História do funk no MAR

06/out

Música e artes visuais se unem em duas mostras que aportaram no Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, que recebeu a exposição “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade”, coletiva que conta a história do funk carioca, enquanto um casarão no bairro sedia “Ocupação Iboru”, desdobramento do álbum “Iboru”, de Marcelo D2.

Com mais de 900 obras, a principal mostra do MAR em 2023 recria a história do gênero musical que a batiza, indo dos bailes black da década de 1970 aos dias de hoje. São fotografias, pinturas, objetos, vídeos e instalações de mais de cem artistas, entre eles nomes como Hebert, Vincent Rosenblatt, Blecaute, Maxwell Alexandre, Panmela Castro, Gê Viana e Daniela Dacorso, dentre muitos outros.

A curadoria é de Marcelo Campos, curador-chefe do MAR, Amanda Bonan, gerente de curadoria do MAR, Dom Filó e Taísa Machado, com um time de consultores: Deize Tigrona, Sir Dema, Marcello B Groove, Tamiris Coutinho, Celly IDD, Glau Tavares, Sir Dema, GG Albuquerque, Leo Moraes e Zulu TR.

Na abertura, recebeu uma série de atrações, como apresentação de dança do Afrofunk Rio e show com MC Cacau cantando MC Marcinho.

Conversa no CCBB RJ

04/out

É amanhã, quinta-feira, dia 05 de outubro, às 18h, a conversa com Evandro Teixeira, um dos principais nomes do fotojornalismo brasileiro, o curador Sergio Burgi e o ensaísta Alejandro Chacoff, no Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. O evento é gratuito. A conversa integra a mostra “Evandro Teixeira, Chile, 1973″, que pode ser vista até o dia 13 de novembro.

A conversa será em torno da impactante série de imagens realizadas por Evandro Teixeira no Chile, em 1973, poucos dias após o golpe militar de 11 de setembro. Evandro viajou para Santiago, enviado pelo Jornal do Brasil, e revela, através de suas fotos, uma cidade sitiada, ocupada pelas forças militares. Neste período, também registrou o falecimento do grande poeta chileno Pablo Neruda, sendo o único fotógrafo do mundo a fotografá-lo logo após a sua morte, ainda na clínica onde faleceu, perpassando pelo velório em sua residência depredada e o enterro com grande participação popular, documentando a primeira grande manifestação contra o regime do general Augusto Pinochet.

A exposição no CCBB RJ apresenta cerca de 160 fotografias de Evandro Teixeira (1935), baiano radicado no Rio de Janeiro, que fez toda a sua carreira na imprensa carioca, onde atuou por quase seis décadas, sendo 47 anos no Jornal do Brasil. Com curadoria de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles, a mostra chega ao Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro depois de ter sido apresentada com enorme sucesso no Instituto Moreira Salles Paulista, e integra a parceria firmada entre as duas instituições em 2022. A sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro está fechada para reformas. A realização na cidade tem patrocínio do Banco do Brasil. A mostra reúne importantes fotografias em preto e branco, com destaque para a cobertura internacional do golpe militar no Chile em 1973. No país andino, Evandro Teixeira produziu imagens impactantes do Palácio De La Moneda bombardeado pelos militares, dos prisioneiros políticos no Estádio Nacional em Santiago e do enterro do poeta Pablo Neruda.

Além dos registros feitos no Chile, a mostra traz imagens produzidas por Evandro Teixeira durante a ditadura civil-militar brasileira, em um diálogo entre os contextos históricos dos dois países. Em monitores dispostos pelo espaço expositivo, também são apresentados trechos de filmes que documentam o período, como “Setembro chileno”, de Bruno Moet, e “Brasil, relato de uma tortura”, de Haskell Wexler e Saul Landau. A mostra apresenta, ainda, livros, fac-símiles e outros objetos, como máquinas fotográficas e crachás de imprensa.

Exposições simultâneas

Segue em cartaz até o dia 21 de outubro, três individuais simultâneas na Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. No térreo, no grande cubo branco, está “Pedra Latente”, do celebrado artista Rodrigo Braga; no segundo andar expositivo estão as esculturas em aço pintado com tintas automotivas de Michelle Rosset – que apresenta um vídeo no contêiner no terraço – e as pinturas de Esther Bonder.

Após cinco anos sem expor no Rio, desde que se mudou para Paris no final de 2018, Rodrigo Braga mostra agora obras inéditas e recentes, em desenhos e fotografias que aprofundam e radicalizam sua pesquisa iniciada em 2017, no Cariri cearense e nas regiões de pedras calcárias na França. O artista discute uma saída para além das dicotomias – preto e branco, direita e esquerda, positivo e negativo. O texto crítico é de Bianca Bernardo.

Em “Pequeno Ato”, Michelle Rosset criou especialmente para a mostra quatro esculturas em aço – pintadas, cada uma, em cores primárias: amarelo, vermelho, azul e preto com tinta automotiva, resistente ao tempo -, e o ponto de partida foi a “Carta a Mondrian”, escrita por Lygia Clark (1920-1988), em 1959, quinze anos após a morte de Piet Mondrian (1872-1944). Michelle Rosset buscou em seu processo criativo fundir aspectos dos trabalhos dos dois grandes artistas. Assim, eladobrou incontáveis vezes folhas de papel quadradas em busca de “sair das formas retas para as curvas”.

