Manifestações no MAR

06/jan

O DJ MAM, artista, compositor, intérprete e ativista cultural, lançou no Centro Histórico, Rio de Janeiro, RJ, o projeto “Sotaque Carregado Artes”, que une música ao universo das artes visuais. A iniciativa é desdobramento do Sotaque Carregado, que em 15 anos de existência vem criando várias ações como festivais, programas de rádio, álbuns e eventos, com mais 500 artistas e blocos, como Elza Soares, Hermeto Pascoal, Gaby Amarantos, Orquestra Voadora e Baiana System. Coordenado pelos curadores Érika Nascimento e DJ MAM,Sotaque Carregado Artes pretende conectar e amplificar as manifestações de música e artes visuais.

 

A primeira ação do Sotaque Carregado Artes é o Festival Demarcação Já Remix no Museu de Arte do Rio (MAR), para celebrar o hasteamento da bandeira “Tajá”, do artista Matheus Ribs, neste domingo, às 15h.

 

Com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio, o Festival Demarcação Já Remix apresentará uma programação musical especialmente criada para o evento. Às 15h, a cerimônia de hasteamento será acompanhada pelo Coral Guarani Tenonderã, e às 16h, nos pilotis do MAR, DJ MAM fará o show Sotaque Carregado, com a presença dos Pernaltas Futuristas, vestidos como orixás e do grupo de carimbó feminino Aturiá. Em seguida eles se integrarão ao Cortejo do Carnaval Remix, com a festa Manie Dansante com as bicicletas amplificadas do Mico Leão Sistema Sonoro. O Cortejo irá até a Praça da Harmonia, onde está a bandeira “Área Indígena”, do artista Xadalu Tupã Jekupé, em sua exposição “TekoaXy – A terra de Tupã”, no Instituto Inclusartiz.

 

Festival Demarcação Já Remix – Programação

15h – Concentração do cortejo na abertura oficial do evento, com o hasteamento da bandeira “Tajá”, do artista Matheus Ribs. Apresentação do Coral Guarani Tenonderã, na Praça Mauá.

 

15h30 – Conversa com o curador do MAR, Marcelo Campos, e o artista Matheus Ribs.

 

16h – DJ MAM – Show Sotaque Carregado, nos pilotis do MAR, com os Pernaltas Futuristas, vestidos como orixás, eo grupo de carimbó feminino Aturiá.

 

17h – Cortejo Carnaval Remix, com Sotaque Carregado, festa Manie Dansante com as bicicletas amplificadas do Mico Leão Sistema Sonoro Ambulante, grupo de carimbó feminino Aturiá. O Cortejo seguirá em direção à Praça da Harmonia, onde está a exposição “Tekoa XY”, do artista Xadalu Tupã Jekupé, no Instituto Inclusartiz.

Reencontro de Morandi com o Brasil.

07/dez

 

 

Depois de uma bem-sucedida exposição em São Paulo, a mostra “Ideias – O Legado de Morandi” será apresentada de 15 de dezembro de 2021 a 21 de fevereiro de 2022, no primeiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, trazendo obras de um dos mais destacados artistas do século 20. A exposição é patrocinada pela BB DTVM.

 

Com uma investigação profunda da cor e da luz permeando sutilezas, Giorgio Morandi se dedicou intensamente à pintura de naturezas-mortas, especialmente de conjuntos de garrafas. Seu estilo ficou marcado por uma obra que reflete sobre o tempo e as relações produzidas pelo olhar. Esse universo é representado na exposição, que tem curadoria de Gianfranco Maraniello e Alberto Salvadori, e reúne obras que vieram diretamente do Museo Morandi, localizado na cidade de Bolonha, na Itália.

 

“O percurso expositivo apresenta uma variedade de obras diversas – entre pinturas, aquarelas, desenhos e gravuras – que formam uma métrica composta por contínuas referências formais e variações tonais, e trazem à luz os temas examinados por Morandi desde os primórdios até a maturidade: naturezas mortas, flores e paisagens, os temas privilegiados da sua contínua pesquisa de novas modalidades representativas e objetos de uma indagação extremamente atual sobre a linguagem pictórica e gráfica e sobre as infinitas relações possíveis entre volumes, espaço, luz e cor”, ressalta o curador Gianfranco Maraniello.

 

O artista tinha particular interesse pelas pinceladas de Paul Cézanne, André Derain, Douanier Rousseau, Pablo Picasso e Georges Braque, além de mestres da tradição italiana como Giotto di Bondone, Masaccio, Paolo Uccello e Piero della Francesca. A sua pintura foca numa gama bastante reduzida de temas, como as vistas do povoado de Grizzana ou as célebres naturezas-mortas de garrafas e potes. Nas obras, é possível ver as sutis mudanças na luz da tarde, a poeira que se deposita nos objetos, a passagem do tempo que se faz visível na própria matéria das garrafas que reaparecem uma e outra vez, quadro após quadro, ano após ano.

 

Essa exposição proporciona um reencontro de Morandi com o Brasil, pois o artista recebeu o Prêmio de pintura na IV Bienal de São Paulo em 1957. “É uma oportunidade para prolongar o tempo e o olhar sobre a sua obra, para além do contato excepcional de 1957. Uma tentativa de oferecer novas possibilidades de adquirir familiaridade com as séries pictóricas e retraçar os motivos da sua “ordem”, graças ao extraordinário volume de patrimônio e de iniciativas que qualificam o Museu dedicado ao artista por sua cidade natal”, comenta Maraniello.

 

No CCBB, uma reprodução fotográfica em grande formato de Luigi Ghirri levará o público a ter a sensação de estar no ateliê do próprio Morandi. Também está disponível ao público a instalação interativa Morandi Coletivo, um aplicativo que permite ao usuário montar suas próprias composições a partir da escolha de alguns dos elementos que Morandi usava de forma recorrente em suas obras. A composição é livre e coletiva – os visitantes editam em tempo real figura e fundo.

 

Dentre inúmeras combinações possíveis, há quatro obras escondidas que podem ser montadas pelo público, revelando a obra original. Cada elemento também possui uma frase sonora associada e as quatro obras escondidas na instalação representam cada um dos quatro compassos e acordes da música.

 

A exposição também exibe o documentário La polvere di Morandi (A poeira de Morandi), 2010, 59 min, dirigida por Mario Chemello. Além disso, um webapp com áudio-guia de vídeo libras comentando 10 obras da exposição. No dia da abertura, às 18h, haverá uma palestra gratuita com o professor e pesquisador Victor Murari, especialista em Morandi.

 

Além das obras de Morandi, o público ainda pode conferir na mostra obras de outros artistas que se inspiraram no seu trabalho, como Josef Albers, Wayne Thiebaud, Franco Vimercati, Luigi Ghirri, Rachel Whiteread e Lawrence Carroll.

 

De acordo com Maraniello, todos foram impactados pelo trabalho do pintor italiano e mostram a capacidade de atingir várias gerações. “Autonomia e a irredutibilidade do percurso de Morandi constituem a exemplaridade de uma resiliência que desarticula os paradigmas da vanguarda e das neovanguardas, apresentando-se nos contextos interpretativos da China, do Japão, da Coreia do Sul que, em anos recentes, têm acolhido com grande entusiasmo exposições promovidas em colaboração com o Museu Morandi”, finaliza.

 

Na história das artes visuais do século 20, Morandi ocupa um lugar especial como expoente destacado de uma linhagem de artistas cuja obra se impõe, num mundo cada vez mais cacofônico e ruidoso, pela reiteração silenciosa, a parcimônia, a simplicidade. A pintura de Alfredo Volpi, o cinema de Yasujirō Ozu ou a poesia de João Cabral de Melo Neto são exemplos de produções afins à de Morandi, em que as coisas se apresentam pelo que elas são, como se isso fosse simples.

