Fabiano Al Makul na Galeria Um

25/ago

A Galeria Um, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, realiza a exposição “Caderno de Anotações”, individual do artista paulistano Fabiano AlMakul, com séries inéditas de fotografias dentro de sua pesquisa de cor, agora dedicada aos tons de laranja, azul-marinho e lilás, além do preto e branco.Serão mostradas três séries de fotografias dentro de sua pesquisa sobre cor, que atua como elemento de conexão de diferentes assuntos, como detalhes arquitetônicos, paisagens, objetos, texturas, cenas urbanas, entre outros. O artista cria conjuntos em média com 16 pequenas obras – os “polípticos” – que têm a predominância de uma só cor. Os diversos tons e materiais fotografados, agrupados como se fossem um grande quadro, levam o espectador a criar um ritmo com o olhar, que se detém em um detalhe e a seguir é atraído por outro. Na exposição estarão polípticos nas cores laranja, azul-marinho e lilás, em um total de cerca de 50 imagens.

 

Outro interesse do artista, a fotografia em preto e branco, também será exposto em “Caderno de Anotações”, com o registro de cenas do cotidiano caracterizadas pela simplicidade, e ricas em sombra e luz.  Serão 17 fotografias agrupadas em três polípticos: “Conflito”, “Caminhos” e “Elos”. Outras sete fotografias da série “Minha alma” serão exibidas separadamente.

 

 

Economista de formação, graduado pela FAAP, Fabiano Al Makul normalmente fotografa com câmeras digitais, mas não hesita em utilizar o celular quando está sem elas, e vê algo que o atrai. Independentemente da ferramenta que tem à mão, é fiel ao impacto do primeiro olhar. “É difícil encontrar novamente o mesmo ângulo”, diz. Reconhece que seu comportamento é quase compulsivo, por estar sempre ligado no que vê, e ser atraído por cenas na cidade a ponto de se desviar do caminho.  “Alguém deixa um paninho amarelo pendurado em uma porta turquesa, em um horário em que a luz está especial, e, pronto! A cena com alma está formada. A isso eu chamo de poesia do gesto”, explica. Ele conta ainda que às vezes está com uma série pronta, mas depara com novas situações que muitas vezes são inseridas no conjunto, e até modificam o contexto da obra. À medida que fotografa, vai delineando seu trabalho. A seleção se dá depois, entre dezenas de fotografias.

 

O título da exposição vem da definição dada por um amigo, o também fotógrafo Lucas Lenci, sobre o processo criativo de Fabiano AlMakul. “O Lucas sintetizou de maneira brilhante a melhor definição que alguém já deu de meu trabalho”, diz o artista. Além disso, foi no registro de um texto de rua, de autor desconhecido, a quem chama de “Curador do Acaso”, que encontrou a surpreendente leitura deste “Caderno de Anotações”.

 

 

 

Sobre o artista

 

Nasceu em 1973, na cidade de São Paulo, Brasil, onde vive e trabalha. Formado em Economia pela FAAP, em São Paulo, Fabiano Al Makul fez sua primeira exposição individual, “Elementos em Cor”, em 2013, onde mostrou sua pesquisa pela cor, a partir de elementos de cenas simples, cotidianas, ou mesmo em um espectro mais amplo. No mesmo ano, sua obra “Dona Tereza da Mangueira” se destacou na mostra coletiva “Mail ArtCupcake”, realizada no MuBE, em São Paulo, onde retrata outra de suas grandes paixões, a alma da velha guarda do samba. Em 2015, realizou sua segunda exposição individual, “A Riqueza da Cena Simples”, também em São Paulo, onde revelou em contexto poético a sutileza do detalhe de cenas que normalmente passariam despercebidas. Sua produção fotográfica, agrupada em polípticos, demonstrava então situações distintas conectadas pelas cores, e outras séries em que capturou com sensibilidade cenas do cotidiano ricas em sombra e luz. No final do mesmo ano, abriu em Belo Horizonte a exposição individual “Outros Olhos pra Ver”, uma seleção de seus trabalhos com curadoria do crítico Wilson Lazaro.Seu trabalho já integra coleções no Brasil e no exterior, como a CIFO – The CisnerosFontanalsArt Foundation, de Ella FontanalsCisneros.

