Marcelo Guarnieri/SP-Foto

19/ago

Na SP-Foto 2019, Shopping JK/Iguatemi, Vila Olímpia, São Paulo, SP, a Galeria Marcelo Guarnieri apresentará obras de Arlete Soares, Claudia Jaguaribe, Cristiano Mascaro, Edu Simões, Flávia Ribeiro, Flávio Damm, João Farkas, Julio Le Parc, Lew Parrella, Marcel Gautherot, Mario Cravo Neto, Pedro Hurpia, Pierre Verger, Vincent Ciantar e Yamamoto Masao.

 
Na quarta-feira serão apresentados trabalhos de todos os artistas. De Verger e Gautherot serão apresentadas fotografias vintages, tomadas na década de 1930 (assinada pelo autor) e na década de 1950, respectivamente. Será exibida pela primeira vez na SP-Foto a obra de Vincent Ciantar, fotógrafo anglo-egípcio naturalizado brasileiro, cujas fotografias – a maior parte delas guardadas em acervo pessoal até então – estarão em exposição na sede da Galeria em São Paulo durante o mês de agosto. Ciantar se estabeleceu no Brasil na década de 1960, trabalhando para revistas, empresas e indústrias e desenvolvendo, em paralelo, um trabalho autoral que circulou pelo Egito, Brasil e Inglaterra enquanto esteve vivo. Claudia Jaguaribe apresenta uma de suas foto-esculturas da série “Horror Vacui”, de 2017. A série, composta por fotografias feitas em Pequim, que em algumas obras se tridimensionalizam, propõe uma reflexão sobre a estética do excesso, parte integrante da cultura chinesa.

 

Na quinta e sexta-feira a galeria apresentará fotografias das séries “Pantanal”, “Amazônia” e “Sertão” do fotógrafo João Farkas. A série “Amazônia”, desenvolvida entre 1986 e 1990, traz um extenso registro da atividade dos garimpos na região e sua relação com as centenárias comunidades indígenas que viviam ali. São imagens que contemplam não somente as paisagens e suas transformações, mas também seus personagens: garimpeiros, madeireiros, indígenas, crianças, prostitutas, forasteiros e máquinas. “Pantanal”, iniciada em 2014 e desenvolvida em seis expedições, pretende retratar a importância e a fragilidade desta que é a maior planície inundável do mundo. Tido como distante e indestrutível pela maioria dos brasileiros, o Pantanal vem sofrendo já há algum tempo uma destruição silenciosa, pondo em risco ecossistemas e populações. Farkas explora a grandiosidade e beleza da paisagem pantaneira para promover, por meio de suas fotografias, uma sensibilização sobre a urgência da luta pela preservação deste patrimônio. Uma parte dessa pesquisa foi apresentada na mostra “Brazil Land & Soul” que ficou em cartaz na Embaixada Brasileira em Londres, entre novembro e dezembro de 2018 e na Casa do Brasil – Embaixada do Brasil na Bélgica, entre maio e julho de 2019.”Sertão”, sua série mais recente, integra o conjunto do trabalho do fotógrafo que vem se baseando no interesse pela riqueza dos sistemas ecológicos do país e pelas transformações causadas pelas intervenções humanas, sejam elas predatórias, ancestrais ou sustentáveis. As imagens, que retratam vegetações desde uma vista aérea e pessoas a partir de encontros casuais, foram feitas a partir de 2018 nos estados de Alagoas e Bahia.

 
No sábado e domingo a galeria apresentará a série “Amazônia” do fotógrafo Edu Simões, realizada em cinco expedições durante os anos de 2001, 2005 e 2011 pelos estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia. As fotografias, em preto e branco e médio formato, foram feitas com uma Hasselblad, câmera que Simões já utilizava há mais de 20 anos. A série nos brinda com imagens vigorosas e oníricas, feitas sobre as águas de florestas de mangues, dos majestosos Rio Negro e Amazonas, do interior de matas fechadas ou de casas de madeira. As fotografias de troncos de árvores em suas complexas ramificações quando intercaladas às imagens dos habitantes da região parecem ganhar o status de retrato, dando às árvores identidade semelhante àquela dada às casas, quartos e rostos dos retratados, cujos nomes conhecemos pelos títulos das obras. Esta seria uma das características que evidenciam um trabalho que foi resultado da relação afetiva que Simões construiu com a floresta e com as pessoas durante os anos que por ali esteve.

