Obras inéditas de Rossini Perez.

18/set

A Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte vai receber a exposição “Desdobramentos: Desenhos de Rossini Perez” a partir do dia 19 de setembro. Reunindo 51 obras inéditas do artista potiguar, ficará disponível para visitação até 20 de outubro. Natural de Macaíba, Rossani Perez deixou um legado na arte potiguar, com uma carreira marcada por sua atuação em diferentes países da Europa, América Latina e África, como Senegal, onde lecionou gravura. Vale destacar, que a exposição é a primeira exibição física do artista em Natal desde seu falecimento, em 2020, e oferece uma oportunidade de conhecer um lado menos explorado de sua obra, como seus desenhos.

Sobre a exposição

A exposição “Desdobramentos” tem como objetivo revelar a importância do desenho no processo criativo de Perez, mostrando como essa linguagem se entrelaçou em suas produções. Por isso, as 51 obras que serão apresentadas, serão as originais produzidas entre as décadas de 1960 e 2000 e exploram um traço abstracionista experimental que caracterizou seus trabalhos, em diálogo com a obra de artistas como Iberê Camargo e o gravador franco-alemão Johnny Friedlaender.

Com uma expografia contemporânea, a mostra tem curadoria de Fabíola Alves, Everardo Ramos e Mariana do Vale, professores de Artes Visuais da UFRN, que analisam o lugar do desenho na arte de Rossini Perez. O catálogo da exposição será disponibilizado em formato digital e contará com informações detalhadas sobre as obras e o processo criativo do artista. Realizada pela Fundação José Augusto, Secretaria Estadual de Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, com apoio da Lei Paulo Gustavo e Ministério da Cultura, a exposição é uma parceria com o Instituto Rossini Perez, a Pinacoteca do Estado do RN, o Projeto Shaula – Memória da Arte Potiguar (DEART/UFRN), o Grupo de Pesquisa Matizes (DEART/UFRN), o Laboratório de Acessibilidade (SIA/UFRN) e o Cineclube Gambiarra. As obras fazem parte do acervo pessoal de Rossini Perez, que foi transferido para Natal e motivou a criação, em 2023, do Instituto Rossini Perez, dedicado a preservar, estudar e divulgar a arte desse grande artista potiguar. Composto por inúmeros documentos, obras de arte e livros, o acervo se encontra hoje na Pinacoteca do Estado do RN, e vem sendo objeto de um trabalho de inventário e estudo por professores e estudantes do Curso de Artes Visuais da UFRN.

Fonte: Portal Saiba Mais.

A Amazônia vista por Aguilar.

16/set

Com curadoria de Fabio Magalhães, a exposição apresenta 31 telas e a instalação “Guardiões das Águas”, no espaço DAN Galeria Interior em Votorantin, São Paulo, SP, espaço que abrange obras de grandes formatos e que funciona como um espaço mediador entre o interior e a capital. O artista José Roberto Aguilar explora a Amazônia com suas dimensões físicas e simbólicas por meio da linguagem da pintura. Suas telas retratam a floresta como uma entidade viva, cheia de cor e movimento. “Amazônia Vida” discute a relação entre natureza e humanidade, os ciclos da vida, o conceito de tempo e impermanência.

“Tentar categorizar a arte de Aguilar é correr atrás do vento”, escreve Leonor Amarante.

José Roberto Aguilar entrou na cena artística brasileira no início dos anos 1960, quando foi selecionado para participar com três pinturas na VII Bienal São Paulo. A partir daí integra as mais importantes manifestações artísticas do país. Seus trabalhos e intervenções ao longo de seis décadas vão desde a pintura – passando por videoarte, videoinstalação, performances – à liderança da Banda Performática. Participou de várias edições da Bienal de Arte de São Paulo e realizou inúmeras exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior – Japão, Paris, Londres, Estados Unidos e Alemanha. Suas pinturas estão presentes no acervo de museus no Brasil e no exterior (Museu de Arte Moderna – Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea – São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea – Niterói, Museu de Arte Brasileira – SP, Hara Museum-Japan, Austin Museum of Art-US e também integram importantes coleções particulares como Gilberto Chateaubriand, João Sattamini, Haron Cohen, Greg Ryan, Joaquim Esteves, Jovelino Mineiro, Miguel Chaia, Roger Wright, Ricardo Akagawa, João Carlos Ferraz entre outros.

