Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular

13/jan

 

Arte popular

A exposição “Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular” encontra-se em exibição até 30 de janeiro na Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP. É arte de raiz popular de alta qualidade vista através dos trabalhos das artesãs Nilda Neves, Lira Marques, Rosana Pereira e Efigênia Rolim, “quatro artistas com produções permeadas por símbolos de identidade, consistência e particularidades”. Texto do curador Renan Quevedo

 

Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular Antes de tudo que vem a seguir, houve silêncio.

 

É louvável notar que, nos últimos anos, as instituições de arte tenham revisto seus históricos e esforços a respeito da diversidade em seus acervos. A fim de reconhecer locais de fala e trazer novas vozes argumentos para uma discussão mais democrática e pagar a vergonhosa dívida secular com grupos invisibilizados, projetam exposições em que o norte é o equilíbrio. A mostra Tudo o que você me der é seu – prosas de mulheres na arte popular é uma delas; traz as obras de quatro mulheres de diferentes origens, gerações e repertórios.

 

 

Faço minhas as palavras de Paulo Rezutti: “Não! As mulheres não precisam de mais um homem para falar por elas. A mulher brasileira tem voz própria há anos”.  Aqui, oferecemos o espaço para essas artistas cujas obras falam por si mesmas. Com o Novos Para Nós, me proponho a contar as histórias que presencio e escuto sobre a obra e a vida, que nunca se desassociam, dos artistas populares (utilizarei este termo, embora com ressalvas). Ainda que 77% dos artesãos brasileiros sejam mulheres, a agenda artística e cultural se mantém distante dessa realidade. É um apagamento? Na exposição, buscamos contextualizar as histórias vividas, inventadas e testemunhadas por Nilda Neves, Lira Marques, Rosana Pereira e Efigênia Rolim, quatro artistas com produções permeadas por símbolos de identidade, consistência e particularidades.

Fazendo uso de barro, papel, plástico, tinta, tecido e metal, entre tantos outros materiais, as quatro artistas tecem narrativas. De acordo com Walter Benjamin (1892-1940), a prática da arte de narrar está ligada às mais antigas formas de trabalho manual. Ao passo que os homens saíam para caçar, as mulheres ficavam responsáveis pela produção de cestaria, bordado, tapeçaria e trançado, além da propagação para as próximas gerações, trocando experiências.

 

Nilda Neves (1961) é natural do sertão de Botuporã (BA). Bisneta de tupis-guaranis, estudou contabilidade e foi professora de matemática e comerciante, entre outras profissões. Em São Paulo, virou dona de bar. Os calotes a forçaram a ser manicure, o que só fazia a clientela gritar de dor. Nilda conta, gargalhando, que foi colocada para cortar cabelo – “e eu nunca tinha cortado nem cabelo de rato” . Como pagamento de uma dívida, ganhou três DVDs: dois não funcionaram e o terceiro mostrava um religioso lendo um livro. A situação, que a deixou revoltada, também trouxe ideias: “Vou escrever o meu livro”. Uma sequência de páginas com histórias, crônicas e pensamentos sobre a vida tomou forma. Com a falta de dinheiro, Nilda se viu forçada a fazer o desenho para a capa. As pessoas gostaram do que viram dentro e fora do livro e a incentivaram no novo ramo.

 

Nilda, então, começou a pintar telas com temáticas referentes à vida no sertão, retratando tempos e costumes: cangaceiros, retirantes, atividades manuais, animais, paisagens, comidas, profissões, vínculos afetivos, conflitos e folclore. Lançou mão de pinceladas arrastadas e secas, que preenchem a tela e dão origem a texturas e padrões. O bom humor, uma das características mais marcantes no trabalho de Nilda, divide espaço com lamentos, introspecções, solitudes e vazios. “Me chamavam de artista plástica, mas eu dizia que não era porque achava que esse termo era pra quem fazia arte com plástico”, conta rindo. “O que as pessoas acham feio, eu acho bem bonito.”  

