Bienal de Veneza

15/out

A Fundação Bienal de São Paulo anuncia a nomeação do crítico e professor Luiz Camillo Osorio como o curador da participação oficial brasileira na 56ª Esposizione Internazionale d’Arte – La Biennale di Venezia, que acontece entre os dias 09 de maio e 22 de novembro de 2015 nos espaços do Giardini e Arsenale. Cauê Alves foi designado curador assistente. Curador geral 56ª Exposição Internacional de Arte – la Biennale di Venezia: Okwui Enwezor.

 

 

Sobre os curadores

 

Luiz Camillo Osorio, Rio de Janeiro, 1963, Brasil, professor de estética no departamento de Filosofia da PUC-RJ e curador-chefe do MAM Rio, realizou importantes projetos curatoriais no Brasil e no exterior, entre os quais “Iberê Camargo: Um trágico nos trópicos” (Fundação Iberê Camargo/CCBB-RJ), “O Desejo da Forma” (Akademie der Künste, Berlim, 2010), “MAM 60” (2008) e “Haus der Kulturen der Welt” (Copa da Cultura Berlim, 2006). É autor de “Razões da Crítica” (Zahar) e de livros monográficos sobre Flavio de Carvalho, Abraham Palatnik e Angelo Venosa (CosacNaify).

 

Cauê Alves, São Paulo, Brasil, 1977, mestre e doutor em filosofia pela USP, professor da PUC-SP e do Centro Universitário Belas Artes, desde 2006 é curador do Clube de Gravura do MAM-SP. Realizou, entre outras curadorias, “MAM(na)OCA: arte brasileira do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo” (2006), “Quase líquido”, Itaú Cultural (2008) e “Mira Schendel: avesso do avesso” (2010), Instituto de Arte Contemporânea. Foi curador-adjunto da “8ª Bienal do Mercosul” (2011) e um dos curadores do “32º Panorama da Arte Brasileira” do MAM-SP (2011).

 

 

Sobre a participação brasileira na 55 ª Bienal de Veneza

 

A mais antiga das grandes mostras internacionais de arte, a Bienal de Veneza oferece, a cada dois anos, uma grande exposição coletiva e dezenas de pavilhões nacionais. O pavilhão do Brasil, por sua vez, construído em 1964 no espaço mais prestigiado do evento italiano, o Giardini, é o lugar onde o próprio país escolhe e expõe artistas que a cada nova edição o representam. Desde 1995, a responsabilidade por essa escolha foi outorgada pelo governo Brasileiro à Fundação Bienal de São Paulo, reconhecimento da grande importância da instituição – a segunda mais antiga no gênero em todo o mundo – para as artes visuais do país.

 

Desde 1995, as participações brasileiras no evento são organizadas em colaboração conjunta entre o Ministério das Relações Exteriores – mantenedor do pavilhão brasileiro -, o Ministério da Cultura – por meio do aporte de recursos da Fundação Nacional de Arte (Funarte) – e a Fundação Bienal de São Paulo – responsável pela escolha do curador e produção das mostras. “A organização da participação brasileira nas Bienais de arte e arquitetura de Veneza já faz parte da tradição da Fundação Bienal, uma instituição independente, respeitada internacionalmente e comprometida com o pensamento e a produção da arte contemporânea”, afirma Luis Terepins, comissário da exposição e Presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

 

 

 

 De 09 de maio a 22 de novembro de 2015.

​Penna Prearo na Lume

A Galeria Lume, Itaim Bibi, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Portal de Alice em Atlantis”, individual do fotógrafo Penna Prearo, com curadoria de Agnaldo Farias. A série composta por 21 fotografias abrange elementos da pintura e do cinema, com uso de equipamentos visuais acessórios como filtros, prismas, lanternas mágicas, caleidoscópios, entre outros, perfazendo um recorte da produção recente e da pesquisa atual do artista. A coordenação é de Paulo Kassab Jr. e Felipe Hegg.

