Memórias afetivas em xilogravura

03/fev

 

 

Aos 26 anos, Santídio Pereira, um dos nomes mais importantes da nova geração de artistas contemporâneos brasileiros, expõe na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, a partir de 05 de fevereiro.

 

A Fundação Iberê abre o ano de exposições com a primeira individual em um museu de Santídio Pereira, 26 anos, um dos nomes mais importantes da arte contemporânea no Brasil. Esta é, também, a primeira vez que o artista vê este conjunto de obras, a maioria de colecionadores, reunidas em uma mostra.

 

“Santídio Pereira – Incisões, recortes e encaixes” apresenta 22 obras, em grandes dimensões, que resgatam a infância do artista em Curral Comprido, povoado próximo a cidade de Isaías Coelho, no Estado do Piauí. São memórias afetivas em xilogravura e offset impressas em papeis kashiki, hahnemühle, sekishu, wenzhou, fabriano disegno e de arroz chinês 100% de algodão.
A xilo em três operações: incisões, recortes e encaixes

 

Santídio mudou-se para São Paulo, em 2002, com apenas seis anos de idade. Aos oito, ingressou nas “oficinas de fazeres” do Ateliescola no Instituto Acaia, uma ONG privada, sem fins lucrativos, que atende crianças e adolescentes residentes próximo à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), local onde também trabalhou. Aos 14, começou a gravar sob orientação de Fabrício Lopez e Flávio Castellan e, aos 18, se despediu do tempo permitido na ONG, determinado a ser artista. E são justamente a obstinação e as imagens das memórias preservadas, tanto de sua terra natal, quanto das experiências posteriores, que compreendem hoje o viés condutor da obra de Santídio Pereira.

 

A xilogravura atendeu aos primeiros interesses do artista, que desenvolveu procedimentos próprios de trabalho, como a que ele denomina “incisão, recorte e encaixe”, ou seja, a composição por meio da combinação de várias matrizes recortadas, como peças de um quebra-cabeça. Além de proporcionar um jogo de cores através do acúmulo e justaposição de tinta, essa técnica permite subverter a função de multiplicidade, tão característica da gravura.

 

Com o tempo, a materialidade das tintas trabalhadas sobre o papel passou a protagonizar a investigação de Santídio e, até hoje, norteia sua produção artística. A experimentação no estudo das cores tornou-se vetor importante para expressar suas memórias, sentimentos e sentidos, que são inerentes também à cultura e aos fazeres populares dos lugares por onde esteve. Não à toa, o artista sentiu a necessidade de aumentar a superfície de apreciação das cores, aumentando a escala de suas obras.

 

São duas as séries de xilogravuras mais representativas de Santídio: “Pássaros” (2018) e “Bromélias” (2019). A memória afetiva levou o artista a investir numa pesquisa iconográfica sobre os pássaros da Caatinga do Piauí. Além de procurar entender os saberes populares e a relação das pessoas com esses animais, Santídio foi estudar biologia e mitologia. Mais tarde, a partir da residência artística Kaaysá, realizada em Boiçucanga, litoral de São Paulo, surgiu a série de bromélias. Da mesma forma que inspirou Roberto Burle Marx, essa planta tropical tipicamente brasileira também foi um grande objeto de investigação de Santídio, que investiu em viagens pelo país para o exercício da observação, além do estudo científico. Em ambas as séries, o conjunto sensível de conhecimentos populares foi associado à um meticuloso estudo de cores, que normalmente emergem da memória visual e das sensações que o artista preserva das experiências da vida. Para ele, reconhecer a relevância dos saberes populares é tão importante quanto entender a importância da natureza no Brasil, principalmente nos dias atuais.

 

Desde o começo da carreira do artista, a investigação com gravura vem abrindo portas para outras técnicas e suportes, sempre atraindo pela materialidade e sua representatividade nas artes visuais. A série de pinturas “Morros” (2021) surgiu com o sentimento de liberdade ao se deparar com visualidade da paisagem natural de Santo Antônio do Pinhal, Serra da Bocaina e da Cantareira, todas em São Paulo, e como ela resgata reminiscências de cores, imagens e sensações. Utilizando tinta offset, a mesma da produção das xilogravuras, Santídio também parte do princípio de “incisão, recorte e encaixe” para criação das composições em pintura sobre papel Hahnemuhle, traduzindo as sensações através das gradações de cores e justaposições. Ultimamente, Santídio vem pesquisando e desenvolvendo trabalhos em Aquarela, tinta Offset, Xilogravura e Monotipia.

