Instalação de Miguel Rio Branco

18/mar

Uma instalação com quatro projeções de imagens que transitam pelas temáticas de violência e poder, trabalhada simultaneamente sobre quatro telas de voil, com áudios diferentes, constitui o núcleo central da mostra “Gritos surdos”, de Miguel Rio Branco, que ocupará a Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição reúne instalações realizadas pelo artista no início da década de 2000, que nunca foram exibidas no Rio de Janeiro. Além da obra que estará na nave central da Casa França-Brasil, uma das salas laterais exibirá uma projeção com imagem fixa e áudio. A outra vai mostrar um “site specific” em neon‚ no qual vidros de pára-brisas de automóveis, acidentados ou baleados, refletem luzes fluorescentes que piscam de modo intermitente, perfiladas por linhas de neon vermelho, com fotografias em cibachrome. As obras de “Gritos Surdos” foram concebidas originalmente para uma mostra individual do artista no Centro Português de Fotografia, Porto, Portugal, em 2001 e também exibidas na Galeria Millan, São Paulo, SP, em 2004 e em Arles, França, nos “Rencontres d’Arles”, na Église des Frères Prêcheurs, em 2005. Ao lembrar que Miguel Rio Branco não apresenta uma exposição institucional no Rio de Janeiro há muitos anos, Evangelina Seiler, diretora da Casa França-Brasil, diz que “Gritos Surdos” proporciona uma reflexão sobre difíceis aspectos da condição humana. – “A obra de Miguel Rio Branco nos faz pensar sobre o que às vezes não queremos ver”.

 

 

A palavra do artista

 

– “Como artista, trabalhei em cima de imagens fotográficas‚ do cinema digital‚ das luzes de neon e da poética que as artes plásticas me oferecem. Tudo se transforma no resultado da minha obra”, resume Miguel Rio Branco, ao falar sobre o seu processo criativo.

 

“Gritos surdos” é composta por vídeos, fotografias e objetos. No entanto, sobre este tipo de composição, o artista ressalta: – “Cada pedaço na verdade já contém um todo, já pode bastar em si mesmo, fotograficamente falando; porém, poeticamente, ele precisa dos outros pedaços para completar o discurso”.

 

– “Trabalho como um pesquisador, como um colecionador de momentos e objetos, uma pessoa que vai atrás de marcas deixadas por outros, um pouco como um arqueólogo. Hoje em dia eu me vejo muito como um arqueólogo que vai pegando marcas; o meu trabalho não tem mais o ser humano explícito, mas tem a marca dele, os restos que ele deixa, as maneiras com que ele trabalha as coisas. Não registro a arquitetura que o homem faz num edifício, mas os buracos onde ele vive, os restos que ele larga para trás”, conclui.

 

 

Sobre o artista

 

Um dos mais completos artistas visuais brasileiros, Miguel Rio Branco começou a expor suas pinturas em 1964, mas foi como fotógrafo e diretor de fotografia que conquistou reconhecimento nacional e internacional, a partir dos anos de 1970. Estudou fotografia em Nova Iorque, onde trabalhou por dois anos como fotógrafo e diretor de filmes experimentais.  Nos nove anos seguintes, dirigiu e fotografou filmes em longas e curtas metragens. Desenvolveu, em paralelo, uma fotografia autoral de forte carga poética, que logo o legitimou como um dos melhores fotojornalistas de cor.  A ênfase de Miguel Rio Branco ao olhar pessoal lhe rendeu prêmios importantes, como o francês Kodak de la Critique Photographique, em 1982, e o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM- SP em 1980, além da presença de seus trabalhos nas revistas mais importantes do mundo, como Stern, National Geographic e muitas outras. Como diretor de fotografia, foi premiado pelos filmes “Memória Viva”, de Otávio Bezerra, e “Abolição”, de Zózimo Bulbul. Seu vídeo “Nada levarei quando morrer, aqueles que me cobrarei no inferno”, 1982, venceu a categoria Melhor Fotografia no Festival de Brasília e foi duplamente premiado no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França: levou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional. Publicou os livros “Dulce Sudor Amargo”, Fundo de Cultura Económica, México, 1985; “Nakta”, com um poema de Louis Calaferte , Fundação Cultural de Curitiba, 1996;  “Miguel Rio Branco”, com ensaio de David Levi Strauss, Aperture, 1998; e “Silent Book”, Cosac Naify, 1988. Seguiram-se “Entre os olhos, o deserto”, 2000, também pela Cosac Naify e “Notes on the tides”, 2006. O mais recente de seus livro “Você está feliz”, 2012,  editado pela Cosac Naify, foi indicado ao “Photobook Award 2013”. Miguel Rio Branco possui obras no acervo de coleções públicas e particulares nos EUA, na Europa e no Brasil: MAM-Rio,  MAM-SP, MASP-SP, Centre Georges Pompidou, Paris, San Francisco Museum of Modern Art, USA, Stedelijk Museum, Amsterdan, Museum of Photographic Arts, San Diego, California, USA, e Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, USA. Entre 2000 e 2013, o artista realizou 50 exposições individuais no Brasil, na Europa, Estados Unidos e Japão. Possui espaço especial (individual) no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, MG.

 

 

 De 24 de março a 25 de maio.

Ron Mucek no MAM-Rio

Em 2013, Ron Mueck foi convidado para apresentar suas novas esculturas na Fondation Cartier pour l’art contemporain em Paris. Essa mostra estará sendo exibida em sua íntegra no Museu de Arte Moderna, MAM-Rio, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, depois de já ter sido apresentada no Fundación PROA, Buenos Aires. É a primeira vez que a obra de Ron Mueck é exibida na América do Sul. Além das seis importantes esculturas recentes, esta mostra agrega três esculturas inéditas. Também será apresentado um novo filme sobre a criação de Mueck realizado por Gautier Deblonde para a mostra em Paris. Ao revelar-nos o artista solitário em seu processo de trabalho, o filme acentua ainda mais a sensibilidade e a força das esculturas de Mueck e ressalta sua particular ressonância nos dias de hoje.

