A cor fremente de Gonçalo Ivo

28/set

A Galeria Simões de Assis, Curitiba, PR, inaugura exposição individual de pinturas de Gonçalo Ivo. O catálogo desta nova exibição traz textos assinados pelo escritor angolano – também artista plástico – Valter Hugo Mãe e Felipe Scovino, crítico de arte e curador que responde pela apresentação do artista expositor.

 

 

Sobre o artista

 

Não apenas mais um colorista

Felipe Scovino

 

Duas pesquisas ou situações simbólicas me chamam a atenção na experiência de presenciar o trabalho de Gonçalo Ivo: a sua capacidade de criar módulos distintos de experiência cromática em suas telas e a abertura para a ideia de uma partitura na maneira como compõe, e aqui leiam com o duplo sentido que essa palavra pode ter (fazendo um enlace tanto com a composição de uma música quanto a ideia de criação que ela também possui), a aparição da linha.

 

E isso não é pouco. Imagino que o leitor desse texto deva estar cansado da quantidade de subterfúgios e pouca vitalidade que uma parcela da chamada pintura contemporânea possui. Gonçalo se mantém à parte disso. Sua obra transita entre dois mundos muito próprios da história da arte brasileira e mundial. Suas referências internacionais variam entre a delicadeza e o misterioso abstracionismo de Paul Klee, a experiência arrematadora do abstracionismo geométrico de Vieira da Silva, a cor-luz pulsante de Rothko e os color fields de Barnett Newman, para me ater a alguns. No campo brasileiro, sua pesquisa cria conexões com a passagem entre o moderno e o contemporâneo, o ponto paradigmático da experiência de maturidade da arte brasileira. Estou me atendo ao período de aparecimento, ransformação e quiçá diferença que as obras de matriz construtiva introduzem de forma ampla no país. É a geração de Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Ivan Serpa, Volpi e Willys de Castro.

 

Acredito que foram guias espirituais, mestres, que Gonçalo acompanhou atentamente e que deles, entre outros, extraiu a essência de suas pesquisas e simultaneamente criou, Gonçalo, a sua própria trajetória. Percebam a semelhança e ao mesmo tempo as marcas pessoais de Volpi e Gonçalo ao compararmos a série “Ogiva” do primeiro e o tríptico azul em madeira realizada pelo último e exposto nessa mostra. A imagem de uma arquitetura religiosa, a relação não fortuita entre espaço e plano e finalmente a tridimensionalidade da pintura são pontos em comum, além da experiência com a têmpera, técnica renascentista, artesanal, utilizada pelos dois pintores em suas obras. Contudo, penso que aqui Gonçalo cria o seu caminho próprio. É a experiência com a cor que traduz isso. O artista cria uma corporeidade para a cor; não da forma como Hélio Oiticica fez e relata em seus textos mas como uma cor que possui matéria e significativamente espessura, “odor”, pois ela é toda corpórea, física, maleável. Há um fascínio ou investimento para que o olhar se converta em algo tátil. E mesmo quando a expande para o espaço, com seus objetos em madeira, que por sua vez criam um diálogo interessante e consistente com arte africana, há um desejo de continuar falando sobre pintura e não exatamente sobre tridimensionalidade ou escultura.

 

