Carmela Gross na Vermelho

07/out

Répteis

A Galeria Vermelho, Pacaembú, São Paulo, SP, apresenta “Serpentes”, exposição individual de Carmela Gross.

Ao chegar no pátio da Vermelho, antes mesmo de entrar no espaço expositivo da galeria, o visitante terá pistas sobre o conceito que permeia a primeira individual da artista na galeria. Em “Serpentes”,  Carmela Gross reúne construções tridimensionais, vídeo, luz, desenhos e colagens digitais, que propõem um terreno movediço impossível de ser domesticado pelo espaço.

 

Duas perfurações no muro da fachada conectam o exterior com o interior criando um fluxo direto entre aquilo que constitui o lugar privado do cubo branco e a ordem do espaço público da cidade. Mais do que uma simples alteração na materialidade do local, essas perfurações, chamadas pela artista de “2 Buracos”, revelam que o campo de ação de Carmela Gross também é a cidade. “Luz Del Fuego”, vídeo de 2012, reúne imagens documentais de incêndios publicadas em jornais, entre os anos de 2007 e 2011. Na obra, a imagem do fogo conduz a narrativa e aponta para transformações radicais de ordem política e social.

 

Na sala 1, encontra-se a obra “Escada de Emergência”, criada em 2012. Construída com lâmpadas florescentes verdes e vermelhas e sustentadas por tripés metálicos, o trabalho sugere uma experiência física a partir de uma experiência visual. Desprovida de sua funcionalidade, ela aponta para o universo simbólico representado pela escada.

 

Todo o piso da sala 2 será ocupado por uma Instalação composta por 280 peças fundidas em latão e banhadas em níquel, nominadas pela artista como “Répteis”.

 

“Entre Palavras”, série de desenhos feitos com grafite e esmalte sobre folhas do dicionário Aurélio, ocupa a sala 3. Na obra, a figura flexível da cobra surge associada à palavra e às suas variações. Ao cobrir os verbetes das páginas do dicionário com desenhos de cobras, Carmela Gross articula a potência do discurso à astucia do animal.

 

De 09 de outubro a 03 de novembro.

Inéditos de Judith Lauand

02/out

A Galeria Berenice Arvani, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta uma coleção inédita de trabalhos de Judith Lauand, obras produzidas na década de 50,  são mostradas ao público pela primeira vez, ocasião em que são comemorados 70 anos de carreira e 90 anos de vida da artista. Judith Lauand nasceu no ano da Semana de Arte Moderna, 1922.

 

A mostra “Judith Lauand Guaches, Desenhos e Colagens Anos 50” traz à luz 70 trabalhos, sendo a quase totalidade deles inteiramente inéditos, e distribuídos entre projetos de pintura, desenhos autônomos, colagens e guaches, sempre sobre papel. O conjunto remete àquilo que viria a ser a síntese de sua obra – o concretismo e a pintura geométrica – sendo que Judith Lauand é considerada a Dama do Concretismo, justamente por ter sido a única integrante do grupo paulista “Grupo Ruptura”, principal irradiador dos preceitos concretistas no país.

 

A história destes “guardados” é singular. O curador Celso Fioravante, que também foi responsável pela curadoria de exposição anterior da artista, em 2007, sempre foi um interessado em obras sobre papel e não se conformava em ver apenas pinturas da artista. Depois de dois anos de insistência, Judith Lauand finalmente mostrou-lhe uma pasta com dezenas de trabalhos em papel, projetos de obras, esboços e outros, que nunca haviam sido expostos ou sequer mostrados aos seus familiares, exceto àqueles mais próximos. Desde este momento ele e a marchand Berenice Arvani vem insistindo em apresentá-las e apenas agora ganham exposição pública.

 

A artista e a galeria, em parceria com a editora “Papel Assinado”, lançam uma série limitada de 100 caixas contendo 10 serigrafias assinadas.