 

 

De 01 de setembro a 15 de outubro.

 

Na Galeria Oscar Cruz

O artista recifense Bruno Vilela inaugura exposição “Textos bárbaros”, exibição individual na Galeria Oscar Cruz, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP.

 

 

Textos Bárbaros

 

O grafite nasce da necessidade ancestral do homem de marcar sua passagem pela terra. Das cavernas de Lascaux aos muros das nossas cidades as motivações continuam as mesmas: a demarcação de um território e a vontade do homem de mostrar sua passagem por essa vida. Uma transgressão, “é um terrorismo visual”, segundo a filósofa Márcia Tiburi. A primeira vista parecem apenas rabiscos para olhos destreinados mas, toda a manifestação artística feita com a palavra recebe o nome de literatura, então temos nos muros a literatura bárbara. Bárbaro significa pessoa não-civilizada. Para os gregos quem não era grego era um bárbaro. Quem picha deixa claro que não faz parte daquela estética grega de beleza da fachada branca. É um estrangeiro em sua própria cidade. Com outros códigos, dialetos e grafia.

 

O grafite em sua gênese ocupou esse espaço transgressor de denuncia política. Hoje é aceito e “domesticado” pela sociedade. A arte que surgiu no Brasil nos meados dos anos 60 para denunciar a ditadura militar é a mesma feita hoje para afastar os pichadores que fazem uso da tinta para gritar sua voz nos muros da sociedade, livros em branco prontos para serem escritos.

 

Minha experiência de desenho e pintura migrou para fábulas urbanas, mitos ordinários das coisas comuns das ruas. Trago a expressão de anônimos pichadores, design de objetos públicos e sinalização de rua, para minha própria linguagem nos materiais clássicos das artes plásticas como o papel, pastel e a pintura a óleo. Eu que já fui grafiteiro nos anos 90 e designer nos anos 2000, resgato essa memória subvertendo esses meios para o campo das artes dentro de uma galeria. Minha intenção é mostrar que essa expressão considerada vandalismo, feia e suja, pode ser bela e poética; e que a beleza está no olhar de quem tem a capacidade de ver vidas, mistérios e histórias nos muros. “Muro branco é cidade sem voz” diz uma pichação que define esse pensamento.

 

Andy Warhol disse nos anos 80 que: “A coisa mais bonita em Tóquio é o McDonald’s. A coisa mais bonita em Florença é o McDonald’s. Pequim e Moscou ainda não tem nada que seja bonito”. Na minha opinião o que define civilização, no sentido de metrópole desenvolvida, visualmente falando, são as pichações dos muros. Uma cidade de muros brancos não tem nada que seja bonito. Não tem voz. E foi viajando por essas grandes capitais que criei esse vocabulário para minhas obras. Madrid, Paris, Buenos Aires, São Paulo, Lisboa e principalmente Londres de onde nasceu todo um caderno com estudos para essa exposição.

 

Muitos pichadores se referem a prática como o esporte da periferia. São os escaladores, montanhistas da cidade que arriscam a vida para deixar sua “bandeira” demarcando um território no cume dos prédios. Verdadeiros heróis que arriscam suas vidas para não passar nesse mundo como um muro em branco.A pichação, orgânica e analógica, amolece a arquitetura mecânica e digital da cidade. Gera contraste se fundindo a paisagem urbana e transforma tudo em dança.

 

 

De 13 de setembro a 30 de outubro.

A arte de Tozzi em livro

24/ago

Será lançado nesta próxima quinta-feira, dia 25, a partir das 19hs, no Instituto Europeodi Design, Rua Maranhão, 617, Higienópolis, São Paulo, SP, o livro “Claudio Tozzi. Público/ Privado”, cuja autoria traz a assinatura do crítico de arte Jacob Klintowitz. Este livro faz uma análise do percurso do artista, das questões estéticas e sociais dele e de sua geração brasileira, e discute as manifestações de sua arte na condição de obra privada e/ou pública.A seguir, um recorte do texto ensaístico do livro.

