Evandro Carneiro apresenta

21/jan

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Shopping Gávea Trade Center, lojas 108 e 109, apresenta de 25 de janeiro a 29 de fevereiro de 2020 a Exposição Helenice Dornelles e Ronaldo Miranda. A mostra reúne cerca de 40 obras, entre telas grandes e trabalhos menores de ambos os artistas.

 

Texto de Laura Olivieri Carneiro

 

Helenice Dornelles nasceu em Santa Maria, RS, em 1959. Cursou Educação Artística, Artes Plásticas e Comunicação Visual na Universidade Federal desta cidade, mas mudou-se pouco tempo depois para Belo Horizonte, em função de seu gosto por Minas Gerais e embalada pelos Festivais de Inverno de Ouro Preto. Desde sempre posava de modelo para pintores, o que continuou fazendo na Escola Guignard, abrindo-lhe uma série de contatos com artistas que ali estudavam e desenvolviam trabalhos. Foram anos de muitos aprendizados e de concretizações, na medida em que expôs em alguns salões, tendo como ápice desta fase a participação no Salão da Pampulha (1985), onde uma visita de Claudio Valério Teixeira e Carlos Roberto Maciel Levy redefiniu os caminhos da artista, trazendo-a para o Rio de Janeiro. Primeiramente, a dupla indicou uma obra sua para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes, em 1986. Em seguida, ela chegou na cidade maravilhosa, mas preferiu instalar-se em Niterói, entre outros motivos, devido à amizade que estabeleceu com Claudio Valério, Tânia e o círculo de amigos que frequentavam o ateliê do artista, restaurador e professor.

 

Helenice, desde criança, é inquieta e criativa, bordava, desenhava, fazia bonecas de crochê, roupinhas e etc. (entrevista oral com a artista, 2019). Este talento a levou também para rotas de interseção com a publicidade e a moda. Foi então residir em Nova York, trabalhando no escritório do designer brasileiro Carlos Falchi, cuja inserção na moda glamourosa daquela metrópole fazia enorme sucesso. Foram 14 anos criando coleções de bolsas, gravatas, lenços e roupas com tecidos pintados à mão pela artista. Os estilistas da empresa espantavam-se com a rapidez e a inventividade de suas criações. Esta estamparia encontra-se presente em seu trabalho pictórico. Quase sempre vemos manequ ins e tecidos expressivamente coloridos em seus quadros. O tema segue corriqueiro até hoje, conforme nos conta a crítica Maria Elizabete Santos Peixoto (catálogo da exposição individual da artista na Galeria Multiarte, Fortaleza, 1989):
“O universo temático de sua pintura é a casa, o interior e todo o clima subjetivo e solitário implícito neste ambiente intimista por excelência. E dos elementos mais singelos que compõem este cenário peculiar, a artista obtém, através de seu talento, vasta e rica transfiguração de seu cotidiano. São bules, plantas, panos, latas de tinta, roupas, entre outros elementos e objetos que, a cada tela, sob cada diferente ângulo ou perspectiva, adquirem múltiplas conotações.”

 

Não é preciso dizer mais nada, a não ser que durante a sua estada em Nova York, a artista expôs em galerias de Manhattan, India e Japão.

 

Vinte anos antes de Helenice, em 1939, Niterói, RJ, nascia o pintor Ronaldo Miranda. Quando criança “estava sempre com os olhos pregados na paisagem vista de Icaraí”, me contou em entrevista oral, 2019. As cores e o horizonte o fascinavam. Talvez já fosse pintor, mas não experimentava esse talento ainda. Queria ser cientista e bem jovenzinho foi trabalhar no laboratório químico Vital Brasil. Ali, as cores o encantavam mais do que tudo e seus experimentos giravam entorno da apreciação cromática. Igualmente se interessava pela humanidade porque sabia que “somente a subjetividade purificava a cor” (entrevista oral, 2019). Assim, cursou psicologia e trabalhou com atendimento clínico a vida inteira. Paralelamente, tornou -se um excelente pintor autodidata, desde 1964, quando aflorou a sua “pulsão artística”, conforme me disse, e alugou um ateliê à beira mar, em Icaraí. Pintava contemplativo da janela o mar batendo na praia, o horizonte, sempre tão presente no seu trabalho. Fazia pequenos quadros, desenhados primeiramente a carvão, o céu alaranjado, o mar azul… Depois pintou as naturezas mortas, em que reinava a melancia, mas também bules e frutas organizados sobre mesas ou janelas com vistas para o mar. Então vieram as paisagens observadas do ateliê. E a primeira exposição, na Galeria Angelus, Belém do Pará (1968). Logo em seguida ganhou o prêmio do Salão do Mar (1971), entre outros marcos de sua rica carreira artística. Decidiu viajar pelo Brasil, sobretudo Nordeste, sempre notando o colorido das paisagens. Expôs em São Paulo, Brasília e na Petite Galerie, no Rio de Janeiro, agradando os críticos do naipe de Walmir Ayala. Até que em 1974 houve o que ele considera um marco em sua trajetória: ter exposto no Museu Nacional de Belas Artes, ainda jovem e na casa que era cânone na pintura brasileira. Até hoje repetiu duas vezes o mérito de expor neste museu.

