Tunga no MAR

26/jun

O Museu de Arte do Rio – MAR, sob gestão do Instituto Odeon, abre ao público “Tunga – o rigor da distração”. Tendo como eixo central a produção em desenhos do artista, a mostra reúne cerca de 200 obras, muitas delas inéditas, criadas entre 1975 e 2015. O projeto foi realizado pelos curadores Luisa Duarte e Evandro Salles, diretor cultural do MAR, em parceria com o Instituto Tunga, guardião do conjunto da obra do artista. Esculturas, filmes, fotografias e textos (pensados pelo artista como obras) completam a mostra, que acontece 12 anos depois da última individual do artista no Rio de Janeiro e é a primeira após o seu falecimento, em 2016, na cidade em que escolheu viver.

 

Organizada cronologicamente, a mostra revela que Tunga não era especialista em apenas uma linguagem. “Em Tunga, o desenho era tomado como o seu espaço de elaboração. É a partir deles que, muitas vezes, nascem e se desenvolvem as poéticas fundamentais de sua obra, que depois se expandem para outras mídias, como fotografias, performances, vídeos e textos ficcionais”, conta Evandro Salles.

 

O público poderá acompanhar esse processo ao longo de um percurso que inclui desde trabalhos dos anos 1970, quando já se anunciava o forte vínculo de Tunga com a psicanálise, passando por núcleos que apresentam momentos marcantes da obra, como as séries “Xifópagas Capilares” (1984) e “Semeando Sereias” (1987) e, mais recentemente, as aquarelas “Quase Auroras” (2009). Estarão ainda em exibição uma série de estudos – desenhos que se relacionam com obras escultóricas por vir.

 

Outro aspecto que fica evidente são as parcerias feitas pelo artista ao longo da vida. No vídeo “Resgate” (2001) estão presentes o compositor e poeta Arnaldo Antunes e a coreógrafa Lia Rodrigues. O filme em 16 mm “Heaven Hell’s/Hell’s Heaven” (1999) traz a respiração de Marisa Monte e Arnaldo Antunes como trilha sonora. Já o filme “Nervo de Prata” (1986), por sua vez, é uma parceria com Arthur Omar.

 

A exposição traz também uma cronologia da obra do artista e diversos fragmentos de seu pensamento através de entrevistas em vídeo e trechos de falas inscritos nas paredes. A ideia é promover um encontro do público com a potência do pensamento de Tunga. “São várias as entrevistas nas quais o artista descreve a si mesmo como um clínico geral e teórico. Ou seja, alguém que tinha um programa poético que podia ser desdobrado em inúmeras linguagens – escultura, desenho, performance, filme, texto, etc. Tunga pensava muito bem e de forma muito clara, tanto sobre seu próprio trabalho como sobre a arte em geral. Acho que esse pensamento tem um poder de atração imenso”, comenta Luisa Duarte.

 

Segundo a curadora, o título da exposição, retirado de um escrito do próprio artista, reflete o interesse de Tunga pela aliança entre inconsciente e programa poético: “O rigor da distração condensa uma ideia importante para o artista, qual seja, a de valorizar o que acontece enquanto estamos distraídos ou mesmo dormindo, sonhando – quando o inconsciente emerge – e conectar isso a um rigor, um fazer que possui um programa poético extremamente sofisticado tanto em termos formais quanto em temos conceituais”, finaliza Luisa Duarte.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido em Pernambuco e radicado no Rio de Janeiro, Tunga tornou-se um dos nomes mais importantes de sua geração. Integrou a X Documenta de Kassel, 1997, com curadoria de Catherine David. Tunga também foi o primeiro artista contemporâneo a ter uma obra exposta na pirâmide do Museu do Louvre, Paris, em 2005.

 

 

Abertura: 30 de junho, às 16h.
Performance de música experimental com O Grivo:

sábado, 30, às 17h30 e às 18h.

Domingo, 1º, às 16h30.

 

 

De 30 de junho até o final de novembro.

Recorte contemporâneo

A exposição que está em cartaz no Grande Hall do Santander Cultural, Porto Alegre, RS, denominada “RSXXI – o Rio Grande do Sul Experimental”, recebeu a assinatura de Paulo Herkenhoff na curadoria.

