Mudança na Casa Triângulo

02/dez

Chama-se “Saideira”, a última exposição do ano na Casa Triângulo, Itaim Bibi, São Paulo, SP, com curadoria de Fernando Mota e que celebra a mudança de endereço da galeria com uma seleção de obras do acervo.

 

 

Sem caráter retrospectivo, a natureza curatorial da mostra é metafórica e não histórica. O fio condutor é o processo de transição, a passagem, o estado de metamorfose das coisas. Obras de artistas representados pela galeria compõem um cenário simbólico de mudança e construção. São trabalhos que através de um conceito e/ou uma estética visual específica apontam para uma sequencia evolutiva, o desenvolvimento de uma mutação. Ao final, transformam-se paisagens, objetos e pessoas. A relação entre eles acontece de forma sutil, como o amadurecer ao longo do tempo, alterando perspectivas e possibilidades de interpretação.

 

 

Artistas participantes: Albano Afonso, Alex Cerveny, assume vivid astro focus, Daniel Acosta, Daniel Lie, Dario Escobar, Eduardo Berliner, Flávio Cerqueira, Ivan Grilo, Joana Vasconcelos, Juliana Cerqueira Leite, Manuela Ribadeneira, Marcia Xavier, Mariana Palma, Max Gómez Canle, Nazareth Pacheco, Reginaldo Pereira, Rommulo Vieira Conceição, Sandra Cinto, Stephen Dean, Tony Camargo, Valdirlei Dias Nunes, Vânia Mignone, Yuri Firmeza.

 

 

Até 19 de dezembro.

Na Fundação Eva Klabin

Eduardo Berliner é o artista de “A presença da ausência”, na atual edição do “Projeto Respiração”na Fundação Eva Klabin, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ. Criado em 2004, o “Projeto Respiração” tem por objetivo criar intervenções de arte contemporânea no acervo de arte clássica da Fundação Eva Klabin. Com curadoria de Marcio Doctors, o projeto consiste em convidar artistas contemporâneos a intervirem no circuito expositivo da casa museu, criando uma ponte entre a arte consagrada do passado e as manifestações contemporâneas.

 

 

 

A presença da ausência

 

 

Esse texto tem sua inspiração conceitual na exposição “Ausência”, de Claudia Bakker, realizada na Fundação Medeiros de Almeida, Lisboa, em março de 2015.

 

 

[…] Se eu fosse um animal, seria provavelmente o macaco de tinta, descrito por Borges em seu livro dos seres imaginários. Assim como esta pequena criatura bebe o líquido restante em um tinteiro, devido ao prazer que sinto ao praticar caligrafia, muitas vezes paro apenas quando a tinta do reservatório se esgota. Também me identifico com a cruza entre gato e ovelha descrita por Kafka. Amistoso e inquieto, certas vezes, aos olhos de seu dono o animal parece clamar por alívio através da faca do açougueiro. Como se eu pudesse carregar em mim a ausência de cada perda. 1

 

 

 

 

Eduardo Berliner

 

 

Eduardo Berliner é o primeiro pintor a ser convidado a participar do Projeto Respiração. Parecia-me natural não convidar pintores devido às características da Fundação Eva Klabin, que, por ser uma casa-museu, tem suas paredes totalmente preenchidas pela coleção, não sobrando espaço físico para absorver mais pinturas. E por isso, tornou-se mais simples trabalhar com instalações.

 

 

Para além dessa constatação, há subjacente outra intencionalidade, presente nos dois projetos de longa duração que criei, o Respiração e o Espaço de Instalações Permanentes do Museu do Açude, na Floresta da Tijuca, que reflete minha formação ao lado de Mário Pedrosa e que norteia minhas opções como curador. Meu objetivo nessas duas propostas é o mesmo: dar continuidade à experiência da ruptura pós-neoconcreto – marco fundador da arte contemporânea no Brasil -, que, ao aproximar arte e vida, rompe radicalmente com o conceito de representação.

 

 

Como, então, convidar um pintor, para quem a questão da representação ainda se coloca, mesmo que de outra maneira? Em razão da forte atração que sinto pela qualidade da pintura de Berliner, que mobiliza minha percepção, acreditei que deveria dar atenção à minha intuição e pensei que a experiência de um pintor participar do Respiração seria uma contribuição importante para o projeto, ao mesmo tempo em que me daria a oportunidade de explicitar a mim mesmo os limites do meu pensamento a partir do desafio que a potência de sua obra me propõe, buscando evidenciar questões de seu trabalho que vão para além da representação.

 

 

A pintura de Eduardo Berliner trabalha com a técnica da “colagem”, como percebeu Daniela Labra, no primeiro texto produzido sobre o artista, em 2008: As técnicas utilizadas na composição das obras são diversas, indo desde o desenho de observação minucioso até a colagem. Esta última, porém, é percebida como mote conceitual da produção total de Berliner. Recortes são justapostos a lastros de memórias e estes são semiencobertos por camadas de tintas, de lápis, de outros recortes, de espaços vazios. 2

 

 

Labra, tem razão, a colagem pode ser vista na obra de Berliner como o mote conceitual de sua produção. Eu a relaciono, num primeiro momento, como resultado da proliferação de imagens da realidade do mundo digital, que cria um estado de confluência de forças das mais diferentes origens, possibilitando, para a pintura, a construção de imagens que vão além da história da pintura, ao inseri-la no cruzamento de diferentes formas de expressão e informação, replicando, em certa medida, um dos conceitos do Respiração, que propõe intervenções a partir da ideia de espaços contaminados. Em outras palavras, espaços que já vêm carregados de diferentes camadas de informação, até mesmo conflitantes, como é o caso da Fundação Eva Klabin – uma casa e um museu -, que tem obras de diferentes períodos históricos convivendo numa mesma sala, que conserva a presença ausente de sua fundadora, fazendo com que seja um museu de uma vida, tornando presente, em cada visitante, fragmentos de memória de uma existência não convivida, com seus desejos, conflitos, dúvidas e sonhos. Cruzamento de memórias, de informação e de diferentes áreas de conhecimento e de formas de expressão aproximam a pulsão fundadora do Respiração e as imagens “superpostas” da obra de Berliner, que faz com que sua pintura não tenha qualquer sentimento fetichista ou nostálgico. 3