 

Para Abelardo Zaluar (1983), “Suavidade e leveza, Claridade e clareza, Tranquilidade e quietude. Simplicidade e síntese” caracterizam a obra de Ronaldo Miranda. Nas palavras do próprio artista isso se traduz em minimalismo, naturalidade e prazer, porque não há sofrimento em pintar, contou-me. Sem dúvida, notam-se placidez e sabedoria por meio de formas e cores observadas em contemplação. Sua pintura é quase meditativa.

 

Hoje com 80 anos, Ronaldo segue uma rotina ativa de produzir em seu ateliê, em Santa Teresa, bairro bucólico e atemporal no Rio de Janeiro. Fica lá com seu gato Jorge. Enquanto Helenice produz na féerica Copacabana, também rodeadas de felinos.
Nesse ponto os dois artistas se aproximam. Ronaldo e Helenice têm em comum uma certa solitude para pintar que transparece na pintura de ambos que quase não possui a figura humana. Embora com cenários e paisagens bem diferentes, as cores se expressam fortemente, mas organizadas de maneiras distintas: ele de forma plácida, ela de maneira inquieta. Ao conhecer a história de vida dos dois, vemos que seus trabalhos têm a ver com as características pessoais de cada um. Mas o que os une, além de Niterói e o gosto por felinos, é certamente a qualidade artística, notada por Evandro Carneiro que organizou esta exposição.
Laura Olivieri Carneiro
Janeiro 2020.

 

 

Floresta negra na Paulo Darzé

13/jan

A Paulo Darzé Galeria, Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, Salvador, Bahia, abre sua programação 2020, no dia 30 de janeiro, das 19 às 22 horas, com a exposição do artista baiano Anderson Santos, tendo por título “Floresta negra”, com curadoria do professor Danillo Barata, permanecendo em temporada até o dia 19 de fevereiro.

 

Texto do curador

 

A singularidade dessa mostra está estruturada em um processo sensível de como as técnicas de pintura tradicional são renovadas no encontro com as novas mídias. Os aspectos conceituais abordados remetem à instauração de uma problemática cada vez mais constante na contemporaneidade que diz respeito ao fluxo de imagens, sua fruição e a cultura remix. É, segundo o filósofo Philippe Dubois, na incrustação – textura vazada e na espessura da imagem – que, de certa maneira, os espaços de produção da imagem são reorientados.

 

Anderson Santos se irmana a uma nova tendência de autores que ao utilizar o digital como dissolução da imagem tem como imperativo conhecê-la para finalmente desintegrá-la. Essa transição poética da pintura a óleo para o digital não passa por um aperfeiçoamento, mas sim por uma licença que permite ao artista se reautorizar como pintor, pois isola a pintura para desfigurá-la, sem hierarquia ou convenção de gosto. Desse modo, compreende uma visão mais polissêmica do que entendemos como pintura contemporânea. Cria ao modo do que preconiza Gilles Deleuze em “A lógica da sensação”, para tratar das obras de Francis Bacon, uma fuga em direção a uma forma pura, por abstração; ou em direção a um puro figural, por extração ou isolamento, obtido numa equação de tentativa e erro, própria do fazer artístico.

 

“Floresta Negra” é um divisor de águas na poética de Anderson. Nela, ele amadurece, se encontra com sua família e seus filhos nos contos e fábulas dos irmãos Grimm, envolto na dualidade, no obscuro e o sombrio. Se no passado sua pintura tentava neutralizar a narração e a figuração, nesse momento as micronarrativas invadem o seu cotidiano traçando novas visões de futuro ou de afro futurismo.

 

A exposição pelo artista

 

Tenho dois filhos, um de um ano e outro de quatro, quase cinco anos. Quando do preparo para esta exposição e tendo o costume de contar histórias para eles dormirem, um dia me dei conta que quase todas as histórias infantis se passam em florestas, selvas, ou lugares com uma densa vegetação. Comecei então a relacionar esta descoberta, do protagonismo da floresta como lugar onde surgem as histórias, com o momento de agora, dessa era antropocênica que vivemos e do obscurantismo político mundial, e em particular, com o cenário local.

 

Quando voltei da Itália no início de 2019, encontrei Salvador em luto, parecia pra mim que uma noite negra tinha encoberto a cidade, os amigos ansiosos, com muito medo do que estava por vir, e, para culminar, no fim de abril perdi minha irmã. Como sou um otimista e tenho dois filhos pra brincar, descobri com eles que de dentro do escuro podem surgir monstros, lobos ferozes, mas também tapetes mágicos, cavalos alados e outras histórias. E que é por isso que a floresta é negra, não ousamos conhecê-la de verdade e nem podemos, porque ela é território da nossa imaginação…

 

E se hoje muitos ouvidos se voltam para as vozes que vem de dentro do escuro das florestas do mundo, tentando criar novos tipos de relação com os saberes dos povos que de alguma maneira ao longo dos séculos cultivaram um modo de viver diverso do modelo em que vivemos, é porque parece que o modelo vigente está afundando, como a cidade de Veneza.

 

Muitos acreditam que a cura para todo o mal dessa era, milagrosamente surgirá de dentro do escuro da floresta, ou dos laboratórios do vale do Silício, o grande problema que se apresenta é que “não tem pra trás”. Nós não existiremos para toda a eternidade, mas o planeta continuará sem nós, apesar do nosso rastro. Se não dá pra voltar e consertar o que fizemos, o que nos resta é imaginar Wakandas dentro do escuro da floresta, lá onde o Google Earth não alcança, e onde utopicamente as novas tecnologias e os saberes tradicionais se encontram e produzem maravilhas.