 

A exibição reúne 80 obras de 12 destacados artistas da nova cena contemporânea gaúcha.
Esta exposição, que parte de uma sigla de fácil memória e que provoca curiosidade, “RSXXI”, se propõe a articular a força do processo de criação contemporâneo de artistas locais. Ainda que sem a pretensão de um levantamento completo, a iniciativa se firma como um foro de reconhecimento com um relevante recorte: André Severo, Cristiano Lenhardt, Daniel Escobar, Laura Cattani e Munir Klamt (Ío), Isabel Ramil, Ismael Monticelli, Leandro Machado, Marina Camargo, Michel Zózimo, Rafael Pagatini, Romy Pocztaruk e Xadalu apresentam fotografias, livros, instalações, vídeos, objetos, esculturas, serigrafias e documentos.

 

 

Até 29 de julho.

Fotografias da fé

19/jun

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, ao lado da estação Tiradentes do Metrô, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, exibe “Guarda o Círio de Nazaré”, da fotógrafa brasileira Soraya Montanheiro, sob curadoria de Juan Esteves. A mostra apresenta 45 fotografias realizadas a partir de 2013, as quais retratam fiéis envolvidos na liturgia que aproxima a Imagem Original da Nossa Senhora de Nazaré – única de origem amazônica e venerada na basílica do Santuário, em Belém, PA – à Imagem Peregrina, confeccionada no final dos anos 1960 pelo escultor italiano Giácomo Vincenzo Mussner. Na ocasião da abertura da exposição, também será lançado livro de título homônimo, contendo o trabalho completo desenvolvido pela fotógrafa.

 

A atração de Soraya Montanheiro pelo ritual do Círio de Nazaré vai além de sua fé católica e de uma curiosidade por novas histórias.  Desde sua primeira participação no evento, em Belém, ficou fascinada pela ação da Guarda do Círio, evidenciada na organização dos cortejos. “A Guarda da Nossa Senhora de Nazaré é composta por 2.000 homens voluntários, que acompanham a Imagem e trabalham por dias consecutivos durante os festejos do Círio de Nazaré, e pelas cidades que a Imagem é levada. O objetivo do meu trabalho é o registro e pesquisa da atividade desses homens da Guarda de Nazaré”, comenta a fotógrafa. A partir de então, a autora seguiu a Imagem Peregrina por cidades como Rio de Janeiro e Niterói, pela região do Baixo Amazonas – como Terra Santa, Porto Trombetas, Juriti Velho, Óbidos, Santarém e Oriximiná. Por Viana, no Maranhão; Muaná, na Ilha de Marajó; e São José do Rio Preto, em São Paulo. Um caminho sustentado não apenas por sua crença mais pessoal, mas por uma complexa articulação profissional, resultando em uma intimidade com a temática, obtida sistematicamente nestes percursos que representam uma amplitude documental inédita.

 

Ao abordarem uma grande diversidade de expressão religiosa, as imagens concretizam um trabalho de representação documental de uma fé elevada. Nas palavras do curador Juan Esteves: “Estas fotografias, que contornam a inefabilidade, nos trazem a certeza na percepção de que a manifestação perene dos devotos, expressa no culto a Nossa Senhora de Nazaré, nos conduz ao pensamento mais complexo e duradouro da fé cristã no Ocidente”.

 

 

De 28 de junho a 29 de julho.

O oráculo piedoso de Lanezan

12/jun

Sob o título “Oráculo Piedoso”, a exposição individual do artista Martin Lanezan abre no dia 16 de junho na Galeria Sancovsky com curadoria de Maria Catarina Duncan. A exposição reúne pinturas, esculturas, tecidos, uma instalação inédita e intervenções site-specific. A maioria das obras expostas datam de 2018 e foram produzidas particularmente para a exposição. As obras exibidas sugerem um diálogo sobre diversidade de conhecimento, uma vez que aproximam práticas artísticas manuais como a costura e a pintura a processos ancestrais de oferendas e construção de amuletos. O universo místico e artístico se integram e atravessam constantemente, na série ‘Ponchos’ o artista utiliza de tecidos simples e corriqueiros para costurar paisagens vestíveis que abrigam o corpo dos visitantes e ao mesmo tempo emanam sentidos e memórias do artista. Três peças dessa série são apresentadas de forma instalativa, penduradas em galhos de arvores coletados que se articulam em um equilíbrio de cordas e pesos de pedras e vegetais.