 

Para o curador de arte Ricardo Sardenberg, que assina um dos textos do catálogo da exposição, “sendo um artista ainda muito jovem, sua obra rapidamente amadureceu em um curto período de cinco anos, que vai de aproximadamente 2017 a 2022. Este é um período de experimentação quando o artista decanta, apura e condensa sua técnica, os temas e implicações formais. Do ponto de vista do primeiro, o técnico, Santídio revela um pendor para a experimentação, para o trabalho empírico, quando transforma a xilo em três operações que extraem a complexidade pela simplicidade: são incisões, recortes e encaixes. Ao invés de manter-se na técnica clássica da xilo, as criações de imagens na matriz por meio de incisões utilizando uma goiva, o artista acrescenta seu conhecimento de marcenaria para recortar peças que depois serão encaixadas como em um quebra-cabeça. Estas modificações técnicas e processuais não ocorreram de uma vez, mas em pequenos passos experimentais que podem ser apreciados como num fluxo nas próprias gravuras: das incisões para os recortes, e dos recortes para os encaixes”.

 

“Muitas vezes, as ‘xilos’ em preto e branco de Santídio ainda guardam a lembrança do aprendizado e revelam uma aspereza de que ele sabe tirar partido. Em vez de tentar imitar pequenos detalhes de uma folhagem, por exemplo, ele se aproveita das irregularidades da madeira rachada – lembro ao leitor que hoje em dia muitos xilogravadores, por motivos práticos, lançam mão de madeiras compensadas para realizar suas estampas. E, a meu ver, as melhores gravuras envolvem a presença marcante de cores. Ele as utiliza produzindo séries em que, com um mesmo desenho, tira gravuras em que varia as cores (sobrepondo ao negro uma ou mais cores) em trabalhos que contam apenas com a presença de cores (sem a presença do negro) ou em gravuras cujas figuras são delineadas em preto, mas recebem manchas de cor que modificam a percepção que temos delas. Para o crítico que defronta pela primeira vez com um trabalho tão promissor, torna-se quase impossível não projetar sobre trabalhos iniciais uma trajetória longa e grandiosa”, escreveu Rodrigo Naves para a exposição CORES EM PRETO E BRANCO, realizada na Galeria Estação (SP), em 2016. Naves foi a primeira pessoa que Santídio conheceu ao sair do Instituto Acaia e o apresentou ao mercado da arte.

 

A Fundação Iberê tem o patrocínio de Crown Brand-Building Packaging, Grupo Gerdau, Renner Coatings, Grupo Iesa, Grupo Savar, Grupo GPS, DLL Group, Lojas Renner, Sulgás e Unifertil, e apoio de Instituto Ling, Ventos do Sul Energia, Dell Technologies, Digicon/Perto, Golden Lake Multiplan, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria e Isend, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS e da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania / Governo Federal.

 

Abertura: 05 de fevereiro.
Visitação: até 1º de maio.

 

Exposição Grauben e Francisco da Silva

 

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, realiza até 15 de fevereiro a exposição “Grauben e Francisco da Silva”. A curadoria é de Evandro Carneiro. Destaque para as obras “Pássaro e a sua presa” e “Peixes”, de Francisco da Silva, da década de 1960, período considerado como o mais importante da carreira do artista, e as obras “Pássaros e borboletas na floresta” e “Floresta”, de Grauben.

 

A mostra foi aberta ao público SEM VERNISSAGE devido à Pandemia, durante o horário de visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h.

 

O Shopping Gávea Trade Center, quando aberto, está funcionando com obrigatoriedade do uso de máscaras e fornece álcool em gel e medição de temperatura para quem entra. Não há necessidade de agendar a visita, pois o espaço é grande e sem aglomerações.

 

Exposição Grauben e Francisco da Silva

 

Dois artistas considerados naíves, mais ou menos contemporâneos entre si e que cresceram no Ceará, reproduzindo a natureza com pontilhismos e cores tropicais. Um iniciou o seu percurso artístico ainda menino, pintando paredes com carvão, tijolo e mato, assim que chegou em Fortaleza, aos seis anos de idade. A outra, cearense de Iguatu, iniciou a pintura já aposentada do serviço público, aos 70 anos e residindo no Rio de Janeiro.

 

Sobre os artistas

 

Maria Grauben Bomilcar Monte Lima nasceu no ano da Proclamação da República (1889) e faleceu em 1972. Sabe-se pouco a respeito de sua biografia anterior à sua trajetória artística, contudo, tratava-se, sem dúvida, de uma mulher corajosa e pioneira, por ter vindo trabalhar no Sudeste, no início do século XX. Em 1910 já era uma das primeiras funcionárias públicas de sua época, na capital federal de então – parece que da Receita Federal, conforme soubemos por uma fonte oral. Em entrevista encomendada pelo MEC e realizada com a artista por Ricardo Cravo Albin – quando diretor do MIS – e em parte reproduzida no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos vol. 2, diz-se que ela tornou-se pintora por causa do crepúsculo. Moradora de Ipanema, o por do sol lhe encantava pela beleza e pelos tons daquele momento do dia. Ela chorava de emoção e uma sobrinha lhe deu pincéis e tinta por acreditar que aquilo era uma característica tão genuinamente artística que ela deveria tentar se expressar. E pintou, com sucesso, durante doze anos a partir de então. Com cores e tons bastante crepusculares e motivos alegres. Na mesma entrevista, Grauben dizia que não gostava do feio e nem do triste, por isso pintava passarinhos e borboletas nas florestas, com uma base de tela quase sempre azul ou lilás, como o céu de que tanto gostava e o mar de Ipanema, nas suas horas preferidas.

