Fialdini na Raquel Arnaud

30/jan

Um dos principais fotógrafos brasileiros, Romulo Fialdini, nesta sua primeira individual na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, revela a sua poética singular ao apresentar 24 fotografias autorais. A exposição “Pensei que fosse só eu”, reúne imagens selecionadas pela curadora Galciani Neves, que fazem parte de um livro de mesmo nome, que será lançado pela editora Superbacana +, na abertura da exposição, com cerca de 100 fotografias, em preto e branco, concebidas ao longo da extensa carreira do fotógrafo.

 

Para a exposição, a curadora destaca as imagens que evidenciam a singularidade das composições do fotógrafo a partir de seu olhar sobre a arquitetura e os espaços urbanos. Para o livro a curadora pesquisou o arquivo autoral de Romulo Fialdini que contém mais de 8 mil fotos. As obras selecionadas “são recortes de tempo distanciadas do fluxo da vida, como uma pausa ao ritmo do consumo das imagens rápidas atadas aos apelos artificiais”.

 

Depois de 12 anos dedicados ao design, o estúdio Superbacana ampliou a sua atuação ao criar a editora Superbacana +, com a proposta de desenvolver projetos culturais que conjuguem a produção de livros-objeto com exposições das obras publicadas. “Pensei que fosse só eu”, de Romulo Fialdini, é o projeto de estreia da editora, com tiragem inicial de 1500 exemplares, sendo 100 em formato de livros-objeto, em caixa acrílica, numerados, assinados e acompanhados de jogo da memória baseado nas fotos do livro.

 

Sobre o artista

 

Rômulo Fialdini foi fotógrafo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand de 1971 a 1974, onde produziu imagens para catálogos, livros de Pietro Maria Bardi e para o arquivo de documentos de Lina Bo Bardi. Essa experiência repercutiu em sua carreira e até hoje destaca-se como fotógrafo especialista na reprodução de obras de arte. Desde 1975 trabalha como fotógrafo independente, atuando também no campo editorial e de publicidade. Em paralelo, dedica-se à fotografia urbana e de arquitetura, realizando ensaios em preto e banco sobre cidades como Nova Iorque, Chicago e Montevidéu.

 

De 02 de fevereiro a 09 de março.

O design da periferia

22/jan

Depois de realizar exposições sobre as artes popular (2010) e indígena (2011), propulsoras da formação dos respectivos acervos para o Pavilhão das Culturas Brasileiras, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo agora faz o mapeamento de uma produção que também não surge da erudição, mas da capacidade de invenção do povo brasileiro. A mostra “Design da periferia”, no Pavilhão das Culturas, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, com a curadoria de Adélia Borges, é o resultado de pesquisas pelo Brasil por cidades e comunidades que exibem preciosas lições de design.Todas as obras e fotografias apresentadas na exposição integram o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras

 

Segundo a curadora, por trás da precariedade de vida da maioria dos brasileiros encontram-se soluções geniais, manifestações inequívocas de sabedoria criativa, em artefatos feitos pelo povo para uso em seu cotidiano.

 

Com cenografia do arquiteto Marko Brajovic e produção da Arx Gestão Cultural, a mostra, com objetos, fotografias e vídeos, está dividida em quatro módulos: “Rua” recebe os empreendimentos que ocupam o espaço urbano, os vendedores ambulantes, carroceiros de sucata, anúncios gráficos, modo de expor produtos; “Casa” destaca as invenções domésticas que, nas camadas populares, confundem-se com a área coletiva; “Corpo” identifica a expressão do vestir, do pentear; e “Brincadeiras” que traz engenhosas releituras do tradicional universo infantil.

 

Churrasqueiras feitas de calotas velhas de pneus, postos de trabalho de vendedores ambulantes, móveis e brinquedos elaborados por pessoas simples a partir de materiais e técnicas disponíveis no lugar em que vivem são alguns dos objetos que estão na exposição. Ao lado de peças sem assinaturas, há algumas de “designers-artistas”, como Getúlio Damado, do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro; José Maurício dos Santos, de Juazeiro do Norte, Ceará; Fernando Rodrigues, da Ilha do Ferro, município de Pão de Açúcar, Alagoas; José Francisco da Cunha Filho, de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco; e Espedito Seleiro, de Nova Olinda, Ceará.

