Selfie na Fundação Iberê Camargo

02/jul

A Fundação Iberê, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 06 de julho dois andares da exposição “#Selfie: Iberê em modo retrato”. O quarto andar será ocupado com 13 fotos para documentos do artista e outras 36 de Iberê retratando personalidades, como a mãe Doralice Bassani Camargo, Vasco Prado, Sivuca e Adriana Calcanhotto. No terceiro, as três salas serão totalmente interativas, com espelhos e iluminação especial para selfie do público.

 

Diferente do que muitos imaginam, o autorretrato não é algo relativamente novo. A primeira selfie foi feita em 1839 pelo metalúrgico Robert Cornelius, pioneiro na fotografia dos Estados Unidos. Na época, os autorretratos eram o tipo mais comum de fotografias, compreendendo um número estimado de 95% dos daguerreótipos sobreviventes. Na pintura, se afirmou no século 14 e passou a ocupar um lugar de destaque na arte europeia, atravessando diferentes escolas e estilos artísticos.

 

A difusão da retratística acompanhava os anseios da corte e da burguesia urbana de projetar suas imagens na vida pública e privada. Paralelamente aos retratos realizados sob encomenda, e a outros concebidos com amigos e familiares, os artistas produziam uma profusão deles que funcionavam como meio de exercitar o estilo, como instrumento de sondagem de estados de espírito e também como recurso para a tematização do ofício.

 

Iberê retratista

 

Ao longo da vida, Iberê Camargo criou diferentes representações de si mesmo. Pintava-se sob um olhar interior que o mostrava como uma máscara, um enigma, o arquétipo da insondável natureza do homem: “Pinto porque a vida dói”.

 

Para ele, “[…] retratar-se revela narcisismo, todos os pintores o são. Na sucessão de minha imagem no tempo, ela se deteriora como tudo que é vivo e flui. Muitas vezes, me interroguei diante do espelho. No passar do tempo, nos transformamos em caricaturas”, dizia Iberê.

 

A selfie é, portanto, a forma mais expansionista de autoexpressão visual. É algo especialmente fascinante como o ato de retratar a si mesmo tenha sobrevivido a tantas passagens, transformações e movimentos que a arte atravessou em sua história.

 

Até 29 de setembro.

Light Art Rio no Oi Futuro

01/jul

O Oi Futuro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, abre dia 07 de julho a exposição “Light Art Rio”, dedicada à light art (arte da luz), com instalações e esculturas de luz de artistas contemporâneos. A curadora Fernanda Vogas convidou três artistas que incorporam a luz como elemento principal de criação para expor obras no projeto, em cartaz no Centro Cultural Oi Futuro até 28 julho.

 

A mostra inclui obras dos artistas Alexandre Mazza (PR), Anaisa Franco (SP) e Carmen Slawinski (RJ). Tomando como ponto de partida o uso da luz para alterar a percepção dos espaços na arte contemporânea, os trabalhos dos artistas exploram temáticas de cor, tempo, luz artificial, projeção e tecnologia. De instalações a esculturas, os visitantes experimentarão a luz em suas diversas formas sensoriais e espaciais.

 

O artista Alexandre Mazza vai apresentar trabalhos de diferentes épocas que possuem como unidade a água. A obra “Água-viva” de 2012 propõe ao visitante uma reflexão sobre a relação do natural e do artificial. A obra “Bússola”, de 2017 foi pensada durante uma expedição imersiva de 20 dias do artista no Salar de Uyuni, a maior planície de sal do mundo, na Bolívia, e traz a imagem de uma bússola boiando em um riacho sobre uma rolha de cortiça, em busca de orientação. As obras “Águas I, II, III e IV” de 2019, expressam a força e a potência de uma queda d´água contínua de cachoeiras. Atualmente, o artista também apresenta a exposição “Somos sua luz”, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, em Ipanema, até o dia 13 de julho.

 

A artista Anaisa Franco vai apresentar a obra “Sistema circulatório”, uma escultura de luz que é conectada à internet por um software que mapeia todo o tráfego das companhias aéreas. O software cria centenas de linhas de luz que representam todas as rotas dos aviões que estão voando, em tempo real, por todo o planeta. No ser humano, o sangue circula, transporta e entrega os nutrientes e oxigênio necessários para as células. A obra cria uma metáfora entre a circulação do corpo humano, que distribui nutrientes e oxigênio, e o transporte aéreo, que conecta distâncias e culturas.

 

A artista Carmen Slawinski vai apresentar uma obra criada especialmente para o projeto.  A obra “A cor que habito”, feita com planos de fios brancos iluminados, delimitam campos de cor-luz, criando um ambiente imersivo, onde o visitante mergulhado na cor experimentará a luz em suas formas sensoriais. A artista cria uma nova arquitetura para a sala de exposição através de luz.

 

Sobre a curadoria e os artistas

 

 

FERNANDA VOGAS

 

Idealizadora e curadora, é Mestra em Artes Visuais pelo PPGAV – UFRJ e graduada em comunicação social. Foi aluna da Escola Massana – Centre d’Art i Disseny em Barcelona e frequentou as aulas de filosofia dos professores Francisco Elia e Ivair Coelho. Seu currículo apresenta filmes experimentais premiados e exibidos no Göteborg International Film Festival (Suécia), Copenhagen Art Festival (Dinamarca), TousEcrans Festival (Suíça), Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano (Cuba), CefalùFilm Festival (Itália), entre outros. Em 2010 foi selecionada para participar do projeto Gesamt, filme-instalação idealizado pelo cineasta Lars Von Trier. Disaster 501: WhatHappenedto Man? Em 2017 criou o Acusmática Visual ao lado do artista espanhol Xabier Monreal, um projeto de arte sonora com participações em festivais como o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (2018), Bogotá Short Film Festival (2018), Arquivo em Cartaz (2018) e Mostra do Filme Livre (2018)