 

A individual de Penna Prearo é composta por obras de diversas séries, como Ballerinas – em que o fotógrafo utiliza mosquiteiros de tule incorporados a cenários variados, como se os elementos interagissem entre si em uma apresentação de balé -, Falange Ciclope – cujos personagens, desta vez, são representados por rodas de bicicletas -, Carrossel para um Kubrick Solitário – onde um cavalinho de madeira aparece sempre no clima fantástico característico de sua obra -, Portal de Alice – série composta por cenas que parecem parodiar a realidade, entre outras.

 

Em uma miscelânea de alusões e temas para a composição de suas fotografias, Penna Prearo realiza confrontos e tensões entre imagens, enfatiza a cor em seus trabalhos e destaca um repertório que vai de Alice no País das Maravilhas (de Lewis Carroll, publicado em 1865), inserindo a fábula na lendária ilha de Atlantis, ou Atlântida, criando seu universo individual.

 

Nas séries de Penna Prearo, o registro fotográfico não se presta a apenas registrar coisas e situações comuns. Sua função ultrapassa esse patamar onde cria cenas de sonho, reais ou imaginárias, parafraseando a realidade. Seus trabalhos remetem a recortes de narrativas não lineares e à realidade cultural e underground das cidades por onde passa.

 

 

A palavra do curador

 

Penna Prearo habita um mundo ainda incógnito para nós, um universo de fábulas e desvarios, com influências que não vem de ilusões, mas das existências ali vividas. Em sua obra, nada surge da casualidade, cada escolha vem de uma razão bem pensada, de referências artísticas principalmente pictóricas e cinematográficas. “Portal de Alice em Atlantis” mostra fragmentos do planeta homônimo onde o fotógrafo vive, com narrativas elaboradas como um diretor que constrói cenas e inventa cenários. As situações retratadas tem personagens tão improváveis quanto um mosquiteiro de tule, um cavalinho de pau, a cabeça de uma escultura clássica, duas rodas de bicicletas ou um hidrante, que o artista, em suas infatigáveis peregrinações, percebe e trata como personagens enigmáticas, poderosas em suas presenças silenciosas. “Sua poética afigura-se como um diário do maravilhoso que ele consegue fazer irromper de um cotidiano que os tristes e desavisados supõem comum.”

 

 

 

 Poema do artista

 

“Albergaria de seres transmutantes,

portas de entrada de Alices fugazes,

sistemas organizados,

desertores procurando

lascas de um tempo curvado.

Flechadas de luz farpada

em alvos transitórios.

Translúcidas paisagens

convidando para uma viagem

num transatlântico enfurecido

com bilhete só de volta.

Um dia mais, um dia menos.”

 

 

De 23 de outubro a 28 de novembro.

Transparência cromática

A Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta exposição individual – com pinturas inéditas – de Adriano de Aquino. Dando segmento à pesquisa pictórica iniciada em 2007, o artista aprofundou seus experimentos sobre os suportes metálicos e sintéticos – aço/alumínio e acrílico  – e intensificou sua busca pela transparência cromática, explorando as possibilidades expressivas de pigmentos e substratos de última geração. As obras da mostra foram realizadas utilizando resina sintética poliuretano sobre placas de aço carbono ou alumínio.

 

De acordo com Adriano de Aquino, “…as obras dessa exposição são como espelhos/imagem que, pra lá da interpretação subjetiva, refletem situações mutáveis da obra no plano físico. Incorporando ao campo da pintura as ocorrências simultâneas que acontecem nos encontros entre observador e objeto. As cores e formas intrínsecas à pintura estão presentes, todavia, a superfície espelhada reflete os acasos e incita no olhar estímulos mutantes provenientes das mudanças de luz e do entorno onde nos deparamos com os objetos no mundo real”. O ambiente circundante é sugado pra dentro, tomado pela cor da tela.

 

 

Sobre o artista

 

Adriano de Aquino atua no campo das artes desde os anos 1960, quando participou da hoje mítica exposição “Opinião 65”, organizada por Ceres Franco e Jean Boghici, no MAM-RJ. Após um período de sete anos residindo em Paris, retornou ao Rio na década de 1980 onde, além de dar seguimento a carreira profissional como artista, foi presidente da Associação de Artistas Plásticos Profissionais e Secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2003.

 

 

Até 07 de novembro.

