Permissão para falar

19/fev

A Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, terá a palavra como ponto de partida em sua próxima exposição. A mostra reúne obras recentes e inéditas de destacados artistas da cena contemporânea brasileira e recebeu o significativo título de “Permissão para falar”. Com curadoria de Fernanda Lopes, apresenta obras de nove artistas: Beto Shwafaty, Diego Bresani, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Laura Belém, Paula Scamparini, Sara Ramo, Vanderlei Lopes e Yuri Firmeza (em parceria com Frederico Benevides), em diferentes técnicas e suportes, como vídeos, objetos, fotografias, gravuras e desenhos. Este recorte curatorial, permitiu que mostrar a mais nova produção de artistas que estão ganhando cada vez mais reconhecimento na cena artística nacional, como Lais Myrrha, que foi um dos destaque da última Bienal Internacional de São Paulo. Em comum, todas as obras fazem referência ao discurso e à história como construções, com interesse especial nos usos e variações de significados que as palavras podem assumir, dependendo de quem fala, de quem escuta ou mesmo quando são silenciadas.

 

 

A palavra da curadora

 

“A exposição tem como ponto de partida a palavra. Não a palavra isolada, com significado único e fixo, mas sim a palavra como construção e como discurso, que pode assumir diferentes características e leituras a partir do ponto de vista e do contexto de leitura. Nenhuma palavra pode ser lida sozinha, isolada, fora de contexto. Toda fala é construída, se constrói a partir de pontos de vista e referências, e não elimina a possibilidade de existência de outros olhares”,essa é uma exposição interessada em pensar o lugar da fala e da escuta”.

 

 

Sobre os artistas e as obras

 

Beto Shwafaty, São Paulo, SP, 1977, terá duas obras na exposição. Em “Anhanguera/Bandeirantes” e “Abstrações Sujas”, ambas de 2015, o artista explora a história, a memória e utiliza textos extraídos da imprensa. No primeiro, trata da exploração da cidade de São Paulo pelos Bandeirantes e o desenvolvimento econômico representado pelas principais vias de acesso da cidade. Na segunda, mostra momentos na história do edifício Edise – sede da Petrobras no Rio de Janeiro. A obra é dividida em três partes independentes e uma delas estará na exposição.

 

Diego Bresani, Brasília, DF, 1983, apresentará fotografias feitas em Paris, durante o ano que viveu na França. A observação do mundo, suas paisagens e personagens, compõem a essência do trabalho, uma espécie de diário pessoal onde tenta reconstruir sua própria história.

 

Jaime Lauriano, São Paulo, 1985, mostrará obras das séries “Vocês nunca terão direito sobre seus corpos”, 2015, – um entalhe em madeira de frases de racismo institucional, encontradas em comunicados oficias e boletins de ocorrência, da Policia Militar Brasileira – , e “Bandeira Nacional”, 2015, em que busca subverter, a partir de técnicas de tecelagem artesanal, o controle e a regulação deste símbolo. Ou seja, registrar diferentes maneiras de apropriação e alienação da Bandeira Nacional.

 

Lais Myrrha, Belo Horizonte, MG, 1974, terá na exposição quatro trabalhos da série “Reconstituição”, 2008, em que seleciona as páginas da Constituição em que aparece a palavra “exceção” e as destaca, colocando desfocado o restante do texto.

 

Laura Belém, Belo Horizonte, MG, 1974, apresentará uma obra da série “Hoje tem cine”, 2015, em que a artista cria letreiros em neon com títulos dos filmes que marcaram a história do Cine Palladium, que foi um dos cinemas mais importantes de Belo Horizonte. Na exposição, estará o letreiro de “Jardim de Guerra”, de Neville D’Almeida, recolhido pela censura em 1968.

 

Paula Scamparini, Rio de Janeiro, RJ, 1980, mostrará a videoinstalação “Nós-Tukano”, 2015, em que, em uma das telas, o índio Carlos Doethiro Tukano, líder político e cacique da maior aldeia urbana no Brasil, a Aldeia Maracanã, narra a história de sua terra para um grupo de crianças, em sua língua-mãe. No vídeo ao lado, que acompanha a fala de Doethiro, homens-brancos de diversas origens procuram reproduzir as palavras dele mesmo sem entender seus significados.

 

Sara Ramo, Madri, 1975, apresentará a série de fotografias “O ensino das coisas”, 2015, em que mostra como é difícil definir certos conceitos com palavras. O ponto de partida são cartazes encontrados pela artista em uma escola de design abandonada no Uruguai. Os alunos tratavam de expressar o conteúdo da palavra através da forma.

 

Vanderlei Lopes, Paraná, 1973, participa da exposição com a obra “EEDDM II (El encuentro de dos mundos)”, realizada em 2013. As formas orgânicas das folhas, fundidas em bronze, apresentam recortes geométricos e precisos feitos pela mão do homem (recortes tão precisos que não encontramos na natureza). Aqui, os “dois mundos” citados no título, podem ser a natureza e a cultura (que por muitos autores é considerada uma invenção do homem, como uma tentativa de domar a natureza).

 

Yuri Firmeza, São Paulo, 1982, & Frederico Benevides apresentam o curta-metragem “Entretempos”, selecionado para o 62º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen, na Alemanha. O filme também participou da Semana dos Realizadores em 2015 e levou o prêmio de Menção honrosa do Júri Oficial. O trabalho parte do material arqueológico encontrado na região portuária do Rio de Janeiro, fotografias, imagens de arquivo, documentos oficiais e de negociações dos escravos, para pensar o atual processo de gentrificação que atravessa, hoje, esta região.

