada no modernismo da arquitetura de Brasília, Isabel Becker inova nessas obras, dessa vez sem empregar o fugaz registro do momento do click instantâneo, que até hoje norteou seu trabalho, para se aventurar em fotografias estudadas, usando a luz e a sombra como tintas.

 

Partindo da luz mais dura, e suas sombras sobre as fachadas da capital, a artista recria desenhos dentro do desenho da obra monumental criada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Os brise-soleils e os cobogós, recursos de ventilação muito usados nessas fachadas, se transformam em ilusões de ótica, bem ao gosto do Optical Art dos anos 70. A influência dos azulejos de Athos Bulcão aparece no formato quadrado dos quadros. Os fragmentos arquitetônicos que protagonizam o trabalho de Isabel Becker foram mapeados com a contribuição da arquiteta candanga Graziela Pires. Foram locais cuidadosamente escolhidos de maneira a transmitir o máximo da força e dos conceitos da arquitetura local. Com curadoria de Christiane Laclau da Artmotiv essa exposição marca um novo momento de Isabel Becker.

 

Sobre o espaço

 

Martha Pagy Escritório de Arte representa e agencia artistas de gerações e linguagens diversas, acompanhando o desenvolvimento de suas carreiras e produção para a inserção de seus trabalhos no mercado da arte contemporânea. Com a proposta de criar um espaço que permita ao espectador um contato mais exclusivo e intimista com a arte, Martha Pagy trouxe a galeria para sua casa, em 2013, apresentando as obras num ambiente e cenário propícios à fruição e à reflexão, e incentivando o colecionismo. De 2007 a 2012 dirigiu a galeria Largo das Artes, Centro Histórico do Rio, onde realizou exposições de arte contemporânea com nomes do Brasil e do exterior, e promoveu o lançamento de jovens talentos na cena artística brasileira. Foi uma das responsáveis pela formulação do perfil de atuação do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, na função de diretora de programação e patrimônio, desde sua inauguração, em 1989, até 2003.

 

Até 23 de agosto.

 

 

MAC Paraná, Clube de Colecionadores do museu

 

 

O Museu de Arte Contemporânea do Paraná exibe até 31 de julho a exposição “Insólitos”. Com a curadoria de Pollyanna Quintella, a exposição, aborda o incomum, o anormal, o que não é habitual, o infrequente e o raro na visão de cinco artistas convidados: Daniel Acosta, Mano Penalva, Maya Weishof, Tony Camargo e Washington Silvera e outros artistas importantes do acervo do MAC Paraná. Junto aos cinco artistas convidados, encontram-se em exposição importantes obras históricas de António Manuel, Cybele Varela, Henrique Fuhro, Pietrina Checcacci, Vera Chaves Barcellos, Solange Escosteguy e Ubi Bava, produzidas nos anos 1960 e 1970 e que fazem parte do acervo do MAC Paraná. Artes que trazem produções revolucionárias e um grande papel de experimentação no campo artístico em uma época de luta sociopolítica.
O MAC está funcionando atualmente nas salas 8 e 9 no Museu Oscar Niemeyer. “Insólitos” fica em exibição até 31 de julho.

 

Clube de Colecionadores

 

Além de dar continuidade ao projeto de remixar obras do acervo do MAC Paraná com artistas convidados, “Insólitos” traz em si uma potente novidade: os artistas convidados nesta exposição inauguram o Clube de Colecionadores do MAC Paraná, que visa incentivar o colecionismo de arte contemporânea e a arrecadação de fundos para novas aquisições de obras que serão, futuramente, incorporadas ao acervo da instituição. Essa é a primeira ação da Associação de Amigos do MAC (AAMAC), uma organização sem fins lucrativos criada exclusivamente para arrecadar fundos para a preservação do acervo do MAC Paraná.

Historicamente, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná é um espaço de fomento e preservação da arte produzida no Brasil desde a década de 1940. Para Ana Rocha, diretora do museu, “o Clube de Colecionadores reforça ainda mais profundamente essa vocação do museu e fortalece a preservação da memória artística contemporânea que é salvaguardada aqui”.

