Ricardo Nauenberg | Entre Terra

16/dez

Fotografia
Curadoria Marc Pottier

 

Centro Cultural Correios RJ

 

Abertura: terça, 20 de dezembro, 19h
Aventura visual

 

Imagens de um subterrâneo urbano desaparecido

 

Ricardo Nauenberg tem um extenso currículo em TV, cinema e design, mas no começo de sua formação artística a fotografia foi seu principal instrumento de trabalho. Em maio de 2015, ele decidiu voltar ao imediatismo do clique.O cenário escolhido foi o subterrâneo da construção da Linha 4 do metrô carioca, inaugurada em agosto desse ano para a Olimpíada: uma paisagem à qual o público não teve acesso e desapareceu definitivamente quando a obra ficou pronta.Entre milhares de cliques, Nauenberg e o curador Marc Pottier escolheram 89 para compor a mostra “Entre Terra”, que abreem 20 de dezembro no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, ocupando 600 metros quadrados de área expositiva. Acrescido de mais imagens, esse conjunto renderá também um livro a ser lançado no ano que vem.

 

As fotografias em cor e preto e branco não são sobre a obra de engenharia, mas sobre a capacidade de o homem interferir no meio ambiente. Nauenberg conta: “Decidi mergulhar em um ensaio sobre o tema e durante um ano fotografei essas interferências, procurando focar se eram cicatrizes (se mal feitas) ou tatuagens (se bem planejadas)… uma ação forte do homem no meio ambiente, com imagens e formas que surpreendem e que desapareceram, pois o processo se completaria em aproximadamente um ano”.

 

“Entre Terra” é um registro estético, distante do fotojornalismo. O que interessa a Nauenberg é, por exemplo, documentar uma paisagem transitória que ninguém captou, uma “Serra Pelada” submersa, como ele descreve. A lente de 600 mm, que achata planos, e a 7 mm, que distancia e cria linhas e perspectivas, foram sua escolha para se afastar do enfoque documental, jornalístico. Afinal, o que mais o atrai é a “interpretação do real” e não o factual.

 

O curador Marc Pottier diz que “[…] o que é essencial aqui é o que permanece invisível: a impressão, fotografia após fotografia, de um fascínio notável e imenso que vem da repetição e da revelação do poder de um artista que consegue impor a realidade a este mundo abarrotado com leis desconhecidas e a confirmação de que este trabalho é realmente o resultado de uma aventura espiritual profundamente vivida no limiar entre o consciente e o inconsciente. É a vitória do efêmero. Nas fotografias de Ricardo Nauenberg, o tempo parece já ter destruído a criação do homem.”Esse ensaio fotográfico sobre as variações humanas e geográficas foi realizado nas escavações do Itanhangá(Barra da Tijuca), da Antero de Quental e Igarapava (Leblon) e Praça Nossa Senhora da Paz (Ipanema).

 

 

Sobre o artista

 

Depois de uma rápida passagem pela pintura, estudando com Ivan Serpa, Ricardo Nauenberg se dedicou a colagens a partir de imagens reais. Na pesquisa por texturas e formas, passou, muitas vezes, a produzi-las com uma câmera fotográfica. Daí à fotografia pura foi um passo: estagiou no lendário estúdio Plug, de David Drew Zingg e Eduardo Clark, filho de Lygia Clark. Quem também trabalhava nesse estúdio como designer era um jovem alemão chamado Hans Donner, que acabou levando Nauenberg para a TV Globo, onde iniciou uma trajetória no design, na televisão e no cinema, seguida até hoje através de sua produtora de conteúdo Indústria imaginária.Durante dez anos na Globo, Nauenberg transitou do time de programação visual como diretor de arte a direção de Caso Verdade, Primo Basílio, de musicais como Free Jazz, Sting e Tina Turner e videoclips para o Fantástico. Deixou a TV Globo para se dedicar à montagem da TVA, primeira televisão a cabo no Brasil (do grupo Abril), e no desenvolvimento de série de ficção para a Rede Manchete.Com formação polivalente, em Design, Arquitetura e Economia, Nauenberg assina a criação e direção de séries de TV aberta e fechada sobre teatro, dança, meio ambiente e futebol; de espetáculos multimídias, de som e luz. É dele a criação e produção dos museus de Pierre Cardin na França, Japão, China e Austrália. Dirigiu o longa “O inventor de sonhos”, em 2013, com Sheron Menezes, Stenio Garcia, Icaro Silva, entre outros.Junto com a preparação da mostra Entre Terra, Ricardo dirige a série “Nas nuvens” (canal Arte 1), o doc “Cruzada São Sebastião” (Globo News) e a quarta temporada de “Audioretrato” (Music Box Brazil).“Nas nuvens” é sobre a feitura de super hits de Lulu Santos, Paralamas, Titãs, Paula Toller, Fernanda Abreu entre outros, nesse estúdio carioca histórico que dá nome ao programa. Em “Cruzada São Sebastião”, ele propõe uma radiografia humana desse “bairro” dentro do Leblon. “Audiorretrato”, já na quarta temporada, é um seriado sobre a “pessoa física” e não a jurídica de músicos brasileiros de tendências diversas.
De 21 de dezembro a 02 de março de 2017.