 

Os ensaios fotográficos captam alguns momentos de expressão da criatividade popular. O fotógrafo baiano Adenor Gondim mostra os móveis que eram utilizados nas barracas de festas nas ruas de Salvador, com seus grafismos em composições geométricas. Titus Riedl, fotógrafo e historiador alemão radicado no Crato, no Ceará, apresenta a ambiência urbana utilizada na venda de toda a sorte de produtos no Crato e em Juazeiro do Norte.  Já Fernanda Martins, designer paulistana moradora de Belém, fotografa os letreiros dos barcos de várias cidades amazônicas.

 

De 25 de janeiro a 29 de julho.

Presença de Rubens Mano

07/jan

 

Na exposição “corte e retenção”, em cartaz na Casa da Imagem, São Paulo, SP, Rubens Mano apresenta uma instalação no Beco do Pinto, 13 fotografias e um vídeo de curta duração. O material foi criado a partir de uma ação comandada pela prefeitura, que destruiu grande parte das caixas de madeira usadas para o transporte de hortifrutis no Ceasa, em São Paulo. A partir desse episódio, o artista aborda questões referentes às dinâmicas visíveis e e invisíveis presentes na produção do espaço físico da cidade.

 

A palavra de Guilherme Wisnik

 

Apropriando-se poeticamente dessas caixas como ready-mades urbanos, Rubens Mano cria uma grande montanha que obstaculiza a passagem. E se as pilhas originais, tal como vemos nas fotos, se escoravam em espaços estreitos de calçadas contra muros descascados, envolvendo postes e árvores, no Beco do Pinto o artista cria um volume profundo e impenetrável, e autônomo enquanto forma geométrica e cargas portantes. Assim, enquanto o corte no primeiro caso está associado à destruição e remoção das caixas, no segundo ele reaparece como interrupção de um fluxo através das mesmas caixas, em uma espécie de retorno simbólico do reprimido, para falar em termos psicanalíticos. Sendo o trabalho de arte uma ação física real, é como se a dinâmica de transformação de uma parte da cidade ativasse involuntariamente processos em outros locais, reaparecendo então como enigma, e sem deixar de trazer também, nela inscrita, uma componente de violência surda.

 

Quase no pé do antigo Colégio dos Jesuítas, o Beco do Pinto é uma das vielas íngremes construídas para conectar a colina histórica da cidade à baixada do rio Tamaduateí, onde se situa, significativamente, a primeira Zona Cerealista de São Paulo. Fechado por um portão, o Beco já está hoje interditado ao livre trânsito entre essas áreas, deixando de ser um espaço público. Assim, ao edificar uma rigorosa trama de caixas entre a antiga Casa no 1 da cidade e o Solar da Marquesa de Santos, Rubens Mano conecta discursivamente elos invisíveis da metrópole, ainda que na forma física de uma obstrução. Um bloqueio que também funciona como elemento de conexão.

 

Até 31 de maio.

Colagens inéditas

17/dez

A Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, revela pela primeira vez ao público uma faceta do arquiteto Aurélio Martinez Flores, nascido no México, que chegou ao Brasil nos anos 60. A mostra reune cerca de 30 obras.

 

Nos anos 80, o arquiteto Aurelio Martinez Flores enriqueceu seu espírito de artista ao conceber colagens, a exemplo do renomado colega Richard Méier que também começa a desenvolver trabalhos na mesma técnica, durante suas viagens entre NY e Los Angeles, para o projeto da sede do Getty Institute. Para compor suas colagens – cuja produção é intensificada a partir de 2007 –, Aurelio Martinez Flores recorre a elementos que encontra em torno de si, e outros que vai buscar especialmente, como os bichinhos de brinquedo que compra em Paris.

 

Sobre o artista

 

Aurélio Martinez Flores traz ao país a sua arquitetura formada a partir das influências de Mies van der Rohe, com quem trabalhou, e do convívio com as obras de Luis Barragán. Seu estilo minimalista e preciso se expressa desde seus primeiros projetos aqui no Brasil.

