Grafismos e símbolos de Thiago Barbalho.

31/out

Nara Roesler São Paulo apresentar a exposição “Thiago Barbalho – Segredos e feitiços”, primeira individual do artista na cidade. Thiago Barbalho migrou da literatura e dos zines para elaborados e intrincados desenhos coloridos, repletos de grafismos e símbolos. O artista nasceu em Natal, em 1984, e hoje se divide entre São Roque e a capital paulista.

A mostra terá aproximadamente 40 obras produzidas este ano, como o grande desenho “A torta perfeita”, com mais de dois metros de altura, além de desenhos em médio e pequeno formato – nos quais usa lápis de cor, pastel, canetas e marcadores, tinta acrílica e a óleo -, e esculturas, feitas em materiais diversos como impressão 3D, resina e fibra de vidro, acrílico, tecido e pintura automotiva.

A exposição traz ainda trabalhos realizados pelo artista com elementos característicos da cultura de Jardim do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte, terra natal de sua mãe, como pinturas rupestres presentes, a paisagem semiárida e técnicas de produção têxtil artesanal. Um dos exemplos é a tapeçaria “Futuro”, desenvolvida em conjunto com o coletivo Flor de Kantuta, composto por mulheres tecelãs bolivianas radicadas em São Paulo. “Quis reunir variadas referências, desde os açudes e rios da nossa terra, até o artesanato potiguar, com suas tapeçarias e colchas. Mas quis fugir dos clichês associados à arte nordestina em geral”, diz Thiago Barbalho.

Entre 16 de julho e 29 de setembro de 2024, a curadora Catarina Duncan e o artista Thiago Barbalho estabeleceram uma troca de e-mails como método de acompanhamento investigativo e interlocução em torno da obra do artista. A conversa atravessa a prática artística de Thiago Barbalho, o desenvolvimento da exposição e ao mesmo tempo abre espaço para divagações e relatos pessoais entre notícias da atualidade, sonhos e referências de pesquisa. A correspondência foi impressa e estará disponível na exposição.

As reflexões de Geórgia Kyriakakis.

A Galeria Raquel Arnaud exibe o projeto “Os ventos do norte não movem moinhos” da artista Geórgia Kyriakakis. Com texto crítico de Paula Borghi, a mostra traz obras que suscitam reflexões sobre a cultura, a história e a herança social do processo colonizador na América Latina. Inspirada pela canção “Sangue Latino”, composta em 1973 por Paulinho Mendonça e João Ricardo, e eternizada pela banda Secos e Molhados, a artista propõe uma visão ampliada da América Latina, que ultrapassa conceitos geográficos e contrapõe a influência cultural norte-americana.

A fala da artista

“O que chamamos de América Latina é um tipo de regionalização que considera os idiomas falados, os processos históricos de colonização e exploração, as desigualdades sociais e as origens indígenas ancestrais, entre outros fatores. Os “ventos do norte”, mencionados na canção, são uma alusão direta às forças imperialistas do norte global, que resultam em opressão e espoliação de recursos naturais e sociais, presentes na história da região. Essas forças “não movem moinhos”, promovem o subdesenvolvimento inexorável da América Latina”.

Composta por esculturas, desenhos, instalações e ações colaborativas, a exposição ocupa todo o espaço da galeria. No piso térreo estão duas séries de desenhos inspirados na história da cidade de Chuquicamata, no Chile, abandonada devido à poluição do ar e à contaminação causada pela exploração de cobre na região. Na parede principal, a artista apresenta Veias abertas, uma extensa faixa de tecidos vermelhos de diferentes formatos e texturas, cobrindo toda a metade inferior da parede.

Texto de Paula Borghi

Publicado pela primeira vez em 1971, As veias abertas da América Latina, do uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), é um clássico atemporal que discorre sobre as relações de poder que marcam as particularidades dessa região. Dois anos depois, a banda Secos & Molhados grava a música Sangue Latino, tendo em sua letra a frase “os ventos do norte não movem moinhos”, a qual nomeia a exposição de Geórgia Kyriakakis. Desse modo, o termo “ventos do norte” corresponde à força colonial da Europa, apontada como responsável pela espoliação, escravização e genocídio dos povos indígenas na região, e à opressão política da presença dos Estados Unidos, agenciadora de golpes e ditaduras militares.