 

Sobre a artista

 

Judith Lauand iniciou sua carreira artística em 1945, em Araraquara, SP, formando-se em 1950 pela Escola de Belas Artes local. Em 1953, foi convidada a participar do “Grupo Ruptura”, porta-voz do movimento concretista de São Paulo, do qual foi a única presença feminina, tendo feito parte do mesmo até sua dissolução, em 1959. Desde 1945 e até agora, realizou 11 exposições individuais, sendo duas delas no MAC-USP, São Paulo, SP.

 

Foi premiada em 8 salões nacionais e soma uma infinidade de mostras coletivas pelo Brasil – mais de 80, incluindo 5 participações na Bienal Internacional de São Paulo e outras em países como Argentina, Rosario, 1957; Chile, Santiago, 1957; Peru, Lima, 1957; Alemanha, Munique, 1959; Áustria, Viena, 1959; Holanda, Haia, 1959; Suíça, Zurich,1960; França, Provence, 2000 e Estados Unidos, Cambridge, 2001.

 

Suas obras encontram-se em importantes acervos de diversas  instituições públicas no Brasil e no exterior, entre elas o MAC-SP; MAM-SP; MAM-RJ; Pinacoteca do Estado, SP; Museu de Arte Moderna de Grenoble, França e Museum of Fine Arts, Houston, EUA.

 

Até 26 de outubro.

 

Toyota por Klintowitz

27/set

Klintowitz-Toyota

Reunidos, o Ministério da Cultura, Cinemateca Brasileira, Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural e Bradesco Seguros, apresentam o lançamento – com exposição de esculturas – do livro “A leveza da matéria” de autoria do crítico de arte Jacob Klintowitz. Nesse novo volume de sua extensa e criativa produção, Klintowitz aborda a obra do artista Yutaka Toyota e sobre o trabalho realizado afirma: “Pensar este livro, encontrar a palavra justa para criar a equivalência entre o verbo e a forma tão sutil e pura, foi significativo para mim: estive na dimensão da sensibilidade”. A mostra de esculturas de Toyota encontra-se em cartaz na Cinemateca Brasieleira, Vila Clementino, São Paulo, SP.

 

Trechos do livro

 

…Quem sonhou esta escultura que une dois continentes e povos foi um artista chamado Yutaka Toyota. Uma obra de arte é feita de sonho – alguém a sonhou – imaginação e matéria, concretude e desejo, signo e símbolo. É este conjunto que define a natureza da obra e nos diz de sua dimensão e de seu alcance. E de sua grandeza intrínseca.

 

…A permanente participação do público na sua obra tem outro caráter e é de natureza diversa. Yutaka convida o público a meditar sobre a essência do real, a descartar a aparência como verdade e a perceber o oculto como parte do existente. Mais até do que isto, a obra de Yutaka Toyota se oferece ao público para partilhar certo estado de percepção. Não para saber a verdade do invisível, do não visto, mas para estar neste espaço do oculto.

 

…O processo criativo de Yutaka Toyota se constitui a partir de dois estamentos constantes e exatos. O primeiro é a intuição, o sonho, o conceito, nesta ordem. Ele sonha com universos. Yutaka pensa o espaço sideral. E o segundo, é o minucioso trabalho de construtor que o leva à busca da forma impecável executada de maneira justa, perfeita, similar ao que a intuição lhe mostrara. Um engenheiro cósmico. É o método Yutaka Toyota.

 

…Neste sentido, à medida que o artista avança na sua procura e identificação do invisível, mais a sua obra é feita de desprendimento. O seu aprendizado é o de tornar-se, por sua vez, invisível. A escultura de Yutaka Toyota é feita de visibilidade e invisibilidade, de oculto e evidência, de claro e escuro, de cor e não cor. Entretanto, a obra é visível e o autor, cada vez mais, invisível.

 

De 30 de setembro a 06 de outubro.

Virada impressionista

25/set

“Impressionismo: Paris e a Modernidade” é o atual cartaz do CCBB, Centro, São Paulo, SP, e foi batizada informalmente de “Virada Impressionista”. A exposição traz, pela primeira vez ao Brasil, uma seleção de 85 obras-primas do acervo do Musée d’Orsay, de Paris, e ocupa todos os espaços do CCBB.

