Arte Urbana

28/ago

Em setembro, o Rio de Janeiro será palco do “Rua Walls”, projeto de arte pública, aberta e acessível que contará com a participação de 18 artistas. Eles irão transformar 1,5 Km dos muros dos Armazéns da Zona Portuária, na Av. Rodrigues Alves, em obras de arte. Cada convidado será responsável por produzir um mural em 30 noites a partir do dia 22/08 com auxílio de 14 plataformas elevatórias distribuídas ao longo do trecho. O início da exposição está previsto para o dia 27/09. O projeto de urbanismo tático foi criado pela produtora Visionartz, que há mais de 10 anos desenvolve na região ações e revitalização urbana, sempre associadas ao desenvolvimento social por meio da arte.

 

Mais do que uma exposição artística, a iniciativa serve como ferramenta de revitalização da região e movimentação da economia local, impactada pela crise do coronavírus. De acordo com André Bretas, um dos idealizadores do evento, o Rua Walls traz um novo colorido para o bairro em um momento tão cinzento. “As pinturas revitalizam a cidade e podem ser vistas de dentro do carro, ônibus ou por pessoas que estejam passando pelo local a turismo ou não”, explica. Os passantes poderão admirar as obras, que estarão expostas na altura do prédio AQWA Corporate, Túnel Marcelo Alencar até a Rodoviária Novo Rio.

 

O Rua Walls faz parte de um novo projeto urbanístico da região que tem como objetivo integrar a Região Portuária à vida cultural e profissional da cidade. “A Zona Portuária ficou muito atrativa com a revitalização urbana realizada nos últimos anos e, agora, a Companhia Docas do Rio de Janeiro tem a oportunidade de também colaborar nesse trabalho com a implementação do projeto Rua Walls nos muros do nosso Porto do Rio de Janeiro, em parceria com empresas arrendatárias dos terminais”, afirmou o diretor-presidente da CDRJ, Francisco Antonio de Magalhães Laranjeira.

 

Para o presidente Laranjeira, as pinturas que contemplarão os muros externos do porto, entre os armazéns 10 e 18, estreitarão a relação porto x cidade: “A Avenida Rodrigues Alves será transformada em um verdadeiro museu à céu aberto, atraindo cidadãos cariocas e turistas ao Porto do Rio de Janeiro, o que certamente vai promover ainda mais a região, já consolidada como referência histórica e cultural”.

 

O projeto oferece ao público a oportunidade de consumir e admirar manifestações artísticas de artistas visuais talentosos do cenário atual. Atividades ao ar livre já são uma prática atuante entre cariocas e turistas, e as obras surgem para reforçar o lazer da população através do urbanismo tático na Zona Portuária da cidade. Vale ressaltar que, durante a concepção do Rua Walls, também será realizada a pintura artística nos muros da Escola Municipal General Mitre, no Morro do Pinto. A ação faz parte do  projeto “Voltando às Aulas”, liderado por Ricardo Célio, um dos artistas escalados.

 

Dentre os nomes confirmados para execução das obras estão: Agrade Camís, Amorinha, Bruno Lyfe, Célio, Chica Capeto, Diego Zelota, Doloroes Esos, Flora Yumi, Igor SRC, Leandro Assis, Luna Bastos, Mariê Balbinot, Marlon Muk, Miguel Afa, Paula Cruz, Thiago Haule, Vinicius Mesquita e Ziza.

 

Cuidados e interdições

 

Com a pandemia da COVID-19 os cuidados foram redobrados. A equipe de produção foi reduzida e estão sendo seguidas todas as recomendações do Ministério da Saúde. As pinturas serão feitas durante a madrugada, período em que a avenida permanece interditada para o trânsito.

 

Sobre o Rua Walls

 

Rua Walls é um projeto de urbanismo tático da produtora Visionartz, que há mais de 10 anos desenvolve na região ações de revitalização urbana associada ao desenvolvimento social por meio da arte. A ação contará com a participação de 18 artistas que serão responsáveis por  transformar 1,5 Km dos muros dos Armazéns da Zona Portuária, na Av. Rodrigues Alves, em obras de arte.

