Duas mostras na Emma Thomas

18/jul

A Galeria Emma Thomas, Jardins, São Paulo, SP, promove a abertura de duas exposições individuais. A saber: na Sala 1, Luiz Ernesto exibe “Pintura Muda”  e na Sala 2, Susana Bastos comparece com “Eixo”.

 

 

 

Sobre a pintura de Luiz Ernesto

 

Inventário dos objetos sós | Agnaldo Farias

 

 

À Má,

que ama

os objetos

 

Prato, espelho, copo, guarda-chuva, despertador, garrafa, lápis… Luiz Ernesto prossegue em seu inventário de objetos comuns, particularmente os que povoam nossas casas, membros imprevistos da nossa família, que vão chegando trazidos por nós mesmos ou presenteados ou ainda esquecidos por aqueles que nos visitam, vai saber como, quais são as rotas que eles traçam pelo mundo. Mas vão chegando e permanecendo, às vezes em razão de um interesse nosso por uma atividade qualquer, uma tarefa urgente que nos obriga a comprar matéria prima e instrumentos, e há também os que restam de gostos abandonados, produto dessa inexplicável ternura que em certos momentos da vida devotamos por uma determinada classe de coisas, um desejo de apego que também é a manifestação de uma vontade de estender nossos domínios. O elenco desses objetos é virtualmente infinito, a começar pelas roupas, nossa pele portátil mais à mão, que não mais usamos e que sempre nos esquecemos de dar, que se quedam quietas, suspensas e encerradas nos armários tendo aos pés o couro suado dos sapatos, enchendo-se de pó e da morrinha que inutilmente tentamos minimizar pelo recurso as flores secas que recheiam os sachês acetinados.

 

 

Os objetos contam com a nossa desatenção para continuarem por ali, coabitando nosso espaço; sobrevivem a nossa volta em parte porque nunca lhes deitamos a vista mas também porque adiar é uma prática doméstica. Por outro lado, há que se considerar sua notável habilidade no exercício da fuga e ocultamento, o quanto se esgueiram por debaixo e detrás dos móveis, no fundo das gavetas, como se refugiam cômodos nas prateleiras mais altas, como se prestam ao contato íntimo e promíscuo com outros objetos, transformando-se em tralha triste, socada e amafumbada no interior das caixas empilhadas nos porões, sótão, garagens e nos quartos denominados, a propósito, quartos de despejo.

 

 

Há anos Luiz Ernesto vem pensando os objetos, colocando-os em suspensão. Toma coisas comuns, um prato de porcelana com a borda ornamentada por um relevo; dois guarda-chuvas pendurados lado a lado na parede, a espera de serem utilizados; um copo de plástico, desses cuja textura canelada sequer consegue impedir que se deforme quando o pegamos para beber água; um despertador de corda azul, de pé e de costas, ostentando as pontas achatadas das engrenagens com as quais acertamos seu funcionamento; uma folha de papel pautado, arrancada do caderno espiral e levemente amassado; um espelho que parece refletir uma cortina, que em lugar de abrir uma passagem, veda-a.

 

 

Os objetos são, como se vê, simples, mas o artista trata-os como se não fossem, ao contrário, como se fossem magníficos, resultado de uma operação longa e calculada, que principia sempre com uma fotografia, vale dizer, a escolha de um objeto, a construção de um ângulo e de uma pose, o retrato. A imagem sempre sofre uma edição: o objeto é eviscerado de seu contexto, separado da mesa, parede etc, em que foi fotografado. Embora a nitidez da imagem seja preservada, ela é fixada numa superfície turva constituída de fibra de vidro e resina epóxi. Sai assim do espaço real para ocupar o espaço pictórico, o espaço da linguagem, o espaço de produção da realidade.
Do objeto à imagem, da imagem à pintura, cada objeto selecionado por Luiz Ernesto, subtraído de seu contexto, sobra solitário. Somente ele e a luz que acusa sua presença. Pousado num lugar quase abstrato, um quadrilátero com pretensões de neutralidade não fora os rumores que atravessam seu corpo leitoso, manchando-o, desmentindo sua aparência atmosférica, deixando-o palpável o suficiente para que os objetos se acomodem nele e possam deitar suas sombras. Sob a luz, cada objeto é uma fábrica de produzir sombras.

 

 

O que são, afinal, os objetos? o que trazem consigo, embutidos? que sorte de enigmas? o quê e o quanto revelam? Indagações como estas flutuam sobre cada uma dessas pinturas.

 

 

Os objetos estão em repouso, estáticos, reluzentes em sua solidão montada sobre uma superfície que oscila entre nuvem e pedra, parede caiada e céu pesado, quase chão. Daí enigmáticas, daí magníficas. Esse lugar que as imagens ocupam paira acima de onde estamos, e converte-se em território propício a sugestões e devaneios, que o artista fertiliza através da inclusão de textos.

 

 

Luiz Ernesto vem abrindo um caminho singular no âmbito da pintura. Antes exclusivamente dedicada a representação de objetos, a partir do começo da década passada sua pintura passou a incluir palavras isoladas, verbos e substantivos. A incorporação da linguagem verbal, de natureza abstrata, coincidiu, como forma de compensação, com o tratamento cada vez mais “objetual” que ele passou a dar a sua pintura, trocando a tela de tecido convencional por planos realizados a partir de fibra de vidro, construídos a partir de sucessivas camadas de resina. Ao invés do suporte clássico, o tecido de linha à lona esticada no chassis, tema final das investigações pictóricas pertencentes ao alto modernismo, expresso nas pinturas monocromáticas, nas telas cortadas por Lucio Fontana, o artista optou por uma matéria-prima própria a indústria, amplamente utilizada em automóveis, pranchas de surfe, ainda que passível de ser trabalhada artesanalmente.