 

Sua carreira no Brasil começa na loja Forma, em 1960. Com sua visão de que o desenho do mobiliário é a extensão do projeto arquitetônico, em seus dez anos de empresa, chegou a desenvolver cerca de 50 projetos de interiores por mês. Em 1970, com o amigo Luis Carta, abre a Interdesign, loja referência em São Paulo, onde, durante 40 anos, desenhou, importou e comercializou peças de design e projetos de arquitetura de interiores.

 

Até 15 de janeiro de 2013.

Doris Salcedo no Brasil

12/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, apresenta, na Estação Pinacoteca, Luz, Largo Gal. Osório, São Paulo, SP, a exposição Plegaria Muda (2008-10) da artista colombiana de Doris Salcedo. Exibida pela primeira vez no Brasil, “Plegaria Muda”, é um ambicioso projeto da artista, formado por 120 mesas de madeira (que correspondem a diferentes tamanhos de caixões funerários) e que se relaciona fortemente com episódios de violência política, debruçando-se sobre algumas tragédias públicas e chamando a atenção para os traumas pessoais das vítimas.

 

Na última década, Doris Salcedo desenvolveu instalações de grande escala e intervenções arquitetônicas para museus, galerias e espaço urbano. Para Doris Salcedo, a violência é um fenômeno universal; um padrão humano, ameaçando o tecido social. Segundo Isabel Carlos, curadora da mostra, Doris Salcedo sempre considerou as suas esculturas como criaturas e, em “Plegaria Muda”, essa ideia é levada ao limite porque a obra pode não apenas afetar seus espectadores, como ser afetada por eles. “Plegária Muda” é, em si mesma, vulnerável, frágil, finita e torna cada visitante também vulnerável ao se deparar com uma obra que fala de morte, do desaparecimento, de valas comuns.. Estamos, assim, frente a uma dupla vulnerabilidade: a do espectador e a da obra. Doris Salcedo reivindica para si o papel de pensadora, mas uma pensadora que deva ser capaz de produzir obras que não se reduzam a explicações psicológicas ou sociológicas e, acima de tudo, que não sejam ilustrações dos testemunhos das vítimas, mas, antes, que as redima do silêncio e da invisibilidade através de outros suportes, de outras percepções.

 

A palavra da artista

 

“Em “Plegaria Muda” procuro articular diferentes experiências e imagens que fazem parte da natureza violenta do conflito colombiano. Também pretendo conjugar uma série de eventos violentos que determinam a imparável espiral de violência mimética e fratricida que caracteriza os conflitos internos e as guerras civis em todo o mundo. “Plegaria Muda” procura confrontar-nos com o pesar contido e não elaborado, com a morte violenta quando reduzida à sua total insignificância e que faz parte de uma realidade silenciada como estratégia de guerra. Considero que a Colômbia é o país da morte insepulta, da vala comum e dos mortos anônimos. É, por isso, importante distinguir cada túmulo de forma individual, para assim articular uma estratégia estética que permita reconhecer o valor de cada vida perdida e a singularidade irredutível de cada túmulo. Cada peça, apesar de não estar marcada com um nome, encontra-se selada e tem um caráter individual, indicando um ritual funerário que aconteceu. A repetição implacável e obsessiva do túmulo enfatiza a dolorosa repetição destas mortes desnecessárias, além de enfatizar o seu caráter traumático, considerado irrelevante pela maioria da população. Ao individualizar a experiência traumática através da repetição, espero que esta obra consiga, de alguma forma, evocar e restituir a cada morte a sua verdadeira dimensão, permitindo assim o retorno à esfera do humano destas vidas dessacralizadas. Espero que, apesar de tudo, e mesmo em condições difíceis, a vida prevaleça…”

 

Até 03 de fevereiro de 2013.

Sob curadoria de Vik Muniz

08/dez

O conhecido artista Vik Muniz apresenta como curador, em São Paulo, cerca de 80 trabalhos que compõem a mostra “Buzz”, através da galeria Nara Roesler no espaço criado e denominado de Hotel Roesler. No Hotel o assunto central da mostra é a arte ótica e o curador Vik Muniz selecionou em Chicago, e trouxe para o Brasil, dentre outros, um trabalho de Marcel Duchamp pertencente a década de 1940. Além de Duchamp e outros nomes da optical art, como Albers, Vik Muniz reuniu trabalhos de artistas que são verdadeiros ícones do movimento como Carlos Cruz-Diez, Abraham Palatnik e Almir Mavignier. Esta não é a primeira evz que Vik atua como curador pois já realizou trabalhos para o MoMA e o Metropolitan, ambos em Nova York e também para o Musée d’Orsay, em Paris.