É perspicaz o fato de que Gonçalo particulariza os módulos de cor em sua pintura. Faz uso de um vocabulário geométrico mas não é exatamente a forma abstrata, imagino, a sua real preocupação mas as (inúmeras) qualidades e aparições que a cor venha a possuir. Para cada campo que constrói a cor ganha um significado e uma aparição ao mundo muito própria: pode se exibir com uma matéria áspera, suave, delicada, retraída, pulsante. É a maneira como orienta as pinceladas e o número e a forma como realiza as investidas de tinta sobre a tela que fazem essa percepção de que a cor em Gonçalo seja sempre diferente.  Não há separação,também, entre tela e moldura, pois esta é criada à revelia pelo artista. É comum vermos linhas verticais pintadas lado a lado definindo o que seria o papel da moldura. É na aparição da linha, por sinal, que assistimos à gestualidade do artista e seu embate com um suposto entendimento de que a pintura geométrica é racional e rigorosa. Está lá, na pintura de Gonçalo, assim como em Mondrian, guardadas as devidas especificidades de cada obra, uma linha torta e assumidamente humana. Descrevendo outra qualidade da linha de Gonçalo, percebemos o quanto ela é harmônica e musical. Aliás, a aproximação entre música e pintura já fica evidente na escolha dos títulos das obras (contraponto, acorde, prelúdio, etc). A  qualidade intervalar que é construída por meio dos módulos de cor me leva a crer que suas pinturas, agrupadas em um conjunto, podem ser lidas também como uma partitura. As linhas como notas a serem lidas que logo reverberam uma melodia que atravessa o espaço em que essas obras estejam habitando. É algo mágico e inventivo perceber essas centelhas que têm uma função inacreditável: nos tornar mais sensíveis ao que nos cerca, percebermos um instante de crença no homem para além da barbárie que assistimos todos os dias. Claro, não há som mas a ideia de que possam ser percebidas para além de sua materialidade e possam, portanto, criar vida em um outro regime, agora de escuta, é sensacional. Ampliar essa capacidade da pintura é demonstrar que, a contragosto de alguns, a pintura não morreu. Pelo contrário, o artista nos ajuda a entender que há muitos caminhos, sentidos e existências para essa técnica milenar. Portanto, a obra de Gonçalo não se traduz como um exercício de persistência da geometria ou de balancear, contrapor e/ou associar cores mas fundamentalmente provocar um estado de inovação do campo pictórico e associá-lo às mais distintas imagens e qualidades. Repito: a fabricação dessa operação não é para muitos.

 

 

Cromatismo

Valter Hugo Mãe

 

Por vezes imagino que nos salvamos de toda a matéria e viramos apenas identidades que
habitam a cor. A cor é um substantivo da matéria. Tenho sempre a impressão de que se rebela contra adjetivá-la e se torna tudo, como um ser que espera. As cores esperam. Enquanto lemos a luz, a cor torna-se alguém. Sabe coisas e é alguém. Um dia, desintegrados, talvez sejamos esplendorosa e unicamente participações na luz. A pintura de Gonçalo Ivo é mais do que um estudo da cor, é uma escola para a cor. Ali, ela aprende. Amadurece, como animal efectivamente caçado, que não pode mais deixar de assumir sua evidência no mundo. Cada tela é uma classe, feita de superior mestria, onde a luz incide para se adorar já não enquanto acaso mas enquanto inteligência. É esta a diferença entre a cor por consciência e a casual. O trabalho de Gonçalo Ivo, cientista desta arte, é um modo de revelação, não enquanto delirante tentativa mas exatamente enquanto pronúncia de sábio que chega cada vez mais perto do que não se podia ver. As suas telas existem como provas de um gesto de luz semelhante ao gesto de Deus. A luz sabe o que faz. Nas telas de Gonçalo Ivo a luz aprende a fazer.

 

 
A arte deixa cair o figurativo porque a realidade exposta já não é suficiente, talvez nunca o
haja sido e a insatisfação dos artistas esteve sempre comprovada, até tragicamente. A
libertação da arte em relação à obrigação de representar, ou de apresentar cabalmente o seu significante, é fundamental para adentrar um espaço mental, que não deixa de ser também uma dimensão da realidade, caracterizado por uma imprecisa questão para uma ainda mais imprecisa resposta. Chegar à questão é o desafio, obter alguma resposta é a absoluta improbabilidade. O trabalho de Gonçalo Ivo pode ser a negação total da matéria para que a alma de cada coisa se liberte apenas no comportamento da luz. Neste sentido, faz-me sentir como a espiritualidade de tudo. Uma espiritualidade bastante que advém exclusivamente do poder da arte. Salvas da sua contingência material, todas as coisas se apresentam como atributos apenas mentalmente consideráveis, que é modo racional, pragmático, para se referir questões de alma. Gosto de pensar que as telas de Gonçalo Ivo são o despido dos corpos, corpos nenhuns, porque ainda assim se manifestam de modo fremente, o que comprova a sua intensa existência, como intensas podem existir outras realidades também insondáveis.

 

 
Aquém da transcendência, muitas coisas são suficientemente transcendentes, vulgo, coisas da arte. Aludindo à ideia de despir matéria, a pintura de Gonçalo Ivo lembra tecidos, isso que as manualidades inventaram para protecção e adorno e que se faz do intrincado de fios ínfimos. A ideia de intrincado interessa-me. Ainda que nos deparemos com a impressão de uma limpeza tremenda, o rigor da pintura de Ivo é uma forma de virtuosa ourivesaria da cor. Igual a facetar um diamante, o ofício deste pintor é o de depuração do comportamento da luz. Sim, como dizia, as suas telas são escolas para a cor. Ela, ali, aprende.

