Série “Brujas” no Galpão

07/jul

 

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta no Galpão, São Paulo, SP, “Brujas”, a nova exposição individual de Nuno Ramos. “Brujas” toma um único gesto repetido infinitas vezes como elemento central em trabalhos que mesclam conceitualmente desenho e monotipia. São 25 obras feitas com carvão, pigmento, grafite e tinta óleo sobre papel, que ocupam sequencialmente o espaço, como em uma galeria de retratos.

 

 Composições cromáticas, luminosidade e uma cadência na intensidade do gesto definem a identidade individual de cada trabalho e também sua filiação em subgrupos. As passagens gradativas fazem da instalação das 25 obras um conjunto cuidadosamente orquestrado. A prática da monotipia está no cerne da fatura, mas Ramos desenha no avesso do papel. A superfície é atravessada pela ponta que desenha e a matéria que se acumula. O pó interage e negocia seu espaço com os poros do papel determinando o resultado final, sem o total controle do artista. “A superfície do País está totalmente tomada pela discursividade fátua, maluca, louca, mentirosa, violenta, e parece que temos que atravessar essa camada e encontrar uma porosidade que permita pegar uma coisa mais verdadeira, mais amorosa, mais interessante”, diz o próprio.

 

 

 Bruxas – aqui em espanhol “Brujas” – faz referência ao pintor espanhol Francisco de Goya, que usou imagens de bruxas como uma crítica social contemporânea.  Em pinturas e gravuras, do final do século XVIII, os seus trabalhos ligados ao tema viam a bruxaria – a partir da Inquisição – como uma lembrança perene dos perigos e males da religiosidade extrema. Nas palavras de Nuno Ramos: “é uma evocação e um chamado de uma potência que não é dispensável agora. É como se a gente precisasse de forças para reagir e lutar de volta contra o que está acontecendo”. As obras que integram a mostra lidam com incertezas e uma necessidade incontestável de mudança.

 

 

 A exposição é acompanhada de um texto crítico do pesquisador, professor e curador Diego Matos.

 

 

Sobre o artista

 

Nuno Ramos nasceu em São Paulo em 1960, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais recentes incluem: A extinção é para sempre, Sesc São Paulo (São Paulo, 2021); Sol a pino, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2019); O Direito à Preguiça, CCBB (Belo Horizonte, 2016); O Globo da Morte de Tudo, em parceria com Eduardo Climachauska, SESC Pompéia (São Paulo, 2016); HOUYHNHNMS, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2015); Ensaio Sobre a Dádiva, Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2014); Anjo e Boneco, Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, 2013); Fruto Estranho, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2010). Destacam-se ainda suas participações na Bienal de São Paulo (2010, 1994, 1989 e 1985) e na Bienal de Veneza (1995). Em 2019, a editora Todavia publicou “Verifique se o mesmo”, uma nova compilação que agrupa textos escritos entre 2008 e 2017, alguns já publicados em jornais e revistas, outros inéditos. Seu livro, “Junco”, lançado em 2011 pela editora Iluminuras, ganhou o Prêmio Portugal Telecom de Literatura na categoria Poesia. Em 2008, ganhou o Prêmio Portugal Telecom de melhor livro do ano com “Ó”, também publicado pela Iluminuras.

 

A arte urbana de Daniel Melim

05/jul

 

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, anuncia para o dia 07 de agosto, a exibição de “Reconstrução”, mostra do artista Daniel Melim. Com curadoria de Miguel Chaia e co-curadoria de Baixo Ribeiro e Laura Rago, a mostra apresentará doze trabalhos de sua mais recente produção, aliando obras de grandes formatos com outras menores, que tem como foco principal a pintura, oriunda da arte urbana, com o frescor de novas técnicas para uma linguagem artística tão consagrada.

 

 

“As obras buscam reorganizar o espaço pictórico através das diversas “fatias” colocadas lado a lado, compondo um campo dos mais variados contrastes, tendo como técnica principal o stencil (molde vazado), muito utilizado na arte urbana e tendo como principal expoente o artista Alex Vallauri”, diz o artista.

