Sobre a água e seus diferentes biomas.

24/out

O Museu de Arte do Paço – MAPA apresenta a exposição “SOBRE ÁGUAS”, da artista Vera Reichert, cujas obras convidam o público à contemplação e à reflexão sobre a relação entre a água e seus diferentes biomas. Praticante de mergulho submarino, a artista revela a sua habilidade em capturar a essência dessa substância vital em suas mais diversas formas, inspirando-se em suas vivências no fundo do mar para nos alertar sobre a necessidade de preservação dos recursos hídricos e de se combater a poluição das águas.

Lançamento do catálogo da exposição “SOBRE ÁGUAS” de Vera Reichert

Curadoria de André Venzon

Dia 25 de outubro, às 10h

 

Costurar sentidos.

Agradeço a vida que teço enquanto o tempo a desfia.

Bianca Ramoneda(1), “Cadernos de costuras”

Bordado, tecido, pintura, colagem e poesia se misturam em Costurar Sentidos, exposição coletiva apresentada no segundo andar da Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, que reúne obras têxteis e derivações de costura como ponto central de produção. A seleção, inicialmente baseada na escolha da técnica, uma vez definida, apontou novos pontos de convergência. São trabalhos permeados por motivos relacionados a construção e a afirmação de identidade, ao resgate e a reverência às memórias afetivas e a ressignificação de sentidos. Falam de questões sociais e temas sensíveis aos autores, ao mesmo tempo em que expressam as suas origens e o caminho percorrido ao longo da sua jornada pessoal e artística. Peças de roupa e pedaços de tecido são matéria-prima tal qual tinta para pintura na criação de Arthur Chaves. A convivência do artista com o universo da costura iniciou-se na infância. Quando criança, ele observava a mãe trabalhando na máquina de costura num quartinho em casa, repleto de roupas e tecidos armazenados. O interesse pela arte têxtil primeiro o levou a estudar design de moda, área em que atuou por um período, antes de migrar para as artes visuais. Hoje, desenvolve colagens têxteis, composições abstratas e grandes instalações. Dani Cavalier combina a linguagem da tecelagem com a da pintura nas suas pinturas sólidas, aproximando o dito universo popular da artesania com a erudição atribuída às belas artes. A artista trabalha com a concretude da matéria e desenvolve obras abstratas, compostas de pedaços de lycra tensionados sobre a estrutura de madeira do chassi. Como num código aberto ou numa partitura musical, a pintura sólida revela o seu processo de feitura: cada passo, cada escolha da trama pode ser lida. O que suscita perguntas sobre o próprio processo de criação, a escolha dos tecidos, a transformação deles em matéria-prima para a composição artística, os caminhos trançados e o tempo de produção. Dani Cavalier estuda diferentes técnicas de artesania brasileira, as quais opera dentro do trabalho. O compartilhamento de saberes, típico do artesanato popular, está ali incorporado e reverenciado. Textile, obra de Duda Moraes, incorpora o encontro de culturas Brasil e França que hoje convivem dentro da artista. Radicada em Bordeaux há oito anos e internacionalmente conhecida por suas pinturas multicoloridas, com fortes referências a luz e a natureza tropical exuberante do Rio de Janeiro, Duda encontrou nos tecidos a ponte de conexão que aproximou o seu processo de criativo do seu atual habitat. A série de trabalhos “Textile” é desenvolvida com materiais de descarte de lojas locais de estofamento. Tecidos nobres como o veludo e a seda, em tons mais invernosos, dão o toque francês aos seus jardins têxteis. Pensando em perspectivas de representação, Jeane Terra desenvolveu uma série de autorretratos. A artista traça um paralelo com o mundo contemporâneo tomado pelas selfies, onde cada vez mais o indivíduo celebra a autoimagem, moldando-a aos diferentes contextos. Presente na mostra está o seu autorretrato em “peles de tinta” costuradas, uma indagação à sua própria identidade e, também, uma investigação sobre os vestígios de seus ancestrais. Para Jeane somos todos uma amalgama das influências e das experiências vividas. Inevitável a alusão a ideia de colcha de retalhos. As diferentes cores da composição representam memórias fragmentadas que se misturam em suas nuances. Há na pintura seca uma cor mãe, uma cor condutora que está presente em todas as outras, chamada pela artista de cor matriz ou cor de condução. Cor que se transforma quando associada a outras, mas que ainda carrega os seus componentes de origem. Em Lagoa-mãe vemos uma reprodução em bordado do perfil da Lagoa Rodrigo de Freitas como era, possivelmente, no final do século XVIII ou XIX. A imagem de origem, garimpada na internet, não deixa ver muitos detalhes. A lagoa hoje é ainda maior, não sofreu aterros e os rios que nela deságuam não estão canalizados ou encobertos. Renato Bezerra de Mello, autor da obra e nascido em Pernambuco, alimenta especial apreço por esse lugar e por sua paisagem, que é para ele, desde a chegada ao Rio de Janeiro, ponto de equilíbrio. No container, localizado no terraço da galeria, apresentamos um vídeo de Rosana Palazyan, que tem como base a obra Rosa Daninha? – um livro objeto em tecido bordado, produzido pela artista, que cabe na palma da mão. Ao subverter a escala diminuta e acrescentar poeticamente elementos inesperados, o vídeo se transforma em obra autônoma. Assim como em outros trabalhos da artista do mesmo período, a obra amplia a reflexão sobre definições e rótulos que transformam seres humanos em daninhas, ao traçar um paralelo entre definições encontradas em livros de agronomia e frases usualmente relacionadas a pessoas que se encontram em situação de exclusão social. O gesto de folhear as páginas do livro real aparece no vídeo como uma passagem de tempo: Ora a Rosa surge linda e vencedora, e como num flashback, passo a passo, nasce e cresce no meio de plantas consideradas daninhas, como a Azedinha. Ora a Azedinha é quem aparece sozinha, como tivesse eliminado a Rosa. E finalmente, em imagens produzidas apenas para o vídeo, as duas convivem até que o vídeo (em loop) reinicie. Dentro desta poética, a artista apresenta ao espectador uma narrativa sem verdades ou repostas absolutas. Poemas em varal, assim a artista visual e performer Yolanda Freyre descreve a sua mais recente série de trabalhos em cambraia, que versam sobre existência e finitude, memórias e sentimentos. Sobre os tecidos, com tamanhos e rendas variadas, Yolanda transcreve poemas nascidos em diferentes momentos, muitos deles recitados em sonhos. Os versos são escritos como pintura, em tinta aquarela, e sugerem pela cor a expressão dos sentimentos “estendidos”, que ganham ainda um delicado alinhavo, em linha de bordar, superposto à aquarela. Ave em arribação é o título de um dos poemas apresentados e se refere ao atual momento de vida da artista, segunda ela o seu terceiro ato: Ave que está preste a levantar seu voo definitivo.

