Formas cerâmicas de Rodrigo Torres

28/abr

 

 

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeito, RJ, apresenta a exposição individual “Livro de Quartzo”, por Rodrigo Torres. A mostra convida a ver de perto uma expansão não apenas técnica, mas também conceitual do corpo de obras que revelam um estado convulsivo e catártico de sua criação. Rodrigo Torres tensiona a dimensão “decorativa” das cerâmicas, exibindo esculturas que evocam formas diversas, nos permitindo, ainda, experienciar suas insuspeitadas potencialidades sonoras e musicais. Feitas de fogo, água, ar e terra, uma a uma, e juntas em um desconcertantemente belo coletivo de seres enigmáticos, parecem não temer a nada nem ninguém.

 

 

“Certa noite, após um estrondo desavisado, acordou atônito em meio a um sonho fragmentado, despedaçado em cacos pelo chão de seu ateliê. Limpou seus olhos – em busca de ver o mundo como se o mirasse pela primeira vez, novamente, quem sabe – e mirou o ambiente ao seu redor.

 

 

Não era o apocalipse per se, tampouco se tratava de uma tragédia anunciada.

 

 

Havia fogo e barro, argila em brasa, pedaços robustos de cerâmica espalhados por todo o chão, como que estendido feito um tapete vermelho a encaminhá-lo para um novo mundo”.

 

 

Trecho do texto “O artista, um arqueólogo do futuro”, 2022 por Victor Gorgulho

Até 30 de julho.

 

 

As possibilidades da argila

27/abr

 

 

 

Sob a titulação de “poros e acúmulos”, entra em cartaz a exposição individual de Carla Santana no Aquário, espaço frontal da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, dedicado a introduzir novas vozes do circuito. A mostra reúne um conjunto de obras inéditas que reforça o interesse da artista carioca pela argila e suas possibilidades. A partir da mistura do barro com pigmentos naturais extraídos da terra, Carla Santana produz uma massa aquosa que ela deposita sobre o papel e trabalha por meio de um processo de subtração e acúmulo, criando um surpreendente vocabulário morfológico.

 

 

“A minha relação com a argila tem uma dimensão de materializar o imaterial. O barro é uma máscara de expurgação de dores internas, uma via para criar uma narrativa sobre o meu corpo”, explica a artista. O papel se transforma em pele sobre o qual ela cria texturas que se assemelham a poros, a veias e a vísceras, uma lupa sobre corpos – humanos e animais – tingidos de tons de mostarda, terracota, branco e preto, com inserções pontuais de azul.

 

 

Formada em teatro, tendo trabalhado nas companhias Terraço Artes Integradas e Mundé, Carla Santana adentra o universo artístico a partir do palco, refletindo acerca da dimensão narrativa do corpo. Referenciando essa fase formativa, ela esgarça a experiência sensorial e faz do elemento tátil peça primordial de sua prática. No início de sua trajetória depositou a argila sobre o próprio corpo; depois, adentrou ao processo de modelagem e escultura, para chegar a uma dimensão instalativa do material e então desmanchá-lo até transformá-lo em tinta. A foto-performance em preto e branco que integra a exposição sintetiza seu trabalho: um corpo imerso de cabeça na argila. “Eu preciso do acúmulo para subtrair e criar uma imagem, a foto também é sobre o acúmulo, uma montanha de argila. Da terra viemos, para a terra voltaremos”, conclui.

 

 

Sobre a artista

 

 

Carla Santana nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, 1995. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Dentre suas exposições destacam-se: Vou ao redor de mim, Centro Cultural Paschoal Carlos Magno (Niterói, Brasil, 2019); Submersiva – Ato 1, Auroras (São Paulo, Brasil, 2021); Crônicas cariocas, MAR – Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, Brasil, 2021); Engraved into the Body, Tanya Bonakdar Gallery (New York, USA, 2021); Escrito no corpo, Carpintaria (Rio de Janeiro, Brasil, 2020) e Sob a Potência da Presença, Museu da República (Rio de Janeiro, Brasil, 2019).

 

 

Até 18 de junho.

 

 

Retrospectiva de Walter Firmo

20/abr

 

 

A sede de São Paulo do Instituto Moreira Salles apresenta a exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”. A retrospectiva traça um panorama da obra do fotógrafo, marcada, sobretudo, pelas imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra do país. No dia da abertura em 30 de abril, às 11h, haverá um debate presencial com Firmo e os curadores da exposição no cineteatro do IMS Paulista.

 

A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.

 

A seleção ocupa dois andares do centro cultural e reúne cerca de 266 fotografias, produzidas desde a década de 1950, no início da carreira do artista, até 2021. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018 em regime de comodato.

 

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, Rio de Janeiro, criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém -, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York. Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento “Black is Beautiful” e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

 

A mostra apresenta sua obra fotográfica a partir de sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Há fotos feitas em Salvador, BA, como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados, de 2002; em Cachoeira, BA, como o retrato da Mãe Filhinha (1904 – 2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra, ES, onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928 – 2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.