 

O belo poeta Martin Lopez-Vega (no perfeitíssimo catálogo Contemplaciones, editado na
Espanha pela Papeles Mínimos) diz que nas telas de Gonçalo Ivo, profundamente planas, não há relevo, apenas geografia. Gosto muito. Tudo passa a ser sobretudo um lugar, como se pudéssemos efetivamente entrar num espaço sem, contudo, nada se definir por inteiro. Somos acolhidos, mas o que nos acolhe é a pura liberdade. Se as suas telas fossem tecidos, estaríamos sob eles ainda que o ato de observar nos crie a sensação de permanecermos sobre ou diante das coisas. Na arte, e porque é uma transcendência específica, o dentro e o fora, o cima e o baixo, podem simplesmente ser predicados inutilizados. Na arte, e porque provavelmente é a única transcendência existente, o dentro e o fora, o cima e o baixo, podem simplesmente ser predicados inutilizados. Tudo no trabalho de Gonçalo Ivo o explica. Essa convicção de que, na geografia, existe afinal caminho para o lado de lá da matéria, como aferição de uma alma, como passeio pela luz, colhendo cores igual a quem colhe um ramo generoso de rosas. Amo rosas.

Porto, 12 de abril de 2015.

 

 

De 01 a 31 de outubro.

Paralelos Urbanos: 10 fotógrafos

17/set

A exposição “30 / 34º S – Paralelos Urbanos” tem início no Centro Cultural CEEE Erico
Verissimo, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. Trata-se de um projeto com dez fotógrafos de três cidades, Buenos Aires, Montevidéu e Porto Alegre que promoverá quatro exposições até maio de 2017, que buscam descobrir que cidades são essas que, entre os paralelos 30 e 34, pulsam no sul da América do Sul.

 

O olhar de Alfredo Srur, Andrés Cribari, Carlos Contrera, Fábio Rebelo, Fabrício Barreto,Francisco Landro, Gabriel García Martínez, Gilberto Perin, Lena Szankay e Lorena Marchetti traduz a cidade onde vivem ou como sentem a ação dela sobre o seu cotidiano. Suas fotografias exigem um olhar atento, pois provocam reflexões ou um convite à poesia urbana de Buenos Aires, Montevidéu e Porto Alegre.

 

 

Esta é a primeira etapa do projeto. Em 2016, os artistas realizarão mostras em Buenos Aires

(previsão de lançamento em maio) e Montevidéu (setembro de 2016). Durante as estadas em

cada município, o grupo produzirá novas imagens que serão apresentadas no encerramento,

em exposição prevista para maio de 2017 em Porto Alegre.

 

 

De 17 de setembro a 24 de outubro.

Leda Catunda em Fortaleza

15/set

Leda Catunda realiza curso e exposição individual com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. A mostra “Leda Catunda Seleção de obras de 1985 a 2015”, entra em exibição no Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza, CE. A mostra consiste na exposição de várias obras de grandes formatos realizadas nos últimos dez anos, algumas inclusive que se estendem para o piso numa mistura de pintura-objeto com instalação.

 

 

O curso de “Pintura Contemporânea” será realizado entre os dias 16, 17, 18 e 19 e tem como objetivo introduzir e discutir conceitos da história da arte moderna e contemporânea através de exercícios de pintura. Serão propostos diversos procedimentos de pintura, procurando-se com isso colocar em discussão as diferentes atitudes presentes na arte contemporânea com relação a essa técnica. O workshop está dividido em 4 dias para a realização de exercícios que serão propostos aos alunos, um exercício por aula e no último dia serão discutidos os trabalhos individuais de cada participante. Na introdução de cada exercício serão apresentados os conceitos relacionados com cada tema proposto e serão rapidamente analisadas as obras de artistas que inauguraram procedimentos, introduzindo assim, novas questões no universo da pintura. Abordando manifestações desde o início da modernidade no século XIX até artistas que vem trabalhando e reformulando ações na pintura, sob ponto de vista semelhante nos dias de hoje. Inscrições: pelo e-mail cultura@bnb.gov.br ou na recepção do CCBNB. Vagas: 20 vagas.