Curadoria de Angélica de Moraes

A Galeria Mamute, Centro, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição “De Longe e de Perto”, com curadoria da crítica de arte Angélica de Moraes. A mostra marca o novo posicionamento da galeria e apresenta seus representados:  Antonio Augusto Bueno, Bruno Borne, Claudia Barbisan, Claudia Hamerski, Clóvis Martins Costa, Danilo Christidis, Dione Veiga Vieira, Fernanda Gassen, Fernanda Valadares, Hélio Fervenza, Hugo Fortes, Ío, Letícia Lampert, Marília Bianchini, Mariza Carpes, Nathalia Garcia, Pablo Ferretti, Patricia Francisco e Sandra Rey.

 

A exposição “De longe e de Perto” propõe uma prática curatorial executada em dois momentos/exposições consecutivos. A primeira mostra resulta de seleção e concepção de montagem à distância, via recursos digitais. A segunda, reúne escolhas presenciais. São duas exposições sucessivas que poderão reafirmar ou substituir obras, gerando novo conjunto e propondo uma avaliação das escolhas efetuadas.

 

 

Sobre a galeria

 

A galeria Mamute realizou em dois anos, inúmeras ações destinadas à produção prática e teórica na área. Propôs diálogos entre o segmento e cruzamentos com produções artísticas contemporâneas, por meio de exposições, palestras, mostras de vídeo, conversas com artistas, lançamentos de publicações, debates, cursos, residências artísticas, entre outros. Com o novo posicionamento, pontuado na sua atuação comercial como galeria de arte, a Mamute propõe instaurar no cenário local um ponto de referência comercial de arte contemporânea no Sul do Brasil.

 

 

De 25 de outubro a 22 de dezembro.

Graciela Hasper na Galeria Oscar Cruz

10/out

Depois de realizar sua primeira exposição na capital de seu país, no MAMBA – Museu de Arte Moderna de Buenos Aires -, Buenos Aires, Argentina, no final de 2013, a artista plástica Graciela Hasper realiza o mesmo feito individual no Brasil. “Obra recente”, é composta de uma instalação e nova série de pinturas e desenhos e o cenário para esta realização é o espaço expositivo da Galeria Oscar Cruz, Itaim Bibi, São Paulo, SP. Graciela Hasper reafirma nesta mostra, toda a sua intensa busca e pesquisa no campo das formas e de suas relações cromáticas.

 

 

A palavra da artista

 

“Sempre pintei círculos e retângulos com suas variações e deformações. Associo o ortogonal com a civilização, com a construção, com a cidade e com a casa. O cubo é a habitação. O quadrado é uma invenção do homem e as formas redondas são as figuras geométricas que se encontram na natureza. A natureza está repleta de círculos: o sol, a lua, os planetas, a gota d’água. E o círculo também é infinito… com algum tipo de pensamento místico. Todo artista abstrato tem uma relação com o absoluto, com o nada… A abstração é como conectar-se com seu interior. Por isso, para mim, a pintura se faz com os olhos fechados. A cor está muito desvalorizada. Há um que de feminino em trabalhar com tanta cor, e a partir daí se apresenta toda uma cadeia associativa com algo menor, secundário. Eu gosto de seguir pelo lado menos valorizado, ir pela margem do caminho, pelo não transitado. Eu gosto de seguir novos caminhos, outras estradas.”

 

 

Até 11 de novembro.

Para rever: Alex Flemming

Fotogravuras, móveis pintados – com escritos – e livros são algumas das obras em exposição Alex Flemming, na Biblioteca Mário de Andrade, Consolação, São Paulo, SP. A mostra tem curadoria de Mayra Laudanna. Nela, Alex Flemming mostra suas experiências artísticas com fotografias e gravuras que começaram na época em que ele era estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

 

Alex é considerado um dos primeiros artistas no Brasil a utilizar essa técnica e, ainda assim, de modo não convencional. O artista interferia nas placas gravadas e após  a impressão da série, destacava alguma área da composição com pinceladas, a exemplo de “Garçom”, que tem a sua gravata borboleta em vermelho. Essas gravuras da série “Paulistana” e as que pertencem a série “Eros Expectante”, estão expostas no terceiro andar da Biblioteca.