 

Dentre os patrocinadores do evento estão: Triunfo Logística, ICTSI Rio Brasil, Multiterminais, Terminal de Trigo do Rio de Janeiro – TTRJ, Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura – SMC. Sherwin Willians e Color Gin Arte Urbana são as marcas das tintas oficiais e a Otima é o mídia partner. Os apoiadores são: Companhia Docas do Rio de Janeiro, Hotel Mar Palace Copacabana, Tishman Speyer, Veloe, Taeco, Pincéis Atlas, Faria Cendrão e Maia – FCM Law. O projeto conta ainda com o apoio institucional da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto – CDURP.

 

Exposição Manuel Messias dos Santos

25/ago

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 29 de agosto a 23 de setembro a Exposição Manuel Messias dos Santos.  A mostra conta com trinta gravuras do artista nascido em Sergipe, mas que fincou suas raízes no Rio de Janeiro. Nordestino, pobre e doente, acabou vagando pelas ruas do Rio de Janeiro sem o sucesso merecido. Sua arte evidencia expressões das mazelas sociais que nos assombram historicamente. Além da força imagética de seu trabalho, a narrativa em linguagem própria nos deixa um legado de mistério, ainda a ser revelado. Em destaque as obras “O que tem na fala do Cão da lua?”, “Por que me abandonaste”; “Fuga”, entre outras.

“Não preciso de côr – afirma – ela diminui a agressividade da gravura. Me basta o conflito do preto e do branco.”

Manuel Messias dos Santos ao crítico Frederico Morais para o Diário de Notícias (1968).

“Outro dia cruzei com Manoel Messias num dos corredores da Funarte. Trazia debaixo do braço um rolo com suas gravuras. Nervoso, ao mesmo tempo tímido e agressivo, atento e desligado, rosto encovado, os olhos ameaçando explodir. Ali mesmo no chão abriu suas gravuras, enormes, verdadeiros cartazes. Entretanto, o que ele anuncia não são amenidades ou veleidades, nem slogans ou mercadorias. Anuncia a dor e a revolta, abre a boca, cospe sangue, exala o protesto, espuma raiva. Finca o mastro, abre a bandeira e como um Messias condena o erro e antecipa a palavra final. Sua gravura, em que sobram os espaços brancos e o vermelho e o azul são as únicas cores empregadas, tem algo de bíblico. E apesar da rigorosa economia de recursos, é uma gravura sofrida, amarga e de forte impacto visual. (…) Sobram qualidades em sua gravura. Qualidades que já deveriam ter sido notadas pelas galerias e organismos culturais.”  Frederico Morais, “Gravura de Manoel Messias. Galeria de Arte em casa”, In. Coluna Artes Plásticas, O Globo 28/02/1979.

A mostra será aberta ao público SEM VERNISSAGE devido à pandemia, durante o horário de visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h.

O shopping Gávea Trade Center funciona com obrigatoriedade do uso de máscaras e fornece álcool em gel e medição de temperatura para quem entrar. Não há necessidade de agendar a visita, pois o espaço é grande e sem aglomerações.

Sobre o artista:

Em sua coluna Artes Plásticas no Diário de Notícias de 07 de agosto de 1968, Frederico Morais dedicava-se à Gravura de Manuel dos Santos e dizia o seguinte, a propósito de uma exposição do artista que inaugurava naquela ocasião:

“Manuel dos Santos, ou Manuel Messias para alguns amigos, é de Sergipe, onde viveu até os cinco anos de idade, acostumando-se a uma paisagem de extrema penúria. Na sua descida para o sul, o que fêz com sua tia e sua avó, de caminhão, parou primeiro na Bahia, onde ficou uns 2 anos. Após o que se mandou de trem para o Rio. E enquanto sua tia trabalhava como doméstica na casa do ex-diretor do MAM Leonidio Ribeiro, Manuel dos Santos fazia alguns rabiscos e ensaiava seus primeiros contatos com a pintura. Chegou mesmo a frequentar, como ouvinte, a Escola Nacional de Belas Artes, inclusive assistindo as aulas de Abelardo Zaluar. Acabou sendo notado, e pelas mãos de Marilu Ribeiro foi levado a Ivan Serpa, em 62, que contudo, achou ruim seus pastéis e pinturas. Manuel dos Santos, porém, não desanimou e foi ficando, olhando, lendo alguns livros recomendados por Ivan Serpa. Até que decidiu fazer xilogravura, devido, talvez, à presença de Mirian Cerqueira. E o professor que não aprovara sua pintura não teve dúvidas em elogiar a sua gravura. A partir de então, Manuel dos Santos jamais pegou em pincéis ou fêz uso das côres.”

