BELIZÁRIO

04/nov

BELIZÁRIO inaugura com Maxim Malhado

“…nesse momento e antes do ontem também, é a possibilidade de me ver e observar o outro!”
Maxim Malhado

 

A BELIZÁRIO Galeria, Pinheiros, inaugura novo espaço cultural em São Paulo com a exposição de Maxim Malhado – “…lá do lugar onde moramos”, sob curadoria de Marcus Lontra, com 15 trabalhos entre esculturas e objetos onde o material de destaque é a madeira que descreve conceitualmente a verdade em que “toda casa é bela; toda casa tem um metro a mais de grandeza, inclusive e principalmente a sua!”, como define o galerista Orlando Lemos.

José Roberto Furtado, Luiz Gustavo Leite de Oliveira e Orlando Lemos, os artífices da nova galeria, inserem no circuito expositivo paulistano uma nova opção de local de propagação artística destinado a divulgar e comercializar obras de arte moderna e contemporânea. O projeto da Belizário Galeria tem origem em Belo Horizonte, onde os três amigos se conheceram e, por sua experiência no cenário artístico mineiro, lhes dá o respaldo necessário para apresentação de um trabalho de alto padrão e originalidade que se estabelece desde sua apresentação ao circuito local com a produção recente e inédita do artista plástico Maxim Malhado.

“…lá do lugar onde moramos” reúne um conjunto expressivo da produção recente do artista. Suas obras dialogam com o artesanato e o design popular construindo uma arqueologia da memória, onde objetos são ressignificados e reconstruídos. Ele dialoga com artistas nordestinos de sua geração como Carlos Mélo e José Rufino e também, com Nuno Ramos e Tunga. Essa é a família expressionista onde o artista se insere; esse é o seu universo, essa é a sua voz”, explica o curador.

Maxim Malhado chega ao circuito artístico nos anos de 1990 com suas obras que transmitem sofisticação e detalhamento na simplicidade da escolha e seleção de materiais e formatos – “os critérios são os mesmos de mestres e ajudantes de obras em seus “canteiros”, o desejo, a vontade e necessidade de solucionar dúvidas e problemas, buscar respostas”, diz o artista. A definição do local onde morar, oferece possibilidades de imersão intelectual que podem direcionar tanto para o aspecto material da “casa”, onde se habita e fixa moradia como mais lúdico, imaterial, direcionado ao “corpo”, o real habitat humano, onde também se constrói história. Nas palavras de Marcus Lontra, “A Bahia hedonista, litorânea, sensual, soteropolitana, abre espaço para a Bahia agreste, interiorana, sertaneja, nordestina. Essa é a terra, o território, a fonte de saberes de onde o artista retira suas pedras e pérolas para montar composições poéticas carregadas de autenticidade e potência natural”.

Participante, consciente e atento ao cenário atual, tanto global como próximo ao local onde desenvolve seus trabalhos, Maxim Malhado assume seu papel de conscientização geral com sua arte, e assume posicionamento não estático, sempre em evolução, em movimento, com o que vem a seguir. “Sempre há desdobramentos, necessário, pois se até as frutas pecam…não existe o erro”, declara o artista.

 

“Admirando essas articulações formais e conceituais, aprendemos com Maxim Malhado que somente a ação criativa dignifica a espécie humana. E que a capacidade de inovar, transformar e interpretar aquilo que chamamos de real, possa municiar ao ser humano as ferramentas essenciais para que a arte e a ciência sejam para todo o sempre os “santos guerreiros” que protejam o mundo dos “dragões da maldade”.” Marcus Lontra

 

Sobre a galeria

 