 

Nas fotografias, prevalece uma aura de afetividade e valorização da negritude, como afirma o próprio artista: “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.” Em texto publicado no catálogo, Janaina Damaceno Gomes também reflete sobre o tema: “Se numa sociedade racista, a norma é o ódio e o auto-ódio, como nos mostram os trabalhos de bell hooks, Frantz Fanon e Virgínia Bicudo, amar a negritude compreende um percurso necessário de cura. Não é à toa que Firmo define a cor em seu trabalho em termos de amor pelo povo e pela cultura negra, mas é necessário entender que o direito a olhar não se restringe à ideia de autorrepresentação.”

 

O segundo núcleo apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Desse período inicial, a mostra também traz fotografias realizadas para a matéria “100 dias na Amazônia de ninguém”, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem. Para a matéria, que contou com textos e imagens de sua autoria, o fotógrafo percorreu cidades e povoações ribeirinhas do Amazonas e do Solimões, documentando as paisagens, disputas políticas da região e a população, que incluía alguns de seus familiares.

 

Nas próximas seções, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Sobre seu processo criativo, o artista comenta: “A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que eu posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento. Nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução, verdadeira tradução simultânea construída num piscar de olhos em que o intelecto e o coração se juntam, materializando atmosferas.”

 

Essa aproximação com a teatralização e a pintura fica evidente no ensaio realizado em 1985 com os pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e os filhos (Eduardo e Aloísio Firmo) do fotógrafo, exibidos na exposição. Nas imagens, José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas “Os noivos” (1937) e “Família do fuzileiro naval” (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962).

 

O curador Sergio Burgi comenta a poética construída pelo artista: “Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial -, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real.”

 

Como destaque, a exposição apresenta ainda retratos de músicos produzidos por Walter Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustraram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque.

 

Nesse conjunto, está ainda a famosa série de fotografias de Pixinguinha. Em 1967, Firmo acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala da residência e a colocou no quintal, ao lado de uma mangueira. Propôs a Pixinguinha que se sentasse nela com o saxofone no colo, no que foi prontamente atendido. Composta a cena, registrou o músico a partir de diversos ângulos, numa série de imagens que se tornaram icônicas.

 

A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário, realizado em 1985 para a revista IstoÉ. As imagens foram feitas na antiga Colônia Juliano Moreira, local onde Bispo do Rosário viveu e criou seu acervo ao longo de cerca de 25 anos ininterruptos. Nas fotografias, o artista aparece com obras suas, como o “Manto da Apresentação”, enquanto confronta o local onde permaneceu confinado por anos. A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde. Sobre essas imagens, Damaceno comenta: “Mais do que uma memória da nação, o trabalho de Firmo faz parte de um “arquivo fotográfico da diáspora”, que se constitui enquanto patrimônio da história negra global”. Na mostra, o público poderá assistir ainda ao curta-metragem “Pequena África” (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia. O filme trata da história da região que dá nome ao título, área da zona portuária do Rio que recebeu inúmeros africanos escravizados.

 

O segundo andar da exposição é dedicado à fotografia de Walter Firmo em preto e branco, uma oportunidade única de compreensão dessa produção, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita. Nessa parte, um dos destaques é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.

 

Em cartaz até setembro, a exposição contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas posteriormente no site do IMS. Ao longo do período expositivo, o público poderá conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do país, que até hoje, aos 84 anos, mantém seu compromisso pelo fazer artístico, como afirma em suas próprias palavras: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais.”

 

Sobre o catálogo

 

Por ocasião da mostra, o IMS lançará o catálogo “Walter Firmo – No verbo do silêncio a síntese do grito”. A publicação traz as obras do autor presentes na exposição, além de textos de autoria do próprio Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno Gomes. O livro também traz uma entrevista do fotógrafo em conversa com os curadores e com o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick. Segundo Ato, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.

 

Com entrada gratuita, mediante apresentação de comprovante físico ou digital de vacinação contra Covid-19 e documento oficial com foto para todos com mais de 5 anos.

 

O Movimento Armorial no CCBB/Rio

 

 

O Ministério do Turismo e BB Seguros apresentam a mostra “Movimento Armorial 50 anos”, uma exposição com encontros musicais e literários que conduzirão o público pelo eclético, múltiplo e fantástico universo do Movimento Armorial. O Movimento, que completou 50 anos em 2020, foi lançado em Recife (PE), tendo como mentor o consagrado escritor Ariano Suassuna (1927 – 2014). Com a “Mostra Movimento Armorial 50 anos”, o Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reafirma o seu compromisso em promover a brasilidade e a cultural nacional.