 

Sobre as obras

 

As obras evidenciam uma visão de outro ponto de vista, a tradução do invisível, a interpretação fora do padrão e da obviedade daquilo que a imagem e um objeto representam. O artista baiano Mano Penalva utiliza a dualidade de significados por meio de obras feitas em materiais e utensílios presentes nos mercados populares, nos afazeres domésticos e na vida cotidiana. Entre elas, a intitulada “Namoradeira,Tramas”, exemplifica esse olhar além do óbvio. “As duas cadeiras unidas por uma única faixa de nylon representam o encontro dos corpos frente a frente”, explica ele. A visão do oposto também é traduzida pelo artista Washington Silvera, que exibe nas esculturas a linguagem surrealista e a poética hercúlea. Em sua obra “Luva e Espelho”, ele revela o reflexo, a dualidade entre o leve e o pesado da luva e a direita e a esquerda das mãos. Já a artista curitibana Maya Weishof, com o fascínio por imagens antigas, traz em suas pinturas a adaptação para a atualidade com traçados coloridos, delirantes, deformados e inusitados. Em “Noite Estrelada”, a artista debruça-se sobre a releitura do corpo da mulher, e relata que traz “erotismo e humor para uma imagem a princípio asséptica”. Nas “Fotoplanopinturas” do artista paranaense Tony Camargo, há a captura através de luz e movimento, a marcação de um momento performático por meio da fotografia e sua passagem para o suporte tridimensional. Para ele, busca nesses trabalhos “reencarnar” vistas. “Talvez o sentido desses objetos, como arte, está na vontade de recombinar compactando imagens ou lugares narrativos”, explica. O escultor gaúcho Daniel Acosta também visa dinamismo. Na mistura de arquitetura e design, trabalha com cores vibrantes, inspirado na arte oriental e traçando linhas em objetos. Segundo ele, “…nos trabalhos a sobreposição dos elementos ornamentais sintéticos, que cruzam da direita para a esquerda e vice-versa, criam um dinamismo por contraposição”.

 

Registros inéditos

10/jun

 

A Fundação  Camargo, Porto Alegre, RS, disponibilizou, no Google Arts & Culture, um conjunto de imagens inéditas do pintor, registradas pela fotógrafa Cristine do Bem e Canto no início da década de 1990. São 35 fotografias do artista em seu processo criativo no ateliê da casa em que morou até o fim da vida, no bairro Nonoai, em Porto Alegre, e que integram o projeto da fotógrafa, contemplado pelo XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia.

Virgínia Gil Araujo, professora Adjunta do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo, foi convidada para escrever um texto especialmente para este recorte. “Iberê Camargo pintando e Cristine de Bem e Canto fotografando. Dois corpos juntos em plena atividade, animados e sensibilizados pela possibilidade da invenção. Cristine guardou durante 30 anos mais de 400 negativos das sessões fotográficas realizadas no ateliê de Iberê e agora disponibiliza fragmentos dessa experiência inédita, no seu projeto contemplado pelo XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. […] O corpo de Iberê Camargo como lugar resiste no ato de pintar mantendo um modo de vida que permite um outro tipo de subjetivação, potencializa o sujeito e o indivíduo enquanto ser no mundo. O ato fotográfico de Cristine de Bem e Canto enfraquece as forças conservadoras através de um caminho sutil e discreto, sem criar ameaças fáceis às formas de imobilidade ainda persistentes na fotografia. Temos nessa vivência comum o ideal de peso dramático junto à leveza lírica”, destaca Virgínia Gil Araujo.

