A Amazônia de João Farkas

15/out

Entre 1984 e 1993, João Farkas fez várias viagens à Amazônia brasileira para registrar o processo de ocupação da região impulsionada pelo garimpo. João Farkas não só fotografou o cotidiano dos garimpeiros, mas, também, dos ribeirinhos e da própria floresta – sua beleza, o trabalho dos seringueiros e o processo de desmatamento. As incursões do fotógrafo pela região da Amazônia renderam 12 mil fotos, destas, a Galeria Marcelo Guarnieri, selecionou 34 imagens para a exposição “Amazônia”, que estreia no próximo dia 24 de outubro, na unidade Jardins, em São Paulo, SP, inspirada no livro   “Amazônia Ocupada” (Edições Sesc e Editora Madalena), com 120 imagens, que chegará às livrarias em novembro deste ano.

 

O recorte apresentado propõe a releitura de uma visão singular de “Amazônia Ocupada”, de João Farkas. Durante este ano, o projeto do fotógrafo se desdobrou em alguns caminhos:  a individual na galeria, mostrando Sesc Bom Retiro, o livro, a caixa portfólio e uma exposição no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto. “O que diferencia esta mostra na Galeria  Marcelo Guarnieri – além do lançamento do livro e da caixa portfólio – é que o eixo curatorial recai para a seleção que prima pela liberdade de escolha e o tratamento diferenciado das imagens – sendo muitas delas inéditas ao público, que complementam a visão geo-etnográfica da exposição apresentada anteriormente no Sesc”, afirma João Farkas.

 

Destacam-se as imagens que mostram o cotidiano e a beleza da expressão dos corpos e rostos que compõem este cenário, como nas fotografias “Jovem Kaiapó”, “Índio Uru-Eu-Wau-Wau”, dos garimpeiros, lavradores e das trabalhadoras de bordéis flutuantes. Por outro lado, a espacialidade, a luz, a textura e as linhas geográficas em vistas áreas, imagens de troncos, minas, leitos de rios e garimpos.

 

A caixa portfólio (feita exclusivamente para a mostra) possui apenas 7 (sete) exemplares com 18 fotografias (40 x 27 cm – cada) acondicionadas em caixa de madeira executada pelo Instituto ACAIA.

 

 

Amazônia e Fotografia

 

Ainda criança, João Paulo Farkas esteve na Amazônia com a família. “Aquilo tudo me impressionou muito, desde as feiras e os mercados, com suas frutas, peixes, farinhas, tucupis, até o rosto das pessoas com mistura de sangue indígena. As ruas de Belém com suas mangueiras centenárias e, particularmente, uma visão aérea num voo entre Manaus e Belém, em que víamos de cima aquele rio imenso com seus meandros e igarapés penetrando o tapete verde da mata Amazônica, como se fosse um atlas escolar ao vivo. Aquela imagem nunca me abandonou”, declara.

 

Depois disso, ele foi impactado pelas fotos de grandes revistas, como Manchete, National Geographic e, também, pelos livros de George Love e Claudia Andujar, impressos pela Gráfica Praxis no final da década de 70, que lhe mostraram uma maneira diferente de fotografar a região. “Também tem um gosto muito especial para mim o fato de que a Amazônia estava no radar do fotográfico e cinematográfico Thomaz Farkas, meu pai, a quem eu devo boa parte de minha formação humanística e o amor pelo Brasil e pelo povo. Ele adoraria estar aqui pra ver isto na parede”, completa.

 

Para Farkas, a fotografia sempre terá uma relação direta com a realidade e a leitura que um fotógrafo faz daquilo que o cerca, seu espaço e tempo, e pode impactar o seu público. “Desde que não se abuse desta mídia, a fotografia pode ter um papel de despertar, de mostrar, fazer conhecer. Mas uma coisa mudou desde o final do século 20. Hoje, a fotografia tem que trabalhar muito mais pela sensibilidade do que pela mera exibição de algo. Já não basta mostrar. Com os públicos muito mais expostos a imagens de todos os tipos, o ‘como’ se fotografa passou a ser tão importante quanto o ‘que’ se fotografa”.