Otto Stupakoff: beleza e inquietude

A retrospectiva dedicada ao fotógrafo paulistano Otto Stupakoff, 1935-2009, com curadoria de Bob Wolfenson e Sergio Burgi, reúne cerca de 300 fotografias, além de publicações e vídeos apresentando sua extensa produção, realizada entre 1955 e 2005. Seu acervo está sob a guarda do Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, desde 2008 e é composto por 16 mil imagens.
Pioneiro da fotografia de moda no Brasil, Stupakoff foi um dos fotógrafos brasileiros de maior projeção internacional. Além de ensaios de moda e retratos de celebridades internacionais do mundo das artes e da política, produzidos para revistas como Harper’s Bazaar, Life, Esquire, Glamour, Look e Vogue,Otto Stupakoff, que passou a parte mais produtiva de sua carreira vivendo em Nova York e Paris, deixou conjuntos menos conhecidos de retratos, nus, instantâneos de rua, fotografias de suas incontáveis viagens pelo mundo – inclusive pelo Ártico – e experimentações no limite do abstracionismo.
Para contemplar toda a sua trajetória, a mostra se divide em quatro grandes temas: seus anos de formação e primeiros trabalhos nos anos 1950; os anos de 1960 a 1970 e sua colaboração com as principais revistas de moda do mundo, como a Harper’s Bazaar e a Vogue francesa, além de retratos de personalidades como Jack Nicholson e Truman Capote; sua série de nus; e uma sala dedicada às viagens que fez.
Para o curador Sergio Burgi, “a obra de Stupakoff se associa com aquilo que Umberto Eco, no seu livro História da beleza, definiu como a beleza inquieta do Renascimento, em que forma, proporção e equilíbrio convivem com estranhamento e inquietação. As incursões de Otto nas artes plásticas ao longo de toda a sua trajetória, particularmente por meio de suas colagens e assemblagens, em paralelo às suas fotografias de naturezas-mortas e construções imagéticas quase surrealistas, convivem com fotografias verdadeiramente icônicas, de grande beleza e encantamento. Destacam-se, em especial, as imagens do universo feminino e da infância, em retratos, nus, fotografias de viagens e registros de seu âmbito familiar e íntimo, concebidas e realizadas dentro de uma linguagem fotográfica que transita entre a modernidadee a pós-modernidade. Inquietude, imaginação, liberdade e beleza formam, assim, a matéria-prima essencial da obra de Otto Stupakoff.”

 

 

 

Até abril de 2017.

O Galpão exibe “Hallstatt”

14/dez

O Galpão, da Fortes D´Aloia& Gabriel, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta a mostra coletiva “Hallstatt”, cuja curadoria traz os nomes de Maria do Carmo M. P. de Pontes e KikiMazzucchelli. O elenco de expositores é composto por nomes nacionais e internacionais como Alexandre da Cunha, AmieSiegel, CandiceLin, CaraghThuring, Daniel Sinsel, ImanIssa, Joshua Sex, Manoela Medeiros, Mauro Restiffe, Nuno Ramos, Oliver Laric, Tamara Henderson e Tobias Hoffknecht.

 

 

Sobre a exposição

 
“Hallstatt” toma a noção de dualidade como ponto de partida para uma reflexão sobre o significado da repetição de signos, imagens e formas no contexto contemporâneo. A ideia de dualidade estrutura o pensamento ocidental desde o mito fundador da criação, estabelecendo-se como tema recorrente na literatura e na psicanálise a partir do século XIX. A exposição reúne a obra de treze artistas que, em suas práticas, lidam com o duplo por meio de diferentes estratégias, seja em seu entendimento mais fundamental – através de simetrias formais – ou filosóficos e existenciais: o duplo como um estado alterado de percepção, cópia, reciclagem ou índice de realidades paralelas. Ao propor mais questões do que respostas definitivas, a mostra visa ampliar a discussão em torno do tema, tão urgente em um momento em que verdades absolutas são cada vez mais propagadas – e o lugar da verdade, cada vez mais difícil de se identificar.

 
Hallstatt é um vilarejo cinematográfico situado à beira de um lago rodeado por montanhas na Áustria. Há cerca de cinco anos, passou a receber um enorme fluxo de turistas chineses – mais do que o habitual, mesmo para um lugar cuja principal economia é o turismo. Um deles, desavisado, revelou a um local que na província de Guangdong, na China, uma cópia idêntica de Hallstatt encontrava-se em estado já avançado de construção, para a surpresa dos menos de mil habitantes do vilarejo, que não haviam sido consultados. De fato, a China tem a prática de reproduzir monumentos ocidentais em seu solo, mas pela primeira vez copiava-se uma cidade inteira. Essa apropriação é especialmente simbólica considerando-se que Hallstatt possui a mais antiga mina de sal do mundo e um dos mais antigos sítios arqueológicos da Europa. De certa forma, trata-se assim da cópia por excelência: a apropriação da matriz de uma cultura.

