Reminiscências/Livro e exposição

25/jun

 

Em sua nova exposição na Fortes D’Aloia & Gabriel, Carlos Bevilacqua apresenta uma instalação, esculturas e aquarelas que operam na tensão permanente entre instabilidade e equilíbrio, no intervalo semântico definido por ele como “instante poético”. Durante a abertura, a Editora Cobogó promove o lançamento do livro do artista carioca, monografia que percorre seus 30 anos de carreira através de reproduções de obras, estudos e anotações. A publicação conta com introdução do próprio artista, depoimentos de colegas, texto crítico de Paulo Sergio Duarte e entrevista concedida a Luiz Camillo Osorio.

 

Bevilacqua resume seu trabalho escultórico afirmando: “Eu não trabalho com formas. Trabalho com forças”. Ele emprega materiais como madeira e aço em suas configurações mais sintéticas – linha, ponto, círculo, esfera – para então testar seus limites físicos até o momento preciso em que as tensões encontram seu ponto de estabilidade. A forma é, portanto, a expressão de uma força, que por sua vez resulta da interação das energias potenciais de cada elemento. Ensaio Sobre Linhas Concretas (2019) surge desse exercício e apresenta uma complexa estrutura com linhas de aço que cruzam o espaço da Galeria de parede a parede. Cada seção das retas que compõem essa instalação aérea é interrompida por outros elementos (molas, parábolas, círculos) que atuam como intervalos na propagação de energia pela rede inteira. Em outros trabalhos, como Estrelas fixas (2019) e 3 Luas e o Cubo de Ouro (2015), a imbricada dinâmica de forças opera em uma escala fluida e variável, revelando a liberdade com que Bevilacqua transita entre o micro e o macro.

 

Na série inédita Paletas e Fantasmas (2019), o artista emprega paletas de pintura que, ao invés de tinta ou pinceis, abrigam elementos escultóricos para engendrar cenários ou “armadilhas simbólicas”, como ele descreve. A alusão à pintura ecoa ainda no conjunto de trabalhos da primeira sala da exposição, que têm a cor como fio condutor. Exibindo pela primeira vez em sua carreira uma série de aquarelas, Bevilacqua associa as figuras vibrantes dessas obras com as esferas coloridas que pontuam as esculturas O Vermelho Originário (2017) e O Vermelho da Noite (2017).

 

Sobre o artista

 

Carlos Bevilacqua nasceu no Rio de Janeiro em 1965, onde vive e trabalha. Depois de estudar arquitetura no Brasil, cursou a New York Studio School of Painting, Drawing and Sculpting (Nova York, 1991/1993). Entre suas exposições, destacam-se as individuais no MAM Rio (Rio de Janeiro, 2000), no MAM-SP (São Paulo, 1992) e, mais recentemente, Indeterminado no Centro Cultural Candido Mendes (Rio de Janeiro, 2019). As mostras coletivas incluem participações em: Lugares do Delírio, SESC Pompeia (São Paulo, 2018) e MAR (Rio de Janeiro, 2017); Intervenções Urbanas, Museu da República (Rio de Janeiro, 2016); Calder e a Arte Brasileira, Itaú Cultural (São Paulo, 2016); Desejo da forma, Akademie der Künste (Berlim, 2010); Um Mundo Sem Molduras, MAC-USP (São Paulo, 2009). Sua obra está presente nas coleções do Instituto Inhotim, do MAM Rio, do MAC-USP, entre outras.

 

De 25 de junho a 10 de agosto.

 

No Anexo Milan

24/jun

Mario Cravo Neto é o atual cartaz do Anexo Milan, Pinheiros, São Paulo, SP, através da exposição “O Estranho e o Raro”. Mario Cravo Neto teve como um de seus mestres seu próprio pai, o escultor Mario Cravo Junior e hoje é considerado como um dos artistas brasileiros pioneiros da fotografia contemporânea brasileira a receber reconhecimento internacional – a partir dos anos 1970 -, realizando mostras em diversas capitais ao redor do mundo. Algumas das mais importantes de sua carreira foram  as XI, XII, XIII, XIV e XVII Bienais de São Paulo, Geográfias (in)Visibles, Arte Contemporáneo Latinoamericano en la Colecion Patricia Phelps de Cisneros, Centro Cultural Eduardo León Jimenes, Santiago, República Dominicana(2008), Mapas Abiertos, Fotografia Latino-Americana 1991-2002, entre outras.