 

Sobre o artista

 

Nasce em 20 de julho de 1890 em Bolonha, Itália, cidade onde passa toda a sua vida. Nas primeiras pinturas, a partir dos anos 1910, mostra a sua precoce atenção aos impressionistas franceses, em particular Cézanne e, logo depois, Derain, Douanier Rousseau, Picasso e Braque. Volta a sua atenção para a grande tradição italiana, estudando Giotto, Masaccio, Paolo Uccello e Piero della Francesca.

 

Nos meados dos anos 1910, pinta obras que mostram uma experimentação futurista e, a partir de 1918, passa de maneira muito pessoal por uma breve fase metafísica. Em 1918, entra em contato com a revista e o grupo Valori Plastici, com o qual expõe em Berlim em 1921. A partir dos anos 1920, inicia um percurso pessoal que seguirá com especial coerência, mas também com resultados sempre novos, dedicando a sua pintura apenas a três temas: naturezas mortas, paisagens e flores.

 

Em 1930, obtém a cátedra de técnica da gravura na Accademia di Belle Arti de Bolonha, cargo que manterá até 1956. Inicialmente apoiado e admirado por literatos, em 1934 é apontado por Roberto Longhi como “um dos maiores pintores vivos da Itália”, por ocasião da sua aula inaugural na Universidade de Bolonha. Em 1939, recebe o Segundo Prêmio de pintura na III Quadrienal romana.

 

Em 1943, durante a guerra, deixa Bolonha e se refugia em Grizzana, onde permanece até 25 de julho de 1944. Durante esse período, pinta numerosas paisagens. Em 1948, depois de expor ao lado de Carrà e De Chirico na Bienal de Veneza, recebe o prêmio de pintura da Comuna de Veneza.

 

Em 1953, recebe o Primeiro Prêmio de gravura na II Bienal de São Paulo, em que participa com 25 águas-fortes. Em 1957, a Bienal de São Paulo lhe confere o Grande Prêmio de pintura, à frente de Chagall. No último decênio, chega a uma pintura cada vez mais rarefeita. Morre em Bolonha em 18 de junho de 1964.

 

SOBRE O CCBB

 

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro ocupa o histórico nº 66 da Rua Primeiro de Março, no centro da cidade, prédio de linhas neoclássicas que, no passado, esteve ligado às finanças e aos negócios.

 

No final da década de 1980, resgatando o valor simbólico e arquitetônico do prédio, o Banco do Brasil decidiu pela sua preservação ao transformá-lo em um centro cultural. O projeto de adaptação preservou o requinte das colunas, dos ornamentos, do mármore que sobe do foyer pelas escadarias e retrabalhou a cúpula sobre a rotunda.

 

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil conta com mais de 30 anos de história e celebra mais de 50 milhões de visitas ao longo de sua jornada. O CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade do Rio de Janeiro e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade.  Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial

 

O prédio possui uma área construída de 19.243m². O CCBB ocupa este espaço com diversas atrações culturais, como música, teatro, cinema e exposições. Além disso, possui Biblioteca, além de abrigar o Arquivo Histórico e o Museu Banco.

 

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro funciona de quarta a segunda de 9h às 20h. A entrada do público é permitida apenas com apresentação do comprovação de vacinação contra a COVID-19 e uso de máscara. Não é necessária a retirada de ingresso para acessar o prédio, os ingressos para os eventos podem ser retirados na bilheteria do CCBB ou previamente no site eventim.com.br.

 

Sobre a A BB DTVM

 

A A BB DTVM é líder da indústria nacional de fundos de investimento, com patrimônio líquido sob gestão de R$ 1,374 trilhão em recursos e 20,9% de participação de mercado, conforme ranking de Gestores de Fundos de Investimento da Anbima, de setembro de 2021. Oferece soluções de investimento inovadoras e sustentáveis para todos os perfis de investidores e sua excelência em gestão é atestada por duas importantes agências de rating – Fitch Rating e Moody´s.

 

Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 20h.

 

*retirada de ingresso no app ou site eventim.com.br ou na bilheteria do CCBB.

 

Palestra com o professor e pesquisador Victor Murari: dia 15 de dezembro, às 18h. Gratuito, com retirada de ingresso na bilheteria do CCBB RJ.

 

 

 

 

 

Reabertura da Galeria do Lago

06/dez

 

 

 

No dia 4 de dezembro, será reaberta a exposição da artista Patrizia D’Angello, na Galeria do Lago, no Museu da República, depois de quase dois anos fechada devido à pandemia de Covid-19. Rebatizada de “Jardim do Éden 1.2”, a exposição, que tem curadoria de Isabel Portella, será ampliada, com novas obras, que foram produzidas durante o período de isolamento, ganhando um novo significado. “A exposição reabre impactada pelo tempo passado”, afirma a artista, que lançará, no dia da abertura, o catálogo da primeira versão da mostra e estará aberta até 20 de fevereiro de 2022.

 

Das 25 pinturas que integravam a exposição original, 15 permanecem e outras 13 foram acrescidas, totalizando 28 obras. Os novos trabalhos foram produzidos no ateliê que a artista tem em casa e retratam a natureza. “Durante a quarentena, confinada em um apartamento super urbano, totalmente apartada do ar, da água, do mato, do céu e do sol, retomei uma série de pinturas já iniciada de lagos e vegetação de cores fluidas, lisérgicas e tempo suspenso, uma espécie de vertigem necessária onde é possível ver discos voadores flutuando na água e nenúfares no céu, um salvo conduto  para se passar os dias monocórdicos de um eterno presente sem sucumbir a loucura”, conta a artista.

 

Na primeira sala da exposição, estarão os novos trabalhos, produzidos durante o isolamento social. “É uma atmosfera onírica, tal qual um banquete de pratos flutuantes ofertando a natureza em consonância com o parque do Museu da República, que adentra pelas janelas e portas mediando, assim, a construção que se dá na segunda sala, onde novos trabalhos corroboram e se somam à narrativa já desenvolvida no primeiro momento da exposição”, ressalta a artista .

 

O conceito da mostra foi pensado a partir dos muitos banquetes realizados no Palácio do Catete, sede do Governo Federal entre 1896 e 1960 e que hoje abriga o Museu da República. Para realizar a primeira fase da exposição, a artista mergulhou no acervo do Museu, em documentos relacionados ao tema, como uma bela coleção de convites e menus das muitas recepções ocorridas ali, bem como fotos, vasos, pratarias, sancas e mobiliário pertencentes ao Palácio do Catete, que aparecem nas obras mesclados a seu repertório poético. “Numa narrativa bem humorada, mas repleta de sutis paralelos, a artista se debruça sobre os grandes temas da pintura figurativa, o retrato, a paisagem e a natureza morta. Em seus trabalhos, Patrizia procura discutir os limites do real, da mímesis e as implicações no mundo contemporâneo”, afirma a curadora Isabel Portella.

 

Movida por um humor dionisíaco e tendo como norte a Pop Art e a Tropicália, os trabalhos de Patrizia D’Angello estão sempre reverberando questões do feminino/feminismo. Em uma operação ambivalente de afirmação e crítica, a artista desloca sentidos e, com humor, joga luz sobre a pretensa “normalidade” do  patriarcado e suas práticas predatórias. “A abordagem desse espaço tão representativo do poder, do patriarcado, da ordem vigente, se dá através do campo relegado desde sempre ao domínio das mulheres, a cozinha, a mesa, a decoração, o enfeite, o bordado, o doce, o belo… Um universo, segundo essa lógica dominante, menor, secundário, fútil e frívolo, por isso mesmo entregue de bom grado às mãos que vieram pra servir”, ressalta a artista.