 

Ainda nesse espaço, a mostra exibirá dois livros do artista: “Colagens & Desenhos” e “Alex Flemming”, este último feito com mapas do Brasil. No saguão da entrada principal estarão dispostos objetos construídos pelo artista ao longo de sua carreira, móveis e bicho mumificado, que se referem a uma das diretrizes do pensamento de Flemming: dar uma nova vida aos objetos.

 

No salão de leitura, ao qual se tem acesso a partir da avenida São Luís, serão estampadas imagens e carimbado o nome do artista, não só para relembrar procedimentos constantes em suas obras, como também para procurar despertar o interesse do leitor anônimo que usa esse espaço. Com a intenção de instigar o frequentador da Biblioteca e por quem passar por sua entrada principal, na Rua da Consolação, serão impressos nos vidros da fachada retratos que remetem a uma das obras mais conhecidas de Alex Flemming, os painéis com anônimos da Estação Sumaré do metrô.

 

 

Até 01 de novembro.

Guilherme Dable em Salvador

09/out

O artista plástico Guilherme Dable, um dos jovens expoentes da arte contemporânea nacional, faz sua primeira exposição em Salvador na Roberto Alban Galeria, bairro Ondina. Guilherme Dable trabalha com formas geométricas em carvão e acrílica, traduzindo o desejo confesso de abstração diante de um mundo sobrecarregado de imagens. Seus trabalhos são reconhecidos pela crítica e já integram importantes coleções, como as de Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras.

 

A mostra em Salvador tem um título, no mínimo, intrigante: “Desse lugar entre meio-dia e duas horas da tarde”, reunindo trabalhos em pinturas numa perspectiva que revela o criativo equilíbrio do artista entre a forma e a cor na apreensão dos flagrantes do seu cotidiano.

 

Ao apresentar a mostra, o crítico, curador e estudioso das artes visuais, Guilherme Bueno, enfatiza o papel do desenho nas telas de Dable: “A linha que corre os planos num momento serve para cercar uma área a ser pintada; noutro, delimita a superfície já pintada. Ela se esvai assim do mero caráter projetivo atribuído ao desenho, conferindo-lhe antes um valor de eixo para articular a relação entre esses planos, porém fazendo-o pela anulação de uma estrutura “imediata” de figura e fundo”, diz.

 

 

Reorganizando o mundo

 

Revelando paisagens, o artista aposta num conceito muito particular de abordagem da realidade. Como ele mesmo confessa, o seu trabalho é a maneira que encontrou para “ um reorganizar interno do mundo”. Das caminhadas que faz pelas cidades que se encontra, anotando o que vê em cadernos, fotografando coisas, ele constrói repertório para alimentar o seu ateliê de criações.

 

“Meu trabalho não tem uma figuração explícita, ele alude à cidade, mas na verdade essas anotações sobre a arquitetura, as observações sobre como a luz incide nas coisas pela rua ou como a refração da luz altera a percepção, por exemplo, do que tenho dentro do ateliê em determinada hora do dia, servem como uma espécie de desculpa pra trabalhar, pra mexer com os materiais, pra achar alguma maneira de dialogar com essa experiência quando vou pra frente do suporte”, explica o artista.

 

 

Sobre o artista

 

Guilherme Dable, Porto Alegre, RS, 1976, é bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com mestrado em Poéticas Visuais. Já participou de coletivas internacionais – como por exemplo, em Londres e Nova Iorque – e realizou seis individuais no país, em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

 

Em 2009, conquistou as suas primeiras premiações, entre as quais é destaque a seleção no Rumos Artes Visuais 2011-2013, maior mapeamento da produção artística brasileira, organizado pelo Itaú Cultural. O último reconhecimento ocorreu em 2013 com a conquista do cobiçado Premio Marcantonio Vilaça, concedido pela Funarte. Além disso, seus trabalhos integram coleções importantes, como Gilberto Chateaubriand/ MAM- RIO; Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS; e Museu de Arte Contemporânea, MAC-RS, Porto Alegre.