 

 

Armorial 50

 

 

Armorial 50 é um evento idealizado por Regina Godoy para marcar o cinquentenário do Movimento Armorial lançado pelo dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, professor e palestrante Ariano Suassuna, em 18 de outubro de 1970. O Armorial tinha como proposta criar uma arte erudita e universal, ligada às raízes da cultura popular brasileira, ao espírito mágico da literatura de Cordel, à música que acompanha seus cantares, à xilogravura que ilustra suas capas, e também à riqueza das festas populares como o Maracatu e o Reisado. Mais do que estabelecer diretrizes rígidas propunha uma convergência entre diferentes manifestações, como dança, literatura, pintura, música, teatro. Por isso, o evento “Armorial 50″ reúne esses vários gêneros, apresentando uma grande exposição complementada por encontros musicais organizados por Antonio Madureira e conversas sobre arte e literatura coordenadas por Carlos Newton Júnior.

 

 

A Onça Caetana é uma das formas assumidas pela morte no universo ficcional de Ariano, que, para tanto, parte do nome “Caetana”, com o qual o sertanejo costuma se referir à morte, vendo-a na forma de uma jovem mulher (“a moça Caetana”). Ariano desenhou várias versões da Onça Caetana, sendo esta a escolhida para ser realizada tridimensionalmente para a exposição. A peça foi confeccionada em Belo Horizonte pelos bonequeiros Agnaldo Pinho, Carla Grossi, Lia Moreira e Pedro Rolim.

 

 

A mostra foi organizada em quatro núcleos, distribuídos nas salas do segundo andar do CCBB-RJ e contou com a consultoria de Manuel Dantas Suassuna e Carlos Newton Júnior. A estética Armorial está presente na identidade visual da mostra, criada por Ricardo Gouveia de Melo, e na magia das cores e luzes do cenógrafo Guilherme Isnard. Assim, logo na chegada, o visitante é recebido pela Onça Caetana, uma lenda do folclore nordestino muito ligada à vida de Suassuna, que a retrata com frequência em seus livros, desenhos e iluminogravuras.

 

 

Armorial fase experimental

 

 

No primeiro núcleo, denominado Armorial Fase Experimental, estão reunidos os artistas que participaram do início do movimento. As artes plásticas estão representadas por obras de Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Lourdes Magalhães, Fernando Barbosa e uma Sala Especial dedicada a Gilvan Samico (1928 – 2013), onde, além de suas famosas xilogravuras, estão pinturas inéditas. O núcleo assinala também o trabalho da Orquestra Armorial e do Quinteto Armorial, cuja proposta de produzir uma música de câmara erudita com influência popular, teve grande sucesso na época. Representando o Teatro, estão os figurinos desenhados por Francisco Brennand para a primeira versão cinematográfica da peça “O Auto da Compadecida”, parte deles recriada especialmente para a mostra pela figurinista Flávia Rossette. Dirigido por George Jonas o filme foi lançado em 1969.

 

 

Ariano Suassuna, Vida e Obra

 

 

O segundo núcleo da mostra intitula-se Ariano Suassuna, Vida e Obra e traz a cronologia completa do autor, seus poemas, livros, manuscritos e também vídeos das suas famosas aulas-espetáculo. Um mergulho no fértil e amplo imaginário criativo do mestre.

 

 

Armorial segunda fase

 

 

No núcleo Armorial Segunda Fase, estão reunidas as iluminogravuras de Ariano Suassuna, nos quais ele integra sua faceta de escritor à de artista plástico, de forma surpreendente. São dois álbuns produzidos na década de 1980: “Sonetos com Mote Alheio” (1980) e “Sonetos de Albano Cervonegro” (1985), ambos mantêm as mesmas características básicas de representação, e, juntos, formam um livro só: uma espécie de autobiografia poética. Nesse grupo estão ainda obras de Zélia Suassuna e fotos das “Ilumiaras”, conceito que Suassuna elaborou para designar espaços imantados de arte e cultura. Pertencendo ainda a esse momento está o conjunto “Armorial Hoje e Sempre”, mostrando que, embora o Armorial não exista mais como movimento, seu conceito e estética deixaram frutos que podem ser vistos na arte contemporânea, em artistas como Manuel Dantas Suassuna e Romero Andrade Lima, na dança com o Grupo Grial, no cinema e televisão, em autores como João Falcão, diretores como Guel Arraes e Luiz Fernando Carvalho, e atores como Antonio Nóbrega.

 

 

Armorial – Referências

 

 

O quarto e último módulo: Armorial – Referências, mostra as fontes que Ariano considerava a base para o movimento: o cordel e as festas populares. Na seleção apresentada na exposição foram reunidas talhas e xilogravuras dos mais importantes artistas do cordel, como, J.Borges, João de Barros, José Costa Leite, Mestre Dila e Mestre Noza, além de uma imersão no universo cordelista, a partir de uma cidade interativa desenhada por Pablo Borges. As festas populares e suas imagens de beleza e riqueza extraordinárias, estão apresentadas na mostra através de figurinos, estandartes, vídeos e fotos do Reisado, Maracatu e Cavalo-Marinho.