 

O pensamento crítico aparece sempre de forma sutil, quando a sobreposição do título à imagem produz um ruído desconsertante. “O título dos trabalhos é parte indissociável da obra, pois é através do deslocamento de sentido engendradado nessa operação de nomear que desenvolvo a narrativa que me interessa explorar”, conta Patrizia D’Angello. “Se o feminismo, a sensualidade erótico-sensorial, o patriarcado, a exploração são questões que interessam à artista explorar, ela o faz com humor, numa crítica que expõe engrenagens perversas e desnuda atitudes machistas, sem perder a doçura”, afirma a curadora Isabel Portella. “Retrato mulheres insurgentes e empoderadas a debochar desse mundo constituído sob valores alheios e desfavoráveis, piqueniques, mesas, comidas, doces, vasos e ornamentos onde tudo parece estar onde deveria estar exceto pelo fato de que essa afirmação resvala numa bem humorada crítica”, diz a artista.

 

 

Sobre a artista

 

Patrizia D’Angello nasceu em São Paulo, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Artes Cênicas pela Uni-Rio e em Moda pela Candido Mendes, a partir de 2008, cessou todas as atividades em outras áreas pra se dedicar exclusivamente à arte. Desde então, desenvolve uma poética que, através de artifícios da narrativa do cotidiano, incorpora e comenta a vida em suas grandezas e pequenesas, em seus potenciais de estranhamento e em suas banalidades, espelhando e refletindo aquilo que diz respeito à vida. Transita pela produção de objetos, performance, fotografia, video e, mais assiduamente, pela pintura. Frequentou a Escola de Artes Visuais no Parque Lage, onde cursou diversos cursos. De setembro de 2014 a Março de 2015 esteve no programa de bolsa residência-intercâmbio com a École Nationale Superieure des Beaux Arts de Paris. Foi indicada ao prêmio PIPA em 2012. Dentre suas principais exposições individuais estão: “Lush”, 2018, Centro Cultural Municipal Sergio Porto, Rio de Janeiro; “Assim é se lhe parece – Casa, Comida e Roupa Lavada”, 2016, Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro; “Kitinete”, 2016, Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro; “No Embalo das Minhas Paixões”, Galeria de Arte IBEU; Banquete Babilônia, Galeria Amarelonegro, Rio de Janeiro, entre outras. Dentre suas últimas exposições coletivas estão: Casa Carioca, MAR; Cada Um Grita Como Quiser, Galpão Dama; Baguncinha, Casa de Pedra; Galeria Gema, todas  este ano, ”Signo Traço Atração”, Galeria Evoé, 2020; “Primeiro salão de Arte Degenerada”, Ateliê Sanitário, 2019; “Rios do Rio”, Museu Histórico Nacional, 2019; “Passeata”, Galeria Simone Cadinelli, 2019; “My Way”, Casa França-Brasil, 2019, no Rio de Janeiro; “Futebol Meta Linguagem”, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, 2018, Rio de Janeiro; “Poesia do Dia a Dia”, Centro Cultural Sergio Porto, 2017, Rio de Janeiro; “Quero que Você me Aqueça nesse Inverno”, Centro Cultural Elefente, 2016, Brasília; “Attentif Ensemble”, Jour et Nuit Culture, 2015, Paris; “Portage”, ENSBA, 2014, Paris; “Como Se Não Houvesse Espera”, Centro Cultural da Justiça Federal, 2014, Rio de Janeiro, entre outras.

 

Sobre a Galeria do Lago

 

A Galeria do Lago apresenta programas contínuos de exposições de arte contemporânea, que visam a discutir aspectos da produção da arte atual, com obras que de alguma maneira se relacionem com o Museu da República.

 

Salão Nacional, a coletiva

22/nov

 

 

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar, entre 27 de novembro a 29 de janeiro de 2022, “Salão Nacional”, exposição coletiva que reúne trabalhos de Alex Vallauri, Amelia Toledo, Brancusi, Boi, Carlos Fajardo, Cassio Michalany, Claudio Kuperman, Claudio Tozzi, Dudi Maia Rosa, Fábio Miguez, Flávia Ribeiro, Guto Lacaz, Ivald Granato, José Resende, Leda Catunda, Luiz Paulo Baravelli, Marisa Bicelli, Siron Franco, Thomaz Ianelli e Zé Bico.

 

“Salão Nacional” é uma exposição que parte da obra de mesmo título realizada em 1986 por Guto Lacaz. Na peça de Lacaz, uma exposição é montada com miniaturas de obras de diversos artistas atuantes naquele momento. A exposição “Salão Nacional” reencena esse projeto em escala humana com as obras dos mesmos artistas, expandindo-o a partir da inclusão de outros artistas daquela mesma geração.

 

O modelo do Salão Nacional foi criado no Brasil na primeira metade do século XIX pela Missão Artística Francesa, fundadora da Academia Imperial de Belas Artes, posteriormente Escola Nacional de Belas Artes. O “Salão Nacional de Artes Plásticas” surge em 1933 sob o nome de “Salão Nacional de Belas Artes”. Para dar conta de uma produção cada vez menos acadêmica, cria-se, em 1951, uma sessão de arte moderna, dando origem ao “Salão de Arte Moderna”. Durante as décadas de 1960 e 1970, período da ditadura militar, os salões vão perdendo o prestígio que possuíam até então, sendo extintos em 1978 e reintegrados pela Funarte sob o título de “Salão Nacional de Artes Plásticas”. Na década de 1980, o Salão adquire um papel fundamental dentro do circuito de arte. Sendo um dos poucos lugares de projeção para artistas em início de carreira, dispunha também da premiação em duas modalidades: Viagem ao País ou Viagem ao Exterior. A mostra, que possuía um processo seletivo concorrido, servia como uma espécie de vitrine que aproximava a produção do jovem artista não somente ao público, mas também aos próprios componentes do júri, que eram curadores, artistas e marchands respeitados. Na década de 1980, período de abertura política e gradual redemocratização, participar do Salão Nacional significava dar um passo importante à integração em um circuito que começava a se fortalecer economicamente através da constituição e profissionalização de um mercado de arte.

 

O “Salão Nacional” de Guto Lacaz foi exibido pela primeira vez em “Muamba”, exposição realizada em 1987 na Subdistrito Comercial de Arte, galeria paulistana que reunia em seu programa expositivo os principais nomes da pintura daquele momento. Além de ter participado pela segunda vez consecutiva da Bienal de São Paulo com suas performances e instalações, Lacaz embarcaria no ano seguinte para a França, onde participaria da exposição “Modernidade – A arte brasileira no século XX” no Museu de Arte Moderna de Paris. Embora o mercado estivesse, naquele momento, se alimentando da pintura, os objetos low-tech e bem-humorados de Guto, que referenciavam desde a história da arte até o mito do progresso, circulavam com uma certa fluidez pelo circuito mais institucional. Suas “máquinas inúteis” propunham um jeito menos protocolar de se relacionar com o objeto de arte, em que a sisudez dava lugar ao riso, incorporando em suas propostas um espírito dadaísta, como em “Rádios Pescando”, conjunto de oito rádios cujas antenas eram transformadas em varas de pescar. Ainda em referência a Duchamp e ao seu “Nu descendo uma escada, nº2″, propõe uma abordagem sintética e irônica em sua experimentação com a pintura em “Homem na escada” obra que, além de integrar aquela exposição na Subdistrito Comercial de Arte, havia participado de sua instalação na 18ª Bienal de São Paulo e que pode ser vista atualmente na Pinacoteca de São Paulo na exposição “A máquina do mundo: Arte e indústria no Brasil 1901 – 2021”. Em sua versão de Salão Nacional, Lacaz apresenta outras obras de artistas que participaram de edições anteriores da mostra, como Flávia Ribeiro, Carlos Fajardo, Luiz Paulo Baravelli, Dudi Maia Rosa, Cassio Michalany e Fabio Miguez. E faz algumas homenagens: ao ator, ilustrador e cenógrafo Patricio Bisso, grande figura da cena paulistana da década de 1980, através da inclusão da fotografia de Marisa Bicelli; ao artista Alex Vallauri, falecido naquele mesmo ano, pioneiro do grafite no Brasil, com quem participou da Bienal de São Paulo em 1985; à revista Around; ao mestre da escultura Constantin Brancusi e à Leda Catunda, que surge representada por uma fotografia publicada na imprensa onde foi descrita de maneira sexista como dona dos “mais belos joelhos da arte brasileira”. Lacaz reforça o tom irônico de sua peça, incluindo outros dois trabalhos sem autoria, como o de “um artista hippie que entrou no salão por engano”. Neste conjunto de treze trabalhos, há outro que nunca havia existido fora daquela maquete: uma “Cara” de Luiz Paulo Baravelli. A partir do convite para a realização desta exposição na Galeria Marcelo Guarnieri, a pintura ganha o corpo de quase dois metros de altura, 35 anos depois de ter sido desenhada: “Cara para Guto”. Baravelli executa, em acrílica e encáustica sobre compensado, a obra que Guto Lacaz havia projetado em miniatura como se fosse mais uma da série “Caras” que seu amigo havia exibido na Bienal de Veneza em 1984. Para esta exposição, além das obras referenciadas do trabalho de Guto Lacaz, são apresentadas também pinturas e esculturas da época produzidas por artistas atuantes naquele mesmo período como Boi, que expunha com frequência na Subdistrito Comercial de Arte, Amelia Toledo, Siron Franco, Ivald Granato, Claudio Tozzi, Claudio Kuperman, Thomaz Ianelli, José Resende e Zé Bico, nomes importantes da produção artística da década de 1980.