 

Esta exposição integra meu mestrado na Escola de Belas Artes da UFBa, e trata do encontro da pintura a óleo com o digital. Entendo que o uso por pintores de tablets e smartphones para a prática da pintura digital está transformando a maneira como a pintura de cavalete é pensada e realizada. O meu objetivo com essa exposição é criar um espaço de encontro onde a pintura, a realidade aumentada e o vídeo convivam sem atritos, nem choques. E que pessoas de todas as idades se divirtam olhando através dos seus smartphones as coisas estranhas que encontrei na floresta que imagino. Para isso construí junto com a startup Ripensarte, um aplicativo para que as pessoas possam acessar ao conteúdo em realidade aumentada contido em várias imagens ao longo da mostra. O app se chama Eosliber e já está disponível gratuitamente para quem quiser baixar nas lojas IOS e Android, mas a experiência de visualização só se dará, estando diante das obras que serão expostas.

 

Sobre o artista

 

Anderson Santos nasceu em Salvador, Bahia, 1973, É pintor, trabalhando principalmente com o óleo sobre tela, cartão, madeira, e desenhista, utilizando o grafite ou o carvão sobre papel, e destes dois caminhos desenvolvendo pintura e desenho digital no iPad, adaptando a técnica tradicional para esta nova realidade digital, com isto realizando experimentos em vídeo, cartazes e storyboards para cinema. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), expôs nas principais capitais brasileiras. Participou na Itália da Expoarte em Milão, em ocasião da Expo 2015 e da Esposizione Triennale delle Arti Visive em Roma. Possui obras em coleções particulares e fundações no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Entre suas atuações se destaca a de professor, ministrando oficinas de pintura digital com tablet é voltada àqueles que desejam aprender a desenhar e pintar com os novos aplicativos que simulam a pintura tradicional para IPad e tabletes, com foco no aplicativo artrage disponível para os sistemas operacionais iOS e Android. Anderson foi um dos membros do coletivo internacional responsável pela publicação da revista online Boardilla, na qual se ocupava da editoração gráfica e curadoria, além de produzir e dirigir artisticamente as exposições de artes visuais da revista. Atualmente é Diretor Artístico de Ripensarte e um dos responsáveis pela publicação da revista online Magazzino. Divide seu atelier entre Salvador e Milão.

 

 

Esmeraldo em Zurique

08/jan


A obra singular de Sérvulo Esmeraldo (1929 – 2017) será exibida a partir de 10 de janeiro e até 28 de março na unidade de Zurique, Suíça, da Galeria Kogan Amaro. Com curadoria de Ricardo Resende, a mostra “Jouer avec le Cercle” evidencia o caráter múltiplo do trabalho de Esmeraldo, artista que viveu parte importante de sua vida na França. O conjunto reunido na exposição é uma síntese da somatória do gravador e desenhista que levou a gráfica para o objeto e a escultura na justa medida.

 

O empenho da Galeria Kogan Amaro na difusão da arte brasileira na Europa, por meio da unidade Zurique, ganha impulso com esta exposição. Esmeraldo expôs individualmente na Suíça em 1961, 1963, 1968 (Galerie Maurice Bridel, Lausanne), 1971, 1975 (White Gallery, Lutry, Lausanne) e em 2016 (Beurret & Bailly Auktionen, Basel), além de outras participações em mostras coletivas, e de constar em importantes coleções do país, que frequentou com certa assiduidade em seu período europeu, no qual construiu importantes relações profissionais e de amizade.

 

Desenhos, gravuras em metal, objetos e esculturas realizados entre as décadas de 1960 e 2000 compõem a mostra do artista cinético notabilizado sobretudo pela originalidade da obra que chamou de Excitables.

 

As obras eleitas na curadoria de Resende reforçam o interesse de Esmeraldo pelo jogo permutacional das formas para geração de novas formas, com destaque para o círculo. A combinação da razão com a intuição é o diferencial dinâmico e sutil do artista nascido no Crato, Ceará, em 1929, que deu uma efetiva contribuição à arte do seu tempo. Após a longa permanência na França Esmeraldo retornou ao Brasil, se fixando em Fortaleza. Foi lá que realizou sua grande obra da maturidade, presentificada em um conjunto de esculturas monumentais no espaço urbano da capital cearence.

 

“Seus trabalhos são imprescindíveis no que tange à arte geométrica. O artista observa o lado construtivo e o funcionamento das coisas com um pensamento gráfico o tempo todo geometrizante e animador da forma, explica Resende. “É como se quisesse limpar as arestas, as rebarbas e as ‘imperfeições das coisas que vemos no mundo, ao ‘economizar’ no gesto e na subtração de formas e explorando a forma arredondada”, completa.