 

A relação entre equilíbrio e desequilíbrio, caos e ordem, delírio e consciência se evidenciam tanto no processo de produção dos trabalhos quanto nas decisões curatoriais. O artista e a curadora desenvolveram um trabalho conjunto por mais de três meses em que se encontravam frequentemente para elaboração da exposição, lendo, escrevendo e produzindo juntos. Esse processo permitiu um acompanhamento mútuo, para que ambos se libertassem da rigidez de suas práticas, resultando na ampliação da produção de Lanezan para além da pintura e a transformação na escrita da curadora que produziu um poema ao invés de um texto curatorial.

 

Partindo do poema ‘La Boca’ de José Watanabe (Laredo, Peru 1945 – 2007) o título “Oráculo Piedoso” se refere a possibilidade de perceber indicações mágicas nos objetos mais corriqueiros, no caso do poema, a boca de um crânio entre-aberta permite que uma criança atinja um nível elevado de compreensão, pela qual ele agradece “a vida cega”. Ao atingir esse estado de agradecimento e lucidez, beira-se a loucura e o absurdo, um oráculo piedoso está contido em tudo, basta nos aproximarmos com atenção. A exposição se propõe a traçar pensamentos cosmológicos ativando processos geológicos como a decomposição, a cristalização e a transformação, para produzir formas de conhecimento que não passam necessariamente pela razão. Na série ‘Colônia’ o artista pinta fungos em processo de putrefação, a decomposição se apresenta como necessária para renovação e ao mesmo tempo se refere a condição migratória do artista. Ao se aproximar do desconhecido interroga-se tudo aquilo que já nos é conhecido.

 
“Nunca houve uma frase clara. A boca
como um oráculo piedoso
travava suas próprias frases diante da criança:
Eu sei agora
E a gradeço a vida cega”

‘La Boca’ de José Watanab

 

Sobre o artista 

 

Nascido em 1982 Madariaga, Província de Buenos Aires, Argentina. Atualmente vive e trabalha em São Paulo. Bacharel em Artes Visuais com ênfase em Pintura Estudou em UNA (Universidad Nacional de Arte, Argentina). Participou do grupo de estudos de Eduardo Molinari, Gabriel Baggio e Ernesto Ballesteros. Realizou uma serie de exposições individuais, incluindo,“Diário dos últimos dias”, Ruby, BsAs, Arg, 2015; “Cayahuari Yacu”, Casa Fonte, SP, 2014;“Hacer un pozo”, Trillo Sustentable, Misiones, Arg, 2012; “Lo que vive en el monte”, Proyecto A, BsAs, Arg, 2011; “La mitad del Mar”, Sapo Galería, BsAs, Arg, 2010 e“De Ceremonia”, Galería Crimson, BsAs, Arg, 2008. Além de exposições coletivas, como “O maravilhamento das coisas”, Galeria Sancovsky, SP, 2018; “Tristes Trópicos”, Galeria Mezanino, SP, 2017; “End Vehicles: Scketches for later works”, Ferro Strouse Gallery, NY, 2012 e“Tus defectos te hicieron perfecto”, Cobra ; Colección F.D.A.C.M.A, Meridion, 2012, entre outras. Recebeu o prêmio no Barrio Joven ArteBA 2012; primeiro prêmio Projeto A 8 ª edição, 2009.

 

Sobre a curadora 

 

Maria Catarina Duncan nasceu no Rio de Janeiro, atualmente vive em São Paulo. Formada em Culturas Visuais e História da Arte pela Goldsmiths College, University of London (2010 – 2014), desenvolve pesquisas no Centro de Estudos Africanos na FFLCH – USP. Trabalhou como assistente curatorial na 32a Bienal de São Paulo, ‘INCERTEZA VIVA’ (2015 – 2016). Integrou a Equipe curatorial do ‘Pivô Arte e Pesquisa’ (2014-2015) e foi assistente de curadoria, para as exposições ‘Terra Comunal Marina Abramovic’ no Sesc Pompéia (2014), ‘Alter-Heróis’ no MAC – USP Ibirapuera (2014) e “Still Being” do artista Antony Gormley no Centro Cultural Banco do Brasil (2012). Participou das residências artísticas Lastro Travessias Ocultas na Bolivia (2016- 2017) e Lastro Centro América na Guatemala (2015-2016) e foi curadora convidada das exposições “Lastro em Campo – percursos ancestrais e contemporâneos” no SEsc Consolação (2016) e “Travessias Ocultas – Lastro Bolívia” no Sesc Bom Retiro (2018). Assinou a curadoria de exposições ‘Fio Corpo Terra’ no espaço Saracura (RJ), ‘é.é.é’ da artista Manoela Medeiros no projeto Zip’Up e ‘Pai dos Burros’ de Teresa Berlinck e Julio de Paula na Oficina Cultural Oswald de Andrade e no Sesc Rio Preto.