 

 

Daniel Melim é considerado um dos nomes mais importantes no cenário da street art. Um dos seus trabalhos, a grande pintura da moça loira que ocupa a lateral de um prédio perto da Pinacoteca de São Paulo, na avenida Prestes Maia, foi eleito, em 2013, como o mural representativo da cidade.

 

 

Dos quadrinhos para o mundo

 

 

Nascido e criado em São Bernardo do Campo, filho de pai metalúrgico da Volkswagen e de mãe professora primária, desde muito cedo, Daniel Melim teve acesso aos livros, e foram as ilustrações que sempre lhe chamaram a atenção. Aos 13 anos, começou a frequentar a primeira pista de skate da cidade, que tinha visual estético marcado pelo pixo e pelo grafite. Foi ali que conheceu o estêncil, técnica da arte de rua que predominava naquele espaço. As intervenções eram feitas por nomes que ficaram muito conhecidos na cena urbana do ABC, como Jorge Tavares, Job Leocadio, Marcio Fidelis e Vado do Cachimbo.

 

 

Fascinado por aqueles desenhos que valorizavam a repetição e a ilustração, ele começou a tentar reproduzir por conta própria. Resgatou traços da linguagem de quadrinhos para ilustrar sua primeira personagem, uma figura de uma mulher chorando. Na sequência, fez um homem gritando.

 

 

No ano 2000, conheceu Rodrigo Souto, também chamado de Maionese, e, ao lado dos grafiteiros Ignore, Sapo e Tomate, criou a Crew Ducontra. “A gente tinha de ser  “du contra”: se o lance era fazer letra, íamos e fazíamos algo diferente”, lembra. Ali surgia a técnica da tinta escorrida, um olhar mais aprofundado para as texturas, que ele leva até hoje para seu trabalho.

 

 

Foi aí que Daniel Melim resolveu se apropriar da técnica do estêncil tornando-a sistematicamente a linguagem principal do seu trabalho e gerando, assim, o DNA de sua obra. Além da arte de rua, sua pintura já foi apresentada em galerias e museus no Brasil, Alemanha, França, Suíça, Espanha, Inglaterra e Austrália.

 

Emanoel Araújo em Curitiba

01/jul

 

 

 “Construção Simbólica” é a primeira grande mostra de Emanoel Araújo na Simões de Assis em Curitiba, PR. A exposição tem início ainda do lado de fora, na fachada da galeria – é impossível não arrebatar-se com a escultura sem título que abre a mostra como uma espécie de ponte entre a rua e o espaço expositivo, revelando a dimensão pública e monumental da obra do artista. Essa monumentalidade, aliás, se reitera de imediato na primeira sala: ao adentrá-la, deparamo-nos com trabalhos que residem numa escala mais imponente – ainda que, de maneira muito singular e paradoxal, também relacionem-se com nossa escala de corpo, afirma Julia Lima.

 

 

Até 28 de agosto.

 

Individual de Victor Arruda

 

 

A exposição “TEMPORAL” exibição individual de pinturas e desenhos de Victor Arruda é o próximo cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é assinada por Adolfo Montejo Navas, autor de livro já editado sobre o artista.

 

 

De 08 de julho a 26 de setembro. 2021.

 

Catálogo de obras do MACRS

30/jun

 

 

Ficou pronto e já foi lançado o Catálogo Geral de Obras do Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). O projeto Arte Contemporânea RS, responsável por esta ação fundamental no campo das artes visuais, direcionou seu olhar para a catalogação do acervo do MACRS, resultando em uma publicação em formato impresso e digital. O cuidadoso trabalho desenvolvido pela equipe de pesquisa, coordenado pela gestora e produtora cultural Vera Pellin, e orientado pela pesquisadora e curadora do projeto Maria Amélia Bulhões, catalogou 1813 obras de 921 artistas.