 

 

Porém, na medida em que fui convivendo com o artista e com a sua riquíssima produção, fui percebendo que a origem da “colagem” na sua obra teria outra dinâmica e preencheria talvez outra função, apesar dela ser evidente e de nos saltar aos olhos, e apesar do fato de o próprio artista e os que escreveram sobre sua pintura se referir à colagem ou à edição de imagens como uma prática constante na sua criação. Mas como em todo pensamento há rachaduras, minha reflexão sobre o tema foi penetrando nesses espaços vazios e fui me questionando, à maneira de Merleau-Ponty, se não seria graças às colagens e não apesar delas que poderíamos nos aproximar não do que elas mostram – do que nelas está evidente -, mas do que está implícito nessa fabulação imagética. Em outras palavras, o que me interessa é desmontar o brinquedo para ver como ele funciona, tronando visível o processo de sua geração. Acredito que esse procedimento nos ajudará a perceber o diagrama (para usar uma expressão foucaultiana), que permite trazer à superfície do entendimento o visível e o dizível da obra de Berliner. Se conseguir chegar a bom termo, acredito que perceberemos que a potência de sua obra está na maneira singular com que aborda a “colagem”, muito reveladora dos procedimentos da arte da atualidade.

 

 

Suas “colagens” não são como o papier collé do cubismo sintético ou das colagens de Matisse (não há nelas nenhuma preocupação estetizante); não são uma visão de composição por fragmentos; não são justaposição de imagens como ocorre nas telas dos computadores; nem tampouco são imagens oníricas ou inconscientes como nas pinturas surrealistas, mas há algo nelas que as aproximam da pulsão das obras de Magritte e Millet, que reveste a realidade com silêncios suspensos e situações ensimesmadamente estáticas, que nos indicam o vazio da presença da ausência; ou ainda, da pintura de Courbet, na sua apreensão direta da realidade, como nos indica Alcino Leite Neto 4, no seu texto “A pintura inquietante de Eduardo Berliner”. As imagens de Berliner são imagens sonambúlicas de uma realidade surpreendente e inquietante, que contêm todos os indícios da realidade. Por vezes são bem-humoradas, mas, muitas das vezes, trazem o prenúncio de acontecimentos, como se estivessem em suspensão, aguardando a ocorrência de uma situação trágica ou íntima por vir.

 

 

Ainda na tentativa de desmontar o brinquedo para ver como ele funciona, fui levado a refletir sobre o museu dos acidentes idealizado por Paul Virilio, cuja proposta era reunir registros da memória dos diferentes tipos de acidentes produzidos pela sociedade contemporânea. Acredito que essa reflexão poderá nos ajudar a pensar a questão da “colagem” de uma maneira diferente. O que é, para mim, a estética do acidente? É a proliferação de imagens que nos bombardeiam cotidianamente (que nos atrai e nos horroriza) em que nos confrontamos com todo tipo de destruição resultante da violência produzida pela guerra, pelo trânsito, pelos conflitos pessoais, pelas intempéries da natureza. A característica fundamental dessas imagens é que, como dois corpos físicos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, o resultado visual é uma imagem de um corpo físico sendo atravessado por outro.

 

 

Imaginemos um carro que se choca contra uma árvore. A imagem resultante é um híbrido entre uma estrutura maquínica e uma estrutura orgânica, que não é nem mais carro nem mais árvore. É um terceiro estado em que a composição é dada pela falta de partes de cada um dos elementos que a compõem. É uma imagem em que a presença da ausência de partes do carro e da árvore se dá por subtração e não por soma, como ocorre na colagem. Podemos imaginar, então, que essas imagens são o resultado de estados híbridos e metamorfoseantes, como se estivesse sendo gerada uma “terceira natureza”, cuja matriz é a falta tornando-se presente. Para clarear melhor a questão, gostaria de citar a resposta dada por Berliner em uma entrevista realizada por Wang Fang, em 2013, para a revista Art World China, quando perguntado como ele tratava a relação entre o humano e o animal:

 

 

Assim como para muitas crianças, meu primeiro contato com a morte se deu através de um animal querido. O cachorro que considerava meu, um grande fila brasileiro dourado, teve câncer e precisou amputar a pata traseira. A caminho do veterinário minha mãe tentou explicar o ocorrido, mas ao ver o animal tive minha primeira lição no que diz respeito ao abismo existente entre a compreensão oral de um fato e a coisa em si. Quando vi o animal enorme sem a pata de trás, não consegui acreditar nos meus olhos. Pensando com distanciamento, percebi que talvez esta tenha sido minha primeira experiência visual com a ideia de colagem. O poder da ausência e a violência do corte. Onde havia perna, restou uma área desprovida de pelo e uma cicatriz desenhada com linha cirúrgica preta. 5

 

 

O que me chama a atenção nesse depoimento é o fato de Berliner declarar que essa talvez tenha sido sua primeira experiência visual com a ideia de colagem e que ela esteja relacionada exatamente com o poder da ausência e não com o poder da presença. Em outras palavras, a colagem para o artista não é provocada pelo que é adicionado, como no papier collé, por exemplo, mas pelo que desaparece quando uma imagem é interceptada por outra; tal como em um desastre, em que a imagem do mundo físico é reconfigurada pelo que foi perdido ou pela presença da ausência do que era antes, criando uma polifonia de imagens que dá expressão à forma como metamorfose.

