“O Alienista” na Fortes D’Aloia & Gabriel

03/abr

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta “O Alienista”, a nova exposição de Rivane Neuenschwander na Galeria, Vila Madalena, São Paulo, SP. A artista mineira exibe obras em escultura, pintura e vídeo permeadas por temas como medo, sexualidade, política e violência. Baseando-se em referências diversas da literatura e da cultura popular, os trabalhos propõem narrativas fragmentadas, “ficções dentro de ficções”, que convocam o público a refletir sobre a irracionalidade reinante na atualidade, no país e no mundo.

 

Desde 2013, Rivane Neuenschwander desenvolve uma ampla pesquisa sobre medos de crianças através de projetos que já passaram por Londres, Dresden, Bogotá, entre outras. Seu interesse pelo tema volta-se tanto para as investigações psicanalíticas sobre o medo e suas variantes (a fobia, a angústia e o pânico), como também pelo medo como afeto fundamental a ser manipulado no âmbito político, o que tem levado à ascensão de governos autoritários em várias partes do mundo. A série “Assombrados”, de 2019, é o mais recente desdobramento dessa pesquisa e trata-se de pinturas em tecido de grande formato que empregam as tradicionais técnicas de colchas de retalhos. O ponto de partida da nova série foram as oficinas que precederam a exposição de Rivane no Museu de Arte do Rio, “O Nome do Medo”, de 2017, realizadas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O trabalho combina os medos nomeados pelas crianças nas oficinas (como bala perdida, fome, estupro) com os desenhos que elas criaram para representar outros temores associados à primeira infância (barata, cobra, fantasma). A artista reinterpreta as ilustrações como silhuetas para então fragmentar texto e imagem através das colchas, signo de conforto e acolhida.

 

O aspecto onírico ressoa também em “O Alienista”, de 2019, a obra que dá título à exposição, composta por cerca de vinte bonecos feitos com tecido, papel machê, garrafas de vidro e outros materiais. Rivane inspira-se no livro homônimo de Machado de Assis, publicado originalmente em 1882, no qual um médico funda o hospício Casa Verde. Após internar compulsoriamente todos os habitantes da cidade, conclui que ele mesmo deve ser hospitalizado, questionando enfim os limites entre loucura e sanidade. A exposição promove a transposição dos personagens do livro para o atual contexto do país, apresentando os lunáticos através de alegorias de animais ou plantas, sobre pedestais em planos variados. A artista atribui a cada um deles uma alcunha – “O Juiz de Fora”, “O Terraplanista”, “O Barbeiro” e “A Viúva” são alguns deles – borrando os limites entre ficção e realidade.

 

Em “Trópicos Malditos, Gozosos e Devotos”, de 2018 – 2019, – título inspirado, por sua vez, no livro “Museu de Arte do Rio, “O Nome do Medo”, de 2017, realizadas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Rivane faz pinturas sobre madeira que mesclam as clássicas Shungas (xilogravuras eróticas japonesas, populares especialmente nos séculos XVII e XVIII) com elementos da literatura de cordel. De maneira semelhante à de “O Alienista”, a obra aproxima-se da fábula para revelar uma narrativa perversa, permeada pela violência. Seres antropomórficos com falos e vulvas aparecem em meio a um vermelho-sangue, indicando o estupro como prática inaugural da miscigenação do Brasil.

 

“Enredo”, de 2016, é um vídeo em parceria com o neurocientista Sergio Neuenschwander que ocupa a sala do segundo andar da Galeria. Projetado em loop e com duração de 10:01 minutos, o filme indica em sua própria estrutura referências diretas “As Mil e Uma Noites”, famosa coletânea de contos populares do Oriente Médio, cuja origem remonta ao século IX. Na obra de Rivane, confetes de páginas do clássico são lançados sobre inúmeras teias de aranha, desenvolvendo uma narrativa abstrata à medida que a estrutura frágil da teia começa a ruir sob o peso do papel. A aranha surge aos poucos percorrendo o cenário e lidando com a intromissão da palavra. Na trilha sonora, o músico Domenico Lancellotti usa um tamburello para dar o tom de suspense e, ao mesmo tempo, atribuir novas camadas à miscelânea de referências da obra. O instrumento típico italiano é uma espécie de pandeiro usado para tocar a tarantela que, por sua vez, é historicamente associada ao tarantismo: a manifestação de febre e delírio causada pelo veneno da aranha.

 

 

Sobre a artista

 

Rivane Neuenschwander nasceu em Belo Horizonte, 1967, e atualmente vive e trabalha em São Paulo. Uma das mais consagradas artistas brasileiras de sua geração, possui ampla projeção internacional, com participações em: Bienal de São Paulo (2008, 2006 e 1998), Bienal de Istambul (2011), Bienal de Veneza (2005 e 2003), SITE Santa Fe (1999), entre outras. Suas exposições individuais recentes incluem: Alegoria del Miedo, NC-Arte (Bogotá, 2018); O Nome do Medo, MAR (Rio de Janeiro, 2017); The Name of Fear, Whitechapel Gallery (Londres, 2015); mal-entendidos, MAM-SP (São Paulo, 2014); A Day Like Any Other, New Museum (Nova York, 2010) – exposição itinerante que passou também por Mildred Lane Kemper Art Museum (Saint Louis), Scottsdale Museum of Contemporary Art (Scottsdale) e Irish Museum of Modern Art (Dublin); e At a Certain Distance, Malmö Konsthall (Malmo, 2010). Sua obra está presente em grandes coleções institucionais como: Tate Modern (Londres), Guggenheim (Nova York), MoMA (Nova York), TBA21 (Viena), MACBA (Barcelona), Fundación Jumex (Cidade do México), Inhotim (Brumadinho), MAM-SP (São Paulo), MAM Rio (Rio de Janeiro), entre outras.