Em “Sob a luz de outros sóis”, com pinturas recentes de Esther Bonder, a artista exalta a natureza em paisagens luxuriantes. Esta é a primeira individual da artista na Anita Schwartz Galeria, e a curadoria é de Sandra Hegedus, e o texto crítico de Shannon Botelho.

Os Yanomamis por Claudia Andujar

19/set

Artista e ativista, Claudia Andujar nasceu na Suíça, em 1931, e cresceu na Transilvânia em uma família de origem judaica e protestante. Sobrevivente do holocausto, chegou ao Brasil em 1955, onde começou sua carreira como fotojornalista e artista, e se estabeleceu no país. A fotografia era o meio usado por ela para conhecer as pessoas e aprender sobre o novo país. Em 1971, encontrou os Yanomami pela primeira vez e decidiu passar mais tempo com eles.  “Sonhos Yanomami”, um dos últimos trabalhos realizados por Andujar a partir de seu acervo de imagens sobre o povo Yanomami, é o atual cartaz do Projeto Parede do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Portões 1 e 3, até 28 de janeiro de 2024.

Desde o primeiro contato com os Yanomami, Claudia Andujar voltou várias vezes para a região e lá permaneceu por longos períodos, desenvolvendo laços estreitos com seus membros, os fotografando em suas casas coletivas – chamadas “yano” – e os acompanhando na floresta para fotografar diversas atividades.

“Considero a série Sonhos Yanomami um turning point em minha experiência com os Yanomami. As imagens que compõem a série revelam os rituais xamanísticos dos Yanomami, sua reunião com os espíritos. A partir de sua criação, eu comecei a conceber uma interpretação imagética acerca dos rituais, fato que me deu acesso à genealogia do povo, aglutinando aspectos da cultura e dissolvendo as fronteiras entre os seres humanos, seus deuses e a natureza, integrando todos em um fluxo contínuo”, contou a artista em entrevista publicada na ocasião da exposição “Identidade”, exibida em 2005, na Fondation Cartier, em Paris.

A série, que acaba de ser integrada à coleção do MAM, é composta por 20 imagens geradas por meio da sobreposição de cromos negativos fotografados a partir de 1971. “Trata-se de uma obra do período maduro da artista, que já possuía grande intimidade com a cultura do povo que a acolheu. As imagens revelam algo dos rituais dos líderes espirituais Yanomami e a importância do sonho em sua cosmologia”, comenta Cauê Alves, curador-chefe do museu, em texto que acompanha a mostra.

O conjunto de imagens exibidos no Projeto Parede do MAM é, também, reflexo de um momento de respiro de Claudia Andujar e do povo Yanomami. Ao lado de outros ativistas, ela fundou em 1978 a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY) – conhecida como Comissão Pró-Yanomami. A Comissão, coordenada por ela, organizou a campanha pela demarcação do território Yanomami, a fim de garantir a preservação e a sobrevivência desse povo originário da Amazônia. A Terra Indígena Yanomami foi reconhecida pelo governo brasileiro em 1992, entretanto ela continua sendo invadida pelo garimpo ilegal que tem provocado centenas de mortes. Claudia Andujar fez da luta pela preservação do povo, da cultura e da terra Yanomami o trabalho de sua vida.

“A fotografia é minha forma de comunicação com o mundo. Um processo de mão dupla em que você recebe tanto quanto dá. Se o registro fotográfico de culturas pode ser considerado uma forma de compreensão do outro, eu acredito que com a série Sonhos eu consegui entender a essência do povo Yanomami”, afirmou Andujar na ocasião da mostra na Fondation Cartier.

Claudia Jaguaribe no Paço Imperial

06/set

 

A paisagem e o universo botânico entraram Cdesde cedo na vida de Claudia Jaguaribe, sendo um dos interesses prediletos de seu avô Francisco, geógrafo e autor de parte expressiva da cartografia brasileira. A atração precoce pelo tema foi determinante na trajetória da artista, que aguçou o seu olhar e se aprofundou na paisagem e nos aspectos da natureza. “Naturas: Assim eu vejo”, que inaugura no dia 09 de setembro, no Paço Imperial, curada por Heloísa Amaral Peixotoc e, permanecendo em exibição até 05 de novembro. A mostra reúne obras que fazem parte de uma pesquisa que se inicia com a série “Tudo é Sofia”, de 2004, e se estende a trabalhos mais recentes e inéditos, realizados com recursos de Inteligência Artificial em “Viveiro”, de 2023. Com uma agenda cheia tanto no âmbito nacional quanto internacional, tendo realizado projetos na Usina de Arte (Recife), exposições em São Paulo, além da participação este ano no Festival Off and On, Brasil Imprevisto, em Arles (França), onde expôs em um telão ao ar livre, Claudia escolheu a cidade do Rio para mostrar esse recorte de seus trabalhos antigos e mais atuais, totalmente voltados para questões ambientais. Ocupando as salas Amarela e Mestre Valentim, a exposição apresenta uma pesquisa dupla: uma visão particular sobre como retratar a paisagem e a natureza e as mudanças radicais que se operaram na fotografia em nossa cultura visual. As obras iniciais foram feitas de forma analógica, com uma simples câmera pinhole até as últimas, com fotografia digital, e, no seu estágio mais avançado, incluindo a IA. 