 

 

Sobre os artistas

 
Alexandre da Cunha, Rio de Janeiro, 1969. Vive em Londres, é mais conhecido por esculturas que revisitam e ressignificam objetos cotidianos. Suas telas – que o artista enxerga antes como esculturas de parede do que como pinturas – seguem a mesma lógica ao incorporar materiais como esfregões, chapéus, conchas e escovas. A série Amazons (2014 – em andamento) tem como matéria prima toalhas de praia com estampas extravagantes. Cada uma das obras de Amazons reúne um grupo de toalhas a princípio idênticas, que Da Cunha tinge – dando a cada parte diferentes graus de nitidez – e costura em sequência, enfatizando noções de acúmulo e repetição.

 
AmieSiegel, Chicago, 1974. Vive em Nova York, trabalha majoritariamente com instalações audiovisuais que lidam, de diversas maneiras, com noções de dualidade. O vídeo Genealogies (2016) é uma espécie de arqueologia de referências da artista, em que ela articula a ideia de que há sempre citações a outras obras em projetos supostamente originais, tomando “O Desprezo”, filme de 1963 de Jean-Luc Godard, como estudo de caso. O clássico de Godard é também o tema de The NoonComplex (2016) uma projeção dupla acompanhada de um televisor em que ela desconstrói o filme, removendo digitalmente Brigitte Bardot da narrativa. O televisor mostra uma atriz reencenando os movimentos de Bardot, incitando o espectador a um processo dialético de sobreposição de imagens para obter uma narrativa completa.

 
CandiceLin, Concord, Massachusetts, 1979. Vive em Los Angeles, faz uso de diversos suportes para elaborar uma investigação minuciosa sobre o reino animal, focando sobretudo em fenômenos naturais e microrganismos como fungos e bactérias. Por exemplo, Hormonal Fog (Study #1) (2016, em colaboração com Patrick Staff) consiste em uma máquina de fumaça emitindo periodicamente uma substância que bloqueia a produção de testosterona. Nas colagens apresentadas em “Hallstatt”, a artista explora narrativas sobre fenômenos naturais que foram historicamente marginalizadas pela ciência: registros sobre homens que produzem leite materno, histórias sobre médiuns do sexo feminino que canalizam grandes figuras políticas, entre outras. Apresentadas como as amostras de espécies características dos museus etnográficos, esses trabalhos traçam uma história paralela da ciência que desafia categorias binárias tradicionais relativas ao gênero, às práticas culturais e à reprodução.

 
As pinturas de CaraghThuring, Bruxelas, 1972. Vive em Londres, perpassam noções de dualidade através de diferentes gestos. Por exemplo, o híbrido entre um vulcão e uma pirâmide – e, em nível mais fundamental, o tijolo que constitui esse híbrido – é uma imagem recorrente em sua obra. Outras de suas telas são inspiradas por composições de artistas canônicos, como Édouard Manet e FilippoBrunelleschi. Há ainda pinturas que Thuring enxerga simplesmente como duplas, uma precisando da outra para existir. Aqui, a artista mostra três telas quase idênticas nas quais retrata vulcões – versões em bordado de um desenho que ela realizou no início de 2016, que por sua vez é inspirado em guaches napolitanos do século XIX –, fagocitando a própria obra ao mesclar noções de fundo e figura. Thuring mostra também duas outras telas em que usa tijolos para construir figuras humanas executadas em escalas contrastantes: três homens diminutos posando em David Gandy (2014) e uma mulher agigantada em BrickLady (2013).

 
Daniel Sinsel, Munique, 1976. Vive em Londres, incorpora materiais orgânicos como sementes ou peles de animais em composições que perpassam a superfície bidimensional da tela, conferindo-lhes uma qualidade escultórica. Seus primeiros trabalhos, produzidos no início da década de 2000 – muitos dos quais retratavam jovens homens nus ou seminus – já apontavam explicitamente o seu interesse em explorar a noção de erotismo na pintura. Esse tema recorre em toda a sua produção, mesmo nos trabalhos onde a referência é menos evidente. Nas duas obras recentes apresentadas em “Hallstatt”, por exemplo, o erotismo é evocado a partir da relação criada entre aquilo que está dentro e fora da tela, daquilo que sua superfície oferece ou oculta ao espectador. Além disso, ao incorporar objetos cuja materialidade não é completamente identificável, cria uma espécie de trompl’oeil que levanta dúvidas sobre o que é realidade ou representação. Pintura/escultura, dentro/fora, realidade/representação são apenas alguns dos dualismos que perpassam a obra de Sinsel, calcada, acima de tudo, no jogo de sedução que o artista estabelece entre espectador e obra.

 
Na série de esculturas intitulada Lexicon (2012 -em andamento), ImanIssa, Cairo, 1979. Vive entre Cairo e Nova York, revisita obras de arte que são apresentadas na forma de estudos para remakes contemporâneos. Embora retenham os títulos dos desenhos, pinturas, esculturas e fotografias originais, os trabalhos resultantes não são reproduções fiéis ou cópias das obras originais, mas interpretações cujas formas diferem significativamente de suas fontes. Ao propor novas formas para esses trabalhos, Issa busca comunicar algo mais familiar e consistente com sua própria experiência a partir das ideias sugeridas pelos títulos. As esculturas são acompanhadas de legendas museológicas que contém breves descrições dos elementos originais, bem como sua procedência e data, oferecendo pistas sobre a identidade de seus duplos originais sem revelá-los completamente.