Ainda no texto, ela descreve o primeiro encontro de Iberê Camargo e Cristine de Bem e Canto, que veio “timidamente” por meio de um bilhete escrito à mão: “…a fotógrafa deixou um bilhete nas mãos do artista manifestando a vontade de fotografá-lo pintando. Após alguns dias Iberê telefonou para combinarem esse trabalho em parceria. Durante a primeira sessão podemos perceber as fotografias como imagens-sequência, em que a fotógrafa persegue a ação do artista de modo quase cinematográfico. Essa obsessão pelo movimento é relatada por Cristine: “Passados 30 anos o que mais tenho presente é a vivência de ser afetada pelo movimento daquele corpo que atingiu, diretamente, minha força e minha alma’”. O movimento a que Cristine de Bem e Canto se refere originou, ainda, um documentário fotográfico, realizado com as imagens produzidas por ela. Apresentar as imagens fotográficas em sequência, editadas em vídeo, possibilitou colocar o corpo de Iberê em movimento e tornar visível seu processo de criação.

O Google Arts & Culture disponibiliza mais de dois mil museus ao seu alcance, uma porta para explorar a cultura em toda a sua diversidade e histórias sobre o patrimônio cultural, desde as pinturas dos quartos de Van Gogh, a cela de Mandela aos templos antigos, dinossauros, ferrovias indianas ou comida no Japão. No Brasil, apenas o Projeto Portinari possui um volume tão expressivo de obras publicadas na plataforma. No Rio Grande do Sul, a Fundação Iberê Camargo é a única instituição que integra o projeto de alcance global.

Novas formas geométricas de Michelle Rosset

 

A BELIZARIO Galeria, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe até 09 de julho a mostra “A Extensão do Hiato”, da artista plástica Michelle Rosset onde são exibidas séries de trabalhos inéditos criados durante o período da pandemia que abrangem suportes e técnicas diversas como colagens, fotografias e esculturas onde, “através da manipulação e dos movimentos destes materiais, observo as novas formas geométricas e trabalho nas possibilidades e arranjos possíveis entre elas”, explica a artista. O texto crítico é de Shannon Botelho e a curadoria de Orlando Lemos.

Durante o período de afastamento social a que todos foram submetidos, a artista começou a observar, com mais atenção, os objetos de sua casa e as novas formas que surgiam no espaço quando tocadas pelos raios de sol; as sombras projetadas nos espaços se transmutam em contornos estéticos oferecendo novas formas artísticas que possibilitavam novos significados. Mente inquieta, a artista começa a questionar as distâncias e o próprio espaço ação que vem a servir como base para o título da mostra – “A Extensão do Hiato” – já que, aos olhos de Michelle Rosset, “extensão” pode se referir à distância entre as pessoas enquanto “hiato” sugere separação. Isolada em seu processo de criação, a artista busca compreender fatores como o tempo, o lugar e as distâncias, criando pontes entre o local de confinamento, o lar feminino e o universo fragilizado; integrando o lar feminino ao mundo masculino através da utilização da trena de madeira, objeto característico do mundo masculino da construção civil. “Com um ponto de partida de apenas um objeto, procuro transformar através da dobra e do corte as múltiplas possibilidades de visualização”, diz a artista. O resultado da pesquisa gera obras com uma forte relação entre geometria e cor, onde a forma triangular dos reflexos da luz solar decompõe a luz branca em um espectro de cores.

Nas palavras de Shannon Botelho, “…a cor, como estrutura e instância do tempo, tornou-se a própria coesão da poética formulada por Michelle. Mas como falar da pujança das cores e não situar a sua função estrutural nas formas geométricas? Pois, há algo despontando na pesquisa da artista, que é a noção construtiva da cor que formula engates e áreas de jogo, onde as experiências visuais tecem seu sentido não narrativo, mas puramente abstrato”. Michelle Rosset faz com que o público busque por novas formas de comunicação onde o “falar” não seja necessariamente a principal. Através dos grafismos, a artista desconstrói as cifras de comunicação para redefinir um novo formato de fala! “A Extensão do Hiato” é, portanto, a face palpável de uma duração que se configura como resultado da experiência de Michelle Rosset, seu embate com a percepção do tempo – e do espaço – no ato criador”.  afirma Shannon Botelho.