 

 

Sobre a curadora

 

Fernanda Lopes é curadora assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, RJ, e do Departamento de Arquitetura da PUC-Rio. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, é organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite, Tamanduá-Arte, 2016. Em 2012 recebeu Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, com pesquisa publicada sobre a Área Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,  Funarte/Figo Editora, 2013, Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970. Foi Membro do Conselho Cultural da Galeria IBEU, RJ, 2013-2014, Curadora associada de Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo – CCSP, 2010-2012)e editora dos sites ARTINFO Brasil, 2012-2013, e Obraprima.net, 2000-2004. Mestre em História e Crítica de Arte pela EBA/UFRJ, 2006, sua tese de mestrado, “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex, ganhou o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, da FUNARTE, em 2006, e em 2009 foi publicada pela Alameda Editorial, SP. Entre as curadorias que vem realizando desde 2009 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29a Bienal de São Paulo, 2010.

 

 

De 14 de fevereiro até 25 de março.

 

A Natureza observada

16/fev

Na exposição “O SOPRO DA NATUREZA”, que ocupa o Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, os artistas franceses Guillaine Querrien e François Houtin partem do regitro de elementos da natureza e paisagens incorporados às técnicas de gravura, pintura e desenho. Em comum, a nacionalidade e o tema de inspiração para suas criações.

 

Pintora e escritora, Guillaine Querrien vive há trinta anos entre o Brasil e a França, tendo desenvolvido seus trabalhos em contato com a natureza brasileira, combinando a abstração e a figuração a partir de estruturas vegetais orgânicas, a paisagem e a fluidez dos movimentos de rios e marés que ela se apropria em sua pintura a óleo e pastéis.

 

 

A palavra da artista

 

O que busco, nessas pinturas, é capturar intimamente lugares que conheço muito bem, onde já estive incontáveis vezes. Minha relação com essas paisagens continua viva, todavia. Não há tédio algum no meu olhar! Ao contrário… A cada vez enxergo mais coisas, e então persigo as novas visões que surgem das ‘velhas’ paisagens,  afirma Guillaine.

 

François Houtin, gravador e desenhista, apresenta o resultado de obras realizadas durante uma residência artística que durou três semanas no Rio de Janeiro, numa explosão que retrata toda a exuberância da vegetação e luz inspirada no Parque Lage e no Jardim Botânico, além de outras paisagens cariocas.

 

 

A palavra do artista

 

Meu trabalho nessa exposição representa tudo o que eu amo. Uma vegetação que não conhecia antes de vir ao Rio. Tive um grande choque! As belas e sábias árvores da Europa… Enquanto aqui, por toda parte, é a exuberância, o gigantismo, riqueza de cores, de formas! E o formidável corpo a corpo entre natureza e concreto, avalia, empolgado, François.

A exposição conta com o apoio do Instituto Francês e da Aliança Francesa do Rio de Janeiro.

 

De 08 de março a 14 de maio.

Acervo do MASP no Rio

09/fev

Exposição leva acervo do MASP, o maior da América Latina, ao CCBB do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e Brasília; parceria entre as instituições tem patrocínio do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre.

 

Ao longo da História da Arte, a representação da figura humana foi um meio de demonstração de poder do Clero e da aristocracia, da adoração de deuses e santos, da mimetização do real, da transformação da sociedade e da própria arte nos séculos 19 e 20. É esta diversidade de formas de representação que a mostra “ENTRE NÓS – A figura humana no acervo do MASP” apresenta ao público carioca, reunindo mais de 100 obras do maior acervo de arte da América Latina. A exposição tem curadoria de Rodrigo Moura e Luciano Migliaccio, da equipe de curadores do MASP, e traz obras dos maiores nomes da arte mundial como Rafael, Goya, Modigliani, Van Gogh, Picasso, Degas- e da arte brasileira: Almeida Júnior, Anita Malfatti, Portinari, Segall e Brecheret, entre outros tantos. Abrangendo um arco histórico que se inicia entre os anos 900-1200 D.C., com as peças pré-colombianas, e vai até os dias de hoje, estabelecendo um recorte cronológico e um diálogo entre as distintas formas de representação e culturas, a exposição abre com peças do acervo que reúnem as mimetizações do sagrado na arte da Europa Medieval, da África e da América pré-colombiana, compondo um diálogo entre os diferentes eixos da coleção do MASP.

 

Da Europa pré-renascentista, a mostra traz a “Nossa Senhora com o Menino” (1310-20), um dos motivos mais presentes na arte do período, esta atribuída ao Maestro de San Martino alla Palma, e Cristo Morto (1480-1500), de Niccoló di Liberatore dito l’Alunno. O jovem Rafael apresenta seu domínio da perspectiva e dos recursos compositivos e narrativos que o fez se destacar entre os artistas de seu tempo com “Ressurreição de Cristo” (1499-1502). As obras estão em diálogo com a escultura “Sant’Ana e a Virgem criança”, criada no século XVIII por um escultor baiano desconhecido, e esculturas da divindade Yorubá, presente em tribos da região do Congo e da Nigéria.

 

O Renascimento é o momento em que a pintura se volta para a busca da do humano na construção de um caráter exemplar, inserido no contexto histórico. Na mostra, esse novo tempo está representado nas obras de artistas holandeses como “Oficial Sentado”, 1631, de Frans Hals, e “Retrato de um desconhecido”, (1638-40), de Anton Van Dyck, obra inspirada na estética de Tizziano, que traz a representação de um ideal individual de nobreza por meio da figura de um melancólico aristocrata inglês.