Em meados nos anos 1990 tornou-se diretor da Casa das Rosas, dinamizando aquele espaço cultural com grandes exposições sobre cultura brasileira (1996-2002) e iniciativas pioneiras com arte e tecnologia. O seu trabalho como gestor cultural fez com que fosse convidado pelo então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, para ser o representante do Ministério da Cultura em São Paulo (2004-2007). Atualmente, Aguilar concentra em seu acervo importantes obras e documentos da história da arte e da cultura no Brasil. Compreende quadros, instalações, fotografias, documentos, livros, entre outros. Para o curador, “Aguilar sempre pintou como um lutador. O embate entre tintas e tela e a coreografia gestual, são atores importantes na construção da sua poética visual”. Desde 2004, o artista se divide entre São Paulo e Alter do Chão, no Pará, onde mantém casa ateliê e uma forte relação com a Floresta Amazônica e a comunidade ribeirinha local. “O bioma amazônico acende uma nova poética no meu trabalho, onde as forças indomáveis ​​da floresta tropical confrontam a sensibilidade urbana. Em Alter do Chão, mergulho na vastidão do ecossistema amazônico, onde a luz de cada manhã e o matiz de cada pôr do sol revelam a vida oculta da floresta”.

“Como diretora da DAN Galeria Interior, é uma grande honra poder produzir a exposição “Amazônia Vida” de José Roberto Aguilar. Esta exposição, que conta com curadoria de Fabio Magalhães, inaugura a representação do artista pela galeria. O trabalho de Aguilar continua a ser relevante e influente na arte contemporânea assim como seu espírito inovador que deixou uma marca indelével no cenário artístico brasileiro. A curadoria sensível de Magalhães conseguiu comprovar porque Aguilar é uma figura central na história da arte brasileira, atravessando o tempo com mais de cinco décadas de produção artística.” – Cristina Delanhesi.

Até 14 de janeiro de 2025.

Na Cidade das Artes Bibi Ferreira.

O artista Luiz Pizarro inaugura grande mostra individual, a partir de 21 de setembro na Cidade das Artes Bibi Ferreira, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ.

“Oníricas” trata do desejo de um mundo mais harmônico, forjado no humanismo, na arte, na beleza, e no fazer. A exposição, que ocupará quatro espaços na Cidade das Artes, ainda que não seja uma exibição retrospectiva de sua obra, será uma das mais relevantes em sua trajetória artística. Além de novas pinturas da série “Metapaisagens”, mostra realizada com muita repercussão no Paço Imperial em 2023, Luiz Pizarro apresentará instalações interativas e colaborativas e outras proposições artísticas.

“Em nossas vidas, as relações pessoais e comunitárias desafiam nosso dia-a-dia, nossos sonhos por algo mais lúdico, mais poético, mais consensual em termos de sociedade e vida comunitária, elementos esses pertencentes a cada uma das propostas de trabalhos e de ações artístico-educacionais que ali serão ativadas junto ao público”

Ocupando as duas galerias do espaço, além do saguão de entrada para os teatros e a área externa coberta, serão expostas 15 pinturas em acrílica sobre telas de médios a grandes formatos produzidas entre 2023 e 2024, e três grandes instalações interativas e colaborativas. Outras três proposições artístico-educacionais também contarão com a participação do público para sua realização.  A mostra ficará em cartaz gratuitamente até 03 de novembro, e depois seguirá em março para o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz, no Museu Comunitário Palacete Princesa Isabel, situado em Santa Cruz também na Zona Oeste.  Luiz Pizarro, que dá aulas de desenho e pintura no Parque Lage, lançará, em breve, um livro sobre Educação através da Arte, com ênfase em sua experiência como educador principalmente em museus como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM Rio, onde ocupou o cargo de Curador de Educação de 2013 a 2020.