Diferentemente do que foi instaurado no imaginário coletivo, a América Latina não é somente um território físico, ela diz respeito, principalmente, aos processos sistêmicos de colonização e exploração; uma vez que abastecer o norte com commodities tem sido uma imposição às sociedades latino-americanas (bem como a outros países do sul global) há mais de cinco séculos. Falar sobre este tema é o que o livro de Galeano, a canção dos Secos & Molhados e a exposição de Geórgia Kyriakakis se propõem, cada qual com sua linguagem.

Pautada por uma economia extrativista que se dedica a arrancar os metais do ventre da terra, queimar florestas, plantar latifúndios de monoculturas e gerar mais gado do que humanos, a América Latina vem metodicamente sendo assassinada em proveito dos donos do capital. Com uma visualidade próxima a um derramamento de sangue, a instalação VEIAS ABERTAS ocupa a parede principal da galeria, justapondo tecidos de materialidades e tons de vermelho variados com frases da canção – “minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh’alma cativa”.

O sangue como sinônimo de exploração também é simbolizado pela presença do cobre, seja em barras conectadas a garrotes de látex ou na forma de desenhos/ pinturas sobre papel. Fazendo menção direta a uma das maiores minas a céu aberto do mundo, localizada na cidade de Chuquicamata, no Chile, a artista evoca metaforicamente o sangue, a lágrima e o suor que são derramados na busca pelo minério. Uma vez mais, tem-se a exploração da Terra, vista como bem natural a ser devorado.

Galeano usou a expressão “dentes de cobre sobre o Chile” para falar sobre a exploração do minério por empresas estadunidenses – em 2003, todos os moradores de Chuquicamata foram realocados para Calama, cidade vizinha, em decorrência do alto índice de contaminação respiratória. A lança de cobre utilizada nestes trabalhos, que é replicada também em madeira, faz referência a outra parte da canção: “quebrei a lança, lancei no espaço, um grito, um desabafo”.

Na série homônima à mina chilena, desenhos simulam o gesto de “lavar as mãos” como uma questão de saúde pública e também como expressão popular para aqueles que fogem das responsabilidades. O gesto pode corresponder à mão de um/uma trabalhador/a que teve contato direto com a mineração, seja pela contaminação do ar ou pelo trabalho braçal na mina, bem como do poder público em benefício do capital. A presença deste fazer a muitas mãos já aponta para o que se encontra no andar superior da exposição.

Nesse andar, Kyriakakis convidou mais quatro outras artistas para colaborarem com a mostra, sendo que três delas foram suas alunas no curso de Artes Visuais da FAAP, bem como a que vos escreve. Abre-se, aqui, uma outra camada, a de Geórgia Kyriakakis enquanto professora. A partir de então, seu trabalho de arte pode ser lido em diálogo com o da educação, que, por sua vez, se atrela ao doméstico e ao materno – estes dois últimos invisíveis na concepção histórica do trabalho. O comissionamento de propostas inéditas para Aline Langendonck, Carla Chaim, Isis Gasparini e Vânia Medeiros soma-se ao desejo de produzir em coletivo e acionar dispositivos que tragam à tona a força de trabalho da própria equipe da galeria.

O que se tem é uma exposição que tensiona estruturas de poder, sistemas de trabalho e produtividade, enquanto articula um passado ainda muito presente sobretudo naquilo que diz respeito ao futuro do Brasil. Como quem alerta que as veias abertas da América Latina ainda não se fecharam.

Paula Borghi/São Paulo, outubro de 2024.

Até 15 de janeiro de 2025.

Resgate da obra de Carlito Carvalhosa.

24/out

A cidade de São Paulo será palco de duas grandes exposições que resgatam a obra de Carlito Carvalhosa. A Natureza das Coisas, no Sesc Pompeia, e A Metade do Dobro, no Instituto Tomie Ohtake, reafirmam o seu protagonismo na cena artística contemporânea brasileira das últimas décadas e oferecem ao público um panorama abrangente de seu percurso criativo. Será uma oportunidade única de revisitar momentos fundamentais da trajetória do artista, falecido prematuramente em 2021, aos 59 anos.