 

 

 

 

 

 

Inspiração no Nordeste

18/nov

 

 

No dia 20 de novembro, a samba arte contemporânea, Shopping Fashion Mall – São Conrado – Estrada da Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Paratudo/Paratodos”, com cerca de 60 obras inéditas do artista paulistano Reynaldo Candia, que buscam referência no Nordeste para falar sobre a cultura brasileira. Serão apresentados pinturas, instalações, esculturas e bordados, produzidos nos últimos três anos, em diversos suportes, como lona, ráfia, couro, algodão, entre outros. O nome da exposição faz alusão à famosa música de Chico Buarque de Holanda, que trata da miscigenação do povo brasileiro, e também à tradicional bebida a base de raízes amargas nordestina. A exposição também estará disponível on-line, no site da galeria (www.sambaartecontemporanea.com), com obras, textos e informações, ampliando a experiência.

 

“Há muitos registros históricos de viajantes e expedições europeias que deixaram documentos iconográficos notáveis e importantes, mas a aventura visual empreendida por este artista-viajante sugere uma torção: ele percorre paisagens tão íntimas quanto públicas, subvertendo o lugar destinado à iconografia nordestina, aplicando um corte preciso capaz de extrair lirismo e forças poética e cromática únicas, inventando um vocabulário semiótico pensado a partir da experiência da alteridade como uma espécie de profanação, na medida em que os objetos e acontecimentos do mundo se abrem a um novo e possível uso”, escreveu a psicanalista e crítica de arte Bianca Dias no texto que acompanha a exposição.

 

Duas grandes instalações trazem obras da série “Porta-retrato nordestino”, composta por cerca de 50 pinturas a óleo, que remetem às fotopinturas, uma tradição que ainda perpetua em muitas casas nordestinas. As obras de Reynaldo Candia fazem referência a esses retratos de família, através de diversas pinturas, com cores contrastantes, que trazem no centro uma cor, destacando o lugar que seria destinado à fotografia. Desenhos arabescos completam os trabalhos, fazendo referência às antigas molduras dessas obras. “As instalações são um simulacro dessas paredes que vi em muitas casas no Nordeste, e trazem contrastes de cores que temos no Brasil”, diz o artista.  “Seu trabalho traz, para o campo codificado das artes visuais, distintas expressões da vida ordinária – aquilo que pertence ao território doméstico – e também instaura uma concepção nova de conflito e de singularidade com implicações sobre as relações entre sujeito e sociedade”, completa Bianca Dias.

 

Os suportes para as pinturas vão desde a tradicional lona até ráfia, embalagens de produtos diversos, entre outros materiais recolhidos na última viagem do artista ao Nordeste, em 2018. Há também pinturas sobre tecidos, como chita e viscose estampada, todos com cores contrastantes. Muitas dessas obras possuem texturas e grossas camadas de tintas. “Minha intenção primaria é produzir um objeto, por isso, trato a tinta como matéria na tela, criando um acúmulo, com várias camadas e uma superfície não lisa”, explica o artista.

 

Seguindo o formato da série “Porta-retratos”, haverá também a série de trabalhos “Nordestinês”, com obras em óleo sobre papel. No centro da pintura, no lugar que seria dedicado à fotografia em um porta-retratos, está escrita uma palavra comumente usada no nordeste, como “vixe” e “arretado”, por exemplo.

 

Casinhas típicas do Nordeste, quadradas e coloridas, também estão presentes na exposição. Quatro delas foram pintadas em páginas de livros de autores nordestinos ou que viveram no Nordeste, formando pinturas/esculturas. Essas mesmas casinhas haviam sido retratadas nas fotografias de Anna Mariani, no livro “Pinturas e Platibandas”, que tem textos de Ariano Suassuna, Caetano Veloso e Jean Baudrillard, e foram bordadas pelo artista para a exposição. “O bordado é muito forte no Nordeste, mas não só entre as mulheres. Durante minha pesquisa descobri que Lampião era um grande costureiro e também bordava”, conta o artista.

Também farão parte da mostra cinco obras da série “Defesa”, feitas em couro ecológico, em referência ao cangaço, reproduzindo símbolos do livro “Estrela do couro/ Estética do Cangaço”, de Frederico Pernambucano de Mello. “Os cangaceiros absorveram de forma muito intensa essa simbologia e a adotaram como defesa. Em vários momentos quando se sentiam ameaçados, riscavam esses símbolos no chão. É como se fosse um amuleto”, diz o artista que usa galhos de diversas árvores típicas do Nordeste como suporte para estas obras.

 

Completa a exposição a série de pinturas “Ervas Daninhas”, com imagens e nomes de plantas que tem devastado pastos no Nordeste. “Para mim, elas são símbolos de resistência, pois são retiradas e voltam a nascer. Essas pinturas são densas e faço com espátula e não com pincel, para depositar grossas camadas de tinta, deixando a espessura aparente”, ressalta o artista.

 

Sobre o artista

 

Reynaldo Candia nasceu em São Paulo, SP, 1975. Formou-se em História da Arte e Comunicação visual.  Realizou cursos no MASP e Tomie Ohtake, dentre outros lugares, e frequentou ateliês como assistente. Participou de diversas coletivas, editais e salões, entre eles, o Abre-Alas, na Gentil Carioca, programa de exposições no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP) e Novíssimos, no IBEU. Foi Premiado em diversos salões, dentre os quais, 43° Salão de Santo André – SP, 17º Salão de pequenos Formatos UNAMA – PA, 11º Bienal do Recôncavo – BA, 10º Salão Latino Americano – Santa Maria – RS. Participou da residência artística na Bienal de Cerveira, em Portugal, em 2012 e em 2018, e na Dinamarca, em 2016, onde possui obras em seus acervos. Possui obras no acervo do Museu de Arte  Contemporânea de Torun, na Polônia; na Fundação Bienal de Cerveira, em Portugal; no Núcleo Cultural da Universidade da Amazônia; na Fundação Espaço Cultural da Paraíba (FUNESC); no Museu de Arte de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, entre outras. Dentre suas principais exposições, destacam-se “Sinais do apocalipse” (2020), no Centro de Arte Contemporânea de Torun, na Polônia; “Grupo Em Branco – Ato Contínuo” (2018), no Museu da Cidade de São Paulo; “Mãos as obras” (2017), no Circuito SESI; a mostra no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP) e “Novíssimos”, na Galeria do IBEU, ambas em 2016.

 

Até 23 de janeiro de 2022.