 

 

De 16 de junho até 14 de julho.

Na Silvia Cintra+Box4

“Como vão as coisas” é a primeira exposição individual do artista paulistano Alexandre Canonico no Rio de Janeiro e a galeria que responde por esse lançamento é a Silvia Cintra+Box4, Gávea. O título escolhido reflete exatamente a ideia que permeia todos os trabalhos da mostra e sua pesquisa artística, que é como um material se relaciona em relação a outro no espaço. Arquiteto de formação, Canônico parte sempre de materiais que são facilmente encontrados no nosso cotidiano, mais precisamente em lojas de construção. Arruelas, espumas, barras de ferro, chapas de compensado e areia são o ponto de partida de suas esculturas. O encontro, ou desencontro, entre essas partes é que compõe cada obra. A instalação “Campo”, a maior obra da exposição, ocupa toda a parede do fundo da galeria com grandes arruelas que são cobertas por barras de aço pintadas. As mesmas arruelas estão presentes em dois outros trabalhos, onde elas “percorrem” e desenham em compensados de madeira. Fazem parte da mostra ainda duas séries de gravuras e uma escultura de tubos de aço contorcidos e perfurados.

 

 

Sobre o artista 

 

Alexandre Canonico é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e atualmente vive em Londres onde realiza pós-graduação na Royal Academy. Sua prática é fortemente influenciada pela lógica e estética do desenho arquitetônico e da abstração geométrica. Formalmente, os trabalhos tendem a uma resolução simples e a uma economia de gestos.

 

 

De 13 de junho até 21 de julho.

Revisão de trajetória 

11/jun

Cícero Dias é o atual cartaz da Simões de Assis Galeria, rua Sarandi, 113, Jardins, São Paulo, SP. Considerado um ícone da arte moderna brasileira, nasceu em Pernambuco em 1907 e viveu a grande parte de sua vida em Paris, lá falecendo em 2003. O artista foi protagonista de uma das mais ricas e extensas trajetórias na arte nacional, pautada pelo pioneirismo e idéias vanguardistas. O artista foi revelado na antológica exposição de suas aquarelas em 1928, no Rio de Janeiro, sendo acolhido pelos modernistas. Tornou-se colega de Ismael Nery, Tarsila do Amaral, Lasar Segall e Di Cavalcanti, nomes pontuais da Semana de Arte Moderna de 1922, além dos poetas e escritores Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Manuel Bandeira e Gilberto Freyre.

 

Em 1937, incentivado por Di Cavalcanti, partiu para viver em Paris onde passou a conviver com a vanguarda francesa, entre os quais Picasso e Paul Éluard. No pós-guerra integrado à École de Paris, ao Groupe Espace e à recém criada Galerie Denise René, passou a figurar na História da Arte Moderna internacional. Cícero Dias é autor dos primeiros murais de arte abstrata da América Latina, realizados no Recife em 1948. Produziu grande parte da sua obra na Europa nas seis décadas em que lá viveu, sem jamais abdicar dos valores mais profundos da nossa cultura.

 

A trajetória de Cícero Dias foi pautada pela liberdade, tanto na expressão de sua arte quanto na conduta de sua vida. Alguns episódios de sua história pessoal confundem-se com acontecimentos políticos da maior relevância no século XX, como as suas relações conflituosas com a ditadura Vargas no Brasil e sua participação na resistência ao nazifascismo na Europa.
A obra de Cícero Dias, uma das mais intrigantes da arte brasileira, tem sido objeto de estudos em simpósios e teses em universidades brasileiras e também no exterior. Tanto o período de sua fase modernista quanto o período abstrato da época de sua participação na École de Paris já foram objetos de amplos estudos acadêmicos e teóricos, que lhes rendeu incontestável reconhecimento no âmbito nacional e internacional.

 

Cícero Dias é homenageado nesta histórica exposição, que focaliza sua produção das décadas de 1920 a 1960, marcando a inauguração da nova sede da Simões de Assis Galeria de Arte em São Paulo.

 

 

 

Até 04 de agosto.