 

 

O texto do curador

 

Há duas cenas marcantes da história da pintura na metade do século XX: a primeira, mais conhecida, é a sequência com Jackson Pollock filmada por Hans Namuth, na qual ele comenta rapidamente seu método de trabalho, logo a seguir “demonstrado” em uma tela e um vidro; a segunda, célebre mas menos vista, traz o encontro de Duke Ellington e Joan Miró no ateliê do último em Jan les Pins, no sul da França.  Não é à toa que remetemos a tais referencias para refletir sobre as pinturas de Guilherme Dable. Evidentemente, os sessenta anos que as separam corresponde as diferenças de lugar, prioridades e objetivos. Contudo, servem de pretexto para discutirmos como o artista gaúcho lida com dois termos ali visíveis e correntes em sua produção – a musicalidade e o improviso.

 

Os dois se apresentam principalmente em alguns trabalhos que Dable realiza com seus colegas do Ateliê Subterrânea em Porto Alegre. Neles há a alternância entre composição musical, performance e desenho, criando um “perímetro de energia poética” onde as três linguagens se fundem e se retroalimentam. O improviso ali funciona como um transplante não de uma obra, e sim de uma dinâmica do ateliê enquanto trabalho, isto é, do processo – com suas manobras e soluções – enquanto matéria poética. Nisso eles se desloca da pintura moderna (e os filmes citados testemunham melhor que ninguém) na medida em que tanto no caso de Pollock quanto de Miró / Ellington, a ênfase recaía sobre a correspondência, e não necessariamente sobre a convergência entre meios artísticos. Mas, para nos atermos ao nosso ponto, devemos nos perguntar: o que há e o que não há em comum entre o Dable do ateliê coletivo e o que vemos aqui em sua mostra individual? Esta pergunta se mostra fundamental naquilo em que percebemos suas pinturas como uma condensação num objeto (a tela) daquele campo delineado pela performance. Mais além, nos indaga sobre qual o lugar do improviso – se improviso há – em seus trabalhos. Nesse ponto justo notamos sua incisiva reflexão sobre a pintura.

 

Retornemos momentaneamente a Pollock, tal como o filósofo francês Hubert Damisch analisava sua pintura: “A questão desses entrelaçamentos [ele se refere ao dripping] não é […] um dado sobre o qual a pintura trabalha: ela nasce do gesto, do qual traduz cada um dos desvios, a menor hesitação, as recusas. É a conquista de uma relação imediata […] Um quadro de Pollock não é apenas o resultado de um trabalho, produto acabado que escapa ao produtor, mas o registro das etapas sucessivas de gênese de uma obra em que cada gesto vem, por sua vez, modificar ou completar a estrutura¹”.

 

A lógica aqui descrita é oportuna e permite em certa medida ser transposta para as preocupações de Dable. E nelas sentimos a inflexão, ou melhor, ajuste, entre o improviso e a articulação de uma ordem pictórica. Isso pode ser melhor notado por três fatores: o valor maleável do desenho, o sistema de “cortes” de algumas pinceladas e a equalização de determinadas qualidades plásticas a um meio nem sempre afável a elas.  Desdobremos cada uma das partes.

 

O desenho nas telas de Dable oscila entre uma marcação inicial e uma final. A linha que corre os planos num momento serve para cercar uma área a ser pintada; noutro, delimita a superfície já pintada. Ela se esvai assim do mero caráter projetivo atribuído ao desenho, conferindo-lhe antes um valor de eixo para articular a relação entre esses planos, porém fazendo-o pela anulação de uma estrutura “imediata” de figura e fundo. Ele é um anti-contorno duplamente, naquilo em que não pré-determina o design da pintura, nem produz uma compartimentação que separa em definitivo as áreas, fazendo com que elas se permitam assumir valores conforme as relação com o todo e com segmentos vizinhos. O desenho pode, como dissemos, ser uma marcação final, mas ele não tem um sentido finalista de “concluir” a pintura, de lhe impor o “toque final”.

