A obra de Miguel Bakun

18/out

A partir do dia 26 de outubro a obra de Miguel Bakun entrará em exibição na Simões de Assis Galeria de Arte, Jardins, São Paulo, SP, estendendo-se até 14 de dezembro. A apresentação é do crítico Ronaldo Brito.

 

Miguel Bakun

Por Osmose

Texto de Ronaldo Brito

 

Não se enganem com a escala modesta, as cores terrosas, enfim, o aspecto de casual abandono que preside sobre as telas de Miguel Bakun. Elas não respondem passivamente ao mundo. À sua maneira enviesada, avançam decididas sobre ele e o recortam à medida do Eu do artista. Quase chegamos a vê-lo se aproximar furtivamente da paisagem para abreviá-la, tomá-la para si, impregná-la com seu lirismo pungente mas nem um pouco declamado. De fato, nosso pintor parece operar por osmose. É preciso, primeiro, reduzir a cena ao alcance de seus poderes de transfiguração e encantamento, poderes limitados porque intensos demais. Para esse autodidata de província, desamparado de tradição, isso desde logo implicava a empatia com trechos esquecidos de mundo, entregues à própria sorte, inéditos porque jamais mereciam atenção pública. Este é o lar, o único lar possível, desvalido e transitório, desse livre exercício de pintura que, por vocação, procede às avessas do mundo burguês administrado.

 

Depois, é urgente estreitar o contado físico. Muito da força poética de Bakun deriva da sensação de presença corpórea – sentimos o artista em meio à natureza, quase indistinto, a acompanhar sua pulsação orgânica; e o assistimos ainda a absorver a cena, em geral concisa e transversa, até que a tela literalmente a incorpore. É um truísmo: segundo a lógica contrária do trabalho de arte, o errado costuma dar certo. No caso de Miguel Bakun, o óleo fruste, sem brilho, quem sabe veio a ser o veículo ideal a permitir a coalescência com o vegetal, a porosidade com que assimila a matéria orgânica. As extraordinárias marinhas, por sua vez, ostentam um pronunciado acento mineral. Já os céus não exalam nada de aéreo: são quase metálicos. Trata-se sempre, porém, da mesma ânsia tátil que desobedece à vontade a regra acadêmica da textura, a correta imitação visual da sensação tátil. A matéria da pintura é o espírito do pintor. A contraprova vem em seus autorretratos despojados, gênero mimético por definição. Reparem como a figura do artista é feita do mesmo estofo do interior que, ao invés de o acolher e distinguir, expõe sua precária condição existencial. Menos do que representante típico da boêmia – habitat por excelência do pintor extraviado da época – Miguel Bakun se apresenta como o homem comum, funcionário de repartição, comerciário talvez, desgastado pelo trabalho, com a fisionomia um tanto perplexa.

 

Uma vez que o quadro pós-impressionista busca a verdade em si mesmo, em sua própria personalidade, e só se autojustifica graças à coerência e potência formais, é evidente que a natureza deixa de ser Criação, a guardar um segredo que a pintura nos ajudaria a resgatar. O humilde e isolado Bakun foi entre nós um dos primeiros paisagistas para quem o contato com a natureza, o Outro do homem, se converte no modo insigne de interrogar o destino pessoal. Modo solitário, silencioso e meditativo, que a agitação e o convívio humano anônimo e conspícuo da cidade grande tornaram impraticável. De alguma maneira, por meios e modos difusos, Miguel Bakun fez-se contemporâneo de Cézanne e Van Gogh. Ele não passava os olhos sobre as reproduções de suas telas, a essa altura, já emblemáticas; à sua medida, ele as introjetava, examinava a fundo, até as últimas partículas de seu ser.

 

A cronologia termina, assim, quase irrelevante. O que importa é que essas pequenas telas introspectivas, que adquirem direito de cidadania como linguagem moderna inicial nos tardios anos 1940, continuam a seduzir e intrigar o olhar contemporâneo. Quer dizer, permanecem e, para muitos de nós, só agora aparecem como agentes do nosso acervo simbólico modernista, instintivamente envolvidas que estavam com o difícil processo de formação do sujeito estético moderno no Brasil. Junto às telas de uns poucos pares, Guignard, Pancetti e um Alfredo Volpi que ainda preparava o salto mortal em direção à plena pintura autônoma, elas nos levam a interrogar o presente de nosso passado modernista. Porque, visivelmente, o atualizam.

