A arte do bordado em discussão

08/fev

Grupo Almofadinhas ressignifica a arte do bordado em nova exposição. A exposição reúne três artistas contemporâneos – Fábio Carvalho (RJ), Rick Rodrigues (ES) e Rodrigo Mogiz (MG) – numa mostra em cartaz até 29 de março no Viaduto das Artes, um espaço cultural e multidisciplinar instalado na região do Barreiro, Belo Horizonte, MG, com obras que variam desde almofadas bordadas até instalações suspensas e de parede.

Sobre os artistas

Fábio Carvalho é formado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e frequentou cursos livres no MAM-Rio, Itaú Cultural, EBA/UFRJ, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras instituições. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção de arte no Brasil e fez inúmeras residências artísticas, sendo 7 no exterior e 4 no Brasil. Realizou ainda dezenas de exposições individuais (18) e coletivas (mais de 150), nacionais e internacionais, com ênfase para sua participação, como artista convidado, na XXII Bienal de Cerâmica (Aveiro, Portugal, 2015), TRIO Bienal (Rio de Janeiro, Brasil, 2015), Bienal de Cerveira (Portugal, 2005) e na VI Bienal de Cuenca, no Museo de Arte Moderno (Equador, 1998).

Rick Rodrigues é graduado em Artes Plásticas, Mestre em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e formado em Arte Contemporânea pelo Prêmio Energias nas Artes, Instituto Tomie Ohtake e Instituto EDP. Natural de João Neiva/ES, onde reside, já realizou uma série de exposições individuais, como Tratado geral das grandezas do ínfimo, na Galeria de Arte Ibeu, no Rio de Janeiro (RJ), em 2019, com curadoria de Cesar Kiraly. Ministrou cursos e participou de residências artísticas, feiras, festivais, rodas de conversa, mesas de debate e apresentações. Possui obras em acervos institucionais e particulares.

Rodrigo Mogiz é artista visual, graduado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2003, se dedica ao bordado como desenho e pintura, estabelecendo conexões entre o artesanato e o design, buscando reflexões sobre relações afetivas a partir da sua homoafetividade e da tradição do bordado. Realizou cerca de 10 exposições individuais e participou de 52 mostras coletivas em Belo Horizonte, onde vive e trabalha, e em outras localidades do país e no exterior. Sua mais recente exposição foi a coletiva Tramas da Memória, da qual foi também curador, reunindo 26 artistas de Minas Gerais que atuam com arte têxtil contemporânea, no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, em 2022.

Sobre o curador

Shannon Botelho é crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). É doutor em História e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris). É representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Foi curador em 16 exposições, entre elas, Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018), Da Linha, o Fio (BNDES-RJ 2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes-Tavira 2020), Água Banta (MMGV-RJ 2022) e Coração na Mão (Le Salon H – Paris, 2023).