 

 

A palavra de Jacob Klintowitz

 

Um observador desatento não reconheceria na obra atual de Claudio Tozzi o mesmo autor das obras de algumas décadas anteriores. A transformação formal da obra do artista tem sido notável e, mais até do que isto, a aparência, a visualidade das obras, dá a sensação de que a alteração se deu no próprio cerne desta obra, na concepção que o artista tem do mundo, na sua cosmovisão, na sua abordagem desta visão e no seu método de criação, na maneira como no seu espírito surge a imagem e se materializa no suporte. Da maneira de ser do artista à sua expressão. E, no entanto, esta conclusão estaria longe da verdade.

 

Certamente é uma contradição em termos, um observador desatento. Ainda que, por comodidade de espírito, muitas pessoas permaneçam muito tempo com os mesmos juízos de valor. Para nós é útil este observador imóvel e indiferente ao tempo histórico e ao tempo pessoal, pois evidencia o caráter dinâmico do percurso do artista, as transformações de seu trabalho e nos estimula a expor o núcleo permanente, o elemento unificador da ação e do método de Claudio Tozzi. O processo contínuo e ininterrupto de transformação, de criação inovadora de suas formas, demanda um observador igualmente flexível.

 

A produção atual da obra de Claudio Tozzi emerge de profundas questões estéticas e filosóficas e ajuda a iluminar o passado do artista. E, de muitas maneiras, é tal a sua transformação em relação ao passado, que evidencia o sentido da produção inicial de sua geração e as questões das décadas de 60 e 70, em boa parte respostas ao impacto causado pela nova sociedade de produção e consumo em massa e a espetacularização de todos os processos e narcisismos patologicamente infantilizados em razão do formidável desenvolvimento dos meios tecnológicos de comunicação que acompanhou e possibilitou este inicio de globalização da vida planetária.

 

A sociedade de produção e consumo em massa, por sua própria natureza, tende a homogeneizar as pessoas pelo padrão médio ou, em certos casos, pelo menor padrão possível, como se pode ver na manipulação de opinião e engajamento político. E a sociedade do espetáculo não só conferiu aos indivíduos a possibilidade de protagonismo, mesmo que efêmero, como avançou até a criação de protagonismo em grupos restritos, desde grupos de opinião, grupos profissionais, grupos políticos, até a montagem de veículos tecnológicos de controle pessoal. A previsão é de que estes recursos tecnológicos continuem a evoluir em alta velocidade.

 

E o processo de globalização acentuou a interdependência econômica dos países, tornou mais imediata e evidente a influência cultural de alguns países sobre outros, cultura em seu caráter antropológico, o de cultura em seu sentido totalizante dos processos de linguagem e não apenas como concepção de formas. Boa parte da produção de formas culturais está atrelada ao desenvolvimento tecnológico e à capacidade do mercado consumidor de ampará-la, o que já indica quais os países dominantes. Entende-se facilmente, portanto, como a produção estética deste período está fixada em objetos industriais, em figuras carismáticas nacionalistas em oposição nacionalista à globalização e em visões do urbanismo predatório.

 

O fetiche do objeto é resultado direto desta situação social. A arte trouxe este objeto para dentro do seu espaço e o glorificou. A banalidade do objeto industrial evidentemente chocou o mundo de repertório culto. A imprensa de muitas maneiras pretendeu ver uma posição crítica nesta glorificação que transformou o objeto vulgar em protagonista. Mas é difícil acreditar nesta postura crítica. Talvez na origem, no ponto de partida…

 

Sobre o artista

 