 

 

A exposição estende-se até 24 de outubro.

Cartão-postal para colorir

04/set

Uma série de seis cartões postais ilustrados pelo artista Leandro Selister são distribuídos gratuitamente na loja Koralle no Santander Cultural, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. A proposta do artista envolve a retirada dos postais para que pintem as ilustrações em preto & branco, escrevam mensagens e enviem para qualquer lugar do Brasil. Encontra-se destinada no local uma caixa de coleta para receber os cartões já endereçados, com postagem e custo feitos pelo próprio Santander Cultural. A iniciativa, que traz imagens do prédio histórico de 1932, um projeto do artista catalão Fernando Corona, visa estimular a volta da escrita e buscar outra forma de comunicação em nosso mundo atual totalmente regido pela digitação.

Exposição na Fundação Vera Chaves Barcellos

21/ago

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, apresenta a mostra “Destino dos Objetos | O

artista como colecionador” e as coleções da FVCB. Impressões, desenhos, fotografias,

gravuras, fotocópias, objetos, esculturas, colagens e vídeos integram a mostra que reúne um

diverso grupo de 50 artistas de várias nacionalidades. Com curadoria de Eduardo Veras,

“Destino dos Objetos” examina como, por diferentes caminhos, os artistas se fazem

colecionadores, ou, pelo menos, como seus trabalhos podem replicar algo do furor

colecionista.

 

Há aqueles que tratam de isolar, recolher e sacralizar peças específicas, peças que

imediatamente perdem sua função original, mesmo que não renunciem às memórias que

carregam. Há também aqueles em que, mais do que a escolha, despontam as noções de

acúmulo, ordenamento e classificação. Entre uns e outros, o artista emerge como o sujeito dos

desejos e das decisões, oferecendo ou adivinhando um destino para os objetos.

 

A exposição remonta ao gérmen da própria Fundação Vera Chaves Barcellos, cuja origem

encontra-se nas coleções de arte formadas pelos artistas Vera Chaves Barcellos e Patricio

Farías ao longo dos anos, antes mesmo da formalização desse importante centro de divulgação

de arte contemporânea.

 

Participam da mostra artistas brasileiros, latino-americanos e europeus: 3NÓS3, Albert

Casamada, Almandrade, Amanda Teixeira, Anna Bella Geiger, Antoni Muntadas, Boris Kossoy,

Brígida Baltar, Cao Guimarães, Carlos Asp, Carmela Gross, Christo, Daniel Santiago, Elcio

Rossini, Ester Grinspum, Evandro Salles, Feggo, Gisela Waetge, Gretta Sarfatty, Hannah Collins,

Heloísa Schneiders da Silva, Hudinilson Jr., Jailton Moreira, Jesus R.G. Escobar, Joan Rabascall,

Joaquim Branco, Joelson Bugila, Julio Plaza, Klaus Groh, León Ferrari, Lia Menna Barreto, Mara

Alvares, Marcel-li Antunez, Marcelo Moscheta, Marco Antônio Filho, Marcos Fioravante, Maria

Lúcia Cattani, Mariana Silva da Silva, Marlies Ritter, Mario Ramiro, Mário Röhnelt, Michael

Chapman, Nicole Gravier, Nina Moraes, Patricio Farías, Rogério Nazari, Téti Waldraff, Ulises

Carrión, Vera Chaves Barcellos e Waltércio Caldas.

 

A exposição contará com uma programação paralela com palestras, conversas com artistas,

além das visitas mediadas e da promoção do Curso de Formação Continuada em Artes – ações

permanentes do Programa Educativo da FVCB, que segue oportunizando vivas experiências

com a arte e estimulando a formação de novos públicos.

 

 

De 22 de agosto a 12 de dezembro.

Adriana Varejão exibe “Pele do Tempo”

Em cartaz no Espaço Cultural Airton Queiroz, UNIFOR, Fortaleza, CE, a mostra “Pele do Tempo”

reúne 32 obras de Adriana Varejão e 4 obras de artistas que a influenciaram, abrangendo 23

anos de trabalho. Uma das artistas brasileiras mais conhecidas internacionalmente, Varejão

realiza trabalhos que se baseiam na pintura e, sobre essa, que é a mais clássica das linguagens

da arte, consegue subverter e abrir inúmeros campos de questão. A curadoria traz a assinatura

de Luisa Duarte.