“Portinari – A construção de uma obra”

08/jun

A exposição “Portinari – A construção de uma obra” continuará ocupando o espaço da Galeria 4 na CAIXA Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, até dia 1º de julho. Aberta ao público no dia 03 de maio, a mostra foi vista por mais de 16 mil pessoas até o momento. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.  “Portinari – A construção de uma obra” reúne 71 estudos, pinturas e obras do pintor, muralista e desenhista, que conquistou reconhecimento internacional retratando o cotidiano do país e a desigualdade social, com atualidade surpreendente. Também fazem parte da montagem 16 esculturas criadas pelo artista plástico Sérgio Campos, que reproduzem personagens de importantes obras de Portinari.

 

Segundo o curador Luiz Fernando Dannemann, os trabalhos reunidos mostram o processo criativo do artista, ilustrando sua trajetória. “É uma exposição específica da construção da obra de Portinari, que mostra estudos, esboços e desenhos de grandes obras do artista”, comenta o curador. “São pedaços preciosos de um artista singular, de quem buscou originalidade na própria poesia do homem”. Entre eles, há estudos para o painel “Guerra e Paz”, que Portinari criou para a sede da ONU, em Nova York, entre 1952 e 1956.

 

Um dos grandes temas da obra do artista é a desigualdade social, revelada no registro do cotidiano, como em “Grupo com homem doente” e “Menino morto”, por exemplo. “Portinari era um “cronista” que, ao invés de escrever, pintava as desigualdades, as efemérides”, diz o curador. “Os Retirantes” é a realidade do Brasil, pessoas que iam para as grandes cidades buscando melhores oportunidades. E muitas dessas obras continuam atuais, a crítica, a crônica, porque ainda vivemos em um país de desigualdade social”.

 

 

Esculturas

 

As esculturas de Sergio Campos contracenam com as obras de Portinari na mostra. Campos finalizou o planejamento do próprio artista plástico, que queria transformar suas figuras em esculturas. O Rio de Janeiro recebe 16 trabalhos, revelando uma tridimensionalidade da visão de Portinari. “Ele pretendia eternizar alguns de seus personagens em bronze. Como morreu prematuramente, aos 59 anos, não conseguiu concluir este projeto”, explica Dannemann. “Sergio Campos, membro da família do pintor, decidiu finalizar a ideia, criando esculturas fidedignas em cada detalhe”.

 

 

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Sergio Camargo na Sean Kelly, NY

07/jun

A Sean Kelly Gallery, apresenta a primeira exposição individual nos Estados Unidos do escultor – internacionalmente célebre – Sergio Camargo, um dos mais importantes artistas do Brasil durante o século XX. A obra de Camargo é reconhecida por composições abstratas nas quais as formas geométricas convergem com planos mínimos. O artista criou relevos para a parede, grandes esculturas autônomas e modestamente escaladas, estruturas arquitetônicas unificadas por um senso de vitalidade e harmonia.

 

Trabalhando em madeira, pedra, terracota e bronze, Camargo produziu numerosas esculturas em Carrara branco e mármore belga negro, favorecendo a oposição de luz e escuridão entre os dois materiais, uma tensão semelhante de opostos a sua linguagem visual. Embora distintamente mínimo em composição e forma, o ativo jogo de cubóide e formas cilíndricas infundem vida em suas esculturas, enquanto em outros, é a reconciliação de que a tensão é que informa o seu poder e elegância.

 

Frequentemente associado aos movimentos neo-concretos e o construtivismo, a obra de Camargo é distinta de muitos de seus contemporâneos brasileiros. Viveu e trabalhou no Rio de Janeiro, Argentina, Itália e Paris. Durante este período, admirava o trabalho de Brancusi, cujo estúdio frequentava. O artista tomou conhecimento dos trabalhos de Hans Arp, Henri Laurens, e Georges Vantongerloo. Camargo retornou a Paris entre 1961 e 1973 e depois se estabeleceu permanentemente no Rio de Janeiro. Seu trabalho foi incluído na Bienal de Veneza em 1966 e 1982, e documenta IV em 1968, ganhou o Prêmio Internacional de escultura na Bienal de 1963, em Paris, e na VII Bienal Internacional de São Paulo em 1965.

 

Sergio Camargo criou muitas obras em espaços públicos, incluindo o Palácio do Ministério das Relações Exteriores em Brasília e a homenagem à coluna Brancusi para o Colégio de Medicina em Bordeaux, França. Seu trabalho está incluído em prestigiadas coleções públicas e privadas em diversos países.