Entre as instalações, estão:

Cubo dos Desejos, trabalho interativo e colaborativo, cuja execução conta com a participação dos visitantes.  A partir de um cubo de arestas em madeira, os visitantes passam barbantes coloridos por tantos pontos, ganchos, quanto forem as letras de seu nome, pensando num desejo para o planeta. Ao final de várias intervenções, teremos ali uma trama de fios coloridos que registram e simbolizam todos os nomes e desejos que por ali passaram.

Tarrafas ao Mar

Trabalho também interativo e colaborativo, parte de uma rede de pesca suspensa no espaço da sala de exposição, na qual cada visitante anotará num post it da cor de sua preferência, o nome de uma pessoa que ame e outro de uma pessoa em quem confia. Trata-se de fazer uma reflexão sobre a diferença entre amar e confiar que nem sempre se conjugam na mesma pessoa. Esse post-it será, então, colocado numa pequena garrafa plástica que será pendurada em local de sua escolha na rede de pesca.

Contornos do Ocaso

Instalação inédita, imersiva, composta por 25 “pergaminhos”, cada um com cinco imagens, monotipias em papel seda branco de ladrilhos desbotados da piscina onde o artista costuma nadar, além de folhas secas de sua própria casa, abordando o acaso da transformação da matéria pelo tempo e da construção de novas imagens a partir dessa desconstrução temporal. Expostas como uma floresta flutuante no espaço da sala de exposição, permite que o visitante circule através dela vivenciando diferentes perspectivas do olhar sobre a obra e sobre si mesmo dentro dela. O “Ocaso”, declínio do sol, ou em livre interpretação poética, o fim de algo, significa na verdade, segundo ele, o retorno de outras possibilidades de vida, de recomeço. Como o sol que renasce a cada ocaso, a vida recomeça a cada momento de desconstrução dela mesma, como novos estímulos que surgem pelo desaparecimento do que era tido como perene e real.

Além dessas instalações, o artista promoverá também ações “sócio-emocionais” a partir da ativação de outros trabalhos e proposições artísticas para o público. São trabalhos com desenho cego e música e outro a partir do desenho de rosto concomitante através de vidro do espaço e consequente impressão também em papel seda para ser presenteado. Finalizando, Luiz Pizarro ainda propõe que o público se posicione com relação a alguma das obras de sua preferência e, a partir de uma selfie, participe da confecção de mais uma monotipia com sua própria imagem ali registrada.

Aniversário da galeria A Gentil Carioca.

12/set

A sempre muito aguardada festa de aniversário da galeria A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, contará com a abertura de três exposições simultâneas, o lançamento de duas Paredes Gentil e da nova Camisa Educação. “ENTRA PRA DENTRO”, a exposição individual do artista plástico carioca Miguel Afa, ocupará, no dia 21 de setembro, todo o prédio 17 com aproximadamente 30 pinturas inéditas e uma instalação site specific, enquanto o prédio 11 será dividido em dois ambientes instalativos com obras de Marcela Cantuária e Rodrigo Torres. O evento terá ainda o lançamento das Paredes nos 41 e 42, com intervenções de Jarbas Lopes e Cabelo, e a edição no 90 da Camisa Educação, concebida pelas artistas convidadas Iah Bahia e Siwaju Lima. O tradicional bolo de aniversário surpresa ficará a cargo do coletivo OPAVIVARÁ!. Já a festa na encruzilhada será comandada pelos DJs Ademar Britto, Letgabs e João Penoni, com a participação especial de Vivian Caccuri.

Primeira mostra de Tuli Serpa.

11/set

O Espaço Força e Luz, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, anuncia a abertura da exposição “Véus de Aço”, do artista Tuli Serpa. A mostra é a primeira individual do artista, e conta com instalações em grande escala. As obras estarão em exibição na Galeria O Arquipélago, localizada no primeiro andar até o dia 10 de novembro.

A abertura oficial terá a presença do artista. Além disso, contará também com set de Gabriel Bernardo, conhecido como DJ GB, DJ e produtor cultural que faz parte do Coletivo Arruaça. O DJ Set estará localizado na Rua das Andradas, em frente ao Espaço e, em caso de chuva, será realocado para o interior do edifício. O evento é gratuito e aberto ao público.