Nova exposição de Tatiana Blass

 

A Galeria Milan, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe de 11 de junho a 08 de julho trabalhos recentes de Tatiana Blass sob curadoria de Camila Bechelany.

Há um movimento dúbio de apagamento e revelação, de construção e desconstrução, de intervalo e continuidade na atual produção da artista Tatiana Blass que leva o espectador a duvidar do que realmente se passa diante de si mesmo. A reflexão da curadora e crítica Camila Bechelany sintetiza a nova exposição de Blass.

Em O fim continua (2022), nova instalação construída pela artista para o espaço da galeria, uma mangueira de ferro que se encontra no interior da Galeria Millan goteja água que, então, escorre pelo piso até o andar inferior da construção, atravessando a arquitetura e marcando o espaço com um rastro de ferrugem.

“O encontro com a obra de Tatiana Blass nos leva a um lugar de risco, onde a certeza nos escapa. Em uma perspectiva ampla, o trabalho mais recente da artista parece querer lidar com uma leitura e uma reflexão recorrentes a respeito do tempo, criando materialidades para um elemento ocultado, que aparece tanto em suas pinturas quanto nas obras tridimensionais”, escreve Bechelany no texto que acompanha a exposição.

A partir de um procedimento similar ao da instalação, Blass realizou um conjunto de esculturas intituladas Reviravolta (2022), criadas com mangueiras de borracha e de ferro entrelaçadas em formato de uma fita de Möbius. Trata-se de uma investigação sobre o espaço topológico infinito que atravessa a história da arte no Brasil desde a segunda metade do século XX. É uma alegoria da continuidade do fim que não diz respeito ao término, aniquilação ou encerramento, mas sim da reconfiguração formal e material de modos de existência no espaço e no tempo. Continuidade e fim, maleabilidade e rigidez, forma e conteúdo, são contrastes dissolvidos e espelhados em toda a exposição.

“A produção de Tatiana Blass é marcada pela prática constante da pintura e por um experimentalismo em torno da matéria. Seja a obra uma escultura, um objeto, uma instalação ou um vídeo, ela é sempre atravessada pela problematização pictórica – que evidencia questões de volume, enquadramento e encaixe – e pela presença da linha na composição”, pontua Bechelany.

Além das esculturas centrais, a exposição traz o que Blass descreve como  “três esculturas em ação” – obras feitas em cera e contendo elementos condutores de calor que paulatinamente deformam a figura esculpida – e três conjuntos inéditos de pintura: a série Os sentados (2022) e Os de pé (2022), inspiradas em fotografias de cenas de teatro; a série de pinturas Bagunça (2022); bem como Pintura que derrete (2022), realizadas com tinta e cera sobre metal que se desfaz lentamente a partir de um mecanismo de condução de calor ativado pela presença do espectador.

No decorrer do período expositivo, a Galeria vai lançar uma brochura com fotografias e poemas inéditos realizados pela artista durante os últimos dois anos. É uma publicação que reverbera as pesquisas poéticas de Tatiana Blass em torno do esgarçamento da linguagem visual e simbólica, e da continuidade do fim como produtor de modos de existência no espaço e no tempo. Como afirma a artista em trecho de O fim continua,  um dos poemas que compõem a publicação, “Nada se acaba, só muda de superfície”. Além da brochura, a Galeria Millan também vai lançar um catálogo da exposição com texto curatorial assinado por Camila Bechelany.

Nova exibição na Gomide&Co.

 

A exposição de obras de Niobe Xandó & Ernesto Neto entra em cartaz na Gomide&Co., Jardim Paulista, São Paulo, SP. Ernesto Neto comparece na abertura para uma conversa informal.