 
Joshua Sex, Dublin, 1985. Vive em Londres, é um pintor e escritor cuja pintura está intrinsecamente ligada a noção de reciclagem. Durante o seu mestrado no Royal CollegeofArts, em Londres (2011 – 2013), o artista passou a se apropriar de fragmentos de telas descartados nos corredores da universidade, usando-os como base para as suas composições. O que começou por necessidade ou diversão tornou-se um modus-operandi de Sex, que a partir de então passou a sempre necessitar dessas pistas na forma de vestígios para compor suas telas. O artista apresenta um conjunto de cinco pinturas realizadas entre 2012 e 2015.

 
As esculturas, pinturas, performances e instalações de Manoela Medeiros, Rio de Janeiro, 1991. Vive no Rio de Janeiro, têm como foco o corpo e suas relações com o tempo e o espaço. A alusão à pele e à permeabilidade são elementos recorrentes tanto nos trabalhos em que utiliza seu próprio corpo como nas instalações site-specific em que trabalha sobre as superfícies da parede para criar composições ambientais. Nessas últimas – a exemplo da instalação que a artista desenvolveu especificamente para “Hallstatt”, Manoela Medeiros descasca obsessivamente seções do revestimento das paredes e cria espelhamentos das formas produzidas pela sua ação, às vezes utilizando o próprio detrito de tinta produzido em sua feitura ou elementos tridimensionais incorporados ao trabalho.

 
As fotografias de Mauro Restiffe, São José do Rio Pardo, 1970. Vive e trabalha em São Paulo, são invariavelmente produzidas por meio de procedimentos analógicos e sempre em P&B, o que lhe permite obter uma gama de tonalidades e texturas muito mais ampla do que na fotografia digital. Ao longo das últimas três décadas, Mauro Restiffe desenvolveu um sólido corpo de trabalhos no qual a arte e a arquitetura são assuntos recorrentes. A arquitetura de Brasília e seu simbolismo cultural e político são pano de fundo para duas séries produzidas respectivamente à ocasião do empossamento do Presidente Lula (Empossamento, 2003) e do enterro de Oscar Niemeyer (Oscar, 2012), da qual uma das imagens está presente em “Hallstatt”. Ao registrar o mesmo local após um intervalo de tempo, o artista estabelece uma relação de dualidade entre as séries, que faz com que as imagens sejam atualizadas e ressignificadas. A exposição inclui ainda dois trabalhos da série Rússia (2015), que evidenciam o interesse de Restiffe em capturar imagens (pinturas, fotografias, etc) dentro da imagem fotográfica, ressaltando a relação dialógica entre espectador e imagem e a natureza ilusória da imagem.

 
Nuno Ramos, São Paulo, 1960, onde vive e trabalha, explora noções de dualidade, mimese, intertextualidade e repetição através de diferentes linguagens e materiais, que vão do texto à imagem, do som à encenação. Em “Hallstatt”, Nuno Ramos apresenta 3 cinzas (Ai, pareciam eternas!), uma instalação efêmera composta por cal, cinza e sal. O artista reproduz no chão do Galpão a linha da fachada de três casas em que morou ­­– a da avó, a da mãe e a casa onde os filhos nasceram – utilizando um pó diferente para cada contorno. Ao longo da exposição, as linhas desmancham-se e rearranjam-se com pisadas e vento. A obra alude a 3 lamas (Ai, pareciam eternas!), instalação site-specific realizada por Nuno Ramos em 2012 mas, sobretudo, ao deslocamento de lugares afetivos, da memória. O artista exibe também a obra “Un Coup de Dés”, que é uma versão em vidro e ácido do poema de Stéphane Mallarmé, “Un Coup de Dés Jamais N’Abolira leHasard” (1897), tido como o primeiro poema tipográfico da história. Na versão de Ramos, as lâminas de vidro são sobrepostas, permitindo que os versos, gravados no vidro em ácido, sejam lidos em sua totalidade. O artista contribui ainda com o ensaio Bonecas russas, lição de teatro, publicado originalmente em seu livro “Ó”, de 2008, e republicado no catálogo da exposição.

 
Desde o início de sua prática artística há cerca de dez anos, Oliver Laric, Innsbruck, Austria, 1981. Vive em Berlim, toma a cópia, apropriação e ressignificação como nortes de sua obra. Em “Hallstatt”, Laric mostra duas esculturas que integraram sua exposição recente no Secession, em Viena (Photoplastik, abril – junho de 2016), em que ele produz scans em 3D de esculturas públicas localizadas na mesma cidade – no caso, o Monumento à Auguste Fickert de Franz Seifert (1929) e Polar Bearand Seal, de Otto Jarl (1902) – e os reimprime em poliamida. O artista disponibiliza todos esses scans em um website, onde qualquer um pode baixá-los, apontando assim também para a noção de dispersão.