Conforme resumiu o próprio artista em entrevista ao jornalista crítico de arte para a matéria: “ – ‘Não preciso de côr – afirma – ela diminui a agressividade da gravura. Me basta o conflito do preto e do branco.’ E Manuel dos Santos explica a evolução de sua gravura: ‘primeiro, era preciso dominar a linguagem. Conseguindo isto era preciso dizer. Foi quando então senti vontade de falar da fome e da miséria que eu vi na minha infância lá no Nordeste. Mulher virando boi é uma das gravuras dessa época. Finalmente, a descoberta da madeira e seu domínio. O tema, hoje, é de importância relativa, pelo menos em relação ao próprio ato de gravar. É por isso que o fantástico vai tomando o lugar da realidade. A realidade da gravura: eis o que importa. Ou ainda, o desenho é puro pretexto para cavar a madeira. O objetivo não é gravar o desenho, mas dar ao corte um sentido de autonomia, como que um valor próprio’.”

Frederico Morais finaliza a crítica daquela semana, contando-nos sobre o desafio do artista quanto à tiragem: “Manuel dos Santos gostaria de ampliar o tamanho de sua gravura e eliminar o preconceito da tiragem. Fazer gravuras de dois metros ou mais e tirar 50, 100 cópias para baratear o preço individual. Só assim, entende, a gravura poderá atualizar-se e romper com suas origens medievais.” (Frederico Morais, “A gravura de Manuel dos Santos”, In. Coluna Artes Plásticas, Diário de Notícias, 07/08/1968).

Alguns anos antes, na mesma década em que Frederico Morais escreveu a matéria acima, reproduzida quase na íntegra aqui, Evandro Carneiro frequentara o curso de Ivan Serpa no MAM a que Frederico se refere, tendo sido colega e amigo de Messias. Evandro relembra que o trabalho pictórico inicial do artista “era realizado com pasteis oleosos e carregava uma grande influência de Van Gogh”. Tratava-se de “um jovem bastante talentoso e de grande curiosidade intelectual. Ele adorava Dostoievski exatamente devido àquele clima pesado com o qual se identificava. Em 1974 Evandro organizou na Bolsa de Arte uma exposição de Messias, Goeldi e Grassmann, pela semelhança temática e da gravura dos artistas.” E acrescenta:

“Alguns artistas têm a sua obra indissociável de sua biografia. No caso do Messias, para conhecer a sua obra, é importante notar que ele entrou num agudo e irreversível processo de esquizofrenia, com algumas internações e muita resistência quanto à institucionalização. Fugia sempre, não tomava os remédios e usava drogas na rua, onde vivia com sua mãe. Após o falecimento da mesma, seu quadro clínico se agravou. Mas ainda assim ele produzia sem parar e houve um período em que ele construiu um vocabulário próprio, com um alfabeto que se tornava cada vez mais presente em sua obra. As letras tinham origens diferentes, sendo uma grega, outra do latim antigo, e ele misturava tudo numa linguagem própria, cujo sentido é difícil decifrar. Eu tenho um álbum com uma série de gravuras e esse código ao final, no entanto é impossível entender.” (Evandro Carneiro, entrevista oral realizada em 19/05/2018).

Retornando a Frederico Morais, já em outro jornal onde tinha sua coluna de artes plásticas e uma década depois da primeira crítica citada aqui, ele relata um caso sobre o artista que revela algo sobre a confusão psíquica de Messias:

De fato, desde 1965 o artista apresentou seus trabalhos em alguns espaços, mas permaneceu sempre a espera de reconhecimento: coletivas que incluíram os Salões de Arte Moderna (1965/1968) e de Artes Plásticas (1966). Participou de importantes eventos internacionais, como a Bienal de Desenho e Gravura da cidade do México (1979), onde  conquistou o prêmio de sua área, a I Bienal Iberoamericana de Arte (1980), além de salões regionais pelo Brasil. Realizou ainda algumas mostras individuais nos anos 1980/ 1990 e após a sua morte. Nos últimos anos de sua vida, amigos, marchands e artistas tentaram ajudá-lo a sair das ruas e a promover sua obra, mas Messias era resistente e insistia em não se tratar. Faleceu em 2001 já completamente envolvido pela mendicância.