 

 

 

 

 

A Natureza na Arte na Casa França-Brasil

17/nov

 

 

 

Os finlandeses estão chegando: 5ª edição da Bela Bienal Europeia e Latino Americana reúne artistas daFinlândiae da Itália, propondo diálogo entre arte e sustentabilidade.

 

A arte como agente de reflexão sobre sustentabilidade e questões ambientais. Este é o mote da Bela Bienal Europeia e Latino Americana de Arte Contemporânea, que chega à sua 5ª edição com o tema “A Natureza na Arte”. Evento itinerante que este ano já esteve na Finlândia e aportou no Brasil com agenda em importantes cidades, como Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, chega à Casa França-Brasil em curta temporada. No dia da abertura, 19 de novembro, contará com a presença do embaixador da Finlândia Jouko Leinonen.

 

Sob curadoria do finlandês Jari Järnström e do brasileiro Edson Cardoso – proprietário da AVA Galleria, na Finlândia – a mostra reúne 30 artistas finlandeses, além de italianos. Todos possuem em comum a proposta de promover um diálogo consistente através da exposição de suas obras, manifestadas através de pinturas e esculturas de bronze. “Promovendo esse diálogo intercultural, mostramos ao público em geral o que artistas de diferentes culturas estão desenvolvendo na arte contemporânea, unificando as distâncias continentais através de seus olhares sobre um único tema. Desejamos evidenciar a importância destas obras como agentes de reflexão sobre a preservação ambiental, bem como de suas raízes e tradições”, afirma um dos curadores, Edson Cardoso, que já realizou exposições nas principais cidades do mundo (Sede da ONU em Nova Iorque, Museu do Louvre em Paris, Prefeitura de Osaka, no Japão, Museu de Braga, em Portugal) e em outros espaços importantes no Brasil – Museu Oscar Niemeyer, MAM do Rio, MuBe Museu de Esculturas e Museu Histórico Nacional).

 

Relação dos artistas convidados

 

Finlândia: Anna Emilia Järvinen, Annukka Visapää, Antti Raitala, Bela Czitrom, Dan Palmgren, Elisa Daart, Hanna Uggla, Hanna Varis, Hannele Haatainen, Iria Ciekca Schmidt, Jari Järnström, Kristina Elo, Laura Pohjonen, Maaria Märkälä. Maj-Lis Tanner, Marko Viljakka, Merja Hujo, Mona Hoel, Nonna-Nina Mäki, Paula Mikkilä, Piippa Mutikainen, Päivi Kukkasniemi, Päivyt Niemeläinen, Raija Kuisma, Seppo Lagom, Sirkka Laakkonen, Sirpa Heikkinen, Ulla Remes, Ulla-Maija Vaittinen, Ursula Kianto.

 

Itália: Alda Picone, Judith Paone, Mauro Trincanato.

 

De 20 de novembro a 12 de dezembro.

Exposição de Ziraldo e Museu Histórico Nacional

12/nov

 

 

Com “Terra à Vista e Pé na Lua”

 

Ziraldo participa no dia 20 de novembro dos 100 anos do Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição que marca o início das comemorações do museu tem como foco a aventura humana rumo ao desconhecido. Pelo olhar visionário de Ziraldo – artista atemporal cuja produção se faz presente no imaginário de brasileiros e brasileiras de todas as idades – o visitante navegará do descobrimento do Brasil às conquistas espaciais, passando por obras do artista que se unem conceitualmente às coleções do museu via códigos QR espalhados pela cenografia.

 

A trajetória de Ziraldo (livros, personagens, ideias ou mesmo objetos de trabalho) reconecta o visitante, de forma instigante e criativa, à história de um Brasil construído diariamente por todos nós. A curadoria e direção de arte ficam a cargo de Adriana Lins e Guto Lins (Manifesto), que contaram com o apoio e a participação do Instituto Ziraldo, enquanto a cenografia é assinada por Susana Lacevitz e Philppe Midani (Cenografia.Net).

 

Segundo Vania Bonelli, diretora interina do Museu Histórico Nacional, para dar início às comemorações do centenário do MHN em 2022, “a fantástica criatividade” de Ziraldo e seus super-heróis é uma “verdadeira odisseia”. “Ao retornarmos à alegria, convidamos as mais diversas gerações para navegarem no tempo e no espaço, reafirmando a frase do Menino Maluquinho: ‘que maluquinho que nada! Eu sou danado de feliz!’”, conclui.

 

A exposição faz parte do Plano Anual 2021 do museu, que tem o apoio da Associação dos Amigos do MHN e patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 

“O Instituto Cultural Vale tem enorme alegria de fazer parte desta jornada de descobertas proposta pela exposição Terra à Vista e Pé na Lua. Ao unir as criações de Ziraldo ao acervo do Museu Histórico Nacional, a mostra convida públicos de todas as idades a reler o passado e recriar o presente de forma lúdica, contando histórias de vários Brasis. Para o Instituto, que tem quatro espaços culturais próprios, gratuitos e abertos ao público, e que patrocina projetos culturais em todas as regiões do país, faz muito sentido estar ao lado de iniciativas como essa, que criam oportunidades de aprender, se inspirar e criar em contato a história e com a arte”, afirma Christiana Saldanha, Gerente do Instituto Cultural Vale.

 

Sobre a exposição

 

Logo na entrada, no pátio Minerva, painéis fazendo referência a livros gigantes, em tamanhos variados – alguns medindo até dois metros -, apresentam imagens icônicas de Ziraldo nas temáticas quadrinhos, cartazes, Menino Maluquinho e Zeróis, direcionam os visitantes para a entrada da exposição, que se espalha pela fachada e Pátio dos Canhões, além de três galerias de exposições temporárias.

 

Na Sala 1, a Área Caravela compreende o “descobrimento” do Brasil, chegar em um mundo desconhecido, solar, passando pelo humor e alegria do Menino Maluquinho, e pelo Espaço Imprensa – quando Ziraldo chega ao Rio de janeiro e começa a se apresentar, conquistando seu público – área representada na exposição por seis longas páginas que reproduzem rotativas de jornal, expondo as tiras, os quadrinhos, os Zeróis e as charges de Ziraldo que circularam pela imprensa do Brasil. Já a Sala 2 destina-se à área Lua, com o personagem Flicts, astronautas e os planetas. É uma mistura de nave espacial com o próprio espaço sideral, tendo vitrine com originais e livros relativos ao tema.

 

Na Sala 3, a área Universo Ziraldo abriga a prancheta do artista e uma simulação de seu estúdio de trabalho, com livros, estantes, e na TV da parede – que ficava sempre ligada enquanto ele produzia – Ziraldo conversa com o visitante, ao mesmo tempo em que desenha, no documentário feito em 1975 por Tarcisio Vidigal.

 

Tanto a mesa quanto a cadeira e a máquina de escrever pertencem ao acervo do artista. É nesta sala que também fica a galeria dos personagens: alguns rostos conhecidos de todos, outros nem tanto, e espelhos para o próprio visitante se ver e se sentir fazendo parte deste grupo. Na parede oposta aos livros infantis, os super-heróis, as onomatopeias e o próprio Ziraldo – numa caricatura em tamanho real – convidam o visitante a sentar para uma prosa. Personagens em escala humana ocuparão a “Praça da Amizade”, no Pátio dos Canhões, que nessa versão atiram flores.

 

Hiperlinks, em diversos momentos do percurso da mostra, disponibilizam códigos QR que darão acesso a informações complementares. Um exemplo é o código indicado pela imagem do Menino Maluquinho no painel de entrada à Sala 1, que levará ao link de acesso do vídeo oficial “Terra à Vista e Pé na Lua”. A apresentação da exposição terá legendas em português e tradução em libras e o link também ficará disponível no Youtube do MHN, favorecendo a divulgação virtual da mostra.