 

 

A presença de sentenças organizadas em desenhos próprios a poesia, algumas semelhantes a haikais, significou uma alteração substantiva de seu projeto original, transformando sua pintura em pintura-poesia, algo aparentado com o projeto “verbivocovisual”, nascido na esteira de James Joyce, responsável pelo termo, aqui instaurado pelos poetas Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grunewald e Ronaldo Azeredo, e que visava garantir a integração entre som, sentido e visualidade. Em Luiz Ernesto, contudo, a imagem é mantida, prova de sua força e irredutibilidade e, conquanto suas poesias sejam cuidadosas no que se refere à forma e conteúdo, sua novidade consiste em confrontar os dois, ícone e símbolo, imagem e palavra, fazendo com que do entrechoque os sentidos se proliferem. Colocando-os juntos – justapostos, lado a lado, um sobre o outro etc, fica-se sem saber o que nasce antes, o que equivale a dizer que o trânsito entre ambas linguagens, entre imagem e texto, fecunda-as. Como prova, basta o exemplo do copo frágil, matéria branca sobre campo branco, parcialmente tomado pela sombra que se prolonga numa lâmina, por efeito da luz que incide sobre ele, e o jogo de palavras produzido pelo vocábulo “ínfimo”, com seu primeiro “i” retraído, grave, em contraposição a claridade de “dia”, contida no interior da palavra que fecha o verso.

 

 

O apuro em calibrar os poemas, garantindo que não se reduzam a legendas das imagens, espraia-se na série de fotografias que o artista apresenta nessa sua nova exposição, um benvindo desdobramento dessa pesquisa poética fundada no despojamento, na eloquência do silêncio e da solidão.

 

 

O amontado de lápis remete a queda e desarranjo do feixe em que anteriormente estavam organizados. Um acidente e, consequentemente um embaralhamento de cores, todas elas comedidas em seus corpos longilíneos exatos. Texto e imagem enlaçam-se na construção de um resultado que, não obstante sua fixidez, reconduz ao movimento ocorrido, a dança compreendida como a fonte de um arco de cores que jorra pelo ar.

 

 

Em várias dessas fotografias os objetos não estão a sós com as palavras, mas apresentados na situação em que estavam quando de seu registro. Os corpos e cores dos textos, dos objetos retratados e dos lugares em que estavam, chegam-nos juntos, e a tudo isso, a essa interpenetração de dimensões basculantes, ensina-nos Luiz Ernesto, chamamos espaço. Como acontece com o corpo liso e reflexivo da garrafa que condensa e expande o azul para o alto, em direção ao céu, para os lados, parede e mesa, fazendo desta a borda de um mar no qual flutua, horizontalmente exata, o verso hendecassílabo que afirma a poder dos objetos, por pequenos que sejam.

 

 

 

Sobre os trabalhos de Susana Bastos

O estágio de ser  por Luciana Garcia-Waisberg

 

 

Uma muda não é uma planta. Ela é o estágio de ser uma planta. Uma muda não se apreende, pois o que ela é agora já não será no próximo instante. Nem sempre é bela, pois seu desenho não possui um contorno definido. Sua forma poderia representar perfeitamente a esperança, na medida em que ela abrange a liberdade do começo de um ciclo e o frescor do futuro em aberto.

 

 

Em sua exposição Eixo, Susana Bastos apresenta um conjunto escultórico resultante de um processo de investigação de formas e espaços que evocam o limiar entre natural e artificial, entre perfeição e imperfeição, entre pureza geométrica e sensualidade orgânica.

 

 

Bagos de sementes, mudas de plantas e galhos secos fazem parte deste conjunto, onde cada instalação apreenderá um tempo contido no estágio de ser alguma coisa: De ser forma, de ser ideia, de ser matéria. E também de ser sonho, de ser esperança, de ser história.

 

 

Do sonho em ser semente, da esperança em ser muda e da história escrita por um galho seco, o tempo passa incessantemente em torno de eixos. O relógio conta o tempo, o planeta percorre o tempo e o homem define seu tempo. Em torno de eixos, o tempo passa e dá forma à história de todos os tempos. Em torno de eixos, ciclos se renovam.
Dos sete mil carvalhos semeados por Joseph Beuys às casas partidas ao meio por Gordon Matta-Clark, o estágio de ser é lidar permanentemente com algo novo, ora substituindo o passado, ora fissurando o presente, ora lançando esperança ao futuro, para poder trazer de volta (ao eixo) uma nova ordem que constrói, destrói e renova o ciclo espaço-temporal das coisas. E viver será sempre existir de novo, pois o que é agora será outra coisa daqui a pouco.

 

 

 

Até 21 de agosto.

Cultura visual urbana

Grafite e intervenção urbana são dois dos mais badalados fenômenos de cultura e de contracultura mundial. Este dois fatores têm encontro marcado na Onda Carioca, CasaShopping, Barra da Tijuca, RJ. São obras inéditas de seis artistas contemporâneos – Antonio Bokel, Joana Cesar, Mario Brands, Marcelo Macêdo, Pedro Sanchez e Piá (Marcio Ribeiro). Todos eles, de relação muito próxima com a arte urbana do Rio de Janeiro, criarão suas obras diretamente no local.

