Ancestralidade e afrofuturismo

29/maio

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 02 de junho a exposição “Àwón Ìrun Ìmólè” (*), do artista visual Wuelyton Ferreiro. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo exibindo um acervo de esculturas (totalizando 20 obras em metal) que se dirigem à cultura afro-brasileira com representações da mitologia dos deuses africanos. O artista elabora, no limiar entre a arte sacra e arte contemporânea, um repertório autoral através de soluções com formas inusitadas.

 

Mesmo assim, Wuelyton Ferreiro trabalha a partir de um conhecimento tradicional apreendido no trato diário dos cultos das religiões de matriz africana, cujos ensinamentos não são revelados em sua totalidade aos não iniciados, mas que possuem papel fundamental para a manutenção da identidade afro-brasileira. Por meio de seus trabalhos as leituras possíveis tornam-se amplas e enigmáticas, nas quais figuras humanóides – de traços finos – lembram por vezes, os personagens encontrados nas obras de Giacometti. O arranjo e configuração do ferro torcido remetem a um ou mais orixás, adornados com elementos que os caracterizam. Talvez seja nesta habilidade imaginativa que o difere dos demais trabalhos encontrados no âmbito da arte com sentido religioso.

 

A concepção de suas obras traz uma linguagem única e autoral, onde a fluidez da representação proporciona uma atração aos olhos do observador. Segundo o curador da exposição, Marco Antonio Teobaldo, para compreender o trabalho de Wuelyton Ferreiro “…não é necessário ser um iniciado nas religiões de matriz africana ou estudioso do tema, pois a delicadeza apresentada é, acima de tudo, uma ode à cultura negra, que bravamente resiste desde o tempo colonial escravocrata”. A exposição enaltece a bravura e resistência da cultura negra. Em tempos de tanta intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana, esta mostra chega como mais um ato de resistência. A arte se aporta como um alicerce para a manutenção da identidade afro-brasileira. 

 

 

(*) Àwón Ìrun Ìmólè (iorubá) Todos os orixás (primários) de uma classe do Orun, responsáveis pela criação do mundo

 

 

 

De 05 de junho a 04 de agosto.

Ismaïl Bahri no Brasil

25/maio

Apresentada pela primeira vez no Jeu de Paume, de Paris, exposição “Instrumentos”traz seleção de nove vídeos do artista visual franco-tunisiano Ismaïl Bahri. Tomar o particular para refletir sobre o todo. Voltar-se para uma gotícula de água sobre a pele e chamar atenção para o tempo que nos cerca. Tomá-la como uma ferramenta de auscultação, que revela e amplia a força vital pulsante para, no fim, explicitar o desejo por um ritmo orgânico, avesso à agitação do mundo contemporâneo e da vida nas grandes metrópoles. É este o norte de “Ligne”,obra que sintetiza e abre a exposição que Espaço Cultural Porto Seguro, Campos Elíseos, São Paulo, SP,exibe até 22 de julho.

Assinada por Marie Bertran, curadora independente, e por Marta Gili, diretora do Jeu de Paume, de Paris, a exposição reúne nove videoinstalações do artista visual, a maior parte delas apresentada no centro de arte contemporânea parisiense entre junho e setembro de 2017. Em São Paulo, a mostra – primeira individual do artista na América Latina – conta com a correalização de Expomus Exposições, Museus, Projetos Culturais Ltda.

 

Os vídeos da exposição voltam-se para movimentos e elementos singelos: a veia pulsa, a linha separa, a mão amassa, o vento sopra, o fogo queima. Água, papel e tinta transformam-se de objetos a sujeitos protagonistas. “Na maioria das obras de Ismaïl Bahri, os instrumentos atuam como meio de intersecção entre o mundo físico e o mundo das ideias, liberando sutilmente uma série de hipóteses, cujos vereditos parecem ser indefinidamente adiados”, afirma Marta Gili.

“Valorizo em meu trabalho a busca pela simplicidade. O desafio está em, justamente, arranjar uma maneira de como expor uma questão pessoal para tratar um problema que é de todos”, afirma o artista. Nesta empreitada, Ismaïl dispõe-se a investigar, de modo extenuante, objetos, escalas, ângulos e linguagens. Ao longo dos trabalhos, o artista percorre um caminho crescente: o plano, que no início toma como foco uma gota de não mais que dois, três milímetros, vai se alargando até compreender uma paisagem inteira dentro dos limites da projeção. O mesmo ocorre com o conteúdo, material e mais figurativo em um primeiro momento, fluído e mais abstrato ao final.