Em edição trilíngue (português, espanhol e inglês), o catálogo também é apresentado em versão online gratuita para download no site www.acervomacrs.com.  A versão impressa é composta de 304 páginas e tem tiragem de 1.200 exemplares, a distribuição será administrada pela Associação de Amigos do MACRS (AAMACRS).

 

 

O processo de trabalho, realizado pelo conjunto de profissionais e colaboradores, incluiu as etapas de pesquisa, documentação, digitalização, edição e impressão, demandando intensa dedicação, atenção e aprendizado. Entre os possíveis desdobramentos do projeto está a difusão e divulgação em diferentes mídias deste acervo de arte contemporânea que vem se constituindo ao longo de quase três décadas. Diferentes visões de mundo e expressões a respeito do nosso tempo disponíveis a partir de agora em condição permanente. A partir do olhar desta geração de artistas se manifesta a história da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, sendo o MACRS o principal Museu do estado focado nas atividades de preservação e conservação desta memória para as gerações futuras.

 

 

“A edição do Catálogo do Acervo do MACRS, com 1813 obras de 921 artistas, tem caráter inédito e viabilizará à comunidade artística a promoção, difusão, preservação e acesso à informação deste valioso patrimônio cultural, além de fonte de pesquisa ao público especializado e interessado. Sua edição impressa e digital possibilitará a emersão de novos processos de leitura e significação da arte ao conhecer, de forma ampliada, todas as obras que compõem este valioso acervo, suas linguagens, diversidade de técnicas e práticas artísticas”, afirma Vera Pellin.

 

 

Para o diretor do MACRS, André Venzon, a publicação é um forte indício da consistência desse caminho do Museu, de resgate da biografia desses artistas, doadores, gestores, servidores, estagiários e colaboradores que apontaram essa história, do seu início até hoje, para as novas gerações. “Trata-se de uma publicação indispensável para todos que desejam conhecer mais sobre arte contemporânea, com toda a força e pluralidade que a sua produção representa.”

 

 

“Compartilho de uma emoção coletiva ao finalizar o projeto Arte Contemporânea RS, destinado à catalogação do acervo do MACRS, que foi um grande desafio para todos os colaboradores e uma realização pessoal e institucional”, afirma a curadora Maria Amélia Bulhões. Para a professora e pesquisadora da UFRGS, “agora é possível olhar a totalidade do trabalho desenvolvido e perceber a amplitude e diversidade desse acervo, ondem se destacam obras em fotografia (469) e gravura (422), seguidas de pintura (236), desenho (167) e escultura (126), além de categorias mais recentes como vídeo (82) e livros de artistas (30), entre outras”.

 

 

A leitura da publicação, assim como da exposição, propõe um exercício experimental de compreensão, que amplia significados sem criar categorias ou estereótipos, destacando obras que marcam significativamente mudanças de perspectiva na produção artística da contemporaneidade, por suas estratégias, seus recursos materiais, formais ou de conteúdo. “Certas obras investigam os universos não hegemônicos, como o feminino, o negro, o indígena ou o marginal, procurando instaurar no sistema da arte a crítica e os debates de gênero, etnias e relações sociais conflitantes. O corpo é forte presença, colocando em pauta aspectos reprimidos da sexualidade. A relação com todas essas problemáticas tem espaço no conjunto da coleção”, complementa a curadora.

 

 

O projeto ainda contempla uma significativa exposição do acervo no MACRS, que pode ser conferida até 22 de agosto, com curadoria de Maria Amélia Bulhões, nas galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, além do espaço Vasco Prado, no 6º andar da Casa de Cultura Mário Quintana. De forma presencial e também virtual, o público pode conferir mais de setenta obras em diferentes suportes, marcando a multiplicidade e representatividade desse acervo.

 

Mostra individual de Arthur Scovino

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, em parceria com o projeto de extensão Arte & Curadoria, vinculado ao Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apresenta “Lágrimas de Nossa Senhora”, sétima exposição individual de Arthur Scovino, artista licenciado em Desenho e Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) que investiga símbolos atravessadores do afeto subjetivo e da memória cultural, a partir da presença pulsante do seu corpo.