 

Uma exposição de Ron Mueck é um evento incomum. Mueck vive em Londres e suas mostras têm sido aclamadas no mundo todo, desde o Japão, Austrália e Nova Zelândia, até o México. Mueck trabalha lentamente em seu pequeno estúdio ao norte de Londres, e o próprio tempo transmuta-se em um elemento importante dentro de seu processo criativo. O detalhe de suas figuras humanas é meticuloso, com surpreendentes mudanças de escala que as distanciam do realismo acadêmico, da pop arte e do hiper-realismo.

 

Três novas esculturas são exibidas aqui pela primeira vez, depois do evento original em Paris: dois adolescentes na rua, uma mãe com seu bebê e um casal de idosos na praia. Parecem congelados em momentos da vida, e cada uma delas captura o vínculo entre dois seres humanos. A natureza da conexão entre ambos se revela em suas ações, pequenas, comuns, e ao mesmo tempo, misteriosas. A precisão de seus gestos, a representação fidedigna da carne, a insinuação da suavidade da pele, lhes confere uma aparência de absoluta realidade. Estas obras não descrevem situações ou pessoas reais, mas a obsessão com a verdade nos fala de um artista que busca a perfeição e que é extremamente sensível à forma e à matéria. Na busca da verossimilhança, Mueck cria obras secretas, meditativas e fascinantes. Iluminar as verdades universais. Essas figuras que parecem tão comuns e ordinárias também irradiam uma espiritualidade e uma forma humana tão profunda que provocam em nós uma resposta. Mueck revela a natureza surpreendente de nossas relações com o corpo e nossa existência, indo muito além das tradições do retratismo.

 

Ron Mueck deu novo sentido à escultura figurativa contemporânea. Ron Mueck vale-se de uma enorme diversidade de recursos, como fotos de jornais, histórias em quadrinhos ou obras-primas históricas, recordações proustianas ou antigas fábulas e lendas. “Still Life”, obra de 2009, se enquadra dentro da tradição clássica desse gênero; “Woman with Sticks”, obra de 2009, inclina-se para trás sob um feixe de lenha e nos faz lembrar dos contos de fadas. “Drift ‘, de 2009, e “Youth”, de 2009, parecem inspiradas em manchetes de jornais, ainda que também evoquem obras do passado. Em outras esculturas de Ron Mueck, como o grande autorretrato adormecido “Mask II”, de 2002, os sonhos transformam-se subitamente em realidade.

 

Seu processo criativo, muito circunspecto, é revelado no novo filme de Gautier Deblonde intitulado “Still Life: Ron Mueck at Work” ou “Natureza morta: Ron Mueck trabalhando”. Esse filme foi produzido para a exposição na Fondation Cartier pour l’art contemporain. Rodado no estúdio de Mueck enquanto ele produzia suas novas obras para a mostra, nos oferece uma oportunidade única e rara de observar o artista perdido em seu próprio processo criativo. Apoio: Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.

 

A exposição foi concebida pela Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris e a curadoria é de Hervé Chandès e Grazia Quaroni.

 

 

De 19 de março a 01 de junho.

Livro artístico

14/mar

Ricardo Sardenberg responde pela curadoria da mostra “A tara por livros ou A tara de papel”. Essa mostra temática é o próximo cartaz da Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, reunindo seleto grupo de nomes e livros de Nuno Ramos, com “Caldas Aulete (Para Nelson 3)”; Beatriz Milhazes, com “Meu Bem”; Artur Barrio, com “Cadernolivro”; Mira Schendel, com “Sem título”; José Bento, com “Baquelite”; Ed Ruscha, com “Me and The”; Rivane Neuenscwander, com “Paisagens Dobradas”; Marcius Gallan, “Livro/objeto Presente”; Leonilson, com “Certas Sutilezas Humanas” e Julio Plaza, com “Objetos Poema”.

 

 

A palavra do curador

 

A exposição A tara por livros ou a tara de papel não toma como ponto de partida a investigação do livro-objeto, algo que já pôde ser visto em tantas exposições recentes. Mas, espero, ela se apropria da ideia do livro-corpo. Embora não seja uma investigação puramente plástica ou estética, ainda assim, espero que a exposição cobre do visitante a experiência sensual e estética, um pouco hedonista com os objetos de desejo.  O livro aqui se confunde com a possessão, o erotismo, a compulsão pelo belo e também como nota de carinho, pois o livro se dá pra quem se quer bem. Nesse sentido, o livro artístico aqui é visto como um fetiche. A exposição celebra o objeto livro pela sua força de sedução.

 

O livro não é apenas objeto ou caixa, invólucro de histórias e sonhos. O livro é uma ideia que se apodera da nossa mente e que, por diversas vezes, a sua perda – um livro que foi emprestado e nunca mais voltou – pode ser tão dolorosa quanto a perda da pessoa amada. Como escreveu Flaubert em defesa do seu livro Madame Bovary: no nosso livro, a palavra perfeita é somente nossa e só existe no nosso léxico.

 

Pouco é mais perturbador que a vista de uma fogueira de livros.”  – Ricardo Sardenberg.

 

 

De 18 de março a 17 de abril.

Monica Piloni na FASS

A FASS, Vila Madalena, São Paulo, SP, reconhecida por trabalhar com fotos históricas, amplia suas atividades e cria plataforma voltada a artistas contemporâneos que usam a fotografia como suporte. A galeria inaugura o novo núcleo com “No meu quarto”, a primeira exposição individual de Monica Piloni na cidade. A curadoria é do expert Diógenes Moura.