A BELIZÁRIO Galeria chega ao mercado de arte de São Paulo em 2021 e é resultado de uma parceria entre Orlando Lemos, José Roberto Furtado e Luiz Gustavo Leite. Um conceito de espaço para cultura que nasce em Belo Horizonte com Orlando Lemos e a Objetaria Belizário, que se transforma na Galeria Belizário, também em Belo Horizonte, fazendo exposições de arte de novos e promissores artistas como Paulo Nazareth que inicia sua trajetória no local. Sua proposta visa se apresentar como uma opção adicional de participação e visibilidade da produção de artistas emergentes e consolidados no panorama da arte contemporânea brasileira no circuito paulistano de cultura. A galeria se junta ao movimento que busca promover horizontes que estabeleçam novos meios de redirecionar e ampliar o mercado de arte, pensando nas diferentes trajetórias e produções artísticas que o compõe. Assim, visando a fomentação da diversidade cultural intrínseca na contemporaneidade, serve de palco para artistas novos e estabelecidos, nacionais e estrangeiros, em parcerias com curadores que também estejam imbuídos do mesmo propósito. Na BELIZÁRIO Galeria, procura-se atender a um público que busca a aquisição de trabalhos artísticos e, também, a criação e fomento de novas coleções. O seu acervo é composto por diferentes temas e estéticas, mediante o universo poético de cada artista. Seu repertório abrange trabalhos artísticos de diferentes linguagens, suportes, técnicas e mídias como desenho, escultura, fotografia, gravura, pintura, instalação e outras. A BELIZÁRIO tem Orlando Lemos na direção artística, atuante no universo da arte desde 2001, José Roberto Furtado na gestão administrativa e comercial e Luiz Gustavo Leite na direção social.

Abertura: 06 de novembro, sábado, das 11h às 18h

De 08 de novembro a 05 de dezembro.

Homenageando Esmeraldo

15/set

 

 

Sérvulo Esmeraldo foi artista plural que explorou, ao longo de sua carreira, as diversas linguagens plásticas, sendo considerado escultor, gravador, ilustrador e pintor. Para homenagear seu legado, a Pinakotheke São Paulo abriu, dia 13 de setembro, a exposição “Sérvulo Esmeraldo 1929-2017”.

 

 

No espaço estarão reunidas pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e excitáveis criados pelo artista cearense durante o período, com curadoria assinada por Hans-Michael Herzog. A exposição seguirá aberta para visitação até o dia 16 de outubro.

 

Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil

09/set

 

 

O projeto busca corrigir o apagamento cultural sofrido pelo artista, ativo no do circuito de exposições mesmo tendo vivido por longos períodos em situação de rua, em seus últimos dez anos de vida.

 

 

Reavivando Manuel Messias

 

 

A Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, realiza de 10 de setembro a 22 de outubro a exposição “Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil”, com 50 obras de diversos períodos da trajetória do artista nascido em 1945 em Sergipe, e que foi ativo participante do cenário artístico do Rio de Janeiro até sua morte, em 2001, mesmo tendo enfrentado situações de extrema pobreza, e de nos últimos dez anos de sua vida ter estado por vários períodos em situação de rua. A exposição é o ponto de partida de um projeto coordenado por Marcus Lontra e Rafael Peixoto, que pretende “dar visibilidade e reconhecimento para a qualidade artística e poética da produção de Manuel Messias dos Santos (1945-2001)”. A exposição será acompanhada de textos dos dois curadores e também do colecionador, curador e médico Ademar de Britto.

 

 

A segunda ação prevista no projeto consiste na publicação de um livro que se torne referência na pesquisa sobre a trajetória de Messias. “Em função de uma biografia conturbada, marcada pela pobreza, pela situação de rua e por transtornos psiquiátricos, a obra e a vida de Messias sofrem com severo apagamento cultural, eco das desigualdades sociais, do racismo e da total marginalização dos indivíduos”, afirmam Marcus Lontra e Rafael Peixoto.

 

 

“O projeto do livro tem três eixos fundamentais: a pesquisa, a reprodução de obras e o embasamento crítico e teórico”, informam. Estão sendo levantados dados e informações que possam trazer uma cronologia mais precisa dos fatos que marcaram a trajetória de Manuel Messias. “Com mais de 200 artigos em jornais e publicações, pudemos comprovar a sua participação ativa na cena artística brasileira durante 30 anos, com exposições no Brasil e no exterior, sendo premiado diversas vezes e com unanimidade crítica a respeito de sua obra”.

 

 

A partir de intensa pesquisa foram rastreados mais de 180 trabalhos em acervos particulares e instituições. Como resultado desta investigação, foram recuperadas séries criadas por Manuel Messias que estavam pulverizadas em diversas coleções e que revelam uma produção constante, consciente e coesa, de elaborado senso estético e profundo conhecimento artístico, contam Lontra e Peixoto. Autores de diversos campos do conhecimento – críticos, historiadores, antropólogos e psicanalistas que mantém estrita pesquisa vinculada à arte – foram convidados a refletirem sobre a produção de Manuel Messias, “abrindo um espaço amplo de pensamento”.