ALMOFADINHAS

No ano de 1919, meses após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), um concurso incomum mobilizou a cidade de Petrópolis (RJ). As notícias destacavam que rapazes elegantes haviam se reunido para definir quem se sobressaía na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa, especialmente para a ocasião. O escritor Raimundo Magalhães, pesquisador e conhecedor dos costumes da época, conta que o termo “almofadinha” teria surgido naquele momento para designar “tipos afetados, cheios de salamaleques e não-me-toques”. Quase um século depois, três artistas, Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz, subverteram a nomenclatura utilizada para ridicularizar aqueles homens que bordavam na Região Serrana Fluminense e se organizaram em um coletivo artístico que possui como foco de interesse o desenvolvimento de poéticas visuais centradas no bordado. No ano de 2017, o coletivo apresentou em Belo Horizonte uma exposição que revelava ao público não somente suas obras em bordado, mas também seu pensamento e posicionamento diante de tão grandes desafios. O grupo seguiu produzindo, cada qual em seu lugar – cada um dos artistas vive em uma cidade diferente: Rio de Janeiro, João Neiva e Belo Horizonte -, apresentaram seus trabalhos coletivamente ou individualmente em outros espaços e agora retornam à cidade para apresentar alguns trabalhos inéditos e uma exposição com outro recorte e curadoria. Desde então, o tecido social em todo país foi intensamente desgastado pela polarização política, pela crise econômica e, sobretudo, pelo avanço da lógica individualista que rege o tempo presente. Por esta razão é possível perceber, no contexto da exposição, mudanças significativas nos modos de apresentar os trabalhos, seus temas e suportes. Se por um lado as identidades e visualidades parecem permanecer, os sujeitos e contextos sofreram transformações significativas. Desde o episódio de Petrópolis em 1919, infelizmente, muito preconceito e ignorância permanecem. Mais do que nunca, a perseguição e censura aos comportamentos tidos como desviantes de um certo padrão conservador – aquele que cumpre com os estereótipos impostos por uma sociedade retrógrada, da “moral e bons costumes” – avançam em marcha assustadora. Para muitos ainda parece estranho, ou mesmo emasculante, quando homens se dedicam a atividades normalmente percebidas, pela maioria, como “coisa de mulher”: o ato de bordar lenços, paninhos de mesa e almofadas, pintar pratos de porcelana, construir objetos delicados com flores e borboletas, discutir questões de afeto, memória e sexualidade. Para os padrões de pensamento limitado, estas atividades humanas são impossíveis de coexistir lado a lado a sua noção de masculinidade. No contexto social geral, ao menos desde a Idade Média homens que bordam, certamente, não são uma novidade. No meio artístico tampouco. Bispo do Rosário e Leonilson, figuram como exemplos recentes de artistas que consolidaram as suas poéticas por meio dos bordados. Este também é o caso de Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz. Nesta exposição cada uma das obras reflete os momentos de sua própria criação e discutem as situações em que se encontram os artistas, constituindo através de suas formas, imagens e cores, narrativas singulares. No caso de Fábio Carvalho e Rick Rodrigues, por exemplo, percebemos que as armas – tema tão em voga no Brasil recente – aparecem nos trabalhos operando como signos das violências reais e simbólicas sobre os corpos e existências não hegemônicas. Já nos trabalhos de Rodrigo Mogiz, a cor é destacada e ganha outras funções, uma vez que opera como veículo de informação e definição. Camuflagens e arco-íris, figuras e textos, utensílios de bordar e objetos prosaicos passam a operar nesta exposição como agentes discursivos, ou melhor, como elementos que ratificam a diversidade, a não violência e a pluralidade – de pensamento e de existência – como sendo formas de interação com o mundo. Por esta razão os trabalhos dos três artistas estão apresentados na galeria sem uma delimitação exata, como espaços a serem ocupados por um ou outro. Cada obra apresenta a outra, completando aquilo que coletivamente é construído. Como discursividade unívoca do coletivo, esta exposição trata do presente, reflete o passado e mira outros futuros possíveis, em que pesem mais as pluralidades, os saberes coletivos, a horizontalidade das relações e a valorização do afeto como um instrumento efetivo de transformação perene do mundo.

Shannon Botelho

2024

Museu ao ar livre em Pernambuco

05/fev

Em Pernambuco, a apenas uma hora e meia de Recife, por uma estrada surpreendentemente bem asfaltada, o visitante tem acesso à Usina de Arte. Projeto concebido em 2015, por Bruna e Ricardo Pessôa de Queiroz, ela se encontra num espaço de 130 hectares de terreno, dentro de uma área total de quase 7000 hectares, na Zona da Mata Sul, em Água Preta. O projeto traduz o desejo do casal e de sua família de revisitar a história da Usina Santa Terezinha, cuja operação começou em 1929, sob a condução do bisavô de Ricardo, José Pessôa de Queiroz, e que chegou a ser uma das maiores produtoras de álcool e açúcar no Brasil nos anos 1950. Em 1998, a usina encerrou suas atividades de moagem.

Parte do antigo campo de pouso e das linhas férreas se transformaram num jardim de quase 40 hectares, que circunda três lagos artificiais, projetado pelo paisagista Eduardo Gomes Gonçalves. A ideia de museus abertos de arte contemporânea ao ar livre e a reocupação de territórios começou, no caso do Brasil, em 2006, com um enorme investimento do empresário e colecionador Eduardo Paz em Inhotim, Minas Gerais, onde foram criados um exemplar Jardim Botânico e diferentes Pavilhões para exposições de artistas renomados, junto a sua coleção. Após muitos anos é uma referência internacional. No caso da Usina de Arte, o empreendimento visa ocupar o espaço desenvolvendo ou adquirindo obras que conversem com a história e a natureza do lugar. Hoje são mais de 45 obras já implantadas, outras foram desenvolvidas como sites específics em residência artística, e outras, adquiridas especialmente para o lugar.