Cecília Fortes, Curadora

(1) Caderno de costuras / Bianca Ramoneda. Rio de Janeiro: Mapa Lab, 2022.

 

Sentidos compartilhados.

A Flexa, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, exibe até 22 de novembro, “Tudo entoa: sentidos compartilhados entre humanos e não-humanos”, exposição que reúne os trabalhos de quatro dos nomes mais significativos da arte indígena amazônica contemporânea e que estiveram, recentemente, presentes nas últimas Bienais de Veneza: Jaider Esbell (Macuxi; Roraima, 1979 – São Paulo, 2021), Santiago Yahuarcani (Uitoto; Pucaurquillo, Peru, 1960), Rember Yahuacani (Uitoto; Pebas, Peru, 1985) e Sheroanawe Hakihiiwe (Yanomami; Alto Orinoco, Venezuela, 1971). A mostra é acompanhada de texto crítico assinado pelo curador peruano Miguel A. López. 

Com conhecimentos adquiridos de forma empírica, Jaider, Santiago, Rember e Sheronawe não possuem formação artística ou acadêmica tradicional. Suas habilidades foram adquiridas por meio da observação e de um relacionamento profundo com a natureza, suas famílias e comunidades. É importante dizer que esses artistas fazem parte de uma “constelação criativa”, como nas palavras de Miguel A. López, que tem transformado, nas últimas três décadas, o que se entende por arte contemporânea. A arte, para os povos indígenas, é também uma ferramenta de preservação, de suas histórias e seus saberes. As obras presentes nessa exposição reafirmam as continuidades entre os humanos, animais, plantas, territórios e mundos espirituais, fazendo eco aos apelos pelo respeito a todas as formas de existência e buscando o freio para a exploração voraz dos recursos naturais. 