 

 

 Exposição – Alfabeto próprio

 

 

A exposição reúne principalmente xilogravuras, principal meio de trabalho de Manuel Messias, e também pinturas com tinta a óleo e pastel. São destaques as séries “Via Sacra”, “Your Life – M’fotogram” e um álbum em que o artista cria obras a partir de um alfabeto próprio carregado de referências históricas e da estética sintética que marca a sua produção.

 

 

“Sua produção, desde o início, apresentou forte caráter expressionista. Nos primeiros anos ficam claras as influências dos expressionistas alemães, das gravuras de cordel, dos quadrinhos e de importantes nomes da gravura brasileira como Goeldi e Grassmann”, comentam Marcus Lontra e Rafael Peixoto.

 

Negro e de uma família muito pobre, Manuel Messias migrou para o Rio de Janeiro aos sete anos acompanhando uma tia. Tempos depois sua mãe chega à cidade onde se emprega como trabalhadora doméstica na casa de Leonídio Ribeiro, diretor do Museu de Arte Moderna à época. No início dos anos 1960, ao ver que o menino desenhava, ele lhe deu uma bolsa de estudos com Ivan Serpa (1923-1973), que o estimulou a fazer xilogravura. Manuel Messias estudou ainda com o pintor, gravador e desenhista Abelardo Zaluar (1924 – 1987). A passagem de Messias como ajudante e arte-finalista em uma agência de publicidade ainda nos anos 1960 também foi fundamental para a criação de uma linguagem “de alto poder sintético e comunicativo, que marca grande parte da sua produção”, salientam Marcus Lontra Costa e Rafael Peixoto.

 

 

Mas a pobreza e a falta de estruturas que o amparassem, somadas a problemas psiquiátricos que Manuel Messias e sua mãe passaram a sofrer, o levaram ao extremo da exclusão social. Entretanto, apesar disso ele continuou produzindo, fazendo exposições e recebendo prêmios como os do MAM e do Museu Nacional de Belas Artes.

 

 

Manuel Messias chegou a morar em uma pensão na Lapa onde também vivia Cildo Meireles, e comprou uma casa na Cidade de Deus, com o resultado das vendas de uma exposição feita em 1974 na Bolsa da Arte, de Evandro Carneiro, e a partir da mobilização do circuito de arte. Mas em 1989, com o agravamento de sua condição financeira e também psiquiátrica, abandonou o lugar, dizendo ter sido expulso pela criminalidade.

 

 

A partir daí passou a morar, sempre com a mãe, em ruas próximas às casas de amigos, como a artista Martha Pires Ferreira – que trabalhou anos a fio com a dra. Nise da Silveira – que o amparava e comprava material para suas obras, e guardava suas gravuras.

 

 

Marcus Lontra e Rafael Peixoto observam que, apesar da falta de estrutura em que vivia, Manuel Messias era “um leitor compulsivo, com um profundo conhecimento sobre arte e uma ampla bagagem cultural”.

 

 

Aquarelas de Nemer

02/set

 

 

Depois de passar pelo Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, a exposição “Nemer – aquarelas recentes”, do mineiro José Alberto Nemer, chega no dia 18 de setembro à Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. A mostra é a continuação de uma série que vem sendo apresentada desde os anos 1990 e reúne 20 obras produzidas sobre papel francês. São quadrados, retângulos, grelhas, hachuras, círculos, trapézios, elipses, cruzes e arcos que povoam peças de diferentes formatos, começando nos 100 x 100 cm, até o inusual, pelas grandes dimensões, formato de 150 x 200 cm.

 

 

“Trabalho com a geometria, com o gestual, com as manchas, com as formas mais rigorosas. Às vezes eu começo construindo uma geometria, que na metade acaba se desconstruindo; é quando você reconhece que a aquarela é indomável, escorre até onde ela quer escorrer e o pigmento se concentra onde sequer imaginávamos. Todos os deslizes, todos os ‘erros’ são incorporados e fazem parte do processo não só da aquarela, mas da arte como um todo”, diz Nemer, pertencente à geração dos chamados Desenhistas Mineiros, que se afirmou no cenário da arte brasileira, a partir da década de 1970.

 

Para o curador Agnaldo Farias, os trabalhos de Nemer propiciam um intermitente confronto entre uma orientação construtiva e um impulso orgânico. Diluídos na água, seus pigmentos correm pela folha, adivinhando suas minúsculas fissuras e revelando o acidentado da topografia do papel. A dimensão construtiva de suas obras se expressa, continua Farias, no recurso a figuras geométricas variadas, veloz e cuidadosamente executadas com lápis de grafite duro, com o apoio de régua, compasso.