 

Sobre o artista

 

Sérvulo Esmeraldo nasceu em Crato Ceará, 1929 e faleceu em Fortaleza, 2017. Desenhista, escultor, gravador, ilustrador e pintor, iniciou-se profissionalmente no final da década de 1940, frequentando o ateliê livre da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza. Transferiu-se para São Paulo em 1951. O trabalho temporário na Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) nutriu seu interesse pela matemática e repercutiu em seu futuro de escultor de obras monumentais. Ilustrador do Correio Paulistano de 1953 a 1957, dedicou-se com afinco à xilogravura, que expôs individualmente no Clubinho dos Artistas, dirigido à época pelo artista Flávio de Carvalho, e em 1957 no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Nesta expôs uma coleção de gravuras de natureza geométrica construtiva, que ele acreditava ter sido preponderante para a bolsa do governo francês, no mesmo ano. Estudou Litografia na

 

École Nationale des Beaux-Arts e frequentou o atelier de John Friedlaender, trabalhando com a Gravura em Metal, técnica que o levou a desenvolver uma linguagem de grande interesse, particularizando-o na dita “Escola de Paris”. Pesquisador obstinado, no início doa nos 1960, desengavetou seus projetos de objetos movidos a imãs e eletroímãs, Esmeraldo não querida mais ser gravador 24 horas, como ele viria a declarar em entrevistas posteriores. A chegada à série “Les Excitables”, garantiu-lhe lugar de destaque na cena cinética internacional, pela originalidade destes trabalhos que ele lançava mão da eletricidade estática. Em 1977 iniciou o retorno ao Ceará, à terra, como ele gostava de dizer, trabalhando em projetos de arte pública que incluíam esculturas monumentais na paisagem urbana de Fortaleza, cidade onde se fixou no final dos anos 70, e que hoje abriga cerca de quarenta obras de sua autoria.

 

Foi o idealizador e curador da Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras (Fortaleza, 1986 e 1991). Com diversas exposições realizadas e participação em importantes salões, bienais e outras mostras coletivas na Europa e nas Américas (Realités Nouvelles, Salon de Mai, Biennale de Paris, Trienal de Milão, Bienal Internacional de São Paulo, dentre outros), sua obra está representada em importantes museus e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior. Em 2011, a Pinacoteca do Estado organizou importante retrospectiva da obra do artista, sucedida por outras mostras de grande vulto. Artista homenageado da 6ª Edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, em 2017/2018, uma mostra importante do seu trabalho foi apresentada em cinco capitais brasileiras e no Distrito Federal. Em reconhecimento ao seu grande legado, no ano que completaria 90 anos, o Governo do Estado do Ceará instituiu por lei, 2019 como o Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo.

 

Duo na Kogan Amaro

A galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP, exibe de 13 de janeiro a 08 de fevereiro a exposição “Tangerina Bruno: Estados Cotidianos, dos irmãos gêmeos Cirillo e Leticia Tangerina Bruno.

 

Tangerina Bruno: Estados cotidianos

 

Na obra mais traduzida de Sigmund Freud, Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana, o psicanalista debate como o inconsciente se expressa na nossa rotina por meio de sentimentos comuns, como medo, desconforto, surpresa e atenção. Seu desejo é demonstrar que a psicanálise não se limita ao estudo da anormalidade, mas se dedica a descrever e compreender a mente humana e a transformação que vivenciamos fisicamente mesmo por meio daquilo que apenas sentimos. Nas pinturas do duo Tangerina Bruno, situações rotineiras, enquadradas de forma precisa como frames de uma produção cinematográfica, evidenciam esses sentimentos vulgares, mas que nem por isso são menos relevantes no entendimento da psique humana.

 

A captura desses instantes pelos irmãos gêmeos Cirillo e Leticia Tangerina Bruno, de 26 anos, retratam o momento de ação da figura que habita a tela. Estão congeladas, sim, mas também em movimento. Passam roupa, gritam em cima de uma cadeira, tomam banho, costuram. É possível receber as vibrações dos gestos dos personagens não só pelo que a cena nos induz, mas também ao nos debruçarmos nas micronarrativas que acontecem em detalhes da tela, pintadas em uma colcha de cama desarrumada ou num móvel que compõem a sala. As situações realistas retratadas em cores vibrantes nos remetem diretamente às pinturas de David Hockney, Alex Katz, Alfred Leslie ou até Edward Hopper. Tais cenas ganham seus epílogos em títulos certeiros, que brincam com provérbios populares, insinuando certo humor e ironia ao reconhecermos (e também desdenharmos) as emoções expostas ali.

 

Cada obra recebe meses ou até ano das mentes e punhos da dupla nascida em Porto Ferreira, interior de São Paulo. Debruçados ora simultaneamente ora alternados na tela, fortalecem sua própria história em uma mistura inebriante de funções e talentos. Se Leticia traz nas mãos a precisão do hiperrealismo em retratos e autorretratos dos próprios irmãos, Cirillo trabalha a estamparia da produção, que reverberam e atestam as ideias centrais das obras. A empreitada exige as quatro mãos e as duas mentes dos artistas que se transformam em um terceiro elemento, vivo, dono de novas ideias, que produz, pinta e reconta as experiências vividas pela dupla.

 

Ana Carolina Ralston

Curadora

 

 

 

 

Na Anita Schwartz

19/dez

Termina no próximo dia 06 de janeiro de 2020 a exposição “Sobre como as coisas caem”, com mais de 20 obras inéditas da artista Daisy Xavier, que ocupam todos os espaços expositivos da Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Ulisses Carrilho, as obras que integram esta que é a maior individual da artista na galeria são pinturas em grande formato, em pó de ferrugem, folha e fios de latão, ácido, petróleo e ecoline sobre tela, desenhos com diversos materiais (muitas vezes os mesmos usados nas pinturas), monotipias, e 100 esculturas em metal, articuladas, que junto com uma casa de vespa formam uma grande instalação que leva o nome da exposição.