O trabalho de Sheroanawe Hakihiiwe consiste em um repertório visual delicado, que se vale da repetição rítmica de motivos em papel artesanal ou tela, fazendo menção às formas de sementes, frutas, insetos, folhas e galhos. Santiago Yahuarcani recorre a narrativas míticas indígenas em suas pinturas, trazendo personagens típicos dessas histórias, como guardiões e criaturas animais híbridas. Já Rember Yahuarcani, seu filho, cria paisagens de grande escala que exploram sonhos abstratos, imaginando um futuro indígena através de formas e cores vibrantes. As pinturas de Jaider Esbell, de iconografia complexa e meticulosa, são homenagens a cada pequeno elemento (animais, plantas, seres humanos e espirituais) capaz de nos conectar com a espiritualidade. 

Segundo Miguel A. López, o repertório dos quatro artistas traz luz a mundos visíveis e invisíveis, que persistem para além das tentativas de apagamento. Para o curador peruano, essas obras são frequentemente associadas ao colapso ecológico contemporâneo, mas a interpretação pode ir além e nos fazer um convite a olhar para o passado: a lógica de apagamento existe desde que os recursos experimentados pelas comunidades indígenas foram desapropriados. Reunir trabalhos de Jaider Esbell, Santiago Yahuarcani, Rember Yahuacani e Sheroanawe Hakihiiwe é, por fim, segundo Miguel A. López, uma possibilidade de “sentir representações mais complexas e ampliadas da vida, que ultrapassam o excepcionalismo humano. Não são imagens simples, nem imediatamente legíveis: exigem muita atenção, imaginação e, acima de tudo, disposição para ouvir o território a partir de outros canais sensíveis.”

Sobre o curador.

Miguel A. López é escritor e curador-chefe do Museo Universitario del Chopo, na Cidade do México. Anteriormente, foi curador-chefe e codiretor do TEOR/éTica, na Costa Rica. Suas exposições recentes incluem duas grandes retrospectivas de Cecilia Vicuña: Seehearing the Enlightened Failure no Kunstinstituut Melly em Roterdã, que viajou para a Cidade do México, Madri e Bogotá; e Dreaming Water: A Retrospective of the Future (1964-…), apresentada no MNBA, Santiago; Malba, Buenos Aires; e Pinacoteca, São Paulo (2023-24). Ele é editor e autor de mais de vinte publicações sobre arte, sexualidade, justiça social, infraestrutura cultural e memória política. Em 2016, recebeu o Prêmio Curatorial Visão Independente do ICI.

 

Prêmio de Arte de Zurique 2025.

23/out

Artur Lescher (1962, São Paulo,SP) é o artista vencedor do prêmio concedido anualmente pelo Museum Haus Konstruktiv e pela Zurich Insurance Company Ltd., que está em sua 18ª edição. “As esculturas de Lescher não apenas ocupam o espaço – elas interagem com ele. Essa capacidade de dialogar com a arquitetura foi decisiva para sua escolha como vencedor do Prêmio de Arte de Zurique”, explicou Sabine Schaschl, diretora e curadora-chefe do Museum Haus Konstruktiv, referência em arte concreta e conceitual, sediado em Zurique, Suíça. O prêmio tem um valor total de 100 mil francos suíços – aproximadamente R$678.180,00 – que contemplam uma exposição individual do artista no Museum Haus Konstruktiv e 20 mil francos suíços em dinheiro (cerca de R$135.636,00). A exposição de Artur Lescher, “Campos entrelaçados”, tem curadoria da própria Sabine Schaschl e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Exposição e temas cósmicos

Na primeira sala da exposição, os visitantes vivenciam a tensão entre forma austera e vitalidade sutil. Com múltiplos pêndulos suspensos, Artur Lescher enfatiza a verticalidade e cria uma sensação de antigravidade. Essa leveza remete a constelações, reforçada por materiais espelhados e brilhantes. A obra “V Sagittae Memorial” homenageia a estrela dupla V Sagittae, que deverá explodir como uma nova em 2083 e brilhar como Sirius. Essa referência cósmica introduz uma dimensão de temporalidade e transformação.