Natureza-Morta no MAM Rio

O MAM RIO, Parque do Flamengo, Rio de janeiro, RJ, apresenta a partir do próximo dia 06 de abril, a exposição “Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio”. Com o mesmo título de uma instalação de Adriana Varejão, a exposição investiga este importante gênero da pintura, em obras em diversos suportes pertencentes ao acervo do Museu criadas por 35 artistas de várias gerações. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne mais de 40 obras – entre pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações – produzidas por 39 artistas de diferentes gerações. A exposição dá continuidade às investigações de gêneros da pintura a partir dos acervos do Museu, mostradas em “Constelações – O Retrato nas Coleções MAM Rio” e “Horizontes – A Paisagem nas Coleções MAM Rio”, em cartaz até o próximo dia 12 de maio de 2019.

 

Com o mesmo título de um backlight fotográfico de Adriana Varejão, de 1999, a exposição busca revelar não só a dimensão mais histórica do gênero natureza-morta, mas também “possibilidades de releituras contemporâneas desse conceito”, como informam os curadores. O conjunto de obras não foi reunido “somente com base no enquadramento estrito das obras nas características evidentes deste gênero, mas também na livre correlação dos trabalhos com o sentido mais geral da exposição”, explicam. “Sob tal licença, “Alegria” também transborda do âmbito da pintura, da gravura, do desenho e da fotografia, para aquele, expandido, da escultura, do vídeo e de instalações para traçar um panorama aberto desse gênero da pintura no Brasil no exterior”, contam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Os artistas que integram a exposição são de várias gerações, como Volpi, Guignard, Dacosta, Vicente do Rego Monteiro, a portuguesa Lourdes Castro, Wilma Martins, Adriana Varejão, Ivens Machado, Karin Lambrecht, Artur Barrio e Raul Mourão.

 

 

Natureza-Morta

 

A natureza-morta, da mesma forma que o retrato e a paisagem, foi um dos grandes gêneros da pintura europeia, entre os séculos XV e XVI, na Renascença. “Esses gêneros ganharam corpo como alternativa às pinturas de cenas religiosas, proibidas nos países que aderiram à reforma protestante, como a Holanda, que viu nascer o primeiro mercado de arte de que se tem notícia”, dizem os curadores. “As naturezas-mortas podem ser caracterizadas pela representação de objetos inanimados, vistos de uma curta distância. Sua escala intimista, somada à composição feita com base em motivos banais, mas agradáveis – frutas, flores, alimentos e objetos familiares ao olhar burguês – não significava, porém, que tais pinturas tivessem um teor laico-secular, apenas contemplativo, função que somente se consolidaria no começo do modernismo. Ainda que tratassem de cenas domésticas, essas pinturas, a despeito de sua fatura naturalista, tinham um teor simbólico então acessível a todos: evocavam o agradecimento pelo pão nosso de cada dia, conquistado pelo trabalho humano, sob a bênção divina”. O gênero atravessou os tempos, e na segunda metade do século XIX as naturezas-mortas já haviam se libertado de sua simbologia protestante inicial, e se tornaram “fundamentais para a revolução que permitiu à pintura superar a ênfase no tema que a havia marcado no romantismo e no neoclassicismo – batalhas, coroações, funerais e casamentos reais, pintados em formatos grandiosos que direcionavam o olhar para a narrativa e não para a própria pintura”. Os curadores complementam: “A banalidade temática das naturezas-mortas abriu caminho para a contemplação exclusiva de elementos cromáticos, formais, espaciais e compositivos, que não só se tornaram essenciais para a fruição modernista, como abriram caminho para a arte abstrata com Wassily Kandinsky, em 1910”.

 

 

Artistas expositores

 

Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Vicente do Rego Monteiro, Aldo Bonadei, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Glauco Rodrigues, Lourdes Castro, Anna Bella Geiger, Wilma Martins, Luis Humberto, Eduardo Costa, Ivens Machado, Wanda Pimentel, Artur Barrio, Waltercio Caldas, Vilma Slomp,Claudia Jaguaribe, Karin Lambrecht, Brígida Baltar, Jorge Barrão,Roberto Huarcaya, Marcos Chaves, Edgard de Souza, Franklin Cassaro, Katia Maciel, Adriana Varejão, Efrain Almeida, Raul Mourão, José Damasceno, Julio Bernardes, Pedro Calheiros, Rodrigo Braga e Felipe Barbosa.

 

 

De 06 de abril a 07 de julho.

Museu Afro Brasil, 15 anos

29/mar

 

O Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e o Museu Afro Brasil anuncia a abertura da exposição  “Museu Afro Brasil, nos seus 15 anos, celebra São Paulo – Uma iconografia urbana” que acontecerá no próximo dia 06 de abril. Com mais de 500 objetos que traçam uma cronologia de São Paulo desde a sua transformação em povoado até tornar-se uma megametrópole cosmopolita, a exposição retrata a multiplicidade étnica e cultural da cidade.

 

Ernesto Neto na Pinacoteca

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e o Banco Bradesco apresentam, de 30 de março a 15 de julho, a exposição “Ernesto Neto: Sopro”, que ocupa o Octógono, sete salas do 1º andar e outros espaços da Pina Luz. Com curadoria de Jochen Volz e Valéria Piccoli, diretor e curadora-chefe do museu, respectivamente, a retrospectiva reúne 60 obras de um dos nomes mais proeminentes da escultura contemporânea. Desde o ínicio de sua carreira nos anos 1980, o artista vem produzindo obras que colocam em diálogo o espaço expositivo e as diversas dimensões do espectador.