 

Um filme para Lorenzato

 

A Bergamin & Gomide tem o prazer de apresentar o filme “4 Notas Sobre Lorenzato” em homenagem ao artista Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995), cujas pinturas foram destaque no projeto Kabinett da Art Basel Miami Beach 2019.

 

O média metragem oferece uma perspectiva documental sobre a obra do artista, após exposição individual na Bergamin & Gomide em 2014.

 

Com texto escrito pelo curador Rodrigo Moura e narração de Gregório Duvivier, o filme apresenta entrevistas com James Green, Manoel Macedo, Marcia Fortes, Mauro Restiffe, Ricardo Homen, Rodrigo Moura, Thiago Gomide e Vilma Eid.

 

Amadeo Luciano Lorenzato foi um pintor autodidata de Minas Gerais, Brasil. Sua inspiração vem de cenas cotidianas, com um conjunto da obra marcado pela rica paleta de cores a partir de pigmentos que ele mesmo produziu, e por pelas texturas densas, criadas com o uso de pincéis, pentes e garfos.

 

A sucessão de curvas e formas orgânicas dão vida às pinturas, que segundo o curador Rodrigo Moura foi um artista moderno e popular, com um poder raro de síntese.

 

Bergamin & Gomide has the pleasure to present the film “4 Notes On Lorenzato” in honor of the artist Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995), whose paintings were highlighted at the Kabinett sector in Art Basel Miami Beach 2019.

 

The medium-length film offers a documentary perspective on the artist’s body of work after solo exhibition at Bergamin & Gomide in 2014.

 

With text written by the curator Rodrigo Moura and narrated by Gregório Duvivier, the film features interviews with James Green, Manoel Macedo, Marcia Fortes, Mauro Restiffe, Ricardo Homen, Rodrigo Moura, Thiago Gomide and Vilma Eid.

 

Amadeo Luciano Lorenzato was a self-taught painter from Minas Gerais, Brazil. His inspiration comes from everyday scenes, with a body of work striking by the rich colour palette from pigments he produced, and by the dense textures that he achieved through the use of brushes, combs, and forks.

 

The succession of curves and the organic forms give life to the paintings, which according to the curator Rodrigo Moura was as a modern and popular artist, with a rare power of synthesis.

 

Produção Executiva / Executive Producer: Bergamin & Gomide e Pills Nice

Com / With: James Green, Manoel Macedo, Marcia Fortes, Mauro Restiffe, Ricardo Homen, Rodrigo Moura, Thiago Gomide, Vilma Eid

Direção / Directed by: Vivian Gandelsman

Direção de Fotografia / Photography Direction: Felipe Murgas

Fotografia Complementar / Complementary Photography: Arturo Bandinelli

Texto / Text: Rodrigo Moura

Narração / Narrated by: Gregório Duvivier

Edição e Pós Produção / Edition and Post Production: Felipe Murga

Acervo / Archive Footage: Paulo Laender (Amadeo Luciano Lorenzato – Pintor Autodidata e Franco Atirador, 1986)

Agradecimentos Especiais / With Special Thanks to: Paulo Laender e Ricardo Homem.

 

Mercedes Viegas exibe Mecarelli

17/dez

O artista ítalo-francês Adalberto Mecarelli faz sua primeira mostra no Brasil. A galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Adalberto Mecarelli – Luz +”, com obras do artista nascido em Terni, Itália, em 1946, e radicado há 50 anos em Paris. Esta é a primeira exposição no Brasil do escultor de matriz construtiva abstrata que se notabilizou por seu trabalho de pesquisa de luz e sombra, registros da luz solar, e está presente em vários espaços públicos em diversos países europeus, como França Itália e Alemanha. “A exposição traz sobretudo esculturas de luz que dialogam com o espaço da galeria, formas geométricas esculpidas pela sombra”, observa a curadora Elisa Byington, que selecionou obras do artista em diferentes técnicas e materiais.

 

Além das esculturas de luz, – que ocupam grande espaço na galeria – encontra-se na na mostra a obra “Jai Prakash, cr2075”, (2000), conjunto de cinco trabalhos em nitrato de prata sobre papel de algodão, feitas em Jaipur, na Índia, cidade muito frequentada por Mecarelli, desde a residência artística que fez entre 1992 e 1993, para pesquisar os notáveis observatórios solares do país; e a série “Hamlet” (1985), conjunto de nove impressões em água-tinta sobre papel de algodão, baseadas na cenografia que criou para a montagem de “Hamlet”, em 1985, no Théâtre des Quartiers d’Ivry, em Paris, com direção de Catherine Dasté, e excursionou por vários teatros franceses e europeus. A exposição traz ainda obras de 2010, em nitrato de prata sobre papel de arroz de registros solares feitos no Templo Haeinsa, na Coreia do Sul, e as obras inéditas “Demoiselles de Malakoff” (2019), desdobramentos da imagem de poliedros, impressas em nitrato de prata sobre tela crua. Malakoff é o bairro parisiense onde está o ateliê do artista, e as imagens surpreendentes que surgem do “embrulho” diferente de um mesmo poliedro, que, de modo não proposital e aleatório, remetem a imagens cubistas-futuristas, suprematistas, da abstração geométrica do início do século.

