Artes visuais e teatro na Carpintaria

20/fev

 

“Perdona que no te crea” investiga o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, em suas interseções e particularidades, reforçando a vocação da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, na proposição de diálogos entre artistas, linguagens e disciplinas. O título da exposição inspira-se no bolero “Puro Teatro”, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, composto em 1970.

 

“Como em um cenário, finges sua dor barata”, anunciam os primeiros versos da canção, famosa na versão da cantora cubana La Lupe. Logo na entrada, a ideia de espaço expositivo funde-se a uma atmosfera cênica à medida em que produções contemporâneas compartilham o ambiente com registros fotográficos históricos. As colagens em tecido, linha e papel de Sara Ramo operam como cortinas que abrem-se e revelam “Marionete” (2018) de Marina Rheingantz e “Cruzeiro” (2018) de Leda Catunda, obras que empregam materialidades quase teatrais, apresentadas ao lado de fotografias de espetáculos como “Melodrama” (1995) da Cia. dos Atores e “Otelo”, de Shakespeare, encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1946. Em conversa, travam relações entre aparatos e encenação, materiais e drama, representação e farsa.

 

Pensar uma dimensão da teatralidade na arte remonta ao Barroco, ainda no século XVI, quando pintura e escultura são tomadas por expressividade e exagero, através do uso de jogos de luz e da reprodução realista de gestos e encenações. Se “o espaço barroco é o da superabundância”, nas palavras do poeta e crítico Severo Sarduy, a “Ruína Modernista” (2018) de Adriana Varejão bebe desta herança ao realizar uma encenação da carne, dando corpo a uma matéria que não se quer verossímil mas sim teatral. Ao lado da obra, as pinturas de natureza naïf de Surubim Feliciano da Paixão arquitetam uma dinâmica de encenação ao passo em que o pintor autodidata – zelador e cenotécnico do Teatro Oficina, em São Paulo, na década de 80 – documenta sua vivência dos ensaios da peça “Mistérios Gozosos”, montada em 1984 pela companhia.

 

Na parede oposta, são apresentadas práticas artísticas que se instauram em território limítrofe entre teatro e arte. “Jussaras” (2019) de Cristiano Lenhardt são vestimentas que tridimensionalizam o pensamento geométrico desenvolvido pelo artista há cerca de uma década em suas gravuras, funcionando com presença escultórica e também performática, sendo ativada – vestida – ao redor do espaço expositivo. Na mesma parede, estão as máscaras de alumínio de autoria de Flávio de Carvalho, feitas originalmente para “O Bailado do Deus Morto”, texto de autoria do próprio levado aos palcos em 1933, junto do seu grupo “Teatro de Experiência”. Flávio de Carvalho, cuja atuação se deu em diversas esferas da arte, transitou pelos dois campos ao longo de sua trajetória, realizando experiências que turvam fronteiras entre o teatro e a performance, como em seus famosos new looks – blusas e saias vestidas em happenings na década de 1950. Ao fundo da sala, “Ghosts” (2017) de Ana Mazzei reúne um conjunto escultórico de presença teatral, em que cada peça – ou atores – confrontam o espectador. Quem assiste a quem, afinal?

 

Na sala da frente da Carpintaria, a fisicalidade das formas da pintura “Blue Violet Eckout” (2019), de Rodolpho Parigi, trava um duelo com a bidimensionalidade ao passo em que parecem querer exceder o plano, transbordá-lo. É o que parece estar em jogo também na engenhosa composição de “Chat and Drinks” (2018), de Yuli Yamagata, em que a artista costura tecidos como lycra e fibra de silicone, sem deixar de ter como ponto de partida um pensamento pictórico. Esta espécie de blefe dos materiais também aparece nas pequenas esculturas em cerâmica de Daniel Albuquerque, que levam ao extremo a vontade mimética da forma ao reproduzirem em escala humana trechos de um corpo fragmentado, ausente.