 

 

Outro dado importante desse depoimento é quando ele menciona o abismo entre a compreensão oral de um fato e a coisa em si. Esse vazio é responsável por impulsionar a imaginação criadora e a enorme capacidade de fabulação do artista. De fato, existe esse abismo, que Foucault apresenta como uma irredutibilidade entre as palavras e as coisas. Imagens e palavras não se comunicam diretamente entre si, como tendemos a imaginar, mas, ao contrário, uma não pode ser reduzida a outra; são como duas pedras que ao se chocarem provocam uma centelha, que nos ilumina a realidade. Portanto, por haver um gap entre o mundo das palavras e o mundo das imagens, o não dito pelas palavras é expresso nas coisas do mundo, assim como o que é silenciado pelas ações e pela materialidade do mundo é expresso pelas palavras. Apesar de não ser possível reduz\ir uma a outra, só percebemos o diagrama sobre o qual a realidade se sustenta quando fazemos ver por meio das palavras e quando conseguimos ler as coisas e suas imagens. Essa conjunção é que permeia e o que agencia o sentido de uma época.

 

 

No caso de Berliner é a consciência da intransponibilidade entre o dizível e o visível (entre a compreensão oral e a coisa em si) que fará que ele busque outra sintaxe visual, cuja narrativa vai impregnar a imagem não mais pela ideia da forma como fôrma, mas através da forma que se transmuta constantemente pela metamorfose. Suas pinturas são guiadas por um olhar que procura nos apresentar a imagem na sua incompletude, tal como a percebemos, pela simples razão que uma imagem esconde sempre o que está por detrás dela. Suas pinturas, então, não usam, de fato, o artificio tradicional da colagem, mas nos apresentam aquilo que realmente vemos quando vemos. Isto é, uma imagem encobrindo a outra. Ao apresentar a imagem dessa forma, ele nos indica a radicalidade da intransponibilidade entre as palavras e as coisas. São puras associações imagéticas que não permitem a entrada da palavra como costura de sentido. Ele nos apresenta pela sua pintura a radicalidade do visível e é por isso que elas têm essa aparência de realidade fantástica.

 

 

Quando percebi que a questão de Eduardo Berliner na pintura era a radicalidade do visível, entendi, então, o que me atraía na sua obra: diante da realidade e do real não há recuo possível. Não há metafisica transcendente. Essa questão me é muito próxima na medida em que eu acredito que a potência da arte resida nesse fato. Foi isso que a ruptura pós-neoconcreto nos trouxe. Em outras palavras, a arte é em potência; não representa nada: é expressão da radicalidade do real, que é a via que temos para nos aproximar do caos, que é o magma que alimenta a poesia: pura metafisica imanente.

 

 

A Fundação Eva Klabin foi um território fértil para o trabalho que Eduardo Berliner pôde realizar no Projeto Respiração. A possibilidade de atravessamentos de tempos e imagens permitiu que seu olhar fosse descobrindo incessantemente novas formas que iam sendo formadas pela metamorfose que seu olhar é capaz de construir, erigindo uma polifonia de imagens que ressoam ao longo do percurso de sua intervenção. Nenhum artista conseguiu aproximar-se tão intensamente da história das imagens que é apresentada pela coleção. Percorrer a exposição de Berliner é rever os múltiplos detalhes do acervo que nos passam despercebidos. O que apresenta nessas pinturas e esculturas são extrações e afecções da coleção ou remissões a outras obras já realizadas, que são memórias despertadas pela sua intensa convivência com o acervo da Fundação Eva Klabin. É incrível poder percorrer o circuito expositivo da fundação através de sua experiência e ver como as obras são transmutadas em novas formas que podem nos revelar, no mais singelo vaso, uma violência avassaladora ou ainda nos surpreender com a familiaridade de animais, que descobrimos estar espalhados nos desenhos dos tapetes, ou personagens das pinturas que retornam em um novo contexto.

 

 

Poderia me estender longamente sobre como os “encobrimentos” e as “revelações” do artista estabelecem relações polifônicas com o acervo, criando um território de metamorfoses; mas acredito que o mais importante é percorrer sua intervenção nos permitindo ser atentos, assim como ele foi, ao visitar várias vezes a fundação, e permitir-se simplesmente ver. A maior potência do seu trabalho é seu poder arrebatador de nos lançar diretamente em contato com a crueza do visível. Essa maneira direta de relacionar a imagem ao visível abafa a representação no que ela tem de desviante da intensidade do caos, que é o que permeia a apreensão poética do mundo, e nos permite atravessar a realidade e descobrir que o mistério é transparente – lembrando Octavio Paz – e, por isso mesmo, ele é a própria realidade manifesta. Por essa razão não há representação, ou melhor, tudo é expressão. Esse é o fulcro que me interessa na arte e Berliner consegue manifestá-lo ao criar uma sintaxe visual que não se sente tributária às palavras porque, como nos indica Daniela Labra, ele manifesta uma “[…] vontade consciente de desafiar novas possibilidades na difícil prática de retornar à pintura para conseguir tocar no mundo”. Eu acrescentaria: a difícil tarefa de tocar na realidade através de imagens que carregam consigo a presença da ausência.

 

 

 

Marcio Doctors

 

 

1 – Entrevista dada a Wang Fang. Publicada na revista Art World China, 2013; 2 – LABRA, Daniela. “Colagens”. Texto de parede da exposição realizada na Galeria Durex, São Paulo, 2008; 3 – LEITE NETO, Alcino. A pintura inquietante de Eduardo Berliner. In: Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça artes plásticas, 2009/10: mostra itinerante, Brasília, 2011, p. 44-48; 4 – Alcino Leite Neto indica que, para sua surpresa, a obra de Berliner aproxima-se da de Courbet e dos pintores realistas do século XVIII. Concordo com ele e eu destacaria o fato de que essa aproximação denota que, assim como os realistas estavam interessados naquilo que há de radical nas temáticas da realidade social do povo, Berliner está interessado na radicalidade da realidade visual. Retomo essa questão mais adiante; 5 – Entrevista dada a Wang Fang. Art World China, 2013.