Presença de Delson Uchôa

06/jun

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 20 de junho, a exposição “Autofagia – Eu Devoro Meu Próprio Tempo”, com obras inéditas de Delson Uchôa. Esta é a primeira individual que o artista realiza nos últimos treze anos no Rio de Janeiro. A exposição reunirá seis trabalhos inéditos em grande formato, em que o público poderá tocar e manusear. As obras são resultado de sua pesquisa desenvolvida desde 2005, na qual emprega uma resina sobre o chão de cerâmica crua de seu ateliê e pinta sobre sua superfície, descolando-a meses depois, como um “manto de pele”, acrescentando após mais pintura. Nesse processo que o artista denominou de autofagia, ele recorta pedaços desta “pele” de pintura e enxerta em outros trabalhos, às vezes antigos, costurando com linha e agulha. O segundo andar da galeria será ocupado pela obra “Instalação Pintura-Objeto (2018)”, e no contêiner, situado no terraço, serão projetados vídeos mostrando o processo criativo do artista. Na abertura da exposição, haverá uma performance inédita do coletivo Loba, das artistas Flora Uchôa e Laura Fragoso. A apresentação é de Fernando Cochiarale.

 

 

Sobre o artista

 

Delson Uchôa, nasceu em 1956, estudou e morou em Maceió até se formar em Medicina em 1981, paralelamente inicia seus estudos de pintura na Fundação Pierre Chalita. Parte para uma viagem de estudos à França onde conhece os mestres da pintura e retorna ao Brasil com breve estadia em Belo Horizonte. Fixa residência no Rio de Janeiro e participa da mostra “Como vai você? Geração 80″ organizada por Marcus de Lontra Costa e Paulo Roberto Leal, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje.

 

A partir daí passa a fazer parte dos artistas da Galeria Saramenha que aposta nos jovens talentos emergentes dos anos oitenta e lá realiza duas importantes individuais em 1985 e 1988. É Jorginho Guinle que o apresenta no convite impresso ressaltando sua imagística popular e a vitalidade plástica de seu trabalho: “o conjunto de trabalhos de Delson, inevitávelmente trazem à tona questões como o arquétipo e o pessoal, o universal e o regional, o popular e o kistch”.  Sua pintura passa a interessar a Galeria Thomas Cohn que adota seu pop-neoconcreto: “o uso do papel excedido até o quase-mural, o trompe l’oeil, os elementos bandeira, as oscilações entre o quase kitsch e o quase despojado, entre o bruto e o requintado nos estimularam a abrir o leque para o Norte e o Nordeste” assim comenta Thomas Cohn sobre sua importância no cenário nacional realizando duas individuais do artista nos anos de 1990 e 1993.

 

Retorna por breves períodos a Maceió durante essa temporada carioca produzindo intensamente. Participa do Workshop 93 patrocinado pela Academia Teuto Brasileira de Verão – Deutsh-Brasilianische Kulturelle Vereinigung (DBKV)/Instituto Goethe/Fundação Pierre Chalita em Maceió onde é agraciado com uma bolsa de estudos e a oportunidade de realizar uma exposição na Galeria berlinense Springer em agosto de 1993. Volta da Alemanha e fixa residência em Maceió com a intenção de reunir seu acervo. Três anos depois, em 1996, realiza sua maior exposição individual em dois grandes Armazéns de Açúcar em Jaraguá onde cobre um período aproximado de quinze anos de pintura, desde a geração 80 até os trabalhos de 1996 denominados de “mestiços de última geração” e cujo convite feito ao público foi através de out-doors espalhados pelos principais pontos da cidade para dar uma mostra da escala e da dimensão de seus trabalhos.
Em 1998 participa da XXIV Bienal de São Paulo sob curadoria de Paulo Herkenhoff que recoloca a questão antropofágica no intuito de discutir a pluralidade cultural e o insere no projeto do Núcleo Histórico na questão da cor e latitude que vai do modernismo, passando pelo neoconcretismo até a contemporaneidade: “…a cor caipira do sudeste não dá conta do Brasil. Uchoa extrai luminosidade e estridência cultural da cor do Nordeste. Suas pinturas descrevem movimentos do roi-roi, brinquedo popular a elas incorporados” é o que afirma Herkenhoff no texto introdutório do catálogo da mostra.

 

Em 2001, a TV Senac realiza um documentário sobre sua obra, exibido na série Arte brasileira em circuito Nacional onde é filmada duas de suas maiores obras: Catedral, com 10 metros de altura, e Curral da Praia, com seis metros de largura. Obras que necessitaram ser içadas por cabos de aço no canteiro de obras do ainda não inaugurado Centro Cultural de Maceió.