 

A partir de uma compreensão singular da herança neoconcreta, Ernesto Neto (Rio de Janeiro, 1964), desdobra suas esculturas iniciais – elaboradas com materiais como meias de poliamida, esferas de isopor e especiarias – em grandes instalações imersivas, que propõem ao espectador um espaço de convívio, pausa e tomada de consciência. Sua prática escultórica engendra-se a partir da tensão de materiais têxteis e de técnicas como o crochê. Essas grandes estruturas lúdicas acolhem ações e rituais que revelam as preocupações atuais do artista: a afirmação do corpo como elemento indissociável da mente e da espiritualidade.

 

Desde 2013, o artista vem colaborando com os povos da floresta, principalmente a comunidade indígena Huni Kuin, também conhecida como Kaxinawá. A população dessa etnia, com mais de 7.500 pessoas, habita parte do estado do Acre e forma a mais numerosa população indígena do estado. “A turma da floresta tem uma ligação muito mais profunda com a natureza. Inclusive, a palavra natureza, como algo que está fora de nós, seres humanos, nem existe nessa comunidade. Eles não veem essa separação”, conta o artista.

 

“A convivência com eles me trouxe um entendimento profundo da espiritualidade, desta força de continuidade do “corpo-eu” e do “corpo-ambiente”, e também uma base estrutural “espíritofilosófica”, além da compreensão de que há muito o que descobrir enquanto humanidade: quem somos? Onde estamos? Para onde vamos?”. O entendimento do planeta como organismo interdependente permeia boa parte das obras de Ernesto Neto.

 

Para esta mostra na Pinacoteca, o artista concebeu novos trabalhos, entre eles, um para o espaço do Octógono, que acolherá quatro ações/rituais participativas abertas ao público ao longo do período expositivo. Integra também o conjunto uma obra seminal em sua trajetória: “Copulônia”, de 1989. De poliamida e esferas de chumbo, seu título faz referência à “cópula” (termo utilizado pelo artista para caracterizar um tipo de elemento, presente na obra, em que duas partes se penetram) e à “colônia” (seção da obra na qual os elementos se repetem). “Traz a ideia de população, família, corpo coletivo e convivência simbiótica”, define o artista.

 

“Copulônia marca o momento em que Neto começa a pensar a escultura não mais como um único volume mas como um todo composto de partes. Outras obras icônicas dele integram a seleção, como aquelas que contem especiarias (cravo, açafrão, urucum), as Naves (arquiteturas de tecido em que o visitante é convidado a entrar) e mesmo as mais recentes estruturas habitáveis confeccionadas em crochê. As obras do Neto convocam a participação do visitante e ativam outros sentidos além do olhar”, comenta Piccoli.

 

A exposição propõe demonstrar como a fisicalidade, o indivíduo e o coletivo sempre estiveram presentes, desde o início, na prática do artista, moldando sua poética. Sua colaboração atual com líderes políticos e espirituais das nações Huni Kuin, cujas contribuições ao artista recebem na mostra uma sala própria, aparece como uma consequência natural de sua pesquisa escultórica. “Neto vem explorando e expandindo os princípios da escultura radicalmente desde o começo de sua trajetória. Gravidade e equilíbrio, solidez e opacidade, textura, cor e luz, simbolismo e abstração ancoram sua prática, num contínuo exercício acerca do corpo individual e coletivo e da construção em comunidade”, observa Jochen Volz.

 

Esta é também a primeira exposição que propõe traçar seus primeiros experimentos nesse campo através da investigação e da apropriação do espaço expositivo até atingir seu atual engajamento social. Num momento marcado pelo descompasso entre humano e natureza, Neto propõe que a arte seja uma ponte para a reconexão humana com esferas mais sutis. “O artista é uma espécie de pajé. Ele lida com o subjetivo, com o inexplicável, com aquilo que acontece entre o céu e a terra, com o invisível. Desse lugar, consegue trazer coisas”, finaliza Neto.

 

A mostra é acompanhada de um catálogo e tem patrocínio do Banco Bradesco, Escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados, Iguatemi São Paulo e Havaianas. Após sua estreia na Pinacoteca, a exposição será recebida pelo Malba – Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Argentina e pelo Centro Cultural Palacio de La Moneda, em Santiago no Chile. “Ernesto Neto: Sopro” integra a programação de 2019 da Pinacoteca, dedicada à relação entre arte e sociedade. Por meio dela, a instituição propõe examinar as dimensões sociais da prática artística, apresentando exposições que redimensionam a ideia de escultura social, cunhada pelo artista e ativista alemão Joseph Beuys.

 

 

Sobre o artista

 

Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: GaiaMotherTree, Zurich Main Station, apresentado pela Fondation Beyeler, (Zurique, Suíça, 2018); Boa, Museum of Contemporary Art Kiasma (Helsinque, Finlândia, 2016); Rui Ni / Voices of the Forest, Kunsten Museum of Modern Art (Aalborg, Dinamarca, 2016); Aru Kuxipa | Sacred Secret, TBA21 (Viena, Áustria, 2015); The Body that Carries Me, Guggenheim Bilbao (Bilbao, Espanha, 2014); Haux Haux, Arp Museum Bahnhof Rolandseck (Remagen, Alemanha, 2014); Hiper Cultura Loucura en el Vertigo del Mundo, Faena Arts Center (Buenos Aires, Argentina, 2012); La Lengua de Ernesto, MARCO (Monterrey, México, 2011) e Antiguo Colegio de San Ildefonso (Cidade do México, 2012); Dengo, MAM (São Paulo, 2010). Destacam-se, ainda, suas participações nas Bienais de Veneza (2017, 2003 e 2001), de Lyon (2017), de Sharjah (2013), de Istambul (2011) e de São Paulo (2010 e 1998). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, entre elas: Centre Georges Pompidou (Paris), Inhotim (Brumadinho), Guggenheim (Nova York), MCA (Chicago), MOCA (Los Angeles), MoMA (Nova York), Museo Reina Sofía (Madri), SFMOMA (San Francisco), Tate (Londres) e TBA21 (Viena).