 

A voz trôpega que paira sobre o ambiente expositivo (cênico?) vem de “Carta” (2019), obra em que o artista português Tiago Cadete lê a íntegra do relato de Pero Vaz de Caminha quando de sua chegada em terras brasileiras. Velada em um dos armários da Carpintaria, a voz distorce e satiriza o texto do navegador português, que relata com a arrogância eurocêntrica de então o primeiro encontro entre portugueses e indígenas. A eloquência das palavras de Caminha, na voz de Cadete, permite leituras dúbias acerca do contraditório encontro. “Perdona que no te crea… me parece que es teatro?”

 

Artistas participantes

Adriana Varejão | Ana Mazzei | Cia. dos Atores | Cristiano Lenhardt | Daniel Albuquerque | Erika Verzutti | Flávio de Carvalho | Francesco Vezzoli | João Maria Gusmão & Pedro Paiva | Leda Catunda | Luiz Roque | Marina Rheingantz | Mauro Restiffe | Nuno Ramos | Rodolpho Parigi | Sara Ramo | Surubim Feliciano da Paixão | Teatro Experimental do Negro | Teatro Oficina Uzyna Uzona | Tiago Cadete | Tiago Carneiro da Cunha | Valeska Soares | Vania Toledo | Yuli Yamagata

 

Até 09 de março.

Obras de Paul Klee no Brasil

O Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, Centro, São Paulo, deu início a temporada brasileira da exposição “Paul Klee – Equilíbrio Instável”, artista cuja obra possui ligações com diversos movimentos artísticos do século passado, como o Cubismo, o Expressionismo, o Construtivismo e o Surrealismo. Esta é a primeira vez da exibição retrospectiva de sua obra na América Latina, totalizando mais de 100 peças. Ao todo, são 16 pinturas, 39 papéis, cinco gravuras, cinco fantoches – que criou, por uma década, para seu filho Felix, com carretéis de linha, tomadas e ossos de boi fervidos -, 58 desenhos e objetos pessoais do artista, todos selecionados pela curadora Fabienne Eggelhöfer, do Zentrum Paul Klee, de Berna, na Suíça. Sediada na cidade onde Klee nasceu, viveu a infância e parte significativa da vida adulta, o museu mantém atualmente sob sua guarda mais de 4 mil obras produzidas pelo artista.

 

Saliente-se em sua biografia que além de Picasso, Paul Klee cruzou, durante sua vida, com outras personalidades de renome, como Kandinsky. Klee e Kandinsky tornaram-se colegas na Bauhaus, a escola fechada pelo governo nazista – o mesmo regime autoritário que classificou como “degenerado” o trabalho do pintor suíço. Dado a explorar os recônditos da mente e das emoções, Klee buscou sempre franquear a liberdade de suas expressões – seja ao não desistir das artes plásticas, ao prosseguir em seu processo formativo mesmo tendo sua inscrição na academia rejeitada na Alemanha, seja ao questionar tendências da arte pictórica, acolhendo o que qualificasse pertinente para o que entendia como equilíbrio.

 

“Ele é um artista super importante, que deu origem a vários movimentos, mas que nunca recebeu um rótulo, uma sigla com a qual tenha se identificado. É uma espécie de pai de todos, um artista fundamental para a arte moderna no mundo”, diz Roberta, destacando a natureza independente de Klee. “É a primeira vez que ele, tão fundamental, chega aqui de fato com uma retrospectiva. Quem visitar (a exposição) vai saber quem ele é, qual o seu percurso.”

 

Viabilizada pela Lei Rouanet, a exposição terá nas três unidades do CCBB – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

 

Exposição “Paul Klee – Equilíbrio Instável”

CCBB São Paulo: até 29 de abril

CCBB Rio de Janeiro: de 15 de maio a 12 de agosto

CCBB Belo Horizonte: de 28 de agosto a 18 de novembro

“Cobra Criada”, mostra na Athena

19/fev

A Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Cobra Criada”, com cerca de 20 obras inéditas de Frederico Filippi, que ocupam todo o espaço expositivo da galeria. Os trabalhos tratam da questão do desmatamento e dos conflitos gerados pelo embate entre o poder econômico e os modos de vida não hegemônicos, em desenhos e uma instalação que enfatizam os materiais utilizados – metal e madeira – e os atritos geradores de fluxos invisíveis, como uma metáfora política. “De alguma forma esse confronto entre materiais enseja choques comuns nas paisagens amazônicas”, afirma o antropólogo, jornalista e curador Fábio Zuker no texto que acompanha a mostra.