 

 

Sobre o artista

 

João Paulo Farkas sempre esteve em contato com a fotografia. Após se graduar em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mudou-se para Nova York, onde estudou no International Center of Photography e na School of Visual Arts. Foi fotógrafo correspondente das revistas Veja e IstoÉ e também trabalhou como editor de Fotografia. Ganhou o prêmio ABERTE e Bolsa Vitae de Artes/Fotografia. Seus trabalhos fazem parte de importantes acervos e museus brasileiros e integram o acervo do ICP (International Center of Photography). Em 2015, 16 imagens do fotógrafo passam a integrar o acervo da Maison Européenne de la Photographie, em Paris.

 

 

De 24 outubro a 28 de novembro.

Uma viagem ao Japão

Situada no bairro Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, a Galeria Vilanova expõe “Somos Memória”, primeira individual da designer de interiores e fotógrafa carioca Ana Teresa Bello, com curadoria de Thomas Baccaro. Dividida em quatro séries – “Respiro e Silêncio”,” Pequenos Desvios do Olhar”, “Arquitetura da Luz” e “A Solidão de Cada Um” -, a mostra é composta por 15 imagens capturadas ao longo de uma viagem feita pela artista ao Japão, com paisagens urbanas intimistas, e cenas atemporais de um cotidiano muito distante.

 

 

“A memória é um recorte do mundo.”

 

Com esta definição, Ana Teresa Bello partiu para uma viagem solitária ao Japão, com o objetivo de fotografar seu projeto autoral “Somos Memória”, resultado de uma pesquisa da artista acerca da compreensão do tempo, do silêncio e do outro. Com este trabalho, Ana Teresa Bello também coloca em discussão o fato da maior parte da nossa memória estar, ao que tudo indica, gravada em nossos celulares e em redes sociais. “Muito me interessa o quanto o impulso de compartilhar na virtualidade, para legitimar uma experiência, arranca as pessoas de um senso de presença no real”, comenta. Reflexo de sua carreira paralela na área de Arquitetura, as imagens da artista ainda revelam uma preocupação com a harmonia das linhas e ângulos, e com a preservação da cena original, no enquadramento como foi clicada, sem pós-edição. Neste sentido, as imagens da artista revelam detalhes de uma experiência ímpar, seja dentro de um quarto incógnito, despido de qualquer traço nipônico, ou em cenas urbanas compostas de grafismo e desfoque, ou em retratos espontâneos, como a geisha “pós-moderna”, que anda pela rua isolada em seu smartphone, alheia a tudo.

 

Nesta primeira exibição individual, Ana Teresa Bello leva ao espectador uma Tóquio desacelerada, onde luz e sombra penetram silhuetas incomuns, nas fendas de uma arquitetura fria e brutal. Desta forma, “Somos Memória” oferece uma linha tênue entre a delicadeza da tradição e o espasmo da modernidade no Japão, em um processo de desbravamento do longínquo, do exótico e do misterioso. No fundo, a intenção da fotógrafa é dizer: “você é o lugar que habita, e você habita a sua própria memória, construída nesse lugar”. A coordenação é de Bianca Boekel.

 

 

De 20 de outubro a 14 de novembro.

Rogerio Reis na Marsiaj Tempo

A exposição individual de Rogerio Reis é o próximo cartaz na Marsiaj Tempo galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Serão apresentados dois trabalhos distintos mas que de uma forma irônica se relacionam intimamente com o Rio de Janeiro de hoje. Na galeria será exibido o trabalho “Microondas”, no qual o fotógrafo faz um relato de ações de violência que ele documentou.