Alfredo Volpi e Bruno Giorgi

22/mar

Foram dez anos de pesquisas para construir uma exposição sobre a amizade entre dois grandes mestres da arte brasileira do século XX. “Estética de uma Amizade”, será exibida na Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, procura pontuar com memórias e produção artística os 50 anos de estreita convivência entre – o pintor Alfredo Volpi e o escultor Bruno Giorgi.

 

A mostra reúne cerca de 100 obras – a maioria apresentada ao público pela primeira vez, entre pinturas, desenhos e esculturas provenientes, da Coleção Leontina e Bruno Giorgi e colecionadores particulares. Os trabalhos são entremeados por fotografias, documentos, depoimentos e gravações com saborosas narrativas sobre esta amizade que perdurou de 1936 até a morte de Volpi em 1988.

 

No raro conjunto de numerosas pinturas de Volpi, esculturas, desenhos e telas de Bruno Giorgi, sobrepõem-se as obras surgidas de relações de amizades ou familiares, como os retratos de Mira Engelhardt e Gilda Vieira, feitos por Volpi, além de Judith, sua mulher, retratada por ele, e um desenho dedicado à sua única aluna Lore Koch; o retrato de Leontina Giorgi, as joias/esculturas projetadas por Giorgi; nus femininos assinados pelos dois artistas; retrato de Giorgi por Volpi e as cabeças de Volpi e Mario de Andrade esculpidas por Giorgi; as interpretações discordantes do poema “Balada de Santa Maria Egipcíaca” de Manuel Bandeira, que ambos fizeram em pintura; e até uma série de trabalhos concebidos na convivência da dupla. Há também as maquetes das obras de Brasília, quando os afrescos de Alfredo Volpi e as esculturas de Bruno Giorgi sublinharam a arquitetura de Oscar Niemeyer.

 

A exposição revela como o pintor, que se mudou com a família para o Brasil com apenas um ano de idade, e o escultor, ambos originários da mesma região italiana, a Toscana, compartilharam a fraterna relação e o saber artístico com igual intensidade. Não foram poucas as vezes que, com um esboço debaixo do braço, Volpi saiu de São Paulo e foi ao Rio de Janeiro discutir uma pintura com o amigo. Leontina, viúva de Bruno Giorgi, que muito contribuiu para a realização desta exposição, disponibilizando obras e arquivo, testemunhou muitas das longas conversas ou silêncios que os dois amigos gostavam de dividir. Ao mesmo tempo foram artistas que puderam comemorar juntos e reciprocamente virtuosas trajetórias: ambos participaram de prestigiosas exposições nacionais e internacionais, entre as quais em edições, às vezes coincidentes, como a Bienal de Veneza e a Bienal Internacional de São Paulo, além de conquistar vários prêmios no Brasil no exterior.

 

O projeto foi possível graças ao empenho dos curadores da exposição Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, Leontina Ribeiro Giorgi, Instituto Volpi de Arte Moderna e à equipe da Pinakotheke. Com os arquivos do marido, Leontina Ribeiro Giorgi, gravou longas entrevistas, rememorando fatos históricos e pessoais. Nas suas pesquisas, Pedro, que é filho de Marco Antonio Mastrobuono, um dos primeiros colecionadores e amigo pessoal de Volpi, teve a oportunidade de encontrar informações preciosas, sobretudo entrevistas de Bruno Giorgi em Brasília, onde o pintor ítalo-brasileiro era constantemente mencionado.

 

Durante a exposição será lançada a publicação “Estética da Amizade – Alfredo Volpi e Bruno Giorgi” que, além do material da mostra, contém textos de David Léo Levisky, Rodrigo Naves e Mario de Andrade e dos curadores Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, os quais destacam as personalidades que conviveram com a dupla, como Mário Schenberg, Lasar Segall, Sergio Milliet, e apresentam uma inédita biografia em ordem cronológica entrelaçada dos dois artistas, na qual é possível constatar como arte e amizade pulsavam em particular sintonia.

 

 

Até 25 de maio.

Dois em Aspen

11/mar

A Marianne Boesky Gallery apresenta “Tropical Molecule”, exposição dos trabalhos do designer Hugo França e do artista Thiago Rocha Pitta, em Aspen, Colorado, USA. Diferentes em suas abordagens conceituais e estéticas, Rocha Pitta e França estão unidos pelo compromisso de se envolver e respeitar o ambiente natural, especialmente em seu país de origem, o Brasil. Em exposição até 31 de março, a mostra inclui o mobiliário escultural característico de França ao lado de uma seleção de aquarelas, afrescos e fotografias de Rocha Pitta. Uma nova escultura de Rocha Pitta também será instalada no exterior da galeria. As obras, juntas pela primeira vez, capturam as fronteiras entre arte e design e destacam a Natureza e o Tempo como poderosas fontes de inspiração.

Museu Nacional Vive 

28/fev

O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro inaugurou exposição com 103 peças resgatadas do incêndio que destruiu o prédio principal do Museu Nacional – UFRJ (MN), na zona norte da cidade, em setembro do ano passado: “Museu Nacional Vive – Arqueologia do Resgate”.