 

 

Dentro do espírito que norteou Suassuna, a proposta da exposição é reunir essas artes, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade, às tradições de negros, índios e brancos, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, plena de humor – um humor que faz pensar. Uma lição de vida e de resultados positivos, resultados que devem ser mostrados para a sociedade improdutivamente polarizada na qual vivemos hoje. Assim como outras, a comemoração dos 50 anos do Movimento Armorial foi adiada devido à pandemia, mas, agora queremos celebrar, sorrir e sonhar – e o Sonho é a matéria prima do Armorial.

 

 

Boa visita!

Denise Mattar – Curadora da exposição.

Até 27 de junho.

 

 

Na Usina de Arte, em Pernambuco

19/abr

 

 

“Paisagem”, de Regina Silveira, e “Um Campo da Fome”, de Matheus Rocha Pitta, espelham a preocupação de gerações e tendências diferentes, com a situação social do País.

 

 

Parafraseando o escritor italiano Ítalo Calvino, volto sobre meus passos à Usina de Arte, em Pernambuco. O retorno imaginário é a experiência do ver depois, do ver outra coisa, do viver ainda.

 

 

As seguidas mutações desse espaço cultural a céu aberto, funcionando em plena Zona da Mata, reforça a ideia de transformar territórios rurais em centros artísticos, múltiplos, vivos e agregadores de comunidades esquecidas. Com a inauguração das obras “Paisagem”, de Regina Silveira e “Um Campo da Fome”, de Matheus Rocha Pitta as discussões sobre violência e fome se materializam em dois projetos políticos que adensam o acervo de arte da Usina. Ambas espelham a preocupação desses dois artistas, de gerações e tendências diferentes, com a situação social do País.

 

 

O labirinto transparente de Regina foi montado na 34ª Bienal de São Paulo e adquirido pelo empresário Ricardo Pessoa de Queiróz, segundo a artista, depois de uma intermediação das galeristas paulistanas Luciana Brito e Marga Pasquali. As paredes transparentes, “perfuradas” graficamente por tiros, exibem uma cena enigmática. Os alvos apontam para o ponto cego da indagação sobre quem atira e o que é alvejado. A artista se aproxima de formas geométricas que dão essência a esse trabalho provocador, envolto em uma tensão curiosa. Como diz Walter Benjamim, o convencional frui-se sem crítica e o diferente está sujeito a ela. Paisagem pode simbolizar os enfrentamentos vividos no Estado de Pernambuco, notável por suas lutas históricas contra os portugueses, franceses, holandeses ou durante a escravidão nos campos de cana de açúcar. De qualquer ângulo que se olhe esse labirinto, as paredes translúcidas colocam a topografia circundante como pano de fundo. Assim, a instalação envolve e é envolvida pelo entorno. O visitante pode experimentar uma caminhada pelos cem metros quadrados, cujas paredes de 2,50 m  de altura exibem, a um pouco mais de um metro, imagens impressas de tiros.

 

 

Vista do alto, “Paisagem” torna-se um mapa com traçado total, um microcosmo constituído de fragmentos perfeitos. A experiência espacial coletiva ou individual é primordial para constituir um labirinto. Conceitualmente os trabalhos de Regina são recorrentes. Paisagem reforça a série de labirintos gráficos, realizados na década 1970, em torno do mesmo eixo, com marcas gráficas de disparos. Também a série “Crash” está no alinhavo deste pensamento no qual louças de porcelanas são quebradas.

 

 

A artista realiza a instalação com liberdade formal e situação espacial fluídas. Na sociedade contemporânea tudo acontece rápido e simultaneamente tornando só percebido o que sobressai. Sensação é o que arranca a percepção do seu ritmo costumeiro e Regina aplica isso muito bem, seja em suas obras intimistas, seja nos trabalhos públicos superdimensionados. O labirinto translúcido, formalmente limpo e angular da artista, dialoga em contraponto ao labirinto orgânico e aberto, “Eremitério Tropical” de Márcio Almeida construído com tijolos e lentamente mimetizado pela paisagem. A instalação tangencia a morfologia “radicante”, que se refere às plantas que produzem raízes no processo de deslocamento. A ideia se encaixa no conceito do paisagista Gilles Clément que propõe criar “jardins em movimento”, utilizando exatamente essa característica móvel, ou desterritorializante, do mato e das plantas trepantes.