 

“No meu quarto” reúne dez fotografias e um vídeo, regidos pela experimentação da artista na linguagem fotográfica, dando continuidade à sua reflexão no campo da escultura.  O conjunto de sua obra ressalta a obsessão pelo corpo, seu próprio corpo, reproduzido em escala natural e de forma hiper-realista. A artista esculpe pernas, braços e reproduz a cabeça e o rosto numa expressão de melancolia com olhos que parecem olhar através dos observadores.

 

“Perturbadores personagens surgem em corpos retalhados e reconfigurados insolitamente, que parecem buscar a integridade que lhes faz falta, a integridade que nos faz falta”, pondera Pablo di Giulio, fotógrafo e diretor da galeria. Segundo ele, ainda, essa é uma das inúmeras questões que sua obra traz à tona – sexualidade, representação e aparência vistas através da desconstrução do corpo no espaço.

 

Em “No Meu Quarto”, as fotografias trazem cenas quase performáticas, nas quais Piloni recria braços, pernas e cabeça no ambiente onde mora e com os elementos próprios desse universo. “Seu corpo desestruturado parece querer ocupar os espaços do cotidiano numa prática narcisista e exibicionista – na cama, no sofá, diante do espelho – na intimidade quase doentia de quem esta no seu pequeno mundo, no seu quarto que é também a sua mente, sua cabeça, a nossa”, destaca o diretor.

 

No dia 1o de abril, às 19h, a FASS promove um coquetel e conversa intimista com a artista, em seu espaço na Vila Madalena. Já, também na galeria, dias 8, 9,15 e 16 de abril, sempre às 19h30, um ciclo de quatro encontros abertos  ao público reunirá artistas e curadores para refletir sobre a questão do corpo como ponto de partida para a criação artística. Entre os participantes estão os curadores Diógenes Moura, Cláudia Fazzolari, Paulo Miyada e Thais Rivitti, além dos artistas Monica Piloni, Márcia Beatriz, Flávia Junqueira e Nino Cais. Informações e inscrições pelo site info@galeriafass.com.br (vagas limitadas).

 

As obras de Monica Piloni fazem parte de importantes coleções como de Bernardo Paz, no espaço cultural Inhotim, no Instituto Figueiredo Ferraz de Ribeirão Preto, e de outras particulares, como Blanca Soto em Madrid, Leon Tovar, em Nova York, Cleusa Garfinkel e Waldick Jatobá no Brasil

 

 

De 20 de março a 19 de abril.

Registro: Franco Terranova Arte/Poesia

Antes de falecer, em dezembro de 2013, o marchand Franco Terranova ainda teve tempo de concluir seu último e um dos mais brilhantes projetos. Reuniu poemas inéditos e antigos com suas impressões de toda uma vida. Conseguiu expressar desde as lembranças de sua longínqua Itália até a paixão por Ipanema, bairro que escolheu para viver em 1950. Todas as memórias estão reunidas no livro “Carma Carnadura”, que a Réptil Editora lançou em fevereiro, na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. O tempo, elemento perene na obra de Franco, é soberano nas páginas de “Carma Carnadura”. Na sua influência nas relações humanas, na percepção dos afetos e, também, as marcas físicas por ele deixadas.

 

Com fotos feitas pelo filho, o fotógrafo Marco Terranova, o poeta aparece nu, num ensaio que mostra a decomposição do corpo de um homem em plena vida. “Ele ainda estava um pouco reticente e consegui convencê-lo a posar citando o final do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, em que o personagem vai envelhecendo até que renasce para uma nova vida”, lembrou Marco. Dor, amor, ódio e outros sentimentos são apresentados nos poemas concretos, sem vírgulas ou pontos finais, o que torna a leitura uma experiência emocionante e profunda. “Poeta audacioso e original, Franco Terranova não se ajustava aos padrões usuais de linguagem”, disse dele o também poeta e amigo Ferreira Gullar. Fundador da memorável Petite Galerie, a primeira galeria de arte moderna no Brasil, que funcionou no Rio de Janeiro de 1954 a 1988, Franco apresentou ao país muitos dos artistas hoje renomados.

 

Conhecido pela sensibilidade e gentileza, deixou muitos amigos. “Era uma pessoa bondosa, muito mais idealista do que marchand. Ele acolhia os artistas”, diz Nelson Leiner. “Ele foi um marchand menos mercador e mais movido pelo afeto”, resume Daniel Senise. “Carma Carnadura” é o segundo livro de Franco Terranova lançado pela Réptil Editora – ele escreveu 14. Em outubro de 2012, a parceria com a editora Luiza Figueira de Mello resultou em “Sombras”, livro-objeto que contou com obras de arte de 73 artistas, entre eles, Tunga, Carlos Vergara, Antonio Dias, Millôr Fernandes, Emanoel Araújo, Avatar Morais, Anna Bella Geiger e Frans Krajcberg, criadas especialmente para ilustrar suas poesias. “O Franco é a pessoa mais íntegra e cheia de amor que conheci. Tenho muito orgulho destes trabalhos, sinto saudades dele todos os dias”, diz Luiza, que de tão amiga virou herdeira de seus direitos autorais.

 

 

SOBRE FRANCO TERRANOVA

 

Vindo da Itália em 1947, depois de lutar na Segunda Guerra Mundial, Franco Terranova criou – no Rio de Janeiro – a Petite Galerie, um diminuto espaço na Avenida Atlântica, em Copacabana. Seu último endereço de atividades, na Barão da Torre, em Ipanema, fechou ao longo de três dias de 1988, com um evento que Terranova batizou de “O eterno é efêmero”, com todos os artistas convidados que haviam trabalhado e exposto na galeria, artistas criando obras nas paredes, em seguida pintadas de branco. A galeria foi berço para muitos dos principais artistas plásticos do Brasil contemporâneo. O marchand também é reconhecido por introduzir no mercado brasileiro técnicas atualizadas de marketing cultural, realizar os primeiros leilões de arte moderna e fomentar a produção cultural no país. Com 14 livros publicados, Franco também dedicou-se a escrever poesias até seu falecimento, em dezembro de 2013.