Ainda nestes primeiros dias de fevereiro, a artista sérvia Marina Abramović inaugura no parque sua primeira obra aberta ao público no Brasil. A obra, “Generator”, alude a ideia de um enorme gerador de energia. Nasceu da experiência vivida pela artista em uma performance na Muralha da China, em 1988, e traz um muro com 25 metros de comprimento, 3 de altura e 2,5m de largura, no qual estão aplicados 12 conjuntos com três almofadas de quartzo rosa – vindas de Minas Gerais – conhecidas por transmitirem calma e clareza, onde o público pode encostar a cabeça, o coração e o estômago. Para a artista, convivemos paradoxalmente, num mundo onde os indivíduos, ao mesmo tempo que estão ligados por infinitas conexões digitais, carecem de uma ligação genuína consigo mesmos, com seus pares e a natureza.

Nomeação de comissário cultural internacional

29/jan

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, informa: Emilio Kalil foi nomeado Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França. Os ministérios das Relações Exteriores – Itamaraty e da Cultura – anunciaram a nomeação de Emilio Kalil como Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França 2025, acordado em encontro presidencial, ocorrido em Paris, em junho de 2023. Ele terá como missão levar projetos em todas as áreas da cultura para França, com destaque para o meio ambiente, a diversidade e relações com a África.

Nota curricular

Emilio Kalil exerce, desde 2018, o cargo de diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Teve atuação destacada em Belo Horizonte como diretor do grupo Corpo, na década de 1980, e dos Teatros Municipais de São Paulo (1988 – 1992) e do Rio de Janeiro (1995-1999). Emilio Kalil também exerceu, de 2000 a 2011, a função de diretor de produção e projetos da Fundação Bienal de São Paulo. Esteve, ainda, à frente da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro entre 2011 e 2016.

A sede da Galatea em Salvador

Cais é a exposição coletiva que inaugura a sede de Salvador da Galatea, galeria fundada em 2022 em São Paulo, que escolheu a capital do Estado da Bahia e primeira capital do Brasil para sua morada fora do Sudeste.

Estar em Salvador parte do desejo da galeria de ampliar o seu público para além do contexto sudestino e expandir suas trocas e conexões com artistas, curadores e intelectuais sobretudo do Nordeste, mas também para outros locais além do eixo Rio-São Paulo. Nesse sentido, este gesto reflete e rearticula os pilares conceituais fundadores do programa da Galatea: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma fricção, um embaralhamento e uma mistura entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o formal e o informal, o erudito e o popular.

​O título Cais nos remete às ideias de deslocamento, de viagem, de troca e de intercâmbio, que envolvem o conceito da chegada da Galatea em Salvador e, ao mesmo tempo, remetem à localização da galeria. Situada no térreo do edifício de arquitetura modernista Bráulio Xavier (que abriga um importante painel de Carybé, artista argentino radicado em Salvador), localizado na rua Chile, a primeira rua do Brasil, a galeria encontra-se na região do antigo Portal de Santa Luzia, uma das portas de acesso de Salvador no período em que era murada, que ligava o porto (cais) à cidade alta pela Ladeira da Conceição da Praia. Este último logradouro, por sua vez, é o local onde se encontra a oficina de José Adário, o ferreiro de ferramentas de orixá mais antigo em atividade na cidade de Salvador. Zé Adário foi o artista escolhido pela Galatea para inauguração de seu espaço em São Paulo, onde o artista realizou a primeira individual de sua carreira.

O recorte curatorial parte justamente dessa relação estabelecida com a obra de José Adário e o contexto cultural e geográfico em que ela está inserida e agrega os demais artistas nordestinos representados e trabalhados pela Galatea – Aislan Pankararu, Chico da Silva e Miguel dos Santos – para a partir de elementos e temas-chave da produção destes artistas derivar os conteúdos dos quatro núcleos que constituem a mostra: Fantasias de fauna e flora; Geometrias afro-indígenas e brasileiras; Representações da religiosidade e cultura afro-indígena e brasileira; e seu subnúcleo Máscaras Expandidas, localizado na sala do cofre.