 

Em 2002, participa de um Programa de residência artística em uma Vila da região serrana do Paraná chamado Faxinal das Artes e que durante quinze dias envolveu cem artistas de todo o Brasil. Essa experiência de troca com artistas de variadas gerações o recoloca no circuito das artes do eixo sul-sudeste. Em 2003 é convidado por Agnaldo Farias para expor, na Galeria Tomie Otake em uma grande mostra junto a outros dois pintores de posições distintas: Caetano de Almeida e Cássio Michalany. Em 2005 ocupa os espaços do MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – em Recife sob curadoria de Moacir dos Anjos como também recebe convite do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro para integrar, com duas obras, o acervo contemporâneo de arte da Instituição.  Com essa aquisição do Museu de Belas Artes, amplia sua participação em importantes coleções de arte contemporânea do país pois já faz parte do acervo de Gilberto Chateaubriand (MAM Rio), de João Sattamini (MAC Niterói), do MAMAM Recife e da Infraero, que adquiriu um painel para o novo Aeroporto Internacional de Maceió.

 

 

Até 18 de agosto.

Nova Gravura

O Museu da Chácara do Céu, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, terça-feira, dia 06 de junho, a exposição “Análise Aleatória”, de Felipe Barbosa com o lançamento da obra inédita do artista para o projeto “Os Amigos da Gravura”. Além da tradicional gravura e da mostra nas salas de exposições temporárias, Felipe Barbosa ocupará as demais dependências do museu com intervenções site specific na sala de jantar, na biblioteca e no jardim. O evento faz parte da programação comemorativa dos 200 anos de museus no Brasil.

 

Segundo o curador da mostra, Julio Martins, “esta é uma exposição pensada em termos site-specific: além do espaço expositivo, foram dispostos vários trabalhos de Felipe Barbosa que dialogam com as salas do Museu. Assim, a memória do passado é mobilizada por um artista que se vale de objetos bastante sintomáticos de nossa cultura urbana contemporânea. Há nesta montagem de temporalidades um notável contraste entre o valor histórico e consagrado do acervo em contágio com apropriações de objetos absolutamente banais, o que propõe reativar camadas de significado mútuas, na urgência do presente, e em atrito”, explica.

 

O trabalho para o projeto Os Amigos da Gravura –  normalmente uma tiragem exclusiva para o museu de 50 exemplares – desta vez será constituído de peças únicas. Usando 14 cores diferentes e consequentemente 14 opções de “passadas”, Felipe produzirá 50 exemplares únicos utilizando as diversas possibilidades combinatórias do processo de serigrafia. “Em vez de repetir, eu modifico a ordem das cores, como numa análise aleatória e combinatória”, informa  artista.

 

A exposição fica em cartaz até 18 de outubro e as gravuras podem ser adquiridas diretamente no museu.

 

 

 

Sobre o artista

 

Felipe Barbosa nasceu em Niterói em 1978. É artista visual, mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ, bacharel em Pintura pela Escola de Belas-Artes da UFRJ. Tem participado de importantes exposições no Brasil e no exterior, ressaltando-se as individuais Jardins Móveis no Museu Vale, Vila Velha e Belo Horizonte, 2017; Galería Blanca Soto, Madri, 2014; Cavalariças do Parque Lage, 2013. Entre as mostras coletivas pode-se destacar: Cap sur Rio, The Olympic Museum, Lausanne, 2016; The record: contemporary art and vinyl, Henry Art Gallery, Seattle, EUA, 2012; This is Brazil!, Kiosko Alfonso / Palexco, Espanha, 2012; Ya sé leer, Centro de Arte Contemporáneo Wilfredo Lam, Havana, 2011; Parangolé: fragmentos desde los 90 em Brasil, Portugal y Espanha, Museo Patio Herreriano, Valladolid, Espanha, 2008; Nova arte nova, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, 2008; The beautiful game: contemporary art and football, Brooklyn Institute of Contemporary Art (Bica) e Roebling Hall Gallery, Nova York, 2006; Human Game.Winners and losers, Fondazione Pitti – Stazione Leopolda, Florença, Itália, 2006; InSite05 – Trienal Internacional, Tijuana/San Diego, EUA, 2005; Unbound: installations from seven artists from Rio, Parasol, Londres, 2003; MAD03 Centro Cultural Conde Duque, Madri, 2003; Caminhos do contemporâneo, Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2002; Rumos da nova arte contemporânea brasileira, Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2002.

