Graphos: Brasil, mulheres

25/mar

A Graphos:Brasil, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou duas exposições que têm a temática feminina como eixo central: a individual da escocesa Clare Andrews e a coletiva “Mulheres, chegamos!” com a participação do elenco feminino da galeria, além de cartazes do grupo Guerrilas Girls.

 

Clare Andrews apresenta as pinturas da série”Deeds not Words” nas quais relata um dos mais importantes momentos na luta das mulheres  pela conquista de seus  direitos na sociedade, o movimento sufragista. Clare Andrews apresenta 40 trabalhos em óleo sobre tela inspirados no conjunto de manifestações realizadas por mulheres no final do século XIX em luta pelo direito ao voto e em “sufragettes” como Emily Wilding Davison – mártir do movimento após ter sido golpeada pelo cavalo do rei no Derby da Inglaterra em 1914.

 

A segunda  exposição, “Mulheres, chegamos!”, traz pinturas, esculturas, fotografias, instalações e cartazes das artistas Anna Bela Geiger, Bettina Vaz Guimarães, Cristina Ataíde, Daniela D’Arielli,  Gabriela Noujaim, Liliana Porter, Monica Barki, Monica Potenza, Sani Guerra e Susana Anágua. Nesta mostra o público também vai poder conferir a arte provocativa das Guerrilas Girls, coletivo norte-americano, que utiliza performances e cartazes com apelo pop  para questionar o lugar da mulher na sociedade contemporânea, particularmente das artistas mulheres. A exposição apresenta 25 cartazes do grupo fundado em 1985 e que até hoje mantém sigilo sobre a identidade de suas integrantes, utilizando máscaras de gorila durante as aparições públicas em alusão a benfeitores anônimos como Batman e Homem-Aranha. Famosas em todo o mundo por sua arte engajada e de humor irônico, as ativistas participaram da 51ª Bienal de Veneza e de diversas exposições e apresentações ao redor do mundo.

 

“Observando a coleção de  posters feitos pelas Guerrilas Girls e o mote principal de sua luta – a  dificuldade das artistas mulheres se fazerem presentes nos museus, instituições e, principalmente, nas galerias de arte norte-americanas – me dei conta de que nós, diferentemente do mercado estrangeiro, damos bastante espaço às nossas artistas (só no time da Graphos temos 11) porque consideramos que artista é substantivo e/ou adjetivo de dois  gêneros. Não faz diferença, quando se trata de qualidade e expressão, se os criadores da beleza são homens ou mulheres”, declara o galerista e curador, Ricardo Duarte.

 

 

Até 12 de abril.

Ivan Cardoso, Cocchiarale e Agra na Paralelo

A Galeria Paralelo, Pinheiros, São Paulo, SP, promove no dia 1º de abril de 2014, terça-feira, às 18h a conversa aberta “Monstrutivismo: O Vampiro é Nosso”, com o curador Fernando Cocchiarale e o pesquisador Lúcio Agra, sobre a obra do artista Ivan Cardoso, que também estará presente no bate-papo.

 

O encontro versa sobre o trabalho de Ivan, o qual foi tema de exposição individual em 2013, na própria Galeria Paralelo, uma mostra produzida não só pela invenção poética e por novas imagens, pinturas e objetos do artista, como também pelo registro icônico de personalidades do universo cultural brasileiro, capturados por sua câmera. Nas palavras de Fernando Cocchiarale: “(…) tanto o cinema de Ivan Cardoso quanto suas outras obras têm por referências ícones da brasilidade. Mas, diferentemente do foco agro-rural que havia marcado essa questão até o pós-guerra, as referências apropriadas pelo artista são inversamente urbanas. Na verdade ele sequer trata de temas estritamente brasileiros já que múmias, vampiras, etc. são parte de um imaginário local que filtrou Hollywood e chegou às chanchadas da Atlântida.”

 

Em meio à intensa repressão instaurada pela Ditadura Militar, Cardoso inventou um cinema que, ao conceber a máscara do chamado terrir e a estética udigrudi, confrontava diretamente tal repressão e seus desdobramentos. Coordenação: Andrea Rehder e Flávia Marujo.