Justapondo e friccionando nomes históricos e contemporâneos, artistas de formação tradicional e autodidata, a exposição conta com obras de 60 artistas nascidos ou radicados no Nordeste e organiza-se em torno de três temas chave: a estratégia da representação fantasiosa e estilizada da fauna e flora brasileira; as diversas elaborações e usos da abstração no contexto do Brasil, passando pelo modernismo, pelas raízes indígenas e afro-brasileiras; as representações da rica e complexa religiosidade do nosso país, mesclando imagens e referências das religiões de matriz africana com as do catolicismo popular. Desta forma, Cais pede licença para chegar em Salvador e convida para conhecer seus trabalhos e suas histórias.

Curadoria: Alana Silveira, diretora, Galatea Salavador; e Tomás Toledo, sócio-fundador, Galatea.

Itaú Cultural visita a Fundação Iberê Camargo

23/jan

A mostra “Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural” faz sua primeira itinerância do ano na Fundação Iberê Camargo, Cristal, Porto Alegre, RS. Ao todo, são mais de 40 obras do acervo do Itaú Cultural chegando em Porto Alegre com foco nos artistas brasileiros na transição entre o Moderno e o Contemporâneo. Trata-se da oitava itinerância da mostra e inaugura as viagens em 2024 deste recorte do acervo de livros de artista do Itaú Cultural, entre eles, os gaúchos Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Regina Silveira e Rochelle Costi.

Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural chega a Porto Alegre depois de percorrer por sete cidades do país – a última foi no Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro. Na capital gaúcha, permanecerá em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 03 de fevereiro a 31 de março, e exibe um percurso de mais de 80 anos desse tipo de produção no cenário brasileiro. Felipe Scovino assina a curadoria da mostra onde as obras estão distribuídas em cinco eixos: Rasuras, Paisagens, Álbuns de Gravura, Uma Escrita em Branco e Livros-objetos.

Rasuras reúne peças que se colocam à margem de uma narrativa obediente ao pragmatismo. É o lugar de uma escrita que nasce para não ser compreendida, que é oferecida ao mundo com certo grau de violência e gestualidade, a exemplo de Em Balada (1995), de Nuno Ramos, cujo rastro do projétil atravessa o volume e se transforma em signo de leitura.

Os livros de Adriana Varejão, Artur Barrio e Fernanda Gomes, que compõem parcialmente a série As Potências do Orgânico (1994/95), e o livro de Tunga são índices de corpos transmutados em livros – estão lá vísceras, sangramentos, machucados, e no caso de Tunga, um componente erotizante.

Lais Myrrha também pode ser vista com o Dossiê Cruzeiro do Sul (2017), que questiona politicamente a constelação do Cruzeiro do Sul invertida na bandeira do Brasil; Aline Motta, com Escravos de Jó (2016), sobre um Brasil necropolítico, e Rosângela Rennó, com 2005-510117385-5 (2009), criada com reproduções de fotos furtadas e posteriormente encontradas e devolvidas à Biblioteca Nacional, seu lugar de origem.

No eixo Paisagens os livros dos artistas podem problematizar a paisagem enquanto um labirinto sensorial, como é a obra de Jorge Macchi; a paisagem como uma partitura que logo se transforma em desenho, como em Montez Magno e Sandra Cinto; evidenciar uma ampla gama de paisagens sociais atreladas a questões fundamentais para a compreensão do Brasil enquanto sociedade plural, como são os casos de Dalton Paula, Lenora Barros, Rosana Paulino e Eustáquio Neves.

Ainda, evidenciar a relação entre cosmogonias e povos originários, no caso de Menegildo Paulino Kaxinawa. Além disso, há uma produção realizada nos últimos cinco anos que se volta com uma potência crítico-social sobre a paisagem política brasileira, como pode ser observado na atmosfera de cinismo e niilismo que ronda o Livro de colorir, de Marilá Dardot, e O Ano da Mentira, de Matheus Rocha Pitta.

Álbuns em tiragem limitada estão concentrados no eixo Álbuns de gravura, composto de obras de artistas visuais que tiveram atuação determinante na passagem do moderno ao contemporâneo no Brasil. Concentra distintas análises, que exploram a reflexão sobre o diálogo entre a produção artística e os meios de experimentação, tendo o livro como forma e a serialidade como meio.

Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, que fundaram o icônico Grupo de Bagé, por exemplo, estão presentes em Gravuras Gaúchas (1952). O Meu e o Seu (1967), de Antonio Henrique Amaral, entre outros, têm a violência, o sexo e a política como temas recorrentes, com aparições de bocas, seios e armas, no primeiro caso, e de um nu tendendo ao expressionismo, no segundo. Uma das séries adquiridas pela Coleção Itaú Cultural recentemente, presente neste eixo, é Aberto pela aduana, de Eustáquio Neves, projeto selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020. Outras aquisições recentes em exibição na mostra são Anotações Visuais, de Dalton Paula; Búfala e Senhora das Plantas, de Rosana Paulino; …Umas, de Lenora de Barros; e Reprodutor, de Rochelle Costi.

De Regina Silveira tem Anamorfas (1980), uma subversão dos sistemas de perspectiva. A mostra também conta com espaço para a xilogravura: Pequena Bíblia de Raimundo Oliveira (1966), com texto de Jorge Amado, e Das Baleias (1973), de Calasans Neto, acompanhado de um poema de Vinicius de Moraes. A literatura de cordel é o referente para essas obras. Na exposição, este gênero literário não se apresenta apenas como uma expressão da cultura brasileira, mas como um livro e uma narrativa produzidos manualmente pelo próprio artista.

No núcleo Uma escrita em branco, os visitantes encontrarão neste espaço livros que evidenciam a forma, o peso e a estrutura da obra ao invés da palavra, como Brígida Baltar, com Devaneios/Utopias (2005), Débora Bolsoni, com Blocado: A Arte de Projetar (2016), e Waltercio Caldas, com Momento de Fronteira (1999) e Estudos sobre a Vontade (2000).

Em outro extremo, O Livro Velázquez (1996) e Como Imprimir Sombras, ambos de Waltercio Caldas, e Caixa de Retratos (2010), de Marcelo Silveira, o leitor/visitante é deixado em um estado de perda de referências, pois a linguagem impressa no livro é turva, não se exibe com exatidão.

Por fim, o eixo Livros-objetos reúne e homenageia os pioneiros no Brasil dos chamados livros-objetos e sua intersecção direta com a poesia concreta. São três livros feitos em parceria entre Augusto de Campos e Júlio Plaza: Caixa Preta (1975), Muda Luz (1970) e Objetos (1969).

Sobre a Fundação Iberê Camargo

Iberê Camargo construiu, ao longo de sua carreira, uma imagem sólida de trabalho e profissionalismo. O resultado desse esforço e olhar para a arte estão preservados na fundação que leva o seu nome. Neste espaço, o objetivo é o de incentivar a reflexão sobre a produção contemporânea, promover o estudo e a circulação da obra do artista e estimular a interação do público com a arte, a cultura e a educação, a partir de programas interdisciplinares. O artista produziu mais de sete mil obras, entre pinturas, desenhos, guaches e gravuras. Somando-se a esta ampla produção artística, estão diversos documentos que complementam suas obras e registram sua trajetória, já que o artista e sua esposa, Maria Coussirat Camargo, tiveram como preocupação constante a preservação da documentação e de sua produção. Toda a coleção compõe o Acervo Artístico e o Acervo Documental da instituição. São 216 pinturas que abrangem o período de 1941 a 1994; mais de 1500 exemplares de gravuras em metal, litografias, xilogravuras e serigrafias; e mais de 3200 obras em desenhos e guaches. Entre suas obras, destaque para um autorretrato pintado a óleo sobre madeira. Livre das regras do academicismo, Iberê sempre buscou o rigor técnico, mantendo-se fiel às suas memórias (o “pátio da infância”), e ao que considerava ético e justo. Sua pintura expressa este não alinhamento com os movimentos e as escolas. Dentre as diferentes facetas de sua vasta produção, o artista desenvolveu as conhecidas séries que marcaram sua trajetória, como “Carretéis”, “Ciclistas” e “As Idiotas”.