 

As obras da exposição são um desdobramento da pesquisa que o artista vem desenvolvendo há alguns anos com temáticas relativas às fricções presentes nas relações invisíveis dos processos civilizatórios. A pesquisa, que antes era focada na América, atualmente tem se concentrado na Amazônia. Os trabalhos surgem a partir da reflexão sobre a constante disputa de território causada pelo desmatamento desenfreado das reservas ambientais, pela industrialização, pela exploração mineral e pelas rotas de contrabando de drogas.

 

“Frederico rejeita o problemático lugar de ‘falar sobre’, para experimentar pensar esses processos de destruição a partir dos próprios materiais; como se as próprias palavras não bastassem, fossem insuficientes, ou mesmo desprovidas de significado”, diz Fábio Zuker.

 

 

Trabalhos em exposição

 

No grande salão da galeria, que tem 140m² e pé direito de 6,5m, estarão trabalhos feitos em metal. Dez grandes chapas de aço da série “Se uma lâmina corta um olho uma selva azul escorre dele” estarão neste espaço, apoiadas na parede. As chapas são pintadas com spray preto e arranhadas com metais, formando desenhos abstratos a partir do atrito dos materiais. “Esses trabalhos têm um caráter abrasivo, de atrito, como uma metáfora da situação atual de conflito”, afirma o artista, que diz, ainda, que a abstração é proposital para enfatizar os materiais.

 

“A escolha dos materiais não é fortuita. Embora ambos sirvam de suporte ao desenho, território em que Frederico se sente à vontade e se identifica, os materiais estão em patente confronto, e tudo se passa como se os trabalhos fossem resultados desses embates. No caso das lâminas pretas, a agressividade do material libera seus próprios fluxos de imagens, quer como desenhos, aleatórios (próprios ao corte e manejo das chapas), quer pela mão do artista”, ressalta Fábio Zuker.

 

Nas paredes desta mesma sala estará a obra “Cobra Criada”, que dá nome à exposição e é feita com correntes de motosserra dispostas como se fossem palavras. Ao olhar de longe, a sensação é de haver uma frase escrita, mas de perto descobre-se que são objetos cortantes. “Trato do discurso das autoridades em relação à questão do desmatamento e dos projetos de infraestrutura que desestabilizam a ordem anterior. Se a motosserra corta, o trator perfura, o discurso vazio dispara esse processo escondido em relações públicas. Os textos são como uma dissolução da gramática e falam sobre uma linguagem não decifrada”, ressalta o artista.

 

“Ao se aproximar daquilo que de longe aparenta ser um conjunto de frases articuladas na parede da primeira sala da exposição, Cobra Criada, o espectador se depara com diferentes níveis alinhados de correntes de motosserra. Diante dessa ferramenta de destruição e construção (destruição de mundos, e construção de outros sobre as ruínas do que antes existia), os discursos articulados e a palavra escrita, se tornam vazios”, diz Fábio Zuker.

 

Na sala menor da galeria estarão os trabalhos em folhas de madeira, feitos com carvão e tinta asfáltica. Diversas lascas de madeira recebem desenhos pretos. “Nesses trabalhos utilizo materiais primários. O carvão é a transformação da madeira e a tinta asfáltica é o subsolo, de onde vem o metal”, conta o artista. “É como se cada fragmento de folhas de madeiras nativas fossem um fragmento de lembrança, uma testemunha viva. Ou, como diz o ditado, ‘a floresta tem mais olhos que folhas’”, ressalta.