 

O sistema de “cortes” da pinceladas vai em sentido análogo. A impressão inicial que algumas partes podem suscitar é a de uma geometria, porém o contrário parece ocorrer. Afinal, a geometria é, queira-se ou não, uma estrutura senão aplicada, um instrumental previamente determinado a partir do qual o artista estabelece um método segundo o qual pretende conceituar o espaço dado da tela. Em Dable, as linhas e planos são antes a busca de um modo de definir até onde uma parte se assenta, quando separa ou junta duas áreas, como a pintura se organiza entre a contenção e o transbordamento da tela. Seria lícito, inclusive, perceber que não é contraditória a coexistência entre alguns desses cortes mais secos e a assimilação dos escorridos de tinta, uma vez que ambos trazem a justaposição entre uma dimensão física (a materialidade propriamente dita) e outra ótica (a organização espacial da tela, com seu jogo entre profundidade e superfície) constituintes da pintura, sem fazer a primeira tentar recalcar a segunda.

 

Por fim, o “atrito” entre certas qualidades plásticas e o meio que escolhem. Isto talvez soe estranho, mas se resume ao seguinte desafio: produzir transparências e veladuras com tinta acrílica. As características do acrílico não são das mais afáveis – aliás, tendem muito mais a serem arredias – a tal possibilidade. O acrílico exige execução ágil, na contramão da cadência demorada do óleo, que permite uma acumulação gradativa ou raspagens. A secagem rápida não daria margem para decisões ponderadas mais lentamente, como exigiria a obtenção de uma veladura. Ademais, um plano inferior pode deixar uma “cicatriz” naquele mais externo, dada a corporeidade adquirida pela tinta.  Ou seja, Dable obtém uma qualidade pictórica mediante condições razoavelmente hostis: ela precisa conciliar uma substancial quantidade de intuição com um timming das tintas e misturas de cores num gesto cuja chance do improviso comprometer irremediavelmente a pintura é considerável. Afora isso, há ainda o bom desafio de obter de uma determinada matéria aquilo que ela parecia não oferecer, levando-nos então a reconhecer o quanto um discreto passo é capaz de desencadear um repertório de novos problemas para a pintura.

 

Comprometer-se com a pintura, mesmo sabido que ela não credita mais a sua longa tradição um privilégio hierárquico, não deixa com isso de guardar grandes ambições e expectativas. Depende da sensibilidade em reconhecer diante de supostos limites a fresta que permite esse passo – não para além, nem para trás, tampouco para o lado – certeiro em ativá-la como uma linguagem apta a nos dizer e fazer descobrir sua enorme potência e atualidade.

 

Guilherme Bueno

 

 

De 09 de outubro a 10 de novembro.

Dalí no Instituto Tomie Ohtake

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, responsável pela organização da maior retrospectiva de Salvador Dalí já feita no país, traz agora a mostra para a sua sede. “Salvador Dalí”, em São Paulo, apresenta, no entanto, algumas novidades em relação à temporada carioca: cinco novas obras provenientes da Fundação Gala-Salvador Dalí e outras duas do Museu Reina Sofia, instituições detentoras da maioria dos trabalhos expostos. As obras que foram incluídas substituem alguns dos trabalhos da coleção do Museu Salvador Dalí, da Flórida, EUA.

 

Dentre essas sete obras do mestre do surrealismo está o valioso e pequeno óleo sobre madeira “O espectro do sex-appeal”, de 1934. Do tamanho de meia folha de papel, atribui-se à pequena pintura a forma como Dalí plasmou, de modo concreto, o temor pela sexualidade. “Desnudo”, de 1924, que pertenceu a Federico García Lorca, “Homem com a cabeça cheia de nuvens”, de 1936, de profunda carga simbólica, com referência explícita a René Magritte e “O piano surrealista”, de 1937, fruto de sua colaboração com os Irmãos Marx, estão entre os trabalhos incluídos.

 

Um catálogo especial acompanha a exposição e aborda a totalidade das peças apresentadas, um total de 218, assim como sua recepção crítica entre escritores e especialistas de grande renome, como Eliane Robert Moraes, Paulo Miyada e Veronica Stigger.