Esta exposição na Galeria Evandro Carneiro Arte reúne gravuras de duas coleções de amigos de Manuel Messias. Procuramos o Frederico Morais, crítico de arte icônico que também conheceu bastante o artista, para referenciar o talento e a importância de sua obra, a partir de textos originais sobre o artista. No fundo, a história de Messias diz muito sobre o nosso país: nordestino, pobre e doente, acabou vagando pelas ruas do Rio de Janeiro sem o sucesso merecido. Sua arte evidencia expressões das mazelas sociais que nos assombram historicamente. Além da força imagética de seu trabalho, a narrativa em linguagem própria nos deixa um legado de mistério, ainda a ser revelado, que também compõe a sua obra.

Laura Olivieri Carneiro  Agosto de 2020

Roberta Carvalho é a convidada do novo episódio da websérie Oi Futuro Agora

19/jun

Web Série Oi Futuro Agora

 

A artista paraense Roberta Carvalho é a convidada no próximo dia 22 de junho da série Oi Futuro Agora, dirigida e produzida por Batman Zavareze, no canal do Youtube da instituição, apresentada sempre às segundas-feiras.

 

Em sua participação na websérie, Roberta Carvalho irá comentar e mostrar imagens do Festival Amazônia Mapping, projeto de arte e tecnologia no espaço urbano, idealizado pela artista, e considerado o primeiro festival especificamente de videomapping no país. O festival, que realiza grandes projeções no centro histórico de Belém [http://www.amazoniamapping.com] e outras localidades como Santarém, tem ainda a importância de colocar a Amazônia em uma posição central no circuito de arte e tecnologia. A edição de 2020 do Festival Amazônia Mapping será a primeira com uma chamada pública também internacional, e está programada para se realizar ainda este ano, após a pandemia.

 

Sobre a artista

 

Roberta Carvalho é representada no Rio de Janeiro pela galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, e seu trabalho “Maré” (2019), em sua mais recente investigação com a Realidade Aumentada, foi doado ao Museu de Arte do Rio, durante a feira ArtRio, passando a ser a primeira obra desta natureza da coleção. “Maré”, que iniciou a série “Amazônia Aumentada”, permite que, com o uso de QR em celular ou tablet, o espectador seja transportado para caminhos submersos da imagem exposta. As imagens trazem o universo de pesquisa da artista nas ilhas ribeirinhas do Pará.

 

Em isolamento social em São Paulo, Roberta Carvalho realiza projeções nas fachadas de edifícios vizinhos ao que mora. Uma das projeções realizadas foi produzida junto com o artista Uyra Sodoma, e foi um videomapping com uma videoperformance feita durante uma residência com artistas oriundas da Amazônia. A exibição em São Paulo, de aproximadamente dez minutos, ocorreu na noite de 18 de abril, e foi transmitida pela página do Greenpeace Brasil no Tweeter. Pode ser visto em: https://www.instagram.com/tv/B_JC7MDDQZv/?utm_source=ig_web_copy_link.

Live: Cultura em Rede

03/jun

Bate papo com o Diretor do Itaú Cultural Eduardo Saron e Adolfo Konder, Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Falando em Cultura em tempos de Pandemia!!! Participação de Renata Monteiro, Presidente da Companhia das Artes.

Diálogos instigantes

Diálogos instigantes

27/mai

Conversa entre Denise Mattar e Fabio Schwarcwald sobre o MAM-Rio.

Claudio Tobinaga, Jimson Vilela e Yoko Nishio

29/abr

Na quinta e última semana da “Seleção de obras de arte” nas páginas digitais da galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, o público verá trabalhos dos artistas Jimson Vilela, Yoko Nishio e Claudio Tobinaga.

 

As obras desta semana de 27 de abril a 1º de maio são: “Sem título” (“Distorção”), 2019, de Jimson Vilela; “Vista Pitoresca de Bertillon 2” (2019), de Yoko Nishio e “Viva Melhor” (2018), de Claudio Tobinaga.