Lira Marques (1945), nascida em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha, MG), tem um diálogo com a natureza em diversas formas. Sabe e entende que veio da terra e que para ela voltará. Sua mãe fazia bonecas de pano e presépios de barro para presentear os vizinhos, e assim foi despertada a curiosidade de Lira: ainda criança, começou a fazer pequenas esculturas com cera de abelha, posteriormente se dedicando à cerâmica. Os desenhos em papel e pedra – que hoje são seu carro-chefe – só surgiram em 1994, após fortes dores nos braços. Hoje, Lira coleciona diferentes tons de pigmentos minerais que encontra pela região e aplica em seu trabalho, além de investigar e acumular um conhecimento inesgotável sobre a cultura popular, o comportamento, a música, os habitantes e sobretudo a vida dos que lá persistem.

 

 

A série aqui exposta foi batizada por Lira de “Meus bichos do sertão”. São representações feitas em barro com traços da economia e da estética rupestres: figuras bípedes e quadrúpedes que se assemelham a aves, répteis e anfíbios e, frequentemente, são híbridos entre real e imaginário. Os animais são definidos por seus bicos, penas, chifres e rabos; ora sozinhos, ora acompanhados por seus ovos, índices da flora e minerais. Em determinados momentos, Lira agrupa elementos em formas ovaladas que sugerem exposição em pedras e pastos, reclusão em cavernas e buracos; ou, ainda, os escava como uma arqueóloga da própria vida e história. A aridez estética é marcada pelo relevo da matéria-prima e reforçada pelos ângulos agudos das extremidades dos bichos. Podem ser “mansos, mas também ariscos” – está pronta para soltá-los em troca de proteção e adiamento dos apocalipses.

 

 

Também do Vale do Jequitinhonha, Rosana Pereira (1988) nasceu em Caraí (MG) com uma bolinha de barro nas mãos. Filha, neta, bisneta, tataraneta de ceramistas – e aqui nos perdemos na incerteza de sua árvore genealógica, mas seguros da atividade quase tricentenária na região – desde pequena foi iniciada na modelagem do barro. A produção de Rosana é diretamente ligada à produção de seu avô, Ulisses Pereira Chaves (1922-2006), celebrado como um dos maiores escultores brasileiros por Burle Marx e Lélia Coelho Frota.

 

 

Influenciada esteticamente por Ulisses, Rosana adquire temática própria e flexiona a rigidez das figuras do avô com movimentos e interações entre os corpos. De poucas palavras e grande timidez, encontrou na escultura a melhor forma para se comunicar. Suas obras mostram figuras antropozoomórficas, com corpos humanos e rostos de animais. A figura feminina, em sua grande maioria, traja um vestido de noiva, e, a masculina, terno completo para o casamento. Subvertendo a rígida tradição local, há uma inesperada relação entre os personagens: os femininos têm o poder e o controle da cena. São eles quem rastejam, caem, fraquejam, obedecem, são carregados e fragilizados. Rosana, a mais jovem presente na exposição, resume a série com: “Faço isso porque a mulher também é importante”, levantando uma bandeira não de superioridade, mas de igualdade entre os gêneros. 

 

 

Efigênia Rolim (1931), natural de Abre Campo (MG), iniciou sua produção artística em Curitiba (PR). Conhecida como “Rainha do Papel de Bala” há mais de 30 anos, um fato mudou toda a sua história: andava pela rua quando viu um objeto brilhante no chão. Surpresa, se abaixou para pegá-lo; era “apenas” um papel de bala. Pensou nas relações que estabelecemos com pessoas e concluiu que, enquanto o papel tivesse uma função embrulhando o doce, despertaria interesse por parte de alguém. Chamou-o, então, de “mísero caído”. Começou a recolher todos os que via pela frente, pensando: “Se conseguir um por dia, no final do ano tenho 365” – enquanto as pessoas só a chamavam de louca. “Ninguém achou que eu fosse vingar.” 