 

Sua singela pintura circulou pelo mundo após ser reconhecida por Ivan Serpa, então professor do MAM-RJ. Foi sua aluna por pouco tempo e seguiu autodidata com suas preferências temáticas e cromáticas. Iniciou suas mostras individuais justamente ali, com o mestre, em 1962 e 1964 (MAM-RJ); em 1965 na Galeria Relevo (RJ) e depois em 1968 e 1969 na Galeria Copacabana Palace (hoje Galeria Ipanema, RJ). Expôs coletivamente em 1962 na Galeria Relevo e no mesmo ano e 1963 no SNAM – Salão Nacional de Arte Moderna, RJ; na Bienal de São Paulo em 1963 e 1965; II Bienal Americana de Arte na Argentina, 1964; Galeria Jacques Massol em Paris (1965). Postumamente participou de coletivas de arte naif no Paço Imperial (1989, ano de seu centenário) e no CCBB (1992, ano da Rio Ecologia), dentre as mais relevantes.

 

Francisco Domingos da Silva (1910 – 1985) tem uma pintura algo mais fantástica do que sua conterrânea. Talvez por ter nascido no Acre e lá ter vivido a sua primeira infância, tempo no qual as memórias são as mais inconscientes. Ainda que também pinte pássaros, os seus são mais fantasiosos. Misturam-se com peixes fabulosos, cobras enormes e até mesmo dragões que expressam o maravilhoso daquela floresta que habitava o seu imaginário de artista. Aos seis anos de idade, foi morar no Ceará e viveu em uma fazenda perto de Fortaleza, onde continuava a conviver com animais e iniciou seus desenhos. Conforme dito acima, com materiais que encontrava na natureza, como tijolos e carvão e sobre paredes e muros (Lélia Coelho Frota, Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro, 2005). Até que em 1943 conheceu Jean Pierre Chabloz que apreciou seus grandes pássaros e peixes amazônicos e o apresentou ao guache, tinta que o artista jamais abandonou, usando-a sobre diversos suportes, sobretudo papel e cartão, ainda que tenha pintado também a óleo sobre madeira. Chabloz o apresentou ao mundo da arte, inicialmente com uma exposição em Fortaleza (1943), depois no Rio de Janeiro (1945); em Genebra (1949); Lausanne (1950) e Neuchâtel (1956). Nos anos 1960, expôs na Galeria Relevo (1963) e na Galerie Jacques Massol em 1965, possivelmente na mesma ocasião em que Grauben expôs lá também! Em 1966 recebeu menção honrosa na Bienal de Veneza, a qual contou com a curadoria de Clarival do Prado Valladares, que na ocasião escreveu: “é o intérprete de uma mitologia diluída na tradição oral de uma região imensa que só ele fixou e refletiu (…)” referindo-se à Amazônia. (Apud. Lélia Coelho Frota, 2005, p. 134). Também o então Ministro da Cultura da França, André Malraux, disse se tratar de “um artista primitivo dentre os maiores do mundo.” (Apud. Walmir Ayala, Dicionário de Pintores Brasileiros, 1997, p.371). Apesar de sua excepcional qualidade, Chico da Silva bebia muito e nos anos 1970 teve alguns surtos psiquiátricos, tendo sido internado recorrentemente. Em 1977 chegou a ter alta de uma clínica para participar da I Bienal Latino Americana, promovida pela Bienal de São Paulo, mas retornava sempre à internação por recaídas da doença (Lélia, 2005). Por causa dessa instabilidade adotou auxiliares que trabalhavam com ele e, em sua confusão mental, passou a assinar obras alheias e/ou coletivas. Assim, deu-se início ao processo de confusão quanto à autenticidade de seu trabalho, quase chegando a comprometer seu nome no mercado de arte. Contudo, por se tratar de um artista excepcional, faz-se necessário um olhar atento, a fim de se continuar promovendo seu talento.

 

Aqui nesta mostra apresentamos dez trabalhos de cada artista, escolhidos com muito critério. Vale a visita!

 

Laura Olivieri Carneiro, janeiro de 2022.

 

Lorenzato na Gomide & Co.

 

Lorenzato

 

 

No dia 09 de fevereiro, a Gomide & Co, Jardim Paulista, São Paulo, SP, convida para a abertura da exposição “Lorenzato: Paisagens” com uma seleção de 35 pinturas do artista mineiro Amadeo Luciano Lorenzato.
Em meio às paisagens que Lorenzato pintou, encontramos variações entre obras de caráter figurativo e narrativo e obras em que as figuras estão ali um tanto difusas, ressaltando o jogo entre as formas e as cores, em um flerte com a abstração. O vocabulário de Lorenzato se constitui de poentes, lagos, montanhas, fachadas, árvores, rios, naturezas-mortas e congêneres; além disso, aparecem também inúmeras fachadas que nos transportam para os bairros periféricos de Belo Horizonte, e estados fronteiriços de Minas Gerais. As pinturas de Lorenzato, que em vida manteve o hábito de “andar para pintar”, nos convidam a revisitar uma variedade de paisagens imaginárias; que figurativas ou abstratas, emergem de uma realidade vivida do artista, mas também despertam uma memória afetiva, quase nostálgica, do espectador.