 

A mostra tem curadoria da Vanda Klabin. Cada artista terá liberdade para trazer as suas diversas soluções visuais, as técnicas que usam e suas múltiplas observações estéticas. “Eles vão reproduzir aquilo que os consagrou no cenário nacional: as suas trajetórias, registradas nos muros da cidade, que mostraram, ao longo dos últimos anos, uma natureza efêmera e transitória, com associações, afinidades, ou oposições entre as suas mais diversas formas de linguagem e de técnicas”, diz Vanda Klabin.

 

“A arte de rua e o grafite questionam o espaço público e exercem um papel importante no ambiente visual cultural no cenário urbano”, diz Francisco Grabowsky, diretor geral do CasaShopping. Para ele, a criação desse espaço no CasaShopping é uma marca poética na memória pública da cidade. “É uma forma de demonstrar a importância da iniciativa privada no circuito cultural e no incentivo da produção da arte contemporânea”, explica.

 

 

A partir de 19 de julho.

Investigações formais na Marcelo Guarnieri

17/jul

A exposição “Estrutura Quadro: Revisão e Desdobramentos”, exposição individual de Marcus Vinicius pode ser conferida na Galeria de Arte Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP.

 

Em sua primeira exposição na unidade de São Paulo da Galeria de Arte Marcelo Guarnieri, Marcus Vinícius exibe seu recente trabalho de pesquisa “Estrutura Quadro: Revisão e Desdobramentos”. Num total de 34 obras, divididas em 06 séries diferentes – “Listrados”, “Arrimados”, “Emendados”, “Acidados”, “Alumínio” e “Constructos”, o artista reafirma a característica e urgência de seu trabalho autoral: a investigação da “Estrutura Quadro”. O conceito nasce do processo do artista em retrabalhar o objeto quadro, a partir de sua estrutura e funcionalidade conhecidas, mas investindo-o em diversas possibilidades estéticas, com o uso de novos materiais.

 

No processo contínuo de investigação, a partir de problemas que surgem durante o caminhar, Marcus desenvolve soluções técnicas, formais e conceituais, que apontam desdobramentos. “Antigamente os trabalhos partiam de projetos prévios, mas agora os projetos são posteriores ao início do trabalho. O projeto vai acontecendo para resolver um trabalho iniciado, quando necessário”, aponta o artista.

 

Para a exposição “Estrutura Quadro: Revisão e Desdobramentos” – com obras com dimensões que variam de pequenos a grandes formatos, Marcus Vinícius retoma três séries desenvolvidas ao longo dos últimos 10 anos, os “Emendados” de 2001, os “Arrimados” de 2003 e os “Listrados” de 2004, além de sua produção experimental recente.

 

Entre as novidades para a exposição, destaque para os trabalhos acidados, alumínio, emendados e listrados. Nos “Acidados”, ácido sobre vidro transparente que recebe jateados e adesivos coloridos. Pequenos espaços criados pelos adesivos enfatizam a capacidade da obra em criar uma relação de fosco e reflexo; uma sensação ambígua de espaço e de interferência da cor do adesivo no vidro transparente. Nas obras em “Alumínio”, estruturas construídas com chapas de forro de alumínio escovado e vidro conferem importância ao material; a propriedade do material incorpora reflexos de cor e do entorno, ativando um espaço interno da obra.

 

Nos “Emendados”, quadros independentes juntam-se para compor uma única obra. A montagem horizontal do quadro cria um dinamismo entre as partes, formando uma unidade que só pode ser percebida através do deslocamento do olhar e do observador. Obras construídas em MDF, os quadros “Listrados” recebem vidros incolores apoiados, que são projetados para frente. Além do contraste entre o MDF pintado e os vidros coloridos, os projetados refletem o ambiente que circunda a obra.

 

Ao utilizar a cartela de cores de catálogo, as obras do artista refletiram a sua preocupação com uma linha de abordagem industrial e construtivista.

 

 

De 26 de julho a 23 de agosto.

Djanira na Caixa Cultural-Rio

09/jul

A Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe “Pintora descalça”, um conjunto de obras de Djanira. Artista quase sempre autodidata, a paulista Djanira da Motta e Silva (1914-1979) chegou a ter aulas com o pintor Emeric Marcier e frequentou por algum tempo o Liceu de Artes e Ofícios no Rio, mas não foi além disso. À margem da academia, inscreveu seu nome na história da arte brasileira, ancorada em uma obra muito particular – marcada por enorme riqueza cromática, temas nacionais e uma então inusitada mescla de figuração e geometrismos. No ano em que ela completaria um século de vida, sua trajetória é celebrada na individual Pintora Descalça. A Caixa Cultural abriga 37 obras, a maioria pinturas a óleo, acrílicas e guaches, sobre variados suportes. Tema caro a Djanira, o universo dos trabalhadores surge em boa parte da seleção, como em Mineiros de Carvão (1974) e Trabalhadores da Cana (1966), uma eloquente mostra do seu talento. Santos, paisagens, retratos e evocações da brasilidade (em imagens de festas juninas, por exemplo) completam o acervo.

 

 

Curiosidade: o nome da mostra, Pintora Descalça, refere-se à simplicidade e à religiosidade da artista, que fez parte da Ordem das Carmelitas.

 

Fonte: Veja-Rio por Rafael Teixeira.

 

 

 

Até 20 de julho.