Campo entrelaçado e tradição escultórica

As obras de Artur Lescher podem ser apresentadas individualmente, mas juntas formam um “campo entrelaçado” – um cosmos próprio. Ele insere sua produção na tradição escultórica de artistas como Constantin Brancuși, Louise Bourgeois (especialmente suas estelas) e Alberto Giacometti. Embora sua linguagem formal geométrica remeta à Arte Minimalista, Artur Lescher a transforma com referências mitológicas e uma dimensão animista.

Design industrial e mitologia

Artur Lescher explora técnicas de construção dos materiais, incorporando elementos do design industrial que atraem os amantes da tecnologia. Ao mesmo tempo, atribui significados mitológicos aos materiais: o cobre, mais flexível, é associado à deusa Vênus; o ferro, pesado e escuro, ao deus Hefesto. Essa carga simbólica se une ao respeito pelas propriedades físicas dos materiais – como peso, densidade e maleabilidade – que são integradas à lógica estética das obras.

Natureza, espaço e Neoconcretismo

Seu caderno de esboços revela esculturas voadoras e aves de todos os tipos, apontando para conexões entre natureza, espaço e conceitos universais – características do Neoconcretismo brasileiro dos anos 1960. Diferentemente da arte concreta europeia, o Neoconcretismo incorporava aspectos metafísicos e transcendentes. Artur Lescher cita como referências Hélio Oiticica, Lygia Clark, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Max Bill, além do Manifesto Neoconcreto de 1959. Artur Lescher resume suas referências históricas assim: “Meu envolvimento com o Neoconcretismo (…) inclui o estudo das obras de artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark, mas também de concretistas como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Max Bill. Nesse contexto, o Manifesto Neoconcreto (publicado no Rio de Janeiro em 1959) é um ponto-chave, assim como a investigação dos denominadores comuns entre o Construtivismo Russo e o Neoconcretismo.”

Arquitetura e som

Na terceira sala, a obra “Entrelinhas”, criada especialmente para o Museu, utiliza linhas de fios náilon vermelhas paralelas para medir e transformar o espaço. A escultura “Linha Vermelha (da série Metaméricos)”, composta por segmentos suspensos, remete a instrumentos musicais e transforma o ambiente em um espaço sonoro. Antes de entrar na segunda sala da exposição, os visitantes passam pela mostra paralela “Arte Concreta / Neoconcretismo”, que contextualiza a origem de sua obra. O título da exposição, “Campos Entrelaçados”, pode ser interpretado de várias formas.

 

Do espaço privado para o espaço da galeria.

A exposição “Olhar de Colecionador: Laurita Karsten Weege”, apresentada na Simões de Assis Balneário Camboriú, SC, materializa o atravessamento entre o espaço expográfico da galeria e o olhar especializado da colecionadora, uma parceria que reconhece as contribuições significativas de Laurita Karsten Weege ao projetar um encantamento pela arte. 

Abraham Palatnik, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Antonio Malta Campos, Ascânio MMM, Carlos Cruz-Diez, Cícero Dias, Eleonore Koch, Emanoel Araújo, Estúdio Campana, Flávio Cerqueira, Gonçalo Ivo, Julia Kater, Juan Parada, Mano Penalva, Marcos Coelho Benjamim, Paulo Pasta, Schwanke, Sergio Lucena, Siron Franco, Vik Muniz e Zéh Palito integram o conjunto de artistas apresentados.

A mostra apresenta o moderno e o contemporâneo, em uma proposta que transpõe o espaço privado da coleção para o espaço da galeria.

Até 20 de janeiro de 2026.

 

O grande intérprete do Amor e da Modernidade.

20/out

Para celebrar a vida e o legado do poeta Vinícius de Moraes, que completaria 112 anos, o Museu de Arte do Rio (MAR) abriu a exposição “Vinicius de Moraes – por toda a minha vida” que ficará em cartaz até 03 de fevereiro de 2026.