 

“Eu tenho que ver a paisagem, as cores. Se não vejo, não pinto.” – Amadeo Luciano Lorenzato, em entrevista concedida a Cláudia Gianetti e Thomas Nölle, Belo Horizonte, jul. 1988.
Sobre o artista

 

Amadeo Luciano Lorenzato. Nascido em 1900 em Belo Horizonte (+1995), filho de imigrantes italianos, passou a infância na capital recém inaugurada. Aos 20 anos de idade, mudou-se com a família para a Arsiero, Itália, onde participou da reconstrução da cidade que fora devastada durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1925, durante o breve período em que estudou na Reale Accademia delle Arti em Vicenza, foi introduzido à prática de pintura de cavalete. Entre 1926 e 1930, passou por Roma, onde conheceu o pintor holandês Cornelius Keesman, que tornou-se um grande parceiro de observação e o acompanhou em um circuito de bicicleta, passando pelo leste europeu em direção à Ásia, projeto interrompido devido à recusa do passaporte italiano de Lorenzato. Na década de 1940, passou por Bruxelas e trabalhou em Paris até seu regresso ao Brasil, em 1948. Na cidade de Petrópolis, retomou seu ofício na construção civil, mais especificamente como pintor decorativo de paredes. Em 1949 trouxe a esposa, Emma, e Lorenzo, seu único filho, ao Brasil. Em 1956, em decorrência de um acidente de trabalho, Lorenzato aposentou-se precocemente aos 56 anos. No entanto, o acidente que lhe causou uma aposentadoria prematura não o impediu de dar continuidade às excursões que estimularam seu trabalho no ateliê.
De 09 de fevereiro a 19 de março.
Segunda a sexta,10 às 19 horas
Sábados, 10 às 15 horas

Uso de máscara é obrigatório para visitas. Entrada gratuita.

 

 

 

Lidia Lisbôa na Galeria Millan

 

 

A Galeria Millan, São Paulo, SP, apresenta até o dia 19 de fevereiro, “Acordelados”, primeira individual de Lidia Lisbôa, Guaíra, PR, 1970, na galeria, abrindo o programa institucional de 2022. A artista ganha mostra antológica, com curadoria assinada por Thiago de Paula Souza. A exposição repassa a trajetória da artista desde o final dos anos 1990 até suas investigações mais recentes.

 

A primeira sala da mostra na Galeria Millan contará com as obras da série intitulada “Tetas que deram de mamar ao mundo”, cuja produção foi iniciada em 2011. Tratam-se de esculturas têxteis de grandes dimensões que são alçadas ao teto e caem próximas ao chão, numa forma que remete aos seios femininos. A exposição contará também com trabalhos inéditos, como as esculturas moldadas ora em cerâmica, ora em porcelana, junto a pedaços de vidro fundido que tomam a forma de elementos naturais em “Costelas de Adão” ou antropomórficos, na série intitulada “Alienígenas”. A exposição apresenta ainda desenhos da artista cujas formas reportam aos seus trabalhos escultóricos, em especial, à série “Cupinzeiros”. Nesta série, também presente na exposição, as esculturas em cerâmica estabelecem relações formais e materiais com os cupinzeiros que ocupam a paisagem do campo brasileiro e que remetem às memórias da infância de Lidia Lsbôa.

 

A artista trabalha com diversos materiais e técnicas, como desenho, arte têxtil, crochê, performance e esculturas em cerâmica, argila, porcelana e botões. Segundo afirma, “meu trabalho busca evocar a força e o poder do feminino, a potência da mulher como força motriz da significação de sua própria existência no mundo.” Suas obras se relacionam com a memória e as experiências que a artista vivenciou em sua infância no campo. Assim como abordam as formas do corpo feminino, o processo da maternidade e as relações que os modos de vida estabelecem com a territorialidade. Ao reportar-se à sua produção, ela afirma que “(…) em meus trabalhos quero tecer e moldar para desestruturar, para desfazer o que deve ser desfeito e dar vistas a modos de vida e expressões que muitos anos de ocultação quiseram lançar ao esquecimento”.

 

Sobre a artista

 

Após ter se mudado para São Paulo, em 1986, Lidia Lisbôa trabalhou em ateliê de alta costura e, em 1991, iniciou sua produção artística. Obteve formação de Gravura em Metal pelo Museu Lasar Segall, escultura contemporânea e cerâmica no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) e no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1997, participou da exposição coletiva “Tridimensional”, no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) e, neste mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual no Instituto Goethe, em São Paulo. Em 1998, a artista recebeu o Prêmio Maimeri – 75 anos, concedido pelo Liceu de Artes e Ofícios. Em 2020, Lisbôa expôs no Centro Cultural São Paulo e na 12ª Bienal do Mercosul, em 2021, integrou as exposições coletivas “Enciclopédia Negra”, na Pinacoteca de São Paulo; “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para brasileiros”, no Instituto Moreira Salles; e a mostra “A Substância da Terra: O Sertão”, com curadoria de Simon Watson, que ocorreu primeiro no Museu Nacional da República com itinerância na Slag Galery em Nova York.