 

Além das exposições, a galeria apresentará uma edição composta por nove fotografias da série Mulher-Dama (1966) do fotógrafo Flávio Damm. A série foi fruto de uma convivência de quase dois meses entre Damm e prostitutas do bairro do Maciel em Salvador e do Meia-Três, famoso bordel da cidade. As fotos haviam sido encomendadas por Jorge Amado para integrar o livro “Mulher-Dama”, que acabou não sendo publicado na época por conta das limitações do AI-5.

 

De 21 a 25 de agosto.

Legendas: Arlete Soares

Claudia Jaguaribe

Cristiano Mascaro

Flávio Damm

 

Mauro Restiffe no IMS/MG

14/ago

Em 2012, a convite da revista ZUM, o fotógrafo paulista Mauro Restiffe fotografou o bairro da Luz, região que abriga a famosa Cracolândia e que passava por controversa intervenção municipal e estadual. Em 2013, Mauro Restiffe foi convidado a estender o trabalho e registrar a transformação da cidade no período que antecedeu a realização da Copa do Mundo. A exposição “São Paulo, fora de alcance”, que abre dia 17 de agosto de 2019 no Instituto Moreira Salles, Poços de Caldas, MG, é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.

 

As obras escolhidas para a exposição apresentam a cidade, o espaço urbano e seus habitantes. Longe de cartões-postais, as fotografias atualizam o repertório visual de São Paulo ao olhar para espaços públicos e construções importantes como o Itaquerão, a praça do Relógio, o Templo de Salomão, a praça Roosevelt, o vão livre do Masp e o Museu do Ipiranga. Catálogo da exposição com texto do curador Thyago Nogueira

 

Até 15 de março de 2020.

 

Milhazes em NY

13/ago

A Fortes D´Aloia & Gabriel, anuncia a presença da artista visual Beatriz Milhazes, em segmento à sua vitoriosa projeção internacionalq que estará, a partir de 15 de agosto e até novembro, com “Aquarium”, na Cartier, Hudson Yards.

 

Hamish Fulton na Bergamin & Gomide

A Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, apresenta Hamish Fulton A Walking Artist “Caminhar transforma, andar é mágico. Caminhar é um bom remédio.” Na terceira exposição do ano, a Bergamin & Gomide apresenta a individual do artista britânico Hamish Fulton, entre os dias 13 de Agosto e 05 de Outubro de 2019, reunindo obras que compreendem diversas mídias e períodos ao longo da trajetória do artista, cuja poética dialoga com a experiência do caminhar. Hamish Fulton (Londres, 1946) afirma ser um “artista caminhante” e desenvolve uma pesquisa que evidencia a intenção de transformar ideias em experiências reais. Sua obra não se limita ao ato de caminhar – Fulton é reconhecido pela trajetória singular que possui como essência a fusão entre natureza, fotografia e texto. Na segunda exposição do artista no Brasil, a galeria apresentará 25 trabalhos produzidos desde a década de 1960 até os dias atuais, entre esculturas, desenhos, fotografias e uma obra Site-Specific. A obra “Sem título (EUA, 1969) / Untitled (USA, 1969)” reúne registros fotográficos em preto e branco de uma das muitas vezes em que realizou travessias pela Península Ibérica. Neste trabalho é possível assimilar a experiência sutil e poética do trajeto de Fulton, assim como os obstáculos e descobertas do caminho, representados pela carcaça de um animal, a sombra do tronco de madeira refletida na terra, o desenho circular que se expande no espelho d’água e o rebanho de gado que atravessa a estrada. Também serão apresentados trabalhos com referências ao Nepal e à Noruega; desenhos com linhas que remetem as formas das montanhas combinados a textos que fazem referência aos trajetos percorridos, como no Monte Fuji, na obra “Fuji. Japan” de 1988, e nas montanhas rochosas de Wyoming, na obra “Seven Small Mountains” de 2017. Estarão expostas também obras em que o artista usa a madeira como suporte e cria uma concepção simétrica particular dessas experiências; como na travessia de Serra Nevada na Espanha, com a obra “A Walk to the top of Mulhacen Sierra Nevada Spain Easter” de 1984, e o vulcão Licancabur na fronteira entre Chile e Bolívia, na obra “Licancacur Bolivia” de 2012. Sobre Hamish Fulton: Ao longo de quase 50 anos de carreira, Hamish Fulton realizou exposições individuais e retrospectivas nas mais importantes instituições, como Centre George Pompidou em Paris, MoMA em Nova York e Tate Britain em Londres; participou de exposições coletivas como a Documenta 5 e Documenta 6 em Kassel, e integra os principais acervos mundiais como do National Museum no Japão e o Guggenheim Museum em Nova York. Possui mais de 40 publicações sobre sua obra e as experiências nas viagens ao redor do mundo para países como Nepal, Tibete, Japão, Bolívia, Chile, França, Espanha, Escócia e outros. Sua produção artística envolve recursos diversos como desenhos, textos, fotografias, wall paintings, pinturas, vídeos, caminhadas coletivas em espaços urbanos e projetos editoriais. Embora sua produção artística seja muitas vezes associada à Land Art; aspecto ironizado pelo próprio artista no convite de uma de suas exposições com o uso da frase “ISTO NÃO É LAND ART”; a mesma transborda o conceitualismo normalmente presente em intervenções na natureza, manifestando-se através da diversidade da produção de materiais e do rígido processo de documentação daquilo que experiencia. Rotas, mapas, percursos, diários, datas, fotos, desenhos, colagens e anotações, tudo coexiste e está sob controle do artista. Suas rotas devem ser bem definidas, os mapas de fácil leitura, a barraca e o saco de dormir de alta qualidade e fácil manuseio, seus calçados adequados a cada itinerário, a comida deve estar seca e não ter invólucros que ocupem espaço, e acima de tudo, o artista deve ter um bom livro e um bloco de anotações à sua disposição. O processo criativo de Fulton, isto é, o caminhar, confere à terra uma importante evidência na sua obra, trazendo à tona uma espécie de conhecimento que excede o compreensível. Em sua obra, sem qualquer ato de interferência na natureza, é possível sentir a presença humana, e ver o reflexo da identificação entre artista e homem, ou até uma resposta à necessidade instintiva e primitiva que os seres humanos têm de entrar em contato uns com os outros. Hamish Fulton pode estar nos mostrando, talvez inconscientemente, que antes de ser um artista, ele é um indivíduo. Como ele mesmo declarou, uma caminhada não é uma recriação nem um estudo da natureza, caminhar é uma maneira de melhorar a si mesmo, física e mentalmente, a fim de experimentar um estado temporário de euforia, uma conexão íntima entre sua mente e o ambiente. O caminhar é antigo e contemporâneo; o caminhar é a relação com tudo.