 

As obras apresentadas na exposição pertencem ao período de  sua passagem por Nova Iorque, onde viveu no final dos anos 1960, e por Salvador, cidade onde nasceu. Faz parte desse recorte o período em que o artista ficou imobilizado em decorrência de um acidente de carro. Nesse espaço de tempo Neto ficou na casa de seus pais, e a dor e as transformações que marcam essa etapa da vida do artista se refletem em seus registros, que fundem o imaginário místico e religioso. A curadoria é de Bené Fontelles e a exposição é composta de 52 fotos e uma instalação.

 

 

Até 13 de julho.

Arte-veículo

05/jun

O SESC/Santos, São Paulo, SP, apresenta a exibição coletiva com 40 artistas e grupos estudados na pesquisa Arte-veículo, da curadora Ana Maria Maia. Desde a televisão, inaugurada em 1951, e a Internet, difundida no início dos anos 2000, diferentes artistas e grupos figuraram no agendamento midiático para nele experimentar e praticar “inserções em circuitos ideológicos”, como alegou Cildo Meireles em 1970. Ou disseminar “ideias vírus”, conforme Giseli Vasconcelos prescreveu já em 2006, fazendo ressoarem ao longo das décadas os termos de uma relação que se dá entre os veículos de comunicação como hospedeiros e os artistas como parasitas.

 

Para repercutir intervenções midiáticas no contexto de uma instituição cultural, a curadoria pretende misturar diferentes suportes na organização espacial da exposição, de documentos impressos e registros em vídeo a objetos e instalações. O projeto foge de uma narrativa cronológica para priorizar o entendimento de estratégias recorrentes dos artistas e grupos no decorrer desse intervalo histórico. Desse partido, surgem seus seis núcleos, denominados a partir de verbos que denotam um conjunto de ações: duvidar da verdade, perder-se, duelar, “ouviver”, hackear e ficcionalizar. A exposição propõe também um programa público de performances, conversas e laboratórios, e ainda a reinserção de trabalhos em espaços de imprensa e mídias, como jornais, revistas e programas de rádio, e mesmo redes sociais. Destaque para o Grupo Manga Rosa: Carlos Dias, Francisco Zorzette e Jorge Bassani.

 

Até 28 de julho.

Nacional Trovoa

04/jun

A Baró Galeria, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a primeira exposição do Nacional Trovoa em seu espaço expositivo, sob a curadoria de Carollina Lauriano, com obras das artistas Aline Motta, Bruna Amaro, Caroline Ricca Lee, Gabriela Monteiro, Heloisa Hariadne, Igi Ayedun, Juliana Santos, Lidia Lisboa, Luiza de Alexandre, Lyz Parayzo, Mariana Rodrigues, Micaela Cyrino, Monica Ventura, Rebeca Ramos, Renata Felinto, Sheila Ayo, Val Souza e Yaminah Garcia reunindo nesta exposição um conjunto de pinturas, fotografias, assemblages, site-specific, performances e instalações – algumas inéditas, pensadas para a mostra -, e deriva da convocatória nacional proposta pelo coletivo de mulheres artistas Trovoa.

 

 

A palavra da curadoria

 

A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos

 

A exposição A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos parte da convocatória nacional do coletivo Trovoa que visa, para além de mapear a produção de artistas racializadas, trazer o protagonismo desses corpos para o campo da arte. No impulso de investigar a pluralidade de suas pesquisas e práticas artísticas, a mostra reúne um conjunto de vinte e quatro trabalhos produzidos por dezoito mulheres de diversas gerações e diferentes trajetórias.

 

Nesse sentido, a exposição pretende entrecruzar reflexões acerca da produção dessas artistas, inspirando uma curadoria mais aberta, numa perspectiva de busca por singularidades individuais e coletivas. A partir dessa elaboração simbólica, derivam-se os eixos curatoriais que apontam as convergências entre as obras: a busca pela própria identidade, as violências institucionalizadas e os caminhos de cura por meio de suas vivências.

 

Em tempos como os atuais, de crises de representatividade, A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos traz à tona o desejo de subverter e ampliar as narrativas a partir de micropolíticas que emergem como possibilidade de redefinir o futuro. Assim, no espectro transformador que a arte possui, tal experiência de encontros, trocas e chamamentos que o circuito Trovoa propôs nacionalmente contribuem para questionar os discursos hegemônicos que cercam, não somente a sociedade, mas também o campo da arte.