 

Em sua quarta edição, o Prêmio EDP nas Artes, parceria entre o Grupo EDP no Brasil e o Instituto Tomie Ohtake, com o apoio do Instituto EDP, anuncia os 10 finalistas para concorrer aos três primeiros lugares e participar da exposição no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP: Bruno Rios e Sara Não Tem Nome, de Belo Horizonte/MG; Daniel Lie, Gabriel Torggler, Janaína Wagner e Pedro Galego, de São Paulo/SP; Felippe Moraes e Rodrigo Martins, do Rio de Janeiro/RJ; Flavio Yoshida, de Goiânia/GO e Ismael Monticelli, de Cachoeirinha/RS.

 

Dos 153 inscritos, foram selecionados 23 artistas. Após entrevistá-los via skype, o júri indicou a lista dos 10 finalistas. Os jovens artistas plásticos que se inscreveram para esta edição são provenientes de 13 Estados brasileiros: 100 de São Paulo; 18 do Rio de Janeiro; 08 de Minas Gerais; 07 do Rio Grande do Sul; 04 do Distrito Federal; 04 do Espírito Santo; 03 do Paraná; 02 de Goiás; 02 do Rio Grande do Norte; 01 do Mato Grosso do Sul. 01 de Pernambuco; 01 do Ceará; 01 da Bahia, além de um holandês residente no Brasil.

 

Compuseram o corpo de jurados: Ana Luiza Bringuente (Coordenadora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake); José Augusto Ribeiro (Curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo); José Spaniol (Artista e Professor Universitário); Juliana Freire (Galerista da Galeria Emma Thomas); Olívia Ardui (Curadora do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake) e Virgílio Neto (Artista e 1º Lugar da 3ª Edição do Prêmio EDP nas Artes).

 

Os três vencedores, que serão anunciados na abertura da mostra, terão sua produção acompanhada por críticos durante um ano. Caberá ainda ao primeiro colocado uma bolsa de dois meses no The Banff Centre, no Canadá, ao segundo uma viagem ao exterior, pelo programa Dynamics Encounters, e ao terceiro cursos no Instituto Tomie Ohtake. Na edição anterior, em 2012, os vencedores foram o brasiliense Virgílio Neto (1º lugar), seguido pelo sergipano radicado em São Paulo Alan Adi (2º lugar) e pelo paulista André Terayama (3º lugar), enquanto a carioca Fernanda Furtado recebeu a menção honrosa. O vencedor Virgílio Neto ressalta o avanço que o Prêmio EDP nas Artes proporcionou à sua carreia:

 

“Quanto ao Prêmio EDP, há duas coisas que são importantes destacar. Uma é ter o seu trabalho exposto para um júri, para pessoas que estão no sistema da arte, mostrar e conversar com essas pessoas. A outra é participar de uma exposição, principalmente no Instituto Tomie Ohtake, um lugar muito importante para o circuito e que dá visibilidade nacional. Além disso, tem a troca e o diálogo com outros colegas artistas. Já Banff foi a primeira grande residência que fiz, nunca tinha ido para a América do Norte. Foram dois meses de contato íntimo com o meu trabalho, porque lá você fica isolado e com toda uma infra-estrutura disponível para produzir e pensar sobre a sua obra. Há um grande respeito ao artista. A exposição que fiz depois, pela Funarte, surgiu, em grande parte, a partir dessa residência, dessa experiência”.

 

O prêmio replica a experiência do Grupo EDP em desenvolver talentos nas artes plásticas. As edições anteriores nos mostraram que há jovens com grande potencial, mas sem oportunidades para projeção neste cenário.

 

 

 

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Sobre o Instituto EDP

 

Instituição sem fins lucrativos responsável pelo desenvolvimento e coordenação das ações ambientais e sócio-culturais da EDP e suas controladas.
Sobre a EDP Energias do Brasil

 

EDP Energias do Brasil, que adota a marca EDP, é a holding que consolida ativos de energia elétrica nas áreas de geração, comercialização e distribuição (EDP Bandeirante e EDP Escelsa). É controlada pela EDP Energias de Portugal.

 

 

Sobre o Instituto Tomie Ohtake

 

O Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2001, em São Paulo, é referência na América Latina por seu espaço diferenciado para exposições e por sua forte atuação no campo das artes no Brasil e no exterior. Suas exposições já conquistaram vários prêmios, entre os quais: ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte, como a melhor do Brasil de 2004; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte, como melhor exposição de 2007; ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte pelo conjunto da programação, em 2007; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte melhor iniciativa cultural pela programação, em 2008; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte melhor exposição obra gráfica e indicação Prêmio Bravo melhor programação cultural, em 2009.

 

 

 

Inauguração da exposição e anúncio dos vencedores: 03 de outubro.

 

 

Exposição: Até 26 de outubro.

 

Sem Medo de Ser Kitsch

07/jul

A exposição “Com o Rio da Cabeça aos Pés – Sem Medo de ser Kitsch” traz a pesquisa e a curadoria da designer e historiadora Isabella Perrotta para o Centro Carioca de Design – Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Praça Tiradentes, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

A mostra conta a evolução do souvenir do Rio a partir dos primeiros álbuns de lembranças do século 19 (litografias), passando pelas faianças, porcelanas e vidros produzidos na Europa até os anos 1920, as bandejas de asas de borboleta (a partir dos anos 1930), as caixas de marchetaria (a partir dos anos 1950), os artefatos de pedras semi-preciosas, a mistura de remissões ao Brasil exótico, até a explosão de produtos tão diversificados e banais quanto os de qualquer outra cidade turística do mundo. E também a tatuagem aparece no repertório de lembranças da cidade. Como os artefatos que reproduzem imagens do Rio, originalmente concebidos como souvenirs de viagem para turistas, estão hoje incorporados ao gosto do carioca e são produzidos por marcas descoladas

 

Entre os expositores, estão artistas, designers e marcas contemporâneas como Chicô Gouveia, Francesca Romana Diana, Gilson Martins, Papel Craft, Limits e Sobral.