 

“Naturas, em latim, se refere à multiplicidade de naturezas que existe no mundo e ‘assim eu vejo’ ao meu modo de utilizar a fotografia como um meio de conhecimento e forma de expressão. Desde os ensaios iniciais percebi que precisava me apropriar da fotografia como um dos aspectos do processo criativo. A fotografia documental me serve como um banco de imagens, base para o desenvolvimento de outras linguagens. Cada novo projeto demanda uma abordagem própria, que envolve muitas camadas de produção”, afirma a artista.

 

“Ao propor um microcosmo idealizado, Claudia, de certo modo estaria buscando estabelecer uma relação entre a natureza, no sentido amplo, e natureza, no sentido mais interior e subjetivo. Também no tratamento das imagens desse conjunto, percebe-se uma atmosfera de caráter mais simbólico, tendendo para o ficcional, um interesse que irá intensificar mais adiante em projetos posteriores”, diz a curadora, Heloísa Amaral Peixoto.

 

Seu discurso no plano poético-visual, no exercício de sempre alargar as possibilidades formais, estabelece novos padrões de utilização do suporte fotográfico como, por exemplo, quando se aproxima de outras expressões artísticas, tais como a escultura.

 

Caudia Jaguaribe é representada no Rio de Janeiro pela Galeria Anita Schwartz.

 

 

Julia Kater na Simões de Assis

15/ago

No dia 15 de agosto a Simões de Assis, inaugura “À altura dos olhos”, a mais recente exposição individual de Julia Kater em Curitiba, PR. O trabalho de Julia Kater parte da linguagem fotográfica, mas foge dos formatos clássicos do suporte, haja visto que utiliza procedimentos como corte e sobreposição, criando diversas interferências e camadas nas imagens. A curadora Daniele Queiroz aponta no texto crítico que as escolhas “de Julia Kater em “À altura dos olhos” nos fazem lembrar constantemente que todo enquadramento é uma decisão narrativa e um modo de perceber o mundo. Cada gesto é não apenas discursivo, como também político”. Na ocasião da abertura haverá também uma visita guiada com a artista. A exposição vai até o dia 30 de setembro e exibe trabalhos mais recentes e inéditos de Julia Kater.

A fotografia possui como característica intrínseca um aguçado senso de armadilha. Ao enquadrar determinado evento com o aparelho óptico e conceber uma imagem, desavisados podem pensar que conseguiram capturar a chamada realidade. Por várias décadas, desde o surgimento da fotografia, esse foi o discurso que conduziu a trajetória dessa linguagem artística, inspirando e reforçando desde tendências ditatoriais a discursos humanistas. Não é o caso da pesquisa e trabalho de Julia Kater: em sua exposição “À altura dos olhos”, a artista visual desvia da arapuca quase irresistível de descrever os fatos e dar contornos fixos aos acontecimentos que são percebidos com sua câmera.

Não é que o fato não esteja ali. Kater registra momentos aparentemente singelos – e até mesmo banais: uma pessoa sentada de costas olhando para o horizonte, uma mesa cheia de copos e xícaras, uma árvore ou uma pedra, além de suas conhecidas paisagens. Mas é no trabalho de edição posterior à tomada da imagem que a artista demonstra profundo respeito e, até mesmo, admiração pelo enigma da linguagem fotográfica. São os recortes e novos enquadramentos que nos informam sobre a condição silenciosa da imagem: suas obras recusam-se a nos contar uma história totalizante, ao mesmo tempo que nos provocam a completar com nossos próprios sentidos o fio de Ariadne que ela apenas sugere.

As camadas e sobreposições propostas por Kater subvertem a fotografia de paisagem, tão cara à historiografia das artes. Partindo de cenas conhecidas como praias, nuvens e mares, é o gesto físico da artista que nos conta que a imagem não dá conta da realidade. O mapa não é o território, jamais será. Fazendo uso da precisão do estilete em imagens de grandes dimensões, ela inverte noções de céu e horizonte, embaralhando com isso a própria crença do que pensávamos ter visto inicialmente. As paisagens, antes calmas e tranquilizantes, tornam-se abstrações e ganham um caráter questionador, subjetivo e até mesmo filosófico. Junto com a artista, supomos e construímos mentalmente a paisagem que já nos habita em sonhos e devaneios, onde nada está fixo em um ponto e tudo pode acontecer a qualquer momento: o sol pode deslocar-se, a areia virar nuvem e as texturas se confundirem a ponto da abstração. É importante notar como os gestos se repetem e se acumulam, aproximando Kater do pensamento musical, com noções de ritmo e atrelado ao princípio da variação, primordiais ao contemporâneo. São os fragmentos embaralhados que nos conduzem a uma percepção outra, sensorial e mesmo espiritualizada, daquela paisagem que, a princípio, nos parecia tão familiar.    

Quando nos aproximamos das fotografias em menor formato, o silêncio faz-se ainda mais presente. Nem as obras – e, tampouco, a sequência determinada pela artista – nos contam uma história linear, fácil ou única. Kater também reenquadra e modifica as imagens feitas previamente. Se, anteriormente, nos deparamos com o procedimento de corte e justaposição, aqui percebemos a gestualidade do zoom ou close, estratégias comuns na fotografia e no cinema, linguagem na qual a artista também se inspira. E é por meio desses novos quadros que somos colocados de frente para uma silhueta, um contorno de pescoço ou um resto de cotovelo. Vestígios de corpos e estados de espírito. O céu parece se transformar até deixar o sol azul – ou seria apenas uma mancha no filme do negativo? Que mundo é habitado por essas imagens? Quando chegamos a cenas aparentemente “reais”, já estamos de tal forma contagiados que passamos a questionar: o que é, de fato, uma pedra? Qual a essência de uma árvore? E percebemos, como no poema de Szymborska, que essas respostas jamais serão fornecidas, menos ainda pela fotografia. Um dos grandes trunfos da artista é habitar esse silêncio e, mais que isso, reforçá-lo, apresentá-lo e, ao final, nos deixar sozinhos no embate com a própria imagem.