 

Na seleção de obras realizadas por Vik Muniz encontram-se em exibição trabalhos de Ivan Serpa, Aluísio Carvão, Israel Pedrosa, Angelo Venosa, Gabriele Evertz, Gilbert Hsiao, Jim Eisermann, Julio Le Parc, Karin Davie, Lygia Pape, Marcos Chaves, Mark Dagley, Markus Linnebrin, Ross Bleckner, Suzane Song, Taba Auerbach. Realizada por uma galeria particular, a mostra parece ser institucional, pois uma boa parte dos trabalhos, cedidos por colecionadores e instituições, não está à venda.

 

A galeria exibe ainda e em separado, uma exposição de fotografias do artista inglês Isaac Julien.

 

Até 23 de fevereiro de 2013.

Sandro Akel no Espaço Sala

06/dez

Um dos fundadores do prestigiado coletivo “Bijari”, Sando Akel segue carreira solo há alguns anos. Desde que realizou essa guinada, seu trabalho ganhou vigor e vem redefinindo de forma singular a arte pop urbana brasileira. Nesta que é sua segunda exposição no Espaço Sala, Centro, São Paulo, SP, intitulada “Encaixotado”, o artista mantêm a estética característica de suas criações, mas passa a flertar mais com o desenho, com a questão pictórica, como define o cenógrafo e artista plástico Zé Carratu, curador da mostra. Serão apresentados cerca de 20 trabalhos, todos realizados entre 2011 e 2012.

 

Sandro Akel sempre esteve muito ligado às questões da cidade. Em suas inúmeras viagens, principalmente pelo exterior, o artista buscou se alimentar com a estética do lugar visitado. A relação com os lambe-lambes, uma espécie de ícone do meio urbano e o principal identificador de sua obra, nasceu num desses encontros com a urbe. Segundo Akel, foi em Berlim, na Alemanha, que ele percebeu a força de um lambe-lambe como meio de comunicação. O que interessa ao artista é o design desses pedaços de papel que informam a população sobre os mais diversos eventos.

 

Assim como outras capitais, Berlim possui quilômetros de lambe-lambes espalhados pelas ruas. Sua função se limita ao tempo em que a atração anunciada está em cartaz. Depois disso, não tem mais valor e acaba sobreposto por outro. É nesse ponto que o artista gosta de retirá-los da parede, às vezes em camadas bem grossas, com mais de dez colados uns sobre os outros.

 

Os lambe-lambes eram recortados e colados numa superfície de madeira para, em seguida, receberem uma camada de parafina, outra marca de sua obra. Na exposição atual, “Encaixotado”, eles tornam-se suporte para o uso da tinta. Para o artista, o uso da tinta se faz mais presente. “Desde criança, sempre fui muito ligado ao desenho. Esse é o meu fio condutor com a arte e volto a explorá-lo agora em meus trabalhos, já que nunca deixei de desenhar”, comenta.

 

No coração de São Paulo, o Espaço Sala consiste em um apartamento de quase 300 m2 localizado em prédio projetado no início século XX pelo arquiteto Ramos de Azevedo, com vista para o Vale do Anhangabaú. Já recebeu mostras como a individual “Tabu”, do catarinense Davi Escobar, “Renato De Cara(s) – Cadernos, Fotografias e Objetos – + de 30 anos de apropriações”, individual do fotógrafo e galerista Renato de Cara, “Deslocamento”, do próprio Sandro Akel, entre outras exposições.

 

 

Até 20 de dezembro.

Ana Maria Pacheco na Pinacoteca

28/nov

 

A Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, SP, apresenta a exposição de Ana Maria Pacheco com cerca de 50 obras, entre gravuras, livros de artista e esculturas, realizadas entre 1998 a 2012. Segundo o curador Carlos Martins, os grandes destaques da mostra são as esculturas “Noite escura da alma”, que reúne um grupo de figuras dispostas em torno de uma figura central, compondo uma arena forjada por uma situação intrigante e ameaçadora, e “Memória roubada I” e “Memória roubada II”, que remetem a um tempo passado muito ligado a memória de um universo religioso. Além de uma seleção de gravuras, com obras de pequeno e grande formato, que oferece um significativo panorama da produção da artista, um testemunho de seu rico imaginário.