 

 

Os papéis invadiram suas vestimentas e, juntamente com outros materiais considerados “lixo”, são matérias-primas das esculturas, compondo também apresentações e poemas. “As pessoas ficam impressionadas com o trabalho que tenho para fazer minhas peças, mas não há nada que eu goste mais do que isso. É preciso de imaginação e querer fazer.” Marcados pelo processo de acúmulo, destruição, construção, ressignificação e bricolagem, seus trabalhos apresentam narrativas oniscientes inspiradas em contos de fada. Seus personagens e histórias transitam entre o real e o extraordinário, frequentemente manipulados com o recurso pedagógico da repetição. Apresentamos a inédita série “Natureza racional”, justificada pela artista com: “Cansei de falar com os homens, agora vou falar com os animais”. Autointitulada Guardiã do Mundo, com a voz no presente e seu eco no futuro, Efigênia nos provoca a respeito da sustentabilidade e das próximas etapas da humanidade ao interferir no tamanho real dos homens e bichos, propondo novas dimensões e relações entre eles. 

 

 

Nilda e Lira se voltam para o meio de criação rural como base para a formação de seus discursos, enquanto Rosana e Efigênia projetam narrativas com preocupações a princípio urbanas, embora certamente de interesses universais. O equilíbrio também ocorre por meio das intersecções, similaridades e dissonâncias de suas falas: feminino, cotidiano, deslocamento, força, tempo, igualdade, resiliência, ancestralidade e consciência ambiental, entre tantos outros temas. A distância acadêmica revela uma crescente pesquisa de matérias e experimentações técnicas em busca de um apuro narrativo e estético.

 

 

As histórias contadas através dos trabalhos presentes na mostra foram construídas com base na observação do cotidiano vivido ou percebido, dos costumes e da sensibilidade. São narrativas que moram nas quatro artistas e as mantêm vivas. Já os objetos perdem o valor contemplativo e podem assumir caráter de devoção, evocando suas crenças, sonhos, pensamentos e questionamentos. Recusando serem caladas, as ideias que propagam se baseiam na perpetuação, preservação e libertação de suas raízes, do cotidiano e do futuro que agoniza e sufoca.

 

 

Se “por muito tempo na história, ‘anônimo’ era uma mulher”, como escancara Virginia Woolf (1882-1941), queremos que as prosas das mulheres sejam notadas, que suas vozes sejam ouvidas e que possamos nos inspirar com suas histórias. É preciso visitá-las e revisitá-las para que grupos periféricos ganhem um novo e merecido espaço na noção de arte brasileira, em nossas agendas e em nossa sociedade, abandonando as margens. “Tudo o que você me der é seu” é uma generosa troca, e somos nós que ficamos com o presente.

Salão Online de Artes Visuais do Ibeu

11/jan

 

Pela primeira vez desde que foi concebido, há quase 50 anos, o Salão de Artes Visuais Galeria Ibeu será realizado em formato digital. Após seleção aberta em novembro de 2020, a 1ª edição do “Salão Online de Artes Visuais Galeria Ibeu” reabre o calendário de exposições em janeiro. Tendo como objetivo divulgar a produção de artistas brasileiros realizada em 2020, em meio às medidas de prevenção ao contágio pelo Coronavírus, o Salão acontece até o dia 5 de fevereiro através das plataformas Instagram (@galeriaibeu) e Blog da Galeria Ibeu (ibeugaleria.blogspot.com).

Naturais do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Goiás e Espírito Santo, foram ao todo 32 artistas selecionados: Alexandra Ungern, Aline Moreno, Ana Klaus, Antônio Freire, Bruno Alves, Bruno Lyra, Camille Fernandes, Claudia Lyrio, Edson Macalini, Fabi Cunha, Fava da Silva, Fernando Brum, Fernando Correia, Júnior Franco, Larissa Camnev, Laura Villarosa, Leo Stuckert, Liliana Sanches, Lucas Ribeiro, Luísa Prestes, Maria Eugênia Baptista, Mariane Germano, Mateus Morbeck, Myriam Glatt, Nina Maia, Patricia Pontes, Paulo Juno, Raul Leal, Rodrigo Westin, Sandra Gonçalves, Thomaz Meanda, Vicente Brasileiro. Entre as mídias utilizadas encontram-se pinturas, esculturas, instalações, desenhos, colagens, vídeos e fotografias.