 

A mostra, que apresenta um panorama detalhado do movimento impressionista, reflete a história da pintura ocidental no período que compreende a segunda metade do século XIX e início do século XX. A exposição foi dividida em módulos temáticos que apresentam 85 obras de Cézanne, Gauguin, Pissaro, Monet, Degas, Manet, Toulosse-Lautrec, Renoir Vallotton, Lefebvre e Vincent Van Gogh, entre outros mestres. A curadoria é de Guy Cogeval, presidente do Musée d’Orsay; Caroline Mathieu, conservadora chefe do Musée d’Orsay e de Pablo Jimenez Burillo, diretor-geral da Fundación Mapfre. A visitação já atingiu a impressionante marca de mais de 100.000  espectadores.

 

Até 07 de outubro.

As florações de von Poser

19/set

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, Luz, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Floração”, mostra individual de Paulo von Poser, com curadoria de Haron Cohen, exibindo a multiplicidade criativa do artista plástico em 44 obras com suportes variados: desenho, aquarela, objeto e instalação.

 

Para a mostra, Paulo von Poser aproximou em seus trabalhos o símbolo da flor com a cidade e o sagrado feminino, unindo seus traços precisos à delicadeza encontrada na natureza e à expressão artística do divino presente no acervo do museu, numa sagração de boas vindas à Primavera.

 

A flor é um tema com forte presença na carreira do artista, especialmente as rosas. Grande parte das obras foi produzida especialmente para a mostra. A montagem “valoriza o vertical, o interior, o acúmulo, a sobreposição e a surpresa”, nas palavras do artista. “A cor da exposição é densa e saturada e a montagem final reforça nesta aglutinação cromática a própria essência do surgimento da flor, sua diversidade extrema, a velocidade e intensidade de sua evolução”, diz ainda.

 

A variedade de suportes com as quais Paulo von Poser compõe sua poética visual tem uma relação bastante próxima com a evolução das flores. O artista exibe “A Flor Pré-Histórica”, conjunto de grandes aquarelas, que, montadas com a série “Vasos e Madonas”, formam um extenso mural contínuo, no qual a flor é representada pela busca de sua ancestralidade simbólica e cromática. “Flor Relíquia”, rosas em forma de relicário em madeira e ferro, incita a curiosidade e convida à interação para a descoberta do segredo guardado em seu interior. A sala destinada à exposição traz ainda uma montagem com uma série de cerâmicas pintadas em faiança e baixo esmalte como tributo à santa padroeira do Brasil.

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo é apresentado e homenageado em dois desenhos centrais, além de ser tema de uma série inédita de desenhos de imagens de peças de seu acervo, feitas in loco este ano, especialmente para a exposição.

 

O artista 

 

Paulo von Poser nasceu em São Paulo e formou-se arquiteto pela FAU/USP em 1982. Iniciou sua relação com o desenho em 1978, ao ingressar na faculdade. A partir daí, se descobriu como artista plástico, fazendo em 1982 sua primeira exposição. Exposições, projetos gráficos, instalações, manifestações de arte pública, vídeos, cenários ilustrações, estampas, fotografias, cerâmicas, painéis de azulejos e aulas tem sido diferentes meios para sua arte pop e gráfica. Paulo expôs obras em diversas cidades brasileiras e em países como Alemanha, Peru, Bolívia e França. Os elementos que indicaram novos rumos para seu trabalho foram as grandes pedras do Rio de Janeiro – marcos da paisagem da cidade – e o Rio Pinheiros, em São Paulo, com suas pontes, margens e construções, ambiente em constante e intensa transformação urbana. Lançou em 2010 seu primeiro livro, “A Cidade e a Rosa”, onde, mais uma vez, homenageia suas duas paixões.

 

 

Até 11 de novembro.