 

Também chama a atenção em suas aquarelas o preto, uma cor pouco usada na técnica e terminantemente proibida na época em que estudou na Escola de Belas Artes: “Durante o curso, senti uma atração muito grande pela aquarela como técnica. Cada vez que eu começava pintar, os professores vinham e diziam: ‘a aquarela tem que ser mais transparente, e você está pesando muito. Isso aí está mais para guache do que para aquarela’. Outras vezes colocava um preto, e eles voltavam e falavam: ‘atenção, nunca se usa o preto na aquarela’. Foi aí que guardei a aquarela e me dediquei ao desenho. Os anos passaram, em um processo terapêutico, resolvi fazer algumas reflexões desenhadas e com aquarela. E, sintomaticamente, comecei pelo preto e nunca mais parei”, conta.

 

 

Aliás, foi por meio da psicanálise que a aquarela entrou na vida do artista. “Perguntei à analista se podia fazer um relatório usando aquarelas, e a técnica se adequou à minha introspecção e silêncio, ao meu temperamento. Domou a vontade de controle sobre tudo”, conta. A partir daí veio a primeira série, intitulada “Ilusões Cotidianas”, exposta, nos anos 1980, em São Paulo e na Bienal de Cuba.

 

 

Espaço em movimento

 

 

Em uma das itinerâncias de “Nemer – aquarelas recentes”, um visitante escreveu ao artista sobre o que encontrou na mostra e que, agora, os gaúchos verão na Fundação Iberê Camargo: “Aquarelas que fluem, flutuam e ocupam o espaço em movimento, como nuvens de cor preenchendo o olhar. Com sutil delicadeza, convidam para um momento de serenidade e paz”.

 

 

“A aquarela ensina o imponderável. Ao trabalhar numa superfície com água e pigmento, você tem um controle muito relativo, e essa impossibilidade de querer controlar tudo trouxe ensinamentos para a vida. Na Fundação Iberê, o visitante vai encontrar o silêncio, a possibilidade de silêncio interior, do que aprendi com a técnica e que vem muito ao encontro do meu processo de produção”, afirma Nemer.

 

 

Ateliê de Gravura

 

 

Para marcar sua passagem pela Fundação Iberê Camargo, José Alberto Nemer participará do projeto “Artista Convidado”, do Ateliê de Gravura. Ele já está em conversação com Eduardo Haesbaert, responsável pelo Ateliê, sobre sua nova criação.

 

 

Sobre o artista

 

 

José Alberto Nemer é doutor em Artes Plásticas pela Université de Paris VIII. Lecionou em universidades brasileiras e estrangeiras, como a UFMG (1974 a 1998) e a Sorbonne (1974 a 1979). Pertencente à geração dos chamados desenhistas mineiros, que se afirmou no cenário da arte brasileira a partir da década de 1970, Nemer participa de salões e bienais no Brasil e no exterior. Sua obra obteve, entre outros, o Prêmio Museu de Arte Contemporânea da USP (1969), Prêmios Museu de Arte de Belo Horizonte (1970 e 1982), Prêmios Museu de Arte Contemporânea do Paraná na Mostra do Desenho Brasileiro (1974 e 1982), Grande Prêmio de Viagem à Europa no Salão Global (1973), Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo no Panorama da Arte Brasileira (1980). Incluído pela crítica e por júri popular entre os dez melhores artistas de Minas Gerais na década de 1980, Nemer foi o artista homenageado, com Sala Especial, no Salão Nacional de Arte Edição Centenário, realizado no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte (1997/1998). Entre suas exposições, destacam-se a do Centro Cultural Banco do Brasil/CCBB Rio (2000), a dos espaços culturais do Instituto Moreira Salles, em circuito itinerante pelo País (2003 a 2005), e a da Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio (2009). Num ensaio sobre a obra do artista, intitulado Razão e Sensibilidade (2005), Olívio Tavares de Araújo diz: “Só um virtuose da aquarela – a mais exigente de todas as técnicas, a mais inflexível, na qual é impossível enganar –  conseguiria dar este enorme salto de escala sem atraiçoar-lhe em absolutamente nada a essência. Ao que eu saiba, ninguém nunca, em qualquer tempo, fez aquarelas das dimensões dessas, de Nemer. Mas, a despeito do tamanho, elas permanecem, definitivamente, aquarelas. Conservam sua natureza de música de câmara, e não sinfônica, delicada, econômica, sempre transparentemente instrumentadas. Parece-me terem fluído com a naturalidade, quase, de uma fonte”.