 

 

Com outras gramáticas, mas igualmente político, Matheus Rocha Pitta inaugura hoje sua obra maior, Campo da fome, uma imensa intervenção na paisagem. A instalação abrange o repertório de manifestações visuais que envolve a ecologia, focalizando a destruição do meio ambiente e a fome. O artista ocupa uma área de 700 metros quadrados com uma horta focada em vegetais típicos do Nordeste como o caju, pinha, abacaxi, milho, mandioca confeccionados com barro. A instalação ainda agrega azulejos e pedaços de concretos que ele chama de materiais ordinários. Como explica o artista, “devido à sua recém-implantação a obra pode dar a impressão de incompletude e instabilidade por causa do terreno que ainda não está sedimentado”. Sua arte transgressora é tingida pela cor ocre da terra e pelo discurso da fome. A instalação está dividida em espaços rigorosamente iguais com repetição serialista e que se apoia no manifesto A estética da fome, de Glauber Rocha, a cartilha do Cinema Novo, na qual o diretor defende uma linguagem emancipadora a partir da falta de comida e avisa. “Enquanto não erguer as armas, o colonizado é um escravo”. Rocha Pitta também traz para a discussão a descrição de um campo da fome localizado ao leste da Acrópole, na Grécia Antiga. Segundo a lenda ninguém poderia adentrar naquele terreno onde a fome estava presa, para que ela não chegasse a outros territórios.  “Minha ideia foi desenvolver um trabalho como contenção da fome, um lugar quase sagrado, para deixar que a falta de comida permanecesse ali congelada”. A horta é composta por 30 canteiros onde estão dispostos legumes, frutas ou raízes da região. “Ao todo, a instalação reúne cerca de nove mil peças produzidas por Domingos, artesão de Tracunhaém, cidade conhecida pelo trabalho em cerâmica”. Cobertos pela cor intensa do barro os alimentos são melhor percebidos a partir de uma aproximação visual.

 

 

As transformações da Usina de Arte acompanham a tomada de consciência sócio artístico ambiental e são pilotadas por seus proprietários e atores principais, a arquiteta Bruna e o empresário Ricardo Pessoa de Queiroz, bisneto do fundador da Usina Santa Terezinha que era sobrinho do presidente Epitácio Pessoa, que governou o Brasil de 1919 a 1922. A usina foi a maior produtora de álcool e açúcar do Brasil nos anos 1950. Ricardo é o responsável pela transformação desse patrimônio desativado. Ele acredita que o projeto só tem sentido se impulsionar a transformação da comunidade vizinha, composta em parte por ex-funcionários da usina. “Esse é um dos objetivos com os quais trabalhamos na difusão da arte”.

 

 

Colecionar também pode ser fruto da necessidade de estar perto das coisas que nos dão prazer. Todo colecionador é um intermediário que se transforma em autor no processo de procurar, armazenar, classificar e zelar pelo objeto artístico. Bruna e Ricardo trabalham neste sentido desde o início da Usina de Arte quando optaram por criar um acervo a céu aberto. Ela enfatiza que eles não têm a intenção de criar pavilhões, como em Inhotim, e Ricardo reforça a ideia de que obras de arte podem estar em diálogo direto com a natureza.

 

 

O acervo de arte conta com mais 40 obras que foram curadas, inicialmente, pelo artista paraibano José Rufino, com a participação de Ricardo e Bruna. Há três meses o crítico francês Marc Pottier assumiu o posto e uma de suas propostas foi a de colocar o neon Chiaroscuro (Claro Escuro) do artista chileno Alfredo Jaar na fachada do deteriorado prédio onde funcionou a usina. O trabalho de 18 metros é composto pela frase O velho mundo agoniza, um novo mundo tarda a nascer e, nesse claro-escuro, irrompem os monstros, do filósofo Antonio Gramsci escrita na década de 1930, em plena ascensão do fascismo na Itália e que dialoga com o tumultuado momento que o Brasil vive. O curador ainda cita outro projeto a ser implementado, os bancos para descanso criados por Claudia Jaguaribe que serão espalhados por todo o espaço.

 

 

O acervo de arte reúne artistas como Carlos Vergara, Iole de Freitas, Frida Baranek, Artur Lescher, Júlio Villani, Geórgia Kyriakakis, Saint Clair Cemin, José Spaniol, Juliana Notari, Denise Milan, José Rufino, Marcio Almeida, Flávio Cerqueira, Bené Fonteles, Hugo França, Paulo Bruscky, Marcelo Silveira, Liliane Dardot e Vanderley Lopes. Com exceção da obra de Rufino, instalada dentro do antigo hangar, as demais estão espalhadas pelo imenso jardim que circunda os três lagos artificiais, projetado pelo paisagista Eduardo Gomes Gonçalves. Em meio ao reflorestamento com cerca de 10 mil plantas de aproximadamente 600 espécies, o Jardim Botânico plantado em 33 hectares constitui-se em mola propulsora de outras ações para gerar desenvolvimento e renda à comunidade de seis mil pessoas que vivem próximas ao projeto.