 

A palavra do artista

 

WALKing (Caminhar) é uma palavra de sete letras. Os primeiros sete passos. LUA CHEIA DO SOLSTÍCIO. UMA CAMINHADA DE SETE DIAS NAS MONTANHAS DE CAIRNGORM NA ESCÓCIA. JUNHO 1986. Simplicidade. Caminhar é transformador, caminhar é mágico. Caminhar é um bom remédio. Uma longa caminhada. Hoje 2013, caminhar é mais importante que usar a internet. Wiki-walks. Opinião é uma palavra de sete letras. Caminhar é antigo e contemporâneo. Consistentemente, caminhar é a relação com tudo. LUA CHEIA SOLSTÍCIO INVERNAL. UMA CAMINHADA CONTÍNUA SEM DORMIR PELO CAMINHO DOS PEREGRINOS DE WINCHESTER ATÉ CANTERBUTY. INGLATERRA 21 22 23 DEZEMBRO 1991. (Rotas de peregrinação – uma perda do ego.) Sou o que chamo de um ‘artista caminhante’. Nenhuma dessas duas palavras descrevem uma técnica artística convencional (Não sou um escultor nem um fotógrafo de paisagem.) Não sou um artista conceitual. Transformo ideias em realidades vivenciadas. Sou um artista que anda, e não um andarilho que cria arte. Walking art é a aproximação de duas atividades completamente separadas. CAMINHAR É UMA FORMA DE ARTE POR MÉRITO PRÓPRIO. CAMINHAR É O CONSTANTE, A TÉCNICA DE ARTE É QUE É VARIÁVEL. Com Richard Long, realizei a minha primeira ‘artwalk’ (uma palavra de sete letras) quando era estudante na St Martins em Londres em 2 de fevereiro 1967. Porém levaria ainda mais seis anos para estabelecer progressivamente uma prática de trabalho através de tentativa e erro. (As caminhadas são construídas com regras auto-impostas). 16 de outubro 1973 após a realização de uma caminhada de costa a costa de mais de mil milhas do nordeste da Escócia até o sudoeste da Inglaterra, aos 27 anos, me comprometi com o seguinte: FAZER 100% DE ARTE RESULTANTE DA EXPERIÊNCIA DE CAMINHADAS INDIVIDUAIS. Criatividade. Acredito na diversidade (debate e discussão, concordamos em discordar) Uma diversidade de categorias de caminhadas, uma diversidade de criação de arte, uma diversidade de artistas. Mais importante, uma diversidade de formas de vida, GRAMAS INSETOS. Mercadorias? Os Direitos da Natureza (Oceanos.) Deixar a arte falar por si? Até agora não. Os historiadores de arte nos anos 70 presumiram que a minha walking art se encaixa nos seus temas escolhidos, a saber – pintura paisagista do passado e escultura ao ar livre no presente. Nenhuma pesquisa sobre a caminhada. L.A. Confidentiel: Nunca fui influenciado pelos Românticos e não quero ser associado ao landArt (uma palavra de sete letras.) A colisão entre os E.U.A. ‘não-deixe-rastros’? Para que fique registrado, a data do começo da minha postura foi 1959 quando li sobre a vida de Wooden Leg. da tribo Northern Cheyenne que lutou contra Custer. (25 de junho 1876.) História? História de quem? Justiça? Justiça para quem? Os direitos dos povos indígenas. Dez anos depois, em 13 de setembro 1969 caminhei – com Nancy Wilson, carregando comigo aquele mesmo livro sobre o campo de batalha de Little Bighorn. (Celebridade? Não existem fotografias de Crazy Horse.) Por volta de 1977, precisei ‘escapar’ da arte paisagística (jardinagem e o sistema de classe inglês). Assisti a palestras de alpinistas internacionalmente famosos como Doug Scott e mergulhei na literatura de expedições. Tornei-me um ‘alpinista de poltrona’. GRAVIDADE. Não sou alpinista nem escalador. Não sou científico nem um engenheiro. Sendo caminhante, considero o alpinismo inspirador. Nas palavras do alpinista contemporâneo norte-americano Steve House, ‘O meu machado de gelo pode ser o seu pincel’. Faço caminhadas em cidades. INDOORS (dentro), é uma palavra de sete letras. Acredito em caminhadas solitárias OUTSIDE (ao ar livre) em combinação com acampamento ‘selvagem’. Vida de tenda de acampar, rente ao chão, mais perto da natureza. Gramas, insetos. Posso caminhar o dia inteiro, mas não sou um caminhante rápido. Slowalk (caminhada lenta), é uma palavra de sete letras. No Tate Modern (30 de abril 2011) realizei uma caminhada comunitária indoor chamada, slowalk em apoio a Ai Weiwei. Protegido pelo Estado de Direito? T.A.A. Trekking de alta altitude. No 49º dia da expedição ficamos imóveis no topo do monte Everest, Chomolungma. Bardo. Essa experiência só me foi possível graças aos meus guias xerpas. Fui guiado por Ang Dorje xerpa de Pangboche. Alto e baixo, perto e longe. longe e há muito tempo atrás. Uma boa pergunta é, até onde você consegue andar?. Até a presente data, a minha caminhada mais extensa cobriu uma distância de 2838 quilômetros (carregando toda a minha bagagem), costa a costa da Espanha até os Países Baixos. CAMINHANDO NA DISTÂNCIA ALÉM DA IMAGINAÇÃO. É importante ressaltar que essa caminhada não muito longa foi ‘fácil’. Uma caminhada muito mais difícil, ‘cheia de nós’, duraria uma mera fração dessa duração. Os alpinistas me ensinaram a importância da rota e do estilo. Depois de vários anos de tentativas fracassadas, finalmente consegui: CONTAR 49 PASSOS DESCALÇOS NO PLANETA TERRA DURANTE CADA NOITE DAS DOZE LUAS CHEIAS DE 2010. Minha pegada de carbono oculta. Apenas uma consequência de persistentemente ignorar a natureza é o aquecimento global. Quem se importa com datas? Números é uma palavra de sete letras. Ursa Maior. Quipu. Horário do relógio, duração da vida, morte. Primavera, verão, outono, inverno. A migração das baleias, a migração das borboletas. (Calendário lunar.) No thing (nenhuma coisa), é uma palavra de sete letras. Tudo é feito de alguma coisa. Uma montanha não é feita de pedra, ela é pedra. UM OBJETO NÃO PODE COMPETIR COM UMA EXPERIÊNCIA. Desde 1973 toda obra de arte que eu materializei (coisas) contém um texto sobre a caminhada. Não proporciono o alivio de uma arte sem palavras. (Também não crio arte abstrata.) NÃO HÁ PALAVRAS NA NATUREZA. O peso físico de palavras (faladas). Talk the walk (“pratique o discurso”), A CAMINHADA É A ARTE. ARTE PEQUENA EXPERIÊNCIA GRANDE. Caminhar é transformador, caminhar é mágico. Kora Tibetana. Monjas tibetanas. Os derradeiros sete passos. Até o momento em que escrevo, 99 tibetanos têm se auto-imolado. História? História de quem? Hamish Fulton, 2013.