 

 

As possibilidades plásticas do souvenir

 

A exposição é dividida em três segmentos de conteúdo, que se relacionam entre si. O primeiro perpassa a história do souvenir do Rio, a partir dos álbuns de lembranças do século 19, com textos sucintos e fotos de vários momentos históricos, pertencentes a acervos públicos e de colecionadores particulares.
O segundo é um ensaio fotográfico, encomendado ao fotógrafo Beto Felício, que lança um olhar aguçado sobre a relação dos usuários (nativos e estrangeiros) com os ícones cariocas que vestem – seja através de artefatos ou até mesmo de tatuagens. E também sobre seus pontos de venda (de ambulantes a lojas de grife).
O terceiro reúne trabalhos de artistas e designers contemporâneos que produzem objetos com temáticas da cidade – roupas, jóias, bijuterias ou produtos utilitário-decorativos – que costumam agradar tanto a turistas quanto a cariocas.

 

 

Sobre a curadora

 

Designer formada pela ESDI-UERJ, com doutorado em história pela FGV, é professora e pesquisadora.da Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM. Como designer gráfica, dirige a Hybris Design, cujos projetos são focados na área cultural: design de livros, programas de concertos, balé e ópera (principalmente para o Theatro Municipal), além de projetos de exposições. É especialista na representação do Rio de Janeiro, e autora de livros e palestras sobre o tema.

 

 

Designers e marcas participantes

 

Ana Paula Castro: Designer e artista plástica com formação no Rio e na Itália. Seu trabalho é fundamentado na tradição do trabalho manual, com temas sobre a natureza. Utiliza materiais de baixo impacto ambiental como aço e madeira de reflorestamento.

 

Beatriz Lamanna: Designer e ilustradora, trabalha para a Vista Alegre Atlantis, empresa portuguesa centenária no ramo de louças finas.É Master em Design Textil e Superficies no IED de Madrid.

 

Chicô Gouvêa – Olhar o Brasil: Nascida da parceria entre Chicô Gouveia, o carioquíssima arquiteto carioca, e Paulo Reis, cria projetos de ambientação e uma grande variedade de móveis e objetos de decoração, além de investir em atividades culturais.

 

Cristina Dias: Artista plástica, designer, artesã de e utilitários. Já participou de exposições e eventos com o tema dos ícones do Rio, inclusive, a Vitrine do Panorama Carioca, na exposição Rio+Design, Milão 2009.

 

Francesca Romana Diana: Já desenhava peças em seu atelier em Roma, quando decidiu mudar-se para o Brasil, que lhe ofereceu as mais belas pedras naturais, sua matéria prima favorita. É uma das mais conhecidas designers de jóias do país.

 

Gilson Martins: O designer começou a fornecer bolsas para as melhores marcas do Rio, mas foi em 1990 que seu trabalho passou a percorrer um caminho além da moda. Acabou fazendo de suas bolsas obras de arte.

 

Henrique Mattos e David Duarte: Os tatoos vão mostrar as tatuagems com imagens do Rio de Janeiro.

 

Kakau Höfke: Através de cores alegres e animadas, ela vem transmitindo desde 2007 a aura carioca em quadros, almofadas, cangas, estátuas, camisas e qualquer outro suporte que possa encontrar pela frente.

 

Lili Kessler – La Modiste: Estúdio de criação multidisciplinar que atua em vários segmentos como moda, estamparia, cenografia, design de ambientes, desenvolvimento de produtos, identidade visual e arte. Suas estampas do Rio (para móveis e vestuário) partem de fotografias da orla da cidade.

 

Limits: Desde 2001, ano em que surgiu, possui uma forte identidade urbana e jovem.  Trazendo a essência carioca de suas raízes, a marca tem estilo próprio, utiliza cores quentes, leveza nos tecidos e foca no meio ambiente.

 

Papel Craft: Criada em 1994, com a ideia de desenvolver produtos diferenciados, tornou-se referência no segmento de papelaria. Uma boutique de papel com objetos de design. Qualidade, humor, modelos e padronagens são o ponto forte da marca. Desde 2007, utiliza-se de temas cariocas em suas padronagens.

 

Use Huck: Parceria da grife carioca Reserva com o apresentador Luciano Huck, a marca estreou em outubro de 2011. As camisetas ganham a cada semana uma estampa diferente. A carioquice aparece em grírias e na representação da sua irreverência.

 

Ressurgir: A Ong, que criou peças exclusivas para a exposição, transforma produtos e tecidos doados, desenvolvendo uma linha que caracteriza-se pelo uso de patchwork e pintura a mão.

 

Sandra Gullino: Designer e origamista, tem trabalhos publicados na Alemanha, Itália, Estados Unidos, França, Chile, Colômbia e Ucrânia, além de peças de cenários e programas para a TV Globo. Produziu peças de origami exclusivas para a exposição e vai ministrar duas oficinas durante o evento.

 

Sobral: Carlos Alberto Sobral começou a vender colares e acessórios de resina nos anos 70 na feira hippie em Ipanema. Hoje, tem vários pontos de venda espalhados pelo Brasil e ganhou prêmio em Paris, concorrendo com mais de 600 expositores.

 

Terravixta: Cariocas apaixonadas pelo Rio, criaram mini esculturas de madeira para montar, onde cada peça narra um fragmento da vida de um dos nossos monumentos históricos.