Antonio Dias na Fundação Iberê Camargo

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS,  recebe a exposição “Antonio Dias – Potência da Pintura”, com curadoria do crítico Paulo Sergio Duarte, que apresenta um recorte da produção mais recente do artista. As pinturas e esculturas produzidas entre 1999 e 2011 revelam os questionamentos atuais de Antonio Dias, que se volta com força para as questões pictóricas do pigmento, do plano e da composição, afastando-se dos objetos, instalações e telas tridimensionais característicos de sua produção dos anos 60 e 70, a parte mais divulgada de sua obra para o público. “Antonio Dias – Potência da Pintura” é composta, majoritariamente, por obras como “Refém: John Wayne encontra Harum Al-Hashid”, de 2007, e “Fornalha”, de 2006, montagens de telas que se encaixam e sobrepõem, sobre as quais são aplicadas tinta vermelha e branca, cobre, ouro e malaquite, em formas e texturas particulares. Essas composições incorporam traços característicos na trajetória de Antonio Dias, como o retângulo incompleto e o vermelho puro, recorrentes em sua obra desde as fases iniciais. Separando a pintura em elementos, Antonio Dias revela novas possibilidades para a bidimensionalidade da tela – que, em sobreposição, adquire um caráter tridimensional – e para os pigmentos, que se contaminam, fundem e variam.

 

Além das telas, integram a exposição objetos criados em bronze e argila, também parte da investigação mais recente do artista. “Duas torres”, obra de 2002, é composta por peças de bronze moldadas a partir de pilhas de latas, que passam a falsa impressão de um precário equilíbrio, em referência ao ataque terrorista ocorrido em Nova York, em 11 de setembro do ano anterior. Já as pequenas moradias de “Quatro casas” e “O bem e o mal” – algumas em cerâmica, outras em bronze – coexistem lado a lado, com suas portas abertas e objetos em escalas irreais, todas sem teto, obrigando o espectador a olhar do alto, em direção ao chão. No ar, os “Satélites” – peças em bronze moldadas a partir de latas de queijo e penduradas por fios de nylon – puxam o olhar para cima. O humor de Antonio Dias vem personificado na obra “Seu marido”, um boneco amarelo e peludo, sentado no átrio da Fundação, aparentemente apático – até que desperta, treme por alguns instantes e volta à imobilidade inicial, em um retrato divertido e crítico do homem contemporâneo. O público terá a chance de conhecer, no átrio, 3º e 4º andares da Fundação, trabalhos pouco vistos deste importante artista brasileiro e presenciar os desdobramentos mais recentes de sua obra.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1944, o artista aprendeu com o avô os rudimentos do desenho e foi aluno de Oswaldo Goeldi. A partir de 65, viveu em Paris, Milão e Nova York e, em 1977, passou uma temporada na Índia e no Nepal, estudando técnicas de produção de papel artesanal. Desde 1988, vive na Alemanha, onde é professor.

 

 

A palavra do curador

 

Esta é uma exposição de obras recentes de Antonio Dias. O bom é viajar pelas telas e pelas outras obras, mas a primeira tentação é compreender “recentes” em um cerco cronológico, pela datação da obra e, a partir do momento atual, recuar relativamente pouco no tempo e marcar assim um período: “recente”, aquilo que data de pouco tempo, novo, fresco. Afinal de contas, é esse mesmo o sentido da palavra. Mas é na sua evidência que o “recente” sutilmente aprisiona o nosso olhar e lhe retira a liberdade. E, tampouco, está livre a obra mantida no interior das barreiras do tempo recente. É uma dupla prisão – do olhar e da obra – construída pela evidência primeira do sentido de um adjetivo – recente – que simplifica em demasia a ordem do tempo. O que quer dizer ser recente? Quer dizer feito há pouco tempo. Aqui, nos últimos quatorze anos. Mas será que o tempo, na obra, se reduz a esse tempo do relógio, da ampulheta ou mesmo do grego cronos? Não, na obra de arte o presente traz uma história e seus fantasmas, e se essa obra é uma aventura que se prolonga ao longo de mais de cinco décadas é, também, uma história de conflitos. O que temos diante de nossos olhos não é uma acumulação de trabalho, nem a acumulação de um patrimônio tal como o capital de um portfólio de aplicações nas bolsas de valores; o que temos é o resultado mais recente de uma luta simbólica entre a matéria e o pensamento que atravessou muitas brigas até chegar a esse ponto; esse é o trabalho do artista. Tampouco temos diante de nós um “resultado”. Estamos diante de momentos de um processo. Veio de antes e prosseguirá. Não se trata, absolutamente, de examinar a obra como processo, de como ela é realizada nos seus métodos do fazer do ateliê, mas como processo de construção de uma vida inteira dedicada à arte. É outro processo, não aquele dedicado a ficar na cozinha do ateliê e examinar os procedimentos do artista nas misturas das tintas, nas camadas e superfícies que se superpõem; estudos de pigmentos e macetes do artífice. O “recente” esconde esses muitos tempos que temos diante de nós; tempos de elaboração de ideias, de suas substituições e de suas lutas para se materializar visualmente.

 

Essa luta para que a potência da arte se afirme diante de nossos olhos é o que está presente aqui nesta exposição.

 

 

De 13 de março a 18 de maio.

Sebastião Salgado – Genesis

O renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado apresenta, na Usina do Gasômetro, Porto Alegre, RS, a exposição “Genesis”, que reúne 250 imagens realizadas ao longo de oito anos em viagens por lugares isolados do mundo. Com curadoria de Lélia Wanick Salgado, a mostra faz parte do 7º FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre.

 

 

Aula Magna

 

O projeto chega à capital gaúcha e conta com a presença do fotógrafo, que ministra na sexta, 14, uma Aula Magna, com entrada franca, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS.