 

 

Presente em coleções do Museu de Arte Moderna da Bahia, com participação marcada na 3ª Bienal da Bahia e na 31ª Bienal de São Paulo, o artista já indicado três vezes ao Prêmio Pipa agora apresenta parte da sua produção no Paço Imperial, lugar onde iniciou seu contato com as exposições cariocas e conheceu A Imagem do Som, uma série de exibições que propunham interpretações de canções brasileiras por artistas contemporâneos. Esse encontro instigou a relação do artista com a música popular brasileira e as capas de discos, desdobrando-se inclusive na realização da mostra individual, inspirada na música “Um Índio”, de Caetano Veloso. A partir dessa canção, Arthur Scovino, na busca do “ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico”, propõe uma relação com pontos do Brasil e suas paisagens, como a capital do Estado do Mato Grosso.

 

 

Com curadoria de Marcelo Campos e assistência dos colaboradores do Arte & Curadoria, projeto universitário de sua coordenação, a individual apresenta alguns trabalhos inéditos e a instalação “Lágrimas de Nossa Senhora”, uma referência às sementes presentes nas contas de rosário, utilizadas em cultos católicos e afro-brasileiros, que são fiadas pelo artista junto a meditações durante suas ativações performáticas. A exposição homônima propõe um encontro entre o simbólico e o terreno, apresentando articulações de ícones religiosos da cultura brasileira, e suas potências visuais múltiplas, estabelecendo um pensamento mágico que, como um sismógrafo de epifanias, busca captar em cada gesto e, em cada movimento, os sinais que a terra pode nos apresentar.

 

 

Em exibição de 08 de julho a 26 de setembro.

 

 

Esperança

29/jun

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe até 22 de agosto, “Esperança”, mostra coletiva sob curadoria de Simon Watson, composta por trabalhos dos artistas contemporâneos Ana Júlia Vilela, Andrey Rossi, Desali, Enivo, João Trevisan, Leandro Júnior, Lidia Lisbôa, Mag Magrela, Moisés Patrício, Paulo Nazareth, Thiago Rocha Pitta, Yasmin Guimarães, onde cada obra é acompanhada de um texto crítico assinado por curadores convidados Thierry Freitas, Márcio Harum, Fernando Mota, Carlo McCormick, André Vechi, Jackson Gleize, Mirella Maria, Gabriela Longman, Guilherme Teixeira, Janaina Barros,  Ulisses Carrilho e Carollina Lauriano.

 

O segundo evento do Projeto LUZ Contemporânea, Esperança, traz a sensação de acolhimento, do olhar para frente, do ser bem-vindo. “Vista pelas lentes de diversas práticas artísticas contemporâneas, Esperança é uma observação curatorial caleidoscópica buscando resposta aos 18 meses de pandemia. Para muitos de nós, o ano passado pareceu se arrastar, de forma lenta e dolorosa. Foi um tempo de espera e esperança, um tempo de autorreflexão. Um período que despertou consciências, tanto pessoais como coletivas, em resposta a uma crise global de saúde; como cada um de nós se relaciona com o outro e como compartilhamos nossa saúde coletiva”, explica o curador Simon Watson. Como mote para exposição, um dos conceitos que interligam os trabalhos são as múltiplas formas pelas quais as mãos e corpos dos artistas se fazem presentes na criação dessas obras de arte. “Ao reafirmar sua presença, esses artistas confirmam nossa existência como humanos e, com a presença de sua mão somos lembrados de nossa impermanência, da fragilidade de nossas vidas. E por serem obras de arte, possuem uma permanência no registro de nosso tempo. Na presença da mão do artista, encontramos sinais pessoais de propósito, determinação e esperança”, conclui o curador.