Sobre a exposição

“Motos, ocultas sob tecidos que as envolvem, parecem repousar em um sono profundo. A repetição desse cenário evoca uma quietude latente, onde a cobertura atua como um sudário, escondendo a vitalidade e transformando a potência em silêncio.”. É assim que o artista Tuli Serpa relata as ideias por trás da exposição “Véus de Aço”.

Utilizando de alegorias para representar o conceito de tanatose, que é a capacidade que certos animais têm de se fingir de mortos, o artista cria instalações em grande escala usando motos como seu objeto de trabalho. As motocicletas, antes pulsantes, velozes, agora se mostram quietas e inertes.  Através dessa subversão do “ser” moto, com suas estruturas inertes envolvidas por diferentes panos, Serpa nos leva a refletir sobre nossa própria inércia e mortalidade.

A exposição, localizada no primeiro andar do Espaço Força e Luz, na Galeria O Arquipélago, conta com diversas instalações em grande escala, incluindo motos reais e obras imersivas. Ela é a primeira individual do artista.

Sobre o artista

Tuli Serpa é artista visual, produtor de arte e coordenador de palco com mais de dez anos de experiência na produção cultural. Ao longo de sua carreira, atuou em diversos festivais de música e artes cênicas nacionais e internacionais. Nos últimos anos, tem se dedicado ao audiovisual, atuando no departamento de arte e assinando os cenários de três longas-metragens nacionais, além de dezenas de comerciais publicitários. Em sua pesquisa dialoga com signos urbanos, ruídos, contrastes e materialidades, investigando as tensões entre o ambiente urbano e o poético

Obras recentes e inéditas de Luiz Zerbini.

04/set

Celebrando a mudança de nome da galeria, a Maneco Müller | Mul.ti.plo, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, abriu uma exibição individual com a produção mais recente de Luiz Zerbini, que acaba de apresentar no CCBB Rio uma grande mostra retrospectiva, atraindo mais de 70 mil visitantes. A exposição “Pedra, metal e madeira” reúne cerca de 20 obras recentes do artista, entre gravuras em metal, litogravuras e monotipias, sendo a maioria inédita. Quem assina o texto crítico é Fred Coelho. A mostra, que vai até 1º de novembro, inclui o lançamento de um livro de grandes dimensões, impresso manualmente, a ser apresentado na ArtRio. A mudança de nome da galeria simboliza a sociedade entre Maneco Müller e Stella Ramos na Mul.ti.plo, desde 2018.

Atravessando seus quase 50 anos de produção, a poética de Luiz Zerbini destaca-se por uma voluptuosa e desconcertante paisagística, combinando vegetação, ambientes urbanos, fabulação, memória e alegorias. A recente produção em monotipia e gravura em metal do artista é fruto do encontro dele com o Estúdio Baren, criado pelo editor e impressor carioca João Sánchez. Há quase uma década, Zerbini e João pesquisam diversas formas de imprimir monotipias, misturando técnicas e materiais, papéis, matrizes e pigmentos. Mais recentemente, o artista carioca Gpeto passou a colaborar também com o Estúdio Baren, juntando-se à produção de monotipias de João Sánchez e Luiz Zerbini.

O destaque da mostra na galeria são as gravuras em metal inéditas nas quais Luiz Zerbini se debruça sobre uma das mais tradicionais técnicas de impressão artesanal do mundo. Há cerca de cinco anos, Zerbini vem se dedicando a experimentações nesse campo graças à proximidade com o Estúdio Baren. A Maneco Müller | Mul.ti.plo surgiu como espaço natural da mostra dessa produção por conta da parceria da galeria com o Estúdio Baren e a amizade de longa data tanto com Luiz Zerbini quanto com João Sánchez.