 

O pintor e gravador espanhol Francisco Goya y Lucientes está presente com” Retrato da condessa de Casa Flores” (1790-1797) em diálogo com “A educação faz tudo” (1775-1780), do francês Jean-Honoré Fragonard. As obras, em composição com dois dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira do século 19,“Interior com menina que lê” (1876-1886), de Henrique Bernardelli, e “O pintor Belmiro de Almeida” (século 19), de José Ferraz de Almeida Junior – evocam o surgimento do Iluminismo europeu e a busca por um ideal civilizatório brasileiro durante o Segundo Reinado.

 

A partir dos séculos 19 e 20, a mimetização do humano é o meio pelo qual se trabalham a sensibilidade da cor e da forma, explorando a experiência plástica, como na “Rosa e azul – As meninas Cahen d´Anvers” (1881), de Pierre-Auguste-Renoir, e “O negro Cipião” (1866-1868), de Paul Cézanne, obra que sintetiza os aspectos da pintura moderna.

 

“Nus” (1919), da pintora francesa Suzanne Valadon, tem como referência a concepção da cor puramente decorativa do pós-impressionismo e de Matisse para expressar o desejo de liberdade e comunhão com a natureza como ideal feminino.

 

Pablo Picasso, com “Busto de homem” -(O atleta), 1909, questiona de maneira provocadora os gêneros e limites da tradição pictórica com a figura de um lutador- provavelmente publicada em jornal. Com o formato de um busto, típico da tradição heroica comemorativa, o caráter do personagem em questão é definido a partir de volumes e texturas, como nas culturas grega e africana, que serviram de influência para todos os movimentos artísticos do início do século 20.

 

Desta época, a mostra traz, ainda, obras emblemáticas de Vincent Van Gogh, “A arlesiana” (1890); Paul Gauguin, “Pobre pescador” (1896); Pierre Bonnard, “Nu feminino” (1930-1933); Amadeo Modigliani, com “Retrato de Leopold Zborowski” (1916-1919), e uma série de esculturas de Edgar Degas que mostram a evolução dos movimentos de uma bailarina –“Bailarina que calça sapatilha direita” (1919-1932), “Bailarina descansando com as mãos nos quadris e a perna direita para a frente” (1919-1932) e o feminino, como em “Mulher grávida” (1919-1932) e “Mulher saindo da banheira” (fragmento), 1919-1932.

 

O Modernismo é o momento da instituição de uma nova identidade nacional, por meio do abandono do academicismo que marcou a arte brasileira no período do Império e da Primeira República até 1922, da exploração de novas temáticas, que buscam a composição do caráter nacional, e de técnicas artísticas.

 

Nas obras de Carlos Prado, “Varredores de rua” (Os garis), 1935, Roberto Burle Marx, “Fuzileiro naval” (1938) e “Vendedora de flores” (1947), obra doada ao museu durante a SP-Arte/2015, estão narradas à realidade do povo diante das injustiças do país, assim como Candido Portinari, com “São Francisco” (1941) e Maria Auxiliadora da Silva, com “Capoeira” (1970), que narram traços da cultura popular brasileira.Nomes referenciais do movimento trazem retratos de figuras importantes do mesmo. É o caso do “Retrato de Tarsila”, de Anita Malfatti, e o “Retrato de Assis Chateaubriand”, criador do MASP, por Flávio de Carvalho.

 

As marcas dos intensos conflitos sociais e políticos do início do século 20 estão nas obras do pintor e muralista mexicano Diego Rivera, “O carregador” (Las Ilusiones), 1944, e “Guerra” (1942), de Lasar Segall, imigrante judeu da Lituânia que se muda para o Brasil no início do século 20. Como é o caso também do pintor ítalo-alemão Ernesto de Fiori, que deixa a Alemanha fugindo da repressão nazista e se torna um nome influente do modernismo brasileiro dos anos 1930 e 1940. Do artista, a mostra apresenta a obra “Duas amigas” (1943).Um dos artistas mais importantes do modernismo brasileiro, o escultor de origem italiana Victor Brecheret, criador do “Monumento às Bandeiras”, marco das celebrações do quarto centenário da cidade de São Paulo, está representado por seu “Autorretrato” (1940).

 

A criação de um acervo fotográfico também tem sido uma constante na história do museu, que as sistematizou, entre 1991 e 2012, por meio das doações da coleção Pirelli MASP, com trabalhos de fotógrafos brasileiros ou que possuam ligações com o Brasil. É o caso da fotógrafa de origem suíça Claudia Andujar, cuja série “Yanomami” (1974), feita a partir de longos períodos de imersão nesta cultura indígena, dialoga na mostra com a fotografia de João Musa, Barbara Wagner, Miguel Rio Branco e Luiz Braga.Movimento fundamental para a elevação da fotografia à categoria de arte, o Foto Cine Clube Bandeirante, fundado em 1939, fomentou e divulgou a obra de autores como Geraldo de Barros, “Menina do leite” (1946), e Antonio Ferreira Filho, “Naquele tempo…” (sem data).

 

Os desenhos de Albino Braz, parte do núcleo de 102 obras doadas ao MASP em 1974 pelo psiquiatra Osório César, foram realizados por pacientes do Hospital Psiquiátrico do Juquery, no contexto da Escola Livre de Artes Plásticas. Outrora consideradas “arte dos alienados”, essas obras foram reclassificadas e, enquanto arte brasileira, receberam sua primeira exposição no Museu em “Histórias da Loucura: Desenhos do Juquery”.