 

ALEXANDRE MAZZA

 

Artista com formação musical, trabalhou durante 18 anos como baixista e compositor e passou a se interessar pela luz e pela eletricidade. Desde 2008 se dedica somente ao que chama de “multiplicação da luz”, utilizando diversos materiais, tais como espelhos, vidros, metais, lâmpadas, acrílicos e madeira. É principalmente através dos objetos que o artista confronta seus espectadores com jogos visuais: com o que se vê e o que se acredita ver, com o que está ali e o que se imagina estar. Indicado ao prêmio Pipa em 2012 e 2014, o artista já apresentou seus trabalhos em exposições no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ), no Centro de Artes Hélio Oiticica, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, entre outros. Suas obras estão em diversas coleções privadas e públicas como a do MAM RJ e do Museu de Arte do Rio (MAR).

 

ANAISA FRANCO

 

Artista, cria interfaces que ligam o físico com o digital, utilizando conceitos da psicologia e das ciências cognitivas. Desde 2006 tem desenvolvido trabalhos em Medialabs, residências e comissões em Instituições. É mestre em Arte Digital e Tecnologia pela Universidade de Plymouth na Inglaterra, financiada pela Bolsa Alban e Bacharel em Artes Plásticas pela FAAP em São Paulo. Tem exibido internacionalmente em exposições como 5th Seoul International Media ArtBienalle em Seoul na Korea, ARCOmadrid, Vision Play no Medialab PRADO, Sonarmática no CCCB em Barcelona, Espanha. Tekhné no MAB e Mostra LABMIS em Sao Paulo, Live Ammo em Taipei, entre muitas outras.

 

CARMEN SLAWINSKI

 

Artista plástica e lighting designer, expôs seus trabalhos de pintura em Paris, Mônaco, Cagnes Sur Mer e La Garde. Em 1993 a luz entra na sua pintura e expõe no Centro Cultural Cândido Mendes (Ipanema) 1996 e no Museu Nacional de Belas Artes em 1998. Criou em 1999/2000 iluminação cinética para a fachada do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio. Em 2002, fez a iluminação “Alice e o Barão na Cidade Maravilhas” no interior do túnel da rua Alice, ligando Laranjeiras ao Rio Comprido. Em 2008 realizou a instalação “Contenções” no Centro Cultural Parque das Ruínas. Em 2013 apresentou a obra “Tecendo planos com fios de luz” no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio. Em 2015, criou o projeto de iluminação do Projeto Paixão de Ler no Museu de Arte do Rio – MAR.

Vik Muniz na Paulo Darzé

27/jun

Vik Muniz é artista plástico, fotógrafo e pintor, conhecido internacionalmente por usar materiais inusitados em suas obras, como lixo, açúcar e chocolate. Pela primeira vez na Bahia, não só com uma individual, apresentando a criação de novas obras, a exposição Handmade retoma caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. A abertura acontece no dia 04 de julho, das 19 às 22 horas, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, com temporada até 10 de agosto.

 

No dia 05 de julho, o artista abre uma nova mostra no Museu de Arte Moderna, Solar do Unhão, sob o título Imaginária, trabalhos criados a partir de milhares de recortes de catálogos de exposições, onde revisita a arte sacra, através das figuras dos santos. “Os santos, exemplos de pessoas que colocaram a sua fé acima da própria vida, sempre exerceram um enorme fascínio nas mentes artísticas. Não é por coincidência que a história da arte esteja tão relacionada à história da fé. Grande parte do que admiramos na história da arte está objetivamente relacionada à arte sacra e, subjetivamente, ao ato de acreditar. Eu, como artista contemporâneo, sempre ansiei compartilhar os temas que tanto colaboraram para o desenvolvimento da cultura das imagens”.

 

HANDMADE

 

O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude nesta mostra à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão, onde traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem. Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz, “esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência”. Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas vai, além disso, ao lançar mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.

 

Handmade explora a natureza da percepção, da realidade e da representação, e desafia questões de materialidade. As obras de Handmade remetem aos princípios fundamentais da arte abstrata propriamente dita – cor, composição, forma e ritmo – e se servem de conexões com movimentos da arte abstrata, como a op art, a arte conceitual e o construtivismo. As obras são excepcionalmente ricas em alusões, exigindo dos espectadores o direcionamento da atenção para os próprios materiais e os levando a refletir sobre o seu processo de criação. Como sugere o título da série, estas obras únicas são resultado de um processo híbrido que integra elementos artesanais ou físicos – sobretudo pintura e colagem – com fotografia digital de alta resolução. Estes estudos abstratos e materiais convidam o espectador a investigar mais de perto a dicotomia entre o objeto físico e sua representação, e, ao mesmo tempo, reinventam as possibilidades de construção da imagem fotográfica. A complicada relação imagem-objeto ressaltada nestas obras funciona sempre nos dois sentidos. O que se espera que seja uma foto não é; e o que se espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica. Numa época em que tudo é reproduzível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe. Os resultados da investigação e da experimentação são complexas composições, cada obra individual apresentando combinações de diferentes técnicas – papel e papelão são pintados, recortados e organizados em uma superfície, e em seguida são fotografados para poderem ser manipulados novamente. Depois são reorganizados e fotografados de novo, criando, assim, múltiplas camadas de volume, sombras e planos pictóricos. As formas geométricas simples e as cores primárias criam uma tensão e uma impressão de movimento dinâmico. Ao criar diferentes camadas que revelam elementos subjacentes e suas fotografias, inventa-se uma verdadeira trompe-l’œil onde os objetos e seus correspondentes fotográficos se entrelaçam em um jogo visual de ilusões.