Mais pinturas: Fernando Burjato

A Galeria Virgílio, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Mais pinturas”,individual de Fernando Burjato. O artista paranaense de quarenta e um anos, em sua terceira individual na Galeria Virgílio, apresenta catorze obras recentes, onde são radicalizadas algumas características que já eram visíveis em sua produção anterior: áreas de cores intensas, dégradés, camadas de tinta a óleo que se acumulam em volumes. E a um tempo a afirmação da pintura e um olhar irônico sobre sua tradição e suas convenções.

 

A cor, sempre um elemento fundamental, se faz visível através de camadas espessas de tinta, que literalmente se estendem para além do espaço dos quadros, ou que se dobram sobre eles, como franjas. Segundo Bruno Oliveira, que assina o texto de apresentação, nessas pinturas “não há qualquer ímpeto de escapar da materialidade, nem do objeto (…) a tinta é um pedaço de pele disposta sobre um corpo. Esse corpo é o quadro, coberto por um manto de tinta e cor. Essa derme-pintura não é pele lisa, perfeita, jovem. Ela é casca grossa, uma pele velha, cheia de imperfeições e cicatrizes, maquiada exageradamente, como se o desejo fosse esconder as marcas do tempo, os defeitos da história.”

 

Em muitas obras recentes, em pequenas dimensões, as telas têm espessuras variáveis, não raramente muito maiores que o habitual, na forma de paralelepípedos. O que se pode chamar de pintura não se atém à superfície frontal, mas se estende às laterais. A pintura é uma superfície, e ao mesmo tempo um objeto. Uma janela (para a cor) e um bloco.

 

 

Sobre o artista

 

Fernando Burjato é formado pela escola de Música e Belas Artes do Paraná desde 1994 e mestre em artes pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNES), desde 2011. Realizou exposições individuais, entre outros lugares, na Galeria Virgílio, na Galeria Casa da Imagem, Curitiba, Centro Cultural São Paulo, Centro Universitário Maria Antonia e participou da 6º Bienal de Curitiba. Possui obras nos acervos do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, MAC/PR e do Museu Municipal de Arte de Curitiba, MuMA. É autor do livro de contos “Cabeça, corpo caveira e alma”, Bom Texto, 2000, e em parceria com Daniela Vicentini, publicou “Arte Brasileira nos Acervos de Curitiba”, Segesta, 2010. Vive e trabalha em São Paulo.

 

 

De 16 de março a 19 de abril.

Personagem de Pierre Lapalu

A Galeria Paralelo, Pinheiros, São Paulo, SP,  exibe “Joaquim Nunes de Souza – O Etnógrafo Naïf”, exposição do artista plástico curitibano Pierre Lapalu, que também assina a curadoria da mostra. Trata-se de uma instalação narrativa, com 36 desenhos, sobre a vida e obra de um artista fictício criado por Pierre, chamado Joaquim Nunes de Souza, o qual teria produzido uma série de desenhos retratando pessoas no espaço urbano.

 

De natureza introvertida e origem humilde, Joaquim não tem formação acadêmica e nem aplica rigor científico em seus desenhos de observação, seu único meio de interação com a sociedade. Seu trabalho apresenta recortes de cenas do dia a dia – relances do cotidiano que permanecem em nosso imaginário -, revela protagonistas de pequenos detalhes da vida. Joaquim age como um “etnógrafo naïf”, fazendo um levantamento do tipo físico e do comportamento desses habitantes da cidade de Curitiba, em uma tentativa intensa de perceber a realidade social e entender a configuração local, da qual se sente excluído.

 

Apesar da linearidade em relação à cronologia da história de Joaquim, mostrada na exposição com disposição clara de início e fim, os desenhos foram feitos aleatoriamente, sendo que todas as pessoas retratadas, os locais dos textos e dos retratos, de fato existem (ou existiram). Sobre seu processo criativo, Pierre comenta: “A escolha do desenho, basicamente nanquim sobre papel, dá-se pela facilidade que um artista teria de desenhar na rua, já que todos os desenhos seriam supostamente produzidos durante observações de populares em praças, terminais de ônibus e demais locais de convivência comum, mas que passam despercebidos pelos que ali transitam”.