 
Tamara Henderson, New Brunswick, Canadá, 1982. Vive no Canadá, produz majoritariamente esculturas e instalações – por vezes funcionais – que ela imagina enquanto em um estado alterado de percepção, seja sob hipnose, barbitúricos ou durante o sono. Em “Hallstatt”, Henderson mostra duas grandes cortinas que produziu durante uma residência em HospitalfieldHouse, em Arbroath, na Escócia. As obras funcionam como um portal para uma realidade paralela imaginada pela artista, um elemento de transição que assinala o movimento de passagem de uma dimensão a outra. Cada uma das peças sintetiza o imaginário subjetivo associado a essas realidades, consistindo, nas palavras da artista, em “cartões postais de paisagens enxergadas através de escotilhas”.

 
Tobias Hoffknecht, Bochum, Alemanha, 1987. Vive em Colônia, formou-se na Kunstakademie de Dusseldorf, em 2013, onde estudou sob a orientação de RosemarieTrockel. Adotando uma estética minimalista, Hoffknecht produz instalações geralmente compostas de duplas de elementos escultóricos que criam diferentes relações entre o espectador e o espaço expositivo. Com acabamento preciso, suas peças se assemelham a ready-mades industriais, embora sejam trabalhos únicos fabricados de acordo com as especificações do artista. Assim, estabelecem um diálogo estreito com o design, muitas vezes evocando mobiliários ou interferindo diretamente na arquitetura do espaço expositivo. Em “Hallstatt”, Hoffknecht apresenta duas esculturas inéditas em madeira e aço inoxidável, materiais recorrentes em sua prática.

 
Ainda em exposição estão cinco duplas de pratos que pertencem a duas coleções particulares de São Paulo e datam entre 1750 e 1860. Alguns foram adquiridos já em pares; em outros casos, os colecionadores compraram um e esperaram anos até encontrar o seu duplo. Por serem manufaturados, cada peça apresenta pequenas diferenças em relação a seu par – uma flor maior, uma árvore com folhagem mais espessa e assim por diante – convidando o espectador a inspecioná-los minuciosamente, como em um jogo dos sete erros. Há uma exceção curiosa, em que a discrepância é a princípio óbvia; após uma análise próxima, percebe-se que enquanto ambas caldeiras apresentam diferentes cenas palacianas, suas bordas repetem o mesmo padrão.

 

 
Até 10 de fevereiro de 2017.

Foto de Katie van Scherpenberg

12/dez

O Oi Futuro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a fotografia “Santana”, da artista Katie van Scherpenberg, no Grande Campo, espaço de arte pública mantido pelo centro cultural no Flamengo. Cobrindo a fachada lateral do prédio, com 10 metros de altura, a obra traz a imagem de um morcego em preto e branco. “Santana” tem curadoria de Alberto Saraiva e ficará em cartaz até 29 de janeiro de 2017.O trabalho é baseado numa foto analógica de 1998, feita com flash. “A imagem foi feita às cegas numa visita à casa do meu pai, na IIha de Santana, no Rio Amazonas. Entrei no quarto onde ele havia morrido quase 30 anos antes. Imagem de cego, sem saber, sem ver, ignorante e belo”, lembra a artista.

 

Sobre a artista

 
Pintora, gravadora e desenhista, com trabalhos experimentais de intervenção na paisagem desde 1983, Katie van Scherpenberg nasceu em São Paulo em 1940 e viveu a infância na Inglaterra. Estudou pintura na Academia de Belas Artes da Universidade de Munique, na Alemanha e em Salzburg, na Áustria. Katie morou também na Ilha de Santana, situada no Rio Amazonas, até 1973, quando veio definitivamente para o Rio de Janeiro. Foi uma das fundadoras da ABAPP (Associação Brasileira de Artistas Plásticas Profissionais) em 1976, tendo feito parte de sua diretoria até 1983.Além do trabalho em pintura, a artista desenvolve desde 1976 uma carreira como professora de Artes Plásticas, tendo lecionado em diversas faculdades e escolas de artes, incluindo a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde atua desde 1983.

 

 

Sobre o Grande Campo

 
O “Grande Campo” propõe uma aproximação do artista com o público por meio de uma intervenção na fachada que ocupa uma área superior a 120 m² e que possui uma iluminação especial, de modo que a obra pode ser vista e notada também durante a noite.

 

 

Até 29 de janeiro de 2017.

Na Soleira da Noite


A Galeria Sancovsky, São Paulo, SP, apresenta “Na Soleira da Noite”, exposição coletiva composta por 10 artistas, entre eles os quais, Oswaldo Goeldi, Lucas Costa e Regina Johas. Com curadoria de Claudio Cretti, a mostra apresenta mais de 20 trabalhos entre pinturas, desenhos, fotografias, filmes e gravuras, que fazem uma reflexão poética sobre a ausência de luz na produção recente de arte.

 
Tendo em comum uma luz finita pequena, que surge na escuridão, ou simplesmente de uma paleta reduzida a cores escuras e noturnas, as obras exibem de forma simples a sobriedade de questões vindas do expressionismo moderno.

 
Dentro dessa seleção exclusiva feita por Claudio Cretti, as obras de Oswaldo Goeldi aparecem nesse conjunto como uma proposição poética para a produção contemporânea, que se volta para o mundo da mesma forma que se coloca no universo da arte, ou seja, as preocupações e inquietações desses artistas atualizam questões de nossos dias à luz da tradição.