Exposição de Bruno Miguel

07/out

Com diversas exposições internacionais no currículo, Bruno Miguel mostrará obras inéditas, que o destacaram no exterior, mas nunca foram apresentadas no Brasil. Nos últimos anos, Bruno Miguel expôs mais no exterior, onde também realizou residências. Muitas de suas séries, que o destacaram nos Estados Unidos, na Alemanha e no Peru, nunca foram vistas no Brasil. Com isso, surgiu a ideia da exposição “Youdon´tknow me”, que será inaugurada no dia 8 de outubro, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é de Agnaldo Farias. A mostra traz um recorte dos trabalhos mais emblemáticos do artista, produzidos nos últimos cinco anos.

 

A exposição ocupará todo o espaço expositivo da galeria, com cerca de sete séries de trabalhos, que abordam a construção da memória no universo doméstico, as relações do POP e do consumo e a pintura como pensamento expandido. Conhecido por aqui por suas pinturas sobre tela, Bruno Miguel tem uma ampla produção em diversos outros suportes, como escultura, desenho e instalação, incluindo também a pintura, mas que, muitas vezes, é apresentada de forma mais ampla, a partir do pensamento sobre pintura, em obras que não necessariamente utilizam a tela.

 

Dentre as obras apresentadas estará uma instalação da série “Mesa de Jantar”, composta por diversos guardanapos de papel, pintados com tinta Epóxi e vinil adesivo. Obras desta série foram mostradas duas vezes em Nova York, na Pensilvânia, em Lima, em Buenos Aires, em Bogotá e em Berlim, mas nunca no Brasil. Utilizando as formas de objetos de uma mesa de jantar, como pratos, copos, descansos de panelas e outros, o artista vai criando as obras a partir de um jogo entre o positivo e o negativo, utilizando cores e também o branco para destacar certos contornos e dar volume. O vinil adesivo imitando diferentesmadeirascomplementa a obra, dando a sensação de se tratar de uma mesa de jantar.

 

Na série “Sala de Jantar”, o artista apresenta pinturas sobre um conjunto de pratos de porcelana e faiança, comprados em leilões de antiguidade, que são dispostos na parede e pintados com esmalte, tinta a óleo e colorjet, com imagens que perpassam e continuam de um prato para outro, formando uma unidade. “Os pratos têm relação com o rizoma Deleuziano e o grafismo urbano do Rio de Janeiro, com o subúrbio onde moro, com as grades e as pichações que quem vive na cidade está acostumado a ver”, conta o artista, que ressalta que esses trabalhos se relacionam com os guardanapos da série “Mesa de Jantar”, apesar de terem um “caráter de excesso, oposto à estética minimal dos guardanapos”.

 

“O vazio que nos consome” é um conjunto de obras feito a partir de embalagensplásticas de produtos consumidos pelo próprio artista, que são lavadas, preenchidas com resina e tinta e ao final tendo as embalagens descartadas, se tornam um híbrido de pintura e escultura, memoriais do vazio cotidiano. Sem referência à embalagem original não épossível identificar sua origem, tornando-se suportes de cores, que ficam levemente descoladas da parede. “Essas obras vêm da relação do POP com o ambiente doméstico e falam sobre a feitichizaçãodo consumo, sobre o condicionamento social de que consumir faz parte da nossa estrutura”, afirma Bruno Miguel. Essa é uma das obras em que o suporte é a escultura, mas cujo corpo da obra é construído como se fosse pintura, sobrepondo camadas de resina.

 

Farão parte da exposição, ainda, obras da série a série “Candy”, onde, em um suporte de madeira coberta de resina, são inseridas formas coloridas, também de resina, que lembram balas e doces. Essas “balas” são preparadas pelo artista em fôrmas de silicone próprias para a feitura de doces. Novamente explorando a tridimensionalização dos processos pictóricos, ampliando o campo das fronteiras sobre o que pode ser a pintura hoje. Complementa a exposição asérie “Objetos de natureza morta”, obras pictóricas tridimensionais, que reúnemglobos de luz, luminárias, sacos vazios e garrafas, que são preenchidos com resina pigmentada. Essa obra é um desdobramento da instalação “Cristaleira“, apresentada no Oi Futuro Flamengo, em 2015.

 

Sobre o artista

 

Bruno Miguel nasceu no Rio de Janeiro, em 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, formado em artes plásticas e pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde é professor desde 2011. Possui obras em importantes coleções públicas e privadas, como Museu de Arte do Rio (MAR), Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM- Rio, Deutsche Bank Collection, Centro Cultural São Paulo, entre outras. Recebeu menção especial de honra V Bienal Internacional de La Paz, Bolívia, e realizou residências na FountainheadResidence (2019), em Miami, EUA; no Vermont Studio Center(2018), em Vermont, EUA, e na DreamplayArtists in Residence – Fall (2013), em Lyndhurst, EUA.