 

“O sentido de deslocamento do que entendemos como realidade pode ser observado nas três obras selecionadas”, comenta Érika Nascimento, gestora artística da galeria. Em “Distorção” o papel do livro em branco na biblioteca, “Viva Melhor” com uma paisagem “bugada”, e “Vista Pitoresca de Bertillon”, onde o objeto capacete torna-se protagonista, ao invés do indivíduo.

 

São partes fundamentais da poética de Jimson Vilela a palavra, a linguagem e a gramática. Da mesma forma, os suportes que utiliza – o livro e o papel – integram sua pesquisa. “Distorção” – impressão com pigmento mineral sobre papel Photo Rag Baryta 315 – é uma relação direta com as folhas de papéis em branco de um livro, inseridas em seu ambiente usual de leitura.

 

A série de aquarelas “Vista Pitoresca de Bertillon”, de 40 x 30 cm, de Yoko Nishio, reverte o procedimento criado em 1879 por Alphonse Bertillon (1853-1914) – o Sistema de Identificação Criminal, que padronizou a imagem e ficha fotográfica policial – em que é o capacete o personagem ameaçador.

 

Na pintura em óleo sobre tela, de 140 x 100 cm, Claudio Tobinaga faz uma das raras paisagens em sua produção, em que usa elementos do cotidiano carioca. Em “Viva Melhor” (2018), estão presentes as listras, uma constante em seus trabalhos, que representam o “glitch” (erro) da imagem, uma paisagem em processamento, “bugada, como as falhas das imagens das barras de rolagem das redes sociais, em estado de quase desaparecimento”.


Novo espaço na Simone Cadinelli

13/mar

Quando abriu a exposição “A vulnerabilidade da solidez”, com uma instalação inédita da artista carioca Isabela Sá Roriz, em uma edificação que estava desocupada ao lado, Simone Cadinelli Arte Contemporânea passa a ocupar mais um espaço – o terceiro – na vila situada na Rua Aníbal de Mendonça, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ.

 

Apostando na relação entre arte/arquitetura/urbanismo, e assim reverberando as discussões provocadas pela escolha da UNESCO de o Rio de Janeiro, este ano, ser a Capital Mundial da Arquitetura – por conta da realização em julho do Congresso Mundial de Arquitetura – Simone Cadinelli convidou Isabela Sá Roriz para fazer esta intervenção. Com materiais compostos por polímeros (macromoléculas) de diferentes densidades, como cera – principalmente de abelha – látex e silicone, a artista investiga estratégias de potência e intensidade dos corpos, diante das tentativas de controle das percepções.

 

“Já que nossa sociedade é uma construção disforme, e que passamos por vários processos autoritários de formatação, quis apresentar distorções de corpos, fluxos, insubordinações de materiais, o disforme enquanto potência, em contraposição e tensão, às contenções geométricas e aos processos de formatação”, explica Isabela Sá Roriz. A artista quis propor uma diferente relação do corpo e a espacialidade, “com potência e intensidade”. “A cera, com uma densidade diferente, um sólido maleável, geométrico, apresenta uma estrutura de formatação, mas ao mesmo tempo é um material que está contido, na imanência de derreter, de sair, escorrer. É, portanto, uma solidez temporária, capaz de ser transformada”, diz.

 

O trabalho parte de um questionamento da artista: “Como resistir à autoridade das formas?” Ela se interessa em discutir “a borda entre corpo e espaço e a permanente troca e produção de conhecimento entre eles”. “Portamos os espaços que habitamos no corpo, na carne, assim seus processos de formação seguem conosco”.

 

O crítico João Paulo Quintela, no texto que acompanha a exposição, afirma que “a melhor das pretensões é a instabilidade”. “A escultura não funciona aqui como categoria mas como um estado. Desimpedido, solto e escorrido. A reiteração de um estado frugal dos sólidos. O molde não serve à artista como ferramenta de compressão mas sim de transbordamento. Se por um lado o molde oferece ao material um lugar para acoplar-se, por outro a dinâmica proposta pela artista favorece a superação do espaço ofertado. A forma se dá em relação com o molde e não por determinação dele”, observa.

