No Instituto Tomie Othake

26/abr

A exposição “Coleção Itaú de Fotografia Brasileira”, organizada pelo Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake, mapeia os últimos 60 anos da produção fotográfica nacional de caráter experimental. A exposição já foi apresentada, em 2012, na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, e no Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Cartaz do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, com curadoria de Eder Chiodetto, a exposição apresenta 94 obras em um recorte do acervo de imagens fotográficas do Banco Itaú do final da década de 1940 até hoje estabelecendo um espelhamento lúdico entre obras modernistas e contemporâneas.

 

A diversidade e dimensão desse acervo permitiu ao curador selecionar obras ainda não exibidas nas duas mostras anteriores e criar novas relações de linguagem entre elas, imprimindo um novo conceito para esta edição. Eder Chiodetto manteve um núcleo de artistas modernistas como Geraldo de Barros, José Oiticica Filho, Thomaz Farkas, e José Yalenti, e acrescentou trabalhos contemporâneos de Cristiano Mascaro, Arthur Omar, Eduardo Coimbra, Bob Wolfenson, Paulo Nazareth, Alex Flemming, Albano Afonso, Pedro Motta e Mauro Restiffe.

 

“O processo curatorial mantém a essência de pesquisar a ressonância da fotografia modernista experimental, praticada com ênfase entre os anos 1940 e 1960, na fotografia contemporânea brasileira”, observa Eder Chiodetto. “A exposição contém obras que ilustram os dois períodos, mostrados lado a lado, para instigar a leitura conceitual e estética e ilustrar como o período modernista ressoa na produção contemporânea”, completa.

 

Nas palavras dele, esta mostra não segue uma cronologia para estabelecer um espelhamento lúdico, evidenciando as relações formais e uma atitude libertária diante da representação fotográfica presentes nos dois períodos. O conjunto de obras está dividido em dois espaços. “Uma das intenções dessa mostra é justamente sugerir pontos de contato entre os tempos pré e pós ditadura”, explica o curador.

 

O primeiro apresenta trabalhos que enfocam a paisagem urbana – tendo a arquitetura modernista da Escola Paulista como um ícone – e o homem marcando mais claramente as conexões e os desdobramentos estéticos e conceituais que ligam a produção dos fotógrafos modernos aos autores contemporâneos. São trabalhos, para citar alguns, de Thomaz Farkas, Cristiano Mascaro e Rubens Mano.

 

Em contraponto, no outro espaço são apresentados trabalhos de nomes como Ademar Manarini, José Oiticica Filho, Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto e Claudia Andujar que versam sobre o homem e sua identidade.

 

Entre a produção modernista e a contemporânea há um vácuo na produção experimental que coincide, não por acaso, com o período da ditadura militar (1964 – 1985). Foram raros os artistas que utilizaram a fotografia para experimentar novos limites da linguagem. Entre eles, destacam-se as séries “Para um Jovem de Brilhante Futuro”, de Carlos Zílio e “Viagem pelo Fantástico”, de Boris Kossoy, que fazem analogia aos tempos da ditadura.

 

Até 19 de maio.



Roberto Alban em novo espaço

25/abr

A Roberto Alban Galeria de Arte, Salvador, BA, fundada em 1989, inaugura a sua nova sede à rua Senta Pua nº 01. Cristina e Roberto Alban agora dirigem um espaço de 1500m², especialmente projetado para receber exposições, tendo um salão com pé-direito de 8,00m e terraço ao ar livre. Para esta ocasião especial foi convidado o crítico Paulo Venâncio Filho para assinar a apresentação do categorizado catálogo da mostra denominada “aproximações contemporâneas” com obras assinadas por Alexandre Mury, Elizabeth Jobim,Gabriela Machado, Maria Lynch, Paulo Whitaker, Raul Mourão, Vinícius S.A. e Willyams Martins. A galeria representa importantes nomes da arte contem­porânea brasileira como: Raul Mourão, Maria Linch, Elizabe­th Jobim, Gabriela Machado, Paulo Whitaker, Luiz Hermano, Alexandre Mury, Alvaro Seixas, Rodrigo Sassi, Liliane Dardot, Marcius Kaoru, Fernando Lucchesi e os baianos Vinicius S. A. e Willyams Martins.

 

A palavra dos artistas

 

“Meu interesse está no prazer em experimentar a arte.