 

Artistas contemporâneas também integram a mostra, reforçando o caráter do museu em estar aberto a novas mídias, suportes e linguagens da arte. Uma sala apresenta o vídeo “Nada É” (2014), do artista Yuri Firmeza. Pertencente à série “Ruínas”, o vídeo mostra diferentes momentos da história da cidade de Alcântara, no Maranhão, e a documentação da “Festa do Divino”. Trabalho (2013-16), de Thiago Honório, é uma instalação que se apropria de ferramentas recebidas como presente de operários durante a reforma de um espaço no qual o artista participava de uma residência artística, transformando-as em esculturas que metaforizam o corpo dos trabalhadores.A mostra se encerra com a instalação de Nelson Leirner, “Adoração” (Altar para Roberto Carlos), 1966, que remete a uma nova forma de sagrado nos dias de hoje.

 

 

 

De 08 de fevereiro a 10 de abril.

 

Cores de Robert Capa

08/fev

A exposição “Capa em Cores”, cartaz do Oi Futuro, Praia do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta uma faceta menos conhecida do fotógrafo Robert Capa, mas tão fascinante quanto, exibindo uma retrospectiva inédita das imagens coloridas do famoso profissional. Robert Capa foi um dos mais célebres fotojornalistas do século XX. Iniciou sua carreira em 1938, cobrindo na China a guerra contra o Japão. Morreu em 1954 cobrindo a Guerra do Vietnã, ao ser fatalmente atingido.

 

O acervo de cerca de 140 fotografias, feitas com filmes Kodachrome e Ektachrome, inclui retratos de grandes nomes do cinema, da moda e da arte como Picasso, Ava Gardner, Capucine, Humphrey Bogart, Hemingway, Ingrid Bergman e Roberto Rossellini. Ícone da fotografia mundial, o húngaro Robert Capa ganhou fama com seus registros de guerra em preto em branco. A exposição “Capa em Cores”, exibe trabalhos menos divulgados fotógrafo. A partir de 1941, Capa usou regularmente filme colorido, mas ao longo dos anos seu trabalho em cores foi praticamente esquecido. Com curadoria de Cynthia Young, a mostra inclui publicações contextuais e documentos pessoais.

 

Além das imagens, a mostra apresenta objetos e registros pessoais como cartas, revistas que publicaram as suas fotos e até o áudio de uma entrevista – a única gravação existente da voz dele. Entre as cartas, várias correspondências com a equipe da agência Magnum sobre as suas coberturas fotográficas; com o irmão, que o ajudava a vender as fotos, e, em especial, uma carta para a mãe contando sobre a vida em Londres, que revela o lado bem-humorado e divertido do fotógrafo.

 

“Capa em Cores” foi organizado pelo International Center of Photography se tornou possível graças ao Comitê de Exposições do ICP e graças ao Departamento de Assuntos Culturais da Cidade de Nova Iorque em parceria com sua Câmara Municipal. Inaugurada em janeiro de 2014, em NY, a exposição já foi exibida em Budapeste, Tours, Lille e Madrid, chegando agora ao Rio de Janeiro.

 

 
Até 09 de abril.

Noções de gênero

07/fev

A exposição “Almofadinhas”, na galeria GTO, Sesc Palladium, Centro, Belo Horizonte, MG, abriga três jovens artistas contemporâneos. Aexibição nasceu do encontro de três artistas homens (Fábio Carvalho, RJ, Rick Rodrigues, ES e Rodrigo Mogiz, MG) de gerações diferentes e localidades e estados de origem também distintos,que se dedicam a trabalhos no território do sensível e do delicado, tendo o bordado – mesmo que não exclusivamente – como um dos meios de suas produções artísticas.

 

A curadoria é de Ricardo Resende, especialmente convidado para se juntar aos “Almofadinhas”. Resende, que foi diretor geral do Centro Cultural São Paulo, atualmente está no Museu do Bispo do Rosário no Rio de Janeiro, além de já ter realizado inúmeras e importantes curadorias e ter passado por outras instituições como o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC-USP;Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM-SP; Funarte; e Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, CE. Trabalhou também com o “Projeto Leonilson”, que como Bispo do Rosário é outro expoente e importante artista ligado às questões do bordado na arte contemporânea brasileira.

 

Os três artistas se apresentam pela primeira vez juntos depois de muitas conversas à distância, por meio das redes sociais, sobre as afinidades conceituais e imagéticas de suas obras e como poderiam fazer algo coletivamente. A partir daí nasce o termo “Almofadinhas”, por meio da descoberta de um texto que relata a origem da expressão, que comumente ficou conhecida para designar pejorativamente homens ricos, sofisticados e muito bem vestidos. Ocorreu em 1919, no auge da Primeira República, em Petrópolis, RJ,uma reunião de “rapazes elegantes e efeminados” para definir quem era o melhor na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa especialmente para a ocasião. Tal episódio criou tanto alvoroço que acabou sendo criado este termo para designar, talvez com um certo grau de “revolta”, o ócio e ousadia desses rapazes.

 

Os “Almofadinhas” deixaram para trás a praxe que determinava que os homens trajassem roupas escuras, ostentassem barbas e bigodes espessos, destacando sua virilidade, competência e um espírito de liderança nato, optando por roupas mais leves e de cores mais claras, personificando um novo homem do pós‐guerra, em harmonia com um crescente sentimento de “viver a vida intensamente” daquele período.

 

É a partir daí que nasce em Fabio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz o conceito “Almofadinhas” ou como melhor eles definem, a entidade “Almofadinhas”, que parte desta (ainda) surpresa de se ver homens que bordam, mas que se pesquisarmos mais a fundo, descobriremos que muitos homens estão ligados a esta atividade, que acabou sendo associada em nossa cultura ocidental patriarcal, ao trabalho artesanal feminino e doméstico. Dessa forma os três artistas provocam a tradição, trazendo o bordado uma vez mais para o campo da arte contemporânea, ampliando as discussões sobre questões de gênero, afetividade e sexualidade.