Com curadoria de Eucanaã Ferraz e Helena Severo, a mostra reúne mais de 300 itens entre manuscritos, fotografias históricas, vídeos, livros raros, capas de discos, objetos e documentos pessoais, instrumentos musicais, esculturas e obras de arte de artistas amigos de Vinicius. 

“Vinicius de Moraes foi um dos construtores do Brasil moderno – aquele que se reconhece na poesia, na música, no afeto e na liberdade. Sua obra atravessa o século vinte como um fio de beleza e humanidade, revelando um país que aprendeu a cantar o amor e a emoção. Nesta exposição propomos um percurso sensível por sua vida e criação, pela alegria e delicadeza com que soube transformar o cotidiano em arte”; analisa a curadora Helena Severo.

A mostra propõe uma viagem afetiva e estética pela vida e pela obra de Vinicius de Moraes – o poeta, diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor e cantor que marcou a cultura brasileira do século XX. Organizada em núcleos temáticos, a exposição percorre seus principais eixos de criação: a música, a poesia, o teatro, as artes visuais e as cidades que fizeram parte de sua trajetória.

Entre os grandes destaques está o espaço dedicado a “Orfeu da Conceição” (1956), peça teatral que inaugurou a parceria de Vinicius de Moraes com Tom Jobim. O núcleo apresenta croquis originais de figurinos de Lila Bôscoli e Carlos Scliar, cartazes de divulgação de Djanira, Scliar e Luiz Ventura, fotografias de José Medeiros registrando os ensaios da montagem e um desenho em alto-relevo de Oscar Niemeyer para o cenário do espetáculo, que estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O público poderá conferir alguns instrumentos como o piano, utilizado em parcerias como a série “Os afro-sambas” (1966), com Baden Powell, também foi tocado por Tom Jobim durante ensaios da peça “A invasão” (1962), de Dias Gomes.

A mostra traz ainda obras inéditas, como gravuras e desenhos de Lasar Segall, Guignard, Di Cavalcanti, Carlos Leão, Oswaldo Goeldi, Augusto Rodrigues e Dorival Caymmi. Entre os destaques, está o quadro “Retrato de Vinicius de Moraes” (1938), de Cândido Portinari. As artes plásticas e visuais reafirmam a convivência de Vinicius de Moraes com grandes nomes de sua geração. Estão reunidas obras de Portinari, Guignard, Pancetti, Santa Rosa, Cícero Dias, Dorival Caymmi, Carybé e Carlos Scliar, artistas que foram amigos próximos do poeta.

“Vinicius de Moraes – por toda a minha vida” reafirma o legado do poeta como um dos grandes intérpretes do amor e da modernidade, cuja obra permanece viva e presente. Para além de sua produção literária e musical, a exposição evidencia o homem que viveu intensamente as transformações culturais e comportamentais de seu tempo, ajudando a moldar a sensibilidade brasileira.

 

Nova individual de Camille Kachani.

17/out

A Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, apresenta Uma Contra-História do Brasil, nova individual de Camille Kachani. A série revisita criticamente a elaboração do que se convencionou chamar de “história oficial” do país, propondo outra leitura a partir das margens – povos originários, africanos escravizados e fluxos europeus empobrecidos, cujas experiências foram em grande parte silenciadas no discurso oficial. 

Inspirado no procedimento de Michel Onfray ao formular uma “contra-história” da Filosofia, Camille Kachani desloca o foco do cânone para protagonistas invisibilizados. “Nestes trabalhos, tento recontar, por meio de alusões e símbolos, a história do País pelos olhos dos povos que, embora tenham formado ou construído o Brasil, não participaram da elaboração da História Brasileira”, afirma o artista. Em seu vocabulário visual, materiais naturais e artefatos culturais se entrelaçam, reabrindo disputas sobre quem nomeia, mapeia e narra o território.