 

Tomando a urbanidade como tema e o uso da ficção como mediação com o público, Pierre Lapalu nega a premissa do artista como um executor do próprio estilo, emprestando seus traços e jeito de desenhar a Joaquim. “(…) entendi que deveria procurar desenvolver a metamorfose que o traço e o estilo de um artista teria durante toda sua vida, pois o estilo muda conforme sua percepção vai se descolando da realidade, o que é observável pelo traço”. Coordenação: Andrea Rehder e Flávia Marujo.

 

 

De 29 de março a 03 de maio.

Rosângela Rennó: encontro

19/mar

A Casa do Saber, com o apoio da ArtRio, apresenta a aula “Revelando os arquivos fotográficos de Rosângela Rennó”. O encontro com a artista – que já participou das bienais de Veneza em 1993 e 2003, Berlim em 2001, São Paulo em 1994 e 2010, Havana em 1997 e Istambul em 2011 – aconteceu na sede da instituição, na Lagoa, Rio de Janeiro, RJ.

 

Rosângela Rennó não costuma tirar muitas fotos. No entanto, ela se transformou em uma das principais referências em artes plásticas quando o assunto é fotografia, suas ressignificações e desdobramentos. Ela prefere manipular imagens e negativos feitos por outras pessoas, muitas vezes anônimas, retrabalhando a memória e, sobretudo, as ausências e faltas na memória. Em uma época em que o apelo da fotografia é onipresente, Rosângela conseguiu construir uma obra original com reconhecimento de crítica no Brasil e no exterior. Seus trabalhos estão em alguns dos principais museus de arte no exterior, como o Reina Sofia, em(Madri, a Tate Modern, em Londres, o Arts Institute of Chicago, o Guggenheim, em Nova York e o Stedelijk em Amsterdan.

 

Ela também acaba de ganhar o prêmio de melhor foto-livro do mundo da Paris Photo-Aperture Foundation, na França, com “A01 [COD. 19.1.1.43] – A27 [S|COD.23]”, livro sobre as fotografias de Augusto Malta furtadas do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Nesse encontro especial, Rosângela mostrou e comentou seus últimos trabalhos a partir de investigações em arquivos fotográficos e falou de sua dedicação à produção de foto-livros.

Marine Hugonnier na Fortes Vilaça

Com a exposição “A Abelha, o Papagaio e a Onça”, a artista francesa Marine Hugonnier,  realiza sua segunda individual na Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP. A mostra apresenta um filme, fotografias e esculturas que partem de pesquisa da artista sobre maneiras de abordar, compreender, e conviver com a natureza e os sistemas de representação que nossa sociedade criou. No filme “Apicula Enigma”, Marine Hugonnier desconstrói a linguagem corrente do “documentário de vida selvagem” ao usar recursos técnicos do cinema para se aproximar da verdade fatual de uma colmeia. Partindo de pesquisa sobre mitologias ocidentais associadas às abelhas, incluindo os livros “A Vida das Abelhas”, de 1910, de autoria de Maurice Maeterlink, “Dos Animais e dos Homens” de J.V Uexkull e também de filmes que vão de Eadweard Muybridge e Etienne-Jules Marey às histórias infantis de Walt Disney, a artista procurou filmar o espaço entre as abelhas e a equipe de filmagem, o estar na presença das abelhas, ao invés de humanizar a sociedade apícula usando-a como uma parábola para nossa sociedade. O filme é uma maneira de procurar a exata distância em que o mundo animal ainda mantém o seu mistério.