 

Zeppelin Artes: As criações exclusivas de design em pop art renovam o jeito de olhar a cidade, e são estampadas em vários artigos – de  t-shirts a  objetos essenciais para o dia a dia de casa.

 

 

De 15 de julho a 30 de agosto.

Homenagem mural

Registro de instalação da pintura “Lou Tarsimona”, mural de Ozi para o novo muro do Instituto Rubens Gerchman, Barra da Tiuca, Rio de Janeiro, RJ. O artista realizou uma fusão de imagens icônicas dos artistas Rubens Gerchman (Mona Lou) e Tarsila do Amaral (A Negra). Clara Gerchman (filha do pintor Rubens Gerchman) e o curador Marco Antonio Teobaldo estiveram na coordenação do projeto.

Retrospectiva de Palatnik

04/jul

 

A exposição “Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura”, com curadoria de Felipe Scovino e Pieter Tjabbes, é a maior mostra já realizada do artista, consagrado pela criação de obras marcadas pela fusão entre o movimento, o tempo e a luz; na Sala Paulo Figueiredo, Scovino apresenta obras do acervo do museu que ampliam o conceito de pintura de diversos artistas em Diálogos com Palatnik. Pinturas, desenhos, estudos, objetos, móveis e esculturas compõem a exposição “Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura”, que o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta com curadoria de Felipe Scovino e Pieter Tjabbes, e patrocínio do Banco Safra.

 

Ao unir estética à tecnologia, Palatnik utiliza movimento, luz e tempo como instrumentos para a criação de obras com grande potencial visual e poético, lançando os fundamentos de uma corrente artística que ficou conhecida como arte cinética, na qual as fronteiras entre pintura e escultura se confundem e se ampliam. Na Sala Paulo Figueiredo, Scovino apresenta a mostra Diálogos com Palatnik, reunindo 39 obras de 26 artistas do acervo do museu que repensam o conceito de pintura. Apresentada no CCBB, de Brasília, e no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura chega ao MAM com 97 obras, onze a mais que suas antecessoras: a mostra traz quatro trabalhos adicionais do artista, um pôster produzido pelo pintor e artista gráfico Almir Mavignier e uma série de seis obras do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, de dois internos do Hospital Psiquiátrico Dom Pedro II, em Engenho de Dentro (RJ), que influenciaram diretamente a carreira de Palatnik. São duas pinturas em guache sobre papel de Emydio de Barros e quatro desenhos de Raphael Domingues, produzidos com nanquim e bico de pena sobre papel.

 

Aos 86 anos, o artista residente no Rio de Janeiro é um dos pioneiros e a maior referência em arte cinética no Brasil, corrente que explora efeitos visuais por meio de movimentos físicos e ilusão de ótica, utilizando pesquisa visual e rigor matemático em obras com instalações elétricas que criam movimentos e jogo de luzes. Do homenageado são expostas 90 obras, desde óleos sobre tela do início da carreira a trabalhos recentes como da série W, de acrílica sobre madeira. Estão presentes as séries mais célebres: Aparelhos Cinecromáticos, Objetos Cinéticos e Objetos Lúdicos, além de móveis dos anos 1950, Relevos Progressivos e as Progressões, em que o jacarandá é o meio e o tema para pintura. Em São Paulo, são exibidos exclusivamente obras do artista que pertencem ao acervo do MAM: Objeto Cinético (1986), Progressão K-40 (1986), Mobilidade IV (1959/99), Aparelho Cinecromático (1969/86) e o pôster produzido por Almir Mavignier, em 1964, para uma exposição do Palatnik na Alemanha.

 

Nascido em Natal (RN), filho de russos, Palatnik passou a infância em Tel-Aviv (então Palestina), onde fez curso de especialização em motores de explosão. Aos 20 anos, voltou permanentemente para o Brasil. O jovem artista mudou a forma de ver, fazer e entender arte quando conheceu o Hospital Psiquiátrico Dom Pedro II, coordenado pela Dra. Nise da Silveira, levado por Almir Mavignier, orientador do ateliê de pintura da instituição. Ao ver obras de pacientes esquizofrênicos, que apresentavam uma produção excepcional, mesmo sem estudos sobre arte, Palatnik percebeu que realizava algo inócuo frente àquela produção rica de artistas que na grande maioria desconhecia o significado da expressão “arte”. Assim, abandonou os pincéis e passou a ter uma relação mais livre entre forma e cor.

 

Aprofundando os estudos sobre psicologia da forma e usando os dotes como engenheiro, ele começou os experimentos com luz e movimento que deram origem aos Aparelhos Cinecromáticos – caixas com lâmpadas e telas coloridas que se movimentam acionadas por motores, um mecanismo que gera uma série de imagens de luzes e cores em movimento, que unem lirismo e jogo de percepção, e aos Objetos Cinéticos – aparelhos constituídos por hastes ou fios metálicos que possuem nas extremidades discos de madeira pintados de várias cores, além de placas que se movimentam lentamente, acionado por motores ou eletroímãs, dando à mecânica uma dimensão estética que provoca encantamento com os movimentos rotativos.

 

Esse uso inusitado que Palatnik faz da tecnologia e sua originalidade fez com que a classe artística e os júris especializados focassem e admirassem seus trabalhos. Durante a I Bienal de São Paulo, em 1951, a comissão internacional não sabia como qualificar a obra Aparelho Cinecromático Azul e roxo em seu primeiro movimento. A obra não era uma escultura, tão pouco uma pintura. Era algo que não se enquadrava nas categorias da Bienal. A solução encontrada para garantir o reconhecimento pelo trabalho original e inovador foi lhe dar uma menção honrosa.