A minha poética está no gesto, não é só minha figura, como modelo,

que faz parte da performance.
A minha arte está na minha entrega de corpo e alma.”
Alexandre Mury

 

“Meu trabalho vemdesse momento de olhar as coisas, de como as vemos, mas também de como construímos nossa visão por uma espécie de geometria que organiza nossa percepção da espacialidade das coisas e do mundo.”

Elizabeth Jobim

 

“Meu trabalho hoje se caracteriza pelo uso de uma tinta que surge, muito óleo, como se estivesse construindo um caminho através da fluidez, constantemente. Como na natureza, parece que tudo se repete e multiplica e assim se renova. Às vezes eu acho que a tela está viva. São pinceladas que se embrulham e criam uma espécie de buquê esfarrapado, uma tinta muito fresca, que parece respirar. As cores em meu trabalho vibram e, ao mesmo tempo que agregam, se soltam. É tudo um processo contínuo.”

Gabriela Machado

 

“O processo de trabalho de Hermano é análogo ao do garimpeiro, que extrai de um volume enorme de terra ou quinquilharias o que há de mais precioso e raro. Como se fosse necessário peneirar montanhas inteiras para encontrar diamantes ou fuçar nas profundezas domangue até alcançar os caranguejos. Entretanto, o valor de seu trabalho obviamente não está no material ordinário empregado, mas na rede ambígua de relações e formas em que natural e artificial ou artesanal e industrial não se opõem claramente.” Cauê Alves

Luiz Hermano

 

“A partir do excesso em torno do feminino e do universo lúdico, extermino qualquer traço do mundo masculino, que é uma maneira de evidenciar sua presença perante tal ausência.

 

A angústia e a ansiedade nunca são resolvidas, essas são as áreas onde o meu trabalho são instauradas, há uma repulsa à realidade. Recrio uma ficção, uma alegoria, um excesso junto a fragmentos do imaginário.

 

O apagamento da identidade do feminino é mais que a vontade de não estar presente no mundo, e sim o de escondê-lo. Assim restituo um certo mundo, sublimando o real numa lógica particular. Abstrato e erótico, entre o gozo e a culpa, nesses paradoxos, vou encontrando liberdade para a imanência, para a celebração do delírio, da catarse onírica e a diferença imagética.”
Maria Lynch

 

“O uso rasgado da cor é novo. Minha paleta sempre havia sido muito limitada para evitar a sedução através das cores. Agora abuso de uma enorme possibilidade de cores estranhas. O processo está todo muito evidente, o modo grosseiro de usar os stencils dá a chance de se perceber as fases da pintura, o momento exato onde e quando cada decisão foi tomada. Tinta úmida, tinta seca, justaposição, sobreposição. O resultado agora é menos gráfico, mais pictórico, menos silencioso, mais afirmativo. Tudo isto numa tentativa deixar o trabalho fresco, criando novos problemas para serem resolvidos. Tenho pensado e trabalhado também as formas e as construções; mais elaboradas, mais intrincadas. Para depois um dia poder andar para trás novamente. Limpar, simplificar. Minha pintura não é antropofágica, não procura simulacros, não tem ligação com as novas mídias, não é autorreferente, não busca relações de gêneros e não é pintura de ação.”

Paulo Whitaker

 

“No início, como se estivesse numa casa desconhecida, existe o receio de tocar em algo que vai quebrar ou a preocupação em tirar um móvel do lugar. Mas a partir do momento em que você mexe em uma das bordas, a casa em descanso nunca mais irá parar. Pois é impossível não ceder à tentação de acionar o vai e vem preguiçoso e gracioso desses objetos. Testar o peso que é leve e dar movimento ao inanimado. O aço bruto se recobre de sensualidade e sua inesperada leveza transforma-se em uma ginga, um ir e vir acolhedor e descontraído. Assim, como você, os visitantes irão tocar em tudo, até cada escultura cessar seu movimento e voltar ao escuro inerte da sala fechada.”

Raul Mourão

 

“Proponho um trabalho onde o espectador possa penetrar, envolver-se espacialmente na obra, interagindo e fruindo arte.”
Vinícius S.A.