 

Elisa Byington explica que as obras em nitrato de prata são “fotografias no sentido etimológico do termo”. “É uma impressão de manchas de sol fixadas com nitrato de prata, formas resultantes de angulações diferentes da luz solar, escolhidas de forma aleatória – cada série obedece a um determinado princípio -, em diferentes momentos do dia”. “A parte pincelada de nitrato de prata – sobre tela, tecido ou papel – equivalente àquele volume desenhado pela luz solar, é imediatamente protegida da luz, mantida no escuro. Uma vez exposto à luz, o nitrato de prata escurece e adquire várias tonalidades, do marrom ao cinza chumbo, e consome lentamente aquela marca, a memória da presença, a marca deixada pelo sol naquele instante”, diz. O título das cinco obras em nitrato de prata sobre papel de algodão, “Jai Prakash, cr7520” (2000), se refere a um dos instrumentos astronômicos arquitetônicos em Jaipur, na Índia.

 

Contrastes Luz e Sombra

 

“Desde o início, a obra de escultor de Adalberto Mecarelli se constrói sobre questionamentos da visibilidade e a conceituação do não-visível. A experiência com o núcleo primordial da escultura na Escola de Belas Artes de Terni, o fogo, a transformação da matéria, e a ideia do vazio que se cria no processo da fundição com a técnica de cera perdida, um vazio perfeito, é decisiva para sua trajetória, distante da figuração. Ele vai trabalhar os opostos vazio/cheio, as relações entre o dentro e o fora, interior e exterior, contrastes entre luz /sombra, visível e invisível, os extremos luminosos do preto e do branco, recolocando-os como partes de um todo, no espaço”, comenta Elisa Byington.

 

Intervenções em espaços públicos

 

Uma característica presente em grandes esculturas de Adalberto Mecarelli é que se realizam plenamente em um único dia do ano, de acordo com cálculos precisos da inclinação do sol. Dentre as muitas intervenções em espaços públicos realizadas por Adalberto Mecarelli, está “Stomachion Solis”(harmonia infinita do sol), uma grande estrutura em aço cortén, que inicia o percurso no Parque das Esculturas, em Siracusa, Itália. Instalada no topo de uma falésia, em frente à Ilha de Ortígia, centro histórico da cidade, a obra é uma composição de quatorze peças que remetem ao Stomachion de Arquimedes (Siracusa, 287 a.C. – 212 a.C.), um dos mais antigos e fascinantes quebra-cabeças na história da humanidade. A partir de cálculos precisos, a escultura de Mecarelli, às 11h de cada dia 13 de dezembro, reflete os raios solares, que cruzam o mar e iluminam a Capela de Santa Luzia, em Ortígia, onde há a célebre tela do Caravaggio com o “Sepultamento de Santa Luzia” (1608). Uma hora mais tarde, às 12h, a mesma estrutura projeta a sua frente a sombra de um quadrado perfeito. No dia 13 de dezembro se festeja Santa Luzia (c.283 – c. 304), padroeira de Siracusa, e considerada protetora dos olhos. É o dia de seu martírio, quando arranca os olhos e os entrega ao carrasco para não renegar a própria fé, data próxima ao solstício de inverno. A obra faz alusão à luz (Lucia, em italiano), e a falta dela, a cegueira, uma passagem do caos ao cosmo. “Luz e sombra, caos e cosmo serão os quatro elementos em suspensão”, observa o artista.

 

Outras intervenções notáveis de Adalberto Mecarelli são “Eppur si muove” (1999), frase de Galileu, iluminada na fachada no Instituto Galileu, no campus da Universidade de Viltaneuse, em Paris, por meio de um complexo mecanismo de espelhos pela luz do sol no dia da sua condenação, 20 de junho; “Lux umbrae” (2011), nos Cryptoportiques, em Arles, França, e a escultura de luz, espécie de lua que surgia na fachada da Igreja de Sant’Eustache, durante a Nuitblanche, em Paris, em 2012. Em 2015, ele fez uma intervenção na abadia cisterciense de Sylvacane, na Provença, França. Em 2018, realizou “O Sol ao Sol”, uma grande escultura em pedra, de quase cinco metros de altura, instalada em um espelho d’agua junto a um poliedro irregular em aço, em Ibiúna, São Paulo. A cada dia 22 de setembro, data do equinócio de primavera, o sol, que passa no centro da fenda que divide em dois o “totem” de pedra, reflete na água sob o poliedro em aço, que devolve os raios refletidos na direção do sol.

 

Até 31 de janeiro de 2020.

 

 

Dois na Galeria Evandro Carneiro

28/nov

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 30 de novembro de 2019 a 04 de janeiro de 2020 a “Exposição Ira Etz e Uziel”. A mostra reúne 15 telas e 43 objetos de ambos os artistas.

 

Ira Etz e Uziel

 

Ira e Uziel são dois artistas talentosos na sua expressão, cada qual com as suas características. Assim os apresentamos, como unidades heterogêneas, mantendo as suas diferenças, mas evidenciando aproximações. A curadoria da exposição, mérito de Evandro Carneiro, escolheu as peças em meio ao conjunto da obra de cada artista e, ao mesmo tempo, pensando uma composição harmônica no todo porque, de alguma maneira, há um diálogo entre eles. Por isso, a mim coube resgatar uma metodologia historiadora sugerida por Walter Benjamin: a “dialética sem síntese” para organizar esse texto.