 

 

Artistas

 
Fazem parte da exposição os artistas: Ana Bê Elorza, Flora Leite, Germana Monte-Mór, Karen de Picciotto, Lucas Costa, Mariana Galender, Oswaldo Goeldi, Pedro França, Regina Johas e Thomaz Rosa.

 
Até 23 de dezembro.

Fotos de Alair Gomes

07/dez

A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta, a mostra “Alair Gomes: Percursos”. Organizada pelo pesquisador e curador Eder Chiodetto, a individual do fotógrafo Alair Gomes traz a público uma seleção de 293 imagens das séries “Sonatinas”, “Four Feet”, “Symphony of Erotic Icons”, “The Course of the Sun”, “Beach Triptych” e “A New Sentimental Journey”. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.

 

A exposição, que esteve na CAIXA Cultural São Paulo em 2015 e gerou recorde de visitantes, também traz série inédita de fotografias de atletas do surf, futebol, canoagem e natação no Rio de Janeiro, além da realizada na Praça da República, em 1969, na cidade de São Paulo. Haverá programação especial em duas datas: visita guiada com Eder Chiodetto na abertura, em 13 de dezembro, e lançamento do catálogo da exposição e palestra, também com o curador, no dia 21 de janeiro.

 

Considerado um dos precursores da fotografia homoerótica no Brasil, Alair Gomes notabilizou-se a partir dos anos 1960 pelas fotografias que enfocam o corpo do homem belo e jovem, seguindo a tradição da história da arte, notadamente das esculturas greco-romanas. Com forte acento voyeurista, muitas de suas fotografias, realizadas entre 1960 e 1992, foram feitas a partir da janela e também no perímetro de seu apartamento na orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Desde então, sua produção tem sido estudada por críticos brasileiros e estrangeiros, e vem ganhando espaço em livros, revistas, galerias e museus.

 

 
Séries e temas:

 

A exposição “Alair Gomes: Percursos” será aberta com uma série inédita de 32 fotografias da Praça da República, de São Paulo, em 1969, auge do movimento hippie no Brasil. Chiodetto se surpreendeu ao encontrar essa série em sua pesquisa no acervo da Biblioteca Nacional. “Essas imagens ajudam a entender a pulsão da obra de Alair como um desdobramento da revolução comportamental ocorrida após maio de 1968, é uma ode ao hedonismo, ao prazer sem culpa possibilitado pelo sexo livre e pela regressão de certos dogmas”, afirma.

 

Em “Sonatinas”, “Four Feet” (1970-1980), o artista alude à composição musical para criar sequências com imagens de uma ação que ocorre num tempo-espaço bem definido, em geral com dois rapazes se exercitando na praia. Entre as séries sequenciais que tornaram a obra de Gomes conhecida mundo afora, a curadoria selecionou 13 “Beach Triptych”, série de jovens que se exercitam na praia, flagrados do calçadão de Ipanema, nos anos 1980.

 

Realizada entre 1967 e 1974, a série “The Course of the Sun” apresenta 25 fotografias feitas a partir do apartamento à beira-mar em Ipanema, onde Alair morava. Usando lentes de longo alcance, ele fotografava rapazes indo e vindo da praia. A sombra dos corpos se alonga no chão criando uma tensão entre a figura e sua projeção.

 

Em “Esportes” (1967-1969), Alair fotografou atletas de diversas modalidades esportivas. Esses registros, porém, são muito diferentes daqueles que normalmente vemos na cobertura esportiva realizada por fotojornalistas. Alheio à competição, o olhar de Alair perscruta os corpos dos rapazes com foco na musculatura, no contorno, no movimento por meio do qual esses corpos bem torneados revelam a perfeição da forma. “Bem-aventurado sou eu, por ter tantas vezes adorado a elevação e a manifestação da via sagrada do mundo na carne dos jovens rapazes”, escreveu Alair em seu diário.

 

Na sala anexa à galeria da CAIXA Cultural, estão fragmentos da série “Symphony of Erotic Icons” (1966-1978), realizada no estúdio caseiro do fotógrafo. Não raro, Alair mostrava aos garotos da praia as fotos que realizava furtivamente e os convidava para seu estúdio, onde promovia sessões fotográficas mais íntimas, explorando ângulos e sombras de seus corpos nus. Chiodetto complementa a série com outra, intitulada “A New Sentimental Journey”, espécie de diário textual-imagético que trata da viagem do artista para a Inglaterra, França, Suíça e Itália, em 1969, onde revela seu apreço pela estatuária clássica greco-romana.

 

 
Sobre o artista

 

Nascido em Valença, RJ, Alair de Oliveira Gomes (1921-1992) formou-se em Engenharia Civil e Eletrônica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A partir de 1965, dedicou-se a Fotografia e, ao longo de 26 anos, produziu mais de 170 mil negativos de um trabalho inédito e único com o qual obteve reconhecimento internacional após sua morte. Alair Gomes também foi criador e coordenador do setor de Fotografia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1970, e foi retratado por Luiz Carlos Lacerda no filme “A morte de Narciso” (2003). Um conjunto de suas fotografias foi selecionado para a Bienal de São Paulo, em 2012, e recentemente teve obras incorporadas ao acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

 

 

De 13 dezembro de 2016 a 19 de fevereiro de 2017.