 

 

Grupo de Bagé na FIC

09/ago

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, vai homenagear o “Grupo de Bagé”. Até a abertura da mostra, serão realizadas diversas atividades gratuitas sobre a história de um dos grupos artísticos mais relevantes do país, formado por quatro jovens que tinham a necessidade de expressar seus traços e pensamentos sobre o mundo e a própria vida.

 

Neste sábado será exibido o documentário “Grupo de Bagé”, de Zeca Brito, seguido de bate-papo com o diretor e o cineasta e historiador de arte Giordano Gio. O longa-metragem destaca a trajetória e o legado dos pintores e gravadores gaúchos Carlos Scliar (1920–2001), Danúbio Gonçalves (1925–2019), Glauco Rodrigues (1929–2004) e Glênio Bianchetti (1928–2014), nomes de frente de um movimento artístico surgido nos anos 1940 que alcançou projeção nacional com trabalhos abordando temáticas realistas e de denúncia social.

 

O documentário conta com depoimentos de teóricos como Néstor García Canclini e Nicolas Bourriaud e de artistas plásticos que incluem Anico Herskovits e Cildo Meireles, entre outros, que investigam a trajetória do grupo. “Buscamos recuperar e compreender os elementos que estabeleceram as condições para que os jovens artistas alcançassem uma identidade estética própria e, cada um a sua maneira, conduzissem os ideais e as características artísticas e políticas do grupo que criaram”, destaca o diretor Zeca Brito.

 

 

No Martins na Baró

08/ago

A Baró, Jardins, São Paulo, SP, exibe até 14 de setembro, “Campo minado”, a primeira exposição do artista No Martins na galeria. A curadoria é de Hélio Menezes. Durante a abertura aconteceu a performance “Em território hostil”.

 

Sobre o artista

 

No Martins nasceu em São Paulo, Brasil, 1987. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. No Martins teve seus primeiros contatos com as artes visuais nas ruas de São Paulo, através da Pixação e do Graffiti, em 2003, aos 16 anos. Por conta de sua curiosidade em conhecer novas linguagens artísticas passou a frequentar os ateliês de gravura da Oficina Cultural Oswald de Andrade entre 2007 e 2011, onde foi aluno de artistas como Rosana Paulino, Kika Levy, Ulysses Bôscolo e outros. Cursou Licenciatura em História e Artes Visuais. Entre as exposições que participou, se destaca a Histórias Afro-atlânticas no MASP e Instituto Tomie Ohtake, eleita pelo New York Times a principal exposição de 2018. No segundo semestre 2019 No Martins é um dos 55 artistas participantes da 21ª Bienal SESC VideoBrasil, e terá ainda em 2019, individuais no CCSP e no Instituto Pretos Novos no Rio de Janeiro – RJ. Sua produção artística transita em meio a pintura, performance e experimentação com objetos, nas quais Martins investiga as relações interpessoais cotidianas, principalmente a convivência do Negro(a), no cotidiano urbano, problematizando questões de territorialismo, acesso, racismo, mortalidade e encarceramento da população negra brasileira.

 