 

Dentre suas principais exposições individuais estão: “Youcan´ttakeitwithyou?” (2019), no PCA&D Lancaster, na Pennsylvania, EUA;“Welcome Lima” (2018), no Espacio Tomado, em Lima, Peru; “SeductionandReason” (2017), na Sapar Contemporary, em Nova York, EUA; “A Viagem Pitoresca” (2016), no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, em Curitiba, e “Essas pessoas na sala de jantar” (2016), no Centro Cultural São Paulo; “Sientase em casa” (2015), na Sketch Gallery, em Bogotá, Colômbia; “A Cristaleira” (2015), no Oi Futuro, no Rio de Janeiro; “Essas pessoas na sala de jantar (2015), no Paço Imperial, no Rio de Janeiro; e em 2016 no Centro Cultural São Paulo, “Ex-culturas” (2013), na Galeria do Lago, no Museu da República, no Rio de Janeiro; “MakeYourselfat home” (2013), no S&J Projects, em New York; “Tudo posso naquilo que me fortalece” (2013), na Luciana Caravello Arte Contemporâna, entre outras. Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Manjar: Para Habitar Liberdades” (2019), no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro; “The World on Paper” (2018), no Palais Populaire, em Berlim, Alemanha; “A Luz que Vela o Corpo é a Mesma que Revela a Tela” (2017), na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro; “São Paulo não é uma cidade, invenções do centro” (2017), no SESC 24 de Maio, em São Paulo; “Arte em Revista” (2016), na Galeria do BNDES, no Rio de Janeiro; “EBA 200 anos” (2016), no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro; “Trio Bienal” (2015), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, entre outras.

 

Sobre o Curador

 

Agnaldo Farias é professor-doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, crítico de arte, curador geral do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba e curador da 3ª Bienal de Coimbra, Portugal. Realizou curadorias de exposições para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural Banco do Brasil e para a Fundação Bienal de São Paulo, entre diversas outras instituições. Foi curador de Exposições Temporárias do Museu de Arte Contemporânea da USP (1990/1992) e curador geral do MAM/RJ (1998/2000). Na Fundação Bienal de São Paulo, participou de suas 16ª e 17ª (1981 e 1983), na seção de cinema da equipe de Walter Zanini. Curador da Representação Brasileira da 25ª Bienal de São Paulo (1992), curador adjunto da 23ª Bienal de São Paulo (1996) e da 1ª Bienal de Johannesburgo (1995). Ainda, ao lado do curador Moacir dos Anjos, assinou a curadoria geral da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e manteve a parceria na Representação Brasileira da 54ª Bienal de Veneza (2011), com uma exposição de Artur Barrio.

 

Até 09 de novembro.

 

Palatnik: atenção perceptiva

04/out

A Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, PR, apresenta até 23 de novembro obras de Abraham Palatnik em exposição individual.

 
PALATNIK: encantamento e reflexividade do olhar

 

Abraham Palatnik é um dos pioneiros da arte cinética na história da arte do pós-guerra. Participou da formação do grupo concreto no Rio de Janeiro – Grupo Frente – entre o final dos anos 1940 e o começo da década de 1950. Seu Cinecromático causou impacto na 1ª Bienal de São Paulo de 1951 e foi um divisor de águas. A questão que o mobilizou ao longo de toda sua longa trajetória, todavia, não se prende à tecnologia, mas está focada na articulação entre movimento (real ou virtual) e atenção perceptiva.

 

É sabida nossa dispersão sensorial circulando pelas grandes metrópoles modernas. A excitação estética que nos mobiliza, na publicidade e no entretenimento, nos faz olhar muita coisa e não parar para ver nada. Não há tempo e tudo passa. A obra de Palatnik impõe-nos outra temporalidade. O encantamento nos atrai e somos convidados e reparar no que vemos. Ao mesmo tempo em que tudo mexe, nosso olhar se fixa na magia deste jogo lúdico de linhas e cores.

 

Neste aspecto, sua obra esteve, mesmo que indiretamente, vinculada aos interesses da Op art. Uma espécie de acaso controlado define o acender e o apagar das luzes nos cinecromáticos ou o movimento inusitado das hastes nos aparelhos cinéticos ou de ripas, cordas e veios de madeira nas múltiplas séries que ele criou desde a década de 1960.