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em São Paulo, no dia 20 de dezembro de 1961. Formou-se em Publicidade na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, em São Paulo. Em 1983, mudou-se para Nova Iorque. Atualmente vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar à Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. A partir desta data, começou a desenvolver trabalhos que faziam uso da percepção e representação de imagens usando diferentes técnicas, a partir de materiais como o açúcar, chocolate, catchup, gel para cabelo e lixo. Naquele mesmo ano, criou desenhos de fotos que memorizou através da revista americana Life. Fotografou os desenhos e a partir de então, pintou as fotos para conferir um ar de realidade original. A série de desenhos foi denominada “The Best of Life”. Vik Muniz fez trabalhos inusitados, como a cópia da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, usando manteiga de amendoim e geleia, como matéria prima. Com calda de chocolate, pintou o retrato do pai da psicanálise, Sigmund Freud. Também recriou muitos trabalhos do pintor francês Monet. Alcançou reconhecimento internacional como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, trabalhando com uma surpreendente variedade de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de registrá-las com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e envolvendo de maneira divertida o processo de percepção do espectador. Sua produção mais recente propõe um desafio ao público ao apresentar trabalhos que colocam o espectador constantemente em xeque sobre os limites entre realidade e representação, como atesta a obra Two Nails (1987/2016), cuja primeira versão pertence ao MoMA de Nova York. Em 2005, Vik lançou um livro denominado “Reflex – A Vik Muniz Primer”, contendo uma coleção de fotos de seus trabalhos já expostos. Uma de suas exposições mais comentadas foi denominada “Vik Muniz: Reflex”, realizada no University of South Florida Contemporary Art Museum, também exposta no Seattle Art Museum Contemporary e no Art Museum em Nova York. O processo de trabalho consiste em compor imagens com os materiais, normalmente perecíveis, sobre uma superfície e fotografá-las, resultando no produto final de sua produção. Em 2010, foi produzido um documentário intitulado “Lixo Extraordinário” sobre o trabalho de Vik Muniz, com catadores de lixo de Duque de Caxias, cidade localizada na área metropolitana do Rio de Janeiro. A filmagem recebeu um prêmio no festival de Berlim na categoria Anistia Internacional e no Festival de Sundance. O artista também se dedicou a fazer trabalhos de maior porte. Um deles foi uma série de Imagens das Nuvens, a partir da fumaça de um avião, e outras feitas na terra, a partir do lixo. No dia 7 de setembro de 2016, na abertura dos “Jogos Paraolímpicos Rio 2016″, Vik Muniz, um dos diretores da cerimônia, criou uma obra de arte formada por peças de um quebra-cabeça que eram levadas por cada delegação, com o nome do país de um lado e a foto dos atletas do outro. Cada peça era colocada no centro do palco do Maracanã, e com a colocação da última peça, pelo artista, formou-se um enorme coração que começou a pulsar com o uso de projeção de luzes. A obra de arte fez referência ao conceito central da cerimônia resumido na frase: “O coração não conhece limites”. Uns dos mais recentes trabalhos de Vik Muniz são os 37 mosaicos que decoram as paredes internas do novo trecho do metrô de Nova Iorque, que liga a Rua 72 à Segunda Avenida. Inaugurado em dezembro de 2016, obra que durou três anos para ser concluída, e que explora os diversos tipos de frequentadores do metrô de Nova Iorque. Nesta sua trajetória vem realizando prestigiadas exposições em instituições como o International Center of Photography, New York; Fundació Joan Miró, Barcelona; Museo d’Arte Contemporanea, Rome; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Tel Aviv Museum of Art e Long Museum, Shangai. Suas exposições recentes incluem Vik Muniz: Handmade (Nichido Contemporary Art, NCA, Tóquio, Japão, 2017); Afterglow: Pictures of Ruins (Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017); Vik Muniz (Museo de Arte Contemporáneo, Monterrei , México, 2017); Vik Muniz: A Retrospective (Eskenazi Museum of Art, Bloomington, EUA, 2017); Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Escola Vidigal – 15ª Mostra Internazionale di Architettura | La Biennale di Veneza (Veneza, Itália, 2016); Une Saison Brésilienne | Vik Muniz na Coleção Géraldine e Lorenz Bäumer (Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza, (Naval Environment of Venice, Itália, 2015) e Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015).

 

Em 2001, representou o Brasil no Pavilhão da 49a Bienal de Veneza. Em dezembro de 2008, o MoMA sediou Artist’s Choice: Vik Muniz, Rebus, como parte de uma série de exposições com artistas convidados. Também foi convidado da edição do ano 2000 da Bienal de Whitney, no Whitney Museum of American Art; da 24ª Bienal Internacional de São Paulo; e da 46ª Corcoran Biennial Exhibition:Media/Metaphor, na Corcoran Gallery of Art em Washington, DC. Seus trabalhos fazem parte de coleções de arte públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York;Guggenheim Museum, New York; Tate, London; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Tate Gallery, Londres; Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri; e do Museum of Contemporary Art, Tokyo. O trabalho do artista também é tema do filme Lixo Extraordinário (Waste Land), indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010. Em 2011, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.

#tbt na Carpintaria

25/jun

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a mostra coletiva #tbt com seleto elenco de artistas da cena contemporânea nacional como Adriana Varejão, Barrão, Beatriz Milhazes, Carlos Bevilacqua, Erika Verzutti, Ernesto Neto, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, Janaina Tschäpe, Leda Catunda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mauro Restiffe e Valeska Soares.