Além das retrospectivas, em exibição nos espaços até fevereiro, estão previstas mais três iniciativas. Codiretora do documentário Lixo Extraordinário, que concorreu ao Oscar em 2011, a pernambucana Karen Harley prepara um filme sobre a vida e a obra de Carvalhosa. Já a Nara Roesler Livros publicará, em dezembro, um livro com extensa monografia dedicada à produção do artista. Paralelamente, a editora Supersônica apresenta um audiocatálogo de arte, formato inédito no Brasil, no qual artistas, críticos e amigos de Carvalhosa fazem “audiodescrições afetivas” de algumas de suas obras e relembram marcos importantes de sua vida. O audiocatálogo será instalado como uma obra sonora na exposição do Instituto Tomie Ohtake e estará disponível nas principais plataformas de streaming.

Essa revisita ao trabalho do artista se articula em dois movimentos separados, porém complementares, organizados em torno do Acervo Carlito Carvalhosa – criado por sua viúva Mari Stockler e filhas com o intuito de pesquisar, divulgar e preservar sua produção – e articulados em uma ampla rede colaborativa, em curadoria costurada a muitas mãos. Enquanto a mostra A Natureza das Coisas, do Sesc Pompeia, apresenta algumas de suas mais potentes instalações, acompanhadas por um conjunto denso de projetos, desenhos e estudos preparatórios, a exposição A Metade do Dobro, no Instituto Tomie Ohtake, reúne sobretudo trabalhos bidimensionais e escultóricos – acompanhados sempre de vasto material de arquivo -, refazendo o percurso do artista desde os primeiros movimentos de juventude até criações mais recentes e confirmando o caráter experimental e diverso de sua produção.

Carlito Carvalhosa explorou um leque muito amplo de técnicas artísticas: pintura, gravura, colagem, escultura, instalação. Trabalhou com materiais variados e muitas vezes inusitados: papel, gesso, tecido, alumínio, cerâmica, copos de vidro e um tecido leve, o TNT (Tecido Não Tecido). Para Luis Pérez-Oramas, poeta e historiador da arte venezuelano que assina a curadoria das duas exposições, em conjunto com outros pesquisadores brasileiros, a obra de Carvalhosa uniu “em uma síntese inesperada as polaridades irreconciliáveis da modernidade brasileira: a linguagem concreta e a matéria informe”.

Até 09 de fevereiro de 2025.

Sob curadoria de Lia do Rio.

Exposição coletiva apresenta obras em diferentes suportes, com curadoria de Lia do Rio. A abertura será no dia 26 de outubro, sábado, na Galeria Casa do Paulo Branquinho, Lapa, Rio de Janeiro, RJ, recebe a exposição “Ideia e Processo”, com a participação de 14 artistas que se destacam com suas diversidades criativas. Participam desta mostra Antônio Câmara, Cris de Oliveira, Daniele Bloris, Dimas Malachini, Edson Silveira, Gardenia Lago, Isabella Marinho, Leticia Potengy, Lincoln Nogueira, Maria Perdigão, Nadia Aguilera, Rose Aguiar, Rosi Baetas e Rosita Rocha, que atualizam as relações entre forma, cor, espaço e tempo. Utilizando a pintura, a escultura, o desenho, a arte digital, a colagem, a instalação, a foto arte e a gravura, eles se expressam através de diversas linguagens, sem que isso tenha sido uma condição prévia dada a eles. “As obras, suporte para reflexões plásticas, solicitam um engajamento a quem se aproxima, aqueles que se deem ao tempo do olhar”, diz a curadora, Lia do Rio.

Até 17 de novembro.

Mira Schendel no Instituto Tomie Ohtake.

23/out

São mais 250 obras, entre pinturas, monotipias, desenhos, cadernos, objetos gráficos e uma instalação em “Mira Schendel – esperar que a letra se forme”, exposição com curadoria de Galciani Neves e Paulo Miyada. A mostra, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, explora a presença dos signos gráficos, da letra e da palavra linguagem na produção artística de Mira Schendel (1919-1988).