Novo livro de Terranova

É com muita alegria que anuncio a chegada de um novo livro.

 
Por mais que as pessoas identifiquem o meu trabalho com as montanhas o meu ambiente natural é o mar. Comecei nas tranquilas águas de Angra dos Reis levado por meus pais a quem devo tudo e nunca mais parei.
A primeira vez que estive em Abrolhos foi no ano de 1984 subindo a costa do Brasil a bordo do magnífico veleiro Sea Wife (55 pés) do comandante Fernando Meira. Lá pude ter meu primeiro contato com a fauna e toda a beleza do arquipélago.

 
Já no Jornal do Brasil após ser contratado pelo Rogério Reis (editor de fotografia), recebi um presente. Uma pauta no ano de 1996 que me levaria de volta ao arquipélago para documentar o início da parceria entre a Petrobras e o Instituto Baleia Jubarte. Eu não imaginava mas após este encontro a minha vida mudaria. Nunca mais conseguiria tirar do meu espírito o encantamento e o vício de reencontrar as lindas Baleias Jubartes. Algumas eu fiquei tão íntimo que conhecia pelo nome, como a fêmea Claudia e o macho Chifre.

 
Se passaram 20 anos e finalmente posso apresentar: Abrolhos – Visões de um Arquipélago Oceânico. Livro lançado pela Andrea Jakobsson, minha querida e amada editora que sempre acreditou nos meus sonhos ao ponto de se tornarem seus.

 
Pude contar com amigos que fiz em 1996 e que estão comigo até hoje. O comandante Roberto Caçonia Fortes (Veleiro Coronado), Ana Cristina Freitas, Ian fortes que conheci aos 05 anos e hoje escreve o capítulo de geologia e o maior fotografo de cetáceos do Brasil, Enrico Marcovaldi, que gentilmente cedeu algumas imagens do seu arquivo para que este projeto ficasse ainda mais bonito.

 
Não posso encerrar este texto sem fazer uma homenagem ao Veleiro Coronado. Seus 27 pés não representam o seu tamanho e sua importância em nossos corações. Foram milhares de milhas náuticas navegadas entre Caravelas, Abrolhos e Rio de Janeiro. Atravessadas medonhas e velas rasgadas no meio de ondas gigantescas e ventos que chegavam a 45 nós. Tudo isso para subir ou descer a costa com os ventos SW e NE.

 
E também agradecer a todos os envolvidos neste projeto ao longo destes anos.

 
Até o lançamento!!!

 
Abs

Marco Terranova

Dream Box edição final 

24/nov

A Dream Box creative lab, localizada no Brooklyn, NY, apresenta quarta e última edição da exposição pop up de fotografia “Subject Matters” com curadoria de Juliana Leandra e direção de arte de Paulo Sabatini.

 

A mostra “Subject Matters IV” é a edição final de uma série que teve início em novembro de 2015, completando o ciclo de quatro shows pop-up apresentando fotógrafos de diferentes nacionalidades e trajetórias, cujas obras transmitem perspectivas, estilos, técnicas, estéticas e temas diferentes. Nesta edição apresenta os trabalhos de seis fotógrafos: Belinda Tellez, Bruno Feder, Charlie Kitchen, Demian Jacob, Fran Parente e José Cabaço.

 

A exposição pop-up abre no Double 6 Studio, em Greenpoint no final de semana de 19 – 20 de novembro, com coquetel de abertura no sábado, 19 de novembro, das 17h às 21h.

 

Os seis componentes de “Subject Matters IV” trabalham em diferentes áreas da fotografia; portanto, eles mantêm um certo estranhamento como grupo. Entre os vários temas abordados nas séries apresentadas para a exposição, há um elemento comum a todos: o tema é importante – “Subject Matters”.

 

Pediu-se a cada participante que respondesse de forma oral e visual a pergunta “Por que os temas são importantes?” o que resultou em uma série de imagens e um pequeno texto explicando a importância que cada artista dá ao tema escolhido. A partir disso, foi elaborado um zine que documenta as fotografias e respostas dos artistas e será distribuído durante o período da mostra. Após o encerramento da exposição, também estará disponível para compra no site da Dream Box.

 

 

Sábado, 19 de novembro, das 17:00 às 21:00

 

Período: 19 e 20 de novembro.

Jorge Salomão no Oi Futuro

22/nov

A exposição “Jorge Salomão – No meio de tudo isso”, tem curadoria de Alberto Saraiva. Jorge Salomão é um dos convidados do Projeto Poesia Visual 2 está em cartaz na Galeria 1 (primeiro andar) e Vitrine do Oi Futuro, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Poeta, letrista, diretor de teatro, irmão de Waly, Jorge Salomão nasceu na Bahia e mora no Rio de Janeiro desde 1969, onde sempre marcou presença na cena cultural. É autor de canções gravadas por nomes como Marina Lima, Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Barão Vermelho, Zizi Possi e Zé Ricardo, entre outros. Figura cultuadíssima no Rio de Janeiro, completou 70 anos em o3 de novembro e está lançando novo livro de poesias, “Alguns poemas e + alguns”.

 

 

Até 08 de janeiro de 2017.