 

Os artistas apresentam cerca de 15 conjuntos de obras de diferentes momentos de suas trajetórias, além de trabalhos inéditos feitos especialmente para o projeto, que vão desde almofadas bordadas a trabalhos suspensos e de parede onde o têxtil está sempre presente em diversos formatos, apresentando figuras masculinas, pássaros, flores, armas de fogo, dentre outras iconografias.

 

No período final da exposição estão previstos o lançamento do catálogo da exposição “Almofadinhas”, com um bate papo com os artistas e o curador, no dia 22 de março, às 19hs, além de uma oficina de bordado só com homens, no dia 24 de março, a partir de 15hs.

 

 

De 16 de fevereiro até 26 de março.

Cícero Dias em Brasília

06/fev

O Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília, SCES Trecho 2, Lote 22 – Asa Sul, DF,apresenta a exposição “Cícero Dias – Um Percurso Poético”. A mostra tem curadoria de Denise Mattar e curadoria honorária de Sylvia Dias, filha do artista, e produção da Companhia das Licenças em parceria com a Base7 Projetos Culturais. Trata-se do conjunto da obra de Cícero Dias, contextualizando sua história e evidenciando sua relação com poetas e intelectuais brasileiros e sua participação no circuito de arte europeu. Assim a mostra, além das obras, apresenta cartas, textos e fotos de Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Murilo Mendes, José Lins do Rego, Mário Pedrosa, Pierre Restany, Paul Éluard, Roland Penrose, Pablo Picasso, Alexander Calder, entre outros. Em 1938, o pintor pernambucano Cícero Dias foi definido como um “selvagem esplendidamente civilizado” pelo então crítico de arte francês André Salmon, que parafraseava um poema de Verlaine para Rimbaud. A definição, realizada após a primeira mostra do artista em Paris, serviu perfeitamente para descrever sua trajetória nas artes.

 

 

A mostra

 

A exposição traz um panorama de toda produção do artista, dividida em três grandes núcleos que delineiam seu percurso poético. São eles: Brasil, Europa e Monsieur Dias – Uma vida em Paris – cada um deles, por sua vez, dividido em novos segmentos, cuja leitura não deve ser realizada de modo estanque, mas entrecruzada e simultaneamente.

 

 

Brasil

 

A mostra é aberta pelo subnúcleo “Entre Sonhos e Desejos”, que traz um conjunto de 30 aquarelas produzidas entre 1925 e 1933, todas bastante diversas do que era produzido na época. São trabalhos que emocionam pela peculiaridade, sendo ao mesmo tempo líricos, agressivos, caóticos, sensuais e poéticos.O núcleo é encerrado com a sequência “E o Mundo começava no Recife…”, que traz um conjunto de obras que fizeram um contraponto às lembranças rurais, mostrando as recordações urbanas do jovem Cícero no Recife. As casas coloniais debruçadas para o mar, os sobrados e seus interiores, os jardins com casais românticos, e as alcovas – com amores mais carnais. A mudança da aquarela para o óleo interferiu na dinâmica da produção do artista, tornando-a mais narrativa, mais estática e mais bem construída. Ele produziu obras excepcionais, entre elas Sonoridade da Gamboa do Carmo e Gamboa do Carmo no Recife.

 

 

Europa

 

O núcleo é anunciado pelo segmento “Entre a Guerra e o Amor”, que reúne majoritariamente reproduções de fotos, cartas, documentos, além de desenhos e aquarelas, de pequeno formato, realizadas por Dias durante a II Guerra Mundial, em condições precárias. São testemunhos das suas vivências no conflito, e também de seu amor por Raymonde, que se tornaria sua mulher.Perseguido pela ditadura de Vargas, Dias chegou a Paris em 1937 e logo integrou-se à cidade, cujo ambiente artístico era marcado pela forte presença dos surrealistas e muito mais aberto do que o Brasil à arte instintiva e à negação da razão. Poucos meses após a sua chegada, o artista apresentou uma exposição na Galerie Jeanne Castel, com obras trazidas do Brasil e outras já pintadas em Paris. Sua recepção foi um sucesso de público, de crítica e de vendas.“Cícero Dias, mestre de uma paleta mais nuançada que abundante, ansioso pela fantasia das cores, deseja também, como um poeta, expressar a natureza de sua terra natal. Em todos os elementos, confirma tudo aquilo que o folclore nacional despertou em sua obra. Podemos dizer que é selvagem? Talvez. Mas, então, se o admitirmos, seremos forçados a considerar esse ‘selvagem esplendidamente civilizado’, de que Rimbaud nos fala. Cícero Dias não irá decepcionar os sonhadores que não desejam tirar os pés do chão. Os surrealistas encontrarão alguém para conversar”, afirmou na ocasião o crítico André Salmon.Perseguido em Paris, Dias seguiu para a capital portuguesa, onde sua obra sofreu uma mudança radical. Seu trabalho tornou-se eufórico e selvagem, exorcizando os fantasmas da guerra ainda não terminada. Este momento de sua produção define osegmento “Lisboa – Novos Ares”.“Nesse período Cícero Dias parece saltar sobre nós, ele nos sacode em telas que fariam inveja aos ‘fauves’, pela audácia e pela novidade das buscas cromáticas, dos traços ousados e dos temas irreverentes, irônicos e provocativos. Títulos ambíguos completam as obras: Mamoeiro ou dançarino?, Galo ou Abacaxi? Ele simplifica o desenho, usa pinceladas brutas, cores inusitadas e estridentes, e tonalidades intensas e brilhantes. Tudo grita e desafia!”, destaca a curadora.
Ainda na Europa, Dias deu início à sua despedida da figuração, em um trabalho que ficou conhecido como fase vegetal, retratada na exposição pelo subnúcleo “A Caminho da Abstração”. O artista criou múltiplas imagens superpostas a partir da vegetação, incorporando novos elementos plásticos e borrando fronteiras entre figuração e abstração.Dias passou então a trabalhar com formas curvas e sensíveis, abrindo o caminho para a abstração plena, pintando telas rigorosamente geométricas e tornando-se o primeiro artista brasileiro a trabalhar com essa vertente. Sua produção deste período está reunida no segmento “Geometria Sensível”.Em 1948, Cícero veio para o Brasil para executar uma série de pinturas murais abstratas, consideradas as primeiras da América Latina. O trabalho foi realizado na sede da Secretaria de Finanças do Estado de Pernambuco, em Recife, e mais uma vez, causou intensa polêmica.