Reconhecida como uma das artistas mais significativas da arte brasileira do século XX, Mira Schendel nasceu em Zurique, na Suíça, com ascendência judaica, tcheca, alemã e italiana. Devido à perseguição antissemita, fugiu para o Brasil em 1949, onde viveu e produziu grande parte de sua obra, dialogando com a Poesia Concreta, o Neoconcretismo e as experimentações artísticas das décadas de 1960 e 1970.

A mostra é retrospectiva e convida o público a imergir na presença da palavra na produção artística de Mira Schendel e suas interligações. A curadoria pensou a montagem em sete núcleos sustentados de maneira fluida na cronologia da artista. Esta exposição conta com o patrocínio do Nubank, através do Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura, Programa Nacional de Apoio à Cultura e Governo Federal – Brasil, União e Reconstrução.

Uma viagem no tempo e no espaço.

22/out

“Era uma vez: visões do céu e da terra” é uma exposição coletiva que se organiza como uma viagem no tempo e no espaço para refletir sobre o fim do mundo e a imaginação de outros mundos. A mostra que acontece na Grande Galeria do edifício Pina Contemporânea, Luz, São Paulo, SP, articula perspectivas de 33 artistas de variadas gerações e origens no Brasil e no mundo, cujas produções permitem vislumbrar o confronto entre diferentes lógicas de habitar o planeta e, sobretudo, inventá-lo.

A exposição investiga o pensamento cosmológico das pessoas artistas, desde o período de 1969 – ano que marca os eventos históricos da chegada do homem à Lua e da divulgação do primeiro relatório da ONU sobre “Problemas do meio ambiente urbano” – até os dias de hoje, em que a relação predatória da humanidade com o planeta colocou as questões ambientais como tema central no debate ao redor do globo.

Do Céu para a Terra

A exposição se divide em três momentos. Ao entrar na Grande Galeria visitantes percorrem uma série de obras que olham para o espaço sideral, em uma tentativa de conhecer e imaginar para além da Terra. Podem ser vistas obras como Yauti in Heavens (Saturno, Lua aterrissagem e Lua Chegada) (1988-9), de Regina Vater, My three inches comet (1973), de Iole de Freitas, entre outras, até chegarem no trabalho de Steve McQueen, Era uma vez (2002), que dá título à exposição. Em 1977, a NASA envia uma série de fotos para o espaço, com o objetivo de mandar registros da vida no planeta para extraterrestres. McQueen apresenta 116 dessas imagens, explicitando uma narrativa nostálgica construída por cientistas norte-americanos, que reuniram uma finita seleção de imagens que simulam a vida na Terra, sem considerar questões como a miséria, guerras e conflitos religiosos. No espaço central da galeria, artistas olham do céu para um planeta em disputa, ao mesmo tempo em que pensam sobre formas de se conectarem com a Terra. Em Bovinocultura XXI (1969), de Humberto Espínola, o artista traz um chifre de gado agigantado para tratar das ambivalências do agronegócio, que destrói o meio-ambiente para gerar riqueza de maneira inconsequente. Ainda na mesma sala, a relação das pessoas artistas com o planeta é definida por meio de conexões ancestrais e espirituais. Jota Mombaça, no filme “O nascimento de Urana Remix” (2020), vive a experiência de se enterrar na terra, se tornando parte do todo.

A especulação imaginativa

Com a ascensão do Antropoceno (termo utilizado para designar o impacto global das atividades humanas no planeta) as pessoas artistas nos convidam a conceber novos mundos, a partir de movimentos de resistência e de imaginação radical. Nesta parte da exposição, artistas como Yhuri Cruz se ancoram na especulação imaginativa e nos levam a novos universos, como o de “Revenguê” (2023). A artista colombiana Astrid González apresenta uma sociedade livre em “Drexciya” (2023), obra que integra vídeos, imagens, esculturas e desenhos para criar uma comunidade subaquática descendente de mulheres grávidas que foram jogadas ao mar em travessias de navios que transportavam pessoas escravizadas entre 1525 e 1866.