Carollina Lauriano

Em cartaz na Bergamin & Gomide

03/jun

A Burrice dos Homens: uma colagem espaço-temporal realizada em conversa com Tiago Carneiro da Cunha na Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP. Até 20 de julho.

 

Entre 1985 e 1986, Martin Kippenberger, em Colônia, embarcou rumo ao Brasil acompanhado pela fotógrafa Ursula Böckler, encarregada de registrar o périplo de três meses. Àquela altura, o artista já era um herói local na Alemanha Ocidental, famoso tanto por seu trabalho quanto por sua personalidade histriônica. Kippenberger nomeou a expedição ao “exótico” país como “Magical Misery Tour”, parodiando o famoso álbum dos Beatles. O tom sardônico e irreverente é típico do artista. Seu slogan também foi o ponto de partida conceitual para uma série de trabalhos embebidos em estereótipos, autodepreciação e interpretações jocosas, que expressam uma aposta na autoridade moral e cultural supostamente conferida por seu passaporte alemão. As fotos de Böckler revelam Kippenberger como um típico “gringo”: vermelho de sol, de shorts e sem camisa, encantado com as mazelas tropicais e pronto a interpretá-las a partir de sua posição privilegiada. Naquela época, ainda se falava em “Terceiro Mundo” e o circuito da arte contemporânea oficial se concentrava essencialmente entre Nova York, Londres e Colônia.

 

“Aqui é o fim do mundo”, escreveu Torquato Neto, quase vinte anos antes, no refrão da música Marginália II, gravada por Gilberto Gil em 1967. O poeta piauiense desconstrói – com a fluência associativa típica do grupo tropicalista – a exaltação nacionalista do romântico Gonçalves Dias. Seu exercício sagaz de intertextualidade desvela a complexa realidade brasileira durante a ditadura militar. Era o início dos chamados “anos de chumbo” e o experimentalismo exuberante da Tropicália logo foi dispersado por uma série de perseguições e pelo exílio dos integrantes do movimento, que antes de partirem protagonizaram uma verdadeira revolução estética no cenário cultural brasileiro.

 

Em 1971, Ivan Cardoso convidou Torquato Neto para interpretar Nosferatu no Brasil, um clássico do gênero “Terrir”, termo criado pelo poeta Haroldo de Campos. No mesmo ano, Neville de Almeida rodou o lendário Mangue-Bangue, uma colagem audiovisual radical realizada numa zona de prostituição carioca que o cineasta visitou com Hélio Oiticica. Os dois filmes revelam certa desconfiança dos cânones da história do cinema ocidental, mostrando, cada um a sua maneira, pela via do absurdo tragicômico e do deboche, um Brasil ameaçado pelo autoritarismo e pela censura.

 

A versão marginal e ensolarada do vampiro Nosferatu, que toma água de coco em Copacabana ao som de bossa-nova, poderia facilmente ser um dos personagens cáusticos de Tiago Carneiro da Cunha, que são o ponto de partida desta exposição. Minha opção, neste texto, de chegar ao seu trabalho pela via da associação livre, replica a dinâmica que nos levou às obras em exposição: uma procura compartilhada por artistas de diferentes gerações que, assim como ele e os exemplos citados acima, optam por habitar a tênue linha entre o cômico, o trágico, o melancólico e o sedutor quando se propõem a representar e a discutir criticamente os códigos visuais que constituem uma ideia de identidade cultural brasileira ou, mais amplamente, da região que se convencionou chamar de América Latina no mundo globalizado e do chamado “circuito internacional da arte contemporânea” – que a propósito começou a ser instaurado na época da viagem de Kippenberger.

 

Yes, nós temos bananas e melancolia tropical para dar e vender na exposição. Optamos por criar um ambiente cacofônico, repleto de associações livres, jogos semânticos, homenagens, intertextualidades, releituras e profanações variadas. Os trabalhos em exposição põem em cheque a ideia de alta e baixa cultura, optam pela transgressão e pela idiossincrasia como antídotos às interpretações rasas, discursos fechados e olhares unilaterais. Levando isso em conta, a inclusão de uma das imagens originais feitas por Böckler – única artista europeia na mostra -, a qual retrata Kippenberger no Brasil, tem a intenção de ressaltar a autonomia do olhar da fotógrafa em relação à abordagem ambivalente do projeto do artista. Em várias imagens, as lentes de Böckler captam com certo constrangimento os movimentos de um artista-turista fanfarrão em um Brasil recém-saído de vinte anos de ditadura militar, e acabam por se tornar um documento visual importante da mentalidade de uma época.