 

A retrospectiva de Dalí, com curadoria de Montse Aguer, diretora do Centro de Estudos Dalinianos da Fundação Gala-Dalí, foi organizada para convidar o público a mergulhar por um universo onírico, simbólico e fantasioso. O conjunto de peças é formado por 24 pinturas, 135 trabalhos entre desenhos e gravuras, 40 documentos, 15 fotografias e quatro filmes. O espectador terá contato com a produção de Dalí desde os anos 1920 até seus últimos trabalhos, proporcionando ao visitante uma clara percepção de sua evolução, não só técnica, mas de suas influências, recursos temáticos, referências ideológicas e simbolismos.

 

Será possível ver as telas do período de sua formação como pintor – além do já citado “Desnudo”, “Retrato de meu pai e casa de Es Llaner”, de 1920, “Retrato de minha irmã”, de 1925, e “Autorretrato cubista”, de 1926. Tais pinturas, além de marcarem o início da pesquisa de Dalí, também dão mostras de sua vasta e instigante produção de retratos, que, em suas diferentes interpretações e abordagens, acompanham a metamorfose de um trabalho marcado pelo questionamento sobre a realidade.

 

A fase surrealista, que deu fama mundial ao artista catalão, será exibida através de telas que apresentam seu método paranóico-crítico de representação, com obras muito significativas como “O Sentimento de Velocidade”, de 1931, “Monumento imperial à mulher-menina”, de 1929, “Figura e drapeado em uma paisagem”, de 1935 e “Paisagem pagã média”, de 1937.

 

O público também poderá conferir a contribuição de Dalí para a sétima arte. Os filmes “O cão andaluz”, de 1929 e “A idade do ouro”, de 1930, codirigidos por Salvador Dalí e Luís Buñel, e “Quando fala o coração”, de 1945, de Alfred Hitchcock, cujas cenas do sonho foram desenhadas pelo artista, serão exibidos dentro do espaço expositivo, apresentando um pouco mais da diversidade e da linguagem adotada pelo artista. Além disso, duas mostras de cinema acontecem em paralelo à exposição: a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro, que exibirá os filmes “O cão andaluz” e “A idade do ouro”, em suas versões integrais, e o Museu da Imagem e do Som (MIS) organizará a mostra “Surrealismo no Cinema”, entre os dias 16 e 21 de dezembro.

 

O acervo, por sua vez, apresenta documentos e livros da biblioteca particular de Dalí, provenientes do arquivo do Centro de Estudos Dalinianos, que dialogam com as pinturas proporcionando ao visitante uma viagem biográfica e artística pela carreira do pintor. É o caso dos títulos “Imaculada Conceição”, de 1930, de André Breton e Paul Eluard, e “Onan”, de 1934, de Georges Hugnet. As raridades tiveram seus frontispícios assinados por Salvador Dalí e retratam as bases do surrealismo na literatura.

 

O conjunto conta ainda com as ilustrações feitas para os clássicos da literatura mundial, como “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, e “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol. Merecem destaque os desenhos que ilustram o livro “Cantos de Maldoror”, de 1869, de Isidore Lucien Ducasse (mais conhecido como Conde de Lautréamont), autor de grande referência entre os jovens surrealistas. É possível reconhecer nesses desenhos, por exemplo, as muitas figuras recorrentes na obra de Dalí, como objetos cortantes, muletas, corpos mutilados etc. Eliane Robert Moraes, em texto que acompanha o catálogo da exposição, diz que, movidos por uma crescente revolta pós-guerra, esses artistas “viram na violência poética de Ducasse uma alternativa para seus dilemas estéticos e existenciais”.

 

“Queremos mostrar o Dalí surrealista, mas também aquele que se antecipa ao seu tempo, que é audacioso, que defende a liberdade de imaginação do artista em sua própria criação. Ao mesmo tempo, a mostra passeia pela trajetória artística e pessoal de Salvador Dalí”, explica Montse Aguer, curadora da exposição. “Após a visita, todos entenderão sua importância como artista, não só no surrealismo, mas na história da arte. Isso significa uma importante ligação com a arte contemporânea, enquanto Dalí parte de uma profunda compreensão e respeito pela tradição”, conclui.

 

Para trazer o acervo ao Brasil, o Instituto Tomie Ohtake participou de uma longa negociação com os museus envolvidos. “Foram cinco anos de muitas tentativas e conversas com os detentores das grandes coleções de Dalí, para se concretizar as exposições do artista no Brasil, pela primeira vez com pinturas, e com maior concentração na fase surrealista”, revela Ricardo Ohtake, presidente da instituição.