 

No Anexo, serão mostradas as fotografias da série “Ninguém é de Ninguém”. Estes dois trabalhos mostram uma cidade partida, dividida entre a violência dos arrastões e a beleza estonteante de suas paisagens. Como já cantou Fernanda de Abreu: “Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”, nestes 10 anos que separam um trabalho do outro, de certa forma temos dois diagnósticos temporais da cidade, e tanto mudou… e tanto ficou na mesma..

 

 

“MICROONDAS, 2004″

 

Microondas é resultado da ressaca existencial, vivida por Rogerio Reis, devido a uma série de fatos que o aproximaram da barbárie: Tim Lopes foi assassinado, Marcelo Yuka virou cadeirante, e o fotógrafo, acompanhado de sua mulher, quase morreu num assalto seguido de disparo dentro do carro. Esses fatos o levaram a frequentar grupos de ação e reflexão sobre questões sociais como o Coletivo X com participação de ativistas e artistas como Yuka, Paulo Lins, alguns setores da polícia civil e moradores de favela .

 

Esse recesso criativo empurrou Rogerio para algumas rupturas formais como o desinteresse por quadros na parede , descoberta do chão como espaço expositivo, fotos documentais redondas, não mais quadradas e retangulares . “Microondas” são objetos em backligth com fotografias feitas em dois tempos: as coloridas são resultado de uma ação protagonizada por um amigo, vítima da violência da ditadura militar que, a pedido de Rogerio, incendiou pneus no alto de um morro. Já as fotos em preto e branco são testemunhais, cenas reais da experiência como repórter documentarista.

 

 

NINGUÉM É DE NINGUÉM, 2011- 2014

 

Uma crônica de hábitos e costumes de inspiração sensual e bem humorada. Aqui Rogerio encarna o personagem que criou, “Paparazi dos Anônimos” , que busca a liberdade para fotografar sem autorizações prévias e sem burocracia . Essa experiência gerou a “Cartilha de como tirar fotos espontâneas nas praias do Rio” onde inclui a frase de resistência que sustenta as suas ações e que vem do Banksy (artista de rua inglês): “ É sempre mais fácil pedir perdão do que permissão” . As tarjas utilizadas pela imprensa para proteger a identidade de menores e suspeitos remetem ao humor provocante do americano John Baldessari e dos primeiros mascaramentos com círculos flutuantes do húngaro Lászlo Moholy Nagy ( The Olly and Dolly Sisters, 1925). Um indivíduo com venda nos olhos pode estar protegido mas perde o poder de revidar o olhar, de produzir semelhanças e correspondências. Podemos nos divertir com uma sociedade que criou a propriedade da imagem no espaço público. Na ocasião, será lançado o livro “Ninguém é de Ninguém” , Edições de Janeiro e Olhavê.

 

 

De 17 de outubro a 14 de novembro.

O universo de Duval

14/out

A exposição “WASTHA – Universo imaginário de Fernando Duval” entra em cartaz – com curadoria geral de Antonio Torres Xavier – na Sala Multiuso do Marina Barra Clube, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. O artista que tem vida profissional com mais de cincoenta anos de atividades contínuas dentro e fora do país, é criador de incontáveis personagens que habitam um notável mundo paralelo contado através de inspiradas figuras que servem de imediata alusão à realidade cotidiana.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1937, em Pelotas, RS, Fernando Duval estudou inicialmente na Escola de Belas Artes de Pelotas. Aos 19 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde ingressou na turma de alunos comandados pelo pintor Ivan Serpa no MAM-Rio que ainda encontrava-se em construção e travou conhecimento com Aluísio Carvão, Fayga Ostrower e Edith Behring. Quando as vanguardas abstratas tomaram a cena artística brasileira, dividindo cariocas e paulistas, geométricos e informais, Duval influenciou-se pelas diferentes orientações, refletidas em uma fase marcada pelo uso do preto e branco. A seguir, passou a trabalhar com cores primárias em trabalhos mais figurativos e logo começou desenvolver seu universo fantástico. Primeiramente, em livros de edição única que mostrava apenas aos amigos. Após ter participado da 9ª Bienal do Mercosul em 2013, o artista lança um livro ambientado em seu universo, o Wasthavastahunn no qual narra (e ilustra) a história do Bivar, um animal que nunca foi visto.