Claudio Tozzi, nasceu em São Paulo, SP, 1944. Pintor, desenhista e programador visual. Formado em 1968 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, continuou a atividade como artista plástico em 1963, através de uma obra na gráfica, e ganhou o concurso para o cartaz do XI Salão Paulista de Arte Moderna. Em 1969 realiza viagem de estudos à Europa, quando realiza as séries “Astronautas” e “Parafusos”, com gravuras, objetos e pinturas. A partir de 1972 sua obra evoluiu do pop para o conceitual. Realizou estudos com a cor, o pigmento e a luz. Recebeu diversos prêmios, entre os quais: Prêmio da Crítica (APCA), objeto em 1973, Prêmio da Crítica (ABCA) de viagem ao exterior em 1975, Prêmio de Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Arte Moderna (NAM) em 1979. Temas urbanos e conflitos sociais são predominantes em sua obra e constituem o seu universo visual. Realizou o painel “Zebra”, na Praça da República, e o painel “Colcha de retalhos”, para a estação de metrô Sé.

Willys de Castro em Londres

17/ago

Depois de Claudio Tozzi e Alfredo Volpi, o neoconcretista Willys de Castro será o próximo artista brasileiro a ganhar uma retrospectiva na galeria Cecilia BrunsonProjects, em Londres, que vem turbinando a representação de nomes da arte do país a partir de sua base na capital britânica.

 

Marcada para outubro, a primeira mostra do artista no Reino Unido será um desdobramento de sua recente exposição no Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo, que destacou sua série mais célebre, os “Objetos Ativos”.

Fonte: Texto de Silas Martí para a Folha de São Paulo.

Projetos do Ateliê397

16/ago

O Ateliê397, Vila Madalena, São Paulo, SP, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, via ProAC, convida para mais uma exibição do projeto Sessão Corredor + Extras, com as mostras “Coisas de viado! Coisas de bichinha!” e “TransAmaZônica”.

 

 

 Coisas de viado! Coisas de bichinha!

 

Com curadoria do crítico e cineativista francês, YannBeauvais, o programa traça a relação entre filmes experimentais e a cultura gay do Brasil, onde a prática de fazer cinema/vídeo se nota como um ato de resistência. A sessão apresenta uma gama variada de trabalhos realizados por artistas de diferentes gerações, que percorrem a historiografia do vídeo nacional com espaço para novas expressões, transitando entre o experimental e o novelesco. Após a exibição o evento segue com uma conversa com o curador.

 

 

TransAmaZônica

 

A sessão “TransAmaZônica”, com curadoria do artista Adler Murada, exibe um programa de vídeos com foco na produção de jovens artistas do norte e nordeste brasileiro. Um mapa de correspondências entre essas regiões e a paisagem amazônica, aludindo a um território polimorfo de emancipação do gênero e da ficcionalidade. Acompanhando a sessão, o artista propõe uma intervenção na galeria do Ateliê397, com lançamento da publicação que narra o projeto.

 

 

+ Extra

 

Após sessão, a mostra segue em festa com performances de Leona Vingativa e Lady Incentivo, a partir das 20h.

 

 

Serviço:Sessão Corredor + Extras | Coisas de viado! coisas de bichinha!

Dia 19 de agosto, sexta-feira, às 20h30, palestra com o curador após a sessão

 

Sessão Corredor + Extras | TransAmaZônica

Dia 20 de agosto, sábado, às 17H.

+ Festa com performances com LeonaVingativa com participação de Lady Incentivo, às 20H.

 

 

Sessão Corredor + Extras.

 

Criado pelo Ateliê397, o projeto abre espaço para curadorias de vídeo arte, onde a cada sessão apresenta ações que podem desdobrar-se em falas, performances e mostra em diálogo com o contexto da mostra.

Individual de Maria Tomaselli

A pintora e gravadora Maria Tomaselli exibe desenhos em pastel e acrílica sobre papel no StudioClio, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS. A mostra, integra o “Projeto Quadro Branco”, uma parceria entre o Café Studio Clio, Cerveja Coruja e Museu do Trabalho.