Artistas participantes

Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Arthur Luiz Piza, Astrid González, Bu’ú Kennedy, Carla Santana, Carlos Zilio, Carolina Caycedo, Castiel Vitorino Brasileiro, Celeida Tostes, Cipriano, Edival Ramosa, Erika Verzutti, Feral Atlas, Humberto Espíndola, Iole de Freitas, Jaider Esbell, Janaina Wagner, Jota Mombaça, Juraci Dórea, Luciana Magno, Luiz Alphonsus, Mariana Rocha, Mayana Redin, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Mira Schendel, Patricia Domínguez, Regina Vater, Steve McQueen, Sueli Maxakali, Tabita Rezaire, Uýra Sodoma, Xadalu Tupã Jekupé e Yhuri Cruz.

Organizada por Ana Maria Maia, Lorraine Mendes e Pollyana Quintella, a exposição “Era uma vez: visões do céu e da terra” conta com catálogo que reúne uma coletânea de 19 textos selecionados, alguns escritos por integrantes da mostra, como Yhuri Cruz e Jota Mombaça. O catálogo abrange ensaio, poesia, manifesto, relato oral transcrito, entre outros, articulando um mosaico de vozes, práticas e epistemologias e pode ser encontrado nas lojas físicas da Pinacoteca ou online. A mostra tem o patrocínio de Itaú Unibanco e Rede, na cota Platinum.

Até abril de 2025.

A arte sofisticada de Rodrigo de Haro.

18/out

O Instituto Collaço Paulo preparou mais uma das suas surpreendentes exposições. Trata-se da mostra “Máscara Humana”, com obras do artista plástico, pintor e muralista Rodrigo de Haro (1939-2021), na sede do Instituto, Bairro Coqueiros, Florianópolis, SC. Um artista sofisticado cuja curadoria traz a assinatura de Francine Goudel.

“Máscara Humana” é o título da exposição que dá visibilidade a um expressivo núcleo da Coleção Collaço Paulo. São 80 pinturas e desenhos e 25 objetos que pertenceram ao artista, um erudito, célebre, autor de uma produção extensa em artes visuais, além de inúmeros livros que o consagraram como poeta.

A mostra propõe uma incursão na produção de Rodrigo de Haro criada entre meados da década de 1960 e o começo dos 1980. A máscara humana conduz as ideias de Rodrigo de Haro e resulta como uma metáfora para o palco dos humanos, uma produção que, entende a curadora, aponta “um tecido social mítico e fantasioso”, com figuras andrógenas, femininas, ambíguas, desenhos e pinturas em que transparecem sexualidade, liberdade, instinto, espiritualidade.

A exposição permanecerá em cartaz até abril de 2025.

Fonte: Marcos Espíndola.

Exposição coletiva no Museu Histórico.

O Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, Parque da Cidade, Gávea, apresenta a exposição coletiva “O mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres” com curadoria de Fabricio Faccio. A exposição explora a relação entre Arte e Natureza, propondo uma reflexão sobre as conexões entre o humano e o não-humano, e como as práticas artísticas podem ser usadas para repensar o futuro do planeta. Participam da mostra 36 artistas contemporâneos: Aiyon Chung, Alexandre Pinheiro, Aline Mac Cord, Ana Holck, Ana Miguel, Athos Bulcão, Bernardo Liu, Carlos Zilio, Carolina Kasting, Cela Luz, Diogo Bessa, Duda Moraes, FOGO, Galvão, Jade Marra, Jeane Terra, Jorge Cupim, Lourdes Barreto, Luis Moquenco, Luiz Eduardo Rayol, Luiza Donner, Marcelo Jou, Maria Gabriela Rodrigues, Matheus Mestiço, Matheus Ribs, Mirela Cabral, Nuno Ramos, Paulo Agi, Pedro Varela, Rena Machado, Ruan D’Ornellas, Thales Pomb, Vera Schueler, Vinícius Carvas, Willy Chung e Zilah Garcia. Na abertura, a artista Carolina Kasting fará a performance “Amar-u: corpo-expandido ciborgue”.