Sobre a exposição

“As composições de Neto e Xandó talvez se cruzem no lusco-fusco da floresta que os instiga: no caso de Neto, ora as formas da selva pendem em gotas tão leves e permeáveis quanto robustas e repletas de ingredientes simbólicos e ancestrais, conciliando queda e suspensão, duração e fragilidade; ora, sob a forma de utensílios inúteis, enfrentam o furor do tempo da produtividade e nos convidam ao repouso. No caso de Niobe, que afirmou que “a violência do mundo” lhe parece “um desafio”, as formas se apresentam como vultos inconstantes, desordenados, tão florais quanto carnívoros: flores híbridas que se consomem, se desafiam, se rebelam – confundem-se, enfim, no êxtase secreto da noite fecunda e caudalosa da mata”, comenta Julia de Souza para o ensaio crítico que acompanha a mostra.

Visitação até 30 de julho.

Esculturas e objetos de Rafael Bqueer

08/jun

 

Conhecida por trabalhos de performances, fotos e vídeos, a artista Rafael Bqueer criou, pela primeira vez, esculturas e objetos tridimensionais, que serão apresentados a partir do dia 11 de junho e até 17 de julho, na exposição “Boca que tudo come”, na C. Galeria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Paulete Lindacelva, serão apresentadas dez obras inéditas, criadas este ano, inspiradas no carnaval, mas que também se desdobram em temas que a artista já vinha trabalhando, como o universo Drag Themonia e a luta por questões raciais e de gênero. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com a artista e a curadora.

“Meu trabalho percorre o universo das escolas de samba e da cultura drag. Estes novos trabalhos trazem esse universo da fantasia, dos adereços, da maquiagem. É como se eu tivesse tirado esses elementos do corpo, dando a eles uma nova forma”, diz Bqueer. “Sinto este trabalho como uma prática de desuniformizar, de criar também uma trama de propósitos, de refazer os tecidos da linguagem com nós”, acrescenta a curadora.

As obras são compostas por paetês, pedrarias e tecidos diversos, elementos que fizeram parte do carnaval de 2020 e foram doados pela escola de samba Grande Rio para a artista. “As alegorias exuberantes dos barracões são transportadas para a galeria como alegorias da própria língua e confirmam sua presença no trabalho como algo vasto de muita suntuosidade e de potencial transformador do material”, ressalta a curadora Paulete Lindacelva.

Muito ligada ao carnaval, Bqueer foi destaque da escola campeã deste ano, cujo tema foi Exu, que também inspirou a artista na criação das novas obras. “O desfile da Grande Rio deste ano foi uma das principais referências para a criação de vários trabalhos e também do título da exposição, em referência a Exu. Mastigar os universos e vomitar um novo projeto”, conta a artista, que começou sua história com o carnaval em Belém, onde trabalhou em diversos desfiles, incluindo o da Império de Samba Quem São Eles, uma das maiores agremiações paraenses, além de ter trabalhado em diversas escolas cariocas dos grupos D, B e A.

“É a gênese e uma boca com fome que não se sacia. Pela boca de Exu tudo passa. A fome de Exu não cessa, pois é pela sua boca que tudo acontece, conflui, compartilha. Na boca de Exu se instaura o mistério de todo acontecimento vivo. Engole para devolver de maneira ambívia! O que ultrapassa a ideia de antropofagia, pois é muito mais antigo e é na diferença que o mistério acontece”, ressalta a curadora.

Os trabalhos também abordam a questão do racismo, trazendo suas experiências com os desfiles das escolas de samba, arte drag e a cultura de massa das periferias para questionar os símbolos eurocêntricos de poder, bem como a ausência de narrativas afro-brasileiras e LGBTQIA+ na arte-educação e em instituições de arte. Paralelamente a seu trabalho como artista visual, Bqueer tem um trabalho como drag queen e é uma das fundadoras do coletivo paraense Themônias. O grupo, formado em 2014, reflete, já no nome, a estética distante do padrão das drags luxuosas e subverte o fato dos corpos LGBTQIA+ terem sido historicamente demonizados. “Isso tudo também está presente nesses novos trabalhos, a estética da monstruosidade, do exagero, do brega”, ressalta Rafael Bqueer, que foi selecionada pela Bolsa ZUM 2020, do Instituto Moreira Salles, com uma série de quatro curtas-metragens do projeto Themônias, que tratam da cena drag-themônia amazônica.