Coleção Itaú

Todas as peças desta exposição pertencem ao acervo do Banco Itaú, mantido e gerido pelo Itaú Cultural. A coleção começou a ser criada na década de 1960, quando Olavo Egydio Setubal adquiriu a obra “Povoado numa planície arborizada”, do pintor holandês Frans Post. Atualmente reúne mais de 15 mil itens entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, instalações, edições raras de obras literárias, moedas, medalhas e outras peças. Formado por recortes artísticos e culturais, abrange da era pré-colombina à arte contemporânea e cobre a História da Arte Brasileira e importantes períodos da História da Arte mundial. Segundo levantamento realizado pela instituição inglesa Wapping Arts Trust, em parceria com a organização Humanities Exchange e participação da International Association of Corporate Collections of Contemporary Art (IACCCA), esta é a oitava maior coleção corporativa do mundo e a primeira da América do Sul. As obras ficam instaladas nos prédios administrativos e nas agências do banco no Brasil e em escritórios no exterior. Recortes curatoriais são organizados pelo Itaú Cultural em exposições na instituição e exibidas em itinerâncias com instituições parceiras pelo Brasil e no exterior, de modo a que todo o público tenha acesso a elas e tendo alcançado cerca de 2 milhões de pessoas. Em sua sede, em São Paulo, o Itaú Cultural dedica duas mostras voltadas para as coleções “Brasiliana” e “Numismática”, expostas de forma permanente no Espaço Olavo Setubal e no Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro.

 

O que é arte contemporânea?

19/jan

A produção de Arte dos últimos 50 anos revolucionou padrões estabelecidos. Muito menos pictórica e muito mais simbólica, a arte contemporânea expressa sua potência criativa de forma, no mínimo, inusitada. O que faz com que uma banana colada na parede com fita adesiva possa ser considerada uma obra de arte? Ou, ainda, como explicar que uma tela destruída pelo artista imediatamente após a venda milionária em um leilão, valorize ainda mais? Quais mecanismos externos à obra de arte permitem que ela seja considerada como tal?

Em três encontros, o artista visual Daniel Escobar fala sobre a produção de arte contemporânea, apresentando-a na perspectiva de um sistema cultural, organizado a partir de feiras, exposições, coleções e redes sociais. Partiremos de obras e artistas como Banksy, Bruno Moreschi, Damien Hirst, Rosângela Rennó, Maurizio Cattelan, entre outros, para conhecer os caminhos que orientam a arte contemporânea, mantendo-a tão viva e necessária como em outros tempos.

Para participar, inscreva-se pelo site do Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, ou garanta seu ingresso na recepção do centro cultural. As vagas são limitadas!

O ministrante

Daniel Escobar é doutorando em Poéticas Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS, além de mestre e graduado no curso de Artes Visuais pela mesma instituição. Sua experiência no campo da educação passa por instituições como Bienal do Mercosul, onde atuou como supervisor de mediadores, pelo Farol Santander Porto Alegre, onde foi assistente de coordenação da Ação Educativa, e pelo Instituto Inhotim, onde atuou junto à coordenação de arte e educação e foi responsável pela implantação dos programas de visitas escolares. Vive em Entre-Ijuís onde é gestor do espaço @oficinaescobar.

Uma novidade para Salvador

21/dez

É com muita alegria que anunciamos a chegada da Galatea na cidade de Salvador! Em busca de ampliar o nosso público e as nossas conexões para além do eixo Rio-São Paulo, será inaugurada no dia 31 de janeiro de 2024 a nossa nova sede na Rua Chile, no centro histórico da capital baiana. Primeiro logradouro do Brasil, a rua se situa entre a Praça Castro Alves e o Elevador Lacerda. Entre as diversas construções emblemáticas que a rua abriga está o Edifício Bráulio Xavier, cujo térreo passa a ser ocupado pela Galatea. O edifício modernista é famoso por ter em sua lateral o mural intitulado A colonização do Brasil, feito pelo artista Carybé em 1964.

Para a inauguração realizaremos uma grande exposição coletiva reunindo, além de artistas representados pela galeria, como o pernambucano Aislan Pankararu, o baiano José Adário e o pernambucano radicado na Paraíba Miguel dos Santos, outros nomes de diversas áreas do Nordeste.