A exposição tem o seu título extraído do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa. Através de uma seleção cuidadosa de obras entre desenhos, esculturas, pinturas, instalação, performance e objetos, a exposição instiga o público a repensar suas relações com o ambiente, ressaltando a arte como uma ferramenta poderosa para imaginar novas possibilidades e caminhos para um futuro mais sustentável e harmonioso.

Até 05 de janeiro de 2025.

Rosana Paulino na Casa Museu Eva Klabin.

11/out

Com uma trajetória única e influente, Rosana Paulino celebra 30 anos de carreira com a exposição “Novas Raízes”, na Casa Museu Eva Klabin, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ. A artista traz à tona discussões sobre memória, natureza, identidade e história afro-brasileira cujos trabalhos expostos são resultado de uma longa pesquisa acerca da arquitetura e do acervo da Casa Museu Eva Klabin, propondo a separação conceitual entre os dois andares. “Novas Raízes” permanecerá em cartaz até 12 de janeiro de 2025. Essa exibição individual da artista é a primeira no Rio de Janeiro após sua exposição no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o MALBA. Com a mostra, Rosana Paulino se tornou a primeira mulher negra a ter uma individual exposta no museu argentino, que apresentou um olhar retrospectivo da trajetória da artista.

“Esta é uma oportunidade única de ver a obra de Rosana Paulino em diálogo direto com um acervo clássico, propondo assim uma revisão histórica e epistemológica aos olhos do visitante”, afirma o curador Lucas Albuquerque, sobre a combinação do acervo fixo da casa com as obras da artista. “Rosana pretende que esta exposição tenha um caráter educativo bem acentuado, questionando sobre como podemos repensar a produção contemporânea em diálogo com novas leituras de mundo, este bem diferente daquele deixado por Eva Klabin há mais de trinta anos”, complementa.

Os cômodos do térreo serão dedicados a produções que expõem a relação entre a arquitetura e botânica, com desenhos, colagens e instalações. As obras da série “Espada de Iansã”, integrante da 59ª Bienal de Veneza, se juntam a outros trabalhos que visam romper a separação entre dentro e fora, com plantas tomando as diferentes salas. Rosana chama a atenção para a incisiva separação entre o ambiente doméstico e o jardim, fruto de uma corrente de pensamento europeu que aponta para a necessidade de domar a natureza. Os cômodos do segundo andar tangenciam uma discussão sobre a vida privada de mulheres negras ao longo da história. Obras como “Paraíso tropical”, “Ama de Leite” e “Das Avós” resgatam fotografias e símbolos da história afro-brasileira, tecendo uma reflexão sobre a subjugação dos corpos às políticas de apagamento resultantes do modelo escravocrata vivido pelo Brasil Colônia. Fazendo uso de tecidos em voil, fitas, lentes, recortes e outros objetos, Rosana Paulino propõe a preparação de um ambiente de descanso para todas as mulheres negras vítimas da história brasileira, em especial Mônica, a ama de leite fotografada por Augusto Gomes Leal em 1860, uma das poucas que tiveram o seu nome conservado ao longo da história.

“Novas Raízes” é uma iniciativa da Casa Museu Eva Klabin, com produção da AREA27, patrocínio da Klabin S.A e realização do Ministério da Cultura. Conta com o apoio da Atlantis Brazil, Everaldo Molduras, Galeria Mendes Wood, e parceria de mídia da Revista Piauí e do Canal Curta!.

Sobre a artista

Rosana Paulino nasceu em 1967 em São Paulo, cidade onde vive e trabalha. O trabalho de Rosana Paulino é centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero, concentrando-se em particular nas mulheres negras da sociedade brasileira e nos vários tipos de violência sofridos por esta população devido ao racismo e ao legado duradouro da escravatura. Rosana Paulino explora o impacto da memória nas construções psicossociais, introduzindo diferentes referências que intersectam a história pessoal da artista com a história fenomenológica do Brasil, tal como foi construída no passado e ainda persiste até hoje. Sua pesquisa inclui a construção de mitos – não só como pilares estéticos mas também como influenciadores psíquicos. Rosana Paulino – cuja produção artística é inquestionavelmente fundamental para a arte brasileira – produziu uma prática de reconstrução de imagens e, para além disso, de reconstrução da memória e das suas mitologias.