 

O diretor do MN, Alexander Kellner, avalia que o pessimismo inicial dá hoje lugar à confiança de que muito será recuperado.

– O que poderia ter sobrevivido às gigantescas e intensas labaredas que destruíram grande parte do palácio? Graças a um trabalho intenso e heroico de servidores da instituição é que hoje podemos ver parte do material resgatado, e, felizmente, ainda há muito mais por vir. Essa exposição é uma demonstração clara de que o Museu Nacional VIVE !, celebra  Alexandre Kellner.

 

Sob curadoria da Comissão de Resgate do MN, “Museu Nacional Vive – Arqueologia do Resgate” ocupa duas salas do segundo andar do centro cultural, com cerca de 180 itens, dos quais 103 são peças resgatadas das cinzas inteiras ou danificadas. As demais são as preservadas, que estavam fora da área do incêndio ou emprestadas. O conjunto contempla todas as áreas de pesquisa da instituição: Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Invertebrados e Vertebrados.

 

A exposição resulta de um trabalho coletivo de profissionais dos diversos departamentos do museu. No processo curatorial se identificou um novo campo que se abria no presente: a arqueologia do resgate.

 

– Apresentar para o público parte do trabalho de resgate do acervo do Museu Nacional é algo muito especial não só para o CCBB, mas também para todas as instituições culturais do Brasil e do mundo e para a população de uma forma geral, que viu e sofreu com o incêndio que destruiu uma história de 200 anos. Com esta exposição, celebramos o reinício do Museu. Poder fazer parte deste momento marcante é motivo de muito orgulho para nós, diz Marcelo Fernandes, gerente geral do CCBB Rio. Com interesse e colaboração vigorosa de todos, a mostra pretende dar ao visitante, do curioso ao pesquisador, um panorama da vida do Museu Nacional, como um convite a uma aventura pela imaginação.

 

 

Exposição

 

No térreo do CCBB, estará o Meteorito Santa Luzia que caiu do espaço em Luziânia, Goiás, em 1922, e homenageia o antigo nome da cidade. Ele pesa cerca de duas toneladas, mede 136 x 80 x 40 cm e é composto por 95,33% de ferro, mais níquel, cobalto, fósforo, cobre e outros elementos.

 

A grande sala do segundo andar apresenta a “Arqueologia do Resgate”, em que peças recuperadas guiam o percurso associadas a outras preservadas. O público encontrará animais taxidermizados; crânios de rinoceronte, boto, pacamara; peixes, tartarugas, sapos, pouquíssimos insetos (segmento muito afetado pelo incêndio); corais, peças-tipo (primeira vez que foram classificadas) como conchas e crustáceos.

 

O crânio de um jacaré-açu foi resgatado dos escombros e é um dos destaques da mostra. Além dele, há outros exemplares resgatados, que caracterizam as coleções de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina – vasos, ânforas e lamparina romanos e etruscos e peças mochica e chimú (Peru).

 

Esculturas de cerâmica Marajoara, elementos ligados aos rituais dos orixás como flechas, argolas africanas do século XIX, agogô e búzios do Benin; bonecas Karajá, panelas do Xingu e um conjunto de miniaturas de cerâmica da região norte-nordeste.

 

No térreo do CCBB, estará o Meteorito Santa Luzia que caiu do espaço em Luziânia, Goiás, em 1922, e homenageia o antigo nome da cidade. Ele pesa cerca de duas toneladas, mede 136 x 80 x 40 cm e é composto por 95,33% de ferro, mais níquel, cobalto, fósforo, cobre e outros elementos.

 

A grande sala do segundo andar apresenta a Arqueologia do Resgate, em que peças recuperadas guiam o percurso associadas a outras preservadas. O público encontrará animais taxidermizadas; crânios de rinoceronte, boto, pacamara; peixes, tartarugas, sapos, pouquíssimos insetos [segmento muito afetado pelo incêndio]; corais, peças-tipo (primeira vez que foram classificadas) como conchas e crustáceos.

 

O crânio de um jacaré-açu foi resgatado dos escombros e é um dos destaques da mostra. Além dele, há outros exemplares resgatados, que caracterizam as coleções de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina – vasos, ânforas e lamparina romanos e etruscos e peças mochica e chimú (Peru).

 

Esculturas de Shabti de Haremakhbit de faiança, do Egito Antigo, de 1380 a.C., se salvaram e estarão em exibição. Shabti são pequenas estatuetas, colocadas nas tumbas, representando servos cuja função era substituir o morto em seus trabalhos na pós-vida.

 

Ainda no mesmo espaço estarão as coleções regionalistas, como as peças em pedra em forma de ave e peixe (zoólitos) de Santa Catarina, cerâmica Marajoara, elementos ligados aos rituais dos orixás como flechas, argolas africanas do século XIX, agogô e búzios do Benin; bonecas Karajá, panelas do Xingu e um conjunto de miniaturas de cerâmica da região norte-nordeste.

 

O trono de Daomé, uma das primeiras peças constatadas como perdidas no fogo e assim noticiada pela mídia, ganhou uma réplica perfeita em papier maché, assinada por um aluno do ensino fundamental comovido com a destruição, e doada ao museu. O Miguel Monteiro Nunes ainda anexou um mosaico de fotos com o passo a passo da feitura da réplica.