 

De acordo com a linguagem do Instagram, a hashtag #tbt – sigla para “throwback thursday” ou em tradução livre “lembrança de quinta-feira” – é utilizada para legendar imagens que datem de algum momento do passado, seja ele longínquo ou recente. A exposição toma este deslocamento temporal como mote para reunir obras realizadas entre a década de 80 e o início dos anos 2000, investigando as diferentes poéticas e temáticas presentes no limiar da produção dos artistas que integram o conjunto. O impulso de lançar um olhar retroativo ao presente evoca o famoso quote do teórico canadense Marshall McLuhan: “olhamos o presente através de um espelho retrovisor, marchamos de costas em direção ao futuro”.

 

Na ocasião da abertura, a Editora Cobogó promove o lançamento do livro de Carlos Bevilacqua no Rio de Janeiro, monografia que percorre os 30 anos de carreira do artista carioca através de reproduções de obras, estudos e anotações. A publicação conta com introdução do próprio artista, depoimentos de colegas, texto crítico de Paulo Sergio Duarte e entrevista concedida a Luiz Camillo Osorio.

 

De 27 de junho a 27 de agosto.

 

 

Reminiscências/Livro e exposição

 

Em sua nova exposição na Fortes D’Aloia & Gabriel, Carlos Bevilacqua apresenta uma instalação, esculturas e aquarelas que operam na tensão permanente entre instabilidade e equilíbrio, no intervalo semântico definido por ele como “instante poético”. Durante a abertura, a Editora Cobogó promove o lançamento do livro do artista carioca, monografia que percorre seus 30 anos de carreira através de reproduções de obras, estudos e anotações. A publicação conta com introdução do próprio artista, depoimentos de colegas, texto crítico de Paulo Sergio Duarte e entrevista concedida a Luiz Camillo Osorio.

 

Bevilacqua resume seu trabalho escultórico afirmando: “Eu não trabalho com formas. Trabalho com forças”. Ele emprega materiais como madeira e aço em suas configurações mais sintéticas – linha, ponto, círculo, esfera – para então testar seus limites físicos até o momento preciso em que as tensões encontram seu ponto de estabilidade. A forma é, portanto, a expressão de uma força, que por sua vez resulta da interação das energias potenciais de cada elemento. Ensaio Sobre Linhas Concretas (2019) surge desse exercício e apresenta uma complexa estrutura com linhas de aço que cruzam o espaço da Galeria de parede a parede. Cada seção das retas que compõem essa instalação aérea é interrompida por outros elementos (molas, parábolas, círculos) que atuam como intervalos na propagação de energia pela rede inteira. Em outros trabalhos, como Estrelas fixas (2019) e 3 Luas e o Cubo de Ouro (2015), a imbricada dinâmica de forças opera em uma escala fluida e variável, revelando a liberdade com que Bevilacqua transita entre o micro e o macro.

 

Na série inédita Paletas e Fantasmas (2019), o artista emprega paletas de pintura que, ao invés de tinta ou pinceis, abrigam elementos escultóricos para engendrar cenários ou “armadilhas simbólicas”, como ele descreve. A alusão à pintura ecoa ainda no conjunto de trabalhos da primeira sala da exposição, que têm a cor como fio condutor. Exibindo pela primeira vez em sua carreira uma série de aquarelas, Bevilacqua associa as figuras vibrantes dessas obras com as esferas coloridas que pontuam as esculturas O Vermelho Originário (2017) e O Vermelho da Noite (2017).

 

Sobre o artista

 

Carlos Bevilacqua nasceu no Rio de Janeiro em 1965, onde vive e trabalha. Depois de estudar arquitetura no Brasil, cursou a New York Studio School of Painting, Drawing and Sculpting (Nova York, 1991/1993). Entre suas exposições, destacam-se as individuais no MAM Rio (Rio de Janeiro, 2000), no MAM-SP (São Paulo, 1992) e, mais recentemente, Indeterminado no Centro Cultural Candido Mendes (Rio de Janeiro, 2019). As mostras coletivas incluem participações em: Lugares do Delírio, SESC Pompeia (São Paulo, 2018) e MAR (Rio de Janeiro, 2017); Intervenções Urbanas, Museu da República (Rio de Janeiro, 2016); Calder e a Arte Brasileira, Itaú Cultural (São Paulo, 2016); Desejo da forma, Akademie der Künste (Berlim, 2010); Um Mundo Sem Molduras, MAC-USP (São Paulo, 2009). Sua obra está presente nas coleções do Instituto Inhotim, do MAM Rio, do MAC-USP, entre outras.

 

De 25 de junho a 10 de agosto.

 

No Anexo Milan

24/jun

Mario Cravo Neto é o atual cartaz do Anexo Milan, Pinheiros, São Paulo, SP, através da exposição “O Estranho e o Raro”. Mario Cravo Neto teve como um de seus mestres seu próprio pai, o escultor Mario Cravo Junior e hoje é considerado como um dos artistas brasileiros pioneiros da fotografia contemporânea brasileira a receber reconhecimento internacional – a partir dos anos 1970 -, realizando mostras em diversas capitais ao redor do mundo. Algumas das mais importantes de sua carreira foram  as XI, XII, XIII, XIV e XVII Bienais de São Paulo, Geográfias (in)Visibles, Arte Contemporáneo Latinoamericano en la Colecion Patricia Phelps de Cisneros, Centro Cultural Eduardo León Jimenes, Santiago, República Dominicana(2008), Mapas Abiertos, Fotografia Latino-Americana 1991-2002, entre outras.

 

As obras apresentadas na exposição pertencem ao período de  sua passagem por Nova Iorque, onde viveu no final dos anos 1960, e por Salvador, cidade onde nasceu. Faz parte desse recorte o período em que o artista ficou imobilizado em decorrência de um acidente de carro. Nesse espaço de tempo Neto ficou na casa de seus pais, e a dor e as transformações que marcam essa etapa da vida do artista se refletem em seus registros, que fundem o imaginário místico e religioso. A curadoria é de Bené Fontelles e a exposição é composta de 52 fotos e uma instalação.