 

Elisa Bracher na Galeria Estação

01/set

 

 

Com uma instalação, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras e esculturas, a individual “Terra de Ninguém”, de Elisa Bracher, na Galeria Estação, Pinheiros, em São Paulo, propõe, a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais

 

 

Pelo gesto do fazer, presente de modos diversos na produção e no percurso artístico de Elisa Bracher, “Terra de ninguém”, individual da artista na Galeria Estação, em SP, expõe a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais. A exposição, que estreou em 28 de agosto, permanecerá em cartaz até 02 de outubro, apresenta 35 obras dispostas em três espaços da Galeria, entre elas, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras, esculturas e uma instalação.

 

 

Na entrada da Galeria Estação, uma enorme escultura em madeira angelim curvada na parede e pousada no chão, inclina-se em direção ao espectador. Na realidade, esse trabalho parte da forma das gamelas, esses antigos utensílios nos quais se guardavam alimentos e refeições, e no espaço expositivo desequilibra o nosso olhar e perde a sua funcionalidade originária.

 

A segunda escultura, um cubo aberto feito em pau a pique – técnica usada para a construção de antigas casas populares do interior -, é cortada, agora não mais, como era tradicionalmente, por uma árvore, mas por uma canha. A terceira é uma escultura em madeira e cerâmica materializada em três blocos de madeira empilhados, nos quais as casinhas típicas do interior, feitas de pau a pique, encontram-se encaixadas, deixando aparentes somente as suas fachadas. A quarta retoma a plástica das casinhas encaixadas nas estruturas, mas, desta vez, com os blocos pregados na parede e posicionados um ao lado do outro. A quinta escultura traz uma base de terra redonda em declive, com uma estrutura de madeira apoiada na parte superior.

 

 

A instalação expõe os vestígios de madeiras, mármores e cerâmicas, materiais que aparecem apoiados uns nos outros, como se tentassem delimitar um espaço entre o interno e o externo da obra. Como pontua Elisa Bracher: “Esta exposição apresenta trabalhos iniciados há mais de dez anos. Desenhos e gravuras mostram montanhas e paisagens que se desfazem e se reconstroem com o passar do tempo. As esculturas só aconteceram no momento em que encontraram lugar para estar. No momento em que acertamos fazer a exposição na Galeria Estação, os trabalhos vieram a existir. Em mim já habitavam, mas faltava o sítio que os acolhesse. A instalação “Restos em novo corpo é a transição”.

 

 

As cinco esculturas e a instalação que serão mostradas ao público, e que trazem elementos da tradição da cultura material brasileira, dialogam com os desenhos. Em seu processo, Bracher parte do material, é ele que sugere a forma e a construção da imagem. De maneira diversa das linhas das gravuras, construídas com a precisão de ferramentas em metal sobre papel de arroz, nos desenhos as colinas traçadas em linhas finas e frágeis sugerem um desprendimento, um afastamento do solo. “Elas pairam sobre uma superfície manchada com um colorido de oxidação ou sangue coagulado. São visões de longe, muito longe, de lugares que estão por lá, mas que ninguém enxerga de perto”, afirma Tiago Mesquita em texto curatorial.

 

 

Por sua vez, o trabalho com as monotipias presentes na exposição parte de um diálogo com o maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo. Bracher exercita nessa linguagem visual a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Trata-se de uma paisagem plástica que dialoga com a pesquisa do pianista.

 

 

A pesquisa de Rodrigo Felicíssimo se debruça sobre um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos. Para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos compôs o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte. Tanto na sinfonia como na pesquisa de Bracher, a forma manifesta no espaço não se desvincula da abstração da sonoridade; em Felicíssimo, a paisagem sonora amplia os sentidos pela percepção da paisagem plástica.

 

 

Houve participação especial da cantora Mônica Salmaso, acompanhada em um pocket show do maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo no vernissage de abertura da exposição “Terra de ninguém”. A individual de Elisa Bracher na Galeria Estação relaciona o trabalho em monotipia da artista com a pesquisa musical de Felicíssimo.