 

Da biblioteca, que não foi atingida pelo incêndio, a exposição traz  a publicação “Meteorito de Bendégo”, de José Carlos de Carvalho, de 1888. É o relatório apresentado pela comissão formada por ordem D. João VI, D. Pedro I, Dom Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel de D. Pedro II para remoção e transferência do meteorito Bendegó para o Museu Nacional. A peça, de cinco toneladas, foi descoberta, em 1784, nas proximidades da cidade de Monte Santo, Bahia. O texto é bilíngue, em português e francês, encadernação de luxo com símbolo do império na capa. O exemplar está disponível na biblioteca digital do Museu Nacional.

 

Do herbário, um dos cinco mais importantes do mundo, há um conjunto de amostras de plantas prensadas (exsicatas) das coleções de D. João VI, D. Pedro I, Dom Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel e de grandes expedições estrangeiras ao Brasil, como a missão francesa.

 

Com a diversidade de itens resgatados e preservados, equacionados em expografia acolhedora, o público terá a sensação de visitar uma versão do Museu Nacional e experimentar o prazer do convívio com as raridades que a instituição preserva para todos, leigos e iniciados.

 

 

Sobre o Museu Nacional

 

O projeto Museu Nacional Vive já é uma realidade. Até o final de março, a empresa contratada para as obras emergenciais do Museu Nacional vai concluir as obras de estabilização, instalar uma cobertura provisória no prédio e entregar um laudo das patologias derivadas do incêndio. As obras já realizadas permitiram que a imprensa pudesse ver de perto, no dia 12 de fevereiro, como estão as estruturas do Palácio após o incêndio assim como acompanhar o esforço e dedicação dos pesquisadores que integram a equipe de resgate. Também neste dia a UFRJ lançou edital para a licitação de projetos executivos, necessários para a contratação de obras de recuperação do telhado e estruturas de sustentação e a fachada do prédio, tombadas pelo IPHAN. A licitação, contratação e o início destes investimentos deverão ocorrer na segunda metade de 2019 e será financiada, em grande parte, pelos recursos da emenda impositiva que a bancada do Rio (Deputados e Senadores) alocou para o Museu Nacional, no valor de R$ 55 milhões. Para promover um planejamento e gestão eficiente e transparente do projeto Museu Nacional Vive o MEC alocou R$ 5 milhões que serão executados pela UNESCO, órgão das Nações Unidas dedicado à educação e cultura. O apoio do MEC, inicialmente através dos recursos emergenciais e agora em seus desdobramentos, se revela de importância estratégica para a recuperação deste patrimônio único e valioso do país. O MCTIC, através da FINEP, com R$ 10 milhões) e da CAPES (com R$ 2,5 milhões) e o Ministério da Economia, através do BNDES (com recursos da ordem de R$ 20 milhões) também estão apoiando a reconstrução da capacidade de pesquisa do Museu Nacional.

 

 

CCBB 30 anos

 

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento.  Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundi.

 

 

Até 29 de abril.

Artes visuais e teatro na Carpintaria

20/fev

 

“Perdona que no te crea” investiga o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, em suas interseções e particularidades, reforçando a vocação da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, na proposição de diálogos entre artistas, linguagens e disciplinas. O título da exposição inspira-se no bolero “Puro Teatro”, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, composto em 1970.

 

“Como em um cenário, finges sua dor barata”, anunciam os primeiros versos da canção, famosa na versão da cantora cubana La Lupe. Logo na entrada, a ideia de espaço expositivo funde-se a uma atmosfera cênica à medida em que produções contemporâneas compartilham o ambiente com registros fotográficos históricos. As colagens em tecido, linha e papel de Sara Ramo operam como cortinas que abrem-se e revelam “Marionete” (2018) de Marina Rheingantz e “Cruzeiro” (2018) de Leda Catunda, obras que empregam materialidades quase teatrais, apresentadas ao lado de fotografias de espetáculos como “Melodrama” (1995) da Cia. dos Atores e “Otelo”, de Shakespeare, encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1946. Em conversa, travam relações entre aparatos e encenação, materiais e drama, representação e farsa.

 

Pensar uma dimensão da teatralidade na arte remonta ao Barroco, ainda no século XVI, quando pintura e escultura são tomadas por expressividade e exagero, através do uso de jogos de luz e da reprodução realista de gestos e encenações. Se “o espaço barroco é o da superabundância”, nas palavras do poeta e crítico Severo Sarduy, a “Ruína Modernista” (2018) de Adriana Varejão bebe desta herança ao realizar uma encenação da carne, dando corpo a uma matéria que não se quer verossímil mas sim teatral. Ao lado da obra, as pinturas de natureza naïf de Surubim Feliciano da Paixão arquitetam uma dinâmica de encenação ao passo em que o pintor autodidata – zelador e cenotécnico do Teatro Oficina, em São Paulo, na década de 80 – documenta sua vivência dos ensaios da peça “Mistérios Gozosos”, montada em 1984 pela companhia.

 

Na parede oposta, são apresentadas práticas artísticas que se instauram em território limítrofe entre teatro e arte. “Jussaras” (2019) de Cristiano Lenhardt são vestimentas que tridimensionalizam o pensamento geométrico desenvolvido pelo artista há cerca de uma década em suas gravuras, funcionando com presença escultórica e também performática, sendo ativada – vestida – ao redor do espaço expositivo. Na mesma parede, estão as máscaras de alumínio de autoria de Flávio de Carvalho, feitas originalmente para “O Bailado do Deus Morto”, texto de autoria do próprio levado aos palcos em 1933, junto do seu grupo “Teatro de Experiência”. Flávio de Carvalho, cuja atuação se deu em diversas esferas da arte, transitou pelos dois campos ao longo de sua trajetória, realizando experiências que turvam fronteiras entre o teatro e a performance, como em seus famosos new looks – blusas e saias vestidas em happenings na década de 1950. Ao fundo da sala, “Ghosts” (2017) de Ana Mazzei reúne um conjunto escultórico de presença teatral, em que cada peça – ou atores – confrontam o espectador. Quem assiste a quem, afinal?