Artistas sem Galeria

O 12º Salão dos Artistas sem Galeria em sua versão de 2021 apresenta nas galerias LONA, Barra Funda e ZIPPER GALERIA, Jardins, ambas em São Paulo, SP, uma nova seleta de artistas. O naipe é composto pelos jovens Ana Andreiolo, André Bergamin, Evandro Angerami, Laura Villarosa, Leonardo Luz, Marc do Nascimento, Mateus Moreira, Paloma Mecozzi, Rafaela Foz e Thiago Fonseca.

 

As exibições coletivas obedecem dias diferentes de abertura como 14 de janeiro na Lona Galeria e 16 de janeiro na Zipper Galeria com encerramento em ambas no dia 20 de fevereiro.

Exibição em dupla 

07/jan

 

 

Em “Buscadores: a vitalidade da arte”, os artistas Bruno Schmidt e Roberto Barciela, em cartaz até 31 de janeiro na Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, exibem suas últimas experiências artísticas. Distintos formalmente entre si, Bruno Schmidt comparece com série de obras viscerais criadas em composições vigorosas  sendo a maioria em grandes dimensões enquanto Barciela exibe-se de modo distinto e inteiramente oposto com pinturas e objetos geométricos; um trabalho cerebral, calculado em perfeito contraponto e contrastes de cores.  A mostra também pode ser visitada pelo Youtube, através do link https://youtu.be/AiIwXWqy__8. O vídeo tem uma duração de cerca de 10 minutos. A curadoria traz a assinatura de Paloma Carvalho.

 

 

Para a curadoria Bruno Schmidt “explora elementos prosaicos, papéis e emborrachados: signos, materiais descartados que vão deixando por terra seus significados e usos originais para serem percebidos como elementos plásticos, como material de trabalho” enquanto em sua visão, Roberto Barciela “desafia materiais industriais e aquela geometria. Formas animam-se, reagem a seus cortes. Dinâmicas, expressivas, adquirem a personalidade exuberante das cores acrílicas – lisas, brilhantes, intensas, mas contudo sem excesso de gestos.”

 

Representação de Emanoel Araújo

05/jan

 

 
A Galeria Simões de Assis, Curitiba, PR e São Paulo anunciou a representação do escultor, gravador e museólogo Emanoel Araújo.
 
Sobre o artista

 

 

Emanoel Araújo, nasceu em Santo Amaro da Purificação numa tradicional família de ourives, aprendeu marcenaria, linotipia e estudou composição gráfica na Imprensa Oficial de sua cidade natal. Em 1959 realizou – ainda em Santo Amaro – sua primeira exposição individual. Mudou-se para Salvador na década de 1960 e ingressou na Escola de Belas Artes da Bahia (UFBA), onde estudou gravura.

Foi premiado com medalha de ouro na 3ª Bienal Gráfica de Florença, Itália, em 1972. No ano seguinte recebeu o prêmio provindo da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor gravador, e, em 1983, o de melhor escultor. Foi diretor do Museu de Arte da Bahia (1981-1983). Lecionou artes gráficas e escultura no Arts College, na The City University of New York (1988). Expôs em várias galerias e mostras nacionais e internacionais, somando cerca de 50 exposições individuais e mais de 150 coletivas. Foi diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992-2002) e fundador do Museu Afro Brasil (2004), onde é Diretor Curador. 

Em 2005, exerceu o cargo de Secretário Municipal de Cultura de São Paulo e em 2007 foi homenageado pelo Instituto Tomie Ohtake com a exposição “Autobiografia do Gesto”, que reuniu obras de 45 anos de carreira.