 

 

Como um presente adicional ao público, Simon Watson convidou críticos e curadores do circuito cultural para escreverem sobre as obras exibidas por cada um dos artistas participantes: “como um estrangeiro engajado e apaixonado pela cena cultural brasileira contemporânea, estou muito impressionado com a nova onda de curadores e críticos de arte brasileiros que, por conta própria, estão forjando uma nova versão da história da arte, vista por meio de perspectivas novas e variadas. Fazendo perguntas provocativas sobre quem está faltando e porque, sua investigação enérgica está provocando e apoiando artistas e diversas práticas artísticas. Meu interesse por esta nova onda levou-me a convidar profissionais das artes para fazerem ensaios para cada um dos 12 artistas de Esperança”.

 

 

Os 54 trabalhos – bidimensionais, tridimensionais, tecnológicos – de Esperança, que abrangem técnicas diversas como aquarelas, pinturas, grafitti, esculturas, fotografias e vídeo performances, estão dispostos na sala de exposições temporárias do MAS/SP bem como em seu jardim interno – Jardim do Claustro – como um brinde de formas, cores e convite a estar perto.

 

 

Os trabalhos de Andrey Rossi sugerem uma meditação tranquila em uma enfermaria de hospital fictício. Os desenhos são altamente detalhados e formam a base de um ciclo contínuo de pinturas que, por mais que pareça um assunto sombrio, são estranhamente sedutoras e transmite uma mensagem poderosa e agem como meditação e celebração do impulso humano para superar a tragédia e descobrir a vida no mais improvável dos lugares. Desdobrando materiais primordiais está Leandro Júnior cujas pinturas figurativas de argila líquida se inspiram na cultura do vale do Jequitinhonha onde cresceu e no material com que pinta. Seus retratos invocam pungência e tristeza, bem como sentimentos de empoderamento, pois as figuras parecem estar contemplando a luz de um dia de céu azul.

 

 

Muito parecido com um oratório contemporâneo, Desali faz acrílicos em escala íntima pintados em pedaços de madeira de descarte. São atos de meditação pessoal, um reflexo do sofrimento cotidiano, frequentemente impregnado pela presença de luz natural e céus radiantes. Temas do cosmos podem ser claramente sentidos nas pinturas terrestres e paisagísticas de Yasmin Guimarães. Em pequena escala, examinando detalhes aparentemente microscópicos ou em telas maiores e robustas, ela é um mundo de magia e maravilhas no mundo natural. Moisés Patrício se apresenta com uma pintura em grandes dimensões que retrata uma mulher negra vestida de branco em um ritual performativo de nascimento e renascimento. Um momento comovente e comemorativo.

 

 

Esperança apresenta três murais site specific nas paredes do museu. Dois dos murais estão nas extremidades da sala expositiva. De um lado, uma figura feminina pintada por Mag Magrela e do outro, uma figura xamã masculina pintada por Enivo. Mag Magrela se inspira no tumulto das imagens urbanas e na mistura das culturas brasileiras. A imagem retrata um mundo de gigantes gentis, mulheres que são poderosas e dominadoras, mas ainda mantêm uma intimidade vulnerável em seus olhos, bem como em sua postura. Enivo está presente na cena mural de rua de São Paulo, e se tornou conhecido por suas pinturas de prática de estúdio “alienígenas futuristas”, que nesta exposição vê a união dos dois, uma enorme pintura mural de uma figura futurista semelhante a um xamã de otimismo e esperança instalada com um agrupamento de pinturas de resina.

 

 

Ana Júlia Vilela cria um terceiro mural no centro da sala expositiva onde combina intervenção direta na parede e um aglomerado de telas. Ela brinca com o espectador, revelando apenas alguns fios de investigação pictórica, todos interrompidos por fragmentos de texto que lembram um tweet ou a troca casual de uma breve conversa.

 

 

O tema do fogo e da ressurreição ígnea tem sido um elemento recorrente na ampla prática de Thiago Rocha Pitta. Suas aquarelas sugerem um mundo mítico e ardente equilibrado entre o apocalíptico e o alucinógeno. Igualmente alucinógena é uma performance de Lidia Lisbôa. Suas esculturas do Casulo são uma versão suave de sua mediação ao longo da vida sobre o tema dos formigueiros encontrados em todo o Brasil. A exposição inclui a vídeo-performance Alvorecer.