 

 

 

Até 31 de janeiro de 2016.

 

Exposição de Amelia Toledo

01/dez

Um dos principais nomes da arte brasileira da geração dos anos 60, Amelia Toledo integra o elenco de artistas que soube conjugar a paixão pelas formas, traduzida em múltiplas linguagens, como a pintura, o desenho, a escultura e o design de joias, com a inquietação pelo pensamento, no qual atuou como docente nas principais universidades do país. Para destacar a sua importância, e homenagear a artista de 89 anos de idade, a Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, abre no próximo dia 05 de dezembro – sábado -, ás 10h, exposição individual com o nome da artista. Na seleção, o destaque é a recente produção dos últimos 20 anos de Amelia Toledo, incluindo a série de pinturas iniciadas no ano de 1993.

 

 

Percorrendo em sua trajetória um caminho “interiorizado e solitário”, Amelia Toledo não se encaixa, a priori, em nenhuma vanguarda artística. O seu trabalho, apesar da consonância com as questões e temáticas abordadas em um circuito internacional, converge para uma preocupação com o duplo do controle formal e a intuição. Esta tarefa pôde ser traduzida, ao longo dos anos, na busca do uso de materiais como plásticos, bolhas de espuma, águas coloridas, chapas de aço, nos orgânicos e nas telas com saturações e vibrações de cores.

 

 

Na individual da Galeria Marcelo Guarnieri, Amelia Toledo utiliza recursos naturais em diálogo com materiais industriais, o fio condutor que aproxima os trabalhos é a natureza. Em cinco obras: “Bambuí” de 2001/2015, “Dragões Cantores”, de 2007, “Impulsos”, de 2000-2015, “Da cor da corda”, de 2014 e “Horizontes”, de 1993-2015, a liberdade de expressão se traduz na multiplicidade dos meios de discurso e apresentação das formas, com instalações, esculturas e pinturas.

 

 

Destaques para as instalações “Bambuí” e “Da cor da corda”. Na primeira, a obra é composta por pedras brutas e polidas e uma bobina de inox que ocupará parte do espaço da galeria. A placa tem uma forma sinuosa e reflexiva que faz com que as pedras que estão espalhadas pelo espaço se multipliquem de forma distorcida. “Bambuí” também é o nome de uma região em Minas Gerais onde são encontradas as pedras utilizadas na instalação, mesma região onde a milhões de anos atrás existia mar. Em “Da cor da corda”, cordas na cor azul suspensas numa parte da galeria, convidam o público a passar entre elas, e adentrar um segundo ponto do espaço. A instalação tem uma proximidade com as pinturas da artista, uma vez que trabalha com cordas de algodão impregnadas com resina acrílica e pigmentos com tonalidades distintas, criando assim uma espécie de pintura no espaço. Iniciadas em 1993, a série “Horizontes”, pinturas em acrílica sobre tela, exibem um horizonte sugerido pelo encontro entre as cores, ora saturadas e ora esmaecidas.

 

 

As esculturas “Dragões Cantores” e “Impulsos” serão exibidas conjuntamente. Em “Dragões”, pedras em estado bruto e esculpidas pelo impacto causado pelas ondas do mar, dialogam com o concreto bruto. “Impulso” é composto por pedras parcialmente polidas, como quartzo, ametista e calcita.

 

 

 

Sobre a artista

 

 

Escultora, pintora, desenhista e designer. Em 1958, frequentou a London County Council Central School of Arts and Crafts, em Londres. De volta ao Brasil, em 1960, estuda gravura em metal com João Luís Oliveira Chaves, no Estúdio/Gravura. Obtém, em 1964, o título de mestre pela Universidade de Brasília – UnB. Lecionou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie e na Faculdade Armando Álvares Penteado – Faap, em São Paulo, e na Escola de Desenho Industrial – Esdi, no Rio de Janeiro.

 

 

 

De 05 de dezembro de 2015 a 23 de janeiro de 2016.

 

 

Haverá um período de recesso entre 23 de dezembro de 2015 a 10 de janeiro de 2016.

 

Bruno Borne na Mamute

27/nov

Finalizando o ciclo de mostras individuais de 2015 a Galeria Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 04 de dezembro a exposição “A E O”, do artista visual Bruno Borne. Sob a curadoria de Luísa Kiefer, a mostra apresenta três videoinstalações inéditas, concebidas especialmente para o espaço da galeria. Trabalhando com site-specific, o artista utiliza o próprio espaço expositivo como objeto central de suas proposições.

 

Em “A E O”, cada vogal deu origem a uma videoinstalação distinta que, por sua natureza, se encontram e se misturam no ambiente. Partindo das formas geométricas correspondentes às letras, o artista desenvolveu três projeções que reproduzem virtualmente o ambiente da sala em que estão instaladas.

 

A experiência do espectador é ainda instigada pelo som que emana de cada obra e toma o ambiente como um todo. Utilizando programas de computação 3D e misturando jogos de espelhos virtuais e reais, o conjunto de obras de Bruno Borne é um convite para adentrar um labirinto no qual a imagem e o espaço expositivos parecem se reproduzir infinitamente, sempre um dentro do outro, sem nos deixar muitas pistas do que é real e o que é virtual.

 

 

 

 

A palavra da curadora Luísa Kiefer

 

A E O, de Bruno Borne

 

Perder-se na contemplação de uma obra de arte é um exercício de escolha. Precisa ser um ato deliberado, uma decisão. Certo é que pressupõe disponibilidade. Para se entregar a este mundo que mistura real e virtual, é preciso estar livre da censura guardiã da lógica. Também não é fácil achar tempo para a contemplação em um mundo que mede o tempo em segundos ou em suas frações. A exposição A E O, de Bruno Borne, é, neste sentido, um convite: pare, olhe, desfrute sem medo de se perder.