 

 

De 18 a 25 de outubro.

Retorna a Lisboa

Depois de passar 30 dias na Residência Artística HS13rc entre fevereiro e março deste ano, o artista plástico Fábio Carvalho retorna a Lisboa para realizar a segunda fase do projeto de “intervenção urbana APOSTO”. Na primeira fase do projeto, o artista criou dois novos padrões de azulejos, a partir de fotos de peças da série “Delicado Desejo”. A série “Delicado Desejo” é composta por armas de fogo criadas a partir de um patchwork de diversas rendas.

 

 

Os novos padrões de azulejos foram impressos em papel, e depois aplicados em fachadas de prédios lisboetas onde os azulejos originais já estavam em falta, por deterioração ou roubo. Nenhum azulejo real foi encoberto pelos azulejos de papel do artista.

 

 

Além dos dois novos padrões de azulejo criados, em um caso particular Fábio Carvalho criou um padrão específico, “sob medida”, visando um maior diálogo entre o padrão original na fachada e o criado pelo artista. É exatamente este aspecto que será ampliado nesta segunda fase da da intervenção urbana “APOSTO”, batizada como “APOSTO 2.0”. O artista irá criar uma grande variedade de novos padrões para seus azulejos de papel, cada qual destinado a apenas um único padrão português original. Desta forma, cada fachada será completada com um desenho de azulejo desenvolvido especialmente para aquele prédio.

 

 

Além d”APOSTO 2.0″,  Fábio Carvalho levará para Lisboa a intervenção urbana “OCUPAÇÃO MONARCA”, iniciada em agosto deste ano no Rio de Janeiro. Em Lisboa, o lambe lambe da “OCUPAÇÃO MONARCA” também assumirá a forma de azulejo de papel, para ser aplicado em portas e janelas lacradas com cimento em imóveis abandonados, e em alguns casos específicos, como complemento às faltas de azulejos em fachadas.

 

 

Nesta intervenção temos como base a icônica imagem de um soldado em uniforme camuflado e armado com um fuzil, com asas de borboleta saindo de suas costas, que pode ser encontrada em uma variedade de outros trabalhos do artista, acompanhada de novos desenhos, todos advindos do universo militar: tanques de guerra, granadas, bombas, pistolas, facões, entre outras, ornamentados por uma variedade de flores. Esta série foi criada como uma referência aos azulejos de figura avulsa portugueses.

Patrícia Piccinini no CCBB/SP

“A evolução é uma história de extinções”, diz a artista Patricia Piccinini – e um passeio pelo Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, onde estão abrigadas agora as 41 obras de sua mostra “ComCiência”, que nos faz indagar sobre o futuro.

 

Interessada na relação entre o natural e o artificial, a australiana cria algumas de suas esculturas hiper-realistas de silicone como se fossem seres híbridos originados de experimentações genéticas – suas Metafloras (2015), por exemplo, assemelham-se a flores de pele e pelos. “A genética é uma aposta no escuro e Patricia fala muito sobre uma ética flexível”, define Marcello Dantas, curador da exposição, primeira individual da criadora no País.

 

De fato, esse é um tema pungente levantado em “ComCiência”, que também será apresentada em Brasília. Entretanto, é importante destacar que, principalmente, a artista questiona por meio de sua pesquisa na maneira como se dá o nosso confronto com a estranheza.