 

 

Um dos destaques do complexo cultural é o Festival Arte na Usina, nascido em 2015, que reúne artistas e intelectuais em torno de shows, residências, oficinas literárias e de arte, abertas aos moradores da comunidade. Também tem relevância a escola de música, equipada com diversos instrumentos, oferecendo aulas diárias aos moradores. “Conseguimos uma parceria com o Conservatório Pernambucano de Música, nossos alunos vão até o Recife e os professores vêm à Usina alternadamente”, ressalta Bruna. Ainda chama a atenção a biblioteca climatizada com mais de cinco mil exemplares catalogados, além de uma FabLab com terminais de computadores conectados à internet, impressoras em 3D e cortadora a laser para projetos da comunidade, além de parceria com as unidades escolares. Desde a sua criação a Usina de Arte transcende as experiências artísticas e tenta exercer a alteridade na transformação socio/cultural da comunidade.

 

 

 

Fotografias de Daido Moriyama

13/abr

 

 

 

O Instituto Moreira Salles, IMS Paulista, apresenta até 14 de agosto a primeira grande retrospectiva de Daido Moriyama na América Latina. A mostra reúne mais de 250 trabalhos, além de uma centena de publicações e escritos do fotógrafo japonês, um dos principais nomes da fotografia contemporânea mundial. Através de dois andares do instituto preenchidos com o trabalho do artista é possível vislumbrar diferentes momentos de sua carreira, desde o interesse pelo teatro experimental dos anos 1960, passando pelos trabalhos contestadores dos anos 1970, até a documentação das cidades e a reinvenção do seu próprio arquivo nos últimos anos.

A curadoria da exposição é de Thyago Nogueira, coordenador da área de Fotografia Contemporânea do IMS, sendo o resultado de três anos de pesquisa, visitas ao arquivo de Moriyama em Tóquio, e consulta com os pesquisadores japoneses Yutaka Kambayashi, Satoshi Machiguchi e Kazuya Kimura.

 

Sobre o artista

Nascido em 1938, em Ikeda-cho, Osaka, Moriyama passou a infância em diversas cidades. Após se formar em Design, mudou-se para Tóquio em 1961, onde começou a fotografar para jornais e revistas de grande circulação, em um período de crescimento econômico e fortalecimento da cultura de massas. Logo, tornou-se conhecido por suas fotografias em preto e branco, granuladas e de alto contraste. Moriyama desafiou as ideias convencionais de fotografia documental e de realidade fotográfica em sua abundante produção, na qual livros e publicações independentes têm participação fundamental; a produção do fotógrafo está muito associada à indústria editorial, mais do que ao circuito da arte.

O primeiro andar da exposição destaca as décadas de 1960 e 1970, momento inicial de Moriyama influenciado por mestres do pós-Guerra, como Eikoh Hosoe e Shōmei Tōmatsu, e artistas americanos, como William Klein e Andy Warhol. Durante tal período, o fotógrafo documentou a efervescente cultura japonesa, marcada pela destruição da guerra, a ocupação das tropas americanas, o desaparecimento dos modos de vida tradicionais e a ocidentalização do país. Em 1969, Moriyama integrou a equipe da contestadora revista Provoke, formada por artistas e intelectuais que questionavam a submissão das imagens às palavras e o realismo engajado. A publicação consagrava o estilo are, bure, boke (granulado, tremido, desfocado), que marcaria a fotografia japonesa do período. Alguns anos depois, Moriyama produziu o livro Adeus, fotografia! (1972), uma coletânea de imagens feitas de negativos rasurados, riscados e inutilizados, quase indiscerníveis. Segundo o curador, a publicação, que completa 50 anos em 2022, revela “a revolta de um artista contra sua submissão ao código fotográfico, a expressão máxima da descrença no poder de transformação das imagens”. Sobre esse período, o próprio artista afirma: “Tentei desmontar a fotografia, mas acabei desmontando a mim mesmo”.

No segundo andar, a retrospectiva apresenta o retorno de Moriyama ao fazer artístico, nos anos 1980, após um momento de depressão e crise criativa. Entre as obras, estão as famosas séries Luz e sombra e Memórias de um cão, publicadas entre 1982 e 1983. A mostra também traz o arquivo completo da revista Record, seu diário pessoal iniciado em 1972, que chega à 50ª edição em 2022. No centro do andar, uma grande mesa-biblioteca exibe diversos livros do artista, muitos deles disponíveis para leitura do público.

A entrada é gratuita, liberada mediante apresentação do comprovante de vacinação contra Covid-19 (para todos acima de 5 anos). É recomendaddo o uso de máscaras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Retrospectiva de Pedro Moraleida

 

 

 

 

 

A Janaina Torres Galeria apresenta individual inédita de Pedro Moraleida. O mais intrigante artista de sua geração. Uma história marcada pela produção compulsiva e cheia de significados. Um trágico fim disfarçado na inalcançável liberdade. A breve e contundente história de Pedro Moraleida (1977 – 1999) deixou como legado um considerável conjunto de obras que chamam atenção por sua singularidade, coerência, vigor e coragem de enfrentar a apatia dominante à sua volta. Nas artes, inclusive. Parte desse valioso acervo poderá ser visto na mostra “Fluxos Plenos de Desejo”, com curadoria de Ricardo Resende, até 26 de maio, na Janaina Torres Galeria, Barra Funda, São Paulo, SP.