 

 

Sobre a artista

 

Maria Tomaselli(Cirne Lima), nasceu em Innsbruck, Áustria. Veio para Brasil em 1965,morando e trabalhando entre Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Olinda. Estudou pintura com Iberê Camargo, gravura em metal com Eduardo Sued, Anna Letycia e Mario Doglio; iniciou escultura com XicoStockinger. Expôs individualmente inúmeras vezes em galerias de renome do Brasil e Europa. Participou das Bienais de São Francisco, Cuba, Maldonado, Áustria, São Paulo, San Juan e Mercosul, em Porto Alegre. Recebeu 19 prêmios e cinco destaques em salões do Brasil e exterior. Atualmente reside em Porto Alegre, onde freqüenta as oficinas de gravuras do Museu do Trabalho.

 

 

De 22 de agosto a 21 de outubro.

Alex Flemming – RetroPerspectiva

O corpo, a obsessão do pintor Alex Flemming, ganha exposição no Museu de Arte Contemporânea, MAC-USP, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. (*) A curadoria é de Mayra Laudanna.

 

Na mostra estão reunidas 120 obras entre pinturas, gravuras e objetos que exploram as manifestações físicas no campo da sexualidade, da política e da religião.

 

 

O corpo em suas diferentes manifestações – política, sexual, afetiva, religiosa – ocupa toda a “retroperspectiva” que o pintor paulistano Alex Flemming, 62, abriu no segundo andar do Museu de Arte Contemporânea (MAC). O neologismo é justificável, explica o artista, que mora há mais de 20 anos em Berlim: retrospectiva não se aplica a uma mostra distante do formato consagrado pela visão positivista do modernismo – que acreditou numa evolução linear da arte. A exposição se projeta para o futuro. Literalmente. A última série exibida na mostra é também o ponto final do pintor e dos espectadores: ela reúne seis dezenas de laptops pintados com nomes de amigos, como se fossem lápides de um cemitério, nossa última morada.

 

Não se trata de um exercício mórbido, mas do reconhecimento que também a obsessão que Flemming tem pelo corpo que um dia vai acabar. Em pó. Enquanto isso, ele celebra a beleza desse corpo – seja masculino ou feminino. Flemming expõe sua escancarada sensualidade em 120 obras (pinturas, objetos, gravuras).

 

Autor da intervenção visual na estação Sumaré do metrô, realizada em 1998 com retratos de anônimos estampados em placas de vidro, Flemming já explora a temática do corpo há quase 40 anos. Uma das séries mais antigas da exposição, que tem como curadora a professora e ensaísta Mayra Laudanna, trata do corpo político em plena ditadura. O título Natureza Morta (1978) alude à tortura de presos políticos durante o regime militar, no ano em que a Justiça responsabilizou a União pela morte do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975) nas dependências do DOI-Codi.

 

Como tudo na obra de Alex Flemming é autobiográfico, também nessa série ele se coloca no lugar dos torturados. Em outras, ele pinta suas roupas (íntimas, inclusive), a valise que o pai comandante usava em suas viagens, sapatos velhos e até um divã (todos os seus móveis em Berlim também são pintados). Ou usa seu retrato no lugar do rosto do Cristo ou de Verônica, a santa do sudário, sem que isso lhe pareça uma atitude blasfema. Crente a seu modo, ele diz detestar a religião institucionalizada, fazendo uso sincrético de ícones católicos e da umbanda em pinturas de uma série que coloca lado a lado Santa Cecília, Iemanjá, São Jorge e uma sereia.

 

Ainda nessa série de corpos míticos, ele insere um Adonis sem roupa no interior de um ostensório, objeto usado para expor e transportar a hóstia consagrada em cultos da Igreja Católica. Não por provocação, como fazia seu amigo León Ferrari, garante o pintor. “Se o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, por que não comemorar essa beleza?”, pergunta Flemming com inocência pagã.

 

Essa criatura, como o homem vitruviano de Da Vinci, é um ser de corpo perfeito, celebrando a descoberta das proporções matemáticas do ser humano pelo pintor renascentista. Esse homem, símbolo da simetria que rege o universo, é construído e desconstruído por Flemming em séries como BodyBuilders (2001/2) em que corpos modelados nas academias servem de suporte de mapas territoriais de zonas de conflito, apontando para o paradoxo do mundo contemporâneo, que constrói um corpo e destrói o espírito.