 

 

De 26 de agosto a 29 de novembro.

Artista holandês na SIM galeria

20/ago

A SIM galeria, Curitiba, PR, apresenta a exposição individual de Frank Ammerlaan, artista

holandês residente em Londres.

 

Nos trabalhos de Ammerlaan, a essência do múltiplo é manifesta na contínua coexistência de

suportes, materiais e processos mistos, como escultura, pintura, fotografia e vídeo

juntamente de elementos sintéticos e naturais como tinta óleo, linhas de costura, metais e

agentes químicos.

 

Na exposição “Outside the wireframe”, produzida durantes sua residência artística recente no

espaço experimental de arte PIVÔ, na cidade de São Paulo, o interesse permanente no que é

periférico, indistinguível e despercebido é amplamente contemplado.

 

As caminhadas diárias de Ammerlaan na ida e volta de seu ateliê temporário, localizado no

centro de São Paulo, se tornaram uma profunda jornada para dentro e fora do motor da

cidade movido à ansiedade e instabilidade. Ao fazer uso de objetos ready-made como

latinhas de alumínio, vidro e banner de PVC, em “Outside the wirefram”e o artista convoca

uma série de elementos tanto familiares como também invisíveis à capital brasileira. Um

conjunto de ícones que perpassa os catadores de latinhas das quais algumas esculturas são

feitas e que nos fala sobre inventivos subsistemas criados sob circunstâncias econômicas

difíceis. Como também que inclui um banner de serralheria em que o artista aponta

evidências de extrema ansiedade geral quanto à segurança. E até mesmo que destaca do

cenário urbano cotidiano, tampas de bueiro e piche como indicação de um ambiente

publicitário alternativo. E até mesmo piche e tampas de bueiros que nos separam de um

mundo sob nossos pés.

 

A série “Untitled” de imagens impressas em vidro aramado de alta segurança exibe um

material nunca antes usado em exposições do artista, de acordo com ele “Trabalhar em um

novo contexto como a residência desperta novas idéias, te faz, por exemplo, pensar de forma

diferente sobre os materiais”. Permeada por ambigüidades, a série é feita de um material

transparente de alta segurança que busca oferecer segurança enquanto não necessariamente

esconde algo. Ela inclui imagens desenhadas por linhas de armações de arame que lhes

concedem certo aspecto de pop arte, mas ao mesmo tempo uma aparência anônima, uma vez

que nos permite enxergar formas, mas não superfícies. Além disso, um objeto poderoso ainda

que pequeno, a bandeira de mesa, que não mostra nenhum emblema ou insígnia pode ainda

assim simbolizar uma idéia de proteção e defesa de um determinado território ou cultura.

Sobre a figura tridimensional humana, seu aspecto fantasmagórico é justaposto com uma

imagem impressionantemente detalhada.

 

A antítese da abordagem emocional e racional está profusamente presente nas pinturas do

artista na quais aspectos atmosféricos e nebulosos se contrastam com padrões geométricos

precisos feitos de linhas de costura e bordado. Possivelmente sob a influência de seu

treinamento primeiro, em marcenaria, assim como devido a pratica constante de desenhos

técnicos, nos trabalhos de Ammerlaan linhas são de alguma forma, privilegiadas em

detrimento de volume.

 

Em algumas das pinturas de “Outside the wireframe” os conceitos binários característicos dos

trabalhos de Ammerlaan podem ser apresentados mais sutilmente do que em outras. Ao

observar uma pintura a partir de certa distância da tela, seus aspectos atmosféricos e

nebulosos se destacam, porém, uma vez que os padrões em baixo relevo começam a ser

reconhecidos, a pintura simultaneamente exige ser observada mais de perto. Padrões e

linhas, assim, são formas de racionalizar e se apropriar do conceito de periférico com

efetividade. Simultaneamente a qualidade etérea das pinturas contribui para um

engendramento mais amplo das idéias e objetos do periférico.