 

Distante da “miséria mágica” estilizada por Kippenberger, o território estereotipado que Carneiro da Cunha explora há anos e que ecoa nesta exposição, é resultado da sublimação intencional de um contexto que é insuportavelmente real. Ao evocar com humor o que é canônico ou inenarrável, sua obra nos aproxima de elementos da nossa sociedade que, por serem tão flagrantes e traumáticos, desafiam a razão. Quando o noticiário se aproxima tão intensamente da narrativa fantástica, os monstros lodosos e os diabos sacanas de Tiago Carneiro da Cunha, ou mesmo o escatológico Polochon de Lina Bo Bardi, deixam de parecer absurdos e nos lembram do potencial agregador – e por que não revolucionário? – do senso de humor como ponto de partida para reflexões criticas sobre dinâmicas sociais arraigadas, e que necessitam de revisão.

Fernanda Brenner

 

 

Lista de artistas:

 

Adriano Costa, Amadeo Luciano Lorenzato, Ana Prata, Anna Bella Geiger, Antônio Dias, Antonio Henrique Amaral, Artur Barrio, Cabelo, Cícero Dias, Cristiano Lenhardt, Erika Verzutti, Glauco Rodrigues, Hélio Oiticica, Ivan Cardoso, Ismael Nery, Jac Leirner, Jarbas Lopes, José Antônio da Silva, Leda Catunda, Lina Bo Bardi, Oswaldo Goeldi, Pedro Caetano, Radamés “Juni” Figueroa, Rogério Reis, Saint Clair Cemin, Tiago Carneiro da Cunha, Tonico Lemos Auad, Ursula Böckler, Vicente do Rego Monteiro, Wilma Martins, Yuli Yamagat.

O poder da palavra no IPN

23/maio

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, do Instituto Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, apresenta registros em vídeo e fotografias, em  “Tu Mata Eu”, exposição inédita que revela parte da pesquisa do artista Sérgio Adraino H. que se fundamenta em teorias e práticas acerca dos fluxos de informações, das fake news e conhecimento na sociedade contemporânea. A curadoria é de Marco Antônio Teobaldo e permanecerá em cartaz até 20 de julho.

 

 

TU MATA EU

 

O artista visual Sérgio Adriano H. participou de 33 exposições nos últimos doze meses, entre individuais e mostras coletivas. Mas o que chama a atenção na intensa produção do artista, além do volume de trabalhos criados e a sua concorrida agenda, é a sua dedicação e comprometimento em se posicionar como homem negro em uma sociedade racista, e, assim, poder dar voz aos seus pares. Por isso, deve-se dizer que o seu trabalho biográfico possui uma carga de sentimentos profundos e que corajosamente são revelados em suas criações. Segundo a reflexão do próprio artista, vivemos em um mundo cada vez mais conectado na ignorância coletiva e a arte cumpre seu papel resiliente, no despertar dos questionamentos e na liberdade individual de pensar, concluir e se expressar.

 

A instalação “Tu Mata Eu”, que dá o nome à exposição, é formada por letras douradas infláveis, emolduradas por impressões de carimbos com as palavras: “preto”, “puta”, “viado” e “trans”.  De longe as palavras formam apenas os desenhos da moldura e de perto são identificadas com seu significado, deixando visível o indivíduo invisível. O desdobramento deste trabalho é uma performance do artista, na qual ele percorre desde o Cais do Valongo, até o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, falando estes quatro adjetivos carregados de preconceito.  Estimulado pela força da palavra, Sérgio Adriano H. apresenta a obra “Brasil brasileiro”, em que frases ouvidas desde a sua infância, até os dias de hoje, são estampadas em roupas de bebê, dispostas em um display, que podem ser manuseadas pelo visitante, como se estivessem em uma loja. Ainda associando este ambiente de compra e venda para tratar do racismo estrutural no Brasil, uma espécie de livraria é montada pelo artista, na qual ele se apropria de publicações antigas e realiza intervenções em suas capas e páginas, conferindo-lhes outros significados, mais próximos à realidade em que vivemos.