 

Para Simone Cadinelli, “as intervenções urbanas e a arquitetura proporcionam mudanças significativas e renovação de espaços em diversas escalas nas ruas, bairros e cidades”. Com a iniciativa, ela pretende “dar um novo sentido, experimentar algo que proporcione uma mudança positiva, assim como a arte tem o poder de se manifestar”.

 

Sobre a artista

 

Isabela Sá Roriz nasceu em 1982, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Artista visual, mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ (2012), onde por quatro anos foi professora temporária no curso de Artes Visuais/Escultura da Escola de Belas Artes. Ganhou o primeiro lugar na XX Bienal de Santa Cruz de La Sierra, em 2016, e foi finalista do III Prêmio Reynaldo Roels Jr., em 2018, e selecionada para o programa de imersões artísticas, ambos na EAV Parque Lage, em 2019. Participou do Programa Incubadora Furnas Sociocultural, que abrigou e investiu em artistas plásticos emergentes. A artista participou de mostras no Brasil e no exterior em importantes espaços culturais, como: Fundação Eugênio de Almeida, em Évora, Portugal, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Solar dos Abacaxis, Museo de Arte Contemporáneo de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A construção de alguns de seus trabalhos evoca instabilidades físicas para desestabilizações ideológicas, propõem uma ação confrontadora diante de perspectivas dominantes e resignações pessoais, construindo pequenos “ataques” subjetivos, apontamentos poéticos, entendendo também a impermanência de sua temporalidade. Assim, “a instância política é poética, e entendo o espaço como uma categoria produtiva, um acontecimento, o local das transformações sociais e não um fundo à priori homogêneo ou heterogêneo, onde as ações se estabelecem”. Ganhou as bolsas de pesquisa Formação Deformação – Qualquer Direção fora do centro, na EAV Parque Lage, 2018; Capes (Mestrado), 2011; e Iniciação Artística e Cultural, UFRJ (Graduação), 2006 e 2007.

 

A exposição fica em cartaz até o dia 04 de abril.

 

Como olhar para trás”, na Z42 Arte

A exposição – coletiva temática – “Como olhar para trás”, com obras inéditas das artistas Ilana Zisman, Maria Amélia Raeder, Mariana Sussekind e Priscila Rocha, ocupam todo o espaço expositivo da Z42 Arte, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Fernanda Lopes, a mostra traz o tema da memória, em diferentes aspectos, através de obras produzidas em diversos suportes, como fotografia, instalação, desenho, pintura e objeto. “A exposição apresenta possibilidades de estudo sobre a memória: memória como invenção, como tornar presente algo que está ausente, como reconstrução de algo que ficou, que é presença, e também o que sobrou da memória de algo que não se conhece. Muitas vezes a memória aparece como rastro, como pista, como insinuação”, diz a curadora Fernanda Lopes. A ideia da mostra surgiu a partir de um grupo de estudo das artistas com a curadora. Ao longo de seis meses, elas se encontraram para discutir seus trabalhos e questões relacionadas a eles e identificaram que todas vinham, mesmo que de formas diferentes, tratando sobre o tema da memória em suas produções.

 

Percurso da exposição

 

No hall de entrada do casarão de 1930 que abriga a Z42 Arte estará uma única obra: “Museu de História (Des)natural” (2019), da artista Priscila Rocha, composta por uma mesa de mármore com peças em gesso dispostas como se estivessem em uma vitrine de museu, inclusive com legendas descritivas. “A ideia da construção da memória está presente nesse trabalho, onde faço uma brincadeira entre a ficção e a realidade”, diz a artista. Nesta vitrine, estará um pedestal construído com imagens de soldadinhos, um brinquedo comum da infância, fundidos, quase irreconhecíveis; um retângulo de gesso que lembra um campo de batalha e pequenas peças, também com a imagem dos soldadinhos, muitas delas em pedaços, com a legenda “flashes”, como se fossem flashes de memória. “Pelo fato de serem facilmente reconhecidos e reproduzidos em diversas culturas, localidades e épocas, pensei nas imagens e significados destes brinquedos como memória de infância e a relação desta com o espaço. Inevitavelmente pensei na banalização da guerra, nas condecorações, nos motivos levianos, na relação com o consumo, nas indústrias que ela alimenta e é alimentada, chegando novamente na indústria do brinquedo e nos brinquedos de guerra e como a questão da memória e do esquecimento é articulada neste ciclo no qual a brincadeira se insere”, conta Priscila Rocha.