 

 

 

Sobre o fotógrafo e a curadoria

 

 

Radicado na França, Sebastião Salgado trabalha com fotografias em preto e branco baseadas em temáticas sociais. O conhecido fotógrafo já conquistou inúmeros prêmios internacionais. “Genesis” retrata animais, tribos e paisagens clicadas em diferentes lugares do mundo, ao longo de 8 anos de viagens. A curadoria da exposição é da mulher do fotógrafo, Lélia Wanick Salgado. No evento, também será lançado o livro Genesis, editado pela editora alemã Taschen e a biografia “Da Minha Terra à Terra”, edição da Companhia das Letras. Sebastião Salgado tornou-se fotojornalista em 1973, profissão que seguiu desde então. Também estudou Economia na Universidade de São Paulo, USP, e escreveu sua tese sobre o assunto em 1969, na França. Formada em Arquitetura pela École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris e Urbanismo na Universidade de Paris VIII, Lélia também dedicou sua vida à fotografia. O casal vive na França. O fotógrafo receberá título de Cidadão de Porto Alegre e Lélia Wanick o Diploma de Honra ao Mérito.

 

 

A exposição divide-se em cinco núcleos geográficos:

 

Planeta Sul – Da Antártica e da Patagônia, há paisagens de geleiras e animais como pinguins, leões-marinhos e baleias. Outras fotos mostram a fauna e a flora das Ilhas Malvinas, Argentina, das Ilhas Diego Ramírez, Chile e das Ilhas Sandwich, território britânico, pertencente às ilhas da Geórgia do Sul.

 

 

Santuários – Paisagens vulcânicas e a fauna do arquipélago Galápagos, Equador, além de povos isolados e da vida selvagem na Nova Guiné, na Guiné Oeste, em Sumatra, ilha da Indonésia e na ilha de Madagascar.

 

 

África – Nos desertos da Namíbia e do Saara, lugares pouco visitados. Da vida selvagem, há os gorilas encontrados nas fronteiras de Ruanda, Congo e Uganda. Entre as tribos, estão os Himba da Namíbia, os Dinkas do Sudão e os Omo Sul da Etiópia, além de povos do Deserto Kalahari, em Botswana, e de ancestrais comunidades do norte da Etiópia.

 

 

Terras do Norte – Paisagens raras do Alasca, do Colorado, EUA, e do Parque e Reserva Nacional Kluane, Canadá. Há também cenas do extremo norte da Rússia, incluindo o local de reprodução do urso polar, na Ilha Wrangel, e a península de Kamchatka, na ponta mais oriental do país. O núcleo ainda mostra a população indígena Nenet do norte da Sibéria.

 

 

Amazônia e Pantanal – Na Floresta Amazônica, flagra povos indígenas como os Zo’e do Pará, que até os anos 1980 estavam isolados. Na Venezuela, apresenta o Tepui, as formações geológicas consideradas as mais antigas da Terra. E do Pantanal apresenta a vida selvagem.

 

 

Até 12 de maio.

 

Caleidoscópio da SIM galeria

A SIM galeria, Curitiba, Paraná, apresenta “Vertigo”, exposição de caráter coletivo com artistas de diversas origens (alguns estrangeiros) que lançam mão de materiais inusitados e linguagens múltiplas que perpassam da pintura ao vídeo. A exibição conta com nomes pontuais da cena contemporânea como Carmela Gross, Darren Almond, Eduardo Kac, Isao Hashimoto, Ivan Grilo, Jules Spinatsch, Katinka Pilscheur, Luiz Roque, Luiz Zerbini, Miguel Palma, Nuno Ramos, Odires Milászho e Semiconductor (Ruth Jarman e Joe Gerhardt).

 

 

 

 

A palavra da curadoria

 

 
A vertigem é sintoma de descompasso. Ocorre em curto circuito perceptivo quando, por exemplo, o feedback dos dados processados pelo cérebro diverge das sensações experimentadas pelos sentidos que orientam o corpo no espaço. O indivíduo, mareado, sente como se tudo ao seu redor estivesse a ponto de dissolver; a matéria, então, menos sólida parece ondular em um universo elástico.

 

No âmbito estético, a vertigem é frequentemente associada a situações em que representações ambíguas desafiam a interpretação do olhar. Imagens em que a reversibilidade entre figura e fundo pulsa, alternadamente, disputando a atenção em primeiro plano. Vertigo busca ampliar esta abordagem sugerindo também alegorias de ordem psicológica ou social para além da dinâmica fisiológica.

 

Testemunhamos uma era em que a humanidade está mergulhada no oceano polifônico de informações partilhadas em rede. A conexão com esta teia coletiva insere percepções de outros tempos e espaços no seio da vivência do agora.

 

Há tanto para ver, tanto para saber, tanto para digerir…

Tudo, ao mesmo tempo, dilatado por um caleidoscópio de possibilidades.

O vasto mosaico de expressões singulares é consequência da popularização dos meios técnicos que facilitam o acesso à representação. Após séculos em que somente a voz da elite ecoou no imaginário coletivo, finalmente a evolução tecnológica possibilitou aos demais indivíduos a chance de inscrever suas histórias pessoais na crônica social.

 

Por outro lado, a multiplicação excessiva de pontos de vista circulando indiscriminadamente pode nublar o discernimento subjetivo. O redemoinho de opiniões heterogêneas tem efeitos atordoantes; o acúmulo de diversas referências tende a se tornar indigesto. Paul Valéry alertou, ainda em 1923: “O ouvido não suportaria dez orquestras juntas. O espírito não pode seguir muitas operações distintas, não há raciocínios simultâneos”.

 

O elenco de obras que compõem Vertigo não foi elaborado sob a obrigatoriedade de justificar a coerência do conjunto. Ao contrário, sua seleção é identificada pela noção de enumeração disjuntiva, pela qualidade da lista poética – aquela que não pretende representar integralmente a totalidade, mas sugere um horizonte de eventos abertos às associações flexíveis. Esse conjunto exprime o senso de fragmentação e a complexidade de uma sequência de impressões sem conexões rigorosas.