 

Contudo, a pesquisa do artista tem se desenvolvido intensamente no campo da fotografia, no qual ele se coloca como objeto central, para tratar do corpo do sujeito negro. Na série “O lugar a que pertenço”, 2018, por exemplo, Sérgio Adriano H. se coloca nu dentro de uma lixeira gradeada, em uma calçada. Já na série “Ruptura do invisível”, o seu rosto aparece pintado de branco, e que gradativamente é diluído por um líquido incolor, até que a imagem se desintegre totalmente. Esta obra possui registros em vídeo e fotografias. “Tu Mata Eu”, exposição inédita apresentada na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, revela parte da pesquisa do artista que se fundamenta em teorias e práticas acerca dos fluxos de informações, das fake news e conhecimento na sociedade contemporânea. Este conjunto de obras faz refletir sobre o poder de nossas palavras e do nosso silêncio também.

 

Marco Antonio Teobaldo

Curador

Anna Bella Geiger – Aqui é o centro

06/maio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta de 11 de maio a 07 de julho de 2019 a exposição “Anna Bella Geiger – Aqui é o centro”, com 20 emblemáticas obras de Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, 1933) pertencentes ao acervo do MAM Rio, em curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Realizados nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990, todos os trabalhos revelam o interesse da artista pela construção do espaço, além das noções de história, fronteira, centro e periferia. Em paralelo à mostra, a artista faz uma releitura da “Circumambulatio”, realizada no MAM Rio em 1972.

 

A mostra “Anna Bella Geiger – Aqui é o centro” se divide em duas partes complementares. A primeira reúne um panorama da produção da artista com 20 obras do início dos anos 1970, todas pertencentes ao acervo MAM Rio. A segunda é a releitura da exposição “Circumambulatio”, apresentada no Museu há quase cinco décadas, e que “se constitui em divisor de águas de seu trabalho, posto que separa o antes modernista – ou seja, sua produção abstrata (1950) e a instigante fase visceral (1960) – do futuro contemporâneo de seu trabalho”, apontam os curadores.

 

“Resultado de um trabalho coletivo desenvolvido e exposto por Geiger e seus alunos do curso de artes visuais do Museu em 1972, “Circumambulatio” é um dos marcos de sua aproximação com o campo de ressonância de questões da arte conceitual que se reafirmam em sua produção dos anos 1970: incorporação da palavra ao trabalho e experimentação de novas mídias (fotos, vídeos, livros de artista, etc.)”, observam os curadores no texto que acompanha a exposição. O título da exposição, agora remontada em parceria da artista com a equipe do museu, deriva de “circumambulação”: ritual de andar em espiral ao redor de objetos sagrados, como ocorre em certas cerimônias do budismo, hinduísmo e islamismo. Mais do que mera palavra, “circumambulatio” – conceito poético que então referenciou as pesquisas de Geiger e seus alunos – determinou, igualmente, a seleção de imagens e textos para esta exposição e definiu sua instalação na área expositiva do Museu.

 

Dentre as ideias fundamentais contidas em texto escrito pela artista para a mostra de 1972, uma é especialmente esclarecedora: “o centro não é simplesmente estático. Ele é o núcleo de onde partem o movimento do uno para o múltiplo, do interior para o exterior. […] A passagem da circunferência para seu centro equivale à passagem do externo para o interno, isto é, da forma à contemplação”. No caso específico do processo poético de Anna Bella Geiger, parece ser possível entender a noção de centro como local de inscrição e ação, cuja dinâmica até hoje permeia a obra da artista.

Prêmio para Jac Leirner

02/maio

O ano de 2019 é um marco especial para o Prêmio Wolfgang Hahn. Pela primeira vez, a Gesellschaft für Moderne Kunst trata de homenagear uma artista sul-americana por sua obra internacionalmente relevante. Isso ampliará a perspectiva do prêmio em relação à evolução da arte contemporânea global. O trabalho de Jac Leirner, localizado na intersecção entre o minimalismo, o conceitualismo e a crítica institucional, é uma adição importante à coleção do Museu Ludwig, Colônia, Alemanha. Graças à dedicação de seus membros, a Gesellschaft für Moderne Kunst apresenta o Prêmio Wolfgang Hahn pelo vigésimo quinto ano consecutivo.

 

Até 21 de julho.