Produção em papel

18/set

A galeria Arte Aplicada, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Três Décadas de Arte Sobre Papel”, exibindo 30 obras de artistas selecionados pela curadora Sabina de Libman, que buscou excelência nos trabalhos nesse suporte, para oferecer um panorama de trinta anos de arte com expoentes da arte como Di Cavalcanti, León Ferrari, Flavio de Carvalho, Pietro Maria Bardi, Volpi, Tomie Ohtake, Sergio Fingermann, Abraham Palatnik e Alex Vallauri, entre tantos.

 

Embora o papel sirva como um estágio inicial para obras de arte, como croquis e rascunhos, mas é também lugar de trabalhos finalizados, sendo essencial – como suporte – no desenvolvimento e na finalização de obras. Em muitos casos, abriga o valor de obra com linguagem independente. Isso é percebido, por exemplo, nos desenhos de Di Cavalcanti e Flávio de Carvalho, nas gravuras de León Ferrari e Tomie Ohtake, nas serigrafias de Volpi e Abraham Palatnik, bem como nas litografias de Sergio Fingermann e no graffiti de Alex Vallauri.

 

Todos os artistas selecionados para “Três Décadas de Arte Sobre Papel” tiveram algum tipo de contato com Sabina de Libman: alguns realizaram exposições em sua galeria, enquanto outros participaram de mostras em instituições com sua curadoria. “Muitos deles eram ainda promessas quando os conheci e, com o tempo, consolidaram-se como grandes nomes”, diz a curadora, que anteviu tais potenciais.

 

Além dos artistas mencionados, a coletiva conta ainda com obras de Bonadei, Waldemar Cordeiro, Da Costa, Grassmann, Arcangelo Ianelli, Renina Katz, Juarez Machado, Aldemir Martins, Rubens Matuck, Marco Aurélio Rey e Mario Tagnini.

 

Até 29 de setembro.

Adriana Varejão no MAM-SP

06/set

A exposição “Adriana Varejão – Histórias às margens”, no MAM-SP, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, tem seleção de trabalhos fundamentais da artista. A curadoria é de Adriano Pedrosa pois ambos possuem um longo histórico de colaborações; há cerca de 15 anos trabalharam juntos na XXIV Bienal Internacional de São Paulo. Rodrigo Cerviño Lopez e Fernando Falcon, designers que já fizeram para a artista os projetos de dois livros, de seu ateliê e de seu pavilhão em Inhotim, são responsáveis pelo projeto expográfico e pelo desenho gráfico do catálogo da exibição.

 

 

A Grande Sala do MAM terá salas divididas por paredes equidistantes e contíguas, que formam salas cortadas por um corredor central. A transparência dos vidros que separam o museu do parque será mantida, ou seja, a exposição poderá ser vista também do lado de fora do MAM. Nas salas, distribuem-se 42 obras, muitas delas inéditas no Brasil, entre as quais uma em grandes dimensões produzida especialmente para a exposição. Retratando azulejos nos quais figuram plantas carnívoras, esta obra remete ao trabalho da artista presente no Panorama da Arte Brasileira de 2003, no próprio MAM-SP, em que azulejos reais traziam estampas de plantas alucinógenas. Além desse novo painel, de cerca de 18 metros de extensão, composto por 54 módulos de pintura, outros dois trabalhos foram produzidos para o MAM. Uma pintura em grande formato, com o panorama da Bahia de Guanabara, Rio de Janeiro, e um prato, ambos recriados em estilo chinês, nos quais a artista retoma sua série “Terra Incógnita”, iniciada em 1992, introduzindo elementos de seu trabalho atual.

 

Também em exibição, os exemplos mais significativos das séries de “Pratos”, “Saunas”, “Ruínas de Charque”, “Mares e Azulejos”, “Línguas e Incisões”, “Irezumis”, “Acadêmicos”, “Proposta para uma Catequese”, “Terra Incógnita” e trabalhos que a artista apresentou na Bienal de São Paulo em 1994 e 1998.