 

 

Retrospectiva do trabalho

 

É importante destacar que a exposição pensa a obra de Abraham Palatnik como um trabalho pictórico, e como a pintura – na concepção múltipla e ampliada – pode ser vista e estudada mesmo em objetos tridimensionais. “Seja nos Aparelhos Cinecromáticos, nos Objetos Cinéticos ou nas pinturas, o artista não abre mão da artesania e de certa gambiarra, que ao longo dos anos foi desaparecendo” explica Scovino. “Hoje os cortes feitos na madeira para a execução da série W são produzidos a laser e não mais na casa do artista por meio de uma máquina cuja precisão era infinitamente menor que a do laser,” afirma.

 

Em 1954, Palatnik cria com o irmão Aminadav a fábrica de móveis Arte Viva, que funcionou até meados da década seguinte. A experimentação que guiava o trabalho no ateliê foi deslocada para a fábrica, onde foram produzidos vários tipos de mesa com tampos de vidro pintados pelo artista, além de poltronas, cadeiras e sofás. Na década de 1970, Palatnik e o irmão inauguram a Silon, produzindo em larga escala objetos de design, sempre em formato de animais. “A obra só adquiria sentido pleno se alcançasse a vida, a rotina e o uso mais comum do cidadão. Mais uma vez, percebemos a insatisfação com a estagnação, um desejo contínuo de pesquisa e de integração de distintas áreas como escultura, pintura, tecnologia, física, móveis e design”, explica o curador.

 

Nos Relevos Progressivos, realizados a partir dos anos 1960, o sequenciamento dos cortes na superfície do material – cartão, metal ou madeira – cria camadas que variam dependendo da profundidade e localização do corte, constituindo a própria dinâmica. Na década de 1970, Palatnik produziu a série Progressões, que são pinturas formadas por intervalos de jacarandá montados em sequências de lâminas finíssimas. Aproveitando a materialidade dos veios, nós e outras marcas naturais, percebe-se a estrutura de desenhos e gestos que demarcam um corpo vivo e dinâmico. Progressões também se desmembrou a partir dos anos 1990 na série W, em que sai o jacarandá e entra a tinta acrílica.

 

 

De 02 de julho a 15 de agosto.

Dois pintores na Casa Daros

A Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Vânia Mignone + René Francisco Rodríguez – Pinturas”, com curadoria de Hans-Michael Herzog, que reúne 21 trabalhos dos dois artistas. Hans-Michael Herzog destaca que os trabalhos expostos vão mostrar uma “pintura mais gráfica, com o uso de palavras. Os trabalhos de René Francisco são irônicos e remetem à propaganda cubana, dentro do realismo socialista. Os de Vânia Mignone também usam conceitos de imagens da publicidade, e abordam o universo feminino, “em uma variação mais poética”. A exposição encerra a temporada dedicada à pintura na Casa Daros, que tem como âncora “Fabian Marcaccio – Paintant Stories”, em cartaz até 10 de agosto próximo. A Casa Daros também informa que não funcionará em dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo e na final, dia 13 de julho.

 

 

Placas de Sinalização

 

 

Vânia Mignone diz que seu trabalho “tem muito de cartazes publicitários, placas de sinalização, que eu adoro”. “E, se me perguntarem, vou dizer que nem considero meus trabalhos propriamente quadros, considero placas. Eu acho essa coisa do quadro na parede um pouco demais, eu nunca quis isso”. Ela conta que fica “muito contente” ao ouvir comentários que comparam seu trabalho à fotografia. “Minha pintura tem uma visão, um ângulo, pega situações ou cenas muito mais ligadas à fotografia e ao cinema do que a uma técnica de modelos posando ou alguma construção mais tradicional da imagem”, observa.

 

“Gosto da pintura, porque ela tem essa proximidade muito grande com o espectador, que vai ver onde tem mais tinta, onde a mão estava mais pesada, o que foi rabiscado, cortado”. Vânia Mignone destaca que há um aspecto importante: “É que no âmago de meu trabalho esteja claro que ele foi feito no Brasil”. “É uma obra brasileira, foi feita aqui e eu gosto que ela mostre isso, não por meios óbvios. Eu moro em Campinas, onde não temos grandes exposições, pois elas estão em São Paulo. Mas, se você consegue fazer um bom trabalho aqui, dentro de suas influências e possibilidades, ele vai ser tão bom quanto uma pessoa que está morando em Nova York. Se a arte é boa, ela alcança o mesmo patamar que todo mundo”.

 

Para René Francisco Rodríguez, a pintura é ”um meio que sempre vai existir”. “E é justamente esse seu mistério o que a torna fascinante em relação a qualquer outro tipo de arte. É algo que é muito, muito velho, mas é tão vivo que parece até novo. Quero dizer, foi tão esquecida que se assemelha a um descobrimento; cada vez que voltamos a ensinar e falar de pintura, nos surpreendemos novamente”.

 

Ele afirma que a pintura “é uma espécie de janela que muda seu significante a cada época”. “Houve um momento, por exemplo, em que a pintura era uma janela para Deus. Além disso, todas as formas de arte lidam com a questão da representação, e quem instituiu esse problema para sempre foi a pintura”. “Para mim, pintar é um momento de reclusão, um regresso à memória e à análise. Entro no ateliê e me interno, vivo uma espécie de ‘incomunicação’, pois é um período em que você se volta para si, quer acalmar-se, olhar seus objetos, seu trabalho, suas recordações. Ou seja, há um retorno ao passado. De certa forma, para mim, pintar é como escrever, fazer literatura. O ateliê é, para mim, como um hospital, onde você se cura”, diz.