A reforma do espaço é assinada pelo Estúdio Anagrama. Sediado em Salvador, o estúdio se volta para a restauração e renovação de construções históricas e para a produção de arquiteturas, mobiliários e objetos com o olhar atento ao reuso.​

A chegada da galeria se alinha a um momento em que o centro histórico de Salvador recebe diversas iniciativas de restauração dos seus edifícios e de recuperação da sua vida turística e cultural. Além disso, a cidade como um todo vem acolhendo novas iniciativas e projetos no âmbito das artes visuais, como a criação do MAC – Museu de Arte Contemporânea, inaugurado em setembro; a reabertura do MUNCAB – Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira; a abertura de uma nova sede da Pivô em um casarão histórico no Boulevard Suiço; entre outros.

Estamos muito animados para começar 2024 embarcando nessa nova aventura!

 

Destaque na Galeria Fonte do Instituto Inhotim

A exposição “Direito à Forma”, está em destaque na Galeria Fonte do Instituto Inhotim, Brumadinho, MG. A partir de uma seleção poderosa, a mostra proporciona uma investigação profunda sobre a relação entre forma e narrativa na arte de autoria negra no Brasil. Para isso, conta com trinta artistas negros e negras, cujas obras, parte da coleção do Inhotim, transcendem questões figurativas, ampliando as possibilidades da presença negra no fazer artístico brasileiro. A exposição reúne trabalhos de diferentes gerações, como Mestre Didi, Rubem Valentim, Emanoel Araujo, Castiel Vitorino Brasileiro, Luana Vitra e Tadáskía, entre outros importantes nomes da arte nacional.

 

Até 01 de março de 2024.

 

 

Instalações de Joana Vasconcelos no Brasil

14/dez

Museu Oscar Niemeyer promove até maio de 2024, a maior exposição individual de Joana Vasconcelos no Brasil. O Museu Oscar Niemeyer (MON) levará seu público a uma imersão no mundo mágico da atista portuguesa Joana Vasconcelos. “Extravagâncias” é a maior exposição individual da artista no Brasil e uma das mais grandiosas já promovidas pelo MON.

“Olho e diversos espaços singulares abaixo dele, andares da torre e a principal rampa interna do Museu foram ocupados pelo colorido e pela criatividade dessa artista que vive e trabalha em Lisboa, mas cuja arte transborda os limites de Portugal e da Europa e fascina o público de vários continentes”, diz a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika. “Instalações e esculturas monumentais extrapolam o espaço e invadem o MON, convidando o visitante a mergulhar num universo jamais criado no Museu”, acrescenta. Sua “Valquíria Miss Dior”, obra internacionalmente famosa, é a atração do mais nobre espaço expositivo do Museu. Com estratosféricas dimensões (aproximadamente 7 metros de altura e mais de 20 metros de comprimento), a incrível obra mistura crochê de lã feito à mão, tecidos e poliéster, suspensa em cabos de aço, numa peça única.

“Outro destaque é a “Valquíria Matarazzo”, que recepciona o público instalada sobre a rampa principal de acesso ao Museu, na entrada de visitantes, local nunca antes utilizado como espaço expositivo”, conta Juliana Vosnika. A secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, afirma que mais uma vez o Museu Oscar Niemeyer se consolida como um dos mais importantes do cenário internacional da arte contemporânea ao receber a maior exposição da artista Joana Vasconcelos no Brasil. “Tenho certeza de que esta será uma experiência inesquecível para o público visitante”.

A artista plástica Joana Vasconcelos diz estar muito feliz por voltar ao Brasil e poder reunir a última “Valquíria (Miss Dior)” com a que criou para a Matarazzo, num diálogo muito interessante não só entre as duas obras, mas também com a arquitetura do Museu. “Concebi ainda, especialmente para o MON e pela primeira vez na minha carreira, uma mostra de maquetes que vai permitir explorar a ligação da obra de arte com o espaço e a arquitetura, uma ideia que surgiu a partir do privilégio que é expor no “Olho” do Niemeyer”.

 

A curadoria

 O curador da mostra, o francês Marc Pottier, afirma que “Extravagâncias” transcende o barroco e o kitsch. “Depois do Guggenheim de Bilbao, do Château de Versailles, do Palazzo Grassi de Veneza, a artista apresenta a sua primeira exposição museológica no Brasil”, afirma. Ele explica que a gigantesca instalação “Valquíria Miss Dior” foi criada neste ano pela artista para o desfile da Dior, em Paris, e atualmente figura nas vitrines da marca em vários locais do planeta. “É uma obra que desafia todas as tendências artísticas e quebra a monotonia de uma estética”, diz o curador. “A seleção de modelos dos seus principais projetos site-specific realizados em todo o mundo permite-nos captar a amplitude de uma personalidade extraordinária que parece ter o céu como limite”, acrescenta.