 

Há desde obras onde a ambiguidade visual incita jogos óticos vertiginosos, até proposições que tensionam os limites da representação, exibindo-a em escala análoga ao espaço físico real (trompe l’oeil). Há também um objeto feito com assemblage de relógios digitais cujos algarismos estão partidos ao meio, quebrando a linearidade da progressão temporal. /Retratos constituídos por milhares de números carimbados, marcando a quantidade de gestos necessários para traçar a figura. /Uma instalação que contabiliza quantas vezes a ganância de certos grupos humanos levou à eclosão de bombas atômicas. /Fotografias de flores transgênicas que contém o DNA do artista que as cultivou. /Gravações de sons captados acima da atmosfera terrestre decodificados em imagens gráficas. /Pintura feita por meio da retenção de gases tóxicos expelidos por um carro. /Cartografias celestes, mapeadas tanto a partir do polo norte quanto do polo sul, sobrepostas em lâminas transparentes, unindo paradoxalmente dimensões opostas no mesmo plano. /Desenhos que apresentam uma notação de escala em uma folha em branco dando margem à projeção mental de um espaço imaginado. /Um filme que mostra o simulacro de uma obra de arte reconhecida transportada a um contexto insólito. /…/

 

O micro universo desta exposição propõe uma narrativa aberta e não linear, articulada em linguagem visual. Orquestra experiências díspares, contrapondo proposições de natureza totalmente diversa. Alude à alguma coisa imensa, impossível de ser totalmente conhecida. Faz analogia à convivência cotidiana com pluralidades cada vez mais abundantes e o consequente sentimento de angústia vertiginosa gerado pela incapacidade de apreender o todo. Apoiado em breves epifanias estonteantes, o tema de Vertigo remete à perda de escala, à desorientação e ao gosto pelo excesso, tão característicos dos tempos turbulentos deste barroquismo tecnológico em que hoje vivemos.

 

Denise Gadelha

 

 

 

DE 13 de março a 19 de abril.

 

 

Potenciais escultóricos

Desde o seu surgimento no Oriente Médio, a escultura, com a pretensão de transferir a realidade para a forma artística, ganhou destaque no Renascimento, com o “Davi”, de Michelangelo. No século XXI, a escultura revela um desprendimento do artista, que abre mão dos materiais clássicos para a produção deste tipo de obras, como a pedra, madeira, barro, e outros materiais. Deixou-se de lado também a ênfase à questão tridimensional, elemento básico na definição da ideia clássica de escultura e de sua estrutura estática: “Hoje os artistas pensam a escultura a partir da fotografia, vídeo e performance, além dos trabalhos que partem de referências diretas à história da escultura, como Brancusi, Man Ray e Michelangelo”, afirma Fernanda Lopes, curadora da mostra “Aparições”, na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Um depoimento de Michelangelo sobre seu processo de trabalho e seu papel como artista deu nome à exposição: “Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem”. Para Filipe Masini, à frente da galeria, a palavra aparição está ligada ao presente (de ser visto, tornar-se visível, mostrar-se), ao passado (no sentido de origem, princípio) e também como sinônimo de “fantasma, visão ou espectro”.

 

 

Partindo do título da mostra é possível pensar o conjunto de trabalhos apresentados na Galeria Athena Contemporânea, refletindo que os artistas da mostra já não lidam com a escultura nem com o mundo da mesma maneira que os mestres clássicos mas, ainda assim, seus trabalhos guardam relação com a ideia de “aparição”. Muitos partem de objetos e ações comuns do mundo, que são invisíveis em nosso dia a dia, e para os quais os artistas chamam nossa atenção.
A exposição coletiva, que tem como objetivo apresentar obras com potencial escultórico, apresenta 20 trabalhos de 12 artistas, entre eles Adriano Amaral, Ana Paula Oliveira, André Griffo, Bruno Baptistelli, Daniel de Paula, Debora Bolsoni, Flora Leite, Frederico Filippi, João Loureiro, Jorge Soledar, Raquel Versieux, e Wagner Malta Tavares.

 

São trabalhos entre objetos, vídeos, performances, fotografias e intervenções, produções recentes desses artistas, realizadas entre 2006 e 2014. Grande parte desses trabalhos são inéditos e alguns foram criados especialmente para esta mostra, na qual os artistas se apropriam de um tema, usando materiais do cotidiano.

 

 

De 20 de março a 19 de abril.

 

Ícones do Design Na Caixa Cultural Rio

10/mar

A Caixa Cultural Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição de mobiliário “Design brasileiro, moderno e contemporâneo”, que chega ao País após passar por Berlim e Lisboa. Cerca de 80 obras, entre ícones modernos, peças raras e inéditas, de 16 expositores ocuparão duas galerias da instituição para contar a história do design de móveis no Brasil. Durante a exposição, também serão exibidos vídeos com depoimentos de alguns designers. Do Rio de Janeiro, a mostra seguirá para a CAIXA Cultural Brasília, onde será apresentada entre maio e julho.

 

A exposição traz peças dos renomados Sérgio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, José Zanine Caldas, Joaquim Tenreiro, Aida Boal, Jorge Zalszupin, Paulo Mendes da Rocha, Gustavo Bittencourt, Carlos Motta, Domingos Tótora, irmãos Campana, Maneco Quinderé, Zanini de Zanine, Rodrigo Almeida e Móveis Cimo, entre outros, para mostrar o que se fez e o que está sendo realizado no Brasil neste segmento.