 

São Paulo, Arqueologia Amorosa

 

 

O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, inaugura no próximo dia 25 de janeiro a mostra “Arqueologia Amorosa de São Paulo”. Com curadoria do diretor-geral do Museu, Emanoel Araújo, a exposição fala dos muitos aspectos artísticos, sociais, culturais e perspectivas diversas dessa grande metrópole, por meio de fotos, manuscritos, objetos, fotografias e design, de renomados artistas, como Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Flavio de Carvalho, Geraldo de Barros, Zanini Caldas, dentre outros.

 

A exposição vasculha a memória da capital paulista, trazendo à luz personagens da vida artística, obras públicas dos grandes arquitetos, desde Ramos de Azevedo, a memória de carnavais antigos da Avenida Paulista e dos blocos de Ranchos da periferia.

 

A grande modista da cidade, Maria Adelaide da Silva, e sua correspondência com a moda feminina dos anos vinte, também está retratada por meio de documentos vindos diretamente de Paris, propostas de croquis e seu retrato pintado pelo grande artista da época, Jacques Leclerc, em 1926.

 

Também integram a mostra objetos da Revolução Constitucionalista de 1932, assim como grandes lembranças do Quarto Centenário e da construção do Parque Ibirapuera, a exemplo da realização da Segunda Bienal Internacional, onde esteve a Guernica, do grande artista Pablo Picasso. Uma instalação mostra fragmentos de uma casa burguesa, numa referência às grandes residências da Avenida Paulista, advindas das riquezas do café. Um dos destaques é uma grande vista da Várzea do Carmo, manipulação tecnológica do artista Floro Freire, que apresenta uma nova visão da paisagem do século XIX de Militão Augusto de Azevedo.

 

Na mesma data, o museu inicia as homenagens ao “Extraordinário Mário de Andrade”, integrando a celebração dos Cem Anos da Semana de Arte Moderna, com a abertura da exposição “Padre Jesuíno do Monte Carmelo aos Olhos de Mario de Andrade”. A mostra traz ao Museu Afro Brasil grandes pinturas provenientes das igrejas das cidades de Itu e São Paulo, onde o padre artista exerceu, com primazia, seu ofício de pintor, músico e compositor. A pesquisa sobre as pinturas das igrejas e conventos da cidade de Itu foi uma das últimas pesquisas de Mário de Andrade, cujo olhar se voltou para esses artistas dos séculos XVIII e XIX.

 

Esta será a maior retrospectiva feita sobre as obras do padre Jesuíno do Monte Carmelo. A exposição conta com 27 obras de grandes dimensões de Jesuíno, muitas delas mostradas pela primeira vez, e tem curadoria de Dra. Maria Silvia Barsalini e Dr. Emerson Ribeiro, e colaboração da equipe do Museu Afro Brasil.

 

Sobre o Museu Afro Brasil

 

O Museu Afro Brasil, localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do Parque Ibirapuera, conserva, em 12 mil m², mais de 8 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje. O acervo abarca diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a escravidão, entre outros temas ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira. Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular do seu atual Diretor Curatorial, Emanoel Araujo, o Museu construiu, ao longo de mais de 16 anos de história, uma trajetória de contribuições decisivas para a valorização do universo cultural brasileiro ao revelar a inventividade e ousadia de artistas brasileiros e internacionais, desde o século XVIII até a contemporaneidade. O Museu exibe parte do seu Acervo na exposição de longa duração, realiza Exposições Temporárias e dispõe de um Auditório e de uma Biblioteca especializada que complementam sua Programação cultural ao longo do ano.

 

De 25 de janeiro a 30 de junho.

 

 

 

Galeria Provisória

12/jan

 

 

Idealizada pela arquiteta Aline Araújo em parceria com o artista plástico Anderson Thives, a Galeria Provisória inaugura, temporariamente – como o próprio nome indica -, em Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Sua efemeridade estabelece uma analogia com os tempos atuais de pandemia. Esta primeira ocupação fará uma retrospectiva de Anderson Thives: cerca de 40 peças abordando mostras realizadas, assim como projetos recentes de novas exposições e instalações. Este trabalho pretende reunir outros artistas que dialoguem com a proposta do espaço.