 

 

Sobre o artista

 

Frederico Filippi nasceu em São Carlos, SP, 1983. Vive e trabalha em São Paulo). Dentre suas principais exposições individuais destacam-se: “O sol, o jacaré albino e outras mutações” (2016), na Athena Contemporânea, “Fogo na Babilônia”(2015), “Pivô”, em São Paulo e “Próprio Impróprio,” (2016), na Galeria Leme. Dentre as exposições coletivas mais recentes estão: “Com o ar pesado demais para respirar” (2018), na Galeria Athena; “Caixa Preta” (2018), na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre; “in Memoriam” (2017), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; “Cities and Memory – Biennial for photography and film” (2016), na Dinamarca; “Aparição” (2015), na Caixa Cultural Rio de Janeiro, entre outras. Realizou diversas residências na Costa Rica, Bolívia, e da 5a edição da Bolsa Pampulha (2013/2014), no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte; La Ene (2013/2014), em Buenos Aires, Argentina; Ateliê Aberto #6 (2011/2012), na Casa Tomada, em São Paulo.

 

 

Até 06 de abril.

Angelo Venosa na Galeria Nara Roesler

18/fev

Um dos poucos artistas – dedicado à escultura – egresso da Geração 80, cuja tônica era a pintura, o paulistano radicado no Rio de Janeiro, Angelo Venosa, traz a sua cidade natal a exposição “Penumbra”. Com curadoria da historiadora e curadora de arte Vanda Klabin, a mostra na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa,  deriva de outra de mesmo nome realizada no ano passado em Vila Velha, ES. Nesta exposição o artista exibe oito esculturas. Dessas, seis são provenientes da exposição no museu capixaba, enquanto as outras duas, ainda que produzidas em 2017, serão exibidas pela primeira vez. “Inquietas e interrogativas, suas obras problematizam a visão do espectador, residem em um mundo fluido permeado pela artesania e pela tecnologia digital, que fazem parte de sua lógica de trabalho e ampliam o campo da sua poética”, pontua a curadora. A mostra reúne obras produzidas em materiais como bronze, madeira, tecido e fibra de vidro que exploram áreas cheias e vazias, criando formas que adquirem inesperada plasticidade. As esculturas formam com a sombra produzida pela iluminação incidente um corpo enigmático e, juntas, constroem particular atmosfera onírica. “A inclusão real da sombra abre um espaço possível, articula a nossa percepção, os nossos modos de ver, e essa simultaneidade de acontecimentos que segmenta um novo território parece sonegar a verdade do olho e possibilita uma grande variedade de acessos a uma realidade cifrada”, afirma a curadora. Segundo Vanda Klabin, ainda, a nova série de trabalhos de Angelo Venosa desperta muitas desconcertantes indagações. “O agenciamento de outros materiais para construir um novo continente de trabalho vai presidir a criação de um núcleo de obras envoltas em incidências luminosas que se desenvolve numa turbulência interna, em que as formas oscilam e tomam posição, no sentido de multiplicar os planos, criar uma ambiguidade espacial”.

 

 

Sobre o artista

 

Angelo Venosa nasceu em 1954, em São Paulo, SP. Brasil. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.  É um dos poucos artistas da chamada “Geração 80” que se dedicou à escultura, em detrimento da pintura então em evidência. A partir da década de 1990, passou a utilizar materiais como mármore, cera, chumbo e dentes de animais, realizando obras que remetem a estruturas anatômicas, como vértebras e ossos. Mais recentemente, o artista começou a utilizar impressões em 3D e desenho assistido por computador para criar estruturas e exoesqueletos de compensado e metal que se assemelham a corais. Participou de exposições como a 19ª Bienal de São Paulo, 1987, a 45ª La Biennale di Venezia, 1993 e a 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2005. Uma grande retrospectiva em comemoração pelos seus 30 anos de carreira foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM Rio, em 2012, passando pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2013 e pelo Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, e pelo Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, MAMAM, Recife, PE, em 2014. Atualmente, possui esculturas públicas instaladas em diversos locais do país, como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Jardins), Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera), Pinacoteca do Estado de São Paulo (Jardim da Luz) e Praia de Copacabana/Leme, Rio de Janeiro.