 

Na sala da frente da Carpintaria, a fisicalidade das formas da pintura “Blue Violet Eckout” (2019), de Rodolpho Parigi, trava um duelo com a bidimensionalidade ao passo em que parecem querer exceder o plano, transbordá-lo. É o que parece estar em jogo também na engenhosa composição de “Chat and Drinks” (2018), de Yuli Yamagata, em que a artista costura tecidos como lycra e fibra de silicone, sem deixar de ter como ponto de partida um pensamento pictórico. Esta espécie de blefe dos materiais também aparece nas pequenas esculturas em cerâmica de Daniel Albuquerque, que levam ao extremo a vontade mimética da forma ao reproduzirem em escala humana trechos de um corpo fragmentado, ausente.

 

A voz trôpega que paira sobre o ambiente expositivo (cênico?) vem de “Carta” (2019), obra em que o artista português Tiago Cadete lê a íntegra do relato de Pero Vaz de Caminha quando de sua chegada em terras brasileiras. Velada em um dos armários da Carpintaria, a voz distorce e satiriza o texto do navegador português, que relata com a arrogância eurocêntrica de então o primeiro encontro entre portugueses e indígenas. A eloquência das palavras de Caminha, na voz de Cadete, permite leituras dúbias acerca do contraditório encontro. “Perdona que no te crea… me parece que es teatro?”

 

Artistas participantes

Adriana Varejão | Ana Mazzei | Cia. dos Atores | Cristiano Lenhardt | Daniel Albuquerque | Erika Verzutti | Flávio de Carvalho | Francesco Vezzoli | João Maria Gusmão & Pedro Paiva | Leda Catunda | Luiz Roque | Marina Rheingantz | Mauro Restiffe | Nuno Ramos | Rodolpho Parigi | Sara Ramo | Surubim Feliciano da Paixão | Teatro Experimental do Negro | Teatro Oficina Uzyna Uzona | Tiago Cadete | Tiago Carneiro da Cunha | Valeska Soares | Vania Toledo | Yuli Yamagata

 

Até 09 de março.

Angelo Venosa na Galeria Nara Roesler

18/fev

Um dos poucos artistas – dedicado à escultura – egresso da Geração 80, cuja tônica era a pintura, o paulistano radicado no Rio de Janeiro, Angelo Venosa, traz a sua cidade natal a exposição “Penumbra”. Com curadoria da historiadora e curadora de arte Vanda Klabin, a mostra na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa,  deriva de outra de mesmo nome realizada no ano passado em Vila Velha, ES. Nesta exposição o artista exibe oito esculturas. Dessas, seis são provenientes da exposição no museu capixaba, enquanto as outras duas, ainda que produzidas em 2017, serão exibidas pela primeira vez. “Inquietas e interrogativas, suas obras problematizam a visão do espectador, residem em um mundo fluido permeado pela artesania e pela tecnologia digital, que fazem parte de sua lógica de trabalho e ampliam o campo da sua poética”, pontua a curadora. A mostra reúne obras produzidas em materiais como bronze, madeira, tecido e fibra de vidro que exploram áreas cheias e vazias, criando formas que adquirem inesperada plasticidade. As esculturas formam com a sombra produzida pela iluminação incidente um corpo enigmático e, juntas, constroem particular atmosfera onírica. “A inclusão real da sombra abre um espaço possível, articula a nossa percepção, os nossos modos de ver, e essa simultaneidade de acontecimentos que segmenta um novo território parece sonegar a verdade do olho e possibilita uma grande variedade de acessos a uma realidade cifrada”, afirma a curadora. Segundo Vanda Klabin, ainda, a nova série de trabalhos de Angelo Venosa desperta muitas desconcertantes indagações. “O agenciamento de outros materiais para construir um novo continente de trabalho vai presidir a criação de um núcleo de obras envoltas em incidências luminosas que se desenvolve numa turbulência interna, em que as formas oscilam e tomam posição, no sentido de multiplicar os planos, criar uma ambiguidade espacial”.

 

 

Sobre o artista

 

Angelo Venosa nasceu em 1954, em São Paulo, SP. Brasil. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.  É um dos poucos artistas da chamada “Geração 80” que se dedicou à escultura, em detrimento da pintura então em evidência. A partir da década de 1990, passou a utilizar materiais como mármore, cera, chumbo e dentes de animais, realizando obras que remetem a estruturas anatômicas, como vértebras e ossos. Mais recentemente, o artista começou a utilizar impressões em 3D e desenho assistido por computador para criar estruturas e exoesqueletos de compensado e metal que se assemelham a corais. Participou de exposições como a 19ª Bienal de São Paulo, 1987, a 45ª La Biennale di Venezia, 1993 e a 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2005. Uma grande retrospectiva em comemoração pelos seus 30 anos de carreira foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM Rio, em 2012, passando pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2013 e pelo Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, e pelo Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, MAMAM, Recife, PE, em 2014. Atualmente, possui esculturas públicas instaladas em diversos locais do país, como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Jardins), Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera), Pinacoteca do Estado de São Paulo (Jardim da Luz) e Praia de Copacabana/Leme, Rio de Janeiro.

 

 

Até 16 de março.