 

“O conceito de peles grafitadas é um procedimento que realizo para remover imagens originárias dos muros. É um escalpo, um pastiche, mas ao mesmo tempo uma técnica que utilizo para deslocar a pele tatuada da cidade agora em outro contexto, podendo ser vista de perto, onde as transformo em uma teia polissêmica de significados.”
Willyams Martins

 

Dois em Curitiba

 

Afirmando seu interesse em estabelecer contatos, propiciar confrontos, catalisar fricções, a SIM Galeria, Curitiba, Paraná, convidou dois artistas de procedências e formação bem distintas – uma alemã e um brasileiro -, para compor uma mesma exposição. Então, com apresentação assinada pelo crítico Agnaldo Farias, apresenta a exposição “25 25S 15W / 52 30N 5 56W”. Sobre o trabalho de ambos, afirma o conhecido crítico:

 

“…Não obstante as sensíveis diferenças entre suas pesquisas, Katinka Pilscheur e Tony Camargo têm em comum o mesmo desajuste em relação à definição do que seja arte. Em ambas obras a dificuldade em localizá-las; o gosto pela inquietude, experimentação e instabilidade como denominador comum.

 

O encontro começa do lado de fora, com a pintura/código de barra realizada por Katinka Pilscheur na cor aproximada daquela que um famoso produtor de esmaltes sintéticos, Colorama, chama de Garota verão. Como todo mundo sabe, códigos de barra representam algo, estão no lugar de um produto qualquer ou ao menos de seu preço. A artista, contudo, coisifica essa metáfora estampando-a na fachada, convidando o transeunte a entrar e decifrar o sentido oculto dessa cifra impressa num vermelho alaranjado aceso, gritantemente vivo. Vã ilusão. No interior da galeria, na porção reservada a sua obra, a artista cria um espaço ultra-complexo: um conjunto de densidade variável de barras verticais finas e roliças, prateadas, apoiadas no chão e no teto. Agrupamentos que chegam a entrincheirar o visitante, transformando sua visita à galeria numa deslocamento vagaroso, cuidando em não esbarrar nas barras que lhes barra os passos, percorrendo de cima a baixo suas peles reflexivas, vendo-se e vendo as outras barras multiplicarem-se.

 

A artista poderá ou não ensanduichar material colorido entre o teto e a extremidade de algumas dessas barras, objetos semelhantes as duas pinturas, uma verde e outra cinza, que ela fixará na parede da sala maior, onde restam somente três ou quatro ou cinco barras, arranjadas assimetricamente, desafiando com sua presença, assim como as pinturas, a estabilidade do ambiente proporcionado pela arquitetura.

 

A sala reservada a Tony Camargo é menor mas suficiente para que ele a preencha com as cores e ações embutidas nos novos trabalhos pertencentes às séries Planopinturas, Fotomódulos eVideomódulos. Mais que vivas, as cores empregadas, aplicadas através de instrumentos próprios a pintura industrial, amplificam-se em razão dos contrastes obtidos; cada tela cria um curioso eclipse, como um sol que, apesar de sua luz potente, evita-se irradiar pelo ambiente.

 

O intercâmbio entre fotografia e pintura proposto pelos Fotomódulos enuncia uma tensão que jamais se resolve, posto que uma linguagem jorra sobre a outra ao mesmo tempo em que se retrai. Pintura e mundo, cores eminentemente artificiais, disponíveis nas paletas oferecidas pelas empresas produtoras de tintas, encontram-se na miríade de objetos que vivem a nossa volta, incluindo cartazes, letreiros, placas, rótulos, roupas e tecidos, até mesmo na intensidade das flores que neste país tropical irrompem com força invulgar. A chegada dos Videomódulos leva o problema a um outro estatuto, posto que a periclitante pose do artista, sempre embuçado de modo a garantir que seu rosto não roube a cena, vai sendo posta em risco pelos embates com o plano de cor com que divide a tela do monitor. Como que atraída pelas cores dos objetos e dos atavios da cena que corre ao lado, o plano colorido disputa espaço com ela, plano retrátil que vai se chocando intermitentemente até desequilibrá-la.

 

Pintura, escultura e instalação; pintura, fotografia, cinema e performance, os dados que compõem as poéticas de Katinka Pilscheur e Tony Camargo reforçam a ideia, cara a esse encontro, da importância de se trabalhar sob o signo da ruptura”.

 

Até 25 de maio.