 

O importante no uso da tecnologia no seu caso é que ele se apropria e transforma o dispositivo tecnológico sem se submeter aos seus condicionamentos predeterminados. A tecnologia não é um imperativo de expressão determinado pela novidade, é um meio de expressão a ser deslocado por conta das potencialidades poéticas e estéticas. Neste aspecto, há um diálogo lateral entre Palatnik e Calder. O que os mobiliza é o gozo estético, o momento da experiência que nos tira da determinação cotidiana.

 

Em uma crítica de 1951, publicada no Diário Carioca, Antonio Bento já aproximava Palatnik de Calder e fazia isso pelo fato de ambos introduzirem o tempo na experiência das artes visuais. O artista americano buscava esta pulsação temporal a partir da escultura, já o brasileiro vai produzi-la como um desdobramento da experiência pictórica. São obras que nascem de gestos simples, de pequenos achados onde sobram graça e encantamento. Esta combinação do lúdico e do cinético vai singularizá-los dentro desta vertente construtiva que os perpassa.

 

A obra de Palatnik manteve-se sempre acreditando na afirmação de uma subjetividade emancipada pelo contato mobilizador com a forma artística. Qualquer tipo de determinismo, seja político, seja tecnológico, passa à margem de sua obra. É uma experiência de absorção e sedução que faz com que a obra seja um lugar de sensibilização de formas e cores. O que interessa na relação com o fenômeno estético é o parar para ver e deixar-se seduzir pelo tempo intrínseco deste ver. Não se adequa ao mero reconhecer, não há nada “fora” ou “antes” do ato de perceber, apenas o dar-se do acontecimento visual.

 

A partir da década de 1960 a obra de Palatnik tomará dois caminhos. O fascínio não é mais com a luz, mas apenas com o movimento e ele pode ser tanto real como virtual. Sua obra se desenvolverá tanto na produção de objetos cinéticos como de pinturas intituladas Progressões, feitas a partir do movimento óptico dos veios da madeira ou de efeitos cromáticos serializados pintados sobre a madeira1. Em seguida, novos materiais passam a ser explorados: do poliéster ao papel cartão, passando pelas cordas e voltando às ripas. Esta exposição na galeria Simões de Assis está focada neste segundo aspecto do movimento, mais óptico que cinético.

 

Tomando as progressões do começo da década de 1960, uma indagação pode ser feita em relação ao uso da madeira. Este uso não parece arbitrário, mas resultado do seu envolvimento àquela época na produção de mobiliário, que o punha em contato direto com a madeira. A partir daí, com sua sempre concentrada atenção estética, a madeira passa a revelar possibilidades formais até então despercebidas. O que interessava a Palatnik era o modo como a forma iria resistir ao tempo acelerado do mundo contemporâneo, obrigando o olhar a parar e deixar-se seduzir pelo acontecimento visual. Contra a manipulação sensorial da sociedade do espetáculo, há neles o primado fenomenológico do reaprender a ver o mundo.

 

Por fim, sua obra assume um compromisso ético, no sentido de uma experiência perceptiva livre e independente – sem determinações normativas nem cognitivas. A obra de Palatnik, assim como de alguns artistas importantes do movimento Op, apesar dos riscos formalistas inerentes a certa diluição decorativa, assumiu até o fim o desejo de fazer da pintura um exercício de emancipação estética da humanidade.

 

Nota:
1 Deixo de lado aqui sua atividade industrial, suas pesquisas com novos materiais como o poliéster e seus jogos e máquinas lúdicas.

 

Luiz Camillo Osorio

 

Nova exibição de Ascânio MMM

01/out

A Casa Triângulo, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a exposição individual de Ascânio MMM. A curadoria é de Guilherme Wisnik. As peças espaciais de Ascânio MMM têm uma vocação pública, que denota seu vínculo de base com a tradição construtiva e, mais especificamente, uma proximidade com a Arquitetura, e com a noção de estrutura. Por isso é que muitos desses trabalhos tenham sido instalados em espaços abertos, fora de galerias ou museus.

 

No caso dessa exposição, a tipologia piramidal, remetida a formas históricas totêmicas, combina-se a um novo trabalho mais aberto e abstrato (Quasos/Prisma 1), cuja escala permite que as pessoas penetrem o seu espaço interior e o atravessem. Dependendo do ângulo pelo qual olhamos as peças espaciais de Ascânio – Quasos e Piramidais -, elas assumem aspectos mais sólidos ou mais vazados, dada a profundidade dos perfis utilizados.

 

Até 01 de novembro.

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Exposição Mario Mendonça

30/set

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 05 de outubro a 09 de novembro a “Exposição Mario Mendonça”. A mostra conta com 37 telas, em destaque para algumas obras inéditas.