A mostra reúne 12 trabalhos inéditos entre esculturas e objetos em técnica mista. Em “Pindoretama” (2025), título que evoca a nomeação tupi do território, o artista transforma o “solo” em tecido ou bandeira, abordando uma disputa simbólica. “Contra-História do Brasil” (2024) aproxima a diversidade genética de povos e a natureza de um país marcado por ciclos de predação. Em “Pau-Brasil” (2024), um tronco-escultura condensa a ambivalência entre mercadoria e mito de origem, fazendo emergir narrativas autóctones. “Desmapa I” e “Desmapa II” (2025) propõem cartografias sem reconhecibilidade, enquanto “Mundus Hodiernus I/II” (2025) inverte mapas-múndi para sugerir a repetição global de conquista e apagamento. Já “Brazilapopolo” (2025), “os povos do Brasil”, em esperanto, elabora, por meio de uma trama de plantas e sinais, a constituição mestiça do país.

Com humor ácido e precisão formal, Camille Kachani desarma a suposta neutralidade dos objetos. Ao “fazer brotar” galhos, raízes e inscrições de ferramentas, livros e móveis, suas esculturas encenam a fricção entre natureza e cultura, tradição e modernidade, apagamento e lembrança. Em vez de ilustrar a história, o conjunto a reconfigura por imagens – “uma arqueologia crítica do presente”, nas palavras do próprio artista.

Sobre o artista

Camille Kachani (Beirute, Líbano, 1963) é artista libanês-brasileiro. Vive e trabalha em São Paulo. Sua prática transita entre escultura, objeto, colagem e fotografia, investigando identidade, pertencimento e a transformação da natureza/cultura através de objetos do cotidiano e materiais orgânicos.

Até 20 de dezembro. 

Carolina Cordeiro na Artissima 2025.

Oval Lingotto Fiere, Turim

A Galatea anuncia sua participação na Artissima, que acontece em Turim, Itália, entre 31 de outubro e 02 de novembro. Em sua estreia na feira, a galeria apresenta um projeto solo da artista Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, Brasil, 1983), cuja prática multidisciplinar abrange desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação, explorando sistemas simbólicos e a dimensão poética dos materiais a partir das tradições culturais e espirituais brasileiras.

Ocupando o estande Fuxia 2, na seção New Entries, Carolina Cordeiro apresenta um novo capítulo da série América do Sal (2021/2025), que consiste em uma instalação composta por uma grande trama de barbante de algodão da qual pendem pequenas trouxas de sal envoltas em tecido. Disposta paralelamente ao chão e atravessando o estande, a obra convida o público à interação, uma vez que se deve passar por debaixo dela para chegar à parede de fundo, onde outros trabalhos da série serão mostrados.

Monocromática, silenciosa e, ao mesmo tempo, dotada de forte carga simbólica, América do Sal estabelece diálogo com as artesanias de diferentes povos que formam a identidade brasileira, com práticas vinculadas às religiões afro-brasileiras, especialmente o Candomblé. As trouxas de sal remetem tanto aos patuás, que são amuletos de proteção, quanto aos banhos e rituais de limpeza, que sempre devem ser feitos do pescoço para baixo – a mesma medida corporal que define a altura da instalação.

 

No Museu Chácara do Céu.

16/out

“O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras” pelo olhar de Ciro Fernandes.

Retratando a cidade maravilhosa através da força da arte nordestina, o Museu Chácara do Céu, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, abre as portas para a exposição “O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras”, celebrando a trajetória do artista plástico Ciro Fernandes e a sua paixão pelo Rio de Janeiro. A exposição, que permanecerá em cartaz até 30 de janeiro de 2026, se dá por meio de 76 obras autorais que transitam entre a técnica milenar da xilogravura e demais estilos, como pinturas, calcogravuras, litogravuras e nanquim. Obras que dialogam com as narrativas populares do nordeste e revelam a versatilidade do xilogravador, pintor, ilustrador, escritor e luthier, Ciro Fernandes, em diferentes linguagens visuais

Durante o vernissage, no sábado, 18 de novembro, os convidados poderão desfrutar de uma apresentação do violonista e compositor Jean Charnaux, trazendo a sonoridade carioca em diálogo com a experiência visual de Ciro Fernandes, com direito a uma vista deslumbrante da cidade do Rio de Janeiro.

Distribuindo as obras em diferentes núcleos temáticos, a mostra inicia com “O Rio de Ciro: um Caso de Amor”, que retrata a chegada do artista ao Rio de Janeiro e sua paixão pela Cidade Maravilhosa, com obras que capturam o ciclo urbano e cotidiano dos cariocas. O núcleo seguinte da mostra, “Lapa e Seus Mistérios”, revela a atmosfera boêmia e cultural do bairro, destacando figuras icônicas como Madame Satã e eternizando a diversidade e a essência das ruas da cidade.