 

As peças escultóricas de Patricia Piccinini, que podem levar até 18 meses de execução, têm, curiosamente, uma delicadeza apesar do aspecto orgânico e de certas metamorfoses. As criaturas da australiana, realizadas em um estúdio em Melbourne que, abrigado em uma antiga fábrica, mais parece um “laboratório de efeitos especiais de cinema”, como conta Dantas, inspiram afeto mesmo que fiquem entre o humano, o animal e o surreal. “Crio situações nas quais o público é convidado a sentir empatia”, afirma a artista. Logo no hall do CCBB, A Grande Mãe (2005) representa uma macaca gigante que amamenta um bebê. Já em O Tão Esperado (2008), um menino e um estranho ser estão adormecidos. “Para que você durma com uma pessoa, você tem que realmente confiar nela”, comenta.

“A questão emocional é fundamental na minha obra porque é através da emoção que nos engajamos em algo”, explica Patricia. “Hoje em dia é muito difícil chamar a atenção das pessoas”, diz a australiana sobre o conforto que sente com o caráter espetacular de suas obras. “Eu poderia fazer um trabalho entediante para provar quão intelectual eu sou, mas não é esse o meu objetivo. Quero me conectar com as pessoas. Sou inclusiva e o mundo da arte é o oposto.”

 

Desenhista por formação, a artista, que nasceu em 1965 em Serra Leoa, mas vive na Austrália desde 1972, executa suas obras com a ajuda de um time de profissionais. “Trabalho com iluminadores, maquiadores, pessoas da indústria do cinema que conseguem traduzir os meus desenhos, que nascem da minha imaginação, para formas tridimensionais”, destaca Patricia, que também cria – e exibe em “ComCiência” – fotografias e filmes.

 

 

Até 04 de janeiro de 2016.

 

Fonte: Diário do Grande ABC – Cultura & Lazer

O caos na arte de Marcelo Gandhi

13/out

O universo caótico das grandes cidades, a globalização determinando novas relações entre as pessoas, a crise de representação que, sintomaticamente, atinge em cheio o homem urbano. Em meio a essas reflexões, nasce e se fortalece a arte do potiguar Marcelo Gandhi, cuja mostra individual, intitulada “Suco de Máquina”, poderá ser vista Roberto Alban Galeria, no bairro de

 

 

Ondina, Salvador, BA.  

 

A exposição será composta por, aproximadamente, 15 obras de médio a grandes formatos, entre desenhos sobre papel e sobre tela, um objeto em alumínio fundido, uma animação e projeções de alguns outros trabalhos. A mostra, como explica o próprio Marcelo Gandhi, é fruto de sua incursão, “rotineira e incessante”, pela cidade de São Paulo, onde passou a viver desde que saiu do Rio Grande do Norte há alguns anos.

 

“A partir das minhas relações e reflexões de estar numa metrópole complexa como São Paulo, o desenho foi assumindo um caráter mais cartográfico, caótico, evidenciando também a minha condição de nordestino, negro, árabe, assim como o meu posicionamento objetivo e subjetivo dentro dessa grande centrifuga”, define Gandhi.

 

A relação crítica e provocativa com a cidade, ainda assim, não elimina as possibilidades de um viés mais intimista e universal do artista diante do novo paradigma do mundo em rede, “onde não há mais lugar centralizador e, sim, vários pontos de disseminação e circulação de informação”.  Para Gandhi, seu trabalho artístico adquire a partir daí um perfil divergente dentro dessa grande rede: “Uso e abuso da repetição, da arte conceitual, da pop arte, resignificando, assim, uma cosmogonia particular no meio dessa gênese coletiva. Assumo que o corpo da minha obra é híbrido, misturado ..uma perfeita metáfora do Brasil com todas suas contradições e contundências”. Segundo ele, essa metáfora se traduz por interrogações que perpassam questões como signo, fronteira, gênero, política, economia, sociedade, sexualidade, espiritualidade.