 
“Se parar de pintar… paro de respirar”

 

Mario Mendonça

 

Mario Mendonça nasceu no Rio de Janeiro, em 1934. Cursou Direito e trabalhou na empresa do pai por algum tempo, mas sua vocação pela arte sempre se manifestou, desde que, nos primeiros anos do Colégio Santo Agostinho, os padres confiscavam seus cadernos quando o flagravam desatento às aulas, desenhando.
Autodidata no campo artístico e católico de formação, a pintura sacra o impactava desde as missas frequentadas em família. Mario era afetado (a palavra deriva de afeto) por esse tipo de pintura, sobretudo a de Georges Rouault e Mathias Grunewald até que, em 1961, conheceu Emeric Marcier, em uma reunião de trabalho na corretora onde trabalhava. Havia um caderno de desenho sobre sua mesa e o artista folheou, convidando o jovem para visitar seu ateliê no sábado seguinte. Ali, no pequeno apartamento da Timóteo da Costa, Mario se deparou com um Cristo em proporções monumentais, ainda no cavalete e se apaixonou irreversivelmente. Foi acometido pelo pathos que se abriu em sua vida: a partir de então, estava decidido a viver da e para a arte.

Sua primeira professora de desenho foi Caterina Baratelli, uma italiana indicada por Marcier para o pupilo aprender o básico. E o desafiou: “depois que ela o dispensar das aulas, retorne aqui para o seu curso superior” (contou-me Mario em entrevista oral, 2019). Só que paralelamente às aulas de Baratelli, frequentava também as de Ivan Serpa e Aluísio Carvão, no MAM-RJ. Este parece ter sido um dos motivos de seu desentendimento posterior com Marcier. Antes, porém, chegou a viver um tempo em Barbacena, no sítio do pintor romeno. Mario confessa que ele o influenciou intensa e profundamente por 25 anos e sua admiração por Marcier é inesgotável, mas a amizade não foi. Romperam em 1964 quando, ao final do ano, Aluísio Carvão organizou uma exposição individual do aluno no próprio museu. Desde então, Carvão seguiu sendo mestre, amigo e parceiro de ateliê de Mario Mendonça por quase 40 anos, até o seu falecimento em 2001.

Com Carvão, Mario descobriu a magia das cores que passou a aplicar em suas obras, antes em tons escuros. Os temas preferidos continuavam a ser as cenas bíblicas e as paisagens montanhosas, duas constantes em sua pintura. Além das cores, trouxe a multidão compassiva para compor seus apocalipses, crucificações e calvários. “Trazer a multidão significa trazer à cena o nosso contemporâneo”, explica (entrevista oral, 2019). Ao cenário sagrado, incorporou também o impacto dos horrores do Holocausto: seus Cristos são cadavéricos e deformados, tão lúgubres quanto esteve a condição humana naquele período de Guerra Mundial e Guerra Fria. Sobre essa dimensão de seu trabalho, Walmir Ayala acrescenta que o artista realiza uma “abstração revolucionária dos cânones clássicos das imagens sagradas” e arremata toda uma trajetória artística no resumo inconteste: a obra de Mario se trata de um “apaixonante romance da salvação”. (Apud. In: Mendonça. Espaço Mendonça, 2003).

Retornando à cronologia, após a sua inédita exposição no MAM-RJ (1964), destacaram-se alguns marcos na carreira do artista: em 1967 expôs na Maison de France e pintou o interior da primeira igreja (Matriz dos Santos Anjos, Leblon). Muitas pinturas sacras em capelas se seguiram após esse evento inaugural, tendo pintado o interior de dez igrejas entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, culminando com a Capela do Corcovado, no Rio de Janeiro, que abriga a sua solene Ressurreição de Cristo, desde 2014. Quanto às exposições, no ano 1970 realizou uma individual na Alemanha, que lhe abriu um leque de oportunidades internacionais: Portugal (ainda em 1970), Roma (1976 e 1982), Madri (1979), Bulgária (1987), Paris (1988) e Alemanha novamente, em 1989. No âmbito nacional, destacam-se a sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes (1972), composta de paisagens e uma impactante Via Sacra na entrada do Museu; a de arte sacra na Galeria Ipanema (1978), eleita uma das melhores naquele ano; a sua Retrospectiva na Casa do Bispo (1985, parceria da Fundação Roberto Marinho com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, contendo 115 telas sacras do artista) e a exposição Abertura do Novo Milênio (2001, MNBA-RJ) que o consagrava como um pintor religioso secular.