 

“Franklin Cassaro – O Fantasma Chinês”, ocupação na vitrine da galeria Simone Cadinelli. Em seu primeiro trabalho da pesquisa sobre a China o artista cria “máquinas da prosperidade”, em “atos escultóricos”

22/dez

Vitrine chinesa

Em seu primeiro trabalho da pesquisa sobre a China, a que pretende se dedicar, o artista Franklin Cassaro cria “máquinas da prosperidade”, em “atos escultóricos” que ocupam a vitrine da galeria Simone Cadinelli, que dá para a Rua Aníbal de Mendonça, Ipanema, Rio de Janeiro. A quase totalidade de objetos, materiais e aparelhos foi comprada na China. Os demais foram construídos pelo próprio artista, que buscou seguir a lógica e a cultura chinesas nessa produção. A instalação “O Fantasma Chinês” integra a exposição “Como habitar o presente? Ato 3 – Antecipar o futuro”, com curadoria de Érika Nascimento.

A partir da ópera chinesa, suas cores e sonoridades, Cassaro criou uma cena teatral no espaço de cinco metros quadrados da vitrine da galeria, usando símbolos como  Velho Sábio, o dragão, porcelana, alfinetes perolados chineses e cédulas históricas de renmimbi (nome oficial da moeda da China, enquanto a palavra yuan, mais comum, é uma unidade de conta, o valor).

“Esta é uma exposição que fala de prosperidade. O objetivo principal é a produção de máquinas de prosperidade através dos atos escultóricos. Não são peças estáticas, se movimentam com o vento”, explica Franklin Cassaro. “A vitrine é visitável: pode ser vista do lado de fora ou penetrar. É um penetrável pensado para causar uma sensação”.

Franklin Cassaro embaralha conceitos de sorte/azar, correto/incorreto, e brinca com preconceitos com números que não trariam boa fortuna: na China se evita o “quatro”, pois sua pronúncia se assemelha à da palavra “morto”, ao passo que no ocidente é o “treze” o número temido.

O artista convidou sua filha Lara Cassaro, estudante de design na PUC, para ajudá-lo na pesquisa sobre a simbologia do vento, das nuvens chinesas. Ela é coautora de um dos trabalhos: são discos, feitos de caixa de papelão pintadas de preto, a mesma cor usada na parede, onde ela desenhou bordos dourados como se fossem a louça chinesa.

Até 16 de janeiro de 2021.

 

Tarsila do Amaral A Caipirinha, 1923

08/dez

 

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Fortes D’Aloia & Gabriel inaugura plataforma.

Entre as dez obras expostas na plataforma fdag-film está o novo trabalho de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, apresentado em primeira mão no seminário da arte!brasileiros em outubro.

 

Com dez trabalhos de artistas contemporâneos representados pela galeria, a Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo, SP, acaba de inaugurar sua nova plataforma digital, intitulada fdag-film, dedicada a vídeos e filmes. Apesar de vinculada em um primeiro momento à participação da galeria na Art Basel OVR: Miami Beach, que aconteceu entre os dias 02 e 06 de dezembro, a página seguirá no ar como um espaço expositivo da casa.

 

Serão quatro edições ao ano, com variados recortes curatoriais. O primeiro, que segue no ar até dia 2 de março de 2021, reúne obras de Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, Jac Leirner, Tamar Guimarães, Armando Andrade Tudela, Cristiano Lenhardt, Janaina Tschäpe, Rivane Neuenschwander & Cao Guimarães, Sara Ramo, Sarah Morris e Rodrigo Cass.

 

Entre os 10 trabalhos, todos produzidos a partir dos anos 2000, está One Hundred Steps, filme de Bárbara e Benjamin que estreou em outubro na MANIFESTA 13, realizada este ano em Marselha. O trabalho, filmado entre a França e a Irlanda e que remete também à cultura artística árabe do norte-africano, teve trecho apresentado em primeira mão no VI Seminário Internacional Virtual ARTE!Brasileiros: em defesa da natureza e da cultura, que contou com participação da dupla. 

 

Também ganham espaço na fdag-film outras obras lançadas neste ano de 2020 como Botão, primeiro trabalho de Jac Leirner pensado para a esfera virtual, e SOAP, de Tamar Guimarães em colaboração com Luisa Cavanagh e Rusi Millán Pastori, inspirada em telenovelas brasileiras. Estas produções quase inéditas dialogam na plataforma com trabalhos de trajetória já consolidada como Quarta-feira de Cinzas (2006), de Rivane Neuenschwander & Cao Guimarães, e A banda dos sete (2010), de Sara Ramo.