 

 

Nas monotipias, Bracher exercita a noção de paisagem visual, com a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Por sua vez, a pesquisa de Felicíssimo sobre paisagem sonora parte de um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos; para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos concebeu o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte.

 

 

Até 02 de Outubro.

 

 

 

Linhas em Ruptura – Gravuras do acervo

26/ago

 

A FAMA Museu, Itu, SP, inaugura a exposição “Linhas em Ruptura – Gravuras do acervo”, com gravuras de figuras centrais do modernismo brasileiro e de artistas que se destacaram a partir da década de 1960. A mostra reúne cerca de 113 gravuras e a abertura acontece no dia 28 de agosto na Sala Marcos Amaro.

 

 

Com curadoria de Luiz Armando Bagolin, a mostra exibe gravuras, matriz e impressões de representantes do movimento, como Flávio de Carvalho, Oswaldo Goeldi, Lívio Abramo, Maciej Babinsky e Darel, e de artistas com produções a partir dos anos 60, 70 e 80, como Mestre Noza, Edith Behring, Wesley Duke Lee, Evandro Carlos Jardim, Regina Silveira e Anna Bella Geiger.

 

 

Durante a modernidade, a gravura deixa de ser apenas um recurso ou técnica que servia à transmissão e reprodutibilidade de ideias ou exortações de caráter moral, político e científico, e passa a ter mais autonomia e liberdade. “Ao todo, a exposição reúne 113 obras dos principais artistas históricos da gravura brasileira. A seleção deles foi feita com o intuito de mostrar a diversidade de temas e de técnicas dentro da gravura.”, explica Luiz Armando Bagolin.

 

 

Para garantir a acessibilidade e inclusão, “Linhas em Ruptura” disponibilizará a opção de audioguia, obras adaptáveis e videolibras.

 

 

A entrada é gratuita, agende sua visita!

 

Prêmio PIPA 2021

18/ago

 

 

Representada pela Galeria Kogan Amaro, São Paulo, SP, a gravadora Luisa Almeida foi indicada ao Prêmio PIPA 2021. Luisa Almeida se especializou em xilogravuras de grandes formatos e utiliza o alto contraste presente na técnica para se relacionar com sua temática-chave: retratos de mulheres e meninas empunhando armas de fogo no cotidiano. O que propõe é uma investigação sobre relações simbólicas presentes nesse objeto.

Também cenógrafa de óperas e peças teatrais, Luisa mescla recursos cênicos na concepção de sua obra, dando à luz instalações xilográficas. Parte de sua pesquisa se aprofunda em processos alternativos para a impressão de gravuras gigantes, como veículos, empilhadeiras e rolos compressores. Atualmente, é mestranda em Artes pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), mesma instituição onde se formou em 2017. Recebeu menções honrosas no 47º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba (2015) e na Mostra Comemorativa dos 30 anos do Museu da Xilogravura, em Campos do Jordão (2017). Nascida em Viçosa, MG, 1993. Vive e trabalha em São Paulo, SP.

 

 

Catálogo de obras do MACRS

30/jun

 

 

Ficou pronto e já foi lançado o Catálogo Geral de Obras do Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). O projeto Arte Contemporânea RS, responsável por esta ação fundamental no campo das artes visuais, direcionou seu olhar para a catalogação do acervo do MACRS, resultando em uma publicação em formato impresso e digital. O cuidadoso trabalho desenvolvido pela equipe de pesquisa, coordenado pela gestora e produtora cultural Vera Pellin, e orientado pela pesquisadora e curadora do projeto Maria Amélia Bulhões, catalogou 1813 obras de 921 artistas.

Em edição trilíngue (português, espanhol e inglês), o catálogo também é apresentado em versão online gratuita para download no site www.acervomacrs.com.  A versão impressa é composta de 304 páginas e tem tiragem de 1.200 exemplares, a distribuição será administrada pela Associação de Amigos do MACRS (AAMACRS).

 

 

O processo de trabalho, realizado pelo conjunto de profissionais e colaboradores, incluiu as etapas de pesquisa, documentação, digitalização, edição e impressão, demandando intensa dedicação, atenção e aprendizado. Entre os possíveis desdobramentos do projeto está a difusão e divulgação em diferentes mídias deste acervo de arte contemporânea que vem se constituindo ao longo de quase três décadas. Diferentes visões de mundo e expressões a respeito do nosso tempo disponíveis a partir de agora em condição permanente. A partir do olhar desta geração de artistas se manifesta a história da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, sendo o MACRS o principal Museu do estado focado nas atividades de preservação e conservação desta memória para as gerações futuras.