 

Sobre o artista

 

Anderson Thives trabalha exclusivamente com colagem, sua técnica consiste em juntar milhares de quadrados de papel (em torno de cinco mil recortes por metro quadrado) nas mais variadas cores, tons e tamanhos, retirados de revistas e catálogos para formar as imagens.
Com uma grande influência da Pop Art, o artista cria com seu estilo e gosto pela cultura das imagens, sensibilidade, expressão e impacto formado por uma técnica pouco convencional. Sempre coloridas, alegres e vibrantes, suas obras podem ser vistas em diversos museus e galerias mundo afora. Thives também é representado pela Abraham Art, situada na Holanda, uma das maiores distribuidoras de galerias. Em Paris, depois de trabalhar com duas galerias da cidade luz e fazer a maior art fair na Bastille, em 2015 o artista fixou uma nova galeria que leva seu nome, em Rueil-Malmaison, situada ao lado do Jóquei Clube de Paris. Nos Estados Unidos, fez exibições em San Francisco e Nova York e desde 2016 faz parte do coletivo GAB Gallery, em Wynwood District. Anderson Thives já retratou incontáveis figuras conhecidas do mundo artístico e empresarial.

 

Galeria Provisória

Rua Visconde de Pirajá, 284, Ipanema.

Abertura: dia 13 de janeiro de 2022 às 17 horas.

Sunset ao som do músico Philip Kelley.

De segunda a sábado, das 12h às 19h.

 

A abstração de Samson Flexor

10/jan

 

 

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, exibe até 26 de junho a exposição “Samson Flexor: além do moderno”. Conhecido como um dos pioneiros da abstração no Brasil, Flexor participou ativamente deste importante movimento de renovação das artes visuais no país na década de 1950. Sua contribuição para a abstração geométrica, tanto em sua atuação como artista quanto como mestre de uma nova geração em seu Ateliê Abstração nos anos 1950, é amplamente reconhecida pela crítica. No entanto, seus desenvolvimentos posteriores, caracterizados pela abstração lírica ou informal e pelo retorno à figuração nos seus últimos cinco anos de vida, permanecem pouco conhecidos pelo público.

 

Segundo a curadora Kiki Mazzucchelli, “… é a primeira exposição que tem como foco o desenvolvimento da obra de Flexor a partir de 1957, quando passa a rejeitar as formas estáticas em pinturas onde gradualmente predominam o gesto, a opacidade e a transparência.” A exposição tem como objetivo trazer à luz a obra tardia de Samson Flexor, que marca sua transição do moderno para o contemporâneo ao confrontar questões éticas e estéticas de seu tempo”.

 

Composta por quase uma centena de obras, foram incluídas pinturas conhecidas na trajetória do artista como “Abstração Barroca n.2″ (1949), que combina a geometrização da figura e a temática brasileira; “Aos pés da cruz” (1948), pintura originalmente exposta no MAM São Paulo, em 1950, e que se aproxima de uma abstração total; e “Vai e vem diagonal em três quadrados” (1954), pintura da fase da abstração pura na qual explora as diagonais cruzadas e cria um movimento acentuado pelos contrastes cromáticos.

 

Sobre o artista

 

Samson Flexor desembarcou no Brasil no final da década de 1940 quando deixou a França após a Segunda Guerra Mundial. O pintor realizou sua primeira exposição em São Paulo em 1946 e retornou permanentemente em 1948. Também participou da exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1949, contexto em que é convidado e incentivado pelo crítico e diretor belga Leon Dégand a explorar os caminhos da abstração geométrica pura. Em 1951, ano da instauração da Bienal de São Paulo, fundou o Ateliê Abstração, onde lecionou, por mais de uma década, uma nova geração de artistas – entre eles, Jacques Douchez e Norberto Nicola. Ao longo de sua carreira, realizou diversas exposições individuais nos Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como em inúmeras galerias brasileiras e estrangeiras. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo, e realizou uma grande retrospectiva de sua obra no Musée Rath, em Genebra (1965), cuja versão expandida foi apresentada no MAM-RJ (1968). Flexor faleceu em 1971, aos 64 anos, vítima de um edema pulmonar.

 

Impressões de Lotus Lobo

 

Lotus Lobo 1

 

 

Sob a curadoria de Marcelo Drummond, a mostra “Fabricação Própria”  no Galpão Sesc Pompeia, até 30 de janeiro, traz a abrangente e diversa produção artística empreendida por Lotus Lobo. Com obras históricas e inéditas, produzidas em diferentes suportes, materiais e novas formas de edição e impressão, a exposição compreende os 60 anos de produção da artista, que engloba seu acervo, bem como as formas de pensar a política das imagens no mundo contemporâneo.

A presente proposta busca apresentar, em estreito diálogo com o ambiente da antiga Fábrica da Pompeia (Sesc Pompeia) e com o legado deixado pela arquiteta Lina Bo Bardi, o resgate e a preservação do importante acervo de matrizes litográficas, em pedra e zinco, provenientes da Estamparia Juiz de Fora, Minas Gerais, originárias das décadas de 1930-1960, com que Lotus articula sua vasta produção artística. O recorte curatorial de “Fabricação Própria” destaca a experiência de Lotus em relação ao seu acervo e tem como objetivo dar visibilidade e acesso à produção da artista, demonstrando sua relação com a arte e seu histórico de atuação desde a década de 1960 até suas produções atuais.