As escolhas expositivas de Julia Kater em “À altura dos olhos” nos fazem lembrar constantemente que todo enquadramento é uma decisão narrativa e um modo de perceber o mundo. Cada gesto é não apenas discursivo, como também político. Ao generosamente abrir as imagens para sua característica enigmática, a artista nos alimenta com pergunta: quando olho, o que vejo? Posso acreditar no que vejo? E, talvez, possamos também pensar: como completo aquilo que vejo? -, se é que seria possível completar.

Daniele Queiroz

Dos Brasis no Sesc Belenzinho

10/ago

A exposição “Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro” celebra negritudes e suas potências. Resultado de um trabalho desenvolvido pelo Sesc em todo Brasil, a mostra conta com sete núcleos temáticos, reunindo cerca de 240 artistas e coletivos negros, de todos os estados, sob curadoria de Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, No Sesc Belenzinho, São Paulo, SP, com período expositivo até 28 de janeiro de 2024.

“Brasil, meu nego, deixa eu te contar,

A história que a história não conta,

O avesso do mesmo lugar

Na luta é que a gente se encontra”

(História para Ninar Gente Grande. Estação Primeira de Mangueira, 2019).

Em 2019, a Estação Primeira de Mangueira levou para a avenida o samba “História pra ninar gente grande”, que tinha o objetivo de narrar as “páginas ausentes” da História do Brasil e repensar as narrativas oficiais que foram ensinadas ao longo de gerações. No desfile, o público viu passar as histórias de protagonistas negras e negros, num samba que cantou o país, reconheceu a pluralidade que o compõe e denunciou a falsa ideia de unificação nacional e o problema da história hegemônica.

Agora, em 2023, a centralidade do pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e lugares, é uma das principais premissas que guiam o processo curatorial da mostra “Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro”, a mais abrangente exposição dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no país.

A abertura da exposição, que ocupa diversos espaços no Sesc Belenzinho, aconteceu no dia 02 de agosto, em São Paulo, SP. A mostra segue aberta, com visitação gratuita, até 28 de janeiro de 2024. Depois, uma parte da mostra circulará em espaços do Sesc por todo o Brasil pelos próximos 10 anos. Realizada a partir de um trabalho em conjunto de analistas de cultura da instituição de todo o país, a exposição apresentará ao público trabalhos em diversas linguagens artísticas como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações, produzidos entre o fim do século XVIII até o século XXI por 240 artistas negros, entre homens e mulheres cis e trans, de todos os estados.

“Como uma instituição que tem na diversidade uma de suas principais marcas, o Sesc busca por meio de suas ações dar voz aos mais diversos segmentos sociais, estimulando o debate e ajudando a registrar a história e cultura de nosso povo em toda sua abrangência e riqueza. Dentro dessas premissas, o projeto “Dos Brasis” lançou um olhar aprofundado sobre a produção artística afro-brasileira e sua presença na construção da História da arte no Brasil. Um trabalho que contou com nossos analistas de cultura em todo o país, em um grande alinhamento nacional. A exposição “Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro” é a culminância desse processo e oferece ao público não só a oportunidade de conhecer a obra de artistas e intelectuais negros, como também de refletir sobre sua participação nos diversos contextos sociais”, disse o diretor-geral do Departamento Nacional do Sesc, José Carlos Cirilo.

“Em sintonia com os desafios da contemporaneidade, por meio dessa exposição o Sesc São Paulo, ao lado de seus parceiros institucionais, procura desconstruir e subverter as persistentes hierarquizações culturais enfronhadas nas diferentes esferas da sociedade brasileira. O combate ao racismo estrutural passa pela valorização de elementos relacionados à educação e à cultura para a diversidade, assim como pela visibilidade e protagonismo de pessoas negras e indígenas de modo a reforçar a empatia, a solidariedade e o respeito entre os diversos membros do corpo social”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.