Na mostra estão cinco obras em água-forte e água-tinta sobre papel de algodão em preto e branco, com edição limitada de 30 exemplares, no formato de 78 X 53 cm. “Num momento de enorme sucesso da sua carreira, Zerbini expande-se por outra frente, com a possibilidade de escapar da demanda permanente da pintura. Nas gravuras em metal, ele está podendo repensar as imagens de suas telas, oferecendo a elas novas dinâmicas, novas camadas, novas possibilidades. Isso leva a um outro caminho de debate sobre sua obra. A oportunidade de se desafiar, de se arriscar, experimentar, traz um incrível frescor e força aos novos trabalhos”, explica Fred Coelho. Os desenhos de Zerbini, feitos a ponta-seca e buril sobre a superfície do metal, revelam-se no papel com uma incrível sutileza de tons e força da forma. “Aqui o tempo da impressão é outro. O processo em metal é trabalhoso, lento, complexo. Exige muita dedicação. É coisa de um mundo que não existe mais. Sempre tive vontade de me dedicar a isso, mas nunca tive chance. Agora com o João Sánchez encontramos esse caminho”, revela Luiz Zerbini.

Já as 12 monotipias são exemplares únicos, com dimensões de 107 x 80 cm, impressas em papel de algodão. Tirando as obras apresentadas na exposição MASP em 2022, incluindo quatro originais utilizados para ilustrar a edição do livro “Macunaíma, o herói do Brasil”, de Mário de Andrade (Editora Ubu, 2017), e outra sobre a Guerra de Canudos, a coleção de monotipias reunida é inédita. Mais do que representações de vegetação, nas monotipias de Luiz Zerbini são as próprias plantas e objetos entintados que são colocados na prensa, imprimindo e dando relevo com sua textura ao papel. “Quando descobri a possibilidade de utilizar as folhas como matriz, fiquei muito interessado. A partir daí começamos a experimentar outros materiais. Fomos fazendo uma pesquisa enorme”, comenta o artista sobre a parceria com o Estúdio Baren.

Sapos, lagartixas, jacarés, ratos e cobras de borracha.

03/set

A artista Lia Menna Barreto exibe na OCRE Galeria, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS, uma exuberante instalação composta de bichos de plásticos.

A incessante fábrica de Lia Menna Barreto

Tapetes de jacaré, bobinas de sapo, pizzas de lagartixa. Produtos variados: vende-se a metro ou a granel, no varejo ou no atacado. Há 21 anos, a fábrica de Lia Menna Barreto segue funcionando incessantemente, nunca parou. Lia se insere na esteira diversa da ousada Geração 80 da arte brasileira. Propondo experimentações de materiais e linguagens possíveis à criação artística, coube a essa turma de jovens artistas reinventar modos de pensar e fazer em arte, subvertendo formas de pintar, gravar, desenhar e esculpir, ampliando-se para uma cartela infinita de meios e procedimentos. Em Fabricados, a artista apresenta parte da coleção de produtos derivada da instalação in situ Fábrica, obra emblemática da 4ª. Bienal do Mercosul (Porto Alegre/Brasil, 2003). Na proposição, instalou uma sala de produção no meio do Armazém A5 do Cais do Porto. Quadrado, com divisórias de PVC e vidro, o chão de fábrica mantinha um regime de produção onde nós, operários-assistentes, produzíamos, em série, dezenas, senão centenas, de objetos modulares, a partir de bichinhos de brinquedo. Para a realização das tarefas do dia, repetindo uma técnica de prensagem criada pela artista utilizando ferros de passar roupa, água e papel manteiga, montávamos objetos de aparência estranhamente familiar a partir da manipulação de sapos, lagartixas, jacarés, ratos e cobras de borracha, famosos itens de preço barato das saudosas lojas de 1,99 ou made in China. Construíamos tapetes, mandalas, estrelas, flores, bolos e pizzas. Na ocasião, a obra viva exibia ao público, do horário de abertura ao encerramento de suas operações fabris, o pensamento de uma artista inquieta, revelado no labor e na fantasia do processo criativo. Temporária e efêmera, a fábrica se apresentava como um trabalho continuamente inacabado e, ao mesmo tempo, múltiplo em si. Nenhum dia era o mesmo dia na linha de produção pois, a cada 24 horas, acontecia de um jeito diferente, revelando-se como uma obra de difícil apreensão. Não diferente, a mostra que se apresenta hoje, continua fugindo da obviedade. Na esperança de encontrarmos obras docilizadas no ambiente da galeria, a montagem e a exibição das peças subvertem a lógica de exposição e atualizam as regras de apreciação e consumo de obras de arte. Os fabricados de Lia voltam ao circuito como produtos, vendidos a metro ou em peças únicas, separados ou combinados, grandes ou pequenos, ao gosto do freguês. Um tanto irônico, a artista nos apresenta mais um desdobramento de sua constante, irreverente e espetacular produção. Com 40 anos de carreira, a produção da artista atualiza o repertório singular de conceitos operatórios que traz em sua caixa de ferramentas: derreter, grudar, misturar e prensar ampliam-se para cortar, medir, negociar e outros tantos verbos de ação que seu trabalho demande inventar. Revela, portanto, que há sempre uma surpresa no caminho a surgir, que reconfigura continuamente as rotas do trabalho da artista. Pois, mesmo no ato insistente de uma comprometida e incessante produção, sempre abre-se espaço para o desvio. Surpresas do processo: o começo de uma nova linha de produção.