 

Nesta mostra, Marine Hugonnier considera a figura do papagaio como a de um animal aculturado, já que tem a habilidade de falar. A ideia de poder incluir um animal no contexto público por sua capacidade de comunicação foi a base para a performance que aconteceu na abertura da exposição, onde um papagaio interagiu com os visitantes. É também base para seu próximo filme, “The Parrot Case”, – O caso do Papagaio-, adaptação da história real sobre um papagaio que presenciou um assassinato e depois foi usado como testemunha chave no julgamento. Três objetos são ressignificados por um carimbo com as palavras “Union Pour La Cinegenie” – União pela Cinegenia. Esta união é um grupo informal criado por Marine Hugonnier e Manon De Boer, com o propósito de definir a palavra inventada “cinegenia”.  As obras que levam o carimbo são uma gravura do século XVIII, “An Assembly of Animals’ -Uma Assembleia de Animais -, um livro-colagem e um anúncio antigo do carro Jaguar que assim formam um tipo de coleção de exemplos que podem definir esta qualidade especial ou que simplesmente devem ser consideradas por suas qualidades cinemáticas.

 

A terceira parte da exposição está baseada na pesquisa e conceitos delineados por Eduardo Viveiros de Castro: a perspectiva ameríndia em que existe somente uma humanidade da qual os animais também fazem parte.  A noção ameríndia expande assim a ideia de subjetividade para uma não diferenciação entre humanos e animais. Dentro desta diferente concepção ontológica, a realidade e o ponto de vista de um animal, como a onça, pode ser apreendida e compartilhada. Ter uma outra perspectiva da mesma realidade é um dos intuitos dos rituais xamânicos praticados pelos povos habitantes da região amazônica. Neste contexto, a artista apresenta a série de esculturas abstratas “Anima”, que são objetos móveis. O título faz referência as palavras alma ou espírito ou psyche. Estas obras estão posicionadas em bases espelhadas nas quais o reflexo agrupa o espectador, seu entorno e a escultura em si, criando um único corpo.  Em “Anima(L)”, a escultura abstrata é acompanhada pela a fotografia de um animal criando assim uma nova relação. Ao lado desta,  a artista intervêm com folhas de ouro em uma escultura “ready made” que representa um xamã virando uma onça. Dois grandes luminogramas compõem a exposição, os trabalhos que são feito de papel fotossensível exposto à um lugar e período determinado, resultando em imagens quase monocromáticas, sendo a simples emanação do calor e elementos presentes no ambiente. Esta exposição considera diferentes tipos de concepções ontológicas sobre humanos e animais e assim questiona dicotomias tradicionais modernas; a divisão entre Natureza e Cultura, Sujeito e Objeto e os modos de produção e troca que estes sistemas de pensamento implicam.

 

 

Sobre a artista

 

Marine Hugonnier nasceu em Paris, França, em 1969 e vive e trabalha em Londres. Entre suas recentes exposições individuais podemos destacar: Chateau D’Angers, França (2014); Sainsbury Centre for Visual Arts, Norwich, UK (2013); FRAC Champagne-Ardenne, Reims, França (2009); Malmö Konsthall, Suécia (2009); Kunstverein Braunschweig, Alemanha (2009); Musée D’Art Moderne et Contemporain MAMCO, Geneva, Suiça (2008); S.M.A.K. Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica (2007); Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, EUA (2007). Sua obra está presente em importantes coleções como: Thyssen-Bornemisza Contemporary Art Foundation, Viena; National Gallery of Art, Washington DC; Musée d’art Moderne de la Ville de Paris; MOMA, New York;  MACBA, Barcelona; Jumex Collection, Cidade do México; Reina Sofia, Madrid; Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brumadinho, MG; entre outros.

 

 

De 22 de março a 03 de maio.