 

Para o crítico e curador François Piron, a impermanência está no cerne do trabalho de Ismaïl. “O artista se posiciona como um observador, anda por aí e fala de miopia em relação ao seu trabalho. Ele então configura o que ele chama de dispositivo de captura para esses gestos, geralmente usando vídeo, mas também fotografia e som, sem distinção. É muitas vezes fora do quadro da imagem que o significado emerge, na presença perceptível do mundo circundante, que de repente é revelado”, afirma. “A obra de Ismaïl Bahri tem uma atuação potente e transformadora. Ela opera a partir de elementos muito sutis, mas que em seus trabalhos, passam a ser instrumentos de conexões inesperadas”, afirma Rodrigo Villela, diretor executivo do Espaço Cultural Porto Seguro.

 

 

Sobre o artista

 

Ismaïl Bahri nasceu em 1978, em Túnis, capital da Tunísia. Atualmente, vive e trabalha entre sua cidade natal e as francesas Paris e Lyon. O vídeo ocupa um lugar importante em seu trabalho, embora o artista crie também desenhos, fotografias e instalações. Sua obra volta-se a elementos simples da vida cotidiana, sobre os quais desenvolve processos e atribui questões universais. Participou da 13ª Bienal de Sharjah, nos Emirados Árabes, e expôs em instituições culturais como o Centro de Arte Contemporânea La Criée, em Rennes; no Jeu de Paume, em Paris; Les Églises, em Chelles; e no museu alemão Staatliche Kunsthalle, em Karlsruhe. Seus vídeos já foram exibidos nos festivais internacionais de cinema de Toronto, Nova York, Roterdam e Marselha; e a obra “Filme em branco” fez parte da exposição Levantes, de Georges Didi-Huberman, no Sesc Pinheiros (2017). Seus trabalhos apresentam relações profundas com a obra de artistas como o chileno Alfredo Jaar (com quem dividiu mesa na abertura da Paris Photo em 2017), o albanês Anri Sala, o belga Francis Alÿs ou o brasileiro Jonathas de Andrade, com os quais participou da Bienal de Sarjah (2013).

Liliane Dardot em Ondina, Salvador – BA

24/maio

A premiada artista mineira Liliane Dardot será responsável pela próxima exposição da Roberto Alban Galeria, em Ondina, Salvador – BA.  A partir do dia 06 de junho, ela apresenta a mostra “No Oco das Horas”, na qual investiga, através da pintura, o universo da vegetação do Cerrado, lugar que muito a encanta “…pela resistência, pela capacidade de se desenvolver nas situações mais adversas”.

 

 

A palavra da artista

 

“Nós somos seres da natureza. Assim como as plantas se transformam e se adaptam ao meio, regulam seus ciclos ao clima, buscam a água nas profundezas, se orientam para a luz, encontram as formas mais diversas para se propagar, nós também dependemos de uma sintonia para sobreviver. A vida contemporânea nos afasta de um contato direto com o meio ambiente em todos os seus aspectos. A consciência ecológica é muito importante”,

 

 

Sobre a artista

 

Liliane Dardot nasceu em Belo Horizonte, 1946, cidade onde vive e trabalha. Graduou-se pela EBA UFMG, onde foi professora de desenho (1969/77). Residiu em Olinda, PE (1978/89), tendo participado da criação da Oficina Guaianases de Gravura. Retornando a Minas Gerais, lecionou litografia na Escola Guignard (1990/97). Desde 1968 participa em mostras coletivas e em salões em vários estados brasileiros entre os quais: 1979 Salão Nacional de BH, Figuração Referencial, MAP, BH; 1980 Salão Nacional de BH, MAP, BH; Panorama 80, MAC, SP e 3º Salão Nacional, RJ; 1983 14° Salão Nacional de Arte, MAP, BH; XXVI Salão de Artes (premiação), Centro de Convenções, Recife; 36° Salão Paranaense (premiação), e 23ª Mostra do Desenho Brasileiro (premiação), Curitiba; 1986 Jovem Arte Contemporânea, MAC, SP. Bienais Internacionais: 1980, 1986 e 1996 Ciudad de Mexico; 1981 Cali, Colômbia; 1981 e 1983 San Juan, Porto Rico; 1984 Bradford, Inglaterra e Habana, Cuba; 1990 Berlim, Alemanha. Liliane Dardot, participou recentemente da prestigiosa mostra “Radical Women: Latin American Art”, no Brookling Museum, New York, EUA.