Maiolino na Luisa Strina

15/fev

A segunda mostra individual de Anna Maria Maiolino na Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, (até 23 de março) antecede em poucos meses uma grande retrospectiva que está sendo preparada para o PAC – Padiglione d’Arte Contemporanea, de Milão. Intitulada “O amor se faz revolucionário”, de 28 de março a 09 de junho, a exposição tem curadoria de Diego Sileo e é a maior já realizada pela artista em seu país natal, e segue do PAC Milano para a Whitechapel Gallery, em Londres, de outubro de 2019 a janeiro de 2020. Celebração dos 60 anos de trajetória da artista – que engloba mais de 50 mostras individuais, além de participações em mais de 300 exposições coletivas -, “O amor se faz revolucionário” envolve todas as mídias com as quais Maiolino trabalha: desenho, escultura, vídeo, performance, arte sonora, instalação, fotografia e gravura, e na mostra em Milão ela apresentará uma performance inédita.

 

Antes de embarcar para a Itália, Anna Maria Maiolino exibe “EM TUDO – TODO”, 19 obras que tem como protagonista a linha, com seus pontos constitutivos, tanto nas esculturas como nos desenhos expostos. São 4 peças da série “Cobrinhas”, realizadas em 2018, trabalhos escultóricos que a artista vem desenvolvendo há quase 30 anos com a mesma metodologia e técnica, em que o gesto de confeccionar rolinhos (como linha), repetido, configura as esculturas, finalizadas em cimento estrutural branco e pó de mármore. Completam a mostra 15 trabalhos sobre papel, pertencentes às séries “Conta-Gotas”, de 2016; “Pulsões & Traços”, de 2015; “Meandros”, de 2014; “Projetos de Escarificações”, de 2012; e “Vestígios”, de 2012.

 

“Do ponto e da linha já nos falou Kandinsky lindamente, basta recordar seus pensamentos como: “Tudo começa num ponto, e nasce a linha”. É ela que confere a materialidade dos rolinhos ou cobrinhas, e é ela também que compõe as experiências gráficas dos desenhos – e do desenho de todos os tempos, mas que se renova na poética aqui apresentada”, explica a artista. Anna Maria Maiolino já discorreu, em diferentes oportunidades, sobre a importância da linha em seu trabalho. Em uma conferência proferida em Nova York, em 2010, a artista esclarece: “Tomo como ponto de partida a linha desenhada. Pois o desenho foi e é a primeira ferramenta a ser utilizada, que me serve de ponte para agenciar minha mente do imaterial para o tangível e faz com que eu diga: “existo porque desenho”. Pois, quem desenha, desenha seus próprios desejos, na conjunção com as experiências do viver”.

 

No curso deste “ver originário” e se apoiando em sua própria experiência de artista, Anna Maria Maiolino reafirma que o desenho é produto do agenciamento da mente com as funções e as ações básicas do viver humano. “Estas funções e ações tão ancestrais tornam o desenho UNO com as possibilidades da construção da linguagem – substrato do nosso código genético. Construindo a linguagem, materializando sentimentos, damos e recebemos, numa relação simbiótica de intercâmbios. Nesse sentido, a percepção – atividade originária da consciência – faz eclodir e manifesta a significação junto com o objeto. (…) Os surrealistas diziam que o desenho é o ECO das nossas pulsões e dos nossos sonhos. Para mim ele é isso, mas é também construção de materialidade, porque a linha materializada pode ocupar as múltiplas dimensões do espaço real.”

 

 

Sobre a artista

 

Em 2017, uma ampla retrospectiva da obra de Maiolino foi apresentada no MoCA Los Angeles, como parte do projeto Pacific Standard Time: LA/LA, patrocinado pela Getty Foundation. Em 2010, uma importante retrospectiva itinerante foi apresentada na Fundação Antoni Tàpies, Barcelona, viajou para o Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha, e para o Malmö Kunsthalle, na Suécia (2011). A obra de Maiolino integra mais de 30 coleções de museus e instituições culturais no Brasil e no exterior, entre os quais se destacam MoMA, MoCA Los Angeles, MASP, Malba, Reina Sofia, Centre Pompidou, Tate Modern e Galleria Nazionale di Roma. Suas principais exposições individuais, a partir da década de 2000, incluem Errância Poética (Poetic Wanderings), Hauser & Wirth, Nova York (2018); TUDO ISSO, Hauser & Wirth, Zurique (2016); CIOÈ e performance in ATTO, Galleria Raffaella Cortese, Milão (2015); Ponto a Ponto, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2014); Afecções, Prêmio MASP Mercedes–Benz de Artes Visuais, MASP, São Paulo (2012); Continuum, Camden Arts Centre, Londres (2010); Territories of Immanence, Miami Art Center, Miami (2006); Muitos, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2005); Vida Afora/A Life Line, The Drawing Center, Nova York (2002); e N Times One (da série Terra Modelada), Art in General, Nova York (2002). Entre as mostras coletivas de que participou em anos recentes, destacam-se Mulheres Radicais, Pinacoteca do Estado, São Paulo (2018); Radical Women: Latin American Art, 1960–1985, Hammer Museum, Los Angeles (2017); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, MET Breuer, Nova York (2017); Lugares do Delírio, MAR – Museu de Arte do Rio (2017); Resistence Performed – Aesthetic Strategies under Repressive Regimes in Latin America, Migros Museum, Zurique (2015); The EY Exhibition: The World Goes Pop, Tate Modern, Londres (2015); International Pop, Walker Art Center, Minneapolis (2015); The Great Mother, Palazzo Reale, Milão (2015); Impulse, Reason, Sense, Conflict, CIFO Art Space, Miami (2015); Artevida, MAM Rio de Janeiro e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro (2014); DOCUMENTA 13, Kassel (2012); On Line: Drawing Through the Twentith Century, MoMA, Nova York (2010); 29ª Bienal de São Paulo (2010).

 

 

Até 23 de março.