Exposição de Leda Catunda no Paraná

Leda Catunda

O Museu Oscar Niemeyer, MON, Centro Cívico, Curitiba, Paraná, inaugurou, na Sala 5, a exposição “Leda Catunda – Pinturas Recentes”. Nesta mostra individual, a conceituada artista  Leda Catunda exibe seus mais recentes trabalhos, num total de 18 obras, executados em tinta acrílica sobre tela e tecido que, segundo a artista, “…remetem à questão da identificação do sujeito com algum tipo de imagem”.
Leda Catunda é uma das mais significativas artistas nacionais da atualidade. Ela fez parte do grupo artístico de forte relevância no Brasil denominado “Geração 80”. Participou de bienais, e importantes exposições nacionais e internacionais. Suas obras constam em importantes coleções particulares, acervos de museus, fundações e centros culturais do país e  do mundo.
O curador da mostra, Jacopo Crivelli Visconti, explica o conceito da exposição: “…os logotipos, as imagens, as cores, os símbolos, os números: todo o repertório visual do esporte aparece nessas obras, cada elemento competindo com os outros, tentando sobrepor-se aos que o rodeiam, até preencher cada centímetro do espaço à disposição”.
De 25 de abril a 28 de julho.

Dois na Galeria Laura Marsiaj

 

O artista visual baiano Fabio Magalhães inicia seu processo criativo com a elaboração de uma cena para atender a um ato fotográfico que termina em pintura. Ele trabalha a partir da própria imagem. Fábio Magalhães foca em uma persistência poética da pintura auto referencial, buscando ressaltar condições inconcebíveis de serem retratadas senão por meio de artifícios e distorções da realidade.

 

Na série inédita “Retratos Íntimos”, apresentada na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, composta por oito pinturas em grandes formatos, Fabio Magalhães produziu uma analogia aos sentimentos íntimos. Para construir essas metáforas visuais ele usa traqueias, línguas, carnes e vísceras. Num segundo momento amplia ou reduz as proporções para atingir seus objetivos. Em suas estratégias para elaboração das situações, algumas vezes, utiliza-se do próprio corpo, como o sangue coletado para compor uma tela. O artista utiliza desse artifício para compor uma metáfora onde o corpo é a anatomia e o sangue ilustra a obra através de seu vermelho vibrante.

 

A exposição resulta numa pintura contemporânea com recursos diversos para construir e apresentar ao público um trabalho que impressiona pelo impacto visual. Fábio Magalhães afirma que a inspiração para esta nova exposição é proveniente das suas observações do cotidiano.

 

Nascido na cidade de Tanque Novo, a 662 km de Salvador, Fábio Magalhães veio para a capital baiana estudar, e em 2001 ingressou na Escola de Belas Artes da UFBA, momento que aproveitou para experimentar várias técnicas até entender e perceber que a pintura seria a sua companheira de trabalho. Fabio foi um dos 45 artistas selecionados pelo Itaú Cultural no Programa Rumos – 2011/13, onde 1770 estavam inscritos.

 

Sala VIP no Espaço Anexo

 

 

O espaço Anexo da Galeria Laura Marsiaj vai surpreender os convidados. A artista argentina Ivana Vollaro transformou o lugar em uma “Sala VIP”, que convidará o público para passar por uma experiência clássica na rotina da vida cultural carioca. A instalação coloca em questão os espaços auto denominados exclusivos dentro de uma sociedade estratificada que cria códigos determinados, como pulseiras de todos os graus do vip e comportamentos que lidam com o super ego do indivíduo. Ivana coloca em debate o que significa estar dentro ou fora de um mesmo espaço subdividido. “Como nos movemos dentro desses espaços, por vezes delimitados por uma só simples corda?

 

Este trabalho fala sobre o absurdo dessas situações e reflete sobre a logística de ingresso e as formas de acesso a espaços tão limitados quanto desejados”, conta a artista. Cada visitante receberá uma pulseira (tem dourada e prateada), passará por seguranças e viverá todo o circuito de um “vip”. A surpresa virá quando chegar dentro do espaço. “Sala Vip” é a segunda exposição individual da artista na Galeria Laura Marsiaj e a quarta no Brasil. Em 2003 Ivana recebeu a Bolsa Antorchas para estudos no exterior e se mudou para São Paulo onde viveu até 2005. Já expôs em diversas galerias brasileiras, como no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, além de mostras realizadas pela Argentina e Canadá.

 

 

Até 18 de maio.