 

 

De 06 de junho a 07 de julho.

Mostra de Gilberto Salvador

23/maio

Entre os dias 30 de maio e 14 de julho, a Emmathomas Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, abre suas portas para a primeira exposição individual de 2018: “Duas SpherogrÁfias”, de Gilberto Salvador, com curadoria de Ricardo Resende. A mostra reúne 17 obras elaboradas por meio de técnicas que refletem o pensamento poético do artista, reconhecido pela diversidade de suportes e dimensões em projetos bidimensionais e tridimensionais, que propõem ao público múltiplas interpretações.

 

Inspiradas nos poemas do grande poeta espanhol Federico Garcia Lorca, doze das obras que compõem a exposição são painéis com fragmentos retirados dos poemas do escritor. Com efeitos causados pelo lançamento de esferas cobertas por tinta preta, esse recorte inédito faz um mergulho entre duas linguagens artísticas: o corpo humano e a literatura.

 

 

“O artista de uma obra só.” 

 

São as palavras do próprio artista ao olhar para o que produziu ao longo de mais de 50 anos de carreira. “Criou sem amarras, exercendo coerentemente a liberdade de sonhar, pensar e visualizar movimento, cores e formas. O seu imaginário plástico é inspirado na natureza, nas formas orgânicas que compõem o mundo. O seu processo criativo não muda. Não importa se é na pintura, se é na escultura, se é na gravura. Em todas as linguagens, se dá da mesma maneira. Nem escultor nem pintor. O híbrido é o artista”, conta o curador Ricardo Resende.

 

Nesses mais de 50 anos de trajetória, Gilberto Salvador sempre trabalhou com formas esféricas. Ora apresentadas de forma mística, também revelam certo simbolismo e aspectos lúdicos – temas abordados frequentemente nas obras do artista, que nessa produção utilizou bolas de tênis como instrumento de pintura.

 

Com extenso repertório tridimensional, principalmente no que diz respeitos às obras em espaços públicos, Gilberto Salvador insere uma grande esfera vermelha no centro da galeria. De forma invasora e incômoda, a escultura permite a interação do público – que irá cercá-la para contemplar os seus três metros de diâmetro.

 

Segundo o artista, em “Duas SpherogrÁfias”, a esfera transmite uma visão romântica. “Dividi a exposição por segmentos: no recorte inédito e bidimensional, a esfera é utilizada de forma quase que instrumental; no segundo, o uso da esfera se dá como agente interativo e questionador ao público, representando seu significado da forma mais evidente. Por fim, objetos que rodam na parede mudam as esferas de posição e provocam sons. Essa movimentação cria atividade e passividade, ou seja, a androginia da esfera”, explica.

Ivens Machado na Carpintaria

A Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, exibe “Ivens Machado: Corpo e construção”, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2005, um tríptico fotográfico a partir da “Performance com bandagens cirúrgicas”, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.

 

Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies.

 

Em “Sem título”, obra de 2005, na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha. Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento.

 

A obra “Sem título” de 2001, que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas. A série de fotografias “Sem título”, – Performance com bandagem cirúrgica – 1973 – 2018, também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.

 

 

Sobre o artista

 

Ivens Machado nasceu em Florianópolis, SC, em 1942 e faleceu em 2015 no Rio de Janeiro. Começou sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.

 

 

Até 28 de julho.

Simon Evans no Galpão 

Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão apresenta “Shopping Chão”, terceira exposição individual de Simon Evans no Brasil, duo colaborativo formado pelo britânico Simon Evans e pela norte-americana Sarah Lannan, que exibem cerca de quinze trabalhos inéditos. Os trabalhos da dupla possuem uma linguagem única, caracterizada por elaboradas colagens com fragmentos de papel, textos e imagens, coletados a partir dos detritos da vida cotidiana, da prática do ateliê e por cidades que visitam. Frases curtas e poéticas alternam-se entre reproduções de objetos domésticos, cartões de crédito e passaportes, sempre marcados pelo sarcasmo e pela melancolia.