Além desses marcos expositivos, Mario recebeu medalhas de honra e prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho; teve obras escolhidas para compor acervos importantes, como o do Vaticano, o do Museu Ibero Amerikanishes Institut (Berlim), o do Museu Nacional de Belas Artes, os de palácios de governos no Estado de Minas Gerais e o do Palácio do Planalto, em Brasília; foi convidado para membro das Academias Brasileira de Arte (ABA) e de Belas Artes e também para conselheiro de cultura da Arquidiocese do Rio de Janeiro; editou livros sobre sua pintura e seus desenhos; criou um instituto cultural em Tiradentes, MG (2011); manteve uma linda família e pintou, pintou e pintou, com disciplina e paixão. Hoje, com 85 anos, Mario continua devoto de sua própria arte. E depois de um período de 20 anos sem expor, apresenta 37 obras (algumas inéditas) na Galeria Evandro Carneiro Arte.

Laura Olivieri Carneiro,

setembro de 2019.

 

Exibição prorrogada

26/set

Roberto Magalhães e Carlos Vergara, dois expoentes da arte contemporânea brasileira, amigos há décadas – desde os tempos da “Nova Figuração” com os companheiros de ofício Antonio Dias e Rubens Gerchman – apresentam uma exposição em conjunto. A mostra, em cartaz na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, foi prorrogada e permanecerá até 11 de outubro. Ao todo, são cerca de 20 trabalhos, ligados sob o fio do desenho e da obra gráfica. Os dois artistas criaram em conjunto novos trabalhos. A ideia é fazer com que a obra de dois artistas que seguiram carreiras paralelas com traços autorais muito fortes e absolutamente distintos possa se tocar pela primeira vez, em um horizonte improvável. Para criar essas obras, o espaço da galeria se transformou em ateliê e os artistas tiveram telas à sua disposição. Em cada uma, foram traçadas uma linha divisória: um desenha e pinta a parte de cima e outro a de baixo. Depois, eles invertem a ordem. “Não se trata de uma competição, mas de um desafio criado por eles mesmos como um gesto de respeito e admiração um pelo outro”, diz Maneco Müller, sócio da galeria.

 

Pioneiros da nova figuração brasileira, participantes da icônica exposição “Opinião 65″, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1965, Roberto Magalhães e Carlos Vergara se conheceram ainda na adolescência, tiveram protagonismo cedo, desenvolveram longa carreira nas artes visuais e sempre foram muito próximos. Ao mesmo tempo, suas criações são definitivamente distintas. Até no temperamento são diferentes: Vergara é expansivo, enfático, agitado, veemente, esportista; Roberto é silencioso, introvertido, calado, contido e observador de tudo. Ainda assim, há um silêncio misterioso que os une em torno da transcendência ou “na busca do inefável”, como diz Vergara, que, em sua trajetória de “pintor viajante”, sempre traz como pretexto as trilhas misteriosas dessa busca. Magalhães, por rumo muito diverso, sempre esteve mergulhado nas questões místicas e suas obram falam de um mundo etéreo. “Minha arte é a busca e a expressão da subjetividade”, explica ele.

 

Na exposição, Vergara traz obras de duas séries: “Coração”, de técnica mista sobre papel, entre impressão, aquarela e pigmento, e outra chamada “Bodoquena”, com desenhos de uma viagem do artista à serra de mesmo nome, no Mato Grosso do Sul. São trabalhos recentes, de média proporção. Entre os trabalhos de Roberto, a maioria é inédita e outros são praticamente desconhecidos. São obras sobre papel, em técnica mista (bico de pena e aquarela). “Meus trabalhos têm uma conotação mística, esotérica, tema que eu persigo desde a década de 70. Sou um estudioso do assunto”, diz o recluso artista, que na semana que antecede à exposição, retorna de uma região desértica e isolada no noroeste da Argentina para onde foi meditar e desenhar.

 

“O primeiro nome que pensei para essa exposição foi Paralelos, depois tive uma ideia: por que não ‘Roberto Carlos’? Roberto Magalhães e Carlos Vergara!”, diverte-se este, feliz com a oportunidade de trabalhar ao lado do velho amigo. “Eu me dou com o Roberto desde 1959. Frequentava a casa dele, na Rua Farani, que era uma espécie de república de artistas. Fizemos muita coisa juntos, exposições, mas temos caminhos, interesses, ideias e métodos de trabalho muito diferentes. Isso, entretanto nunca nos afastou. Sempre tivemos ótimo convívio”, disse Vergara. “Apesar de certa ansiedade para saber como ficarão os nossos improvisos, vai ser inusitado… E divertido. É um grande prazer dividir essa exposição com o Vergara”, diz Roberto.