 

“Terra à Vista e Pé na Lua convida o visitante para uma volta ao mundo a bordo da espaçonave pilotada por Ziraldo Alves Pinto, artista navegante de seu tempo, de nosso tempo, de todos os tempos. Um visionário que manteve os pés no chão de sua Caratinga natal – e depois, do Rio de Janeiro – mas sempre com a cabeça na Lua!
E vem nos alimentando a alma com uma criatividade estonteante que nos deixa mareados. A obra de Ziraldo é como o vento que segue em várias direções sem perder a força e nos leva rumo a nós mesmos em um passeio pela história do Brasil, guiados por um mapa ilustrado com amor e humor. Ziraldo singrou diversos mares e sua praia é a mente fértil onde se plantando tudo dá. Seu desenho ágil e inteligente e seu domínio técnico são um marco divisório nas artes gráficas e na ilustração brasileira, uma bússola que orientou e dá sentido à carreira de muitos outros navegantes que vieram depois dele. Seu trabalho, que é fruto de muita pesquisa e perseverança, aqui nessa exposição ancora em várias ilhas e atiça nossa imaginação para uma visita pelo acervo do Museu Histórico Nacional. Uma visita que começa aqui mas não termina nunca, pois o tempo não pára e o mundo é pequeno para um marinheiro curioso e atento. Seus personagens estão tatuados em nossos corações, seus livros estão gravados em nosso convés e a bandeira que tremula no nosso mastro é uma folha de papel. Ziraldo é isso tudo e isso é coisa de museu!”, dizem Adriana Lins e Guto Lins, curadores da exposição.

 

Sobre o artista

 

Ziraldo Alves Pinto, brasileiro do mundo, nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 1932. Com reconhecimento nacional e internacional desde o final dos anos 1960, vem atuado profissionalmente por sete décadas nos contextos social, político, ambiental e educacional em mídias jornalísticas, literárias e de entretenimento. Ícone cultural de nosso tempo, seu acervo tornou-se referência para a identidade e memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Pioneiro no design, revolucionário na literatura infanto-juvenil, ativamente engajado em temas sociais e políticos, um intuitivo e criativo crítico de costumes, Ziraldo atinge contextos universais e atemporais.

 

Seus livros, combinando texto e imagem na estética que acabou por definir sua marca, trazem, desde sempre, a ecologia como prática de sobrevivência e solidariedade; a generosidade sem fim do verdadeiro amigo; o universo das palavras ou mesmo das estrelas; a criatividade maluquinha da criança; o amor desmedido das mães, das tias, do avô. Trazem a cor como característica e identidade, nunca como limitação. E memória e afeto, na construção do indivíduo. Em setembro de 2018, Ziraldo sofreu um acidente vascular cerebral que o impediu de voltar a sua prancheta de trabalho e o impossibilitou de visitar, na época, as duas exposições que estavam sendo montadas, em São Paulo, em sua homenagem. Hoje, três anos depois, ele se encontra mais forte e vem acompanhando virtualmente, com entusiasmo e curiosidade, cada etapa da construção do projeto “Terra à Vista e Pé na Lua”.

 

Ações educativas

 

Ação educativa virtual e presencial – Caderno de Atividades: Me leve pra casa! Me leve pra escola! Me leve com você! Todos os sábados, acontecerão ações educativas virtuais e presenciais para o público visitante. Suporte lúdico baseado no discurso narrativo da exposição TERRA À VISTA E PÉ NA LUA, tem como objetivo proporcionar a interação da criança com o material exposto. Será oferecido em versão impressa, distribuída às crianças visitantes e também disponibilizado on-line gratuitamente. Aos sábados as atividades poderão ser feitas no próprio Museu com o auxílio de monitores.

 

Sobre o MHN

 

O Museu Histórico Nacional (MHN) é um museu dedicado à história do Brasil. Localizado no centro histórico da cidade do Rio de Janeiro (RJ), foi criado no ano de 1922, pelo então presidente Epitácio Pessoa (1865-1942), como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Unidade museológica integrada à estrutura do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia do Ministério do Turismo, o MHN possui um acervo constituído por mais de 300 mil itens arquivísticos, bibliográficos e museológicos. Suas galerias de exposição abrangem desde o período pré-cabralino até a história contemporânea do país. O espaço expositivo faz parte de um conjunto arquitetônico que se distribui por uma área de 14 mil m², à qual se somam os mais de 3 mil m² de pátios internos. O museu conta, ainda, com galerias para exposições temporárias e loja de souvenirs. Comprometido em apresentar da melhor forma possível suas coleções ao maior número de pessoas, o MHN atende escolas públicas e privadas, bem como visitantes em geral em visitas mediadas especiais.

 

Até 20 de fevereiro de 2022.

 

Duas exposições de Eduardo Sued

09/nov

 

apresentam a exposição “Eduardo Sued – Ousadias cromáticas”, com um conjunto importante e expressivo de obras inéditas do artista Eduardo Sued, oriundas de seu ateliê, em Jacarepaguá. Além de pinturas, serão expostas experiências tridimensionais feitas em diferentes suportes e materiais, que o artista chama de “pintura-relevo”, onde há a junção da tela com tocos de madeira. Aos 96 anos completados em 10 de junho, o celebrado artista continua ativo, trabalhando diariamente em seu ateliê. A curadora Vanda Klabin, que acompanha sua trajetória desde os anos 1980, selecionou os trabalhos que serão expostos nas duas galerias, simultaneamente, e escreveu o texto crítico que acompanha a dupla mostra.

 

Vanda Klabin conta que as duas exposições “sintetizam a trajetória de Eduardo Sued”. “São momentos diferenciados em sua produção, onde tudo é cor. As mostras permitem um olhar amplo e reflexivo sobre a trajetória desse grande artista, um pensador e o maior colorista do cenário artístico nacional. Um turbilhão de formas e de cores.  Em suas próprias palavras: “Tudo é cor, pode haver sonatas, sinfonias …’”. “Sued sempre revitaliza a linguagem pictórica, com liberdade e intensidades cromáticas. A cor tem um lugar polissêmico em sua obra. Suas pinturas refletem a relação entre a luz, a superfície cromática, uma geometria, o espaço e o tempo. A preocupação com a luminosidade está presente em todas as suas obras”, afirma.

 

Na Danielian Galeria estão obras dos anos 1980, período que Sued desenvolveu “uma orquestração de áreas negras, com vibrantes faixas coloridas divididas em segmentos desiguais”, explica a curadora. “São obras de uma estrutura geométrica com oposiçōes cromáticas mais ousadas e trabalhos de grandes dimensões, onde as proporções e as cores se alteram”.  Ela acrescenta que “nos anos 1990 Sued introduz novos elementos em seus trabalhos: usa tinta de alumínio e pinceladas mais espessas e descontínuas, além de retornar às colagens, presentes nos trabalhos dos anos 1970”.

 

Na Cassia Bomeny Galeria estão concentradas “os vastos cinzas e pratas, que trazem uma luminosidade diferente, acentos mais reduzidos – o cinza matinal ou vespertino, de natureza diversa, pelos tons mais baixos e opacos, um contraste sutil com essas tonalidades e uma identidade cromática própria com seu valor luminoso”.

 

Eduardo Sued por Vanda Klabin

 

A pintura de Eduardo Sued ocupa, na história da pintura brasileira contemporânea, uma posição singular, tanto pelo requinte cromático quanto pela extrema complexidade formal. A produção sistemática e intensa do artista, com o passar do tempo, foi configurando um campo pictórico autônomo, marcado pela disciplina estrita da pintura e pelo espírito de pesquisa permanente.