 

A instalação que dá título a exposição é inspirada no comércio informal de rua do Rio de Janeiro, cidade onde a dupla residiu nos últimos três meses. Na capital carioca, a prática comercial do “shopping chão” consiste em estender um tecido ou lençol na calçada e dispor sobre ele objetos das mais variadas naturezas e origens, frequentemente achados no lixo, a serem revendidos a preços módicos.

 

 

Sobre os artistas

 

Simon Evans é a colaboração artística entre Simon Evans (1972) e Sarah Lannan (1984). Ambos vivem e trabalham em Nova York. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Not Not Knocking On Heaven’s Do or , Palais de Tokyo (Paris, França, 2016); Only Words Eaten By Experience , MOCA Cleveland (Cleveland, EUA, 2013); First We Make the Rules, Then We Break the Rules (Simon Evans & Öyvind Fahlström), Kunsthalle Düsseldorf (Düsseldorf, Alemanha, 2012) e Kunsthal Charlottenborg (Copenhague, Dinamarca, 2012); How to Be Alone When You Live with Someone , MUDAM (Luxemburgo, 2012); H o w t o g e t a b o u t , Aspen Art Museum (Aspen, EUA, 2005). Entre as exposições coletivas, destacam-se as participações nas seguintes bienais: 12ª Bienal de Istambul (Turquia, 2011); 31º Panorama da Arte Brasileira, MAM (São Paulo, 2009); 27ª Bienal de São Paulo (2006); Bienal da Califórnia, OCMA (Newport Beach, EUA, 2004). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como Aspen Art Museum (Aspen, EUA), CIFO (Miami, EUA), Louisiana Museum of Modern Art (Humlebaek, Dinamarca), Miami Art Museum (Miami, USA), MUDAM (Luxemburgo), Philadelphia Museum of Art (Filadélfia, USA), SFMOMA (San Francisco, USA), entre outras.

 

 

De 26 de maio a 28 de julho.

Jac Leirner, “Adição”

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta “Adição”, nova exposição de Jac Leirner. A mostra inclui esculturas com embalagens de sedas, uma instalação com pontas de cigarros de maconha e sequências fotográficas montadas sobre madeira. Compulsão e consumo, acúmulo e reorganização são questões recorrentes na obra de Jac Leirner. Ela utiliza materiais próximos do seu cotidiano, em sua maioria descartáveis ou sem valor. Assim, se no passado a artista usou cigarros, cartões de visita, sacolas de museus, talheres e cobertores de aviões, aqui ela emprega a imagem e os materiais associados ao consumo de cocaína e maconha. Nas imagens, pequenas pedras de cocaína são rodeadas por objetos pessoais como moedas, pinças e souvenirs.

 

Jac fez as fotos em 2010 e as editou seis anos depois, formando narrativas cinemáticas que se encerram em capítulos independentes. As pequenas esculturas retratadas transfiguram-se em cone, cabeça, roda, esfera e coração até desaparecerem. A disposição horizontal dos trabalhos, sobrepostos em cinco linhas ao longo da galeria, enfatiza essa vocação literária, ao mesmo tempo em que evidencia aspectos formais de cor e composição. Alguns objetos usados nas fotos retomam materiais previamente usados pela artista, ao passo que outros revelam um aspecto de intimidade absoluta, num grau máximo de justaposição entre vida e obra. “About Men and Animals”, por exemplo, cria uma história com objetos em miniatura, enquanto “Macbeth” faz referência direta à literatura. “Oh Yes Yes”, e “Round Ones” reúnem as imagens com moedas e cédulas de dinheiro. “Landscape”  por sua vez, forma uma cena quase abstrata. As esculturas intercalam-se às sequências fotográficas e, de maneira análoga, lidam com a matéria residual do fumo. “Freezing Flame”, “Sugar Baby”, “Statement”, entre outros, são criadas com embalagens de sedas para cigarro montadas sobre madeira.