Flávio de Carvalho na OCA

18/mar

O lado polêmico de Flávio de Carvalho (1899-1973) é bem conhecido – ficou famosa a fotografia do artista andando pelo centro de saia e blusa bufante, com expressões de espanto à sua volta. Mas a exposição em cartaz na Oca, Parque do Ibirapuera / portão 3, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, a nova sede do Museu da Cidade, quer ampliar o olhar do visitante. Organizada a partir de buscas em acervos paulistanos, a montagem exige um pouco de paciência para ler os textos exibidos. Ainda assim, vale a pena. Em um dos artigos escritos para a revista Vanitas, na década de 30, Carvalho ironizava os atores de Hollywood e afirmava que um dia eles seriam mais idolatrados que figuras religiosas – nada mais atual. Dos camarins do Teatro Municipal vieram figurinos criados pelo artista para o balé “A Cangaceira”, encenado em 1954, no qual os bailarinos ficavam rodopiando o tempo todo. No centro da mostra está a reprodução sonora da Experiência nº 2, episódio em que Carvalho, de chapéu, caminhou na direção oposta a uma procissão. Ele causou tanta ira que foi obrigado a se refugiar em uma delegacia para não ser linchado. Há ainda projetos arquitetônicos – nunca executados – e ilustrações.

 

Fonte: Resenha Laura Ming – Veja SP.

 

Até 27 de julho.

Instalação de Miguel Rio Branco

Uma instalação com quatro projeções de imagens que transitam pelas temáticas de violência e poder, trabalhada simultaneamente sobre quatro telas de voil, com áudios diferentes, constitui o núcleo central da mostra “Gritos surdos”, de Miguel Rio Branco, que ocupará a Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição reúne instalações realizadas pelo artista no início da década de 2000, que nunca foram exibidas no Rio de Janeiro. Além da obra que estará na nave central da Casa França-Brasil, uma das salas laterais exibirá uma projeção com imagem fixa e áudio. A outra vai mostrar um “site specific” em neon‚ no qual vidros de pára-brisas de automóveis, acidentados ou baleados, refletem luzes fluorescentes que piscam de modo intermitente, perfiladas por linhas de neon vermelho, com fotografias em cibachrome. As obras de “Gritos Surdos” foram concebidas originalmente para uma mostra individual do artista no Centro Português de Fotografia, Porto, Portugal, em 2001 e também exibidas na Galeria Millan, São Paulo, SP, em 2004 e em Arles, França, nos “Rencontres d’Arles”, na Église des Frères Prêcheurs, em 2005. Ao lembrar que Miguel Rio Branco não apresenta uma exposição institucional no Rio de Janeiro há muitos anos, Evangelina Seiler, diretora da Casa França-Brasil, diz que “Gritos Surdos” proporciona uma reflexão sobre difíceis aspectos da condição humana. – “A obra de Miguel Rio Branco nos faz pensar sobre o que às vezes não queremos ver”.

 

 

A palavra do artista

 

– “Como artista, trabalhei em cima de imagens fotográficas‚ do cinema digital‚ das luzes de neon e da poética que as artes plásticas me oferecem. Tudo se transforma no resultado da minha obra”, resume Miguel Rio Branco, ao falar sobre o seu processo criativo.

 

“Gritos surdos” é composta por vídeos, fotografias e objetos. No entanto, sobre este tipo de composição, o artista ressalta: – “Cada pedaço na verdade já contém um todo, já pode bastar em si mesmo, fotograficamente falando; porém, poeticamente, ele precisa dos outros pedaços para completar o discurso”.

 

– “Trabalho como um pesquisador, como um colecionador de momentos e objetos, uma pessoa que vai atrás de marcas deixadas por outros, um pouco como um arqueólogo. Hoje em dia eu me vejo muito como um arqueólogo que vai pegando marcas; o meu trabalho não tem mais o ser humano explícito, mas tem a marca dele, os restos que ele deixa, as maneiras com que ele trabalha as coisas. Não registro a arquitetura que o homem faz num edifício, mas os buracos onde ele vive, os restos que ele larga para trás”, conclui.