 

O pintor argumenta que essa relação o distancia das fotografias de corpos nus masculinos por outro obcecado pelo físico, o norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989). “A nudez de Mapplethorpe é clínica”, diz. “A grandeza dele está na temática”. Flemming, que morou em Nova York com uma bolsa da Fullbright, em 1981, já explorava o tema dos conflitos sociais e as paixões, mas o fazia desconstruindo o corpo. Exemplo disso é uma série iniciada em 1984, ao voltar dos EUA, que explora, por meio da alegoria, as deformações do corpo.

 

Alguns exemplares da série estão expostos na mostra do MAC. Um deles junta a parte superior da Vênus de Botticelli com os membros inferiores de Adão e Eva da Expulsão do Paraíso de Cranach, forjando uma criatura monstruosa de quatro pernas, como nas xilogravuras do naturalista italiano UlisseAldrovandi (1522-1605). Aldrovandi, que inventou seres híbridos, metade humanos e metade bestas, não é, contudo, sua única referência. Flemming também leva a Olympia pintada por Manet para um leito de hospital, mas ela, nua, não emana erotismo, e sim o fim de um ciclo (artístico, inclusive), respirando com a ajuda de aparelhos.

 

Para Flemming, vida e morte são indissociáveis. Isso explica a presença de sua Olympia entubada na última sala da exposição, que abriga a série Caos, projeto agora retomado – como em outros casos, em se tratando de uma obra circular, que sempre volta ao tema do corpo.

(*) Texto de Antonio Gonçalves Filho para O Estado de São Paulo.

 

 

 

 

A palavra de Katia Canton, Vice-Diretora do MAC-USP

 

É com enorme prazer que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo apresenta a retrospectiva de Alex Flemming. Comemorando 60 anos de vida, 40 anos de produção e uma carreira de reconhecimento internacional, o artista compartilha com o público um repertório vasto, potente e original de trabalhos realizados em várias fases de seu intenso trajeto profissional.

 

Autor de uma das obras públicas mais emblemáticas da cidade de São Paulo, a estação de metrô Sumaré, contendo imagens de retratos anônimos acompanhados de poemas brasileiros, que vão desde Anchieta até Haroldo de Campos, formando um imenso painel de celebração de uma identidade híbrida, impressa em vidro. Alex Flemming é um artista múltiplo. Maneja pintura, fotografia, gravura como brilhantes exercícios de liberdade e paixão.

 

No entanto, é predominantemente como pintor que ele se vê. Pintor, ainda que sua pintura se expanda para além das telas. No histórico vasto de suas criações, sua paleta é vibrante, às vezes ofuscante até. Parece gritar cores. As tintas são aplicadas às telas, mas também a objetos, tape tes, aviões, animais empalhados, móveis, roupas, cartelas de remédios, réguas e cartões plásticos. Se é que podemos definir Alex Flemming como um pintor, há que se dizer que se trata de um pintor que entinta as superfícies das menos convencionalmente adequadas para as normas tradicionais impostas na história das belas artes. E consistentemente sobre elas faz uso de toda a liberdade conquistada, podendo aplicar sobre as pinturas letras, objetos, mapas, utensílios domésticos e até ossos. Em cada obra sua, tudo se compõe num estranho e, ao mesmo tempo, sedutor alfabeto imagético absolutamente singular.

 

A intensidade desse alfabeto corresponde às buscas complexas do próprio artista. Seus temas se relacionam à vida, ao corpo, à sexualidade, à morte e à espiritualidade. Sua obra procura a alma, enfim.

 

 

Até 11 de dezembro.

Gesto artístico-simbólico

13/ago

De 15 a 23 de agosto, das 10h às 17h, o artista Ivan Henriques levará para a Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, RJ, sua escultura cinética “Pedalinho”, que filtra a água à medida que é movimentado. O pedalinho estará em frente ao Parque da Catacumba, perto do deque dos pedalinhos tradicionais.