 

Essas obras ganham corpo a partir do formato irregular das embalagens quando desmontadas e se organizam em composições cromáticas. A artista insere ainda níveis de precisão nos suportes, revelando o sentido de equilibro tão essencial a esses trabalhos. As noções de consumo e acúmulo dos materiais ganham contornos arquitetônicos na obra “High and Low”. Ocupando o segunda andar da galeria, cabos de aço dão estrutura a pontas de cigarros de maconha. A escultura se define por linhas que tensionam o espaço, alcançando o grau mínimo da matéria, sintetizada em seu menor elemento.

 

Na ocasião da abertura, a publicação “Three White Nights” será lançada no Brasil. O livro de artista, realizado em parceria com a designer holandesa Irma Boom, reúne todas as imagens da série fotográfica que integram a exposição.

 

 

Sobre a artista

 

Jac Leirner nasceu em São Paulo em 1961, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes em instituições, destacam-se: Institutional Ghost , IMMA (Dublin, 2017); Add it up , The Fruitmarket Gallery (Edimburgo, 2017); Borders are drawn by hand , MoCA Shanghai (Xanghai, 2016); Funciones de una variable , Museo Tamayo (Cidade do México, 2014); Pesos y Medidas , CAAM (Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, 2014), Hardware Seda – Hardware Silk , Yale School of Art (New Haven, 2012); Jac Leirner , Estação Pinacoteca (São Paulo, 2011). Seu extenso 

 

currículo de exposições inclui ainda participações em: Bienal de Sharjah (2015), Bienal de Istambul (2011), Bienal de Veneza (1997 e 1990), Documenta de Kassel (1992), Bienal de São Paulo (1989 e 1983). Sua obra está presente em diversas coleções importantes ao redor do mundo, como: Tate Modern (Londres), MoMA (Nova York), Guggenheim (Nova York), MOCA (Los Angeles), Carnegie Museum of Art (Pittsburgh, EUA), MAM (São Paulo), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), Museo Reina Sofía (Madri), entre outras. 

 

 

 

De 26 de maio a 28 de julho.

 

Mesa redonda no MAM-Rio

22/maio

O MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, realiza no próximo dia 26 de maio, às 14h, mesa-redonda sobre a trajetória de Victor Arruda com o artista Paulo Bruscky, a crítica de arte Marisa Flórido César, e Adolfo Montejo Navas, curador da retrospectiva do artista em cartaz no Museu. Na ocasião, será exibido o documentário “Esta pintura dispensa flores” (2010), de Luiz Carlos Lacerda, sobre a obra de Victor Arruda, e será lançada a publicação “You are still alive”, sobre a série homônima do artista, com texto de Adolfo Montejo (2018, Limiar Edições), port/ing, 44 páginas e 24 imagens-trabalhos, 500 exemplares, numerados e assinados. Na Cinemateca do MAM, com entrada gratuita.

 

Diz Adofo Montejo Navas que ” sãopoucos os trabalhos artísticos que se posicionam em territórios fronteiriços da vida, no meio-fio entre a vida e a morte, sem cair no reduto da enfermidade ou da clínica, ou então nos paraísos artificiais, cada vez mais numerosos e vulgarizados. You are still alive, obra em curso de Victor Arruda desde 2015 até hoje, já provoca desde seu aqui e agora outro tempo e destino, extrapolando o local inicial da ação. Transfere seu alvo estético para além do campo previsível, inclusive como imagética associada à pintura (algo, diga-se de passagem, que o artista tem provocado várias vezes, o curso de alguns limites com a pintura para ser pisada ou até dançada, comida ou utilizada como pintura-performace de obra-anúncio).”

Visita guiada no Paço Imperial

17/maio

Neste sábado, dia 19 de maio, às 15h, a artista plástica Suzana Queiroga e o curador Raphael Fonseca farão uma visita-guiada pela exposição “Miradouro”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com entrada franca. A mostra, que pode ser vista até o dia 27 de maio, traz obras recentes e inéditas da artista, dentre pinturas, esculturas, instalações e vídeos, que mostram a pesquisa sobre o tempo, a paisagem e a cartografia.