 

“Outside the wireframe” revela que o imperceptível, o periférico e o sutil podem ser

encontrados em situações e cenários que transcendem efeitos óticos provocados por uma obra

de arte. Aponta claramente que o invisível existe, por exemplo, na rotina cotidiana dos

habitantes de metrópoles como São Paulo. Ao utilizar-se de piche e ao delinear tampas de

bueiros encontradas nas ruas que circundam seu ateliê na cidade, Ammerlaan realça padrões

gravados em tais peças de metal- alguns deles padrões de linhas cruzadas e atravessadas

também comuns a outros trabalhos do artista-, feitos, por  exemplo, por empresas de

telecomunicação para fins publicitários. Geralmente despercebidos, tais padrões e nomes de

marcas atuam como indícios de uma atividade publicitária quase imperceptível acontecendo

sob nossos pés. Um fato ainda mais interessante diante da controversa proibição de

publicidade exterior que busca minimizar a poluição visual da cidade implantada na última

década em São Paulo.

 

A exposição “Outside the wireframe” é uma oportunidade única para todos familiarizados ao

ambiente urbano de observar uma complexa cidade como São Paulo, em suas múltiplas

possibilidades periféricas, através dos cantos dos olhos argutos e precisos do artista

contemporâneo Frank Ammerlaan.

 

 

Sobre o artista

 

Frank Ammerlaan é um proeminente artista plástico nascido na Holanda e residente da cidade

de Londres cujas exposições individuais e coletivas têm sido exibidas nos últimos seis anos em

prestigiados museus e galerias pela Europa e em cidades como Copenhague, Bruxelas, Berlin e

Londres bem como em Nova York e outras grandes capitais internacionais.

 

 

De 27 de agosto até 26 de setembro.

Francisco Dalcol apresenta Antônio Augusto Bueno na Galeria Mamute

12/ago

A Galeria Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, divulga e convida para a abertura da

exposição “Antes era só o vão”, do artista Antônio Augusto Bueno. A mostra com curadoria de

Francisco Dalcol apresenta um conjunto de trabalhos abrangendo pinturas, instalação, vídeo

com participação de Bebeto Alves, Eduardo Montelli e Luís Filipe Bueno e, gravuras em metal

impressas por Marcelo Lunardi.

 

 

A palavra do curador

 

Antes era só o vão

 

Os trabalhos de Antônio Augusto Bueno parecem atravessados por algo que não lhes

pertence, mas ao mesmo tempo os constitui. Esse aparente desacerto vem de uma indisciplina

do artista, no sentido de uma postura interessada na liberdade de experimentar no trânsito

entre linguagens, sem se prender a uma ou outra, intercambiando constantemente técnicas e

procedimentos.

 

Nas obras que integram a nova série “Antes era só o vão”(1), pintura é também gravura, assim

como escultura é desenho, e gravura é pintura. Os inversos também, pois um está sempre no

outro, formando zonas de indefinição. E ao se contaminarem, trazem como recompensa a

descoberta, com todas as aberturas e possibilidades que os momentos de incerteza ensejam.

 

A montagem da exposição na Mamute busca tirar força desses rebatimentos, do ir e vir que se

estabelece entre as obras e as diferentes modalidades artísticas que as compõem, propondo

ao espectador, a partir da disposição dos trabalhos, algumas relações visuais; umas mais

imediatas, outras menos explicitadas.

 

A instalação na entrada da galeria ocupa o pequeno espaço vago ao lado da escada. Se antes

era só um vão, há agora ali a tentativa de transformar esse não lugar em uma situação.

Realizado especialmente para esta mostra, o trabalho é composto por gravetos que Antônio

Augusto recolhe e estrutura em forma de armações, filiando-se a uma série de outras obras de

viés escultórico que tem realizado ao longo de sua produção. É como se ele desenhasse o

objeto no espaço, vendo nos galhos as linhas do desenho, mas também as manchas, quando

reunidos como espécie de grandes maços e ramalhetes.

 

As salas expositivas do andar de cima apresentam as novas pinturas e gravuras da série “Antes

era só o vão”. Nas telas em grande formato, as manchas carregam um aspecto de vestígios

ancestrais, como marcas de um tempo passado. Também lembram os troncos das árvores do

quintal do Jabutipê, o ateliê na antiga casa que Antônio Augusto mantém em uma rua ainda

silenciosa no Centro Histórico de Porto Alegre. Remetem ainda às paredes rachadas,

descascadas e fraturadas que permanecem em pé no casarão em ruínas próximo ao Jabutipê

onde foi gravado o vídeo do qual vem o título desta exposição.* De algum modo, essa

visualidade do entorno cotidiano do artista está impregnada nessas pinturas.