 

O artista, radicado em Haia, Holanda, desde 2009, está no Rio de Janeiro para sua exposição “Repaisagem”, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, de 3 de agosto a 21 de outubro de 2016. Ele mostra suas biomáquinas, vídeos, fotografias e projetos das obras que desenvolve com a colaboração de cientistas europeus e brasileiros. A exposição, que tem curadoria do artista e da diretora da instituição, Izabela Pucu, reunirá trabalhos inéditos no Brasil, entre eles, está o “Pedalinho” (“Water bike”, 2016), uma escultura cinética flutuante e interativa, desenvolvida em parceria com alunos da Willem de Kooning Academy, de Roterdã, Holanda, especialmente para a exposição.

 

Trabalho interativo que convida o público a pedalar na superfície da água e, ao mesmo tempo, pensar sua interação com o meio ambiente, uma vez que o seu pedalar opera a filtragem da água. A obra é composta por materiais que combinam micro-organismos vivos que facilitam a purificação da água ao reciclá-la. Trata-se de um gesto artístico-simbólico, que o público é convidado a realizar, uma vez que não está comprometido com a eficácia na despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas aponta para a questão e desenvolve outras estratégias e possibilidades para se pensar esse tipo de interação ambiental.

 

O desenvolvimento desta proposta faz parte da evolução de biomáquinas construídas previamente pelo artista, que são formas híbridas entre organismos vivos e máquinas, que buscam uma evolução entre as máquinas e a natureza. O projeto aponta também para a colaboração de pesquisadores das disciplinas de arte, design, engenharia, biologia e robótica, tendo como foco as relações entre meio ambiente e sustentabilidade, a partir da urgência da despoluição de rios, baías e lagoas da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro. O “Pedalinho” busca pensar o meio ambiente de uma forma poética, lúdica, ao contrário da idéia homem e máquina critica pelo genial Charles Chaplin, no filme “Tempos modernos” (1936).

 

Muro de Som

Muro de som é o projeto do artista Floriano Romano, sob curadoria de Guilherme Bueno, idealizado especialmente para o Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, no bairro de Santa Teresa, centro do Rio de Janeiro. O artista constrói um ambiente sonoro dentro do mundo – uma casa sonora – através dos seguintes trabalhos:

 

– Cúpulas sonoras [duas] estarão na escada de acesso ao pátio da casa. Elas contam histórias que apontam para um mundo possível e não para o que se passou na construção. É ficção e não documento;

 

– Espreguiçadeiras [três] se situam no mirante do Parque das Ruínas. São munidas de alto-falantes, na cabeceira, com som de mar, que contrasta com a paisagem, aqui entendida como ondas de luz. Romano propõe o hábito da escuta, deslocando o sonido  do mar para a espreguiçadeira;

 

– Muro de som são duas paredes de 330 x 170cm instaladas no coração da edificação, com 32 alto-falantes incrustrados em cada uma, que emitem som de vento. Esse registro foi feito com a expiração do artista;

 

– Binóculos sonoros [três] ficam no ponto mais alto do prédio.  Cada um aponta para uma ruína ou um castelo. Eles emitem histórias ficcionais, relacionando ruínas com memória, com história e com sonho. Se o visitante quiser mover o binóculo para além do limite determinado pelo artista, ouvirá uma espécie de microfonia.

 

A expressão “muro de som” ficou conhecida na cultura popular pelas técnicas de gravação do produtor musical americano Phil Spector nos anos 1960|70. “Resumidamente, tratava-se de uma camada de fundo criada pela execução de um mesmo som por vários músicos, como em uma orquestra, com a particularidade de usar guitarras e outros instrumentos da música pop (sem abrir mão de coros, conjuntos e instrumentos clássicos), provocando a sensação de ser envolvido por uma massa invisível, uma atmosfera sonora”, explica o curador Guilherme Bueno.

 

Muro de Som foi contemplada pelo Programa de Fomento à Cultura Carioca da Secretaria Municipal de Cultura (SMC).