 

A ideia de criar a mostra surgiu na Alemanha, em 2012, a partir do encontro entre Zanini de Zanine e Raul Schmidt, que queriam mostrar a produção brasileira na Europa. De Berlim, a exposição seguiu para Lisboa como principal evento na abertura do ano do Brasil em Portugal. Em paralelo à realização na CAIXA Cultural Rio, a mostra também será apresentada na Sala Brasil, na sede da Embaixada Brasileira em Londres.

 

“O design brasileiro não tem uma característica única. Pelo tamanho do país, são muitas linguagens, culturas diferentes, materiais diversos”, diz Zanini de Zanine, curador da mostra com o colecionador e estudioso do assunto Raul Schmidt Felippe Junior. “É esse regionalismo, que se tornou globalizado, que está sendo proposto na parte contemporânea da exposição. A partir do momento em que você começa a traduzir o seu bairro, a sua cidade, isso passa a ser mundial, em termos de interesse”, completa.

 

 

 Sobre os expositores

 

AIDA BOAL – A escolha da profissão de arquiteta foi consequência natural de sua incoercível vocação para o desenho, tanto assim que, ainda como estudante, excursionou pelo campo da escultura (modelagem) e pintura, e deu, também, seus primeiros passos no terreno do “design” de móveis, estes no enlevo que povoaria mais tarde sua derivante dedicação. Neste campo, começou a projetar e executar móveis, sempre com a preocupação de aliar a harmonia das formas com o conforto, esmerando-se, cada vez mais, na anatomia de seu traçado a fim de proporcionar o máximo de conforto possível.

 

CARLOS MOTTA – É uma estrela de primeira grandeza do design nacional, várias vezes premiado. A honestidade está presente na qualidade de elaboração do móvel, feito para durar muito, usando principalmente madeiras maciças como amendoim, mogno, cedro e cabriúva. Arquiteto de formação, Carlos Motta preserva as características de ateliê de seu trabalho, pronto para projetar qualquer coisa que o cliente queira em madeira. Mas há vários criou produtos em linha, como mesas, camas, aparadores, escrivaninhas, armários, objetos e principalmente cadeiras, sua paixão declarada – já desenhou cerca de 25 modelos diferentes. Imune à pretensão do vanguardismo, Motta faz móveis belos de ver e confortáveis de usar, e permanece evoluindo dentro de um caminho próprio.

 

DOMINGOS TÓTORA – O mineiro Domingos Tótora, nascido e criado em Maria da Fé, cidade situada na Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais, cursou Artes Plásticas na FAAP e ECA-USP em São Paulo. De volta à sua aldeia após os estudos, elege o papel reciclado como matéria prima para o seu trabalho, que transita entre a arte e o design. Suas peças de extrema beleza incluem bancos, mesas, vasos, fruteiras, centros de mesa e peças de mobiliário que se reportam às cores da natureza, como cascas de árvore, pedras e terra. Na textura seus objetos trazem os efeitos de luz e sombra do sol com a mesma intensidade que a luz solar percorre os vales. Suas peças piloto são desenvolvidas num processo simultâneo onde concepção e execução andam juntas e se complementam em todos os níveis, da matéria prima aos aspectos econômicos e sociais. O processo é 100% manual e tem a certificação do Instituto de Qualidade Sustentável.

 

GUSTAVO BITTENCOURT – O design sempre foi uma paixão. Desde criança em seus desenhos já demonstrava o gosto pela criação, pelo desenvolvimento de novas ideias e com a Mãe Arquiteta apenas aguçou o sentimento. Formado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2009, Gustavo esta sempre em busca de novos conhecimentos. O que o levou a estudar no Politécnico di Torino, na Itália, durante a Universidade e recentemente a trabalhar em uma galeria de móveis e artes em Los Angeles, a Thomas Hayes Gallery. Trabalhou com ícones do cenário nacional atual como Zanini de Zanine, Marcelo Rosenbaum, Rodrigo Calixto. Durante sua formação acadêmica foi premiado em importantes concursos como Movelsul, premiado em 2010 com a cadeira Trapeziu, que faz parte da mostra.

 

IRMÃOS CAMPANA – Os Irmãos Campana (Humberto Campana, Rio Claro, 17 de março de 1953, e Fernando Campana, Brotas, 19 de maio de 1961) são respectivamente, formado em Direito pela Universidade de São Paulo, e em Arquitetura pelo Unicentro Belas Artes de São Paulo. Hoje a dupla goza de reconhecimento internacional por seus trabalhos de Design-Arte, cuja temática discute elementos do cotidiano, que são transformados em peças de caráter artísticos, com uma linguagem única e de, até, uso possível. Profissionais que despertam o interesse internacional, são os uns dos poucos brasileiros com peças no acervo do MoMA, em Nova Iorque.

 

JOAQUIM TENREIRO – Artífice do design de mobiliário brasileiro, Joaquim Tenreiro – português de nascimento – se estabeleceu no Brasil ainda novo, exercendo a profissão de marceneiro, herança de família. Aos poucos, sua verve utópica foi o conduzindo como projetista de móveis com o apoio intuitivo e interesse de diversas empresas no Rio de Janeiro, como a Laubissh & Hirth. A genialidade de Joaquim Tenreiro – atemporal e, simultaneamente, tão próxima desta geração – entre um punhado de exposições Brasil afora e nos EUA, culminou no título de Melhor Escultor do Ano, em 1978, pela APCA.

 

JORGE ZALSZUPIN – No ano de 1949, desembarcava no Rio de Janeiro o polonês Jerzy Zalszupin. Formado em arquitetura na Romênia, começou sua carreira no escritório de arquitetura do seu conterrâneo Luciano Korngold, no estado de São Paulo. No início não podia assinar pelos seus projetos, por não ser brasileiro, mas depois que se casou e teve sua filha no país, recebeu sua nacionalidade e pode abrir o próprio escritório. Foi a partir daí que surgiu o Jorge Zalszupin, designer e artesão de móveis. Fundou sua marca, a L’Atelier, em 1959, com a proposta de um lugar para criações conjuntas, na produção de poltronas como a Dinamarquesa, a Paulistana entre outros móveis. Pelo valor histórico e qualidade do design de seus móveis, vários deles estão sendo desde 2005 reproduzidos com muito sucesso e aceitação no mercado nacional e internacional.