 

 

Até 13 de julho.

Duas mostras na Athena

17/jun

No dia 18 de junho, a Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura as exposições “Colapso”, coletiva com curadoria do artista Rodrigo Bivar e “Panapanã”, individual do artista português Tomás Cunha Ferreira que realiza sua primeira exposição no Brasil. Em comum, as duas mostras pensam a pintura e o desenho de forma ampliada, em obras que não necessariamente utilizam tinta e lápis, mas que partem da lógica da pintura para construir uma narrativa. Os trabalhos são inéditos, em sua maioria, ou recentes.

 

Na sala I, será apresentada a obra do artista visual português Tomás Cunha Ferreira (que também é músico), na exposição “Panapanã”, que terá obras inéditas, produzidas este ano, que, assim como na mostra “Colapso”, utilizam a lógica da pintura. No dia da abertura, Tomás Cunha Ferreira fará uma performance com os músicos brasileiros Domenico Lancellotti e Pedro Sá. 

 

Na sala II, estará a coletiva “Colapso”, com obras de Ana Prata, Bruno Dunley, Cabelo, Débora Bolsoni, Leda Catunda, Paulo Whitaker, Rafael Alonso e Rodrigo Andrade, com curadoria do também artista Rodrigo Bivar. 

 

 

COLAPSO 

 

“Colapso” é uma coletiva que propõe uma reflexão a partir da pintura e desenho, que traz quatro artistas da geração dos anos 1980 – Cabelo, Leda Catunda, Paulo Whitaker e Rodrigo Andrade – e quatro artistas de uma geração mais nova – Ana Prata, Bruno Dunley, Debora Bolsoni e Rafael Alonso. “São formas de se pensar a pintura e o desenho através da obra de oito artistas”, afirma o curador Rodrigo Bivar, que escolheu o assunto por ter familiaridade, por concentrar sua pesquisa nessas técnicas, selecionando artistas que o ajudam a pensar a pintura e o seu próprio trabalho. “Sou artista, e resolvo minhas questões pelo aspecto visual e teórico. E é isso que quis mostrar nesta minha curadoria, uma curadoria através da visão dos artistas”, diz Rodrigo Bivar. 

 

Os trabalhos apresentados não são necessariamente pinturas e desenhos, mas obras que pensam sobre esse aspecto. “Embora a Leda Catunda vá mostrar uma colagem, ela é uma artista que todo o trabalho se desenvolve a partir da pintura”, afirma o curador. Já Rodrigo de Andrade, Bruno Dunley, Ana Prata e Paulo Whitaker trabalham a pintura como seu principal meio. Rafael Alonso pensa a prática e, principalmente, a forma como mostra suas pinturas, como algo instalativo. Já Débora Bolsoni e Cabelo são artistas cuja pintura não é seu principal meio de expressão, mas em suas obras têm muito do pensamento sobre desenho. 

 

O nome da exposição se relaciona com o momento político delicado em que vive o país. “Colapso, vem da ideia de que, apesar do momento calamitoso em que vivemos, os artistas continuam fazendo arte, fazendo o que acreditam”, diz o curador Rodrigo Bivar. Além disso, também parte da ideia de que os trabalhos da exposição, apesar de usarem a técnica da pintura e do desenho, não necessariamente dialogam entre si. “Existe muitas diferenças entre eles, entre os trabalhos e entre as pesquisas”, ressalta. 

 

 

PANAPANÃ

 

 Na sala I da galeria estará a exposição individual“Panapanã”, do artista visuale músico português Tomás Cunha Ferreira, que nasceu em Lisboa, mas morou no Brasil quando criança. Apesar de o artista ter uma forte relação com o país, tendo realizadocomomúsico, diversas parcerias com músicos brasileiros, seu trabalho visual será apresentado pela primeira vez no país nesta exposição. 

 

Com cerca de 12 obras, sendo a maioria delas em tecidos, sobre os quais o artista propõe interferências, utilizando a lógica da pintura. Em algumas, ele introduz elementos como acrílico e arame, e também faz pequenas intervenções em tinta a óleo, aquarela e costuras. “Jogo com os elementos pictóricos, sem me preocupar se estou usando o pincel ou não. Às vezes uso a máquina de costura como pincel”, diz o artista. 

 

As obras feitas com os tecidossão presas por pregos apenas na parte de cima, deixando-os ligeiramente soltos, com movimento quando bate um vento, por exemplo. Os panos utilizados também são diversos, alguns bem leves, com diferentes espessuras, com caimentos diferentes e relevos. “O trabalho não está fixo, emoldurado. É um corpo, que não é só uma superfície pintada, tem espessura”, ressalta o artista. O nome da exposição, “Panapanã”, significa coletivo de borboleta em Tupi Guarani, e vem da ideia de movimento desses panos. 

 

Neles, há marcas propositais de dobras, que formam pequenos relevos. O contorno não é regular: algumas quinas são abauladas e outras mais pontudas. “Desdobro os panos como se fossem um mapa e os vincos fazem parte da pintura. O que me interessa é o aspecto físico. As margens, por exemplo, não são retas, possuem formas diferentes”, conta o artista, que mostrará alguns panos abertos e outros dobrados. 

 

Além dos panos, haverá três colagens em papel, em que o artista utiliza letras e cores, que servem de base para as músicas de Tomás, como se fossem partituras, em que ele utiliza o som das letras e as cores. “Não é nem pintura nem poesia, não uso verso nem pincel, é entre os dois, mas usando elementos de ambos. Gosto de estar entre as coisas, entre a música e a pintura”, afirma o artista. Haverá, ainda, um vídeo em looping, que mostra essas obras em papel com diferentes cores, letras e formas. 