 

Palavras da artista

 

“Margem remete a mar, mas também àquilo que está fora do centro”, daí o título da mostra. Para Adiana Varejão, “a história é algo vivo, o passado não é fechado nem morto, mas está sendo constantemente recriado, e essa é uma das principais motivações do trabalho”.

 

Sobre a artista

 

Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro e é hoje um dos nomes da arte brasileira mais conhecidos no mundo, com obras em acervos de instituições tais como o Museu Guggenheim, NY, Tate Modern, Londres,  Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, Fundación “La Caixa”, Barcelona e no Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, MG. Participou de quase cem exposições, entre individuais como no Centro Cultural de Belém, Lisboa, 2005, Hara Museum, Tóquio, 2007), Fondation Cartier, Paris, 2005, e coletivas, entre as quais destacam-se as Bienais de Istambul, 2011, Bienal de Bucareste, 2008, Bienal de Liverpool, 2006, Bienal do Mercosul, 2005, Bienal de Praga, 2003, Bienal de Johannesburgo, África do Sul, 1995 e Bienal Internacional de São Paulo, 1994 e 1998. Participou do Panorama da Arte Brasileira 2003, do MAM, sob curadoria de Gerardo Mosquera.

 

Até 16 de dezembro.

Em dupla

Rodrigo Andrade

Depois de realizar em 2010 a exposição “Arte brasileira: além do sistema”, na qual artistas populares foram expostos ao lado de contemporâneos, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, vem promovendo o encontro entre esses dois mundos. Agora, em “O Jogo dos sete erros – Ranchinho e Rodrigo Andrade – 10 pinturas e 10 versões”, Rodrigo Andrade se propôs a fazer releituras de obras de Ranchinho. O resultado desta “pictofagia” está reunido na exposição com 10 trabalhos inéditos do artista contemporâneo expostos lado a lado às telas do pintor egresso da cultura de raiz.

 

Andrade utilizou-se da apropriação, processo da linguagem contemporânea, e procurou a perfeição em suas releituras do mestre popular. O artista fotografou as obras e projetou as imagens em telas brancas, replicando cada pincelada. O deslocamento entre as versões é pequeno, sutil. De longe, chegam a ser idênticas, com as mesmas nuances no desenho e as diferenças surgindo apenas num olhar aproximado. O título da exposição, “O Jogo dos 7 Erros”, parte exatamente dessa semelhança exacerbada, que só revela na camada grossa de tinta, marca característica de Rodrigo Andrade, no olhar aproximado. O musico Toni Belotto, que é de Assis, mesma cidade de Ranchinho, já fez um filme em super 8 sobre o artista e assina texto para o catálogo da exposição.

 

Sobre Ranchinho

 

O artista Sebastião Theodoro Paulino da Silva, o Ranchinho, nasceu em 1923 e faleceu em Oscar Bressane, SP, 2003. Filho de bóias-frias, foi uma criança frágil e fraca, com muita dificuldade para desenvolver-se e aprender. O desenho sempre foi uma prática constante. Com o tempo não parava mais em nenhum trabalho, vivia sempre em casebres abandonados, catando sucata para vender. Por volta de 1970, o escritor e estudioso de arte José Mimessi, ensinou-lhe o manejo do guache e aos poucos sua obra chegou à cidade de São Paulo, provocando o interesse de vários colecionadores, impressionados com as soluções que adotava em suas pinturas. Em 2000, convidado por Emanoel Araújo, fez a releitura da tela de Almeida Jr. “Caipira picando fumo”, de 1893, que integrou na mostra “Almeida Júnior, um artista revisitado”, na Pinacoteca de São Paulo. Ranchinho participou ainda da Bienal Nacional de São Paulo, 1976; Bienal dos 500 anos, 2000;  e de inúmeras coletivas, entre as quais destaca-se “Pintura primitiva no Brasil”, Museu Carrillo Gil do México, 1980 e “40 pintores primitivos”, Museu Guido Viaro, Curitiba, PR, 1981.