 

 

O tema abrangente da exposição é retratado de forma mais vívida no vídeo performático “Cuando tengo comida en mis manos” de Paulo Nazareth. Situado contra um céu azul claro, ele lembra São Francisco como a ação de mãos erguidas com comida e pássaros se precipitando e se alimentando parece tão generoso, tão frágil e tão importante.

 

 

Esperança finaliza no pátio interno com uma escultura em madeira de sete partes de dormentes criada por João Trevisan. A obra convida o espectador a sentar-se e, ao fazer isso, você se torna primeiro consciente da arquitetura e, então, totalmente ciente da existência do céu.

 

 

Sobre o curador

 

 

Simon Watson – Nascido no Canadá e criado entre Inglaterra e Estados Unidos, Simon Watson é curador independente e especialista em eventos culturais baseado em Nova York e São Paulo. Um veterano com trinta e cinco anos de experiência na cena cultural de três continentes, Watson concebeu e assinou a curadoria de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou programas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes institucionais e particulares.

 

Mostra inédita e eclética de doações

25/jun

 

 

Entrou em cartaz e permanecendo até 20 de agosto na Pinacoteca Aldo Locatelli, Paço dos Açorianos, Porto Alegre, RS, a exposição “A Arte Pode Ser Eu?”. A mostra exibe o conjunto de obras doadas pelo advogado, executivo, gestor e colecionador Luiz Inácio Franco de Medeiros para a Pinacoteca Aldo Locatelli.

 

 

Destaca-se a variedade de estilos do conjunto, que entre 2015 e 2020, o colecionador generosamente repassou para o acervo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A mostra reúne nove gravuras, três desenhos, duas pinturas, duas esculturas e uma tapeçaria. Obras assinadas por artistas brasileiros, argentinos, poloneses, japoneses, franceses e por um húngaro naturalizado americano.

 

O colecionador manteve interesse em diferentes linguagens, estilos, técnicas e temáticas. Seu olhar apurado apreendeu novas informações estéticas e as trouxe à cidade natal, sem nunca descuidar do que era produzido em Porto Alegre, onde permaneceu até o final de sua vida. Datadas do século XIX até 2003, as obras transitam do figurativo de matriz expressionista, como a pintura de Magliani ou o desenho de Babinski, até peças abstratas, como a litogravura de Tadeusz Lapinski ou a tapeçaria de Carla Obino, além  de desenho de Roth e uma pintura de Farnese de Andrade. A escultura, que representa um modelo feminino, de autoria de Nico Rocha coabitou o apartamento de Luiz Inácio Franco de Medeiros com a peça abstrato-geométrica de Ladislas Segy, de modo que não é possível identificar um gosto específico ou predileção formal nas escolhas do colecionador.

 

 

O conjunto aponta o trajeto de um personagem fundamental para a compreensão do sistema de arte em Porto Alegre nas últimas décadas que, informado pelas mais diversas tendências internacionais, não perdeu a conexão com os novos artistas gaúchos, os quais estimulava através de suas múltiplas aquisições.

 

 

O porto-alegrense Luiz Inácio Franco de Medeiros (1943 -2021) foi um homem que imprimiu a sua marca onde atuou, seja no meio empresarial ou cultural. Tornou-se conhecido por gestões decisivas e inovadoras como diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e, posteriormente, do Museu Júlio de Castilhos. Sua atuação foi fundamental para a consolidação do campo museológico do Rio Grande do Sul, sendo o primeiro museólogo registrado no Conselho Regional de Museologia e, também, o primeiro presidente. Foi agraciado em 2010 com a Medalha do Mérito Museológico pelo Conselho Federal de Museologia. Como diretor do MARGS (1975 – 1979) foi o responsável pela transferência do museu para a atual sede na Praça da Alfândega; modernizando a sua organização, adaptando tecnicamente o prédio histórico para as novas funções e promovendo projetos que levaram a arte ao público em geral, com o museu indo até às escolas, fábricas, ao Presídio Central e ao Hospital Psiquiátrico São Pedro. No Museu Júlio de Castilhos entre 1983 e 1987, deu início às obras que ampliaram o espaço físico da instituição, levou o museu ao encontro do público através de passeios culturais no centro histórico de Porto Alegre, criou o laboratório de conservação e restauro e criação da Associação de Amigos. Foi um dos grandes doadores de obras para o Museu Júlio de Castilhos e, também, para a Pinacoteca Aldo Locatelli, (chegando a quase 20 obras). Em 2016 participou ativamente da fundação da Associação de Amigos das Pinacotecas de Porto Alegre – AAPIPA, sendo conselheiro da entidade por duas gestões.