Casa Daros no Rio

10/abr

Após uma demorada espera, em função de obras realizadas para adaptação do espaço, a Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, iniciou atividades com a exposição coletiva “Cantos Cuentos Colombianos”. A exposição revela ao público a diversidade de pesquisas e técnicas dos artistas Doris Salcedo, Fernando Arias, José Alejandro Restrepo, Juan Manuel Echavarría, María Fernanda Cardoso, Miguel Ángel Rojas, Nadín Ospina, Oscar Muñoz, Oswaldo Macià e Rosemberg Sandoval, com obras pertencentes à Coleção Daros Latinamerica. A mostra foi apresentada inicialmente em Zurique, Suíça, em duas partes: a primeira, de outubro de 2004 a janeiro de 2005; e a segunda, de janeiro a abril de 2005, tendo sido a maior mostra de arte colombiana contemporânea já realizada na Europa. Naquela ocasião, a mostra funcionou como uma reavaliação dessa geração de artistas da arte colombiana no mundo. A curadoria é de Hans-Michael Herzog.

 

Até 08 de setembro.

Pinakotheke: Mabe, livro e exposição

08/abr

Ao comemorar dez anos de atividades na cidade de São Paulo, a Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Manabu Mabe (1924-1997) anos 1950 e 1960″ que reúne 36 pinturas, a maioria inédita, das décadas de 1950 e 1960 e lança um livro correlato de autoria de Paulo Herkenhoff, uma iniciativa do Banco BTG Pactual. Nesta exposição, a galeria introduz o sistema QR Code para que os visitantes visualizem em seus celulares e tablets informações complementares de cada obra: vídeos, áudios e novas referências.

 

A mostra ressalta a produção de Mabe a partir do abstracionismo, nas décadas de 1950 e 1960, período em que o artista alcança o reconhecimento máximo. O núcleo principal das obras reunidas refere-se à coleção Profili, formada na década de 1960 por Arturo Profili, amigo de Mabe e seu primeiro agente, fundador da Galeria Sistina em São Paulo e da Galeria Profili na Itália, onde Mabe realizou bem sucedidas exposições. Esta coleção nunca exposta na sua totalidade representa o melhor da produção do artista deste período.

 

Já o livro homônimo, concebido pela Edições Pinakotheke (bilíngue português-inglês) apresenta texto do crítico Paulo Herkenhoff, excertos de textos publicados no Brasil e no exterior e mais de 150 reproduções. A publicação “Manabu Mabe (1924-1997) anos 1950 e 1960″ traz ainda uma cronologia ilustrada com fotos de diversas épocas da vida do artista.

 

Conforme destaca Paulo Herkenhoff, o estudo da produção de Mabe implica compreender seus embates, suas conquistas, hesitações e contradições, a persistência dos liames orientais em sua produção, a excelência do ato pictórico-caligráfico e o sentido de sua pintura no contexto da modernidade brasileira do pós-guerra.  “Sua pintura permite, na verdade, compreender o modo de recepção intelectual da arte abstrata no processo liderado pela Bienal de São Paulo e, mesmo, indicar as fragilidades e incongruências na compreensão conceitual da pintura vigente”, afirma o crítico. Segundo ele, ainda, os artistas brasileiros nascidos no Japão, como Mabe, Tomie, Shiró, trazem um traço, um nome próprio ideogramático (e a língua, o olhar, a caligrafia pictórica, uma visão de mundo que expande o campo da pintura).

 

Sobre o artista

 

Manabu Mabe, pintor, gravador, ilustrador, nasce no Japão em 1924. Emigra com a família para o Brasil em 1934. Trabalha na lavoura de café no interior de São Paulo. Interessado em pintura, começa a pesquisar em revistas japonesas e livros sobre arte e inicia a prática da pintura em 1945. No fim da década de 1940, muda-se para a cidade de São Paulo. Integra-se ao Grupo Seibi e participa das reuniões de estudos do Grupo 15. Na década de 1950 tem participação ativa no contexto da arte brasileira torna-se um dos artistas mais destacados do abstracionismo informal no país.

 

A partir de 1957 inicia a sua trajetória no campo da abstração. Manabu Mabe explora em suas obras o empastamento, a textura e o traço e se revela um colorista de porte. Ao voltar-se para o universo das formas caligráficas, percebe também as possibilidades de criar uma linguagem lírica com a cor. Dessa forma, em meados desta década começa a aproximar-se também de certos aspectos do tachismo.