Sobre o curador

Lucas Albuquerque nasceu em 1996, em São João de Meriti, RJ. É bacharel em História da Arte e mestre em Processos Artísticos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi coordenador curatorial da Casa Museu Eva Klabin (Rio de Janeiro), produzindo diálogos entre seu acervo e a arte contemporânea. Foi curador-organizador da Galeria Aymoré (Rio de Janeiro). Como curador do programa de residências artísticas do Instituto Inclusartiz, RJ, trabalhou estabelecendo conexões com artistas, curadores e pesquisadores entre o Brasil e o Reino Unido (Delfina Foundation), França (Frac Bretagne), Espanha (Homessessions) e Holanda (Rijksakademie). Realizou a curadoria das exposições “Muamba: brazilian traces of movement” (2023), na Ruby Cruel (Londres, U.K.); “Whispers from the South” (2023), na Lamb Gallery (Londres); “Ustão” (2023) e “Ultramar” (2023), na Casa Museu Eva Klabin (Rio de Janeiro); “O Sagrado na Amazônia” (2023), com Paulo Herkenhoff, e “Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso” (2022), no Instituto Inclusartiz (Rio de Janeiro); “Futuração” (2021), na Galeria Aymoré (Rio de Janeiro); além de outras individuais e coletivas.

Sobre a Casa Museu Eva Klabin:

Uma das primeiras residências da Lagoa Rodrigo de Freitas, a Casa Museu Eva Klabin reúne mais de duas mil obras que cobrem um arco de tempo de cinco mil anos, desde o Antigo Egito (3000 a.c.) ao impressionismo, passando pelas mais diferentes civilizações. A coleção abrange pinturas, esculturas, mobiliário e objetos de arte decorativa e está em exposição permanente e aberta ao público na residência em que a colecionadora viveu por mais de 30 anos.

Nit de l’Art 2024.

23/set

Por ocasião do La Nit de l’Art 2024, a Baró Galeria apresentou duas exposições destacando obras de grandes artistas latino-americanos: “Oublier le corps…”, a primeira exposição individual de Lygia Clark em Maiorca, Espanha; e a mostra coletiva Lucidus Disorder, ambas com curadoria de Rolando J. Carmona.

“Oublier le corps” marca a primeira exposição individual em Maiorca da renomada artista brasileira Lygia Clark (1920-1988). A exposição, com curadoria de Rolando J. Carmona, explora como o trabalho de Lygia Clark se envolveu ao longo de sua carreira com o conceito de dissolução do corpo. Desde os seus primeiros esboços desconstruídos, que prenunciam as formas geométricas dos seus “Bichos”, até aos seus objetos relacionais, a mostra investiga como a sua prática ativou métodos estéticos e psicológicos radicais, reimaginando os papéis tradicionais entre a obra de arte, o artista e o espectador, envolvendo até mesmo o inconsciente. e transcender a experiência sensorial física tipicamente associada à arte.

Lucidus Disorder

Diego Barboza, Artur Barrio, Sérgio Camargo, Yoan Capote, Eugenio Espinoza, Magdalena Fernández, Gego, Jac Leirner, Hélio Oiticica, Federico Ovalles, Mano Penalva, Wilfredo Prieto, Luis Salazar e Antonieta Sosa.

“Esses artistas anunciaram um novo modelo de desobediência de cunho tropical, alicerçado na lógica do caos. Longe de serem reacionários, esses gestos simbólicos e físicos operando por meio da desconstrução formaram uma dinâmica quase estereoscópica entre artistas venezuelanos e brasileiros, que deixaram para trás a arte concreta no Brasil e a arte cinética na Venezuela configuraram uma resposta política à razão cartesiana e eurocêntrica que definia a estética oficial, criando obras que transcendiam a grade em crise e sorriam para a vida cotidiana.”

Rolando J. Carmona.