 

 

Monsieur Dias – Uma vida em Paris

 

O núcleo Monsieur Dias, como é conhecido Cícero Dias na França, abre com o segmento “Abstração Plena”, conjunto de obras nas quais o artista abandona as curvas e as cores suaves. Longe do Concretismo e da proposta de supressão da subjetividade, o abstracionismo de Dias entretanto, é vibrante, quente e luminoso, mais próximo de Kandinsky. Na Europa, seu trabalho foi acolhido com entusiasmo, ele passou a integrar o Grupo Espace e a expor na importante galeria Denise René.Avesso a escolas e fiel a si próprio, Cícero Dias desenvolveu nos anos 1960, paralelamente à sua pesquisa geométrica, uma série chamada “Entropias”, nas quais deixava a cor escorrer, misturar-se, e esvair-se. A série, que dá nome a mais um dos subnúcleos da mostra, é apresentada por um pequeno grupo de obras na exposição.“Menos do que tachismo, ou abstracionismo informal, a pesquisa parece um despudorado mergulho nas possibilidades do uso da tinta; sem retas, sem linhas marcadas, sem nenhum esquema formal a cumprir – o fascínio da liberdade, do deixar-se ir”, afirma a Denise Mattar. “Não por acaso ele as chamava de entropias, uma medida de desordem das partículas em um sistema físico, o movimento natural que leva todas as coisas de volta à terra: o carro abandonado que vira ferrugem, o gelo que se dissolve na água, os mortos que retornam ao pó”, completa.A exposição é encerrada por um conjunto de sete obras produzidas pelo artista na década de 1960, quando retornou à figuração, trazendo de volta um imaginário lírico. Os trabalhos de “Nostalgia” remetem às lembranças de sua juventude no Recife. As telas “Seresta” e “Nostalgia” compõem este segmento e são algumas das mais importantes desse período.
Cícero Dias – Um percurso poético traz ainda alguns subnúcleos complementares: “Memórias – Cícero e seus amigos” e “Teatro”. Por fim, o segmento voltado para o teatro trará originais de alguns dos figurinos realizados por Dias para importantes espetáculos, tal como o balé Maracatu de Chico Rei, de Francisco Mignone, em 1933; e o balé Jurupari, de Villa-Lobos, em 1934.

 

 

De 08 de fevereiro a 03 de abril.

Debate na Bahia

O tema “Artes Visuais”será debatido na próxima edição de “A sopa de Maria”, na próxima terça-feira, dia 07, às 17hs, na parte externa do Palacete das Artes, Rua da Graça, 289, Graça, Salvador, BA,compondo a programação gratuita do projeto “Tropicália: Régua e Compasso”. Neste encontro haverá um bate-papo sobre as Artes Visuais no período em que a cidade de Salvador vivia a efervescência cultural dos anos 1960, antes da cristalização do movimento musical no eixo Rio-São Paulo. Participarão compartilhando suas vivências e experiências: Renato da Silveira, artista plástico e gráfico, professor da UFBA e doutor em Antropologia pela École dês Hautes Études em Sciences Sociales de Paris; Paulo Dourado, diretor teatral, com trajetória como professor na Escola de Teatro da UFBA e membro da Associação Amigos de Smetak; a galerista Solange Bernabó, Sossó, filha e curadora das obras do artista Carybé; e Carla Zollinger, doutora Arquiteta pela Escola Técnica Superior D’Arquitectura de Barcelona, Universitat Politècnica de Catalunya ETSAB-UPC.

 

 
A sopa

 

Além do bate-papo descontraído, “A Sopa de Maria” oferece para o público uma sopa, que nesta edição será feita pela chefe Andréa Nascimento. Ela foi a fundadora da primeira creperia da cidade de Salvador e vivenciou importantes experiências formativas, com destaque para workshops com o chef Alex Atala e imersão gastronômica pelo Novo México. Ao longo dos anos, acumulou prêmios. Atua há 22 anos na área de food service.
Exposição

 

Além das outras ações do projeto, o público poderá conferir,na Sala Contemporânea Mario Cravo Jr, uma exposição com peças de artistas da música, dança, e artes visuais em evidência nos anos 1960, como Lina Bo Bardi, Walter Smetack, Yanka Rudzka, Carybé, Juarez Paraíso, Lênio Braga, Jenner Augusto, Pierre Verger, além de fotos dos acervos de Lia e Silvio Robatto, recentemente doados ao Centro de Memória da Bahia.