 

 

Até 16 de março.

Leonilson: obras inéditas na Fiesp

Leonilson ganha exposição em São Paulo. A mostra, em cartaz na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp, denominada “Leonilson: Arquivo e Memória vivos”, reúne mais de 120 obras entre pinturas, desenhos e borados. A curadoria é de Ricardo Resende. Algumas de suas obras estiveram restritas por décadas em coleções particulares particulares e institucionais e foram pouco ou nunca antes exibidas na cidade. Leonilson faleceu jovem, aos 36 anos de idade.

Suas obras e memória são preservadas pelo Projeto Leonilson, cuidado por seus familiares.

 

A família do artista cataloga cada uma de suas obras e promove exposições em parceria com diversas instituições. Durante o período de duração da exposição, a FIESP montou um espaço educativo dedicado ao bordado, técnica bastante utilizada por Leonilson em sua trajetória para que o público possa interagir.

 

Até 19 de maio.

Promoção da Fundação Iberê

14/fev

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe no próximo sábado, 16 de fevereiro, a historiadora Iris Germano e o ator Thiago Pirajira para o “Bate-papo sobre as histórias de Carnaval de Porto Alegre”. Eles farão um passeio pelos blocos de carnaval que entraram para história até o movimento popular criado há pouco mais de dez anos que, hoje, ultrapassa 50 blocos de rua por toda a cidade. O evento ocorre às 16h, no Átrio da Fundação, com entrada franca.

 

No domingo, o Programa Educativo promove a “Oficina de Confete e Serpentina”. A partir desses dois elementos símbolos do carnaval e inspiradas em artistas como Vik Muniz, as crianças e suas famílias serão convidadas a criar, coletivamente, uma macro paisagem e, também, a retratar sua própria cena de carnaval. A atividade é gratuita. Além do centro cultural, as atividades vão ocorrer no Barra Shopping Sul. O encerramento será no dia 03 de março, das 17h às 20h, com o Bloquinho de Carnaval, no Barra. O evento gratuito terá a animação de um bloco de carnaval da cidade e de um oficineiro, que pintará os rostos das crianças para a grande festa.

 

 

Sobre os convidados

 

Com especialização em História Social da Cidade e mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Iris Germano pesquisa a identidade negra gaúcha por meio do carnaval.

 

Thiago Pirajira é mestrando em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Bloco da Laje e diretor artístico do Grupo Pretagô.

Jô Bilac na Carpintaria

Está marcado para este sábado, 16 de fevereiro, às 19h, quando a Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, recebe a Cia. dos Atores que realizará uma leitura de cenas selecionadas do texto “Insetos”, de Jô Bilac. O evento envolve conversa entre o autor, o elenco e as psicanalistas Isabel do Rêgo Barros Duarte, Maricia Ciscato e Renata Martinez (EBP/AMP). A mediação será do curador Victor Gorgulho e da editora Isabel Diegues.

 

Em “Insetos”, Jô Bilac dá voz aos bichos para tratar de questões sociais e políticas contemporâneas. Como uma fábula, através de uma grande polifonia de diferentes insetos, o texto muito bem-humorado traça paralelos entre a natureza e os dilemas humanos, revelando comportamentos coletivos e individuais. Ao longo das cenas, convivência, medo e manipulação tornam o colapso evidente.

 

O texto foi adaptado para o teatro pela Cia. dos Atores com direção de Rodrigo Portella, e publicado na “Coleção Dramaturgia” da Editora Cobogó. A Cia. dos Atores, criada em 1988, é atualmente formada por Cesar Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto, Marcelo Valle, Susana Ribeiro e Bel Garcia (in memoriam). Com mais de vinte peças montadas, diversos prêmios e uma carreira nacional e internacional consolidada, a Cia. dos Atores firmou um caminho de pesquisa e renovação permanentes. Após a montagem do premiado espetáculo “Conselho de classe”, também, escrito por Jô Bilac, “Insetos” vem comemorar os 30 anos do grupo. A programação integra a mostra coletiva “Perdona que no te crea”, que explora o cruzamento entre artes visuais e teatro.