A exposição reúne, pela primeira vez, a quase totalidade do conjunto de “Maculaturas”, chapas de acertos de impressão da Estamparia Juiz de Fora (MG), por Lotus apropriadas como obras a partir de 1970, dessa vez montadas na forma de um grande plano suspenso no espaço expositivo. Trabalhos importantes da artista são revisitados, como o caso de “Água Limpa”, obra inédita que retoma os lito-objetos premiados em 1969 na X Bienal de São Paulo. Outra remissão importante se trata da também inédita “Albor”, em que rememora obra marcante do ano de 1970: uma bobina de papel presa na parede de onde os espectadores podiam destacar e levar para casa fragmentos litografados.

Destacam-se também a participação de Lotus Lobo no histórico evento “Do Corpo à Terra” (1970), idealizado pelo crítico Frederico de Morais, e o trabalho “Territórios” (1969), ambos realizados em Belo Horizonte (MG), publicados no Guia de Mediação da mostra, onde se encontra também um encarte-obra inédito, intitulado “Notas Marginais” (2021). Segundo o curador da exposição e artista visual, Marcelo Drummond, “… aqui se deixa à mostra a verdade material e construtiva do galpão que abrigou a antiga Indústria Brasileira de Embalagens (Ibesa), fabricante de tambores metálicos que hoje dá lugar ao Sesc Pompeia e acolhe com familiaridade a fábrica movente de Lotus Lobo”.

 

Sobre a artista
Lotus Lobo nasceu em Belo Horizonte em 1943. Vive e trabalha na capital mineira, onde graduou-se na Escola Guingnard, da UEMG, em Artes Plásticas. Na França, estudou na École Superieure des Art et Industries Graphiques Estienne e na École D’Arts Plastiques et Sciences D’Art de L’Université de Paris. Foi professora de litografia na UEMG e na UFMG em intervalos entre 1966 a 1993. Estas tantas experiências artísticas, inauguradas nos anos 1960, foram seminais na construção discursiva de Lotus Lobo e ainda reverberam na sua produção contemporânea. Na carreira da artista, convém destacar a sua participação na “X Bienal de São Paulo” (1969), quando recebeu o Prêmio Itamaraty ao exibir três objetos-gravuras (lito-objetos) manipuláveis pelo público. Nota-se, ainda, sua participação na emblemática manifestação “Do corpo a terra” (1970), organizada pelo crítico de arte Frederico Morais e realizada no Parque Municipal de Belo Horizonte, onde Lotus propôs a intervenção “Plantação”. Vale mencionar sua participação em mostras individuais e coletivas, nacionais e internacionais, entre elas: Gráfico Grafia, Museu de Arte da Pampulha/Museu Abílio Barreto, Belo Horizonte, 2021; Território Gravado, Galeria Superfície, São Paulo, 2019; Litografia Lotus Lobo, Galeria de arte do Minas Tênis Clube, BH, MG, 2018; Estamparia Litográfica, Lotus Lobo, Caixa Cultural, Brasília, DF 2018; Lobo, Galeria Mendes Wood, São Paulo, SP, 2017; Constelação, Galeria Manoel Macedo Arte, Belo Horizonte, MG, 2016; SP ARTE, Feira Internacional de arte de São Paulo, Pavilhão da Bienal SP, SP, 2017/2016; Marca Registrada, Centro Cultural Usiminas, Ipatinga, MG, 2007 e Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, 2006; Brazilian Contemporary Prints, Conferência e Mostra de Gravura Brasileira, Gallery of The Saint John’s College, Santa Fé, New Mexico, EUA, 1986; Brazilian Contemporary Prints, Gallery Tate Student Center, University of Geórgia, EUA 1987; Ninth British International Print Bienale, Bradford 1986; V Bienal del Grabado Latino Americano, Porto Rico, 1981; Arte Agora MAM, Rio de Janeiro, 1976; Bienal de Tóquio, 1972; Pré-Bienal de Paris MAM, Rio de Janeiro, 1969.

Antonio Parreiras no MAC-Niterói

 

 

Abrindo as comemorações dos 80 anos do Museu Antonio Parreiras (MAP), o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, RJ, em parceria com a Fundação de Arte do Estado do Rio de Janeiro – FUNARJ, apresenta de até 23 de janeiro a exposição “Antonio Parreiras: paisagens e marinhas”.
Com curadoria de Vanda Klabin, a mostra reúne 37 telas realizadas pelo pintor, entre 1887 e 1937, e evidencia o pioneirismo do Museu Antonio Parreiras, como primeiro museu de arte do estado do Rio de Janeiro e o primeiro no Brasil, dedicado à memória de um artista.

Reconhecido como um dos principais paisagistas brasileiros, Antonio Diogo da Silva Parreiras nasceu em Niterói, em 1860. Em 1884, quando aluno do artista alemão Georg Grimm, abandonou a Academia Nacional de Belas Artes, acompanhando o mestre e outros colegas para formar o Grupo Grimm, no bairro de Boa Viagem.