 

Em desenhos, Marcelo Gandhi começou trabalhando com nanquim e papel, herança da sua formação universitária e ibérica, depois incorporou também telas e canetas coloridas e até pintura. “Tenho me colocado em experimentação, observando como a linha se comporta em outras superfícies e suportes. A cor, pra mim, surgiu de um esgotamento do uso do preto e branco e também da dinâmica de avanço inerente ao próprio trabalho, pois chega um momento em que o próprio trabalho diz pra onde você tem que ir ou o que deve fazer. A arte é um sistema vivo e dinâmico, um motor contínuo sem começo nem fim”, sintetiza.

 

 

Toy art e Walt Disney

 

O caráter questionador e estético da obra carregada de abstração de Gandhi é reconhecido pelo curador e crítico de arte Bitu Cassundé, que apresenta a mostra da Roberto Alban Galeria. Analisando sua trajetória, ele diz que os desenhos do artista adquiriram mais recentemente uma nova estruturação e são contaminados por eixos do universo dos toy art, dos ready mades de Marcel Duchamp, dos quadrinhos, do cinema e do ocultismo. “Impossível não citar também influências diretas como Walt Disney, Jeff Koons, bonecos Playmobil, Farnese de Andrade, Louise Bourgeois, H.R. Giger, Andy Warhol, Basquiat, etc.“, afirma.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Natal no ano de 1975, Marcelo Gandhi formou-se em arte-educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Transitando pela música, performance e desenho, foi selecionado  para a Bolsa  Residência EXO, do Itaú Cultural/ Ed. Copam, em São Paulo. Participou também, em 2006, do projeto Rumos, promovido pelo Itau Cultural em São Paulo. Em 2007, realizou a sua primeira individual na Pinacoteca do Rio Grande do Norte. Em 2012, integrou a exposição Metro de Superfície, no espaço Paço das Artes, na USP/SP. Algumas de suas obras pertencem a acervos como Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza (CE) e Pinacoteca do Rio Grande do Norte.

 

 

De 15 de outubro a 16 de novembro.

As Aventuras de Pierre Verger

09/out

O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, em parceria com a Fundação Pierre Verger, inaugurou a exposição “As Aventuras de Pierre Verger”. A mostra foi elaborada para possibilitar, inclusive ao público infanto-juvenil, a apreciação da obra do etnólogo e babalaô, reconhecido como um dos maiores nomes da história da fotografia no mundo.

 

Reunindo cerca de 270 imagens registradas por Pierre Verger em diversas partes do mundo,  destacando o cruzamento da fotografia com vídeos, tecidos artesanais de diferentes países e artes sequenciais (quadrinhos), a exposição marca a finalização do projeto Memórias de Pierre Verger, patrocinado pela Petrobrás e pela Odebrecht e que, por quatro anos, encampou a tarefa de duplicar digitalmente o valoroso acervo fotográfico da Fundação e de concluir o seu acondicionamento em condições adequadas.

 

A mostra que chega ao Museu Afro Brasil já foi exibida em Salvador, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), de março a maio de 2015, com um grande sucesso de público, recebendo mais de 30.000 visitantes.

 

A curadoria e coordenação é de Alex Baradel, responsável pelo acervo da Fundação Pierre Verger, é uma das mais completas realizadas pela instituição criada pelo próprio fotógrafo francês na Bahia, local que escolheu para residir depois de viajar pelo mundo registrando as expressões culturais e o cotidiano de diversos povos.

 

O público é convidado a “embarcar” numa instigante viagem que retrata as experiências vividas por Pierre Verger (Paris, 1902 — Salvador, 1996), em um século marcado pelo desbravamento de fronteiras e guerras mundiais.

 

 

Fronteiras

 

A exposição está dividida em nove módulos: Paris, Viagens, Polinésia, Saara, China, Peru, África, Projeto e Educativo. São cerca de 220 imagens expostas ao longo do circuito e outras 50 que integram os vídeos que compõem a exposição. Onze ilustrações do artista visual baiano Bruno Marcello (Bua) também acompanham a mostra, retratando o personagem Verger em diversos episódios e contextos vividos por ele.