 

As quatro salas seguintes serão ocupadas cada uma por uma artista. Na primeira delas, à direita, estarão obras de Ilana Zisman, como “Arquivo 1”, da série Lavagem ou Taharah (ritual judaico pelo qual o corpo passa antes de ser enterrado, que respeita e dignifica o corpo), que mede 170cm X350cm e é composta por vários pedaços de papel de seda tingidos de tons de vermelho, colocados uns sobre os outros. “As unidades podem remeter à vida ou à morte”, explica a artista, que tinge cada um dos papéis manualmente. A curadora Fernanda Lopes ressalta que “os trabalhos têm uma forte presença física, mas, ao mesmo tempo, são feitos com materiais frágeis que nos remetem à ideia de sofrimento, por estarem amontoados e terem a cor vermelha, que nos lembra o sangue, a carne”. A pesquisa da artista parte de uma busca sobre a história de sua família, que viveu o holocausto, mas cujos registros são poucos, e seu trabalho fala sobre “aqueles que foram privados da sua história, que a tiveram eliminada pela violência e pelo esquecimento”. “Apesar do tema, a obra pode ser enquadrada no sofrimento de muitas minorias”, acrescenta a curadora.

 

Na parede oposta a essa grande obra estarão três pinturas feitas sobre camadas de papéis vegetais, que são transparentes. “Esses trabalhos trazem outro aspecto da minha pesquisa, que fala que o passado não pode ser olhado como foi. Ele é nebuloso e sua opacidade traz a não certeza ou evidência do que aconteceu. Utilizando um papel translucido e colocando-os sobrepostos, tento falar de como não se consegue ver as capas do tempo, porque parece uma coisa só. Coloco as formas em diálogo. Não se pode mudar o passado- no meu processo, recolho os restos e experimento como eles podem chegar no presente”, explica a artista.

 

Com trabalhos voltados, nos últimos anos, para o jornal como objeto central de investigação, Maria Amélia Raeder apresentará, na sala seguinte, a grande instalação “Estratégia para permanecer” (2019), com 320 desenhos feitos em nanquim sobre papel vegetal, “reproduzindo” uma imagem que foi publicada no jornal The New York Times. Os desenhos são feitos a partir de um método desenvolvido por ela que permite a criação de infinitos percursos dentro da mesma imagem. “Parece o percorrer de um labirinto, só que ao invés do objetivo do percurso ser encontrar uma saída, a intenção é manter-se nele o maior tempo possível”, explica a artista, que ressalta, ainda, que “o resultado desse exercício de permanência não pretende ampliar a visualidade da imagem nem sua comunicação; acaba, talvez, apenas por reforçar a invisibilidade das imagens jornalísticas – sua vocação ao esquecimento”, afirma a artista.

 

A folha de jornal onde a imagem foi publicada orginalmente estará exposta, mas com as imagens e os textos recortados, apenas deixando visível a legenda da foto. “Os desenhos resultantes deste processo contêm, cada um, o rastro de um percurso diferente. O mistério que há no rastro instiga um olhar mais atento e investigativo. Não mostro a imagem original porque a intenção é proporcionar ao espectador uma pausa investigativa, um alargamento do tempo de permanência no trabalho”, diz Maria Amélia Raeder. No corredor ao lado, a mesma pagina de jornal estará reproduzida quatro vezes, mas com as imagens cobertas pelas cores utilizadas na padronização da reprodução da imagem pelo jornal.

 

Seguindo o percurso da exposição, chega-se na sala com as obras de Priscila Rocha, que além da vitrine no hall de entrada da Z42, apresentará pinturas, objetos e instalações também partindo da imagem dos soldadinhos de brinquedo. Marcas de pegadas desses soldados aparecem na pintura “Valsa ensaiada” (2019) e bonecos e pedaços de mármore fragmentados estão em “Favor não brincar” (2019). Em sua pesquisa sobre os soldadinhos, Priscila Rocha chegou na folha de acanto e na memória histórica que ela carrega. “Há diversos significados ao longo do tempo, como se entrelaçou com o militarismo e como se disseminou como estética ornamental apagando seus significados históricos”, afirma. Com isso, serão expostos desenhos em que a folha de acanto aparece, além de um livro de artista com o contexto histórico, além de uma linha do tempo explicativa (como normalmente há em museus históricos). Por coincidência, as grades de ferro das portas de sala que será ocupada pela artista possuem folhas de acanto, assim como as sancas em gesso. A artista instalará, ainda, um papel de parede com imagens dessas folhas na sala.