 

Eduardo Sued tem uma produção contínua e incessante, pois mantém há muitos anos a mesma rotina: acordar cedo e ir para o seu ateliê, dizendo sempre que nasceu com essa vitalidade, que o trabalho é fundamental, uma necessidade interior de estar sempre se desenvolvendo, e que sai diariamente, exaurido do ateliê. Trabalha diariamente em seu ateliê, projeto arquitetônico de seu amigo Luiz Paulo Conde (1934-2015), situado em um condomínio em Jacarepaguá́, no Rio de Janeiro. Considera o lugar da criação, o lugar onde as coisas são geradas. Ele declarou que o próprio ateliê tem o seu mundo: “Os objetos que estão dentro desse espaço e pertencem a você. Por essa razão, Miró e Giacometti, também, gostavam de ter o ateliê repleto de trabalhos. É aqui nesse lugar que o artista resolve fazer alguma coisa”.

 

Acompanho a trajetória de Sued há muitos anos, desde o início dos anos 1980, e conheci o seu ateliê na Rua Viveiros de Castro, em Copacabana, e o ateliê na Rua da Alfândega, no Centro do Rio de Janeiro, onde realizou o trabalho para a Bienal de Veneza, composto de áreas cromáticas cortadas em tecido de seda pura, que atuam no movimento da superfície da obra, como um questionamento dos limites da pintura. Este ateliê no Centro era o local onde sua mulher, a estilista Marilia Valls (1928-2018), criava suas peças para sua loja Blu-Blu.

 

Eduardo Sued nasceu no Rio de Janeiro, em 1925, filho de imigrantes sírios da cidade de Homs, situada a nordeste de Damasco. Estudou na Escola Nacional de Engenharia, no Rio de Janeiro, e abandonou a faculdade no terceiro período para total dedicação às artes plásticas. Contrário às rígidas regras tradicionais e acadêmicas, preferiu frequentar as atividades dos cursos livres. Estudou pintura e desenho com o pintor alemão Henrique Boese, em Santa Teresa, Rio de Janeiro, em 1949. Nos anos 1950, trabalhou como desenhista no escritório de Oscar Niemeyer; Sued sempre menciona que a matemática o permitiu cultivar, desde o início, a clareza do pensar e a disciplina na precisão do fazer.

 

Em seguida, viajou para Paris, lá frequentou a Académie Julian e a Académie de la Grande Chaumière, onde havia a predominância da Escola de Paris e estavam em curso as principais vertentes do cubismo — o epicentro da pintura moderna. Em 1953, retornou ao Rio de Janeiro, alinhado com as poéticas de fragmentação cubista picassianas e com os valores plásticos modernos, adquiridos durante a sua estada europeia. Estudou gravura em metal com Iberê Camargo, no ateliê da Lapa, um trabalho minucioso e quase artesanal; aprendeu várias técnicas importantes para a sua formação profissional. Passou a produzir gravuras conhecidas como águas-tintas, com cores justapostas em tonalidades suaves, realizadas sobre superfícies granuladas do metal

 

Sued segue o seu caminho, sem se filiar jamais a nenhum movimento ou programas estéticos, mantendo-se independente e distante das discussões entre figurativos e abstratos e/ou das dissidências entre concretos paulistas. Nos anos 1960, também não se submeteu à nova ordem figurativa que estava em vigor. As ideias construtivas encontraram um intenso desenvolvimento no cenário da arte brasileira, após a inauguração da I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951. O crítico de arte e seu grande amigo Ronaldo Brito, que acompanha seu trabalho desde os anos 1960, afirmou que “Eduardo Sued é o grande desinibidor da linguagem abstrata de origem construtiva, na pintura moderna brasileira”.

 

Realizou sua primeira exposição individual na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, em 1958, quando apresentou os elementos fundamentais do seu pensamento plástico, as pinturas, guaches e aquarelas, com uma caligrafia cromática e uma linguagem da abstração geométrica. Participou da 41ª Bienal de Veneza, em 1984, com um trabalho inédito, composto de faixas de seda pura coloridas que substituem as tiras verticais alongadas de cor na superfície da tela, como negação da profundidade, na fronteira do tridimensional.

 

Nos anos 1980, surgem novos elementos em seu trabalho. A base da tela rompe o contorno da totalidade da superfície e pulveriza o espaço construído pela forma do quadrado. Uma espécie de “rodapé pictórico”, no qual as diferenciadas zonas cromáticas são divididas em segmentos desiguais, que interrompem a extensão contínua das cores. Em suas palavras: “a base rompe o contorno do quadro, faz com que ele deixe de ser só um quadrado”.

 

No seu pensamento plástico, o ato de pintar tem uma intensa relação com a música. Não trabalha apenas com os olhos, mas com os ouvidos para escutar as exigências das telas. As cores servem para serem vistas e ouvidas e menciona que, quando ele está em dúvida, fecha os olhos e aproxima o ouvido da tela, pensando nos valores de claro e escuro. As cores desabrocham aos poucos: “Ouço o que a tela pede. Costumo ouvir as cores para poder fazer a estrutura cromática das telas”. Utiliza essa correspondência como metáfora da sua vivência pictórica, recomenda ao artista trabalhar com os ouvidos para escutar as exigências das telas.

 

O vocabulário Sued é baseado em estruturas geométricas e ousadas oposições cromáticas, uma totalidade plástica original com uma grande liberdade no tratamento da cor, por vezes saturadas, com combinações ou dissonâncias cromáticas, mas sempre construindo novos direcionamentos.

 

Sued busca harmonizar coisas que não se harmonizam; cores que não se irmanam. O artista parece estar sempre provocando novas situações, assim como as dissonâncias musicais, sendo um ouvinte da música de Arnold Schönberg, Alban Berg, Anton Webern, a famosa segunda escola de Viena, que trabalhavam no sentido da dissolução do sistema tonal, conhecidos pela nova organização sonora, como uma consequência da inevitável desagregação do sistema tonal – o dodecafonismo, escrita musical em que nenhum dos 12 sons da escala cromática tem maior importância do que os outros. O que significa romper com um sistema ou situação estabelecida. Nas numerosas visitas que realizei ao ateliê do artista, havia sempre uma música tocando, muitas vezes dissonante. Sued mencionava que a distância entre um acorde e outro conseguia entrever a presença de um contraponto na pintura, nos valores de claro/escuro e luminosidades.

 

Em 1998, período em que eu era diretora do Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, convidei Eduardo Sued para realizar uma exposição individual, com curadoria de Paulo Sergio Duarte. Essa mostra reuniu cerca de 40 obras, perfazendo vinte anos de trabalho e algumas pinturas recentes. O artista apresentou uma instalação intitulada “Objetos”, em homenagem ao pianista e compositor de jazz Thelonious Monk. São as intituladas réguas, objetos tridimensionais de madeira pintada, geralmente agrupadas e encostadas ou presas na parede.

 

A obra de Paul Klee teve uma enorme importância para o seu trabalho e é considerado um ponto seminal para o desenvolvimento das colagens, que passam a estar presentes em seus trabalhos a partir dos anos 1970. Em 1974, realizou uma exposição na Galeria Luiz Buarque de Hollanda e Paulo Bittencourt, no Rio de Janeiro, com trabalhos em que as colagens estavam presentes e grandes áreas de cor, agora de visualidade plena: “Não mais anexa coadjuvante de um espetáculo estrutural, mas como uma das partes formativas essenciais da obra”.

 

Até os anos 1980, o comportamento do pincel não aparecia na estrutura das telas, que apresentavam diversas tonalidades de cor, com modulações bem ordenadas, porém lisas. Em 1982, na exposição de Eduardo Sued no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, foram apresentadas diversas telas com novas soluções, agora uma palheta com intensas vibrações coloridas e pinceladas oblíquas.

 

Na década de 1990 suas obras apresentam outros dilemas, com as pinceladas espessas e descontínuas, uma nova oposição à superfície planar, adquirindo maior complexidade com o acréscimo de recortes de madeira e elementos tridimensionais, como um questionamento dos limites da pintura, contrapostos aos acúmulos de matéria. Sued chama de pintura-relevo, onde existe a junção da tela com tocos de madeira. Ele afirma: “O prata é o vazio, mas um vazio que é o lugar de alguma coisa e contém a presença do invisível. O vazio vitalizado representa as coisas sem gravidade e sem peso, e foi se estendendo como uma potência na tela. É como se eu estivesse lidando com entes invisíveis e ausentes”.