Um campo minado é, por definição, um terreno repleto de armadilhas subterraneamente prontas para machucar, ou mesmo destruir, todos que tentem atravessar uma determinada área. Uma espacialização de aparatos repressivos, artifício de obstrução de passagem, de impedimento de circulação. A expressão também nomeia um jogo popular de computador, cujo funcionamento reproduz a lógica explosiva da tática de guerra: um passo em falso, um descuido, e o lugar que antes parecia seguro, logo se revela um gatilho. O termo serve também de boa metáfora para os territórios segregados da vida social brasileira, repletos de perigos escondidos: para certos corpos, a experiência de atravessar as fronteiras invisíveis que dividem a cidade em CEP, cor e classe, equivale à de atravessar um campo minado. De transitar em espaços nos quais um mero desvio ou desencontro pode acionar conflitos incendiários no dobrar da esquina. Essa matéria do cotidiano urbano, de um Estado policialesco, uma sociedade desigual, uma vida vigiada e catracalizada, se converte em centro de interesse e experimentação no trabalho de No Martins. Em Campo Minado, o artista paulistano, nascido e residente à zona leste da cidade, apresenta um conjunto de obras que disseca as camadas de um racismo expressamente urbano, no qual o direito elementar de ir e vir é praticado ou restringido de maneira desigual entre negros e brancos, entre periferia e centro. Com referências autobiográficas e explorando diferentes linguagens – entre pinturas, objetos, vídeos, instalação -, a mostra individual de No Martins traduz e relê temas da ordem do dia, como o encarceramento em massa crescente, a seletividade penal flagrante do sistema judiciário, o racismo estrutural, a violência estatal abusiva e o crescimento do discurso militarista na sociedade brasileira. A obra que empresta nome à mostra é boa pista para o entendimento do conjunto. Nela, o artista se faz autorretratar de costas em escala humana, posicionado em situação de enquadro. Não é dado ao observador ver seu rosto: ao entrar em contato com a obra, somos deslocados a ocupar momentaneamente o lugar da polícia no momento da abordagem, fitando-o como o veria um agente de segurança pública. Somos, desse modo, como que convocados a entendermo-nos parte corresponsável pela cena que se configura à frente – violenta, mas absolutamente cotidiana para “indivíduos fora do padrão” como o artista: negro, jovem, periferizado. CAMPO MINADO A pintura horizontal em pedaços assimétricos de lona, cores marcantes e luminosas, a exploração de signos distintivos e elementos alegóricos (placas proibitivas de trânsito, câmeras de vigilância, letreiros de sinalização), uma expressividade que ecoa um muralismo da arte de rua, reforçam e instauram um ar de urgência, de alerta e gravidade. O contraste complementar com Sem título, retrato vertical e sensível de um agente policial fardado, mas descalço, complexifica a exploração do tema e desfaz maniqueísmos apressados. Com pés que remetem aos do Mestiço de Portinari, a ausência de sapatos faz ressaltar a pessoa, o sujeito negro por detrás do uniforme, seu mundo interior para além (ou aquém) do ofício. Se recordarmos que na história do Brasil o uso de calçados era interdito aos escravizados, convertendo-se em símbolo distintivo de liberdade, a composição ganha novos contornos. O trabalho de No Martins não busca conciliação, não está à cata de boas maneiras. Uma linguagem direta, sem rodeio, em obras como Expediente e 111 dividido por 5, engendra efeitos de denúncia, mas também convite à ação, à saída da letargia diante de um estado de sítio. A busca por uma reflexão sobre o momento presente, o agora, é marca e potência poética de sua produção. Nada parece escapar ao seu olhar: o assassinato de cinco jovens com 111 tiros pela polícia (o número de balas equivale, espantosamente, ao presidiários mortos no massacre do Carandiru); a profissionalização do tráfico de drogas e sua promiscuidade com a política institucional; o estrangulamento de um jovem negro por um golpe de “gravata” dado por um agente de segurança de supermercado. Episódios de violência cotidiana que informam um produção artística deliberadamente politizada, em consonância com movimentos mais contemporâneos da arte preocupados em influir e desejosos de atuar sobre o curso da vida.

 

 

Arrechea/Nara Roesler, Ipanema

Fragmentos e camadas de cores dão forma a máscaras carregadas de simbologia. Essa é a temática da exposição “Superfícies em conflito” do cubano Alexandre Arrechea, que após mais de uma década atuando junto ao coletivo Los Carpinteros, apresenta mostra individual no Rio de Janeiro. A exposição fica em cartaz até o dia 31 de agosto, na Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de janeiro, RJ e apresenta 12 trabalhos em diversos suportes, que vão das tradicionais telas à tapeçaria, papéis artesanais de cânhamo, linho e algodão, e videoinstalação.

 

As obras nos remetem, em um primeiro momento, às máscaras africanas, impressão essa confirmada pelo curador Rodolfo de Athayde, que destaca em texto curatorial as influências de Picasso e Malevich. As máscaras de Arrechea, sem olhos e sem bocas, de aparência enigmática, podem ser lidas a partir da problemática cubana com relação a liberdades e direitos humanos.

 

Mas esses trabalhos vão além: evocam estruturas urbanas, tanto em sua construção – que utiliza linhas, sulcos, texturas e sobreposições geométricas, lembrando os tradicionais bairros cubanos, suas casas e arquitetura – quanto na intenção de revelar, também filosoficamente, “as camadas da ação humana no tempo”. Dessa forma, o que inicialmente pode parecer uma obra de rápida assimilação, oferece, em seguida, outras possibilidades interpretativas.

 

5 mostras no Paço Imperial

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou seu terceiro bloco de exposições de 2019, com individuais de cinco artistas contemporâneos: Amador Perez, Angelo Venosa, Elizabeth Jobim, Jonas Arrabal e Paiva Brasil.