 

Em cartaz até 09 de março na Carpintaria

Alex Flemming, exposição inédita 

13/fev

A partir do dia 14 de fevereiro, a Emmathomas Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, recebe “Alex Flemming – Ecce Homo”, individual inédita do artista paulistano radicado em Berlim. Nesta exposição, Alex Flemming apresenta seus trabalhos mais recentes, frutos da série que também dá nome à exposição. O artista brasileiro, radicado em Berlim, reflete sobre cenário político do País, fazendo uso de metáfora bíblica.

 

Com curadoria de Ricardo Resende, a mostra reúne 27 trabalhos que tomam como suporte pias de banheiro fabricadas nos anos 1970 e 1980. Sobre elas, Alex Flemming desenha com o auxílio de um esmeril – ponta de diamante capaz de marcar a superfície da louça. Preciso, os traços gravados na cerâmica rasgam a camada de tinta que cobre as pias, trazendo à tona uma materialidade em traços brancos sob as cores vívidas e esmaltadas das louças. No ato, ganham forma mãos de amigos e pessoas próximas do artista, que, antes de registrá-las, primeiro as fotografou.

 

“Flemming grava o gesto do cotidiano em que se lava as mãos da imundice que carregamos e faz referência ao cenário político brasileiro, assolado pela corrupção e malfeitos da sociedade mancomunada com os políticos”, afirma o curador, para quem, simbolicamente, o artista trata daquela sujeira oculta encontrada na alma humana: a da hipocrisia, da falsa moral e da falsa religiosidade. “O trabalho, de certo modo, desmascara esse antagonismo moral entre o bem e o mal da vida social, feita hoje de perversão, de decadência, de fraquezas, de mentiras, do escárnio, da negação e da imoralidade. No gesto poético de lavar as mãos, busca-se encontrar a pureza: a limpeza não só das mãos, mas também da moral e da sanidade mental”, completa Resende.

 

No espaço expositivo, as obras são mostradas de forma não convencional: os lavatórios ganham pedestais, tais como os altares domésticos típicos do Barroco brasileiro. O tom sacro, inclusive, surge daquela que foi a inspiração da exposição: a passagem bíblica que antecede a crucificação de Jesus Cristo.

 

“Ecce Homo” (Eis o homem, em latim) teria dito Pôncio Pilatos, em um momento crucial para a humanidade: a entrega do homem de Nazareth ao povo judeu, ordenando à multidão que escolhesse o destino do filho de Deus, lavando então suas mãos para o destino que Ele teria e eximindo-se da responsabilidade por sua posterior crucificação.

 

“Esta série propõe uma reflexão plástica do fato de lavarmos nossas mãos em questões nacionais importantes, deixando-as para serem decididas por políticos e outros poderosos, invertendo assim a relação bíblica”, comenta Alex Flemming, para quem os conflitos e as questões sociais são caras e, muitas vezes, estopim para suas criações artísticas. Idealizada em 2018, ainda em Berlim, a série foi realizada ao longo de um mês, em um ateliê que o artista improvisou na Fábrica de Arte Marcos Amaro, sede da Fundação Marcos Amaro, em Itu, interior de São Paulo.

 

 

Sobre o artista
Alex Flemming é pintor, escultor e gravador. Nasceu em 1954 em São Paulo e, desde 1993, reside em Berlim, na Alemanha. Entre 1972 e 1974, frequentou o curso livre de cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Cursou também serigrafia e gravura em metal. Na mesma década, realizou curtas-metragens e participou de festivais variados. A partir dos anos 1990, realizou intervenções em espaços expositivos e pinturas de caráter autobiográfico. Passou a recolher móveis para utilizar em seus trabalhos, aplicando sobre eles tintas e letras ou textos. Apesar da vivência na Alemanha, sempre expôs no Brasil. Em 1998, realizou painéis em vidro para a Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, com fotos de pessoas comuns, às quais sobrepõe com letras coloridas trechos de poemas de autores brasileiros. A representação do corpo humano e os mapas de regiões em conflito estão na série Body Builders, 2001-2002. Também de 2002, a série “Flying Carpet”, que toma como ponto de partida o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Já a série “Anaconda”, de 2016, uma reflexão plástica sobre os horrores da ditadura do Estado Islâmico e o seu cruzamento com as tradições culturais do Oriente.