Exposição de Rosângela Rennó

17/nov

Fumaças, incensos, cores, cheiros, lembranças, mistérios, segredos…Em vídeos, fotos, frascos, sensações e reminiscências de viagem, artista reconstrói conceitos como memória e temporalidade.

 

Não há espera ou espaço para ansiedade na exposição “O ESPÍRITO DE TUDO”, de Rosângela Rennó, que o Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 21 de novembro, com curadoria de Evangelina Seiler. Há, sim, uma atmosfera mágica que guarda muitas surpresas e convida o espectador a examinar objetos e ideias sob ângulos particulares, próprios. Olhares que a artista apenas sugere ou desperta, por meio de obras plasmadas em questões cotidianas da existência, no espaço vasto da memória ou na reverência pelo universo do outro, que cada indivíduo recebe, percebe ou processa de maneira única.

 

Seis obras se apropriam do Oi Futuro: desde as lanternas mágicas que abriram caminho à fotografia e flertavam com o ilusionismo de luz e sombra até a transformação radical de imagens em vídeo, pela manipulação de cor e não-cor – passando pela memória olfativa que evoca, em cada um, registros internos de variadas naturezas – a artista envolve o público em uma jornada poética, por novas formas de olhar, interpretar e reagir a variadas experiências.

 

“Rosângela Rennó ocupa o Oi Futuro com imagens, sons e aromas que dialogam com a arquitetura do centro cultural e prometem despertar novas sensações no público. Com essa exposição, o Oi Futuro reafirma sua vocação de catalisador criativo, valorizando a produção de vanguarda e inspirando a convergência entre arte contemporânea e tecnologia”, diz Roberto Guimarães, gestor de Cultura do Oi Futuro. A mostra tem o patrocínio do Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro.

 

 

Sensações

 

“Per fumum” mergulha nas essências, incensos e odores com os quais o homem se relaciona desde a Antiguidade até hoje – cada um com seu uso indicado e suas sensações embutidas. O que este ou aquele aroma, esta ou aquela resina provoca, ao primeiro contato?

 

Enquanto o olfato desperta e decifra esses significados, “Lanterna Mágica” remete ao tempo da pré-imagem, entre fotografias trabalhadas à base de sais de prata e gelatina e projeções feitas com as tradicionais lanternas mágicas – projetores antigos, do final do século 19 e início do século 20. “Per fumum” e “Lanterna Mágica” refinam os sentidos rumo a outras possibilidades.

 

Uma delas se insinua na próxima obra, As horas viajantes. Uma imponente vitrine de vidro existente no espaço, revestida de película leitosa, exibe surpresas em recortes certeiros: distintos frascos de perfume surgem aqui e ali, vazios ou com restos de seu conteúdo, enquanto seus nomes desfilam em letreiros luminosos. O sentir despertado pelas “imagens das essências” conduz à memória dos perfumes e de tudo que vem com ela. E mais uma vez o espectador é tocado pela viagem, magnetizado pelo ato de lembrar-se.

 

 

Percursos

 

Mas o ato de viajar logo se torna mais denso, ainda que menos material, na obra “Turista Transcendental”. São textos e vídeos da artista que documentam, de forma bastante peculiar, suas viagens a pontos tão distintos quanto as ilhas Reunião (no Oceano Índico, a leste de Madagascar) e Gomera (no arquipélago das Canárias), Teotihuacán (México), a cabeça da Estátua da Liberdade (Nova Iorque), o Salar do Uyuni (a maior planície de sal do mundo, na Bolívia), o estreito de Bósforo (em Istambul), a cidade mística de Allahabad (Índia), Lagos (Nigéria), Montevidéu (Uruguai) e a Chapada dos Veadeiros, no planalto central brasileiro. As imagens, manipuladas durante a edição, fazem com que essas viagens se distanciem das paisagens e se concentrem no olhar, na sensação e no ato de relacionar-se com cada cultura e cada lugar em especial.

 

O ciclo se fecha com duas obras que mantêm forte diálogo. Uma delas é Realismo Fantástico, com seus espectros de luz em constante movimento; em “Círculo Mágico”, objetos da coleção da Fundação Eva Klabin ganham voz (e luz) própria para contar suas histórias ao público, entre toques de humor, nostalgia, amargura ou mesmo resignação diante do que há de trágico no tempo suspenso da história. O vídeo “Círculo Mágico” foi resultado de um projeto de intervenção realizado em 2014 na FEK, dentro do programa “Ciclo Respiração”, do curador Márcio Doctors.

 

 

Visões

 

A artista aplica muitas camadas de sutileza à poética que constrói e, pouco a pouco, envolve o expectador num processo em que se diluem, lenta e intensamente, muitas fronteiras. Segundo a curadora Evangelina Seiler,“…ao aguçar seus sentidos através das obras expostas, o visitante se aprofundará no trabalho desta grande artista, a partir do que vê e sente e também a partir, de textos, escritos por vários autores e por ela mesma, que apontam para suas referências filosóficas e técnicas.” Rosângela Rennó diz que as obras que compõem o “Espírito de Tudo” mostram que há muitos outros mistérios entre o céu e a terra, além daqueles que os filósofos, poetas e artistas já detectaram.