 

Mas nada seria assim sem a bem-vinda intromissão da gravura. Nessas pinturas, está plasmado

um processo alongado e pausado, fruto de um procedimento experimental. Sobre a massa de

pigmentos e tinta acrílica, o artista sobrepõe betume em algumas áreas. Esse material, muitas

vezes usado nos processos de gravura, vira tinta também, compondo novas manchas. As

camadas acumuladas são frequentemente raspadas, em um gesto de adição e subtração de

matéria, e também cavoucadas, como nos procedimentos de incisão da gravura. É um

processo não imediato, que leva dias, como o tempo de espera que muitas vezes a gravura

demanda. E nesse transcorrer, que permite um olhar mais vagaroso e, por isso, reflexivo, as

dúvidas advindas sempre dão a ver possibilidades a serem testadas e encaminhadas.

 

Pode-se pensar nesse sentido as gravuras da série. Pela primeira vez, Antônio Augusto

apresenta em público um conjunto representativo de trabalhos gráficos, essa modalidade

artística de tanta tradição e relevância histórica na arte gaúcha. Novamente, interessa ao

artista a margem experimental, aqui oferecida pela gravura em metal e pelo tempo próprio a

seu processo. Isso começa nos modos com que explora o desenho sobre as matrizes, passa

pela alquimia de ácidos e outros materiais aplicados nas placas como se ele as estivesse

pintando, e chega à etapa de impressão, cujas primeiras provas sempre levam o artista a

refazer o percurso do processo em busca de novos efeitos. Assim, a imagem final fixada sobre

o papel é antecedida por uma série de testes e experimentos. O que se obtém são resultados

sobrepostos e acumulados. Ao fim, continua sendo gravura, mas também desenho e pintura. E

ainda escultura. Se na instalação os gravetos se articulam como linhas no espaço, na gravura se

dá o oposto, com as linhas do desenho se tramando como se fossem elas os gravetos.

 

Em um olhar atento, é possível perceber que, ao longo da série “Antes era só o vão”,

evidencia-se um aspecto central que perpassa a totalidade da obra de Antônio Augusto de um

modo tão pessoal: o gosto pela artesania e pelo vagar que lhe é inerente, opções que, ao

serem assumidas pelo artista, ganham certo caráter político em tempos tão apressados e

automatizados como os nossos. Tempos esses dos quais apartar-se conscientemente significa

não só um ato de resistência, mas um gesto autêntico e singular de se colocar no mundo.

 

Francisco Dalcol

(1) “Antes era só o vão” é um trecho do texto de Luís Filipe Bueno que integra o vídeo

apresentado na exposição.

 

 

Sobre o artista

 

Antônio Augusto Bueno é Bacharel em Desenho (2004) e Escultura (2008), pelo Instituto de

Artes da UFRGS. Desde 1998 vem realizando exposições individuais, dentre elas “Cabeças –

armadilhas para um significado” no Museu do Trabalho / POA; “Anotador de Faces” Galeria

Municipal de Arte em Florianópolis, “Uma Maneira de Pensar” no MALG, Pelotas/RS, “As

desórbitas do avesso” na Arte&Fato galeria, POA/RS, “Gravetos Armados” no MAC RS,  Galeria

Iberê Camargo,  Porão do Paço Municipal, POA/RS, “Desenhos” no Estudio Dezenove, Rio de

Janeiro/RJ, “Um outro outono” MARGS.  Desde 1996 participa de exposições coletivas como

“Do Atelier ao cubo branco”, “A bela morte” e “O Cânone Pobre” no MARGS, POA/ RS, “Idades

Contemporâneas”, ”Entre A-Z” e “Da matéria sensível” no MAC-RS em POA/RS, “Desvenda” no

Museu da República, Brasília/DF, ArtLive 2011 na CATM Chelsea, Nova York/EUA. Participou de

salões, dentre eles o Salão do Jovem Artista no MARGS, POA/RS, Salão da Câmara, POA/RS e o

Salão Nacional de Cerâmica no Museu Alfredo Andersen, Curitiba/PR. Em 2015 lançou o livro

Jabutipê, em 2012  o livro “O último homem na lua” com exposição no MAC-RS e Ilustrou o

livro “Arame falado” editado pela editora 7 letras do Rio de Janeiro/RJ . Em 2007 recebeu o

Prêmio Açorianos na categoria Melhor Exposição Coletiva com o Grupo Passos Perdidos e em