 

Segundo Ricardo Ohtake, o Instituto tem se destacado por realizar uma programação múltipla e independente, possível graças ao apoio de empresas que acreditam no poder da cultura e da arte na formação do país. “São parcerias que construímos em cada projeto” afirma. No caso da exposição de Dalí, foi fundamental o patrocínio em São Paulo, da Arteris, do IRB Brasil RE e da Vivo, o co-patrocínio da Atento e do Banco do Brasil e o apoio da BrasilCap, BrasilPrev, dos Correios, do Grupo Segurador BB Mapfre e da Prosegur.

 

 

 

De 18 de outubro 1 de janeiro de 2015.

Encontro com Vanderlei Lopes

Nesta quinta-feira, dia 9, às 20h, o artista Vanderlei Lopes, que está expondo seus trabalhos na galeria Athena Contemporânea, na mostra “Tudo o que reluz é ouro”, e no MAM-Rio, na exposição “Grilagem”, participa de bate papo com os visitantes e a curadora Fernanda Pequeno. O encontro acontecerá na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacanana, Rio de Janeiro, RJ. O artista fará comentários sobre todas as fases de pesquisa das obras que fazem parte de sua exposição individual e também de sua experiência, que inclui uma individual no MAC, participação na Bienal do Mercosul, além de ter participado de “Pinta”, “ArteBA” e ver seus trabalhos em coleções como a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a de Gilberto Chateaubriand/MAM-RJ.

Para participar, agende-se pelo telefone (21) 2513-0703 ou contato@athenacontemporanea.com

 

 

Quinta-feira, dia 9, às 20h

A figura humana na Caixa/Rio

A exposição “Figura Humana”, reúne trabalhos de 21 artistas de todo o país, na Galeria 4, da Caixa Cultural,     Centro, Rio de Janeiro, RJ, com obras que dão destaque ao corpo humano e revelam ao público a     diversidade da produção contemporânea brasileira.

 

A mostra reúne pintores de diferentes origens geográficas e gerações, em um arco temporal que vai desde pintores da chamada “Geração 80” até jovens emergentes com pouco mais de vinte anos. A exposição pretende estabelecer um diálogo entre escalas, perspectivas e modos de narrativas através da corporeidade, com obras produzidas a partir de diversas técnicas, como aquarela, guache, óleo, acrílica e spray sobre suportes variados como madeira, chapa de metal, linho e tela.

 

Entre os expositores estão nomes como Cristina Canale, que possui uma sólida produção desde os anos 1980 e é considerada uma das mais importantes pintoras brasileiras da atualidade. O projeto reúne ainda obras de Thiago Martins de Melo, indicado ao prêmio Pipa deste ano, e Rodrigo Martins, o mais jovem entre os pintores da mostra, indicado ao Prêmio EDP nas Artes, em 2014, além de Camila Soato, vencedora do prêmio Pipa, de público, em 2013. Todos contribuem com uma persistência no que diz respeito à centralidade do corpo em suas produções pictóricas.

 

A relação do tema e as pinturas selecionadas busca articular um elemento dos mais clássicos da história da Arte e atualizá-lo nos seus diversos modos de acionamento pela produção artística atual. “A exposição revela a diversidade de se pintar o corpo humano. Alguns artistas utilizam a cor de modo mais visceral e expressivo, outros se aproximam de uma visão mais detalhista e minuciosa do mundo”, explica o curador Raphael Fonseca.

 

Participam: Alex Cerveny, André Andrade, André Renaud, Camila Soato, Clarice Gonçalves, Clarissa Campello, Cristina Canale, Daniel Lannes, Danielle Carcav, Eduardo Sancinetti, Eloá Carvalho, Fábio Baroli,

 

Flávia Metzler, Julia Debasse, Marcelo Amorim, Roberto Ploeg, Rodrigo Bivar, Rodrigo Cunha, Rodrigo Martins, Thiago Martins de Melo e Vânia Mignone, Figura Humana.

 
De 14 de outubro  a 14 de dezembro.