 

Magliani e Xadalu na Fundação Iberê Camargo

23/jun

 

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, prepara, para o primeiro semestre de 2022, duas grandes exposições que enaltecem a diversidade cultural. Em fevereiro, será inaugurada uma mostra da pintora, desenhista, gravadora e ilustradora, Maria Lídia Magliani (1946-2012).

 

Nascida em Pelotas, Magliani foi uma artista valente e irreverente, que produziu uma obra densa, dilacerada e trágica, expondo suas emoções de forma vibrante, sem medo do uso da cor. Para a curadora Denise Mattar, “sua criação se insere num expressionismo sangrento, que choca e fere os desavisados e os sectários”.

 

 

“Ser uma pessoa de cor negra não interfere em nada na minha pintura, eu não entendo a sempre presente preocupação de pessoas com este aspecto. É minha vez de perguntar por que parece tão excepcional que um negro pinte? Por que a condição social de artistas de cor branca nunca é mencionada? Por que sempre me perguntam como é ser negro e ser artista? Ora é igual ao ser de qualquer outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo o mundo. A diferença quem faz é a mídia. É ‘normal’ ser branco e, portanto, é natural que o branco faça tudo, mas quando se trata de um negro, age como se fosse algo fantástico, um fenômeno – o macaco que pinta! Não gosto disto”, disse em entrevista ao jornalista João Carlos Tiburski, em 1987.

 

 

Cosmologia e ancestralidade

 

 

Em março, a Fundação abre uma exposição inédita de Xadalu Tupã Jekupé com obras, projeção e som que retratam a cosmologia, a ancestralidade e, também, as lembranças de Alegrete e das águas que banharam a sua infância na antiga terra chamada Ararenguá, carregadas de história de Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones – assim como dos bisavós e trisavós do artista. De etnia desconhecida, eles eram parte de um fragmento indígena que residia em casas de barro e capim à beira do Ibirapuitã, dedicando-se à pesca e vivendo ao redor do fogo mesmo depois do extermínio das aldeias da região.

 

 

Para o crítico de arte Paulo Herkenhoff, a arte de Xadalu não vai mudar o mundo, mas pode alterar nosso olhar: “Xadalu não fica à espera por mudanças na sociedade, mas busca agenciar sua potência para agir na escala individual – não se move por impotência; reconhece a pequena medida de suas possibilidades, sem submergir à onipotência. Seus riscos e dúvidas movem sua pulsão de vida no contexto de um contrato social solidário da arte”.

 

Comemoração

22/jun

 

 

 

A galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura dia 23 de junho, a exposição “Modo Contínuo”, em comemoração aos seus três anos de atividades.

 

A mostra apresenta uma seleção de 35 obras inéditas e emblemáticas – em vídeo, pintura, escultura, fotografia, objeto, e instalação – dos artistas Claudio Tobinaga, Gabriela Noujaim, Isabela Sá Roriz, Jeane Terra, Jimson Vilela, Leandra Espírito Santo, Pedro Carneiro, PV Dias, Roberta Carvalho e Virgínia Di Lauro, representados pela galeria.

 

 

A exposição permancerá em cartaz até 27 de agosto.

 

 

A visitação é por agendamento prévio, pelos telefones+55 21 3496-6821 e +55 21 99842-1323 (WhatsApp).