Pele & Sombra no MARGS

12/fev

 

Intitulada “Magna Sperb/Pele e Sombra”, é a exposição individual que Magna Sperb – apresentando 15 esculturas em aço carbono oxidado – exibe na Sala Iberê Camargo, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. Com curadoria de André Venzon, as peças foram criadas entre 2016/2018, inspiradas em elementos orgânicos e artesanais – como tramas, redes, telas, panos, cipós, galhos, cascas, raízes, teias e ninhos – são tapeçarias metálicas finas e delicadas que, colocadas sob a luz, projetam sombras em formas de desenhos, sugerindo movimento e leveza.

 

Para o curador André Venzon, mais que o reconhecimento da trajetória artística de Magna Sperb – que trabalha no campo do desenho, da pintura, da fotografia e da escultura -, a exposição propõe a expansão de sua obra. Conhecida no meio da arte e também da arquitetura – Magna Sperb prestou assessoria em cor para projetos arquitetônicos durante quinze anos – a artista retoma a poética da transformação, que caracterizou etapas anteriores da sua pesquisa artística no campo da representação. “Da pintura na tela, para os recortes em MDF, depois para as revistas e destas para o outdoor, agora são as placas de aço que traçam e expressam todos estes caminhos, processos e trânsitos que entranham a sua criação artística que continua a se metamorfosear e nos surpreender”, afirma o curador.

 

Os estudos de tramas, cuidadosamente colecionados pela artista, são o ponto de partida para a criação das esculturas de “Pele e Sombra”. Magna redesenha essas tramas e as tece digitalmente, trabalhando em seguida o aço carbono com corte a laser. As peças são dobradas e amassadas à mão e expostas às intempéries do tempo, para adquirir textura. “Minhas esculturas são intencionalmente incorporadas à própria sombra: delicadas, leves, quase um desenho no ar, mas agressivas, com pontas que riscam o espaço. Valorizar tanto a sombra como a forma é aceitar e compreender que cada coisa é muito mais do que se vê e se percebe”, afirma a artista.

 

“É na subtração, no recorte e na ausência que sua obra se materializa”, explica o curador. “Portanto, tudo tem uma estrutura profunda, até a sombra que provem da arquitetura da luz. Enquanto a natureza e o humano teimam em cobrir e fechar, a artista prossegue a vazar sua pele de aço”, completa.

 

 

Sobre a artista

 

Magna Sperb nasceu, vive e trabalha em Novo Hamburgo/RS. Possui Pós-Graduação em Poéticas Visuais e Processos Híbridos, Pós-Graduação em Artes Visuais, Especialização em Cor e é formada em Licenciatura em Desenho e Plástica pela Feevale. Desenvolve sua pesquisa em desenho, pintura, fotografia e escultura. Foi professora de História da Arte e Educação Artística na rede de ensino pública e privada. Durante quinze anos prestou assessoria em cor para projetos de arquitetura. É uma das idealizadoras do Mesa de Arte na Praça, um projeto de ocupação artística contemporânea para formação de público. Desde 2007 participa de exposições coletivas no Brasil e exterior. Dentre as individuais destacam-se: Recortes, IAB/RS – Porto Alegre, 2014, Metamorfose, MAC/RS – Porto Alegre, 2011 e (Des)Encontros, Usina do Gasômetro – Porto Alegre, 2009. Suas obras fazem parte dos acervos do MARGS, MAC e IAB/RS.

 

 

Até 12 de maio.

Enigmas na SIM Galeria

SIM Galeria, Cerqueira César, São Paulo, SP, exibe “não está claro até que a noite caia”, exposição individual de Juliana Stein.