A exposição segue conectando às raízes nordestinas por meio dos núcleos “A Tradição Cordelista Chega à Cidade Maravilhosa”, que narra a forma como o artista retomou a xilogravura nos cordéis urbanos da capital; e “A Natureza Exuberante de Ciro” (Sala Imersiva), que transporta os visitantes para dentro de uma sala de vidro com obras do artista em formato de “lambe-lambes” e adesivos, permitindo que as obras dialoguem com a vista panorâmica do Rio de Janeiro. Integrando diferentes formatos, a exposição não se restringe apenas a xilogravura, podendo também ser apreciadas as pinturas em tinta acrílica sobre tela; calcogravuras e litogravuras; ilustrações; artes em nanquim; além de capas de cordéis, LPs, matérias de jornal e livros de grandes escritores ilustrados pelo artista. 

O público poderá se inspirar e imergir no cenário criativo de Ciro Fernandes, a partir da exibição de suas ferramentas de trabalho, como a prensa, materiais de entalhe e as matrizes de madeira das obras. Tais instrumentos auxiliaram a ditar as dimensões variadas das obras, sendo a menor com proporções de 28 x 32cm e a maior com 90 x 220cm. Como medida de democratização do acesso à cultura, a exposição contará com quatro oficinas programadas para crianças de escolas públicas da região de Santa Teresa. Usando gravuras de material reciclado (Tetrapack), os workshops trarão atividades lúdicas e culturais para as crianças, abordando a natureza do Rio de Janeiro e buscando a representação dos pássaros da cidade, à espelho do que inspira Ciro Fernandes.

“O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras” tem curadoria de Mariana Lannes, diretora de produção cultural e idealizadora de projetos artísticos, com atuação nacional em música, artes visuais, cultura popular e impacto social; além de Alessandro Zoe, fundador do escritório de gestão artística CRIVO, somando mais de 8 anos de experiência à frente de produções culturais em teatro, música e artes visuais

Sobre o artista.

Desde criança, Ciro Fernandes se encantou pelo desenho e pela arte, imerso na cultura dos cordéis e na tradição da xilogravura popular do sertão da Paraíba, desenvolvendo suas habilidades como gravurista. Ao longo da vida, o artista viveu em diferentes cidades do Brasil, como Natal e São Paulo, mas encontrou seu verdadeiro lar no Rio de Janeiro, onde se apaixonou pelas belezas da cidade, incluindo sua natureza exuberante, o Carnaval, as ruas do centro e da Lapa, e pelo efervescente movimento cultural do bairro. No auge dos 83 anos, Ciro Fernandes é um dos grandes nomes da cena artística brasileira, sendo considerado um patrimônio da xilogravura no país. 

 

A exposição, fica em cartaz até o dia 30 de janeiro de 2026

 

Jaime Laureano celebra a cultura afro-brasileira.

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, apresenta “Eu estou aqui com toda a minha gente”, primeira exibição individual de Jaime Lauriano na galeria do Rio de Janeiro. Incluindo 12 trabalhos, em sua maioria inéditos, a mostra conta com texto crítico de Ademar Britto. O título da exposição é retirado da música  “A Força da Jurema”, gravada em 1973 pelo grupo Os Tincoãs, que remete à ideia de cura, aos orixás, e faz uma homenagem a Oxum. Durante a vigência da exposição, ao final do mês de novembro, ocorrerá também o lançamento da publicação Jaime Lauriano – Mapeamentos, primeira publicação dedicada ao artista, editada pela Nara Roesler Books e com textos de Tadeu Chiarelli, Keyna Eleison e Sylvia Monasterios. 