2008, o Prêmio Açorianos na Categoria Cerâmica com o Bando do Barro, além de ser indicado

na categoria Artista Revelação. No ano de 2009 foi indicado na categoria Desenho, pela

exposição “Tempo sobre Papel”, em 2012 foi indicado na categoria Escultura pela exposição

“Gravetos Armados” e em 2013 foi indicado em cinco diferentes categorias. Em 2013 recebeu

menção honrosa no 2° `Prêmio IEAVi pela exposição “Circulando linhas”. Tem trabalhos em

acervos do MARGS, MACRS, UFRGS, Fundação Franklin Cascaes e Fundação Kingler Filho.

Participou em 2000, da criação do Atelier João Alfredo 512, onde trabalhou até 2007. Em 2007

e 2008 integrou o grupo do Atelier Subterrânea. Desde 2008 realiza seus trabalhos, ministra

aulas e coordena o espaço expositivo do Jabutipê, situado no centro histórico de Porto Alegre.

É artista representado pela galeria Mamute.

 

 

Sobre o curador

 

Francisco Dalcol é doutorando em História, Teoria e Crítica pelo Programa de Pós-Graduação

em Artes Visuais (PPGAV) do Instituto de Artes da UFRGS. Mestre pelo Programa de Pós-

Graduação em Artes Visuais (PPGART), da UFSM, na linha de pesquisa Arte e Cultura, com

ênfase em história, teoria e crítica (2013). Graduado em Comunicação Social, com habilitação

em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), com especialização em

Comunicação e Projetos de Mídia, ênfase em arte, cultura, internet e cibercultura, pelo Centro

Universitário Franciscano – Unifra (2008). Também trabalha como jornalista (repórter e editor)

no jornal Zero Hora – Grupo RBS, sendo setorista de artes visuais. Tem experiência na área de

Comunicação, com ênfase em Jornalismo, Editoração, Jornalismo Cultural e Jornalismo Digital,

e também na de Artes e Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: história, crítica

e discursos sobre a arte e a produção cultural.

 

 

Até 09 de outubro.

Tuca Reinés no Santander Cultural

06/ago

Em 2013, o Santander Cultural, Porto Alegre, RS, convidou Tuca Reinés para realizar uma série fotográfica de diversas cidades do país, onde foram instaladas, na época, as primeiras agências do segmento Select. Em pouco tempo de trabalho, o projeto superou as expectativas e se transformou num acervo sem precedentes sobre as cidades brasileiras no século 21. Muito mais que um registro, as imagens evidenciaram uma análise visual sobre a ocupação do espaço urbano por todo o Brasil, sob o olhar de um artista. A exposição “Tuca Reinés: o olhar vertical”, tem curadoria de Agnaldo Farias e está em exibição na Galeria superior da entidade.

 

 

Até 30 de agosto.

Fotografias para Imaginar

31/jul

As 16 fotografias de Gilberto Perin, mais os textos de 16 escritores e as obras de 16 artistas convidados pelo fotógrafo para interferirem no seu trabalho integram a exposição de seu projeto autoral “Fotografias para Imaginar” irá até 21 de agosto na Sala Aldo Locatelli na Prefeitura Municipal de Porto Alegre. O  projeto foi financiado pelo Fumproarte.

 
“Fotografias para Imaginar” apresenta fotografias que revelam espaços sem a presença humana, propondo que o limite documental da fotografia seja ultrapassado, rompendo a fronteira do visível, reconstruindo a realidade com outro olhar – além daquele esboçado e recortado pelo fotógrafo.

 
Participação de alguns escritores como: Aldyr Garcia Schlee, Ana Mariano, Carlos Gerbase, Carlos Urbim, Cíntia Moscovich, Ignácio de Loyola Brandão, Luís Artur Nunes, Luiz Ruffato, Martha Medeiros, Paulo Scott, Pedro Gonzaga, Pena Cabreira, Ricardo Silvestrin  e Tailor Diniz.

 
Os artistas participantes dentre outros são: André Venzon, Bebeto Alves, Britto Velho, Carlos Ferreira, Chico Baldini, Denis Siminovich, Eduardo Haesbaert, Felipe Barbosa, Mário Röhnelt, Régis Duarte, Sandro Ka e Zorávia Bettiol.

 

 

Até 21 de agosto.