Pesquisas em todo o Brasil

A ideia nasceu em 2018. Um projeto de pesquisa, fruto do desejo institucional do Sesc em conhecer, dar visibilidade e promover a produção afro-brasileira. Para sua realização, foram convidados os curadores Hélio Menezes e Igor Simões. Em 2022, o projeto passa a ter a curadoria geral de Simões, com os curadores adjuntos Marcelo Campos e Lorraine Mendes. Para se chegar a esse expressivo e representativo número de artistas negros, presentes em todo o território nacional, foram abertas duas importantes frentes. Na primeira, foram realizadas pesquisas in loco em todas as regiões do Brasil, com a participação do Sesc em cada estado, com o objetivo de trazer a público vozes negras da arte brasileira. Essas ações desdobraram-se em atividades e programas como palestras, leituras de portfólio, exposições, entre outros, com foco local. Vale ressaltar que esse processo teve uma atenção para que não se limitasse apenas às capitais do país, englobando também a produção artística da população negra de diversas localidades, como cidades do interior e comunidades quilombolas. A equipe curatorial pesquisou obras e documentos em ateliês, portfólios e coleções públicas e particulares, para oferecer ao público a oportunidade de conhecer um recorte da história da arte produzida pela população negra do Brasil e entender a centralidade do pensamento negro na arte brasileira. A segunda frente foi a realização de um programa de residência artística on-line intitulado “Pemba: Residência Preta”, que contou com mais de 450 inscrições e selecionou 150 residentes. De maio a agosto de 2022, os integrantes foram orientados por Ariana Nuala (PE), Juliana dos Santos (SP), Rafael Bqueer (PA), Renata Sampaio (RJ) e Yhuri Cruz (RJ). A residência, que reuniu artistas, educadores e curadores/críticos, contou ainda com uma série de aulas públicas, com a participação de Denise Ferreira da Silva, Kleber Amâncio, Renata Bittencourt, Renata Sampaio, Rosana Paulino e Rosane Borges, disponíveis no canal do Sesc Brasil no YouTube.

“Dos Brasis, enquanto projeto expositivo, se pretende uma exposição histórica, mas não tem o intuito de esgotar o debate a partir da seleção de algumas figuras artísticas, escapando assim do gesto colonialista de mapear. Além disso, o que propomos são várias formas de acesso às escritas que nos ponham em jogo, reescrevam e até invalidem nossas premissas, no intuito de concebermos um coro que não se tece apenas na harmonia, mas também no conflito e na discordância, que nos retiram da ideia de uniformidade essencializada, muitas vezes evocada para mais uma vez nos levarem nosso direito à humanidade, expressa, também, no direito à contradição”, enfatiza o trio de curadores.

Núcleos da exposição “Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro”

A proposta curatorial rompe com divisões como cronologia, estilo ou linguagem. Para esta exposição, não caberá a junção formal, estilística ou estética. Dessa maneira, os espaços expositivos do Sesc Belenzinho contarão com sete núcleos – Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legitima Defesa e Baobá – que têm como referência pensamentos de importantes intelectuais negros da história do Brasil como Beatriz Nascimento, Emanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.

“As premissas de narração cronológica, estilística ou quaisquer outros agrupamentos formais das histórias canônicas eurocentradas também não são opção. Em seu lugar, trabalhamos com a ideia de constelações: encontros, aproximações e distanciamentos entre diferentes proposições, que expõem suas particularidades e suas conexões. Sob o rótulo “arte preta” não caberá qualquer mecanismo de junção formal, estilística ou estética”, explicam os curadores.

Romper – Tendo como ponto de partida o pensamento da historiadora e ativista pelos direitos humanos de negros e mulheres brasileiras, Beatriz Nascimento, o núcleo reúne artistas que, em suas produções, interrogam narrativas que cristalizaram imagens e leituras históricas feitas de tentativas de exclusão daqueles que formam a maioria deste lugar assimétrico nomeado Brasil. A história da arte nomeada brasileira faz muito mais referência à minoria numérica branca no país do que, de fato, ao Brasil. “Nossa história da arte, que bem poderia ser chamada de branco-brasileira, funda-se sobre perspectivas de matrizes europeias, dando contornos de regra a iconografias, referências poéticas e teóricas com base no princípio da branquitude que, historicamente, aspira a um ideal de brancura que não encontra morada nem mesmo na pele de seus defensores”, argumenta o trio curatorial. O núcleo estará representado, dentre outros nomes, por artistas como Marcus Deusdedit (MG), Mestre Zimar (MA), Yhuri Cruz (RJ), Wilson Tibério (RS) e Rosana Paulino (SP).

Branco Tema – O título deste núcleo remete ao conceito “negro-tema” empregado pelo sociólogo brasileiro Guerreiro Ramos no seu livro “Patologia Social do Negro Brasileiro” (1955), ao criticar a desumanização de pessoas negras nas correntes acadêmicas do século 20. Os trabalhos reunidos neste núcleo, em menor número em relação ao dos outros demais, têm um gesto em comum seguindo os curadores: “inverter a ordem recorrente das imagens do negro-tema por aquelas que versam sobre um Branco-Tema, produzidas a partir do olhar negro. Lado a lado, essas obras interrogam, denunciam e parodiam a posição social privilegiada da branquitude, outrora encarada como neutra”. Este núcleo traz obras de nomes como Daniel Lima (RN), Arthur Timótheo da Costa (RJ) Davi Cavalcante (SE), Debis (MA), Pablo Monteiro (MA), entre outros.

Negro Vida – Este segmento também tem no pensamento de Guerreiro Ramos sua centralidade. Para o sociólogo, Negro-Vida é comparável a um rio, ecoando a noção de devir. O negro – como humano que é – é inapreensível em perspectivas unificadoras. Diferente da existência preta nas categorias produzidas por grande parte da intelectualidade branca, a existência de pessoas negras é multiforme, singular, com rotas, escolhas, procedimentos diversos. O núcleo reúne trabalhos de artistas como Antonio Tarsis (BA), Rubem Valentim (BA), Rommulo Conceição (BA), Li Vasc (PB), entre outros, incluindo esculturas de distintas escalas na entrada da exposição, que – segundo os curadores – “desafiam qualquer tentativa de unidade que determine as variadas produções dos artistas negros. A arte feita por pessoas pretas no Brasil é tão múltipla quanto a vida desses sujeitos. As escolhas formais, os materiais, os procedimentais não cabem no reducionismo do negro-tema”.