 

Em 1959, Mabe alcança consagração nacional e internacional. Recebe o prêmio de melhor pintor nacional na V Bienal de São Paulo. Sobre a premiação de Mabe comentou o crítico Mario Pedrosa no que chamou de “ofensiva tachista e informal”: “Um jovem artista japonês desconhecido, Manabu Mabe, é o vitorioso. Mal chegado do interior de São Paulo, onde fazia seu estágio obrigatório de imigrante, Mabe ganha instantânea notoriedade. De gosto inefavelmente japonês, as manchas de Mabe têm um poder emocional de fácil comunicabilidade, e com elas inaugura-se em definitivo a voga tachista no Brasil”. Neste mesmo ano, é homenageado com o artigo “The Year of Manabu Mabe”, publicado na revista Time, em Nova York.

 

Vitorioso também na I Bienal de Paris, no ano seguinte recebeu o cobiçado Prêmio Fiat na XXX Bienal de Veneza. Daí em diante sua carreira segue em franca ascensão. Realiza grandes mostras nos Estados Unidos e na Europa; e pela primeira vez expõe no Japão, em 1965. A partir da década de 1970, cristaliza seus procedimentos anteriores – que reaparecem estilizadamente em quase toda sua produção, incorpora em seus quadros figuras humanas e formas de animais, apenas insinuadas ou sugeridas, mas em geral representadas em grandes dimensões. Paralelamente, as grandes massas transparentes e etéreas com que vinha trabalhando adquirem um aspecto de solidez.

 

Nos anos 1980 as figuras voltam em suas telas, mas em formas abstratas e sutis. As espatuladas mesclam as cores e surgem novas formas, novas cores. As composições são ricas em detalhes. Cada espaço da tela tem sua própria concepção e surgem as formas geométricas em contradição com as formas gestuais. As cores são cada vez mais vibrantes, sem agredir o espectador que contempla a obra.

 

No dia 30 de janeiro de 1979, um trágico acidente aéreo fez com que o artista perdesse uma quantidade significativa das melhores obras produzidas ao longo de sua carreira. Um avião cargueiro decola do aeroporto de Narita no Japão ao término da sua exposição e desaparece de forma misteriosa. De 1980 até a sua morte em 1997 realiza inúmeras exposições no Brasil e no exterior.

 

Até 18 de maio.

No Espaço Cultural Citi

O crítico de arte Jacob Klintowitz assina a apresentação e a curadoria da exposição individual de Manu Maltez no Espaço Cultural Citi, Paulista, São Paulo, SP. Artista multimídia, Manu Maltez é um destes artistas jovens que respira arte e utiliza todos os meios dos quais tem conhecimento para expressar-se seja desenho, gravura, música, ou atuando como instrumentista, editor e ilustrador.

 

Manu Maltez por Jacob Klintowitz

 

O fragmento e o paradoxo.

 

Talvez seja a intermitência na produção o que causa certa espécie em Manu Maltez. Eu acompanho o seu trabalho há muitos anos e tenho sempre a impressão de que ele cria por imersão profunda: a cada série um mergulho no incógnito. E, logo depois, ele se dedica à outra coisa. Assim ele desenha, faz gravura, compõe, toca contrabaixo, ilustra poemas e ficção que o emociona, edita livros. E esta amplitude de interesses explica porque a sua imagem pessoal é um pouco difusa. A nossa ainda é uma época de especialistas. O lado paradoxal, entre outros elementos, é que, após obter qualidade, ele parece desinteressado da continuação.

 

É claro que este artista se move por desafios formais. Encontrar o equivalente visual do poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe é uma temeridade. Está longe de ser o melhor de Poe, mas é o mais famoso e o mais comentado. As traduções são inúmeras e este poema é acompanhado por um brilhante ensaio de Poe sobre a construção literária. É um paradoxo, pois o romântico e expressionista Poe faz um tratado cartesiano sobre o processo criativo do poema. Em minha opinião trata-se não de uma descrição veraz, do ponto de vista histórico, mas de outra obra de ficção. Esta contradição essencial deve ter atraído de maneira fatal Manu Maltez.

 

O que é fascinante é a qualidade do seu desenho. Feito de densidades diferentes, gestual e preciso ao mesmo tempo, muitas vezes ele lembra os esboços e estudos de mestres renascentistas. O acabamento contemporâneo, com o seu conceito de mostrar o processo do fazer – os andaimes da obra – pode recordar o que antigamente era só um estudo. É o caso de Maltez. Mas nele a memória associativa é requintada. E a sua gravura, para ficarmos no terreno visual, criada com o mínimo de elementos, retoma a extraordinária tradição brasileira da gravura que já nos deu Marcello Grassmann, Octávio Araújo, Mário Gruber, Maria Bonomi, Anna Letycia, Lívio Abramo, Oswaldo Goeldi, entre tantos outros importantes artistas.