 

Com sua obra site-specific, criada para e a partir do ambiente em que é instalada, Borne intima o público a mergulhar em três videoinstalações que retratam o próprio espaço expositivo da galeria, provocando um diálogo complexo e labiríntico entre espaço, obra e imagem. Ele utiliza programas de computação gráfica, que geram modelos 3D, para reconstruir virtualmente as salas da galeria. A partir dessa simulação é que começa o jogo e o convite para perder-se em sua obra. Espelhos reais e virtuais multiplicam o ambiente projetado, criando metaimagens que se reproduzem em looping, sem deixar muitas pistas do que é reflexo e o que é simulação.

 

Partindo das formas geométricas correspondentes às letras que dão nome à mostra, as três projeções, pensadas cada uma como uma obra independente, formam, ao mesmo tempo, um conjunto, misturando-se e complementando-se. Acompanhadas por um som ambiente que se diferencia ao nos aproximarmos de cada trabalho, A E O transforma o ambiente da galeria em obra, incorporando e transformando o entorno – e a própria presença do espectador – em imagem.

 

Diante do conjunto da exposição, cabe ao espectador decidir se aceita, ou não, o convite para perder-se na imagem e, assim, descobrir o seu poder de contemplação.

 

 

Sobre o artista

 

Bruno Borne nasceu em Porto Alegre, RS, 1979. É mestre em Poéticas Visuais pelo PPGAV/UFRGS e graduado em Artes Visuais e em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS. Realizou exposições individuais no MACRS e Galeria Lunara em Porto Alegre. Em 2014 foi prêmio adquisição no 43º Salão Paranaense. Em 2013 premiado no 2ª Prêmio IEAVI/RS, em 2011 recebeu o VI Prêmio Açorianos de Artes Plásticas na categoria Destaque em Mídias Tecnológicas. Tem obras nos acervos públicos do MACPR, MACRS e das prefeituras de Porto Alegre e Santo André.

 

 

Dobre a curadora

 

Luísa Kiefer nasceu em Porto Alegre, 1986. Doutoranda em história, teoria e crítica de arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes, UFRGS, é mestre pelo mesmo programa e jornalista pela PUCRS. Em sua tese de doutorado pesquisa a fotografia na arte contemporânea.

 

 

 

Até 05 de fevereiro de 2016.

Fernando Lindote no MAR

Por meio da trajetória de Fernando Lindote, a exposição “Fernando Lindote: trair Macunaíma e avacalhar o Papagaio”, com cerca de 180 obras explora o constante procedimento mórfico experimentado pelo artista. As distorções, deformações e transformações que compõem o processo da permanente metamorfose das linguagens estão presentes em toda a trajetória de Fernando Lindote. Com curadoria de Paulo Herkenhoff e cocuradoria de Clarissa Diniz e Leno Veras, a exposição, composta por quatro núcleos, traz desenhos, ilustrações, pinturas e esculturas do acervo e autoria de Lindote – incluindo obras criadas exclusivamente para a exposição no MAR – e também assinadas por outros artistas, como J. Carlos, Albert Eckhout, Victor Brecheret, Maria Martins, Glauco Rodrigues, Rivane Neueschwander além de obras, objetos, impressos e documentos.

 

O ponto de partida da mostra é o início da experiência de Lindote como aluno do cartunista Renato Canini – principal ilustrador brasileiro do Zé Carioca, o papagaio da Disney. A ave com as cores do Brasil – criada em 1942, quando os Estados Unidos buscavam ampliar o poder simbólico de políticas culturais e de diplomacia com a América do Sul – foi muito importante na carreira de Lindote e permeia até hoje sua obra, sendo constantemente revisitada e reinventada, assim como outros personagens estrangeiros com forte entrada na América Latina. As operações mórficas realizadas por Lindote no papagaio – e também por outros nomes – realizam um diálogo com o imaginário constituído desde a chegada do Europeu em nosso continente, o que originou alegorias da América, simbologias do Brasil e representações do Rio de Janeiro. A obra do artista que nomeia a exposição aponta a profunda relação da arte brasileira com a iconografia estrangeira que sempre debruçou seu olhar sobre a natureza tropical.

 

O primeiro núcleo apresenta o início da trajetória de Fernando Lindote nas artes focando na relação entre o artista e Renato Canini. Para contextualizar, a exposição também traz ilustrações de nomes como J. Carlos, Rivane Neueschwander, Glauco, Cláudio Tozzi, assim como exemplares de gibis do Zé Carioca, revista Cacique e O Pasquim. A segunda parte foca na biodiversidade presente nas representações da natureza dos trópicos, tendo o papagaio como um dos símbolos nacionais. O núcleo mostra as relações entre os imaginários dos nativos e dos colonizadores em relação à biodiversidade com obras de Lindote, Francisca Manuela Valadão, Albert Eckhout, Sérgio Allevato, Milton Guran, Ana Miguel e porcelanas Art Déco.

 

O terceiro módulo é composto por um grande número de obras produzidas por Lindote nos anos 1990 e 2015, principalmente, e que abordam a operação mórfica como procedimento plástico do artista, formador de um universo composto por escorrimentos e viscosidades. Completam esta terceira parte trechos do filme Saludos, amigos (Disney, 1948). A construção do imaginário da diversidade cultural através de representações do Rio de Janeiro conceitua o último núcleo. As obras aqui – além de bibelôs, cartões postais, tecidos, fotografias e personagens ícones do Rio e do Brasil – discutem o modo como a cidade foi usada na era das culturas de massa, consolidando-a como um espaço reconhecido internacionalmente por sua capacidade de configurar símbolos plásticos e gráficos.