 

JOSÉ ZANINE CALDAS – José Zanine Caldas ficou conhecido como o “mestre da madeira” por conta de seus trabalhos primorosos com essa matéria-prima. Cadeiras, mesas, sofás e aparador, entre outras criações feitas a partir de chapas planas de madeira compensada, compõem o acervo da mostra. As peças foram desenhadas e produzidas a partir de 1948, ano em que Zanine fundou, em parceria com Sebastião Pontes, a ‘Móveis Artísticos Z’. Durante os 14 anos em que permaneceu no negócio, o designer assinou produtos que marcaram o encontro harmônico entre o modernismo e o artesanato tradicional brasileiro.

 

LINA BO BARDI – Estudou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. Inconformada com os móveis que encontrou no chegar ao Brasil, a italiana Lina Bo Bardi (1915-1992), posteriormente naturalizada brasileira, decidiu desenhar o mobiliário para seus projetos de arquitetura. Fundou com Giancarlo Palanti o Studio de Arte Palma que funcionou de 1948 a 1950 – para produzir móveis em série. O ponto de partida foi a simplicidade estrutural, aproveitando-se a extraordinária beleza das veias e da tinta das madeiras brasileiras, assim como seu grau de resistência e capacidade.  Lina manteve intensa produção cultural até o fim de sua vida, em 1992.

 

MANECO QUINDERÉ – A consequência natural do trabalho em teatro e música foi o convite para iluminar espetáculos de ópera e balé. A partir de então, as artes plásticas também se renderam ao talento de Maneco e surgiram os projetos de luz para exposições. Toda essa experiência levou os arquitetos mais importantes do país a procurarem parcerias em seu trabalho, para iluminar seus projetos e, desde 2000, colabora com projetos de iluminação para residências e comércio. Maneco ainda desenha e produz luminárias diferentes assinadas por ele.

 

MÓVEIS CIMO – A empresa iniciou suas atividades no início do século passado, em 1912. Em 1921, iniciou a produção de cadeiras a partir do reaproveitamento das aparas de imbuia para serem comercializadas nos centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. Seu pioneirismo foi conquistado devido a alguns fatores: o reaproveitamento de material, a comercialização nos maiores centros urbanos do país e a criação de um produto de qualidade destinado à produção em escala. A Cimo foi pioneira na introdução da tecnologia da laminação diferenciando-se de seus concorrentes. Seu produto dominou o mercado nacional de móveis para instalações comerciais e institucionais, com repercussão na América Latina, tornando-a a maior fábrica do ramo de mobiliário na América Latina da década de 30 até 1970. Seu legado é incontestável e histórico: as inovações tecnológicas e a funcionalidade dos seus móveis demarcaram um período da história e da cultura brasileira.

 

OSCAR NIEMEYER – Oscar Niemeyer nunca encontrou limites para a criatividade nas suas obras, e sempre acrescentou valor à sua extensa e extraordinária carreira. Apaixonado pelas linhas curvas e livres, o arquiteto lançou uma coleção de mobiliário com poucas peças em madeira prensada, em parceria com sua filha Anna Maria, desenhadas por ele, a partir de 1970 e em diferentes épocas.

 

PAULO MENDES DA ROCHA – Um dos mais importantes arquitetos e urbanistas brasileiros, assume uma posição de destaque a partir de um premio que recebeu em 2006 chamado Pritkzer, cujo título se refere à arquitetura contemporânea em termos mundiais. Sendo ele um exemplo do pensamento estético caracterizado como a Escola Paulista, tinha como um lema a arquitetura crua, limpa e clara. No âmbito mobiliário, não deixou por menos, foi o criador da famosa Poltrona Paulistana que possui uma estrutura em aço flexível com assento e encosto por uma capa de couro ou tecido. A Paulistana foi também editada em pequenas series, e em 2009, entrou para a seleta coleção permanente do Museu de Arte Moderna – MoMa, em Nova York.

 

RODRIGO ALMEIDA – O designer natural do interior de São Paulo é especialista em criar móveis com apelo global e criatividade brasileira. O trabalho de Rodrigo tem materiais em contextos incomuns ao mobiliário; brincadeiras com texturas, que até poderiam ser consideradas irregularidades, mas que ganham novos significados para se tornarem informação de design. E o resultado são peças únicas e totalmente não óbvias.

 

SÉRGIO RODRIGUES – Sérgio é, sem dúvida alguma, uma das mais admiráveis expressões do design em nosso país. O traço coerente e único inscreveu seu nome na história do design do século 20, sobretudo pela criação de uma grande variedade de produtos, dos quais o mais famoso é a Poltrona Mole. Ao lado de mestres como Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas, Sérgio vem tornando o design brasileiro conhecido internacionalmente. Ele transformou totalmente a linguagem do móvel, foi generoso no traço e no emprego das madeiras nativas. A aproximação de desenho do móvel moderno com certos objetos da cultura brasileira, e a não preocupação com modismos, acentuam o espírito de brasilidade que tanto busca Sergio Rodrigues.

 

ZANINI DE ZANINE – Carioca nascido em 1978, Zanini de Zanine herda de seu pai Jose Zanine Caldas, grande arquiteto e designer brasileiro, o gosto pelo desenho. Estagiário de Sérgio Rodrigues durante um ano, o jovem se forma em desenho de produto no final de 2002 na PUC-Rio. Desde então, optou por ser designer independente. Inquieto, começou a experimentar e produzir seus próprios desenhos. Premiado nos principais concursos do país e com exposições no exterior, Zanini passou a ser convidado para assinar para diferentes marcas nacionais e internacionais.

 

 De 12 de março a 4 de maio de 2014.