Além do Olho e da rampa do Museu, o trabalho da artista ocupa os andares da torre e espaço Araucária, onde o público poderá ver obras como “Pantelmina”, “Big Booby”, maquetes dos icônicos “Solitário”, “Castiçais”, “Gateway”, “Bolo de Noiva”, “Máscara” e “Sapato”, além de diversos painéis.

 

Sobre a artista

Joana Vasconcelos tem uma trajetória profissional de aproximadamente 30 anos que abarca uma enorme variedade de técnicas. Reconhecida pelas suas esculturas monumentais e instalações imersivas, descontextualiza objetos do cotidiano e atualiza o conceito de artes e ofícios para o século XXI, estabelecendo um diálogo entre a esfera privada e o espaço público, a herança popular e a alta cultura. Com humor e ironia, questiona o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva. A aclamação internacional teve início em 2005, com “A Noiva”, na primeira Bienal de Veneza curada por mulheres. Foi a mais jovem artista e primeira mulher a expor no Palácio de Versalhes. Em 2012, a sua exposição foi a mais visitada na França em 50 anos, com um público recorde de 1,6 milhão de pessoas. Em 2018, Joana Vasconcelos tornou-se a primeira artista portuguesa a ter uma individual no Guggenheim de Bilbao, a quarta melhor daquele ano no ranking do The Art Newspaper e a terceira mais visitada da história do museu. Atualmente, em 2023, ela concretizou a honra de expor nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença, ao lado de mestres clássicos como Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Caravaggio e Botticelli. Com obras de arte e exposições em quatro continentes, a artista foi agraciada com mais de 30 prêmios. Em 2009, recebeu o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República Portuguesa e, em 2022, tornou-se Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura Francês. Desde 2006, mantém o Atelier Joana Vasconcelos, com mais de 50 funcionários. Em 2012 criou a Fundação Joana Vasconcelos para conceder bolsas de estudo, apoiar causas sociais e promover a arte para todos.

 

Sobre o MON 

O Museu Oscar Niemeyer (MON) é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Cultura. A instituição abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além de grandiosas coleções asiática e africana. No total, o acervo conta com aproximadamente 14 mil obras de arte, abrigadas em um espaço superior a 35 mil metros quadrados de área construída, o que torna o MON o maior museu de arte da América Latina.

 

As cores vívidas de Thalita Hamoui

O MAC Paraná, Curitiba, apresenta a exposição individual da artista visual Thalita Hamoui. Suas obras já foram exibidas em diversas instituições renomadas, incluindo a Foley Gallery, em Nova York, e o Centro Cultural São Paulo. As pinturas são repletas de cores vívidas, revelam uma elaboração singular e não são construídas pela observação, mas por resquícios sensoriais de suas memória.

Sob a titulação de “A Terra e o Devaneio da Vontade”, Thalita Hamoui, recebeu curadoria de Priscyla Gomes. O título remete à obra homônima do filósofo francês Gaston Bachelard, publicada em 1948. O museu, que funciona temporariamente no MON, recebe a mostra na Sala 9. Thalita Hamoui graduou-se em Artes Plásticas na  Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em 2006.

Segundo Priscyla Gomes, curadora da mostra, “A Terra e o Devaneio da Vontade” estabelece um paralelo com a obra do filósofo francês Gaston Bachelard, propondo uma jornada pela percepção. A filosofia de Bachelard é refletida nas telas de Thalita Hamaoui, evidenciando a importância da interação física, da manipulação e da exploração da Terra.

“Há nessas paisagens um indiscernimento entre noite e dia, entre o que é vegetal, o que é aquático e o que é terroso. Tudo é miscível e se completa, numa fusão extasiante de tons áureos”, afirma a curadora. A mostra de Thalita Hamoui é um convite à imersão sensorial, uma intersecção entre arte visual e filosofia que materializa, por meio de seus devaneios, a sua percepção da Terra.