 

A exposição se destaca também por explorar o paralelo entre a obra de Verger e As Aventuras de Tintim, histórias em quadrinhos editadas entre 1929 e 1983, bastante populares e que se tornaram clássicas graças ao apuro estético dos traços e aos roteiros bem elaborados pelo autor belga Georges Prosper Reni, mais conhecido como Hergé.

 

 

Até 30 de dezembro.

Os incríveis anos 60

A Pinacoteca Ruben Berta, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, exibirá a exposição “OS INCRÍVEIS ANOS 60 – britânicos na Pinacoteca Ruben Berta”, um verdadeiro tesouro escondido. Por ter sido poucas vezes mostrada na sua totalidade, e por não existirem telas com este perfil na maioria dos museus brasileiros, a exposição é uma rara oportunidade de apreciar o trabalho de artistas britânicos vistos como visionários nos anos 60, época culturalmente revolucionária.

 

A exposição apresenta peças criadas por nomes que no calor daqueles “anos incríveis” já haviam conquistado importantes lugares no mundo das artes como Graham Sutherland, John Piper, Kitaj e Alan Davie. Mas também de um artista, como Allen Jones, naquele momento apenas iniciando uma carreira que o tornaria, como os demais, uma referência da Arte Pop no mundo inteiro. Outros tantos, ao longo das décadas seguintes atuariam com trajetórias constantes, seja como professores, ou projetando-se no mercado de arte internacional, como Michael Buhler ou Mario Dubsky.

 

As linguagens destes trabalhos – consoantes com as profundas mudanças da sociedade dos anos 60 – influenciaram sucessivas gerações de brasileiros que miraram nestas expressões atuantes na Inglaterra. Estas obras que aportaram na capital do Rio Grande do Sul são representativas dos desdobramentos lírico, expressionista e informal da pintura e apontam para a consagração dos elementos pictóricos que compuseram a Arte Pop, em especial nos procedimentos gráficos desenvolvidos pela publicidade e pela propaganda.

 

A Pinacoteca Ruben Berta foi doada à Prefeitura de Porto Alegre em 1971 pelos Diários e Emissoras Associados, conglomerado pertencente à Assis Chateubriand. O magnata das comunicações empreendeu entre 1965 e 1967 a criação de cinco museus – entre eles a Pinacoteca Ruben Berta – instalados em diversas regiões do país. Um dos nichos destas coleções era formado por obras de artistas britânicos adquiridas em galerias londrinas obras de Alan Davie, Michael Buhler, Allen Jones, John Johnstone, Neville King, Bill Maynard, John Piper, Patrick Procktor, Graham Sutherland, Mario Dubsky e Peter Behan.

 

 

De 13 de outubro a 30 de novembro.

Wanda Pimentel na Frieze Masters

A artista brasileira Wanda Pimentel é um dos destaques da Frieze Masters, feira que reúne mestres da história da arte contemporânea, que acontece de 14 a 18 de outubro, no Regent’s Park, em Londres. Segundo o site da feira, Wanda Pimentel possui uma importante e reconhecida trajetória artística de quase 50 anos. Ela apresenta na feira  de Londres nove pinturas produzidas nos anos 1960.

 

No Brasil, o trabalho da artista pode ser visto no Rio de Janeiro, na Anita Schwartz Galeria, na Gávea, onde ela apresenta, até o dia 17 de outubro, a exposição

 

“Geometria/Flor”, ocupando todo o espaço expositivo da galeria com pinturas, desenhos e esculturas inéditas. Os trabalhos da exposição têm a ver com um processo iniciado pelo artista em 2011, de rever o passado.

 

“Esses trabalhos tem um tom dramático, têm a ver com as minhas memórias, mas, ao mesmo tempo, é uma saudação à vida, rompendo com tudo que já fiz. Vou dissecando lembranças e construindo novas memórias”, afirma a artista.