 

O “Tropicália: Régua e Compasso” foi idealizado por Fernanda Tourinho, diretora da FUNCEB e a exposição montada no Palacete das Artes tem curadoria de Murilo Ribeiro, diretor do espaço administrado pelo IPAC.O projeto foi realizado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, FUNCEB, em parceria com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural, IPAC, – ao qual pertence o Palacete das Artes -, e com a Fundação Pedro Calmon, FPC, entidades vinculadas à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, Secult BA. A ação desta terça-feira, foi desenvolvida pela Coordenação de Artes Visuais/Dirart da Funceb.

 
Programação até março: terças, quartas e quintas-feiras sempre a partir das 17hs.

 

– A Sopa de Maria: Terças-feiras, 7 e 14/02, 14 e 28/03

 

– Uma Ideia na Cabeça:Quarta-feiras, até 30/03

 

– Essa Noite se Improvisa: Quintas-feiras, 9/02, 23 e 28/3

 

– Seminário e Lançamento de revista: dias 29/30/03

Mercado de Arte Moderna

03/fev

O MAM-SP, Museu de Arte Moderna, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, comemorando 70 anos da abertura da Galeria Domus em 5 de fevereiro de 1947, apresenta a exposição “O Mercado de Arte Moderna em São Paulo: 1947-51”,  exibindo obras do acervo cujos autores frequentaram a galeria. Em cinco anos, a Domus organizou 91 exposições, sendo pioneira em privilegiar artistas do modernismo brasileiro e da geração que os sucedeu, como indicava sua exposição inaugural.

 

Transformada em ponto de reunião de intelectuais e artistas, favoreceu a mobilização da classe na divulgação da produção artística, estimulando estratégias de publicidade e foco da crítica, como o lançamento da revista Artes Plásticas. Na exposição “Pintura Paulista” no Rio de Janeiro em 1949, mobilizou 188 obras, postas à apreciação da imprensa e do público carioca – iniciativa destinada a levar os artistas para fora de seu território e ampliar o mercado. Dos participantes dessas exposições, a maioria voltou a se apresentar em individuais ou em grupos, como ocorreu com Alfredo Volpi, Mario Zanini, Rebolo Gonsales e Paulo Rossi Osir.

 

 

Estrangeiros em trânsito ou vindos definitivamente para o Brasil, como Danilo Di Prete, Gerda Brentani, Samson Flexor e Anatol Wladyslaw, buscaram na Domus o primeiro contato com o público paulistano. Raphael Galvez e Emídio de Souza tiveram na galeria suas primeiras exposições individuais; Lívio Abramo, foi frequente e próximo da casa desde a primeira exposição; Oswaldo Goeldi lá mostrou seu primeiro conjunto de obras em São Paulo.

 

 

Em homenagem aos críticos atuantes nesse período, Sérgio Milliet é mostrado na faceta menos conhecida de pintor. As iniciativas da Domus lograram conjugar o propósito comercial com a repercussão crítica, tornando mais conhecidos seus artistas e provocando a discussão das características da arte paulista naquele período. Esta exposição, recolocando em perspectiva histórica esse conjunto de obras, estimula a análise de sua significação e potência no panorama da arte brasileira.

 

 

De 08 de fevereiro a 30 de abril.

Fotos na Marcelo Guarnieri/Rio

A Galeria Marcelo Guarnieri, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 9 de fevereiro, a exposição “Série Azul – Caretas de Maragojipe”, com trinta fotografias sobre o Carnaval feitas por João Farkas, – pesquisador da cultura popular – em Maragojipe, pequena cidade no recôncavo baiano. As obras do artista integram importantes coleções no Brasil e no exterior em instituições como a Maison Européenne de la Photographie, na França; International Center of Photography (ICP), nos EUA; Museu de Arte de São Paulo, MASP;  Museu de Arte do Rio, MAR; Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM-BA, e Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto.

 

Esta pesquisa para a série fotográfica desta exposição começou há três anos, quando João Farkas conheceu a tradicional festa de carnaval de Maragojipe, que recebeu o título de Patrimônio Imaterial do Estado, por manter, até hoje, a tradição centenária dos “caretas”, pessoas que se fantasiam com roupas coloridas e máscaras de pano que cobrem todo o rosto, com duas grandes orelhas pontudas para o alto. “Essa era a forma das pessoas curtirem o carnaval incógnitas. Esta maneira de brincar o carnaval acontecia em toda a Bahia, há registros em Salvador, mas com o tempo a tradição foi se perdendo e só se manteve nessa pequena cidade do recôncavo baiano”, conta João Farkas, que em seu trabalho pesquisa a cultura popular, já tendo lançado livros sobre a cidade de Trancoso e sobre a Ocupação da Amazônia.

 

João Farkas ressalta que as fotografias que serão apresentadas na exposição “registram o carnaval popular em toda exuberância criativa, que é própria do brasileiro em geral e dos baianos especialmente”. Nas fotos, os “caretas” aparecem em um fundo azul, que foi descoberto pelo fotógrafo na cidade. O muro, de um azul intenso, virou uma espécie de estúdo fotógrafico, onde ele registrou os “caretas” que passavam durante o carnaval. Por isso, a série foi intitulada “Caretas de Maragojipe – Série Azul”. As fotos, que medem 60 cm X 40 cm cada, são impressões digitais de altíssima qualidade em jato de tinta, sobre alumínio, garantindo sua permanência e conservação.

 

Durante três anos, o fotógrafo frequentou e registrou o carnaval de Maragojipe, até chegar nas fotos que serão apresentadas na exposição. “No inicio registrei toda riqueza e variedade da festa em Maragojipe, mas aos poucos fui percebendo e focando nos ‘caretas’ e, finalmente, no grande insight percebi tratar-se de retratos mascarados, com suas expressões e personalidades, num jogo fascinante de simultaneamente esconder e revelar”, diz.