 

A mostra “Fernando Lindote: trair Macunaíma e avacalhar o Papagaio” ocupará o térreo do Pavilhão de Exposições do MAR. Para marcar a abertura, às 11h acontece a Conversa de Galeria com a participação de Fernando Lindote, Paulo Herkenhoff, Clarissa Diniz e Leno Veras.

 

 

De 1º de dezembro a 24 de abril de 2016.

Esculturas de Beatriz Milhazes

25/nov

Até o final do mês a James Cohan Gallery apresenta a individual de Beatriz Milhazes, “Marola” – a quinta da artista na galeria nova-iorquina. Com nove pinturas e duas esculturas, a exposição vem na sequencia do sucesso da retrospectiva “Jardim Botânico”, que ocupou recentemente o Perez Art Museum de Miami.

 

Inspirada, em parte, pelos carros alegóricos do carnaval carioca, Beatriz criou cortinas em cascata de flores de poliéster, hastes de aço inoxidável e esferas, incluindo algumas grandes em alumínio ricamente pintadas com seus florais coloridos típicos, além de outros elementos pintados à mão. “eu não queria que elas se tornassem móbiles; por isso ocupam todo o percurso até o chão”, explica a artista.

 

As duas esculturas representam um novo e importante desenvolvimento na trajetória consolidada de Beatriz Milhazes. Elas evoluíram a partir de um projeto de design que a artista criou para a companhia de dança moderna de sua irmã e empregam estratégias que remetem às suas pinturas, como as superfícies em camadas que revelam e ocultam padrões subjacentes, trazendo sua aclamada dialética de cor e movimento agora para a tridimensionalidade.

 

Fontes: James Cohan Gallery, Whitewall Magazine, Artnet, Touch of class.

Fotografia de moda

24/nov

A Luste Editores promove o lançamento do livro “Quadros de Moda – Fotografia Contemporânea na Moda Brasileira”, com curadoria de Graziela Peres, Paulo Martinez e Waldick Jatobá, dia 26 de novembro, quinta-feira, às 19h, na Livraria Cultura, no Shopping Iguatemi São Paulo, Jardim Paulistano. No intuito de criar uma reflexão sobre o tema proposto, a publicação reúne trabalhos de 29 fotógrafos, atuantes e de extrema relevância na construção da indústria de moda no país, e aborda o lado artístico na realização das imagens, destacando o olhar preciso do artista em seu processo criativo.

 

Deixando de lado a sedução dos elaborados editoriais de moda, os profissionais Graziela Peres, Paulo Martinez e Waldick Jatobá se unem para a criação deste projeto pioneiro, um compêndio de fotografia de moda brasileira, sob a perspectiva do fotógrafo como artista. “Artista esse cuja missão primordial, e ao mesmo tempo misteriosa, é a de obter a impressão real do movimento, que está sempre relacionada com a dinâmica cotidiana”, comentam os curadores. Após inúmeras reuniões e uma pesquisa aprofundada e criteriosa em acervos que contemplam mais de 5 mil imagens, surgiu a publicação impar com o padrão de qualidade da Luste Editores. Além das obras mais icônicas de cada fotógrafo, o livro ainda conta suas trajetórias, experiências e “marcas registradas” na hora de capturar as cenas. Citando alguns nomes que compõem este poderoso time de artistas com imagens publicadas: André Schiliró, Bob Wolfenson, Daniel Klajmic, Felipe Morozini, Gui Paganini, Isabel Garcia, Jacques Dequeker, Klaus Mitteldorf, Renato de Cara e Vicente de Paulo, entre vários outros.

 

Ao evidenciar a linguagem artística de cada fotógrafo, “Quadros de Moda – Fotografia Contemporânea na Moda Brasileira” oferece uma gama de imagens que transcende a eficácia de textos e conceitos teóricos, uma vez que tais fotografias relatam, por si só, as mudanças culturais e de comportamento, bem como os momentos históricos e rupturas sociais ocorridos no Brasil – vistos, aqui, sob uma ótica por trás das grandes criações, editoriais e desfiles. Nas palavras de Luciane Fransciscone, gerente geral de marketing das Lojas Renner, apoiadora do projeto: “E qualquer semelhança com a arte não é mera coincidência. O fotógrafo extrai do momento sua própria obra, a partir de um olhar particular e delicado para as muitas possibilidades a sua frente. Escreve sem lápis e papel: basta um clique”.

 

Fotógrafos: Andre Schiliró, André Passos, Bob Wolfenson, Claudia Guimaraes, Cristiano Madureira, Daniel klajmic, J. R. Duran, Fabio Bartelt, Felipe Morozini, Fernado Louza, Gil Inoue, Gui Paganini, Gustavo Zylbersztajn, Henrique Gendre, Isabel Garcia, Jacques Dequeker, Klaus Mitteldorf, Marcelo Gomes, Marcelo Krasilcic, Marcio Simnch, Murillo Meirelles, Nicole Heiniger, Paulo Bega, Paulo Vainer, Renato de Cara, Rogério Cavalcanti, Tiago Molinos, Vavá Ribeiro, Vicente de Paulo.

Individual de Jac Leirner

Chama-se “métrica mínima”, a exposição individual de Jac Leirner no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda, São Paulo, SP. A artista paulistana exibe um inédito corpo de trabalho, criado com jogos de sudoku que ela resolveu e colecionou ao longo de meses. Todas as obras se desenvolvem a partir do seu esforço de dar forma a processos abstratos como lógica, raciocínio e, em especial, a passagem do tempo.

 

Na série “métrica mínima”, exposta pela primeira vez na Bienal de Sharjah deste ano, a artista emprega estratégias íntimas da sua produção como acúmulo e reordenação, além de alternâncias entre alta e baixa cultura. O pensamento matemático inerente ao passatempo é traduzido através do rigor formal de Leirner, que dispõe os jogos sobre telas lineares de linho, separados por grupos de 9 ou de seus múltiplos (18, 27 e assim consecutivamente). As obras se assemelham a réguas, denotando seu interesse por medir o tempo – ou, mais especificamente, o tempo dedicado na resolução dos jogos. Pequenas variações na altura das telas acompanham o formato dos sudokus e ao mesmo tempo estabelecem uma noção de ritmo para os trabalhos.