 

 

“A edição do Catálogo do Acervo do MACRS, com 1813 obras de 921 artistas, tem caráter inédito e viabilizará à comunidade artística a promoção, difusão, preservação e acesso à informação deste valioso patrimônio cultural, além de fonte de pesquisa ao público especializado e interessado. Sua edição impressa e digital possibilitará a emersão de novos processos de leitura e significação da arte ao conhecer, de forma ampliada, todas as obras que compõem este valioso acervo, suas linguagens, diversidade de técnicas e práticas artísticas”, afirma Vera Pellin.

 

 

Para o diretor do MACRS, André Venzon, a publicação é um forte indício da consistência desse caminho do Museu, de resgate da biografia desses artistas, doadores, gestores, servidores, estagiários e colaboradores que apontaram essa história, do seu início até hoje, para as novas gerações. “Trata-se de uma publicação indispensável para todos que desejam conhecer mais sobre arte contemporânea, com toda a força e pluralidade que a sua produção representa.”

 

 

“Compartilho de uma emoção coletiva ao finalizar o projeto Arte Contemporânea RS, destinado à catalogação do acervo do MACRS, que foi um grande desafio para todos os colaboradores e uma realização pessoal e institucional”, afirma a curadora Maria Amélia Bulhões. Para a professora e pesquisadora da UFRGS, “agora é possível olhar a totalidade do trabalho desenvolvido e perceber a amplitude e diversidade desse acervo, ondem se destacam obras em fotografia (469) e gravura (422), seguidas de pintura (236), desenho (167) e escultura (126), além de categorias mais recentes como vídeo (82) e livros de artistas (30), entre outras”.

 

 

A leitura da publicação, assim como da exposição, propõe um exercício experimental de compreensão, que amplia significados sem criar categorias ou estereótipos, destacando obras que marcam significativamente mudanças de perspectiva na produção artística da contemporaneidade, por suas estratégias, seus recursos materiais, formais ou de conteúdo. “Certas obras investigam os universos não hegemônicos, como o feminino, o negro, o indígena ou o marginal, procurando instaurar no sistema da arte a crítica e os debates de gênero, etnias e relações sociais conflitantes. O corpo é forte presença, colocando em pauta aspectos reprimidos da sexualidade. A relação com todas essas problemáticas tem espaço no conjunto da coleção”, complementa a curadora.

 

 

O projeto ainda contempla uma significativa exposição do acervo no MACRS, que pode ser conferida até 22 de agosto, com curadoria de Maria Amélia Bulhões, nas galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, além do espaço Vasco Prado, no 6º andar da Casa de Cultura Mário Quintana. De forma presencial e também virtual, o público pode conferir mais de setenta obras em diferentes suportes, marcando a multiplicidade e representatividade desse acervo.

 

Mostra inédita e eclética de doações

25/jun

 

 

Entrou em cartaz e permanecendo até 20 de agosto na Pinacoteca Aldo Locatelli, Paço dos Açorianos, Porto Alegre, RS, a exposição “A Arte Pode Ser Eu?”. A mostra exibe o conjunto de obras doadas pelo advogado, executivo, gestor e colecionador Luiz Inácio Franco de Medeiros para a Pinacoteca Aldo Locatelli.

 

 

Destaca-se a variedade de estilos do conjunto, que entre 2015 e 2020, o colecionador generosamente repassou para o acervo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A mostra reúne nove gravuras, três desenhos, duas pinturas, duas esculturas e uma tapeçaria. Obras assinadas por artistas brasileiros, argentinos, poloneses, japoneses, franceses e por um húngaro naturalizado americano.

 

O colecionador manteve interesse em diferentes linguagens, estilos, técnicas e temáticas. Seu olhar apurado apreendeu novas informações estéticas e as trouxe à cidade natal, sem nunca descuidar do que era produzido em Porto Alegre, onde permaneceu até o final de sua vida. Datadas do século XIX até 2003, as obras transitam do figurativo de matriz expressionista, como a pintura de Magliani ou o desenho de Babinski, até peças abstratas, como a litogravura de Tadeusz Lapinski ou a tapeçaria de Carla Obino, além  de desenho de Roth e uma pintura de Farnese de Andrade. A escultura, que representa um modelo feminino, de autoria de Nico Rocha coabitou o apartamento de Luiz Inácio Franco de Medeiros com a peça abstrato-geométrica de Ladislas Segy, de modo que não é possível identificar um gosto específico ou predileção formal nas escolhas do colecionador.