 

Ira Etz nasceu em 1937, no coração de Ipanema, Rio de Janeiro. Filha e neta de alemães, sua família inteira era afeita às artes, destacando-se o avô materno Arthur Kaufmann, pintor importante do expressionismo alemão e professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf até 1933. Judeu, Kaufmann migrou com o filho e a esposa para os EUA nos anos de ascensão nazista na Europa, ali refazendo sua vida e desenvolvendo uma exitosa carreira artística. Enquanto sua filha, mãe de Ira, já era casada e escolheu o Brasil para viver, juntamente com o marido. Assim, seus pais vieram morar no bucólico Arpoador, onde Ira cresceu com a brisa da praia sempre a lhe inspirar e a liberdade da criação afetuosa e vanguardista de uma família alemã, boêmia e amiga de intelectuais e artistas frequentadores de Ipanema. Essa marca libertária se expressa na sua identidade e no seu trabalho artístico.

 

Ira começou a experimentar a arte com a fotografia. Desde muito jovem fotografava e, ao casar-se, montou um estúdio com o marido que também se dedicava ao hobby. Até hoje o casal está junto e ela segue fotografando. Porém, tornou-se também pintora após a perda de seu filho querido. A dor dilacerante que sentiu fez o tempo parar no ano 1988 e ela precisou reinventar-se. Sua catarse foi a tinta jogada e trabalhada na tela, as cores fortes e expressivas, carregadas de emoção. Sublimação na arte, foi assim que surgiu essa artista corajosa e livre que foi organizando a sua linha de trabalho e procurando, então, aperfeiçoar sua técnica, primeiramente com Arthur Kaufmann, pintor importante do expressionismo alemão e professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf até 1933. Hoje, com 82 anos, Ira é pura potência e está no auge de sua carreira, em plena produção e em fase de expansão, como ela mesma diz (entrevista oral, 2019). Observemos esse percurso em suas obras aqui apresentadas, sendo nove telas e 23 objetos de diferentes momentos de sua trajetória.

 

Paralelamente a esta história, igualmente nos anos 1930, uma outra família europeia chegou ao Brasil fugindo do Nazismo. Os judeus poloneses Rozenwajn instalaram-se primeiramente em Natal – RN, onde chegaram com uma carta de recomendação para trabalhar com os Palatnik, em empreendimento comercial. Ali Uziel nasceu, em 1945. Porém, mudaram-se para Belo Horizonte cinco anos depois. Lá ele se criou e estudou arquitetura na UFMG. Ainda na faculdade iniciou seus desenhos com guache e nanquim e, ao final do curso, já tendo participado de alguns salões universitários, foi fazer uma residência em Haifa, Israel. Nesse tempo, produziu bastante e realizou a sua primeira exposição individual (Dany Art Gallery, 1972). No retorno ao Brasil, um ano depois, Uziel passou a se dedicar à arquitetura em escritórios e no serviço público. Contudo, jamais deixou de desenhar e aos poucos foi substituindo o nanquim pelo lápis de cor e incluindo o pastel oleoso no seu repertório.

 

Uziel mudou-se para Ouro Preto e começou a pintar suas telas com tinta acrílica, sempre tendo a linha e o traçado arquitetônico como referências, fosse no cálculo, fosse na estruturação das composições ou mesmo na técnica que usava a “régua T” e espátulas para raspar texturas, numa determinada ocasião. Nessa charmosa cidade mineira, conheceu vários artistas e quadros da cultura que o encorajaram a pintar mais e mais: Carlos Bracher, Scliar, Angelo Oswaldo, Murilo Marcondes… Foi se afirmando artisticamente e desenvolvendo seu estilo, chegando a expor individualmente na Galeria Bonino (1992), dentre outras mostras individuais e coletivas presentes em seu currículo. Mas o grande pulo do gato para a sua arte foi o ano de 2015, quando se aposentou como arquiteto da Federal de Ouro Preto. Libertou-se, então, de uma dicotomia inconsciente que o atrapalhava a liberdade artística. Enfim podia viver de sua arte! Porém, curiosamente ficou dois anos sem pintar, embora maquinasse outro tipo de construção criativa. Em um Festival de Inverno da cidade, apresentou suas novas criações: objetos feitos em metal e madeira que aproveitavam miçangas, ripas e materiais afins para criar espécies de bonecos “feiticeiros” como ele denominou inicialmente e não à toa. Embora tenha me contado (entrevista oral, 2019) que as referências por trás dos objetos sejam intuitivas, é evidente uma ancestralidade africana, indígena e oriental nessas montagens, conforme se pode observar nos seus 20 objetos que compõem esta mostra. Quanto às suas seis telas expostas na Galeria, me parece que por trás das composições harmônicas há sempre o traço do arquiteto, alinhavando com cores e cálculos as suas construções de equilíbrio espontâneo. Assim, lembrei-me da frase de Paul Klee sobre sua própria obra: “a linha aparece como elemento pictórico autônomo.” Ou seja, ela está ali o tempo todo, traçada, mas se supera dialeticamente pela autonomia da composição em si.

 

Ira e Uziel, dois artistas singulares que não se conheciam até esta exposição, mas que começaram a trocar experiências desde que os apresentamos e resolvemos expor seus trabalhos conjuntamente. O que os une, além da origem europeia, é certamente a qualidade artística, notada por Evandro Carneiro que, pela ousadia de seu notório saber, resolveu reunir diferentes. Tal como propôs Walter Benjamin, nem sempre há a necessidade da síntese para pensarmos aproximações.