 

 

Sobre o artista

 

Um dos mais completos artistas visuais brasileiros, Miguel Rio Branco começou a expor suas pinturas em 1964, mas foi como fotógrafo e diretor de fotografia que conquistou reconhecimento nacional e internacional, a partir dos anos de 1970. Estudou fotografia em Nova Iorque, onde trabalhou por dois anos como fotógrafo e diretor de filmes experimentais.  Nos nove anos seguintes, dirigiu e fotografou filmes em longas e curtas metragens. Desenvolveu, em paralelo, uma fotografia autoral de forte carga poética, que logo o legitimou como um dos melhores fotojornalistas de cor.  A ênfase de Miguel Rio Branco ao olhar pessoal lhe rendeu prêmios importantes, como o francês Kodak de la Critique Photographique, em 1982, e o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM- SP em 1980, além da presença de seus trabalhos nas revistas mais importantes do mundo, como Stern, National Geographic e muitas outras. Como diretor de fotografia, foi premiado pelos filmes “Memória Viva”, de Otávio Bezerra, e “Abolição”, de Zózimo Bulbul. Seu vídeo “Nada levarei quando morrer, aqueles que me cobrarei no inferno”, 1982, venceu a categoria Melhor Fotografia no Festival de Brasília e foi duplamente premiado no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França: levou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional. Publicou os livros “Dulce Sudor Amargo”, Fundo de Cultura Económica, México, 1985; “Nakta”, com um poema de Louis Calaferte , Fundação Cultural de Curitiba, 1996;  “Miguel Rio Branco”, com ensaio de David Levi Strauss, Aperture, 1998; e “Silent Book”, Cosac Naify, 1988. Seguiram-se “Entre os olhos, o deserto”, 2000, também pela Cosac Naify e “Notes on the tides”, 2006. O mais recente de seus livro “Você está feliz”, 2012,  editado pela Cosac Naify, foi indicado ao “Photobook Award 2013”. Miguel Rio Branco possui obras no acervo de coleções públicas e particulares nos EUA, na Europa e no Brasil: MAM-Rio,  MAM-SP, MASP-SP, Centre Georges Pompidou, Paris, San Francisco Museum of Modern Art, USA, Stedelijk Museum, Amsterdan, Museum of Photographic Arts, San Diego, California, USA, e Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, USA. Entre 2000 e 2013, o artista realizou 50 exposições individuais no Brasil, na Europa, Estados Unidos e Japão. Possui espaço especial (individual) no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, MG.

 

 

 De 24 de março a 25 de maio.

Ron Mucek no MAM-Rio

Em 2013, Ron Mueck foi convidado para apresentar suas novas esculturas na Fondation Cartier pour l’art contemporain em Paris. Essa mostra estará sendo exibida em sua íntegra no Museu de Arte Moderna, MAM-Rio, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, depois de já ter sido apresentada no Fundación PROA, Buenos Aires. É a primeira vez que a obra de Ron Mueck é exibida na América do Sul. Além das seis importantes esculturas recentes, esta mostra agrega três esculturas inéditas. Também será apresentado um novo filme sobre a criação de Mueck realizado por Gautier Deblonde para a mostra em Paris. Ao revelar-nos o artista solitário em seu processo de trabalho, o filme acentua ainda mais a sensibilidade e a força das esculturas de Mueck e ressalta sua particular ressonância nos dias de hoje.

 

Uma exposição de Ron Mueck é um evento incomum. Mueck vive em Londres e suas mostras têm sido aclamadas no mundo todo, desde o Japão, Austrália e Nova Zelândia, até o México. Mueck trabalha lentamente em seu pequeno estúdio ao norte de Londres, e o próprio tempo transmuta-se em um elemento importante dentro de seu processo criativo. O detalhe de suas figuras humanas é meticuloso, com surpreendentes mudanças de escala que as distanciam do realismo acadêmico, da pop arte e do hiper-realismo.

 

Três novas esculturas são exibidas aqui pela primeira vez, depois do evento original em Paris: dois adolescentes na rua, uma mãe com seu bebê e um casal de idosos na praia. Parecem congelados em momentos da vida, e cada uma delas captura o vínculo entre dois seres humanos. A natureza da conexão entre ambos se revela em suas ações, pequenas, comuns, e ao mesmo tempo, misteriosas. A precisão de seus gestos, a representação fidedigna da carne, a insinuação da suavidade da pele, lhes confere uma aparência de absoluta realidade. Estas obras não descrevem situações ou pessoas reais, mas a obsessão com a verdade nos fala de um artista que busca a perfeição e que é extremamente sensível à forma e à matéria. Na busca da verossimilhança, Mueck cria obras secretas, meditativas e fascinantes. Iluminar as verdades universais. Essas figuras que parecem tão comuns e ordinárias também irradiam uma espiritualidade e uma forma humana tão profunda que provocam em nós uma resposta. Mueck revela a natureza surpreendente de nossas relações com o corpo e nossa existência, indo muito além das tradições do retratismo.