Amefricanas – Lélia Gonzalez desenvolve a categoria político-cultural de amefricanidade, cunhando o termo Amefricanas, que nomeia este núcleo, além de situar e marcar o longo processo histórico de presença e agência de mulheres negras nas Américas. A autora entende como neurose cultural brasileira a negação da formação plurirracial e pluricultural de nossa sociedade. “É o entendimento de que vivemos em uma cultura branca que permitiu a infiltração, a influência e/ou a assimilação de traços culturais negros e indígenas”, analisa o trio curatorial de Dos Brasis. Assim, Amefricanas reconhece a importância de intelectuais, artistas, escritoras, líderes políticas e religiosas inseridas intimamente nos movimentos culturais e sociais, mas também celebra a vida comum dessas mulheres, que, cotidianamente, performam gestos de resistência e liberdade nas imagens, representações, poéticas e autorias das Amefricanas presentes neste núcleo. Amefricanas traz obras de artistas como Vera Ifaseyí (RJ), Hariel Revignet (GO), Sy Gomes (CE), Castiel Vitorino (ES), entre outras.

Organização Já – As formas da população negra para se organizar e resistir das violências da escravidão e da colonialidade, são a base do pensamento que norteia a proposta do núcleo Organização Já, inspirado também no pensamento de Lélia Gonzales. “As primeiras formações de quilombos na Região Nordeste datam de 1559. No encontro de heranças culturais distintas, Palmares é fundada como nossa primeira república, a ser constantemente rememorada em movimentos de atualização de uma luta conjunta infindável, já que a violência racial – seja física, institucional, seja simbólica – também se atualiza”, explicam os curadores. Os trabalhos expostos neste núcleo de artistas como FROIID (MG), Emanuely Luz (MA), André Vargas (RJ) e Joyce Nabiça (PA), traduzem lutas, sejam nos centros urbanos e ou campo, histórias de rebeliões e lutas. “Organizados na alegria e na celebração do que somos, mais do que resistir, promovemos, fabulamos e reorientamos, em uma perspectiva negra, modos de viver”, comenta o trio curador.

Legítima Defesa – “Todo escravo que mata o senhor age em legítima defesa”. Essa frase paradigmática dita por Luiz Gama, em 1881, atravessa a memória da população negra no Brasil. “Este núcleo mira o cânone, sublinha a impossível neutralidade do sistema da arte e sua cumplicidade com as situações que estruturam o racismo”, afirmam os curadores. Eles prosseguem argumentando que “pessoas negras foram, por muito tempo, as únicas em empresas, em exposições, na teledramaturgia. Em muitas famílias, ainda somos “os primeiros a entrar na universidade”. Assim, agir em Legítima Defesa é nos mover diante desses fatos até que possamos nos dispor ao ócio, ao relaxamento”. Paula Duarte (MG), Leandro Machado (RS), Silvana Rodrigues (RS), Gabriel Lopo (MG), entre outros artistas, integram o núcleo Legítima Defesa.

Baobá – Baobá é o único núcleo que parte do título de uma obra de arte: a escultura de Emanoel Araújo, um dos mais importantes artistas da História do Brasil. Emanoel Araújo defendia a ideia de que a arte afro-brasileira é produzida por quem negro for, alterando a perspectiva de que essa vertente seria um tema desenvolvido por brancos. “Aqui, reverenciamos Emanoel e outros e outras artistas e obras que continuam sendo árvore, ramificando, florescendo, frutificando e fincando raízes. O Baobá do autor é uma escultura de madeira policromada, preta, facetada por arestas em ângulos que mantêm um diálogo com os signos afrodescendentes e com a tradição construtiva da arte brasileira”, ressaltam os curadores. O núcleo reúne peças totêmicas (agrupamento de pessoas, dentro de determinada etnia que se considera de um determinado totem) de cenas rurais a arranha-céus, conectando a tradição dos santeiros de madeira, sob influência cristã e afrorreligiosa, à abstração afro-indígena. “O ferro, a cabaça, os talos do dendezeiro são apresentados por artistas que vivem em cosmodinâmica com seus materiais – artistas que jamais abandonaram o sagrado, em uma relação entre arte e vida mais complexa do que a estabelecida por perspectivas ditas universais”, comentam os curadores. Além de Emanoel Araújo, o núcleo traz obras de nomes como (BA), Mônica Ventura João Cândido (MG), Ana das Carrancas (PE), Madalena Santos Reinbolt (SP) etc.

Sete artistas nos Correios SP

O Centro Cultural Correios – São Paulo, São Paulo, SP,  exibe a mostra “Este olhos que a Terra”, com abertura dia 08 de agosto, ás 16hs. A exposição coletiva reúne obras dos artistas – Osvaldo Gaia, Mercedes Lachmann, Vítor Mizael, Alexandre Murucci, Berna Reale, José Rufino e Jeane Terra – que abordam questões fundamentais relacionadas ao meio-ambiente e suas interações com a sociedade e a política. Em cartaz até 16 de setemebro.