 

Mas a ideia de reunir a dupla na exposição vai muito além de uma crônica entre dois personagens das artes plásticas brasileiras. Segundo Maneco, essa é uma mostra a ser contemplada com calma e concentração. “É necessário repousar o olhar em cada trabalho para que a exposição possa ser absorvida com toda a sua intensidade”, finaliza ele.

 

Glauco Rodrigues, novo livro

20/set

Destacando a genialidade de Glauco Rodrigues, no dia 21 de setembro, a Danielian Galeria, Rio de Janeiro, RJ, promove o lançamento do livro “Glauco Rodrigues – crônicas anacrônicas, e sempre atuais, do Brasil” que homenageia a vida, a obra e a vitalidade do artista. O livro faz uma revisitação histórica de Glauco Rodrigues, apresentando a importância e relevância atemporal de sua obra pictórica. Nome de alto prestígio no cenário artístico nacional, Denise Mattar assina o livro sobre Glauco Rodrigues no qual é reforçada a importância e a grandiosidade do artista.

 

Além de textos de época como os de Roberto Pontual (1978) e Frederico Morais (1986), a publicação apresenta dois textos contemporâneos da autora do livro, a curadora Denise Mattar, e uma entrevista com o crítico francês Nicolas Bourriaud, feita por José Teixeira de Brito.

 

O livro apresenta duas importantes séries feitas por Glauco nos anos 1970: “A carta de Pero Vaz de Caminha” e “A Lenda do Coati-Puru”. O intenso trabalho de pesquisa contou com a assessoria de Norma de Stellita Pessoa, viúva do artista. Em 16 de outubro será a vez da badalada Livraria da Vila em São Paulo receber o lançamento. O livro estará à venda na Livraria da Travessa (Rio), Livraria da Vila (Jardins, São Paulo, SP) e Livrarias Curitiba.

 

O nome é “Romance”

19/set

 

Desde o dia 20 e até 28 de setembro, a Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição coletiva “Romance”, com cerca de 50 obras de 31 artistas: Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Alexandre Mazza, Alexandre Sequeira, Almandrade, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Delson Uchoa, Eduardo Kac, Elle de Bernardini, Fernando Lindote, Gabriel Giucci, Gê Orthof, Gisele Camargo, Guler Ates, Igor Vidor, Ivan Grilo, Jeanete Musati, João Louro, Jonas Arrabal, Lucas Simões, Marcelo Macedo, Marcelo Solá, Marina Camargo, Nazareno, Pedro Varela, Ricardo Villa e Sergio Allevato.

 

Com curadoria de Gabriela Davies, a exposição apresentará obras em diversos suportes, como pintura, colagem, desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação. Os trabalhos abordam os diversos tipos de romance, atravessando o romance da memória, o romance da história, o romance clichê e também o romance erótico.

 

“Se a quebra do romance permeia os dias de hoje, as histórias de bom-mocismos também ficaram em patamares passados. Mas a verdade é que o romance não deixou de existir, o conceito foi ressignificado. Nosso novo romance é descobrir nossos verdadeiros desejos, nossas identidades, nosso sexo, a vontade de ser nossa própria força. Estamos lutando contra estereótipos sociais rígidos”, afirma a curadora Gabriela Davies.

 

A exposição apresenta trabalhos recentes e inéditos, sendo que muitas obras foram produzidas especialmente para esta exposição, como é o caso dos trabalhos de Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Delson Uchoa, Elle de Bernardini, Ferrnando Lindote, Pedro Varela, Ricardo Villa e Sergio Allevato.

 

Obras em exposição

 

Nas pinturas de Alan Fontes, aparecem palácios e casarões históricos, que nos remetem a beleza de outras épocas, enquanto Daniel Escobar produz colagens com diversos elementos ressaltados de páginas demonstrando a bela flora brasileira. “Ambas tentativas românticas exaltando desejos de mundos mais sensíveis, mas compreendendo que estes beiram o esquecimento (já não vemos mais estas construções em suas formas majestosas, e nas notícias apenas as chamas flamejantes que tomaram nossa imensa floresta da Amazônia)”, diz a curadora Gabriela Davies. Já Marcelo Macedo, através do mesmo suporte, o livro, ao recortar página após página no mesmo polígono, “revela pequenas lâminas de cada página, sem nos revelar o seu verdadeiro conteúdo dando-nos a responsabilidade de criar sua história com o que achamos próprio”.