 

Esta é a primeira exposição de Ana Maria Pacheco na Pinacoteca. Radicada em Londres desde 1973, Ana Maria consolidou seu trabalho em meio ao competitivo cenário artístico europeu, trazendo como traço definitivo a simbiose de influências da vivência londrina com o imaginário de origem brasileira. Sua obra se reporta às tradições da nossa cultura popular a e, por meio de seu amplo conhecimento de história, literatura e da tradição iconográfica, constrói um mundo muito particular de imagens densas e sombrias, carregadas de ironia e metáforas, sempre surpreendentes. “Ana Maria Pacheco sabe provocar nossa imaginação e sensibilidade. Com suas gravuras e esculturas, a artista nos arrebata e, em estado de cumplicidade, somos levados ao seu mundo repleto de situações insólitas, muitas vezes assustadoras”, afirma o curador Carlos Martins.

 

Ana Maria possui múltipla formação nos campos da arte, música e educação – graduou-se em 1965 pela Universidade Católica e pela Universidade Federal de Goiás. A escultura foi a sua forma de expressão privilegiada, desde o princípio, e sua participação na Bienal de Artes de Goiás, em 1970, foi reconhecida com uma premiação; em 1971, expôs na Bienal de São Paulo. Com uma bolsa de estudos concedida pelo Conselho Britânico do Rio de Janeiro, partiu para Londres onde estudou na Slade School of Fine Art, de 1973 a 1975. Atualmente vive e trabalha em Londres, sendo a primeira artista estrangeira a usufruir do projeto promovido pela National Gallery de residência artística.

 

Até 03 de fevereiro de 2013.

Dois na Galeria Estação

23/nov

Para sua última exposição do ano, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta Julio Martins da Silva (1893, Icaraí – RJ / 1978, Rio de Janeiro – RJ) artista praticamente esquecido, embora de grande importância para a arte popular brasileira. Além de participar da Bienal de Veneza em 1978, naquele mesmo ano, foi tema do filme O que eu estou vendo vocês não podem ver, de Carlos Augusto Calil, professor da ECA-USP e hoje Secretário Municipal de Cultura de São Paulo. Agora, tem seu trabalho reconhecido pelo olhar de Paulo Pasta, que faz a curadoria desta mostra com 19 obras do acervo da galeria.

 

Julio Martins da Silva, pintor tardio, passou a usar a tinta a óleo somente depois da aposentadoria definitiva. Interessava-e principalmente pela natureza, sobretudo por paisagens. Suas telas, sempre retratando uma cena organizada, com pinceladas leves de cores calmas e harmoniosas, contrapõem uma vida de muitas dificuldades. “Esse contraste entre uma vida feita de adversidades e privações e uma produção em que isso não aparece, ou melhor, na qual se elabora justamente o oposto dessa condição, constitui, como já procurei apontar, uma das principais contradições da obra de Julio Martins da Silva”, afirma o curador.

 

Segundo Paulo Pasta, as paisagens do artista possuem características muito particulares, mais próximas da imaginação do que da realidade. O curador aponta, ainda, como raramente se pode ver em suas obras a representação de uma natureza selvagem, desregrada e a mata, quando aparece, também é elaborada em formas amenas e ordenadas. “Acredito que o arquétipo mesmo de suas paisagens seja o jardim, nele, Julio M. da Silva parece encontrar o seu tema perfeito”, completa.

 

Sobre o artista

 

Neto de escravos africanos e filho de pais analfabetos, Julio Martins da Silva nasceu no interior do Rio de Janeiro  e começou a trabalhar ainda menino para sobreviver.  Aos 17 anos, já órfão de pai e mãe, mudou-se definitivamente para a capital fluminense onde foi cozinheiro e operário. Apesar da difícil condição social, sempre buscou completar sua alfabetização, sobretudo para ler seus poetas preferidos, Castro Alves e Casemiro de Abreu. Era, também, um amante das artes. Além de desenhar com lápis desde a juventude,  gostava de fazer serenatas e frequentava, sempre que possível, teatros e cinemas. Segundo Lélia Coelho Frota em seu “Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro”,  o artista realizou inúmeras exposições individuais em galerias de arte do Rio de Janeiro e de São Paulo,  entre elas, destaque para a mostra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, 1975; e  a participação na Bienal de Veneza, 1978 e uma exposição individual em Washington, 1984.