 

Laura Olivieri Carneiro
Novembro 2019

Bechara lança livro na Lurixs

21/nov

No próximo dia 26 de novembro de 2019, às 19h, será lançado na Lurixs: Arte Contemporânea, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, o livro “José Bechara – Território Oscilante”, com selo da Barléu Edições. O livro será distribuído para as principais livrarias de todo o país. José Bechara é um artista ativo no circuito nacional e internacional da arte contemporânea, e este livro reúne sua produção de 2010 a 2019. Três críticos de arte e curadores de diferentes países que acompanharam seu trabalho na última década são os autores dos textos: António Pinto Ribeiro (Lisboa, 1956), Beate Reifenscheid (Gelsenkirchen, Alemanha, 1961) e David Barro (Ferrol, Espanha, 1974). O editor Carlos Leal, que já publicou mais de 50 livros dedicados à arte, desde que criou a Barléu em 2002, comemora: “Este é sem dúvida o mais bonito!”. “É o único em que usei a quinta cor, que vai trazer um grande impacto visual ao leitor”, afirma. “O livro é gostoso de ler, e as esculturas, pinturas e instalações de José Bechara são belíssimas, e bem destacadas na publicação”. O livro tem capa dura, 240 páginas e trilíngue (português/inglês/espanhol) – foi mantido o idioma original de cada texto: em alemão, espanhol e português -, projeto gráfico de Rico Lins, formato: 26 x 27cm e tiragem de dois mil exemplares.

 

Neste momento, trabalhos de José Bechara podem ser vistos em exposições em várias partes do planeta: na coletiva “Walking Through Walls”, que celebra os 30 anos da queda do Muro de Berlim, com curadoria de Sam Bardaouil e Till Fellrath, na Gropius Bau, na capital alemã (até 19 janeiro 2020); na Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra – A Terceira Margem, com curadoria de Agnaldo Farias, Lígia Afonso e Nuno de Brito Rocha, em Portugal (até 29 de dezembro de 2019); e na edição da BIENALSUR 2019 realizada no Museu Nacional de Riyadh, Arábia Saudita, com a coletiva “Recovering Stories, Recovering Fantasies”, em curadoria de Diana Wechsler (até 5 de dezembro de 2019). Até o próximo dia 15 de dezembro está em cartaz na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, “José Bechara – Território Oscilante”, uma grande mostra dedicada a sua obra, com curadoria de Luiz Camillo Osorio.

 

Galeria BASE, exposição com visão feminina

19/nov

A Galeria BASE, Jardim Paulista, SP, de Daniel Maranhão, exibe “ANNA”, com cerca de 25 obras de Anna Bella Geiger e Anna Maria Maiolino e curadoria de Paulo Azeco. Nesse momento, faz-se por bem destacar a presença feminina na construção e na crítica sociocultural da nação. Como posiciona o curador,” são arquitetas de sua história e fazem parte do importante capítulo da arte Latina como peças fundamentais da luta feminista”.

 

O fato de estarem ligadas a efervescente cena cultural da cidade de Nova Iorque dos anos 1950 e 1960, e absorverem a revolução estética causada pela Bienal “Pop” de São Paulo de 1967, é ponto chave para o início dessa exposição. A escolha dos trabalhos priorizou o papel como suporte, tanto com obras únicas como múltiplos, da década de 1960, onde sua produção é de inquestionável importância.

 

“Burocracia”, de Anna Bella Geiger, produzida no período da ditadura militar, “…questiona a função e a natureza da obra de arte no âmbito do capitalismo, refletindo sobre o poder coercivo da arte como instituição, inquirindo sobre a função, a natureza e o poder repressor do Estado brasileiro” diz Paulo Azeco. Esse trabalho vem acompanhado de um importante guache da série visceral, onde a artista sobrepôs cartões recortados.

 

Anna Maria Maiolino participa com algumas “obras únicas de séries consagradas, como “Cartilhas”, “Marcas da Gota” e as xilogravuras produzidas em 1967 – “Ecce Homo”, “Glu Glu” e “Anna” – que marcam sua incursão pelo cordel e pela Pop Arte”, diz Daniel Maranhão.

 

“Ações falam mais que palavras”, dizem as ruas. Então, o melhor registro da importância das artistas agora são os eventos nos quais ou protagonizam ou estão envolvidas. “Geiger, acaba de encerrar a exposição individual “Aqui é o Centro”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), e se prepara para uma grande individual o MASP, com abertura prevista para o próximo dia 29 de novembro, intitulada “Brasil nativo/Brasil alienígena”. Já Maiolino, atualmente está com 9 vídeos em exposição no MASP, além de uma grande mostra individual na premiada Whitechapel Gallery, em Londres. Ambas têm obras nos mais importantes museus do mundo, a exemplo do MoMa, Tate, Centre Pompidou, Reina Sofia, além dos nacionais MASP, MAM/RJ, MAM/SP, Pinacoteca de SP, dentre outros”, especifica Daniel Maranhão.

 

“As Annas dessa exposição empunham sua arte de maneira sistemática, cada qual a sua maneira, como ferramenta de denúncia de uma cultura misógina ao mesmo tempo que apontam no feminino o norte dos novos tempos”, define Paulo Azeco.

 

Em “Anna”, dois expoentes da cultura brasileira exibem trabalhos que atestam a importância e o desafio do feminino.

 

Coordenação: Daniel Maranhão, Leonardo Servolo, Cássia Saad.

Abertura: 23 de novembro de 2019, sábado, das 15 às 18h.
Período: 27 de novembro a 20 de dezembro de 2019.