 

Sobre a temporada de pintura, que teve ainda as exposições “Luiz Zerbini – Pinturas” e “Guillermo Kuitca + Eduardo Berliner – Pinturas”, Hans-Michael Herzog observa que não pretendeu esgotar o assunto, nem abranger toda a pintura atual, e sim mostrar “diferentes tipos de pintura existentes na atualidade, como um relance, uma olhadela”.

 

 

Programa Meridianos

 

 

No dia 3 de julho de 2014, às 17h, os artistas Vânia Mignone e René Francisco Rodríguez vão falar sobre trajetória, com mediação do curador Hans-Michael Herzog. O evento será realizado no auditório da instituição com entrada gratuita, mediante distribuição de senhas uma hora antes.

 

 

 

Sobre os artistas

 

 

René Francisco Rodríguez, nascido em 1960, em Holguín, Cuba, é um dos expoentes da arte contemporânea em seu país, com projeção internacional, e uma reconhecida atividade como professor. Participou da 26° Bienal de São Paulo, em 2004, da Bienal de Veneza, em 1999 e 2007, da Segunda Bienal de Arte Contemporânea de Tessalônica, Grécia, em 2009, e de duas edições Bienal de Havana, em 1997 e 2000.

 

Vânia Mignone nasceu em 1967, em Campinas, São Paulo. Entre suas principais mostras, estão a 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, “20 anos de Programa de Exposições”, no Centro Cultural São Paulo, “Se a pintura morreu o MAM é um céu!”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ambas em 2010, “Brazil: Moving Horizons, The UBS Art Collection-1960s to the Present Day”, no National Art Museum of China, em Pequim, em 2008, “Contraditório-Panorama de Arte Brasileira”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2007. No momento faz uma mostra panorâmica no MAC USP, em São Paulo, até 30 de novembro próximo.

 

 

 
De 05 de julho a 10 de agosto.

 

Barrão na Fortes Vilaça

30/jun

A Galeria Fortes Vilaça, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta “Lugar nenhum”, a nova exposição individual do artista carioca Barrão. As cinco esculturas e a série de aquarelas que compõem a mostra revelam uma nova linha de pesquisa na prática do artista, onde os volumes são menos caóticos, mais sintéticos e geometrizados, ao passo que o figurativismo aparece de maneira mais sutil.

 

A produção escultórica de Barrão é dedicada à criação de assemblages com peças de cerâmica. Seu método começa na acumulação e na ordenação de variados objetos decorativos e utilitários, que são cuidadosamente seccionados pelo artista. Em seguida, são remendados com resina epóxi em composições que frequentemente tangenciam o kitsch e o surrealismo.

 

Em “Fogueira Geo”, múltiplas canecas são coladas para formar dez colunas que, montadas no chão, remetem à armação de uma fogueira. O fogo que poderia emanar daí não é outro senão o conjunto das diferentes histórias de cada caneca, que trazem estampadas em si variados motivos comemorativos, promocionais ou festivos. Ao mesmo tempo, a associação entre essas colunas com a linearidade orgânica de troncos e galhos – assim como em “Tora” (50 anos / Festa Alemã) e outros trabalhos desta mostra – revela a preocupação do artista para que a geometrização da forma seja tão mimética quanto os objetos que o inspira.

 

Os trabalhos “Morretão de 15″, “Morretão de 12″ e “Vara Pau”, também formados por colunas, têm como estrutura modular bases cilíndricas de pias de banheiro. Esse inusitado material permite ao artista trabalhar em escala diferente da que está habituado – aqui as obras ganham um aspecto mais monumental –, ao mesmo tempo que sua superfície lisa chama a atenção para a qualidade pictórica da composição, variando entre tons pastéis. As aquarelas que completam a exposição, por sua vez, apresentam mesma lógica cromática e traduzem em veladuras a sobreposição de volumes praticada na escultura.

 

A escolha de Barrão por criar com objetos prontos, geralmente associados ao cotidiano e à cultura doméstica, permite que sua obra seja lida como uma colagem com fragmentos de pequenas memórias. Ao mesmo tempo,  é curioso notar como a intervenção do artista sobre esses objetos os modifica também em sua natureza – canecas que não podem mais conter bebidas ou suportes de pia que não sustentam pia alguma. Esvaziados de função, mas carregados de histórias cotidianas, os trabalhos de Barrão são como totens de coisas banais que, por não apontarem a lugar nenhum, apontam também para todos os lugares.

 

 

Sobre o artista

 

Barrão nasceu em 1959 no Rio de Janeiro onde vive e trabalha. Dentre suas exposições individuais, destacam-se: Mashups, The Aldrich Contemporary Art Museum, Ridgefield, USA, 2012; e Natureza Morta, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal, 2010. Em mostras coletivas, o artista também já participou, entre outras, do Panorama de Arte Brasileira em 2007 e de exposições no MAC, São Paulo; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Pinacoteca do Estado de São Paulo; além da antológica mostra Como Vai Você, Geração 80? no Parque Lage, Rio de Janeiro, 1984. Paralelamente, Barrão ainda integra desde 1995 o coletivo “Chelpa Ferro”, com Luiz Zerbini e Sérgio Mekler.

 

 

Até 16 de agosto.