 

A programação se estende até 27 de outubro, contempla expressões diversas, como pintura, escultura, fotografia e instalação.

 

 

Longo Bahía na Argentina

A artista brasileira Dora Longo Bahía está na Sala de Audiovisual do Parque de La Memória, pela Bienal Sur (Bienal Internacional de Arte Contemporáneo de América del Sur). Parque de la Memoria – Monumento a las Víctimas del Terrorismo de Estado, Av. Costanera Norte Rafael Obligado 6745, Adyacente a Ciudad Universitaria, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina.

 

“Choque” leva o título da unidade antidistúrbios da polícia brasileira, também conhecida como “Tropa de Choque”, uma divisão treinada e equipada para reprimir multidões e protestos no espaço público. A videoinstalação de Dora Longo Bahía, de profunda potência visual, questiona criticamente os métodos que os poderes do Estado aplicam para suprimir as forças de resistência. Assim, longe de se estabelecer como símbolo de proteção, as forças policiais transmitem em “Choque”, uma filosofia do medo e, embora a obra ancore sua base conceitual na realidade histórico-política do Brasil contemporâneo, a narrativa visual implantada pela artista encontra ressonâncias semelhantes em várias cidades ao redor do planeta.

 

Sobre a artista

 

Dora Longo Bahía nasceu em São Paulo, 1961. Artista visual e doutora em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo. Seus trabalhos são desenvolvidos em várias mídias, incluindo pintura, fotografia, vídeo, instalações sonoras e livros. Sua ligação com o punk rock dos anos 1980 levou-a a participar de diferentes bandas como Disk-Putas e Blah Blah Blah. Dora Longo Bahía se define como um produtor de imagens e suas obras tratam, sem buscas retóricas, da violência do mundo contemporâneo.

 

Até 13 de outubro.

 

Dois na Kogan Amaro

06/ago

A partir de 08 de agosto e até 06 de setembro, a Kogan Amarao, Jardim Paulista, São Paulo, SP, exibe duas exposições: “A verdade está em tudo, mesmo no erro”, do multiartista Fabiano Rodrigues, que usa do ideário de Moholy Nagy para reunir colagens e fotomontagens a partir de negativos de até cem anos atrás e Felipe Góes, com “Cataclismo”, no mezanino da galeria, paisagens surreais, em que lava e água coexistem e se confundem, habitando as telas do pintor abstrato-figurativo.

 

 Fabiano Rodrigues

 

A verdade está em tudo, mesmo no erro

 

“O inimigo da fotografia é a convenção, as regras fixas de “como fazer”. Sua salvação vem da experimentação. O artista experimental não tem ideias preconcebidas, não acredita que a fotografia seja somente como é conhecida hoje – exata repetição e representação da visão costumeira. Não pensa que os erros devam ser evitados. Ousa chamar de ‘fotografia’ todos os resultados alcançados pelos meios fotossensíveis, com câmera ou sem.”

 

O texto acima foi escrito na década de 20 pelo artista húngaro e professor da Escola Bauhaus László Moholy-Nagy (1895-1946), um experimentador incansável, dos exponentes do Modernismo europeu que ajudaram a mudar os rumos da arte. Quase um século depois, ainda revolucionário, serve agora de tripé ao fotógrafo Fabiano Rodrigues, 45.

 

Para criar sua mais recente série de trabalhos, ele deixa a câmera na gaveta. Resgata imagens de sebos e álbuns de família esquecidos pela História. Desdobra-se em colagens e fotomontagens a partir de 400 negativos das décadas de 50 e 60, quando as máquinas fotográficas caíram no gosto popular. Em suas experiências, não abre mão dos erros. Pelo contrário, põe-se a explorá-los, trazendo à luz uma outra realidade, mais plástica.

 

A ideia é dar aos registros uma nova interpretação, ressignificá-los de maneira irreverente. Após recortadas, as fotos integram montagens estranhas, meio surreais, meio fantasmagóricas. Homens e mulheres que têm seus rostos mutilados pelas lâminas precisas do artista. Despedaçados, reconfiguram-se de maneira invertida, bem ao estilo de Moholy-Nagy.

 

Numa delas, um evento social que reúne engravatados, Rodrigues segmenta as silhuetas masculinas e as ambienta em situações habituais, de comportamento e gestos masculinos, em fundo negro, infinito, como se estivessem flutuando no abismo profundo. Imagens antes abandonadas, jogadas ao anonimato. São mais de 60 ou 70 anos desde que foram captadas. Algumas até mais antigas, de 1915. Fotografia nostálgica, carregada de melancolia, que registra este fenômeno inexorável à passagem do tempo, espécie de congelamento no passado de pessoas que talvez nem mais existam, levando seus fragmentos até o presente de gente que sequer as conhece.