Sobre a artista

Rafael Bqueer nasceu em Belém, Pará, 1992. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo, tem formação em Artes Visuais pela UFPA. Trabalha com múltiplas plataformas, como fotografia, vídeo e performance. Em seu trabalho, investiga o impacto do colonialismo e da globalização por meio de ícones da cultura de massa recontextualizando as complexidades sociais, raciais e políticas do Brasil. Participou de exposições nacionais e internacionais, destacando: “Against, Again: Art Under Attack in Brazil”, Nova York (2020), e a individual “UóHol”, no Museu de Arte do Rio (2020). Artista premiada na 8º Edição da Bolsa de fotografia da Revista ZUM – Instituto Moreira Salles (2020) e na 7º edição do Prêmio FOCO Art Rio (2019).  Participou da 6º edição do Prêmio EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtake (2018) e da 30ª edição do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo-CCSP (2020). Atualmente, além da exposição individual “Boca que tudo come”, na C. Galeria, a artista também participa das exposições coletivas “Crônicas Cariocas” e “Enciclopédia Negra”, no Museu de Arte do Rio (MAR), “Zil, Zil, Zil”, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (RJ) e “Misturas”, no Galpão Bela Maré (RJ). Suas obras fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e Museu do Estado do Pará (MEP).

Sobre a Galeria

A C. Galeria é uma galeria de arte contemporânea que, através de novas ideias e formatos, contribui para uma nova forma de fazer e pensar o colecionismo da arte. Dirigida por Camila Tomé, a galeria surgiu em 2016 e está localizada no Jardim Botânico onde desde então apresenta um programa que auxilia e desenvolve nacional e internacionalmente a carreira de seus artistas representados. A C. Galeria propõe projetos plurais de arte contemporânea e abre espaço para discussões sobre ativismo, arte e vida sendo representante dos artistas Bruno Weilemann, Diego de Santos, Eloá Carvalho, Emerson Uýra, Laura Villarosa, Marcos Duarte, Maria Macedo, Paul Setúbal, Piti Tomé, Rafael Bqueer, Ruan D`Ornellas e Vítor Mizael.

O Prêmio FOCO está de volta!

07/jun

 

 

Lançado em 2013 com o objetivo de descobrir, fomentar e difundir a produção de artistas visuais emergentes com até 15 anos de carreira, o Prêmio FOCO selecionou ao longo de suas 7 edições talentos para participarem de residências artísticas em importantes instituições do Brasil ou exterior. Os premiados ainda integraram, a cada ano, uma mostra conjunta em um estande especial, durante a ArtRio.

 

Em 2022 o Prêmio FOCO retorna e com uma importante novidade: agora, contando com a apresentação do Instituto Cultural Vale, pela primeira vez serão selecionados 6 artistas em uma mesma edição. Cada um será premiado com a participação no estande do prêmio durante a ArtRio 2022 e com uma residência em uma das seguintes instituições parceiras: Despina (Rio de Janeiro, RJ), JA.CA (Belo Horizonte, MG), Chão Slz (São Luiz, MA), Terra Afefé (Ibicoara, BA – Chapada Diamantina), Irê – arte, praia e pesquisa (Salvador, BA) e Instituto Das Pretas (Vitória, ES).

 

As inscrições ficam abertas do dia 13 de junho a 13 de julho. Os selecionados serão anunciados ao público durante o preview da ArtRio 2022, dia 14 de setembro.

 

O curador e crítico de arte, Bernardo Mosqueira, foi o diretor do Prêmio FOCO – entre os anos de 2013 e 2019. Edital e link para a inscrição gratuita na 8ª edição do prêmio estarão disponíveis nessa a partir do dia 13 de junho de 2022. Poderão se inscrever artistas residentes no Brasil com até 15 anos de carreira.

 

Para mais informações, entre em contato pelo e-mail: premiofoco@artrio.com