Sandro Ka/artista visual, professor e pesquisador (EBA/UFMG), ex-operário-assistente da Fábrica.

A riqueza cultural de Eduardo Ver

27/ago

Devido às dificuldades logísticas causadas pelas enchentes que atingiram o estado do Rio Grande do Sul, a abertura da exposição “Sacro Ofício” de Eduardo Ver foi primeiramente adiada. E agora, vale conhecer a riqueza cultural e simbólica do Brasil através das 16 xilogravuras únicas de Eduardo Ver, que destacam as influências e tradições indígenas, negras e caboclas no Espaço Força e Luz, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.

Sobre o artista

Eduardo Ver nasceu em 1979, em São Paulo-SP. Vive e trabalha em São Paulo-SP. Desde muito jovem, Eduardo Ver já praticava o desenho como uma ferramenta lúdica para se conectar com outras histórias. O interesse pela Xilogravura, seu principal foco de pesquisa, deu-se a partir da sua experiência na Universidade Cruzeiro do Sul, no começo dos anos 2000. Foi também durante esse período que o artista bateu a porta do Atelier Piratininga, onde permaneceu por mais de sete anos, até 2012. Sob orientação do artista gravador Ernesto Bonato, Eduardo Ver aperfeiçoou-se na técnica e produção da gravura, encontrando de fato a prática que o guiaria na sua trajetória como artista. A técnica utilizada por Eduardo Ver aplica diversas camadas de impressão sobre o papel, ou seja, para cada xilogravura, ele produz várias matrizes, que são sobrepostas até atingir um certo grau de tridimensionalidade. Segundo o artista o objetivo é atribuir ritmo às obras, fazendo com que todos os elementos convivam em harmonia, num verdadeiro estado de confraternização. A “magia” dessa complexidade processual proporciona ao espectador um tipo de transe visual, proposto pelo artista para estabelecer uma relação direta com os rituais de Umbanda, religião de matriz africana e brasileira, que abriga o mesmo sincretismo identificado no trabalho de Eduardo Ver. Essa mistura de referências nos trabalhos do artista geralmente está associada a elementos da natureza, como plantas e animais, figuras de Orixás e de santos católicos, além de objetos alegóricos. Símbolos da Geometria Sagrada também são identificados, juntamente com outros que fazem alusão tanto aos povos originários do Brasil, quanto ao Sufismo, religião mística do Islamismo, como os arabescos, por exemplo. A todo esse inventário cultural diversificado, o artista atribui uma paleta elegante de cores, inspirada pelos exercícios de observação das plantas que encontra na natureza e nas floriculturas próximas da sua residência, na zona leste da cidade de São Paulo. Nos seus quase vinte anos de produção artística, Eduardo Ver desenvolveu uma cadência conceitual bastante original e um rigor técnico e formal apurado, muito dos quais adquiridos a partir da sua experiência com projetos gráficos. De seu estúdio, chamado por ele de “Gráfica talhando em silêncio”, saem por exemplo ilustrações para publicações, como livros de cordéis, cartazes e lambes, que podem ser encontrados nos espaços urbanos de São Paulo.

Bate-papo com Rose Afefé n’A Gentil Carioca

20/ago

Será no dia 24 de agosto, o encerramento da exposição “A vergonha quase me tirou a memória”. A Gentil Carioca e Rose Afefé convidam para uma conversa que começará às 14h na galeria e terá seu desfecho no Solar dos Abacaxis, onde a artista apresenta a obra-cidade “Terra do Pé Vermelho”.