 

Em sua pesquisa, o artista topou com alguns filmes publicitários de máquinas fotográficas da época. E aproveitou para também transformá-los em colagens. Frames comerciais e imagens em movimento se misturam a trechos de músicas e sons aleatórios. O resultado é um vídeo estridente.

 

O artista de Santos (SP) já não era convencional antes, ao documentar o universo dos praticantes de skate – sua tribo, já que ele mesmo é skatista profissional. Em meio à adrenalina e durante saltos, piruetas e voos inacreditáveis, fotografava solto no ar ou em velocidade vertiginosa, dentro de museus e edifícios com arquitetura marcante, desafiando os limites institucionais. Disparava a distância um obturador remoto, o que exigia boas doses de precisão.

 

Nesta nova fase de sua obra, Fabiano arrisca-se na experimentação ao deixar a máquina fotográfica na gaveta, mais maduro pelo tempo, parte radicalmente para a pesquisa de imagens já existentes. Agora desenha recortando, cortando e colando. Junta essas fotografias e negativos de época e lhes dá sobrevida na contemporaneidade ao resgatá-los do passado. Cria assim, inusitadas imagens de segunda geração.

 

São estranhas, é o que poderia dizer no mínimo sobre essas imagens resultadas do gesto simples de recortar, colar e sobrepor partes da mesma fotografia.

 

Curadoria

Ricardo Resende

 

 

Felipe Góes

 

Também a partir de 08 de agosto, entra em cartaz a mostra individual de Felipe Góes, “Cataclismo”, no mezanino da Kogan Amaro. Paisagens surreais, em que lava e água coexistem e se confundem, habitam as telas do pintor abstrato-figurativo. “Se alguns pintam a partir da fotografia de uma paisagem, e outros, da memória de tal lugar, me coloco em um terceiro círculo, misturando lembranças de vários destinos. Dessa forma, crio uma localização parcialmente irreal”, conta o artista.

 

 

Cataclismo

 

No começo havia apenas a desordem. O único deus era o Caos, que reinava no nada e sozinho. Ele, então, decide criar Gaia, mãe-terra e força primordial do universo. Assim começa a origem do mundo na mitologia grega, de onde o cataclismo se ergue e a transformação impera. Paisagens surreais, em que lava e água coexistem e se confundem, habitam nosso imaginário e também as telas do artista plástico Felipe Góes.

 

Um entardecer onírico une as obras do paulistano, de 36 anos, todas compostas por intensas pinceladas que passeiam entre William Turner e Gerhard Richter, ora feitas em tinta acrílica, ora em guache. “Há quase um ano, tenho migrado meu trabalho para esse lugar imaginário, em um processo constante de renovação, que vai das formas à paleta, passando pelas dimensões das obras, que tomam cada vez mais corpo”, explica.

 

Se antes seguia campos de cor para dar ritmo ao trabalho – processo que reconhecemos na obra de artistas como Paulo Pasta (de cujo grupo de estudos Góes fez parte entre 2008 a 2012) –, agora, ele entrelaça tais tonalidades, deixando essas áreas mais mescladas e difusas. “Essa transformaçãoEnte recente coincide com o período mais intenso de interlocução com o artista Rubens Espírito Santo”, conta.

 

O figurativo é outro elemento que cresceu na produção do artista. Ligado a certo expressionismo na pincelada, mudou a incidência de luz e sombra em suas telas. Tais características fazem de Góes parte de uma nova geração de pintores abstrato-figurativos que tem alcançado êxito na cena artística, formada por nomes como Daniel Lannes, Marina Rheingantz, Bruno Dunley e Rodrigo Bivar. “Se alguns pintam a partir da fotografia de uma paisagem, e outros, da memória de tal lugar, me coloco em um terceiro círculo, misturando lembranças de vários destinos. Dessa forma, crio uma localização parcialmente irreal.”

 

A natureza exuberante permeia esses registros, como uma espécie de catalogação de lugares inexistentes – todos cobertos pela penumbra mágica das cores do nascer e do pôr do sol. Alguns deles sugerem a presença humana, seja em um farol, em uma ponte ou em uma construção não definida. Uma forma de fazer possível nossa passagem por esse mundo de cataclismos.

 

Curadora

Ana Carolina Ralston