A curadoria de Theo Monteiro, almeja compreender como a relação entre o homem e o ambiente em que habita é discutida na arte contemporânea brasileira, explorando amplamente a temática ambiental. A exposição contempla tópicos relacionados a questões sociais, históricas, políticas e biológicas, enriquecendo a diversidade de perspectivas dos artistas participantes.

Os expositores utilizam diferentes linguagens artísticas, como pintura, escultura, vídeo, fotografia e instalação, para expressar suas visões e reflexões sobre os temas em foco.

Jeane Terra: Apresenta obras que abordam os fenômenos de elevação dos mares e seus efeitos causados pelo aquecimento global;

José Rufino: Explora as questões relacionadas ao uso do solo, observando o embate entre o homem do campo e os grandes grupos econômicos, e seus impactos na dinâmica ambiental brasileira;

Osvaldo Gaia: Dedica-se a retratar as tradições ribeirinhas e a nomenclatura amazônica, refletindo sobre a relação entre o homem e a natureza na região;

Vítor Mizael: Utiliza a fauna como tema central de sua poética artística, trazendo reflexões sobre sua configuração no contexto contemporâneo;

Alexandre Murucci: Apresenta uma instalação que reflete o impasse civilizatório entre o homem e a natureza;

Mercedes Lachmann: Exibe trabalhos que estabelecem relação com o mundo vegetal combinando diferentes potências de plantas através de uma alquimia sensível;

Berna Reale: Sua obra de impacto consiste em vídeos que evidenciam as complexas relações entre o homem e o meio-ambiente, com múltiplas conotações sociais, políticas, filosóficas e poéticas.

Fotógrafa portuguesa no IMS Paulista

01/ago

A exposição “Fotografia habitada, antologia de Helena Almeida”, 1969-2018 será a primeira individual da renomada artista portuguesa no Brasil em cartaz até 29 de setembro no IMS Paulista, São Paulo, SP. Com curadoria de Isabel Carlos, curadora de arte contemporânea e historiadora de arte, a mostra apresenta uma seleção de obras que têm como suporte a fotografia e o desenho, realizadas entre 1969 e 2018. Os trabalhos abordam temas recorrentes na produção de Helena Almeida, como a interrogação dos gêneros e dos processos artísticos e a autorrepresentação da artista e da mulher. Em sua produção, mais do que um gênero artístico ou documental, a fotografia é um suporte conceitual das ideias e dos processos de criação. Essa subversão dos limites das definições da obra de arte, além da constante reiteração da sua condição de mulher e artista, confere atualidade ao trabalho de Helena Almeida, confirmando a relevância histórica do seu papel numa geração que abriu novos caminhos e processos nos modos de pensar e articular a relação entre a arte e a vida.

FestFoto 2023

24/jul

 

No dia 05 de agosto, sábado, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe – até 20 de agosto – mais uma edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFoto 2023. Neste ano, o conselho curatorial optou por trabalhar com uma proposta sem provocação temática como ponto de partida para desenvolver um tema. Essa curadoria sem filtro possibilitou radicalizar a escuta das práticas artísticas recentes e resultou em uma mostra que reúne do documental ao uso de inteligência artificial em trabalhos marcados pela performatividade e ficcionalização da narrativa fotográfica. No dia da abertura, a entrada é gratuita.    

São mais de 200 trabalhos em exposição, entre fotografias e vídeos, divididos em três núcleos. Artistas convidados apresenta mostras individuais de José Diniz, Flávio Edreira e Luciana Brito, cujas trajetórias vêm sendo acompanhadas ao longo de várias edições do FestFoto.

José Diniz ocupará duas salas com a exposição “Pau Brasil”. A mostra reúne 53 obras sobre a pesquisa que o artista vem realizando sobre biomas brasileiros há mais de uma década. Entre fotografias, vídeos, monotipias, colagens e livros artesanais, resgata a história da árvore fundadora do Brasil – curiosamente pouco conhecida por ter sido extirpada da Mata Atlântica entre os séculos 16 e 19. Metaforicamente, seu trabalho reflete sobre aspectos do poder e da opressão ao discutir as sofridas imposições sociais e culturais do período colonial e pós-colonial. Ao mesmo tempo, traz à tona o descaso com as questões ambientais dos dias atuais. O resultado obtido revela o olhar crítico do artista, que revive poeticamente as travessias transatlânticas para promover um entendimento mais profundo de alguns aspectos de nossa sociedade. Seus comentários levam a lugares distintos em temporalidades cruzadas, atualizando temas polêmicos e oficialmente esquecidos. No fluxo e refluxo da imaginação, a tinta virou cor no papel, o papel virou livro, o livro virou poesia espraiada em imagens. A brazilina que tingiu o tecido converteu-se em bandeira, símbolo inequívoco de resistência do autor.

O Fotograma Livre traz os dez finalistas da convocatória internacional realizada pelo FestFoto, e o Ateliê FestFoto apresenta obras desenvolvidas no programa continuado de desenvolvimento de projetos fotográficos.

As artistas Luciana Brito e Reisla Oliveira apresentam uma autoperformance para abordar a condição das mulheres negras no Brasil, enquanto Ana Leal usa a inteligência artificial para a construção de imagens e Angela Plas explora o rio Guaíba.