A conversa começa n’A Gentil Carioca, onde a artista falará sobre a sua exposição “A vergonha quase me tirou a memória”, atualmente em exibição na galeria; o texto crítico é de Luiz Zerbini. As obras presentes na mostra surgem a partir de recortes das muitas recordações que Rose Afefé carrega de sua vida e infância no interior da Bahia. A artista, que em 2018 realizou a obra “Terra Afefé – uma microcidade levantada com terra na região da Chapada Diamantina” – traz desdobramentos da poética desse território em pinturas e instalações inéditas.

O bate-papo segue no Solar dos Abacaxis, onde Rose participa da exposição coletiva “Por uma outra ecologia: o que a matéria sabe sobre nós”, sob a curadoria de Matheus Morani e Thiago de Paula Souza. Nesta mostra, Rose Afefé apresenta o processo de fundação de uma nova cidade, chamada “Terra do Pé Vermelho”. A obra-cidade, concebida de forma fragmentada, tem como principal objetivo a circulação e redistribuição de recursos econômicos. Segundo Matheus Morani, “Rose a funda como um manifesto, estabelecendo um ecossistema financeiro que beneficia diretamente os moradores simbólicos desta Terra, em uma taxa de contrapartida social revertida à materialização de seus sonhos no valor de aquisição de cada uma destas fachadas. Assim como Terra Afefé, a Terra do Pé Vermelho se abre às comunidades para que habitem em seus mais diversos usos e desejos.”

E sábado é o último dia para visitar a exposição “Arqueologia de si”, de Novíssimo Edgar, que tem texto crítico da curadora Tamar Clarke-Brown.

Exposição de Hilal Sami Hilal

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a exposição “Lugar de Passagem”, com mais de trinta obras de Hilal Sami Hilal, celebrado artista capixaba de origem síria, que já soma 50 anos de trajetória. A mostra é centrada no site specific “Artigo 3º”, um painel na técnica que criou e é uma característica de sua produção: o cobre vazado, rendado, filigranado. A obra, de 14,5 metros de comprimento por 3,5 metros de altura, composta por nomes de pessoas, atravessará a nave central da Casa França-Brasil, como um delicado muxarabi (treliça típica da arquitetura árabe). Criadas também especialmente para a mostra, estarão monotipias em papel de algodão feito à mão e vários pigmentos, da série “Alepo”, nos quais o público verá, nitidamente, os objetos decalcados. Entre elas, uma porta de 2,10 metros de altura, uma instalação com 40 monotipias sobre objetos pessoais e utensílios cotidianos, como roupas, pratos, copos e talheres, e ainda um grupo de obras onde o papel registrou azulejos partidos, quebrados. Também de 2024 são as duas obras “Sem título”, da série “Atlânticos”, em cobre, corrosão e oxidação, com 130cm de altura.

Em torno do site specific “Artigo 3º”, os curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto reuniram várias obras emblemáticas de Hilal Sami Hilal, como a instalação “Sherazade” (2007/2024), com 160 livros, com 80 mil páginas interligadas, ocupando aproximadamente uma área de cem metros quadrados no chão da entrada da exposição. “Lugar de passagem é também o lugar da arte, da vida”, diz Hilal Sami Hilal. Composto por nomes de pessoas, o título do trabalho é uma alusão ao terceiro artigo da Constituição brasileira, de 1988: “Construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. A ideia dos nomes veio originalmente a partir dos amigos do artista que o presenteavam com roupas de algodão, transformadas por ele em matéria-prima para fazer o papel artesanal. A esses nomes ele foi acrescentando outros. “É uma pele, transparente, e os nomes ficam como signos estéticos, os cidadãos brasileiros”, diz Hilal Sami Hilal. A obra é um desdobramento de um trabalho feito em 2003 para a exposição “Sal da Terra”, no Museu Vale, em Vila Velha, Espírito Santo, com curadoria de Paulo Reis (1960-2011).

O patrocínio da exposição é da Enel e do Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei de Incentivo à Cultura. A organização é da MLC Produções Culturais.

Em cartaz até 20 de outubro.