 

Com um aspecto visual riquíssimo, o que chama a atenção de João Farkas é que “essa tradição é o reconhecimento de que criatividade e arte não são privilégio dos ‘artistas’ mas são características universais latentes em todos os seres humanos”. De acordo com o curador Diógenes Moura: “este trabalho mostra uma tradição popular registrada anteriormente por fotógrafos como Pierre Verger e Marcel Gotherot, mas agora resignificada pelas informações culturais contemporâneas sem perder suas raízes”. O também curador Paulo Herkenhoff considera que “esta Série Azul sintetiza a expressão da cor do século XXI”.

 

 

 

Sobre o artista

 

João Farkas nasceu em São Paulo, em 1955, e vive e trabalha entre São Paulo e Salvador. Formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo e continuou sua formação como fotógrafo em Nova York, no International Center of Photography e na School of Visual Arts. Seu trabalho-documento “Retratos da Ocupação da Amazônia” recebeu a bolsa Vitae e o Prêmio Aberje, em 1988. Seu trabalho “De Trancoso ao Espelho da Maravilha” que retrata a vida naquele vilarejo bahiano antes da invasão turística, foi objeto de publicação em 3 livros: “Museu Aberto do Descobrimento” e Nativos e Biribandos” e “Trancoso”, publicado pela Editora Cobogó, em 2016. Publicou, ainda, o livro “Amazônia Ocupada” (2015) coeditado e apresentado por Paulo Herkenhoff. Dentre suas exposições mais recentes estão: “A cor do Brasil” (2016), no Museu de Arte do Rio (MAR); “Amazônia”, na Galeria Marcelo Guarnieri, São Paulo, e no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, ambas em 2015; “Amazônia ocupada”, no SESC Bom Retiro, em São Paulo, também em 2015; “Histórias Mestiças” (2014), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; “Órbita” (2014), na Galeria Marcelo Guarnieri, em Ribeirão Preto, entre outras. Em 2015 o fotógrafo doou a sua documentação sobre a Vila de Trancoso onde foi instalado um Memorial do Povo, da Paisagems e da Cultura de Trancoso.

 

 

 

Até 11 de março.

Mostra de German Lorca

02/fev

Um dos precursores da fotografia moderna brasileira, German Lorca apresenta suas experimentações em exposição “Arte Ofício/Artifício”, individual no Sesc Bom Retiro, São Paulo, SP. Contador de formação, German Lorca teve seu primeiro contato com a fotografia enquanto estudava contabilidade. E foi um de seus colegas de classe, que trabalhava em uma loja de artigos fotográficos, que vendeu para German sua primeira câmera. Entusiasmado com sua nova máquina, o filho de imigrantes espanhóis começou a fotografar os aniversários dos filhos, piqueniques, passeios e eventos de sua família. Um tio de sua esposa, atento ao novo interesse do jovem German, o incentivou a estudar fotografia e procurar um curso para sua formação. Há mais de 70 anos, quando Lorca começou a buscar escolas de fotografia, os cursos oferecidos eram extremamente técnicos, porém German estava interessado em investigar as possibilidades da linguagem e uma das alternativas para discutir o tema, na época, eram os fotoclubes. Em 1947, Lorca entrou para o Foto Cine Club Bandeirantes, onde conheceu o artista Geraldo de Barros, que incentivou as experimentações feitas por German e pelo grupo de fotógrafos de sua geração. Entre eles estavam Thomaz Farkas e Eduardo Salvatore, que viriam a se tornar, ao lado de Lorca, os precursores da fotografia modernista brasileira. Logo, a fotografia passou a ser o ofício do artista, que, influenciado pelos seus colegas fotoclubistas, aplicou suas experimentações também no seu trabalho com publicidade e posteriormente nos registros em cores. O artista, de 94 anos, realizou fotografias para os mais variados contextos alcançando resultados que denunciam sua capacidade de propor, para além do registro da imagem estática e das histórias que o momento captado pode sugerir, discussões sobre a linguagem, uma premissa do modernismo que está impregnado em sua obra fotográfica.

 

 

Sobre a exposição

 

Com curadoria de Eder Chiodetto, e organizada em módulos que nomeiam a exposição, “Arte Ofício/Artifício” coloca em uma linha do tempo as fotografias de Lorca desenhando conceitualmente os desdobramentos de sua pesquisa. No módulo Arte, a investigação da linguagem se apresenta através do experimentalismo e a fotografia extrapola as possibilidades do registro formal em preto e branco. Em Ofício, a fotografia como laboro de Lorca aparece na mostra. Atento às necessidades do mercado de publicidade que crescia nos anos 1950 em São Paulo, German inaugurou seu estúdio de fotografia e passou a realizar trabalhos para marcas de renome que podem ser vistas na exposição. Por fim, no módulo Artifício, Lorca apresenta pela primeira vez seus experimentos em cores. Realizados desde a década de 1970, esta parte da exposição revela como German continua atento às novas possibilidades da linguagem e reafirma a atemporalidade de sua obra.

 

“As coisas acontecem e você faz as coisas acontecerem. Fazer acontecer é produzir uma foto e quando acontece você tem que estar com a máquina pronta no momento, como dizia o francês (Henri) Cartier-Bresson ‘o minuto decisivo’, mas eu digo o seguinte, você faz acontecer a foto, você constrói a foto”, German Lorca.

 

 

Até 26 de fevereiro.