 

De 18 de junho a 20 de julho.

 

O universo de Emanoel Araujo

11/jun

Será dia 13 de junho, às 19 horas, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, o lançamento do livro “O Universo de Emanoel Araujo”.

 

O livro “O Universo de Emanoel Araújo” contém textos e imagens sobre a vida e a obra do artista, através da apresentação de 180 trabalhos, representados nas variadas fases e meios de sua criação: cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro,  máscaras, painéis em mármore, concreto e granito, gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos, mostrando neste panorama sua produção, onde se vê explicitamente a raiz africana, nagô e iorubá, e o interesse nato do artista pela cultura popular baiana e as tradições modernistas brasileiras e europeias.

 

Com rica complementação de fotos e textos de Claudio Leal, Odorico Tavares, Hugo Loetscher, Waldeloir Rego, além do próprio Emanoel Araújo, como o que abre a publicação, sobre São Paulo, e ao final um caderno com artigos, entrevistas e pensamentos, denominado “Reflexos”, onde o artista descreve fatos de sua trajetória, homenageia amigos e reflete sobre a fundação do Museu Afro Brasil, entre outros. A publicação é uma edição limitada de três mil exemplares, pela Capella Editorial, e contou com o patrocínio da Biolab, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 

 

Sobre o artista

 

Emanoel Araujo nasceu em 15 de novembro de 1940, em Santo Amaro da Purificação. Descendente de três gerações de ourives veio a se tornar aprendiz de marceneiro e talhador, e ainda criança, aos 13 anos, passou a trabalhar na Imprensa Oficial da sua cidade, em linotipia e composição gráfica. Esta experiência do fazer foi fundamental na sua formação, tanto no domínio técnico, quanto no da expressão. Após completar o curso secundário mudou-se para Salvador, com planos de cursar Arquitetura. Na capital começou a frequentar exposições, visitar museus e ateliers, levando-o então a ingressar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Realizou sua primeira exposição individual aos 20 anos, ainda na Bahia, mas já mostrava sua obra em 1965 na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, e na Galeria Astreia, em São Paulo. Ao longo dos anos, acrescentou ao seu currículo dezenas de exposições individuais e coletivas, não apenas em vários Estados brasileiros como em diversas partes do mundo – México, Cuba, Chile, Nigéria, Israel, Japão, Estados Unidos e alguns países da Europa. Foi contemplado no decorrer da sua carreira com considerável número de prêmios, entre os quais a Medalha de Ouro da III Bienal Gráfica de Florença, Itália (l972), dois prêmios (gravura e escultura) por linguagens distintas, sendo, em 1974, considerado o melhor gravador do ano, e em 1983 o melhor escultor do ano, ambos concedidos pela Associação de Críticos de Arte de São Paulo. Em 2007 recebeu o Prêmio Ciccillo Matarazzo – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte por sua contribuição à Arte e à Cultura brasileira. Muitas de suas obras estão em coleções particulares, edifícios públicos, e em Museus como o Museu deArte Moderna/RJ; Fundação Rockfeller/NY, USA; Austin/Texas, USA; Arte Moderna de Firenze/Itália; County Museum/Los Angeles, Califórnia, USA; Arte Contemporânea/SP; Sidney/Austrália; Kansai/Japão; Arte São Paulo-MASP/SP; Arte de Brasília/DF; Palácio do Itamaraty/Brasília, DF; Nacional de Belas Artes/RJ; Brennand/PE; Museu de Pernambuco/PE. Além da atividade como artista, se tornou um dos principais gestores da área cultural no Brasil, tendo dirigido o Museu de Arte da Bahia (1981 a 1983), a Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992 a 2002), tendo tornado esta última um dos mais importantes museus do Brasil. Em 2004 criou o Museu Afro Brasil, sediado em São Paulo, onde atualmente é Diretor Executivo e Curador. Sua última exposição na Bahia foi em outubro de 2011, na Paulo Darzé Galeria, com o título “Geometria do medo”, apresentando 21 relevos, todos brancos. Com esta mostra encerra seus quase vinte e cinco anos sem que realizasse uma exposição na Bahia.

 

Estética de uma amizade 

10/jun

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, abre a partir de 14 de junho para o público a exposição “Estética de uma amizade – Alfredo Volpi (1896-1988) e Bruno Giorgi (1905-1993)”, com mais de 130 obras, em sua grande parte inédita, que narram a longeva e afetiva convivência dos dois artistas, que perdurou por 52 anos.

 

Com curadoria de Max Perlingeiro, da Pinakotheke, e de Pedro Mastrobuono, do Instituto Volpi de Arte Moderna, a ideia da exposição vem sendo desenvolvida há dez anos, e pode ser materializada a partir dos longos depoimentos de Leontina Ribeiro Giorgi, viúva de Bruno, dados aos dois curadores. Ela abriu arquivos e “contou fatos históricos e pessoais, sendo uma memória viva dos dois artistas”, relata Max Perlingeiro. Depois do enorme sucesso na Pinakotheke em São Paulo, onde foi vista por milhares de pessoas, a exposição chega ao Rio, acompanhada de um livro com capa dura, 228 páginas e formato de 22cm x 27cm, com imagens das obras e textos do crítico Rodrigo Naves, do  psicanalista David Léo Levisky, de Mário de Andrade (excerto do texto escrito em 1944 e publicado na “Revista Acadêmica”, em 1945), e de Max Perlingeiro.