 

Realizou diversas viagens de aperfeiçoamento à Europa, pintou paisagens, nus, retratos e quadros de temas históricos, sendo escolhido como o maior pintor brasileiro em votação realizada pela revista Fon-Fon, em 1925. No ano seguinte, amplamente consagrado como artista, publicou o livro autobiográfico “História de um pintor contada por ele mesmo”.

Sobre a obra de Parreiras, Vanda Klabin destaca a forte relação do artista com a paisagem: “Sua sensibilidade pictórica e o constante fascínio que a natureza observada de perto exerceram no seu vocabulário visual traduzem a sua contribuição inovadora para o universo da arte brasileira”.

A intepretação singular da natureza pelo pintor poderá ser conferida, no salão principal do MAC, em telas como “A tarde”, vendida em 1887 para a Academia Imperial de Bellas Artes, para financiar a primeira viagem de estudo do artista à Europa, e “O fogo”, integrante da última exposição de Antonio Parreiras, em 1936, e que denuncia as queimadas nas florestas brasileiras.

Antonio Parreiras faleceu a 17 de outubro de 1937, deixando viúva a Dona Laurence Palmyre Martigué Parreiras, sua segunda esposa. Por sugestão dela, o governo do Estado do Rio fundou o Museu na casa onde o artista morou por 43 anos, na rua Tiradentes, 47, bairro do Ingá. A inauguração, com caráter solene, foi realizada a 21 de Janeiro de 1942. Como primeiro diretor, foi designado o arquiteto e pintor italiano, naturalizado brasileiro, Pedro Campofiorito.

A mostra “Antonio Parreiras: paisagens e marinhas”, que é patrocinada pela SPE Praia de Boa Viagem, conta também com duas obras do artista alemão George Grimm, mestre de Parreiras, e um retrato do homenageado, por Numa-Camille Ayrinhac.

Lygia Clark 100 anos, Pinakotheke SP

 

 

A Pinakotheke Cultural São Paulo apresenta até o dia 15 de janeiro a histórica exposição “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos”, com cerca de 100 trabalhos em sua quase totalidade inéditos para o público brasileiro, selecionados pelo curador Max Perlingeiro, entre pinturas, desenhos, gravuras, bichos, trepantes, obra mole, casulo, objetos relacionais, fotografias e documentos. Considerada pela crítica nacional e internacional como uma das mais relevantes artistas do século 20, Lygia Clark já ganhou exposições em museus prestigiosos como o MoMA de Nova York, e o Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha, entre muitas outras instituições.

 

Nesta exposição da Pinakotheke Cultural São Paulo, o público pode ver o desenvolvimento do pensamento da artista ao longo de sua trajetória. A exposição foi feita com colaboração da Associação Cultural Lygia Clark. Dentre as obras nunca exibidas ao público, estão a coleção de “Bichos” pertencente ao crítico inglês Guy Brett, grande amigo de Lygia Clark desde a individual da artista na Signals Gallery, em Londres, em 1965; as obras formais de 1943 a 1952, como a série “Escadas” (1947); os “Objetivos Relacionais” (1968-1973), considerado por muitos seu experimento mais radical; além várias obras das séries “Superfície Modulada” e “Espaço Modulado”.

 

Acompanha a exposição o livro bilíngue (port/ingl) homônimo “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos”, 316 páginas, com textos críticos inéditos, imagens e informações sobre as obras, uma seleção da correspondência pessoal entre Lygia e amigos artistas e intelectuais, e uma cronologia resumida atualizada.

 

A exposição traz ainda uma animação do ensaio fotográfico feito por Alécio de Andrade da performance “Arquiteturas biológicas II”, que Lygia Clark criou em 1969 no Hôtel d’Aumont, em Paris. A animação foi feita por Fabrício Marques, e o realejo é de Gabriel Pinheiro.

 

Em dias alternados, o público pode ver os filmes “Memória do corpo” (1984), de Mário Carneiro, 30’, com produção de Solange Padilha e videografia de Waltercio Caldas, que registrou a última proposta desenhada pela artista, a “Estruturação do Self”; e “O mundo de Lygia Clark” (1973), de Eduardo Clark, com direção de fotografia de David Drew Zingg e Antonio Guerreiro, e música de Naná Vasconcelos.

 

Uma sala especial foi montada para exibir a videoinstalação “DSÍ – embodyment” (2021), 8’, três câmeras com três distintos monitores, com registro da performance de Carolyna Aguiar, e direção de Leticia Monte e Ana Vitória. Na videoinstalação, o espectador é convidado a “experienciar estados inaugurais do corpo fragmentário em sua perspectiva pulsante de vida e morte”, explicam Ana Vitória e Leticia Monte. “Aqui o corpo debate-se em constante luta de vir a ser o que se é, desventrando-se e recolhendo-se continuamente em uma incessante dança-luta imemorial, lugar dos vazios-plenos, que Lygia Clark insiste que revisitemos”.
“Lygia Clark (1920-1988) 100 anos” ficará em cartaz na Pinakotheke Cultural São Paulo até o 15 de janeiro de 2022, com entrada gratuita e protocolo anti-Covid.