 

 

Completam a lista de filmes e vídeos na plataforma Guaracys (2016), Mano que sostiene (2012), Rio (2012), Físico (2015) e Dreamsequence I & II (2002).

 

Fonte: Arte!brasileiros.

Galeria BASE com obras acromáticas

03/dez

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, São Paulo, SP, cumprindo todos os protocolos determinados pelas autoridades, encerra sua agenda de exposições de 2020 com a mostra coletiva “O que é raiz e não vértice”, expondo – até 23 de janeiro de 2021 –  aproximadamente 40 obras, entre pinturas e esculturas de Anna Maria Maiolino, Bruno Rios, Frans Krajcberg, José Rufino, Lucas Lander, Luiz Martins, Manoel Veiga, Marco Ribeiro, Mira Schendel e Véio. A curadoria é assinada por Paulo Azeco e a coordenação artística fica a cargo de Daniel Maranhão.

A exposição apresenta uma ampla representatividade de artistas de várias gerações e regiões do país com um ponto comum, alguns representados pela galeria, peças de acervo e outros convidados a participar de mostra que conclui o trabalho de um ano cheio de desafios. “A proposta da galeria é de trazer uma mostra onde a linguagem acromática cria um diálogo entre artistas de diferentes formações e épocas”, define Daniel Maranhão.

 

Optando pela ousadia de romper paradigmas, a Galeria BASE escolhe comemorar com ausência de cores e mostrar as possibilidades de representações artísticas em preto e branco, pois comunga com o conceito mencionado pelo artista Pierre Soulages de que quanto mais limitados os meios de expressão de que o artista dispõe, melhores são os resultados que ele pode alcançar.

 

O curador Paulo Azeco seleciona as obras onde sua importância e valor estético transcendem da utilização de cor: “desde as hoje aclamadas monotipias de Mira Schendel, o lirismo do trabalho de Anna Maria Maiolino até o poder expressivo das esculturas de Véio, a força se mostra por outros meios”, define.

 

Contrapontos e complementos contam histórias visuais em “O que é raiz e não vértice”. Frans Krajcberg, fez com que sua habilidade criativa e preocupação com sustentabilidade do planeta, em um momento em que o assunto não era destaque, gerasse obras de formas robustas e sofisticadas que independem de assinatura. São um manifesto por si. O trabalho de José Rufino utiliza elementos carregados de memória, oriundos sobretudo de seu legado familiar, como documentos, cartas entre outros itens de memorabilia.

 

Lucas Lander investiga o uso do carvão em construções ora figurativas, ora abstratas que extrapolam vigor; Marco Ribeiro apresenta obras inspiradas na arquitetura brutalista em nanquim enquanto Bruno Rios tem em sua pesquisa o uso constante do preto e não a considera uma cor que remete à tristeza, como muitos. Sua escolha é pela sofisticação do monocromatismo. Luiz Martins exibe trabalhos onde as formas remetem a seus antepassados indígenas, baseadas em representações rupestres plenas de pigmentos pretos, com uma profundidade que remete a cicatrizes ancestrais. Já as obras de Manoel Veiga exibem resultados abstratos, onde a partir da manipulação da imagem, enfatiza o confronto entre o claro e o escuro.

 

O que é raiz e não vértice” trata de como brasileiros contemporâneos fogem de duas características marcantes da arte Brasileira: o uso de cor e da geometria. Essa é uma pesquisa sobre os que vão contra essa corrente, investigando o avesso, sendo brasileiro sem cair nas obviedades do imaginário nacional.

 

Na trajetória da galeria, o monocromático sempre foi destaque em suas exposições. É uma de suas características que agora ampliamos e explicitamos. O mote principal da curadoria é um reflexo dos tempos sombrios que vivemos; o país entristeceu e esse fato justifica falar dessa arte que não é apenas sobre celebração e mais a respeito de reflexão”.

Paulo Azeco