 

 

 

Entregue a mergulhos em universos muito próprios, só dele, o jovem Moraleida ousou ignorar tendências, com a coragem de quem corta a própria carne para expor medos, desejos e sonhos, determinado a se envolver com tudo aquilo que existe e perturba, dentro e fora de si. Bem como se espera de um enfant terrible, um artista romântico pleno – e incontrolável.

 

 

Trata-se de um acervo que tem conquistado, à medida em que é exposto, repercussão e admiração imediata, no Brasil e no exterior. “É um trabalho extraordinário, feito por um artista extraordinário e que precisa ser mais mostrado, conhecido e estudado”, diz Hans Ulrich Obrist, curador da Serpentine Gallery, de Londres, e da mostra Imagine Brazil (2013), que levou os trabalhos de Moraleida pela primeira vez ao exterior, e é considerado um dos curadores de arte contemporânea mais influentes do mundo.

 

 

E é assim que o mundo herda um acervo reconhecido por suas dimensões, diversidade e poder de provocar as mais variadas reações. Muitas vezes irônica e irreverente; sempre corajosa e intensa, a obra de Moraleida surpreende, provoca e incomoda, mas não só.
“Nesta seleção, além de obras conhecidas, polêmicas, incluímos também alguns trabalhos pouco vistos, revelando outras características da sua produção, como uma série de paisagens que, mesmo sendo paisagens, mantêm seu traço visceral”, anuncia o curador Ricardo Resende.

 

 

“Fluxos Plenos de Desejo” traz 25 pinturas, 61 desenhos e 16 desenhos/pinturas de um criador arredio às regras, livre e  experimental, combinando formatos, técnicas e materiais. Um recorte que representa a potência de suas obras visuais (para além dos textos e arquivos sonoros), em sua maior parte sobre papel. A exposição é fruto de um projeto desenvolvido ao longo de oito anos de relacionamento e trabalho junto a família do artista.
Trata-se de uma seleção expressiva, dentro de um universo de 1.900 peças (1.450 desenhos e 150 pinturas) deixados pelo jovem artista. Moraleida abraçou a tradição clássica da pintura e do desenho em um momento – os anos 1990 – em que essas linguagens eram desacreditadas e  preteridas frente a uma explosão de performances, vídeos e instalações, sob domínio da arte conceitual.

 

 

“É como se estivéssemos descobrindo o artista agora há pouco, em 2017, em Belo Horizonte, quando a exposição de sua obra chamou muita atenção por conta do momento político conservador que estamos vivendo. Um assombro que continuou em 2019, em São Paulo, na “Canção do Sangue Fervente”, retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake, onde caímos de joelhos diante da magnitude de trabalhos que compõem sua obra maior, “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, reflete Resende, no texto curatorial

 

 

Entre os destaques desta exposição na Janaina Torres Galeria, estão obras em que Pedro faz referência a outros artistas, evidenciando sua admiração a nomes como Andy Warhol, Leonilson e Picasso, que, assim como Caravaggio, Miró e, sobretudo, Arthur Bispo do Rosário, tiveram evidente influência no seu processo criativo. Também chamam a atenção as séries “Primitiva”, “Corpos sem Órgãos”, “Paisagens, Mulheres, Histórica – Presidentes Americanos” e “Líderes Comunistas Vendem Pornografia”, “Casais Sorridentes de Mãos Atadas”, “O Deslocamento dos Artistas”, “Deuses”, “Desenhos com Letras”, “Amebóide” e “Angústia”, exibidas pela primeira vez em uma galeria na cidade. Destaque, também, para a serpente em acrílica sobre papel de formato inusitado (“Cadáver adiado que procria – A roda da serpente”, de 1,5m x 1,5m), coração pulsante desta mostra na Barra Funda.

 

 

Assim como para Leonilson e Bispo do Rosário, a palavra para Moraleida tem papel importante no seu trabalho plástico, uma consequência da sua relação próxima com a literatura, poesia, filosofia, psicanálise e cinema (de Pasquim, MAD e Rê Bordosa a Fassbinder e Artaud), o que acabou por aproximá-lo de questões urbanas, políticas e sociais do seu tempo. Palavras o influenciaram até mesmo na titulagem das obras, como em “Cão morto e menino chorando”, “Tiro atinge estudante em colégio”, “Fúria diante de um morto”, “Homem faz declarações proféticas”, “Ó senhor, por que tenho tanto frio”, “Rapaz entristecido e o cão a consolá-lo”. Agora, na Janaina Torres Galeria, surge nova chance de decifrar uma obra de intensidade sem limites, fruto de um artista que nos presenteou com uma poética inquietante e representações que ousam revelar o que há de sedutor e assombroso em todos e cada um.