 

No último salão expositivo, estarão os trabalhos de Mariana Sussekind que acompanhou, ao longo de nove meses, o desmonte de um apartamento após a morte de sua proprietária. Sessenta fotografias desse processo irão compor a instalação “No dia que tiraram os lustres”, uma “pesquisa sobre o processo de olhar para trás, reolhar, descartar e preservar”, conta a artista. “Mariana fotografou o apartamento compulsivamente, com luz natural, sem interferência. As fotos, de tomadas diferentes e até algumas repetidas, serão montadas de forma instalativa, como se estivesse montando um filme, destacando como a memória é montada”, afirma a curadora Fernanda Lopes.

 

A instalação conta com um áudio ambiente, que ajuda a construir a ideia de memória e de passado. “São tempos distintos e desorganizados que criam uma narrativa lacunar onde o espectador é convidado a construir sua própria montagem. Uma grande história em andamento, mas que nunca dará conta de traduzir o que foi”, afirma Mariana Sussekind.

 

Sobre as artistas

 

Ilana Zisman Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Psicologia na Universidade Santa Úrsula-RJ, fez cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Filosofia e Arte Contemporânea na PUC-Rio, Processo Criativo com Charles Watson e curso de Especialização em saúde mental no Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Desenvolve, desde 2015, uma pesquisa artística através do que chama “tecnologia do fragmento”, na tentativa de reconstruir uma memória do inenarrável e do silêncio. Investiga como materiais que remetem às histórias podem ser utilizados para acessar um passado fraturado no tempo.

 

Maria Amélia Raeder Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Possui Pós-graduação em Arte e Filosofia pela PUC-Rio, especialização em artes pelo The Art Institute of Houston-USA e graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Bennett-RJ. Fez cursos livres na The Glassell School of Art (Houston-USA), na Associacion Estimulo de Bellas Artes (Buenos Aires-AR), na EAV-Parque Lage, na Escola Sem Sitio, no Paço Imperial, no Ateliê Mundo Novo, de Charles Watson, e participou do Laboratório de Estudos em Arte Contemporânea de Frederico Carvalho – UFRJ (RJ-Brasil). Pesquisa as camadas de significação das imagens, em especial na produção de sentido das imagens nas mídias de comunicação.

 

Mariana Sussekind Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Comunicação Visual pela PUC-Rio, pós-graduada em Fotografia na UCAM e em Cinema Documentário na FGV, com mestrado em Comunicação e Estética na ECO-UFRJ. Desde 2001 trabalha com montagem de cinema e vídeo se aprofundando em vídeoarte e documentário e leciona teoria e prática de montagem em cursos de cinema. Através da experimentação, do descontrole das imagens, e de uma angustiante observância do tempo, a artista mergulha no território feminino, onde seu corpo é a medida, a forma justa de suas possibilidades no agora.

 

Priscila Rocha Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pós-graduada em história da arte e da arquitetura pela PUC-Rio, frequentou durante sua formação cursos do Parque Lage, no Rio de Janeiro, no Instituto Tomie Othake e na FAAP, em São Paulo. Pesquisa as relações dos vestígios do tempo no espaço e como o homem se relaciona com eles. Busca encontrar nessa memória espacial, elementos que possam ser apreendidos e ressignificados artisticamente por técnicas distintas, sublimando a experiência desapropriada.

 

Sobre a curadora

 

Fernanda Lopes vive e trabalha no Rio de Janeiro. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, Fernanda Lopes atua como Curadora Assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016), e autora dos livros Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012) e “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006). Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29ª Bienal de São Paulo (2010). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria de exposição Em Polvorosa – Um panorama das coleções MAM-Rio.

 

De 12 de março a 11 de abril.