Outro destaque é a ficcionalização no trabalho com performance de Marc Lathuilliere, FR. Mostrando a França como um museu, a série de Marc Lathuilliere expõe um país cujo povo, receoso do futuro, se define, cada vez mais, em termos de patrimônio e memória. O trabalho explora a construção de identidades individuais e nacionais em uma era de turismo global. O Musée National reúne mil retratos contextuais de francesas e franceses que usam uma máscara idêntica, desenvolvida ao longo de quinze anos. Desfigurando e congelando os sujeitos, a máscara lança uma luz estranha sobre o que os rodeia, revelando os estereótipos sobre os quais constroem as suas vidas: vestuário, mobiliário, arquitetura, paisagem, rituais profissionais ou cotidianos. O projeto foi apresentado também em centros de arte contemporânea da Alemanha e Áustria.

Onde você estava no dia 27 de janeiro de 2013?

Passados dez anos do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, RS, ninguém foi condenado criminalmente pela tragédia que matou 242 pessoas e feriu mais de 600. Dos 28 indiciados por envolvimento direto e indireto – entre donos da boate, integrantes da banda, funcionários da prefeitura e até bombeiros -, apenas quatro foram levados a julgamento. Em agosto do ano passado, os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça gaúcho anularam o júri que havia condenado, meses antes, os réus: os sócios da boate Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos e o auxiliar de palco Luciano Bonilha Leão. Enquanto esperam por justiça, a busca pela memória da tragédia da boate Kiss é uma das mais fortes bandeiras de luta de sobreviventes, pais, amigos e familiares de vítimas. Esse é, também, o objetivo do projeto “Fotografar para lembrar”, coordenado por Ricardo Ravanello.

“Meus trabalhos autorais possuem duas linhas temáticas, em uma persigo uma leitura estético-criativa do mundo, das emoções e das subjetividades humanas. Em geral, essas imagens são produzidas com maiores intervenções, produzindo cenas que são estranhas à forma como vemos naturalmente o mundo. Em outra, estão as imagens mais próximas de uma linguagem documental, onde apresento minhas fotografias de caráter crítico-narrativo, resultado e expressão da minha visão política sobre a realidade”, explica.

Neste projeto, ele optou pelo uso colódio úmido, técnica que surgiu nos anos 1850 e exige uma preparação maior para a execução da imagem. A escolha pela técnica teve algumas motivações que, segundo o professor, foram descobertas na medida em que ele pesquisava e estudava sobre processos antigos de fotografia. Uma delas é que fotografar com colódio úmido é um processo lento de execução. Enquanto preparava o equipamento e explicava como seria feito, sobreviventes, pais, familiares e amigos de vítimas e profissionais que trabalharam envolvidos com o incêndio ou com suas consequências contavam suas histórias. Essa lentidão permitiu que as pessoas se revelassem. “Cada fotografia é absolutamente única, como era a vida das pessoas que se foram. Conforme o corte da câmera, às vezes, pega no braço e aí tu não sabes se ali tem uma queimadura da pessoa ou é uma borda do processo. Elas se fundem, se misturam”, explica Ricardo Ravanello. Ele conta, ainda, que, quando as fotografias foram digitalizadas e ampliadas, um outro elemento se tornou visível: “Quando olhamos de perto as imagens ampliadas, o claro e escuro, parecem ser formados por uma fuligem, parece a fuligem que sobra como resto de um incêndio.”

Artistas participantes do 16º FestFoto

Alessandro Celante (Jundiaí, Brasil) – FURYO Utopias Possíveis; Ana Sabiá (Florianópolis, Brasil) – Caligrafias; Andrea Bernardelli (São Paulo, Brasil) – ENTANGLEMENT; Caio Clímaco (Rio de Janeiro) – Ara’puka peró – Armadilha de branco; Creusa Muñoz (Argentina) – La piel de la terra; Daniela Pinheiro (Brasília, Brasil); Flávio Edreira (Goiania, Brasil) – I Forget to remember; José Diniz (Rio de Janeiro, Brasil) – O Pau-Brasil; Luciana Brito (Salvador) – Interrogação; Marc Lathuilliere (França) – Musée national (National Museum); Marisi Bilini (Frederico Westphalen) – A mãe morta; Reisla Oliveira (Belo Horizonte, Brasil) – Embrenhar-se no incolor; Ricardo Ravanello (Santa Maria, Brasil) – Retratos da tragédia; Virna Santolia (Rio de Janeiro, Brasil) – Capilaridade; Alexandre Berner (Petrópolis); Ana Leal (São Paulo); Angela Plas (Porto Alegre); Juliana Freitas (Santana do Livramento); Mari Gemma (Cuiabá, Brasil).

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal

No dia da abertura, a entrada é gratuita, Fundação Iberê Camargo. rio Guaíba, patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner, apoio da Renner, Dell Technologies, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal, mais uma edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, boate Kiss, 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça gaúcho anularam o júri que havia condenado, os sócios da boate Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos, o auxiliar de palco Luciano Bonilha Leão, Artistas participantes do 16º FestFoto, Alessandro Celante, FURYO Utopias Possíveis, Ana Sabiá, Andrea Bernardelli, Caio Clímaco, Ara’puka peró, Creusa Muñoz, Argentina, La piel de la terra, Daniela Pinheiro, Flávio Edreira, José Diniz, Luciana Brito, Marc Lathuilliere, França, Musée national, National Museum, Marisi Bilini, Reisla Oliveira, Ricardo Ravanello, Virna Santolia, Alexandre Berner, Ana Leal, Angela Plas, Juliana Freitas, Mari Gemma.