Uma das obras inéditas que fazem parte da exposição são quatro objetos da série Pencas, que consistem em esculturas de latão penduradas em couro com argolas também em latão. As esculturas inéditas têm a forma de sementes de jatobás, búzios, um ogó de Exu, sinos, agogôs, quartinhas, alguidar, canecas, pemba, cachimbo e cabaça, elementos da ritualística do candomblé e da umbanda, de modo a criar uma espécie de ofertório para a cultura afro-brasileira e a sua resistência ao longo da História do Brasil. Jaime Lauriano alude neste trabalho às joias crioulas dos séculos XVIII e XIX, consideradas um patrimônio da Bahia e da cultura afro-brasileira, que marcam a resistência negra contra o regime escravocrata, sendo uma das manifestações artísticas afrodescendentes mais antigas no país.

Os mapas, interesse recorrente na trajetória de Jaime Lauriano, estão presentes com a obra A new and accurate map of the world: democracia racial, êxodo, genocídio e invasão (2025), composta por dois desenhos realizados em pemba branca – giz branco usado em terreiros de candomblé – e lápis dermatográfico sobre algodão preto, medindo cada um 150 x 170 cm. Essa série criaria, a partir das ilustrações de mapas e cartas náuticas, uma das cenas mais emblemáticas da história recente da humanidade: as navegações e o “descobrimento do novo mundo”. Entretanto, diferentemente de sua versão original, com cores prontas para retratar a exuberância da região recém-explorada, Jaime Lauriano usa um rebaixamento visual, pautado pelo branco sobre preto, fazendo uma releitura dos primeiros esforços de representação do sistema de exploração da madeira e da mão de obra indígena, a primeira força de trabalho do que mais tarde seria consolidado como “país”. O artista contrapõe a representação idílica existente nos mapas antigos inscrevendo termos como invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural, retirados de livros que pautam a construção da História do Brasil.

A pintura Entradas em Minas Gerais (2025) faz parte da pesquisa que Jaime Lauriano desenvolve desde 2022, dedicada à revisão crítica de pinturas históricas que moldaram a memória oficial do país. Ao revisitar imagens acadêmicas produzidas entre o final do século XIX e o início do século XX, o artista percebeu que a colonização foi “consistentemente apresentada de forma idealizada, transformada em um gesto heroico e civilizador”, ao passo que “as presenças, resistências e experiências de violência afro-indígenas foram sistematicamente silenciadas”. “Meu interesse reside em questionar essa operação, desmantelar sua lógica celebratória e transformar a pintura histórica em um contramonumento: não mais um local de consagração, mas um campo de disputa, atrito e reflexão”, diz. Jaime Lauriano “esvazia” a pintura de seus personagens, deixando apenas a paisagem. Sobre essa superfície despovoada, ele aplica uma profusão de adesivos “que evocam tanto a violência colonial quanto a resistência afro-indígena”. Sobre a própria moldura, ele ainda instala figuras em miniatura que encenam uma batalha entre soldados coloniais e entidades da religiosidade afro-brasileira, como Zé Pilintra. “Desta forma, o passado não retorna como um mito pacificado, mas sim como um campo de conflito simbólico no qual a pintura se torna um território contestado”.

Outro conjunto inédito de obras, produzidas especialmente para a exposição, possui caráter intimista e é mostrado sob a claraboia do espaço expositivo. Intitulada o sobrado de mamãe é debaixo d’água, a série se originou a partir de uma fotografia que o artista fez da praia de Copacabana. Aqui, Jaime Lauriano retoma o gênero da paisagem, mas com uma abordagem inédita, em que se distancia da representação de conflitos que permeia suas obras anteriores. “O foco agora é a exploração das tensões visuais entre campos de cores, criadas a partir da utilização de materiais variados. O mar do Rio de Janeiro surge não apenas como cenário, mas como ponto de partida conceitual. A escolha de me debruçar sobre suas águas está ligada à estreia desta série na minha exposição individual na cidade, mas, sobretudo, à minha fascinação pela complexa história que as águas transatlânticas carregam. Elas são testemunhas de um passado de violência e sofrimento colonial, mas também são as rotas que trouxeram as ricas heranças africanas que, ao longo do tempo, moldaram profundamente a cultura e a identidade do Brasil”, conta. Jaime Lauriano afirma: “A série O sobrado de mamãe é debaixo d’água se posiciona, portanto, como uma celebração poética da resiliência e da riqueza da cultura afro-brasileira e de sua capacidade de florescer e resistir, transformando dor em história e luta.”

Até 20 de dezembro.