 

Manu Maltez é um jovem artista de talento afirmativo. A amplitude de suas realizações é animadora. Este admirador de Kafka, Goya, Fellini, Grassmann, Goeldi, Rosa, Stravinsky, Poe, Glauber, Tom, Iberê, Thelonius Monk, tem nos habituado à pequenas séries de alta qualidade. Fragmentos. Agora, na passagem para a maturidade artística, talvez seja a hora de nos apresentar uma sinfônica completa.

 

Até 24 de maio.

Vik Muniz: Espelhos de papel

27/mar

Vik Muniz inaugura a sua primeira mostra na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, espaço que passou a representá-lo no Brasil desde o ano passado e no qual ele inicialmente estreou, em novembro último, no papel de curador, assinando uma coletânea dedicada à Op-art. “Espelhos de papel”, a nova exposição, com onze obras inéditas, é a primeira individual de Muniz em São Paulo desde 2010.

 

As obras apresentadas pertencem à nova série “Imagens de Revista 2”, na qual o artista vem trabalhando nos últimos dois anos. Tendo mais uma vez a fotografia como objeto final de sua produção, Vik volta a se apropriar dos fragmentos de revistas., utilizando papéis rasgados, criteriosamente escolhidos a partir de imagens de publicações variadas. “Elas precisam ser rasgadas para parecerem mais acidentais, como se tivessem caído ali como confetes”, diz ele sobre o processo de colagens.

 

Vik Muniz joga com os limites da representação, recompondo imagens de obras referenciais que já fazem parte do repertório visual do espectador. A série atual parte do constante interesse do artista pelas ilusões de ótica e pelas brincadeiras, que ele diz explorar igualmente a sério. Vik conta que em visitas a museus observou que os espectadores, às vezes, se moviam para frente e para trás, numa espécie de transe, enquanto exploravam a fronteira mágica entre conceito e objeto. Para ele, justo nesse ponto de transição dá-se o encontro que considera o sublime em arte: “Esses são os momentos que contêm em sua transcendência a própria natureza da representação”.

 

Em seu texto de apresentação da mostra “Espelhos de papel”, o jornalista Christopher Turner observa que, à primeira vista, as obras parecem familiares, uma galeria de imagens famosas.“Mas quando olhadas de perto elas não são o que parecem”. Cada quadro é uma colagem composta por centenas de imagens artisticamente arrumadas de acordo com a gradação de cores: “Esse vertiginoso mosaico de imagens superpostas, que dissolvem o plano do quadro numa multiplicidade de pontos focais, foi escaneado e ampliado para que o espectador possa ver os cabelos, as fibras e até a celulose do papel cortado nas bordas”, escreve Turner.

 

O conjunto de fotografias digitais C-print em grandes formatos, que constitui a montagem da Galeria Nara Roesler, foi selecionado pelo próprio Vik Muniz. A mostra “Espelhos de papel” inclui composições a partir das pinturas de Monet, Coubert, de Kooning e Wilhelm Eckersberg, entre outras. Os trabalhos foram produzidos nos estúdios do Brooklyn, em Nova York, e da Gávea, Rio de Janeiro, cidades entre as quais o artista se divide atualmente.

 

Para a crítica e curadora Luisa Duarte, “…sua obra abriga uma espécie de método que solicita do público um olhar retrospectivo diante do trabalho. Para “ler” uma de suas fotos, é preciso indagar o processo de feitura, os materiais empregados, identificar a imagem, para que possamos, enfim, nos aproximar do seu significado. A obra coloca em jogo uma série de perguntas para o olhar, e é nessa zona de dúvida que construímos nosso entendimento”.

 

Simultaneamente à mostra solo de Vik Muniz, a Galeria Nara Roesler apresenta, na programação paralela do projeto Roesler Hotel, a individual “Atacama: 1234567” – da curadora chilena Alexia Tala, que traz pela primeira vez ao Brasil a obra do artista britânico Hamish Fulton.