 

Transcursos 

 

Paralela à exposição de Julio Martins da Silva acontece, no 1° andar da galeria, a exposição de Aline van Langendonck, artista que participou do programa de Residência Artística do Ateliê Acaia, em 2012, que recebe apoio da Galeria Estação. Com curadoria de Tiago Mesquita, a mostra “Transcursos” reúne um conjunto de trabalhos que versa sobre as possibilidades de relação de enquadramentos durante o deslocamento no espaço.

 

A mostra reúne o vídeo Rio Grande realizado nas linhas de trem da CPTM em São Paulo; uma série de monotipias nas quais uma faixa preta compõe o espaço de diferentes maneiras, além de sugerir um desdobramento de imagens em sequencia com quebras de linearidade; cadernos de desenho que investigam variações de formas de objetos cotidianos; objetos de madeira instalados entre o vão da sala expositiva; além da documentação do processo de pesquisa e trabalho relacionada ao período da residência nos ateliês do Instituto Acaia.

 

Até 19 de dezembro.

Maureen Bisilliat lança livro

09/nov

A consagrada Maureen Bisilliat lança, na Livraria Cultura, Conjunto Nacional, São Paulo, SP, pela editora Terra Virgem, o livro “Maureen Bisilliat”, contendo 50 imagens registradas ao longo de sua trajetória fotográfica. A origem desse trabalho remonta a cópias manuseadas pela autora há décadas, entre fotografias em branco e preto, coloridas,  tonalizadas, alteradas, interferidas e guardadas. Essas obras estão reproduzidas da maneira em que foram encontradas: ampliações dobradas, amassadas, manchadas e metamorfoseadas pelo esquecimento.

 

A seleção de imagens que compõem a publicação obedece a uma metodologia básica e intuitiva, que permitiu criar um fluxo abrangente, atemporal e descompromissado, diferente das cronologias anteriores que Bisilliat estabeleceu em seus projetos.

 

O livro “Maureen Bisilliat” apresenta fotografias já conhecidas do público, marcantes na carreira da fotógrafa, além de imagens inéditas e faz parte da coleção “Fotógrafos Viajantes”, da editora Terra Virgem, da qual já foram lançados exemplares de Pierre Verger, Cássio Vasconcellos, Pedro Martinelli e Loren McIntyre, sob a batuta do editor Roberto Linsker.

 

Sobre a artista

 

Fotógrafa e documentarista, Maureen Bisilliat foi bolsista da Fundação Guggenheim, do CNPq e da FAPESP. Nascida na Inglaterra, a artista vive no Brasil desde 1952, radicando-se no país. Iniciou na fotografia em 1962, tendo atuado por dez anos nas revistas Realidade e Quatro Rodas. Estas “andanças” resultaram na elaboração de um projeto traçando equivalências fotográficas dos mundos retratados por Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e Adélia Prado; publicou em livros os resultados desse traçado. De 1972 a 1977 visitou diversas vezes o Xingu. Em 1979, lançou, em coautoria com os irmãos Villas-Bôas, a publicação “Xingu / Terra” e participou com uma sala especial da XIII Bienal Internacional de São Paulo, 1975. Em 1988, foi convidada por Darcy Ribeiro para contribuir na criação de um acervo de arte popular latino-americana, do qual nasceu o Pavilhão da Criatividade no Memorial da América Latina. Foi diretora deste espaço de 1989 a 2010. Em 2003, o Instituto Moreira Salles adquiriu seu acervo fotográfico, publicando, em 2009, o livro “Fotografias / Maureen Bisilliat”. O interesse do Instituto Moreira Salles pela sua obra reavivou o interesse da própria autora pelos seus trabalhos, até então esquecidos nos armários do tempo. O “Prêmio Porto Seguro de Fotografia”, a Ordem do Ipiranga, a Ordem do Mérito Cultural e a Ordem do Mérito da Defesa, recebidos todos no ano de 2010, indicam a repercussão desta redescoberta.

 

Lançamento: 13 de novembro.