 

Ron Mueck deu novo sentido à escultura figurativa contemporânea. Ron Mueck vale-se de uma enorme diversidade de recursos, como fotos de jornais, histórias em quadrinhos ou obras-primas históricas, recordações proustianas ou antigas fábulas e lendas. “Still Life”, obra de 2009, se enquadra dentro da tradição clássica desse gênero; “Woman with Sticks”, obra de 2009, inclina-se para trás sob um feixe de lenha e nos faz lembrar dos contos de fadas. “Drift ‘, de 2009, e “Youth”, de 2009, parecem inspiradas em manchetes de jornais, ainda que também evoquem obras do passado. Em outras esculturas de Ron Mueck, como o grande autorretrato adormecido “Mask II”, de 2002, os sonhos transformam-se subitamente em realidade.

 

Seu processo criativo, muito circunspecto, é revelado no novo filme de Gautier Deblonde intitulado “Still Life: Ron Mueck at Work” ou “Natureza morta: Ron Mueck trabalhando”. Esse filme foi produzido para a exposição na Fondation Cartier pour l’art contemporain. Rodado no estúdio de Mueck enquanto ele produzia suas novas obras para a mostra, nos oferece uma oportunidade única e rara de observar o artista perdido em seu próprio processo criativo. Apoio: Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.

 

A exposição foi concebida pela Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris e a curadoria é de Hervé Chandès e Grazia Quaroni.

 

 

De 19 de março a 01 de junho.

Livro artístico

14/mar

Ricardo Sardenberg responde pela curadoria da mostra “A tara por livros ou A tara de papel”. Essa mostra temática é o próximo cartaz da Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, reunindo seleto grupo de nomes e livros de Nuno Ramos, com “Caldas Aulete (Para Nelson 3)”; Beatriz Milhazes, com “Meu Bem”; Artur Barrio, com “Cadernolivro”; Mira Schendel, com “Sem título”; José Bento, com “Baquelite”; Ed Ruscha, com “Me and The”; Rivane Neuenscwander, com “Paisagens Dobradas”; Marcius Gallan, “Livro/objeto Presente”; Leonilson, com “Certas Sutilezas Humanas” e Julio Plaza, com “Objetos Poema”.

 

 

A palavra do curador

 

A exposição A tara por livros ou a tara de papel não toma como ponto de partida a investigação do livro-objeto, algo que já pôde ser visto em tantas exposições recentes. Mas, espero, ela se apropria da ideia do livro-corpo. Embora não seja uma investigação puramente plástica ou estética, ainda assim, espero que a exposição cobre do visitante a experiência sensual e estética, um pouco hedonista com os objetos de desejo.  O livro aqui se confunde com a possessão, o erotismo, a compulsão pelo belo e também como nota de carinho, pois o livro se dá pra quem se quer bem. Nesse sentido, o livro artístico aqui é visto como um fetiche. A exposição celebra o objeto livro pela sua força de sedução.

 

O livro não é apenas objeto ou caixa, invólucro de histórias e sonhos. O livro é uma ideia que se apodera da nossa mente e que, por diversas vezes, a sua perda – um livro que foi emprestado e nunca mais voltou – pode ser tão dolorosa quanto a perda da pessoa amada. Como escreveu Flaubert em defesa do seu livro Madame Bovary: no nosso livro, a palavra perfeita é somente nossa e só existe no nosso léxico.

 

Pouco é mais perturbador que a vista de uma fogueira de livros.”  – Ricardo Sardenberg.

 

 

De 18 de março a 17 de abril.