 

As demais obras da exposição refletem o empenho da artista de esgotar as possibilidades plásticas do novo material, utilizando bordas, restos e impressões resultantes da prática do sudoku. Em “Números”, por exemplo, Leirner faz monotipias com papel carbono, decalcando a resolução dos jogos para outra superfície. Diferente das peças sobre linho, aqui os dígitos estão livres das grades quadradas e espalham-se aleatoriamente pelo papel, gerando áreas de concentração.

 

Em outro desdobramento, a artista cria colagens com tiras coloridas de jornal extraídas da seção de quadrinhos dos periódicos. O processo decorre do ato de recortar o sudoku, resultando em formas abstratas e jogos de palavras alinhados à tradição da poesia visual. É o caso de “Ilustração para um poema”, repleta de cortes retangulares, e também de “Free Style”, com cortes irregulares. “Nível Fácil, Nível Médio e Nível Difícil” seguem a mesma lógica construtiva e sintetizam a dificuldade dos jogos através de soluções formais.

 

Cada gesto da ação principal de completar e recortar o sudoku ganha contornos meditativos, como se a ação rápida e semi-inconsciente do cotidiano recebesse uma atenção redobrada, uma concentração máxima. As ações do atelier se tornam transparentes nas obras finalizadas: acertar ou errar, escrever ou rabiscar, recortar e reorganizar definem tanto estes trabalhos como o material de que são feitos.

 

 

Sobre a artista

 

Jac Leirner nasceu em São Paulo em 1961, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: Funciones de una variable, Museo Tamayo (Cidade do México, 2014); Pesos y Medidas, CAAM (Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, 2014), Hardware Seda – Hardware Silk, Yale School of Art (New Haven, EUA, 2012); Jac Leirner, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2011). Seu extenso currículo de exposições inclui ainda participações em: Bienal de Sharjah (2015), Bienal de Istambul (2011), Bienal de Veneza (1997 e 1990), Documenta de Kassel (1992), Bienal de São Paulo (1989 e 1983). Sua obra está presente em diversas coleções importantes ao redor do mundo, como: Tate Modern (Londres), MoMA (Nova York), Guggenheim (Nova York), MOCA (Los Angeles), Carnegie Museum of Art (Pittsburgh, EUA), MAM (São Paulo), entre outras.

 

 

Até 22 de janeiro de 2016.

Simon Evans na Fortes Vilaça

A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta “Interior Design”, a segunda exposição individual de Simon Evans no Brasil. O artista britânico exibe trabalhos inéditos que reafirmam sua linguagem única, reconhecida por elaboradas colagens com fragmentos de papel, textos e imagens. O caráter obsessivo de suas composições mescla-se com o universo doméstico, evocado pelos objetos de sua casa e pelo interesse em materiais têxteis.

 

O uso do texto, amplamente explorado em toda a obra de Evans, adquire aqui uma presença oblíqua, abrindo espaço para que o desenho e a forma ganhem destaque. Os escritos de “Selfish Prayer Rug” (Tapete de Oração Egoísta) parecem menos interessados em formar palavras e mais propensos a criar padrões abstratos que acompanhem o relevo da superfície – um tapete de yoga. Em meio à confusão das letras, o artista delineia seu próprio corpo, assim como em “Exotic Souls Usual Price” (Almas Exóticas, Preço Normal). Neste trabalho, porém, sua silhueta é ladeada pelas folhas de árvores que recolheu no Rio de Janeiro, onde passou os últimos meses produzindo a  exposição.

 

A coleta em si revela um aspecto importante do trabalho de Evans, que atribui significado aos materiais que escolhe para então rearticulá-los em livre associação. A obra “Repetition of the idea of the form. Materials that deny us Immortality” (Repetição da ideia da forma. Materiais que nos negam a Imortalidade) reflete uma busca obstinada pela boa sorte ao apresentar centenas de trevos-de-quatro-folhas organizadas em uma quase-paisagem.

 

Em “The World Beats Art” (O Mundo Bate na Arte), a maior obra da mostra, Evans recria o tapete que possui em casa com fragmentos de fotos, desenhos e objetos que emulam a estampa original. “Door” (Porta), por sua vez, elabora-se por meio de um minucioso processo de tecelagem: pequenas tiras de papel são trançadas para compor uma trama. Ao conectar o público com suas narrativas pessoais, o artista expõe seu próprio interior e oferece uma experiência autêntica.

 

 

Sobre o artista

 

Simon Evans nasceu em 1972 em Londres e atualmente vive e trabalha em Nova York. Sua prática artística é permeada pela colaboração com Sarah Lannan, com quem é casado e também é sua parceira criativa. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Only Words Eaten By Experience, MOCA Cleveland (EUA, 2013); First We Make the Rules, Then We Break the Rules (Simon Evans & Öyvind Fahlström), Kunsthalle Düsseldorf (Alemanha, 2012) e Kunsthal Charlottenborg (Copenhague, Dinamarca, 2012); How to Be Alone When You Live with Someone, MUDAM  (Luxemburgo, 2012); How to get about, Aspen Art Museum (EUA, 2005). O artista já participou das seguintes bienais: 12ª Bienal de Istambul (Turquia, 2011); 31º Panorama da Arte Brasileira, MAM (São Paulo, 2009); 27ª Bienal de São Paulo (2006); Bienal da Califórnia, OCMA (Newport Beach, EUA, 2004). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como Aspen Art Museum (Aspen, EUA), CIFO (Miami, EUA), Louisiana Museum of Modern Art (Humlebaek, Dinamarca), Miami Art Museum (Miami, USA), MUDAM (Luxemburgo), Philadelphia Museum of Art (Filadélfia, USA), SFMOMA (San Francisco, USA), entre outras.