 

O critério de seleção das obras, todas pertencentes a acervos privados, buscou pontuar a amizade dos dois grandes artistas, iniciada em 1936, quando Bruno Giorgi retornou brevemente ao Brasil, durante sua estada na Itália e França. Em 1939, na volta definitiva de Bruno ao país, a amizade se aprofundou, e daí em diante foram inseparáveis. Além das conversas no edifício Santa Helena, em São Paulo, onde tinham ateliê, às exposições que iam juntos, os saraus, as discussões artísticas, os dois foram irmãos “por escolha”, e Volpi sempre tinha um quarto cativo nas residências de Bruno, que em 1946 se mudou para o Rio de Janeiro, e frequentemente passava períodos na Itália para a produção de suas esculturas. Em 1943, Bruno Giorgi, junto com Sérgio Milliet (1898-1966), foi padrinho do casamento de Volpi com Benedita Maria da Conceição, chamada por Volpi de “Judite”. 

 

“Historicamente, a amizade entre artistas sempre foi objeto de estudo de grandes pesquisadores”, observa Max Perlingeiro. “No Brasil, a longa e duradoura amizade entre artistas foi, sem dúvida nenhuma, entre Volpi e Bruno Giorgi. Ambos se originavam da mesma região na Itália, a Toscana – uma montanha dividia suas famílias. Com personalidades muito diferentes, Volpi e Bruno tinham as mesmas paixões e conviveram por mais de 50 anos até a morte de Volpi, em 1988”, conta.

 

 

Percurso na exposição 

 

Ao entrar na exposição, o público é recebido pela escultura “Cabeça de Alfredo Volpi” (1942), de Bruno Giorgi, junto da pintura “Sem Título (Retrato de Bruno Giorgi, década de 1940), de Volpi. 

 

Na primeira sala, estarão seis paisagens de Volpi e de Bruno, e conjunto de obras – esculturas e pinturas – dedicadas às “Mulheres”, feita pelos dois artistas. Ali ficarão os retratos de Leontina e da artista Eleonore Koch (1926-2018), rara aluna de Volpi, e que a partir de 1947 passou a frequentar também o ateliê de Bruno Giorgi no Rio de Janeiro, onde hoje é o Hospital Pinel, na Urca. Na parede ao fundo da sala estará a pintura de grande formato “Sem Título (Retrato de Judite, 1949)”, de Volpi, e um conjunto de nus femininos, de Bruno, em desenhos, aquarelas e esculturas.

 

Na segunda sala o público verá uma grande coleção de pinturas de Volpi dos anos 1950 a 1970, que ocuparão três paredes, além de dois conjuntos de esculturas de Bruno: as “espectrais”, termo cunhado pelo filósofo alemão Max Bense (1910-1990), e as “maquetes” das obras de grande formato do artista. Estarão também as esculturas de Bruno como “Capoeira” (década de 1940) e as produzidas para Brasília, como “Meteoro”, “Candangos” e o “Estudo para o Monumento à Cultura”, todas da década de 1960. Na parede de fundo estará a pintura de grande formato “Sem Título (Estudo para o mural Dom Bosco”, Brasília, da década de 1960, de Volpi. Nesta sala haverá ainda uma vitrine com documentos, fotografias, e joias criadas por Bruno Giorgi nos anos 1970 e 1980. 

 

Na terceira sala estarão as obras “Afetivas”, como as dedicadas à Santa Maria Egipcíaca feitas pelos dois artistas: a pintura em 1963 têmpera sobre tela “Sem título”, (c. 1961), com 107cm x 54cm, de Volpi, pertencente ao diplomata Edgard Telles Ribeiro (1944), e o desenho “Santa Maria Egipcíaca” (fim da década de 1960), em caneta hidrográfica sobre papel, feita por Bruno. A história que envolve esses dois trabalhos se origina na visão oposta que cada um dos artistas teve sobre a santa. Em um sarau literário na casa de Bruno Giorgi, sua amiga e vizinha Maria Telles Ribeiro recita “Balada de Santa Maria Egipcíaca”, do livro “Poesias completas”, de Manuel Bandeira (1886-1968), então em recente edição de 1951. A partir de então, os dois artistas discutiam acaloradamente sobre o episódio narrado, em que a santa teria que cruzar um rio para chegar a Jerusalém e para isso pagou ao barqueiro com sua virgindade. Para Volpi, sua pureza permanecia intacta, posto que como santa seu corpo não importava, diante de sua missão espiritual. Para Bruno, era inaceitável a santa ter vendido seu corpo. O resultado das diferentes visões pode ser visto nas duas pinturas. 

 

Nesta sala estarão também o estudo de Volpi de uma tapeçaria para a casa de Bruno, e a pintura “Sem título” (década de 1970), feita a seis mãos por Volpi, Bruno e Décio Vieira (1922-1988); e o desenho feito por Bruno de seu amigo Volpi, em sua última visita ao amigo, já extremamente debilitado.

 

Dois documentários com depoimentos dos dois artistas, editados com as obras da exposição, estarão em looping neste espaço.

 

 

Um era âncora do outro 

 

Embora oriundos da mesma região na Itália, os dois artistas possuíam diferentes formações e status social. O psiquiatra David Léo Levisky salienta que “Bruno era um homem cosmopolita. Muito viajado. Era erudito e gostava de poesias e literatura. Desde pequeno, sua mãe costumava levá-lo ao teatro, onde desenvolveu seu amor pela música. Contudo, seu trabalho estava sempre em primeiro lugar, seguido do interesse pela política e pela cultura”.  Ele acrescenta: “Já Volpi não possuía erudição, mas gostava de ouvir Bruno declamar poesias, preferindo aquelas escritas por São Francisco de Assis. Quais as origens da profunda generosidade de Volpi, uma alma portadora de uma religiosidade intrínseca na busca do bem? Entre Alfredo e Bruno, um representava uma âncora para o outro”. “Volpi aparentava pouca preocupação quanto ao futuro de sua obra artística e acreditava que não teria o mesmo reconhecimento público de Bruno. Justificava seu modo de pensar com o fato de seus quadros ficarem no interior das residências de seus colecionadores, enquanto as esculturas de Bruno eram obras públicas, expostas em áreas abertas de cidades importantes, tanto no Brasil quanto no exterior”. 