 

Entre enigmas 

Para sua primeira mostra individual em São Paulo, Juliana Stein, como lhe é característico, preparou um elenco enxuto de enigmas. E precisa mais? Como um dia escreveu Walter de Maria, que em 1977 instalou uma charada sob a forma de 400 para-raios num quadrado de uma milha por um quilômetro, numa região desértica do Novo México: Cada bom trabalho deve ter no mínimo dez significados. Juliana pertence a essa mesma linhagem. E quem já a conhecia, ou pensava conhece-la, preparou-se para ver fotografias. Para esses ela trouxe uma. Tão misteriosa e ambígua quanto o resto: uma penca de poemas visuais que se desdobram, primeiramente, em sentenças divergentes:

não

está

claro

até que

a noite

caia

Insinuação contraditória de que a luz chega com a escuridão – a luz da lua?  (o visitante haverá de notar que a luminosidade rebaixada do sol contido no a com til – não –, cintila seu último raio no está, tônico, despencando por detrás da linha do horizonte – até,  a noite – para acabar separada pela verticalidade impositiva do i – caia);

aliterações:

infalível

infalável

em que a ideia de precisão, por um triz coincide com a impossibilidade de  expressão. Enquanto o í tônico espelha o átimo da certeza, o á abre-se em possibilidades;

a solução enxuta:

oops

em que os oo refream a conclusão, realçam o momento em que o espírito em dúvida, eriça-se; põe-se de sobreaviso, enquanto o scolado ao p, distende esse estado de espírito; até o grão da palavra, o ínfimo fragmento, o átomo: u/n: quando a letra u, virada de cabeça para baixo, de vogal transforma-se em consoante.

 

Nesse jogo de embaralhamento de linguagem, das formas que ela pode assumir, esplende na parede do fundo, pintada de preto, solução que afora o contraste encurta ilusoriamente a distância, uma espécie de relógio digital ocupando grande parte dela, feito de lâmpadas fluorescentes brancas, marcando 00:00 horas  em regime permanente.  O relógio ostenta a força da sua matéria incorpórea, cegante e misteriosa. Por que parado e por que parado no 00:00 horas? Seria um ponto de partida ou de chegada? As duas interpretações são igualmente válidas, pois, segundo a lógica mais trivial, assim como acontece com a fotografia que suspende o fluxo de um tempo contínuo iniciado sabe-se lá quando, e que vai perdurar dentro da mesma indeterminação, o relógio parado em 00:00 horas dá a entender o mesmo. De qualquer modo prefiro imaginar, talvez movido pela sugestão do título da exposição, Não está claro até que a noite caia, que o relógio empreendeu uma contagem regressiva, baixando até o zero.  O fim do dia tem a ver com apagamento, o grande zero luminoso submergindo atrás da linha do horizonte. Quando as coisas perdem sua nitidez e vão se embutindo na sombra.

 

Um dos problemas que a exposição de Juliana Stein enfrenta de frente é a cegueira produzida por um mundo onde as pessoas, por assim dizer, não piscam, não têm, porque não tem ou porque não querem ter, um minuto, um segundo que seja, de sombra, escuridão e mistério. Flutuam à tona de suas certezas flácidas, bamboleantes, o que não as impedem de emiti-las com a fúria dogmática dos fanáticos.

 

E é nisso que reside o valor da única fotografia exposta, a imagem solitária que a artista nos concede.

 

A fotografia vai à praia. Juliana registra o corpo no lugar por excelência da exposição, mais do que isso, da superexposição; onde as pessoas colocam-se literalmente à flor da pele, escancaram sua  nudez consentida. Nessa situação, a artista, visitando o avesso, elege o corpo oculto, envolto no drapeado de um tecido branco, refulgente como o corpo de um fantasma ou de um santo, não se sabe, nunca se saberá. O que se sabe é que isso – um milagre? – acontece à luz do dia, com o sol a pino, ali onde a onda se quebra e a água desfaz-se em espuma, fragmenta-se em infinitas micropartículas, como uma exalação da matéria láctea, a matéria máter do mundo.

Agnaldo Farias

 

De 19 de fevereiro até 23 de março.