 

 

Sobre o artista

 

 

Floriano Romano nasceu no Rio de Janeiro,1969. Doutorando em Linguagens Visuais e professor-assistente de escultura na Escola de Belas Artes da UFRJ. Ele  trabalha com intervenções urbanas e sonoras, abertas à participação do público. Entre os prêmios e bolsas conquistados pelo artista estão: Prêmio CCBB Contemporâneo e Programa de Fomento Viva a Arte da Prefeitura do RJ (2015), Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea [Funarte] e o Prêmio Marcantônio Vilaça, da Funarte (2012);  Prêmio Interações Estéticas da Funarte com o trabalho “Sapatos Sonoros” (2009) e Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea com a performance Sample Way of Life” (2008). Sua performance com a mochila sonora “Falante” foi premiada no Salão de Abril, Fortaleza, em 2007, e participou da coletiva “Futuro do Presente”, no Itaú Cultural São Paulo. Em 2000-1 ganhou a bolsa de Artista Residente pela Câmara Municipal do Porto, Portugal, e, em 2008, a Bolsa de Estímulo às Artes Visuais da Funarte, com o projeto de intervenção urbana “Lugares e Instantes”. Ele fez mostras individuais na Galeria Laura Alvim em 2013,  “Sonar”, no CCBB RJ, em 2016, “Errância” e foi um dos participantes do projeto HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, no Rio, também em 2016. Entre várias outras coletivas, Romano realizou, em 2011, o projeto INTRASOM no MAM Rio e participou das coletivas Panorama da Arte Brasileira no MAM SP e “Voces Diferenciales”, em Havana, Cuba. Em 2009 integrou a 7ª Bienal do Mercosul, “Grito e Escuta”. Esteve na “Mostra Desenho das Ideias” com a ação sonora “Crude”, de Guilherme Vaz, usando a arquitetura do museu como instrumento para a composição, e na “Mostra Absurdo”, com seus “Chuveiros Sonoros”. Participou da coletiva “Desenhos&Diálogos” em 2010, na Anita Schwartz, RJ, através da qual expôs também na ArtRio 2011.

 

 

De 14 de agosto a 25 de setembro.

Fotos em co-autoria indígena

Em 2008, o fotógrafo e educador visual Danilo Christidis começou a visitar Vherá Poty, cacique da aldeia Guarani Mbyá de Itapuã, em Viamão, no Rio Grande do Sul, a fim de ensiná-lo a fotografar. Não demorou muito para que os papéis se invertessem – Poty se mostrou um fotografo talentoso e passou a ensinar a Danilo como perceber sua comunidade, cultura, filosofia e costumes. “Vamos te receber como uma criança, que precisa ser ensinada a perceber o mundo como nós percebemos”, disse o cacique.

 

O resultado desse intercâmbio está no livro de fotografias “Os Guarani Mbyá”, com registros feitos pela dupla ao longo de sete anos em visita a quinze comunidades indígenas dos Mbyá, subgrupo Guarani que mantém uma unidade religiosa e linguística bem delineada, o que permite o reconhecimento de seus iguais ainda que em aldeias distantes. Do livro, foram selecionadas 24 fotografias para a exposição de mesmo nome, que estreou em Porto Alegre em 2015,já passou por Tucumán (Argentina) e Montevidéu (Uruguai), e chega ao Rio de Janeiro, agora em exposição no Rio Design Barra.

 

As imagens compõe um retrato único de uma sociodiversidade pouco conhecida pelos brasileiros, em íntima comunhão com as matas subtropicais do sul e sudeste do Brasil, distinta por características como organização social, relação com a natureza, religiosidade, arte, educação, medicina, modos produtivos e manejo de recursos naturais, culinária, gestação e parto, além da compreensão da infância, velhice, nascimento e morte. A importância do entorno como fonte para a vida Guarani-Mbyá se reflete em todos os aspectos do “seu modo de ser”.

 

Quem traz a exposição pela primeira vez ao Rio de Janeiro é a marca carioca Reserva, através de seu programa de incentivo ao empreendedorismo social, Rebeldes com Causa. No período da exposição, a loja Reserva do Rio Design Barra terá venda exclusiva do livro “Os Guarani Mbyá”, por R$ 99,00, com renda destinada a projetos sociais conduzidos por Vherá Poty.

 

 
De 15 de agosto a 04 de setembro.