 

 

Até 22 de dezembro.

Prêmio CCBB Contemporâneo

Contemplada com o Prêmio CCBB Contemporâneo, Carla Chaim inaugurou a mostra “Colapso da Onda”, CCBB Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com uma instalação de grande dimensão, criada especificamente para o espaço expositivo, e um livro de artista, de formato intimista, também inédito. Em comum entre os dois está o grafite em pó.

 

A instalação, que tem o mesmo título da individual, ocupa 80 m² e é construída com pó de grafite. A artista determinou metade da sala para “desenhar” no piso um retângulo que, girado 5º sobre seu eixo central, faz parte da forma subir a parede. Sobre a área delimitada, Carla polvilha manualmente 50 quilos de pó de grafite com uma peneira caseira. Já para aplicar o material na parede, a artista inventou uma técnica com compressor para pulverizar e fixar o grafite.

 

A arquitetura da sala faz parte da obra, sendo suporte da instalação, e o espectador experimenta um diálogo com o trabalho, que muda de feição virtualmente, dependendo da posição do visitante.

 

– O grafite em pó sugere uma matéria constituída de milhões de pontos que se unem e se transformam em um plano homogêneo, se tornando objeto, palpável, um desenho no espaço”, descreve a artista.

 

A pesquisa de Carla Chaim amplia o campo do desenho para além de traços sobre o papel. As questões do desenho são levadas para vídeos e instalações. Em “Colapso da Onda, o grafite, elemento corriqueiro e universal para desenhar, não é usado para traçar linhas ou delinear formas. Reduzido a pó, o grafite deixa de ser ferramenta para existir como matéria pura que preenche uma superfície determinada. O resultado é uma forma densa e opaca.

 

O segundo trabalho da exposição é um livro-obra, intitulado “Multiverso”, de 60 páginas, em que o pó de grafite é aplicado com algodão sobre as folhas dobradas aleatoriamente – as dobraduras diferem em cada uma. Ao serem abertas, as páginas revelam composições variadas. O original foi escaneado e impresso em offset, com tiragem de 500 exemplares, que serão distribuídos ao público. No período da mostra, haverá livros para o visitante manusear.

 

O crítico carioca Fernando Cocchiarale sugere, no texto de apresentação, que é bom descartar leituras estritamente formais da obra de Carla, favorecidas pela geometrização de parte de seus trabalhos. Os projetos da artista não estão a serviço da invenção formal, mas da formulação espacial de campos de experiência”. Cocchiarale propõe ainda um possível pano de fundo para a produção da artista: “o das poéticas de resistência à espetacularização que permeia a lógica do mercado.”

 

 

Sobre a artista

 

Carla Chaim, nasceu em São Paulo, SP, 1983 cidade onde vive e trabalha. É bacharel em Artes Plásticas pela FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, onde também fez pós-graduação em História da Arte. Entre os prêmios que recebeu, estão: Prêmio CCBB Contemporâneo, e o Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, ambos em 2015, Prêmio Funarte de Arte Contemporânea [SP] e Prêmio Energias na Arte, no Instituto Tomie Ohtake [SP], onde participou também das exposições “Os primeiros dez anos”, 2011, e “Correspondências”, 2013. A artista fez residências artísticas em Arteles, Finlândia, 2013; Halka Sanat Projesi, Turquia, 2012; The Banff Centre for the Arts, Canadá, 2010. Em 2014, fez a individual “Pesar do Peso”, na Galeria Raquel Arnaud, SP, e “Norte”, em Lisboa, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, e participou das coletivas “Afinidades”, no Instituto Tomie Ohtake e “Entre dois Mundos”, no Museu Afro-Brasil, SP. Carla tem obras nas coleções Ella Fontanals-Cisneros, Miami, EUA, Museu de Arte do Rio – MAR, RJ, e Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, Brasília.

 

 

Sobre Prêmio CCBB Contemporâneo 2015-2016

 

Em 2014, pela primeira vez, o Banco do Brasil incluiu no edital anual do Centro Cultural Banco do Brasil um prêmio para as artes visuais. É o Prêmio CCBB Contemporâneo, patrocinado pela BB Seguridade, que contemplou 10 projetos de exposição, selecionados entre 1.823 inscritos de todo o país, para ocupar a Sala A do CCBB Rio de Janeiro. O Prêmio é um desdobramento do projeto Sala A Contemporânea, que surgiu de um desejo da instituição em sedimentar a Sala A como um espaço para a arte contemporânea brasileira. Idealizado pelo CCBB em parceria com o produtor Mauro Saraiva, o projeto Sala A Contemporânea realizou 15 individuais de artistas ascendentes de várias regiões do país entre 2010 e 2013. A série de dez individuais inéditas, começou com o grupo  Chelpa Ferro (Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler), seguido das mostras de Fernando Limberger (RS-SP), Vicente de Mello (SP-RJ) e Jaime Lauriano (SP). Depois da de Carla Chaim (SP), vêm as de Ricardo Villa (SP), Flávia Bertinato (MG-SP), Alan Borges (MG), Ana Hupe (RJ) e Floriano Romano (RJ), até julho de 2016. Entre 2010 e 2013, o projeto que precedeu o Prêmio, realizou na Sala A Contemporânea exposições de Mariana Manhães, Matheus Rocha Pitta, Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta, Marilá Dardot, José Rufino, do coletivo Opavivará, Gisela Motta&Leandro Lima, Fernando Lindote, da dupla Daniel Acosta e Daniel Murgel, Cinthia Marcelle, e a coletiva, sob curadoria de Clarissa Diniz.

 

 

Até 04 de janeiro de 2016.