 

Em 2004, realizamos uma mostra individual intitulada “Eduardo Sued: a experiência da pintura”, no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, uma curadoria em parceria com Ronaldo Brito. A exposição deu ênfase a trabalhos, agora em formatos de grande escala, nos quais Sued agrega à sua pintura sarrafos de madeira pintada nas bordas, exaltando uma condição pública para os seus trabalhos; houve também uma sala especial, com obras mais antigas, consideradas exemplares, sendo eleita a exposição do ano.

 

Até 15 de Janeiro.

 

As galerias Danielian, Gávea, e Cassia Bomeny, Ipanema,

 

Dois artistas, um francês, outro argentino

 

A Galeria Evandro Carneiro, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe dois artistas estrangeiros que viveram no Brasil: Jean Guillaume e Hugo Rodriguez.

 

Exposição Jean Guillaume e Hugo Rodriguez

Dois artistas estrangeiros que escolheram o Brasil para viver. Um pintor francês nos anos 1950 e um escultor argentino, uma década depois.

Jean Guillaume nasceu na França em 1912 e estudou pintura em Bordeaux e Paris, desde 1928, mas sempre entrecortando as lições com viagens pelo mundo – sobretudo ao Oriente. Era também marinheiro. No final dos anos 1930 havia se matriculado na Académie Chaumière, onde se tornou muito amigo de Yves Brayer e Bernard Buffet. Estava decidido a seguir a carreira artística, porém teve os planos interrompidos pela Segunda Guerra Mundial, quando foi convocado para o combate. Ao fim do conflito, trabalhou como ilustrador de livros e participou de diversas coletivas (Teixeira Leite, 1988, p. 240).

Em 1951 veio para o Brasil, fixando-se primeiramente no Rio de Janeiro, época em que expôs em São Paulo (Livraria Francesa) e na capital federal de então (Galeria Montparnasse). Dez anos depois, apaixonou-se por Cabo Frio (litoral norte do RJ), onde viveu até a sua morte, em 1985. Sua obra retrata paisagens urbanas e litorâneas, com boas doses de surrealismo, em uma franca inspiração do alemão Max Ernst (1891-1976) e suas Florestas. Devido à sua identificação com as praias da cidade em que escolheu para residir, alguns críticos o identificaram como “o pintor de Cabo Frio”, no entanto, suas paisagens são muito mais fantásticas do que as dunas daquelas praias fluminenses. Sua obra extrapola e muito aquela paisagem, aproximando-se bem mais das florestas surrealistas de Ernst do que já se imaginou. A partir dessa semelhança, Evandro Carneiro reconheceu um diálogo profícuo entre a sua pintura e as esculturas que também apresentamos nesta mostra.

Hugo Rodriguez é escultor e, com 92 anos, ainda vive na Argentina, mas esteve no Brasil de 1960 a 2011. Havia ganhado uma bolsa para estudar na Europa, mas interessava-lhe a América (Moreira, 2011, p. 4). Chegou ao país de carona em um avião da Força Aérea Brasileira e trazia no bolso 50 dólares. Assim iniciou sua estada por aqui. Deslumbrou-se com a paisagem carioca desde que as portas daquele avião se abriram. Se virou, trabalhou como garçom, mas nunca deixou de esculpir e experimentou todo tipo de material até decidir-se pelo bronze. Só que ao invés de fundi-las pela técnica da cera perdida, usual na fundição, optou pelo isopor:

“nele eu me expresso, nele eu obtenho a forma que desejo plasmar. Mas é um material sem resistência para suportar o tempo, e a primeira coisa que cumpre a uma obra de arte é ter algum vínculo com o infinito, com a eternidade. Ela tem que permanecer porque encerra uma verdade. Então era preciso fundir o isopor em bronze”, disse em entrevista ao jornalista Eliezer Moreira. Era quase uma “cosmovisão”, outro termo que Hugo aprecia bastante e trouxe para a sua obra. Dois guaches bastante expressivos desta exposição revelam essa metafísica. “Seja como for, não procuro espantar. Não quero que as pessoas saiam correndo da minha escultura. Ao contrário, minha fantasia é que se reúnam em volta dela em grandes celebrações” (Moreira, 2011, p. 7). Totens que nos fazem fluir em direção ao espaço.

Essa “magia” tanto é um ponto intrigante na obra de Hugo que foi notada por Hélio Oiticica (Revista Arquitetura I. A. B de setembro de 1965, apud. Moreira, 2011, p.7) e diz respeito aos espaços vazios: “Há uma configuração fisiognômica no caso especial da escultura de Hugo Rodriguez. Não uma figuração, mas um sem-número de possibilidades imagéticas(…). É isto produto da tensão existente no fazer-se contínuo das superfícies descontínuas desses amálgamas de massa-espaço. Reside aí o caráter mágico dessas obras.”

Treze esculturas de Hugo Rodriguez estão à mostra na Galeria Evandro Carneiro, das quais algumas são quase um espiral rumo à cosmovisão deste artista. Somam-se a elas vinte telas do pintor Jean Guillaume que parecem florestas fantásticas. Vale a visita!

Laura Olivieri Carneiro

 

Até 11 de dezembro.

 

Exposição de Burle Marx

04/nov

 

Burle Marx: clássicos e inéditos

A Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ, se associa ao Instituto Burle Marx na primeira exposição de seu inestimável acervo.

Data de 1938 a primeira relação profissional entre os dois Robertos, por ocasião da feitura do jardim da residência do jornalista no Cosme Velho. Foi um dos primeiros trabalhos residenciais de Burle Marx que, naquele exato momento, concebia o paisagismo do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema. Indiscutível obra-prima que assinala a adaptação aos trópicos do projeto internacionalista de Le Corbusier. Com as curvas dos jardins, as sinuosidades das divisórias internas e a solução volumétrica de entrecruzamento de seus blocos, Burle Marx, Lucio Costa e Oscar Niemeyer evitaram que o edifício fosse apenas mais uma de tantas importações europeias entre nós. Ali começou, em grande escala, o Modernismo carioca e brasileiro.

A Casa de Stella e Roberto Marinho situa-se na última franja da Floresta da Tijuca; a adaptação ao local envolveu o transplante e uso de espécimes locais numa transição entre o bosque e o jardim. Destaca-se a presença da água e de seu rumor na fonte e no próprio curso do rio Carioca. Não se trata de uma obra para rápida contemplação visual e, sim, um espaço amistoso para permanência, deslocamento e fruição dos sentidos.

A presente exposição assinala o registro de quase nove décadas de trabalho do paisagista e de seus colaboradores. Materializa, ainda, a exemplar transformação dos arquivos particulares em acervo do Instituto, permitindo o seu compartilhamento com a sociedade. A existência organizada dessa coleção muito se deve ao próprio Roberto Burle Marx, mas, em igual medida, ao zelo de Haruyoshi Ono, José Tabacow, Fátima Gomes, Julio Ono, Gustavo Leivas e, agora, de Isabela Ono, minha parceira na curadoria e diretora executiva da recém-criada instituição. Em tempos sombrios o registro da persistência da criação e do posicionamento contra a destruição de nossas riquezas naturais é um grande alento e incentivo para todos.

“O Tempo Completa”, dizia nosso homenageado sobre a participação orgânica das espécies na criação da beleza. Mas, também, nos alertava que os lentos processos da milenar natureza podem ser destruídos em simples horas pela ignorância e ação mecânica violenta.

O acervo exibido deve ser tomado como uma oração ao tempo, de modo que dele sejamos parceiros em nossa passagem no planeta. E o Instituto consolida, junto com o Sítio Burle Marx e o conjunto de obras espalhadas por vários continentes, o legado que esse extraordinário brasileiro nos deixa.

Lauro Cavalcanti

 

Até 06 de fevereiro de 2022.