 

Os romances também aparecem nas pinturas de Daniel Lannes, que retratam sessões de análise, “onde expressamos nossos desejos mais profundos, mas logo os reprimimos ao sair do consultório – que no caso da pintura, parece mais um “talk-show” de grande audiência que uma sessão particular”, ressalta a curadora.

 

Em uma sala separada no terceiro andar, haverá, ainda, trabalhos com temas eróticos.

 

As fotografias de Eduardo Kac apresentam uma grande passeata nudista pela praia de Ipanema. “Uma atividade que é repetidamente repudiada por moralistas, mas que na verdade expressa a vontade de ser em liberdade”, diz a curadora. Em paralelo, Güler Ates, uma fotógrafa turca, também se apropria do seu corpo com registros fotográficos, mas, por sua vez, encoberta por uma manta de seda que revela apenas uma sugestão de figura feminina. “Esse desaparecimento atrás do véu, uma tradição da religião muçulmana, estimula um senso erótico no imaginário do espectador que é contrário ao propósito do encobrimento”, conta a curadora. Já Élle de Bernardini cria sua série “Formas Contrassexuais”, em que abrange os diferentes campos de gênero e sexualidade, “…possibilitando inúmeras classificações (a insenção de) para o descobrimento de nossos ”‘eus’”.

 

 

 

Leonilson & Dias

17/set

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, abriu para o público a exposição “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção”, que reúne 38 desenhos e pinturas de Leonilson (1957-1993) que pertenciam a seu amigo Antonio Dias (1944-2018). A quase totalidade das obras é dos anos 1980. A exceção é a pintura “o biblioteca; o espelho”, de dezembro de 1992, com uma dedicatória a Antonio Dias, e enviada por Leonilson junto com uma carta em 1993, pouco antes de sua morte. A ideia da exposição surgiu em outubro de 2015, em Fortaleza, quando Antonio Dias preparava sua individual na Galeria Multiarte. Na ocasião, ele, sua mulher Paola Chieregato e Max Perlingeiro deram partida ao projeto.

 

“Esta era a vontade de Antonio, além de mostrar esta coleção, contar a história de sua amizade pelo “Leo”, e sua visão. Tudo começou no outono de 1981, em Milão, Itália. Madrugada fria. Estação de trem. Desembarca Leonilson, vindo de Madri. Depois de beber algumas xícaras de café para acordar, resolve ligar: “Antoim! É o Zé! Zé Leonilson”. “E quem te deu meu telefone?”, pergunta Antonio. “Foi o Piza”. “Então vem pra cá!”, responde Antonio, relata Max Perlingeiro.“Leonilson havia conhecido Arthur Luiz Piza (1928-2017) em Paris, por intermédio de Geraldo Holanda Cavalcanti, embaixador do Brasil junto à Unesco (Paris 1978-1981)”, conta. Dali em diante começou uma grande amizade, com respeito mútuo, confiança, afeto, que durou até a morte de Leonilson.

 

Complementam a exposição quatro obras pertencentes a outras coleções particulares. Acompanha a exposição o livro “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção” (Edições Pinakotheke), com capa dura, bilíngue (port/ingl), 120 páginas, com textos de Paola Chieregato e Max Perlingeiro. O livro conterá ainda uma entrevista com Luiz Zerbini, também amigo do artista, e uma cronologia da trajetória de Leonilson, além das imagens das obras da exposição.

 

Sábados na Pinakotheke

 

Em torno da exposição “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção”, a Pinakotheke Cultural realizará ao longo de alguns sábados, sempre das 11h às 13h, atividades gratuitas para crianças em seu jardim, ou, em caso de chuva, no espaço expositivo.

 

Curadoria: Antonio Dias – Planejamento e organização: Max Perlingeiro e Paola Chieregato – Realização: Pinakotheke Cultural – Apoio institucional: Apoio Projeto Leonilson – Entrada gratuita

 

Até 26 de outubro.

 

Na Paulo Darzé

16/set

Em outubro de 2017, Daniel Senise registrou os espaços do casarão seiscentista do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, em Candeias, Bahia. Nessa época, o Museu estava fechado para restauro e o artista realizou suas monotipias dos pisos das salas do casarão que funcionou como um engenho de açúcar no século XVI, monotipias em tecido e médium acrílico sobre alumínio e monotipias sobre fotografia em jato de tinta. São os trabalhos realizados neste momento, com o título “Museu do Recôncavo”, que Daniel Senise traz para a mostra na Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador, Bahia, com abertura dia 17 de setembro, às 19 horas, e temporada até o dia 18 de outubro.