 

 

Sobre o projeto “Os Amigos da Gravura”

 

Raymundo Ottoni de Castro Maya criou a Sociedade dos Amigos da Gravura no Rio de Janeiro em 1948. Na década de 1950 vivenciava-se um grande entusiasmo pelas iniciativas de democratização e popularização da arte, sendo a gravura encarada como peça fundamental a serviço da comunicação pela imagem. Ela estava ligada também à valorização da ilustração que agora deixava um patamar de expressão banal para alcançar status de obra de arte. A associação dos Amigos da Gravura, idealizada por Castro Maya, funcionou entre os anos 1953-1957. Os artistas selecionados eram convidados a criar uma obra inédita com tiragem limitada a 100 exemplares, distribuídos entre os sócios subscritores e algumas instituições interessadas. Na época foram editadas gravuras de Henrique Oswald, Fayga Ostrower, Enrico Bianco, Oswaldo Goeldi, Percy Lau, Darel Valença Lins, entre outros.

 

Em 1992 os Museus Castro Maya retomaram a iniciativa de seu patrono e passaram a imprimir pranchas inéditas de artistas contemporâneos, resgatando assim a proposta inicial de estímulo e valorização da produção artística brasileira e da técnica da gravura. Este desafio enriqueceu sua programação cultural e possibilitou a incorporação da arte brasileira contemporânea às coleções deixadas por seu idealizador. A cada ano, três artistas plásticos são convidados a participar do projeto com uma gravura inédita. A matriz e um exemplar são incorporados ao acervo dos Museus e a tiragem de cada gravura é limitada a 50 exemplares. A gravura é lançada na ocasião da inauguração de uma exposição temporária do artista no Museu da Chácara do Céu. Neste período já participaram 44 artistas, entre eles Iberê Camargo, Roberto Magalhães, Antonio Dias, Tomie Ohtake, Daniel Senise, Angelo Venosa, Emmanuel Nassar, Carlos Zílio, Beatriz Milhazes e Waltercio Caldas.

 

 

A palavra do curador

 

Análise aleatória

 

Felipe Barbosa vem elaborando uma obra de singular visualidade e vontade construtiva na arte brasileira contemporânea. Em suas peças estabelece trânsitos semióticos e materiais por operações que conciliam rigor (do ponto de vista das escolhas de repertório geométrico em exemplares mundanos, das buscas por simetrias, por seu pensamento espacial e escultórico, suas práticas colecionistas, composições sofisticadas aliadas a procedimentos simples) com um sentido muito particular de apropriação de objetos industriais e elementos do mundo cotidiano, de bolas de tênis utilizadas para uma espécie de Action Painting lúdica; de bolas de futebol cujos gomos hexagonais são recosturados e estruturados de forma planar sob diversas propostas; de guarda-chuvas reunidos numa forma geométrica regular e impenetrável chamada “Abrigo”. O artista trabalha com métodos de recombinação e reestruturação de objetos por ele apropriados e inseridos numa reconstrução que é intuitiva e, igualmente, matemática e projetiva, sendo importante observar com Fernando Cocchiarale que “são trabalhos compostos a partir de modulação, inserção e montagem ditadas pela configuração formal dos objetos apropriados pelo artista. Por isso sua configuração geométrica final supõe, sobretudo, a experimentação concreta e não apenas a execução de projetos”. Felipe Barbosa seinteressa pela latência das coisas, afeiçoa-se a matérias ordinárias e investiga seusatributos formais inesperados, reestruturando sua inteligência compositiva.

 

Muitas dessas construções estabelecem diálogos com a história da arte e, portanto, motivam a interlocução com a arquitetura, os mobiliários, os acervos e, sobretudo, com as obras de arte da coleção da Chácara do Céu. Esta é uma exposição pensada em termos site-specific: além deste espaço expositivo, foram dispostos vários trabalhos de Felipe Barbosa que dialogam com as salas do Museu. Assim, a memória do passado é mobilizada por um artista que se vale de objetos bastante sintomáticos de nossa cultura urbana contemporânea. Há nesta montagem de temporalidades um notável contraste entre o valor histórico e consagrado do acervo em contágio com apropriações de objetos absolutamente banais, o que propõe reativar camadas de significado mútuas, na urgência