Tunga na Itália

A Galeria Franco Noero exibe a segunda exposição individual de obras de Tunga na Itália, pela primeira vez exibida nos espaços da Piazza Carignano 2, Turim, Itália. Tunga foi um dos mais importantes e influentes artistas brasileiros de sua geração, e ele se expressou através de uma variedade extremamente eclética de mídias e linguagens artísticas, variando de desenho a escultura, instalação, fotografia, performance, cinema, vídeo e escrita. Os trabalhos expostos nesta exposição são de grande impacto simbólico. Alguns deles nunca foram exibidos antes e estão sendo apresentados pela primeira vez. O foco está nos processos e referências mais caros ao artista e nas obras que ele criou durante os últimos anos de sua carreira, antes de sua morte prematura. Eles vão desde a escala mais íntima de desenhos e pequenas esculturas ao poder e majestade de uma grande instalação de grande alcance. A exposição abre com dois elementos que são absolutamente típicos da arte de Tunga. Dois fantoches pendurados no teto da sala de entrada, suspensos em expectativa teatral, convidam o visitante a olhar atentamente para os materiais de que são feitos: cristal de rocha e esponja.

 

Até 20 de junho.

 

Os perigosos anos 1960

22/abr

Os anos 1960 foram marcados por movimentos de contestação em vários países do mundo, por motivos diversos – sistemas educacionais, costumes, repressão política, contestação de guerras. No Brasil não foi diferente e, a despeito da censura imposta por um regime de exceção, houve no período uma intensa produção artística, que retratou a atmosfera de tensão e riscos da época.

 

Para revisitar esse contexto, especificamente o período de 1965 a 1970, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, exibirá, entre 30 de abril e 28 de julho, a exposição “Os anos em que vivemos em perigo”, que traz um recorte da coleção focado na segunda metade da década de 1960, um período plural da arte brasileira, que foi fundamental para o desenvolvimento de nossa produção até os dias atuais. Tal cenário transformou o antropofágico caldeirão cultural do país, no mesmo momento em que acontecia a reestruturação do MAM que, em 1969, teve sua nova sede inaugurada, resistindo aos tempos e chegando até o momento atual em que celebra seus 70 anos de história.

 

Com curadoria de Marcos Moraes, a exposição reúne desde a tendência pop até obras de filiação surrealista, muitas das quais exprimindo as inquietações sociais e comportamentais que marcaram aquela época. São ao todo 50 obras de artistas como Antônio Henrique Amaral, Anna Maria Maiolino, Antônio Manuel, Cláudio Tozzi, Maureen Bisilliat, Wesley Duke Lee, entre outros.

 

Pinturas, xilogravuras, fotografias e objetos foram selecionados para apresentar imagens associadas ao ambiente cultural vigente como as manifestações, greves, censura, utopia, repressão, desejo e identidade brasileira – um apanhado que apresenta a potencialidade da ampliação de horizontes produzida pela vanguarda brasileira nesta época. A ação educacional do museu também contribuirá para oferecer aos espectadores oportunidades de pensar sobre a cultura daquela década, oferecendo atividades estimulantes que complementam a experiência da visita ao MAM.

 

“Para a seleção de obras, considerei o contexto, o ambiente efervescente e os acontecimentos que envolveram esses artistas no período dos anos 60 com atitudes radicais frente ao sistema da arte vigente no país, entre eles as exposições: Nova Objetividade Brasileira (MAM RJ), 1ª JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery & Sons) e a 9ª Bienal de São Paulo. A proposta desta mostra será refletir sobre esses complexos momentos vividos, tendo como marcos os anos de 1965 e 1970 rebatendo e rebatidos em 2019, suas atmosferas marcadas pela vida e a presença do perigo e da ameaça”, propõe Marcos Moraes.

 

Sobre o curador

Marcos Moraes é doutor pela FAU-USP e bacharel em Direito e Artes Cênicas pela mesma Universidade, além de especialista em Arte – Educação – Museu e Museologia. Professor de história da arte, é coordenador dos cursos de Artes Visuais da FAAP, da Residência Artística FAAP e do Programa de residência da FAAP, na Cité des Arts, Paris. Integrou o Grupo de Estudo em Curadoria do MAM e o corpo de interlocutores do PIESP. É membro do ICOM Brasil e do Conselho do MAM SP. Curador independente, seus mais recentes projetos curatoriais incluem Jandyra Waters: caminhos e processos; Entretempos e Lotada (MAB Centro, Museu de Arte Brasileira FAAP), além de Imagens Impressas: um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília, Florianópolis). É responsável por publicações sobre artistas como Luiz Sacilotto, Adriana Varejão, Rodolpho Parigi, Mauro Piva.

 

De 30 de abril a 28 de julho.