 

 

O conjunto aponta o trajeto de um personagem fundamental para a compreensão do sistema de arte em Porto Alegre nas últimas décadas que, informado pelas mais diversas tendências internacionais, não perdeu a conexão com os novos artistas gaúchos, os quais estimulava através de suas múltiplas aquisições.

 

 

O porto-alegrense Luiz Inácio Franco de Medeiros (1943 -2021) foi um homem que imprimiu a sua marca onde atuou, seja no meio empresarial ou cultural. Tornou-se conhecido por gestões decisivas e inovadoras como diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e, posteriormente, do Museu Júlio de Castilhos. Sua atuação foi fundamental para a consolidação do campo museológico do Rio Grande do Sul, sendo o primeiro museólogo registrado no Conselho Regional de Museologia e, também, o primeiro presidente. Foi agraciado em 2010 com a Medalha do Mérito Museológico pelo Conselho Federal de Museologia. Como diretor do MARGS (1975 – 1979) foi o responsável pela transferência do museu para a atual sede na Praça da Alfândega; modernizando a sua organização, adaptando tecnicamente o prédio histórico para as novas funções e promovendo projetos que levaram a arte ao público em geral, com o museu indo até às escolas, fábricas, ao Presídio Central e ao Hospital Psiquiátrico São Pedro. No Museu Júlio de Castilhos entre 1983 e 1987, deu início às obras que ampliaram o espaço físico da instituição, levou o museu ao encontro do público através de passeios culturais no centro histórico de Porto Alegre, criou o laboratório de conservação e restauro e criação da Associação de Amigos. Foi um dos grandes doadores de obras para o Museu Júlio de Castilhos e, também, para a Pinacoteca Aldo Locatelli, (chegando a quase 20 obras). Em 2016 participou ativamente da fundação da Associação de Amigos das Pinacotecas de Porto Alegre – AAPIPA, sendo conselheiro da entidade por duas gestões.

 

Registro: Fayga Ostrower  

29/mar

 

O MAM Rio como as demais entidades culturais do Rio de Janeiro encontra-se com suas atividades paralisadas. Registre-se a inauguração da mostra panorâmica “Fayga Ostrower: formações do avesso”, ocorrida em 20 de março. Com cerca de 60 trabalhos – entre gravuras, aquarelas, desenhos, tecidos e jóias – a exposição explora a pluralidade da produção da artista. O conjunto possibilita um estudo apurado sobre o abstracionismo informal na arte brasileira e o uso das cores na técnica da gravura.

A atuação de Fayga como teórica e educadora também é destacada. A artista conduziu o curso de composição e análise crítica no MAM Rio, onde lecionou entre 1953 e 1969; escreveu diversos livros e artigos sobre criatividade, processo de criação e arte. Trechos de seus textos, publicações e arquivo documental são apresentados no espaço expositivo, estabelecendo correlações entre a prática em educação e sua criação artística.

A curadoria da exposição “Fayga Ostrower: formações do avesso” é um projeto conjunto da equipe curatorial do museu, com Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente, e da gerência de Educação e Participação, com Gilson Plano, Daniel Bruno e Shion Lucas. Saiba mais em www.mam.rio

Sobre a artista

Nascida em Lodz, Polônia, em 1920, Fayga Ostrower emigrou para o Brasil em 1934. Estudou artes gráficas na FGV, foi bolsista da Fullbright em Nova York e recebeu numerosos prêmios, inclusive das bienais de São Paulo e de Veneza. Fayga experimentou quase todas as mídias gráficas, incluindo a estamparia. Foi professora no MAM Rio, entre 1953 e 1969; no Spellman College, em Atlanta, nos EUA; na Slade School da Universidade de Londres; em cursos de pós-graduação em várias universidades brasileiras; e lecionou para operários e em centros comunitários. Fayga foi também uma importante pensadora do abstracionismo informal brasileiro e autora de ensaios e livros. A artista faleceu no Rio de Janeiro em 2001. Obras suas integram coleções de museus no Brasil e no exterior.