 

O crítico Rodrigo Naves destaca que “essa aura de simplicidade contribuiu para que muitos críticos e escritores sublinhassem a pureza pessoal e artística e a dimensão intuitiva de Volpi”. Entretanto, o crítico chama a atenção para o fato de que poucos artistas brasileiros dispuseram de um meio cultural tão rico quanto ele, um meio cultural moderno, feito de convivência e diálogo, e não algo acadêmico e protocolar, ainda que esse ambiente cultural tivesse muitas limitações. Desconsiderar essa realidade significaria identificar em sua pintura uma singeleza que sem dúvida rebaixa a complexidade e os dilemas que ela contém”. Naves lembra um depoimento de Bruno Giorgi, em 1979, em que relata “ter levado, em 1937, Mário de Andrade – um dos intelectuais paulistas mais preparados do período – e Sérgio Milliet ao ateliê de Volpi e ambos “ficaram maravilhados’”. 

 

 

Jardins e Programa Educativo 

 

Algumas obras estarão nos jardins, e o programa educativo gratuito será realizado das 11h às 13h, em alguns sábados durante o período da exposição, com a seguinte programação:

 

29 de junho – Bandeirinhas | Vamos criar nossas próprias obras inspiradas nas famosas bandeirinhas de Alfredo Volpi?

06 de julho – Oficina de escultura | Esculturas com arames inspirados na obra de Bruno Giorgi.

13 de julho – Pintando fachadas | Elementos geométricos nas fachadas de Alfredo Volpi

20 de julho – Oficina de bijuteria | Brincando de desenhar e esculpir jóias

27 de julho – Mastros de Volpi | Criando mastros a partir de sucata

03 de agosto – Árvore dos afetos | Criação a partir da amizade

 

De 14 de junho a 27 de julho.

 

Olhares Artesanais

06/jun

Há mais de uma década o Cidade Invertida, grupo que reúne fotógrafos, educadores e artistas, investe em ações culturais relacionadas à imagem, buscando despertar em seu público um olhar mais criativo e consciente em relação às imagens que nos cercam cotidianamente. Na exposição “Olhares Artesanais”, a equipe composta por Adelino Matias, Anna Clara Hokama, Andre Solnik, Gustavo Falqueiro, Marcella Marigo, Mauricio Sapata e Ricardo Hantzschel, concebe sua versão imagética da região do Porto de Santos/SP utilizando câmeras manualmente construídas, ou pinhole. Esses dispositivos ópticos são construídos com latas, caixas, ou qualquer aparato vedado à luz, que recebe um furo de agulha em um de seus lados, permitindo a formação de imagens em seu interior, sem a necessidade de lentes.

 

Em cartaz no Centro Cultural São Paulo, Paraíso, São Paulo, SP, a exposição é resultado de dois anos de trabalho em equipe, que, embora voluntariamente inserida na cultura digital, valoriza também o tempo como parceiro, mergulhando numa fotografia lenta, incerta e experimental que começa no projeto da câmera e se estende até a revelação química da imagem. O consagrado artista luso-brasileiro Fernando Lemos, assina um dos textos da mostra, que conta com 38 fotografias impressas em papel fine art em tamanhos variados, sob curadoria de Ricardo Hantzschel. Complementa o trabalho um livro com 48 páginas, representando todo o conteúdo da exposição.

 

Tanto o processo de captação quanto a edição final das imagens, foram realizados em conjunto pelos profissionais envolvidos no projeto, contemplado pelo 1º Edital de Apoio à Criação e Exposição Fotográfica da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. Ele ocupará parte do espaço expositivo do Centro Cultural São Paulo (CCSP), no Piso Flávio de Carvalho (fundos), ao lado de mais três exposições: Cores Nyotas, Idílio e Poéticas Visuais.

 

 

Sobre o Cidade Invertida

 

O Cidade Invertida é um grupo de educadores e artistas que tem se dedicado a elaborar experiências visuais, em sua maioria mediadas pela fotografia, objetivando encantar as pessoas e ao mesmo tempo despertar uma postura mais consciente na relação delas com as imagens que nos cercam cotidianamente. Em pouco mais de uma década, o trailer, símbolo de referência do projeto, foi adaptado como laboratório fotográfico e câmara obscura, e já percorreu cerca de 35.000 km viabilizando cursos e oficinas para um público diverso. Com forte caráter itinerante, o Cidade Invertida tem também um espaço cultural na Vila Madalena, em São Paulo, onde a intenção é oferecer possibilidades de capacitação teórica e prática para artistas, fotógrafos, educadores e interessados por imagens em geral. Temos um compromisso com as bases históricas da fotografia tradicional e as mesclamos sem preconceito com as técnicas digitais de última geração.

 

 

Sinopse

 

A exposição “Olhares Artesanais” reúne 38 fotografias captadas com câmeras manualmente construídas e tem como tema a região portuária da cidade de Santos, litoral do Estado de São Paulo. As imagens expostas foram captadas por câmeras de orifício (pinhole) e reveladas quimicamente em laboratório analógico preto e branco.

 

O resultado desse projeto é um recorte ao mesmo tempo caótico e poético, que desconstrói o seu referente, para imediatamente reconstruí-lo dentro dos aparatos concebidos pelos fotógrafos do Cidade Invertida. Os autores recriam a cena urbana, em imagens que só existem na diversidade de formatos, orifícios e suportes sensíveis das câmeras pinhole.

 

 

 De 15 de junho a 11 de agosto.