Obra inédita de Angelo Venosa 

Novos horizontes de investigação e pesquisas estéticas do escultor Angelo Venosa serão exibidos ao público pela primeira vez, a partir de 23 de maio no Museu Vale, Antiga Estação Pedro Nolasco, Argolas, Vila Velha, ES. Na exposição (e lançamento do catálogo), que comemora os 20 anos da instituição, o artista apresentará esculturas incorporadas às próprias sombras, conferindo um instigante universo poético ao espaço. Seis das esculturas foram criadas especialmente para a mostra. Madeira, alumínio, acrílico, parafina, vidro, aço, ossos são alguns dos materiais que compõem as esculturas de Venosa e a singularidade de seu fazer artístico, desenvolvido a partir de sua experiência vinda de trabalhos artesanais (herdou do pai o conhecimento do trato com o design e a madeira). De natureza expansiva, desenvolveu atalhos históricos e tornou-se um dos maiores expoentes do cenário cultural contemporâneo. Sintonizado com novas tecnologias, passou a trabalhar também com impressões em 3D, trazendo para suas esculturas infinitas possibilidades combinatórias.

 

Inquietas e interrogativas, as obras de Angelo Venosa problematizam a visão do espectador – diz Vanda Klabin, ao revelar que o artista irá explorar no Museu Vale a equivalência entre as áreas cheias e vazias, através da projeção de sombras nas superfícies arquitetônicas da instituição. “- Na medida em que esses trabalhos são desenvolvidos, as formas emergem e adquirem uma plasticidade inesperada. Toda uma noção de movimento se faz presente nessas sombras movediças, onde brotam as formas mais variadas e ambíguas e essas zonas de indeterminação adquirem uma presença plástica que se constrói e se experimenta no próprio espaço – conclui a curadora.

 

A mostra de Angelo Venosa nas comemorações dos 20 anos do Museu Vale reitera o compromisso da instituição de promover a arte e a cultura como fenômeno de transformação e de formação dos jovens, diz Ronaldo Barbosa, diretor do Museu: “…Venosa é um artista que caminha em paralelo com o seu tempo, sempre dedicado ao experimento de novos materiais, tecnologias e seus desdobramentos no seu processo criativo. No Museu Vale, o escultor irá surpreender ao exibir uma nova possibilidade de se perceber os seus trabalhos”.

 

Após o período de exposição no Museu Vale, “Penumbra” segue para o Memorial Minas Gerais Vale, em Belo Horizonte, como parte do Programa de Itinerância Cultural. O programa prevê a troca de conteúdo artístico e cultural entre os quatro espaços culturais patrocinados pela Vale, localizados em quatro das cinco regiões brasileiras, além de ações de valorização da identidade cultural em munícipios pelo interior do país.

 

 

Sobre o artista

 

Angelo Venosa (São Paulo, 1954. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) surgiu na cena artística brasileira na década de 1980, tornando-se um dos expoentes dessa geração. Desde esse período, Venosa lançou as bases de uma trajetória que se consolidou no circuito nacional e internacional, incluindo passagens pela Bienal de Veneza (1993), Bienal de São Paulo (1987) e Bienal do Mercosul (2005). Hoje, o artista tem esculturas públicas instaladas no Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera); na Pinacoteca de São Paulo (Jardim da Luz); na praia de Copacabana / Leme, no Rio de Janeiro; em Santana do Livramento, Rio Grande do Sul e no Parque José Ermírio de Moraes, em Curitiba. Possui trabalhos em importantes coleções brasileiras e estrangeiras, além de um livro panorâmico da obra, publicado pela Cosac Naify, em 2008.

 

 

Sobre o Museu Vale

 

Desde a sua inauguração, em outubro de 1998, o Museu Vale se tornou um dos principais polos de arte contemporânea e de formação cultural do Estado do Espírito Santo e do país. Instalado na Antiga Estação Ferroviária Pedro Nolasco, às margens da baía de Vitória, em uma área tipicamente industrial e portuária no município de Vila Velha, o Museu Vale preserva também a memória da construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Ao longo de 20 anos sediou 46 exposições de arte contemporânea de 194 artistas. Em 2005, criou o Programa Aprendiz, que beneficia jovens das comunidades carentes do seu entorno, capacitando-os em funções relacionadas a montagem de exposições, bem como aproveitando sua mão de obra durante a montagem das mostras que realiza anualmente. Até o momento 120 jovens foram beneficiados através desse projeto.

 

 

De 24 de maio a 09 de setembro.