 

 

Sobre o artista

 

 

Pedro Moraleida (1977 – 1999, Belo Horizonte, MG) – Estudou na Escola de Belas Artes da UFMG. Desde a adolescência, produzia desenhos ligados à linguagem das histórias em quadrinhos, debruçando-se na Literatura e Filosofia. Possui uma obra provocadora e ácida, onde não se limitou apenas à produção visual, mas, também, ao estudo da linguagem e da comunicação, onde uma vasta produção de pinturas e desenhos, carregados de cor e expressividade, mesclam-se a textos e poemas autorais. Seu trabalho pôde ser visto em sua cidade natal, Belo Horizonte e também em grandes mostras póstumas, coletivas e individuais em espaços como Instituto Tomie Ohtake, Astrup Fearnley Museet (Noruega), Musée d’Art Contemporain de Lyon e 11ª Bienal de Berlim.

Dois eventos na Bolsa de Arte SP

12/abr

 

 

Estreou na quinta-feira, 07 de abril, o espetáculo “Lygia.” na Bolsa de Arte, Jardins, São Paulo, SP. O monólogo é interpretado por Carolyna Aguiar com direção de Bel Kutner e Maria Clara Mattos, que também assina a dramaturgia desenvolvida a partir dos diários de Lygia Clark. A cenografia foi concebida pelo Estúdio Mameluca composto por Ale Clark, neta da artista, e Nuno FS.

 

Em parceria com a Associação Lygia Clark, o espetáculo fica em cartaz na Bolsa de Arte até 28 de maio, quintas e sextas-feiras às 20h e sábados às 18h. Os ingressos estão disponíveis na plataforma do Sympla.

 

Através dos diários, o monólogo “Lygia.” pretende apresentar ao público essa artista que usou a própria angústia como material de pesquisa, revelando não só o contexto de criação das obras, mas reflexões sobre o que lia e via, amores, temores, dúvidas e desencantamentos.

 

Juntamente à apresentação do espetáculo, inaugurou, sexta-feira, 08 de abril a exposição homônima com curadoria e texto de Felipe Scovino.

 

A exposição – com entrada gratuita – pode ser visitada de segunda a sexta-feira das 11h às 19h e sábados das 11h às 17h.

 

 

Desejo imaginante

 

 

Uma exposição de Maria Martins, em colaboração com o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), aprofunda uma parceria que remonta não apenas a iniciativas recentes, como também aos tempos de nosso patrono.

 

Uma das primeiras obras a capturar o olhar do visitante, na Casa Roberto Marinho, é a escultura em bronze O implacável (1944), da mineira Maria Martins (1894-1973), instalada diante da fachada do casarão neocolonial, no Cosme Velho.

 

Até 26 de junho.

 

 

Kogan Amaro Digital Art Gallery

 

 

A galeria Kogan Amaro, amplia sua área de operação e começa a atuar também com NFT, aproximando este universo de artistas, colecionadores, investidores e o grande público.

 

 

A partir de agora, com uma curadoria específica, a Kogan Amaro Digital Art Gallery passa a oferecer ao mercado NTFs com o objetivo de simplificar as atividades nesta área e contribuir com a formação de novos públicos. Com esta iniciativa, a galeria, que tem unidades no Brasil (São Paulo) e na Suíça (Zurique), reforça sua atuação global, expandindo seu alcance e facilitando as operações das carteiras digitais.

 

 

“Nossa intenção é servir como uma ponte entre os universos físico e digital, simplificando os processos em todos os pontos da cadeia de produção de arte em NFT, desde o momento da criação à realização da venda, ao mesmo tempo em que a nossa atuação no mercado físico vive um momento de muito vigor”, declara Ricardo Rinaldi, diretor da Kogan Amaro. Uma das vantagens da operação facilitada via Kogan Amaro é que as compras de NFTs poderão ser realizadas mesmo que o cliente não tenha criptomoedas em carteira. A operação digital da Kogan Amaro já conta com perfil próprio na Foundation.app, uma das plataformas mais importantes do mercado global de NFT, dedicada a construir essa nova forma de atuação em Web 3.0, aproximando artistas e colecionadores em todo o mundo.

 

 

Ao mesmo tempo em que terão forte exposição no mundo virtual, os NFTs passarão a fazer parte dos ambientes físicos da Kogan Amaro. A galeria pretende realizar uma exposição física de NFTs até o fim de 2022 com exposição de obras tokenizadas via painéis de led e televisores especiais. A princípio, a curadoria foi feita dando espaço para artistas físicos da galeria e abrindo espaço para uma série de artistas internacionais que já atuam com ferramentas digitais, em áreas como ilustração, fotografia e animação.

 

 

Entre os artistas físicos já representados pela galeria e que agora também disponibilizam NFTs exclusivos à venda estão: Daniel Mullen, Fernanda Figueiredo e o duo Tangerina Bruno. Entre as novidades estão os artistas e fotógrafos: Kandro, João Branco, Diris Malko, Fxaq27, Attilagaliba, Reinis Couple, UMiDART e Giovani Cordioli.