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz nasceu em 1961, em São Paulo, SP. Vive e trabalha em Nova York e Rio de Janeiro. Participou de inúmeras bienais, como da 49ª Bienal de Veneza, Itália, 2001; 24ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil, 1998; Bienal de Arte Contemporânea de Moscou, Rússia, 2009, entre outras. “Vik”, no Centro de Arte Contemporânea de Málaga, Espanha, 2012; “Relicário”, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, Brasil, 2011; e “Vik Muniz”, no Nichido Contemporary Art, em Tóquio, Japão, 2010, são suas mais recentes exposições individuais. Algumas das mostras coletivas de que participou são: “Swept Away”, no Museum of Arts and Design, em Nova York, 2012, e “Pure Paper”, na Rena Bransten Gallery, em São Francisco, 2011, ambas nos Estados Unidos; “Fragments latino-américains’, na Maison de l’Amérique Latine, em Paris, França, 2010; e “Surface Tension”, no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, Estados Unidos, 2009. Suas obras integram acervos como os do Centre Georges Pompidou, em Paris, França; Guggenheim Museum, em Nova York, Estados Unidos; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, Espanha; e Inhotim – Instituto de Arte Contemporânea, em Brumadinho, MG, Brasil.

 

De 2 de abril a 11 de maio.

O carretel de Iberê Camargo

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura nova exposição, com a duração de um ano, na qual serão exibidas 21 pinturas, 32 gravuras e 4 desenhos de Iberê Camargo. entre 23 de março de 2013 e 23 de março de 2014. A curadoria é de Michael Asbury. Esta exposição apresenta o desenvolvimento da temática do carretel dentro da trajetória pictórica de Iberê Camargo. Sendo esta sua mais prolongada série de trabalhos, a mostra explora sua significação cambiante, da suposta aproximação às vanguardas construtivas do pós Guerra no Brasil, à relação da matéria da tinta ao drama psicológico do gesto.

 

O carretel é o tema mais recorrente na obra de Iberê, aludindo às memórias de sua infância. A exposição Iberê Camargo: o carretel – “meu personagem” exibe um mapeamento da trajetória do artista, mostrando o objeto representado de diversas formas: desde o gênero natureza-morta, inspirado no trabalho de Giorgio Morandi, até as interpretações mais abstratas.

 

A palavra do curador Michael Asbury

 

Ao considerar a significância da temática do carretel na obra de Iberê Camargo, verifica-se o desenrolar de argumentos muitas vezes antagônicos. Se para o artista essa forma tinha características afetivas vindas das suas mais longínquas memórias – seus brinquedos de infância que ele desenterrara do “fundo do rio da vida” –, a crítica, apesar do consenso sobre a posição privilegiada como tema na obra, tem apresentado ao longo dos anos várias hipóteses sobre o que leva o carretel a ter tal importância.

 

Organizados inicialmente em um arranjo frontal rítmico, primeiramente sobre mesas, os primeiros carretéis de Iberê invocam o legado de Morandi. Mais tarde, com o crescente abandono do artifício da perspectiva, apresentam-se cada vez mais próximos à superfície da tela que, à medida que a tinta engrossa, parece os engolir. É a partir desse procedimento que descrições contemporâneas sobre a metamorfose a que Iberê sujeita os carretéis vieram a considerá-los o último estágio do artista a caminho da abstração. Tal procedimento foi visto, no calor da hora, como prova de sua passagem ao informalismo, tendência bastante em voga no final dos anos 50 e início dos 60. Entretanto, a evidência de estudos preparatórios para suas composições, mesmo aquelas de aparência abstrata, nega tal associação, convidando, a partir dos anos 1990, hipóteses que aproximavam o artista das vanguardas construtivas, que, então, ganhavam crescente reconhecimento no incipiente cânone da arte brasileira. Os carretéis levariam o artista, dessa forma, a um processo que considerava o objeto forma autônoma na pintura, em que a memória pessoal vem a ser mera anedota. Há ainda outro posicionamento que considera a maestria da matéria pintada posição singular de um expressionismo levado a seus limites. O artista vem a ser o solitário, sobrecarregado pela dor da vida, melancólico sobre a irreversível perda da inocência que expressa sua condição existencial através de grossas tintas que, agora, se tornam metáforas de uma escorregadia, movediça e pessimista apreensão da vida.

 

Todas essas dimensões críticas privilegiam, no entanto, a pintura sobre os outros meios empregados por Iberê. A atual exposição visa justapor pinturas e gravuras com a intenção de provocar um desequilíbrio à estrutura crítica a qual os Carretéis têm sido submetidos, sugerindo uma ênfase na questão da repetição da forma ao ponto de reconsiderá-la, em toda sua ambiguidade entre o lúdico e o melancólico, signo do próprio ser.

 

De 23 de março de 2013 a 23 de março de 2014.