 

Sobre Rodrigo Andrade

 

Estudou no Studio of Graphics Arts, em Glasgow, Inglaterra e frequentou o curso livre de gravura e pintura na Escola de Belas Artes de Paris, França. Desde o início de sua carreira, recebeu importantes prêmios em salões nacionais de arte. Participou da 29ª Bienal de São Paulo, SP, em 2010 e recebeu a Bolsa Vitae de Artes Plásticas em 2004. A partir de 1986, realizou diversas exposições individuais em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Participou de inúmeras exposições coletivas no Brasil e no exterior. Em 2000, iniciou uma série de intervenções pictóricas em espaços públicos: “Projeto Parede” no MAM-SP; “Lanches Alvorada”, em um bar no centro da cidade de São Paulo, e “Paredes da Caixa” no museu da Caixa Econômica Federal, São Paulo, SP.

 

 

Até 31 de outubro.

Cores de Willys de Castro

04/set

Willys de Castro

A retrospectiva de Willys de Castro na Pinacoteca do Estado, Praça da Luz, São Paulo, SP, abrange 130 obras do artista cujo pretígio é bastante crescente tanto nos Estados como na Estados Unidos e na Europa. Cada vez mais procurado por colecionadores estrangeiros, os trabalhos de Wyllis de Castro, falecido em 1988, tendem a seguir os mesmo passos da obra de Lygia Clark e Helio Oiticia. Um previsão segura para os anos vindouros. Sob a curadoria de Regina Teixeira de Barros, encontram-se em exibição telas, desenhos, estudos e vários trabalhos tridimensionais. A grande maioria das obras pertencem à Pinacoteca, sendo que um total de 56 peças são doações do companheiro do artista, o pintor Hércules Barsotti, falecido em 2010, mas doadas em 2001. As demais peças da mostra pertencem à Coleção Patricia Phelps de Cisneros, coleção venezuelana, acervos particulares do Brasil, mais o IAC e o Museu de Arte de São Paulo.

 

Nascido em Uberlândia, MG, Willys de Castro mudou-se para São Paulo na adolescência. Atuou durante anos na área de design gráfico, realizou pesquisas das diversas correntes construtivistas e dialogou com o Grupo Ruptura, de Waldemar Cordeiro. Os trabalhos mais antigos exibidos na mostra são estudos para pinturas realizados a partir de 1952, nos quais as formas geométricas e a atenção às cores sobressaem. Nos “Objetos Ativos”, o artista mescla pintura e escultura da passagem da década de 50 para a de 60, quando atinge, segundo a críica nacional, sua plenitude criativa. Em certos momentos, apenas uma pequena tira vertical de madeira já instiga o espectador. A série deu origem, mais tarde, aos chamados “Pluriobjetos”, relevos de parede feitos de materiais como madeira, alumínio ou aço, alguns deles presentes na exposição.

 

Até 14 de outubro.

Carvão: Mestre da cor

A Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, exibe mostra panorâmica da obra de Aluisio Carvão. Denise Mattar, que assina a curadoria, escolheu uma titulação justa para a exposição: “ALUÍSIO CARVÃO  – Mestre da Cor”. Conheça a síntese de seu pensamento curatorial no texto abaixo, uma clara visão da trajetória deste renomado artista brasileiro.

 

 Síntese da curadoria

 

Aluísio Carvão ( 1920- 2001) nasceu em Belém do Pará e autonomeava-se “o amazônico”, pois tinha consciência de que a estética luminosa, vibrante e colorida daquela cidade perpassava toda a sua obra. Quando menino admirava a geometria dos indígenas brasileiros, observava na arte plumária a construção de unidades cromáticas exuberantes e fazia pipas, bandeirinhas e estandartes para enfeitar os arraiais.

…Procurando seu caminho foi ilustrador, cenógrafo, ator, mudou de cidade e por fim viajou para a capital do país para participar de um curso de especialização de professores de desenho.

 

Carvão chegou ao Rio de Janeiro em 1949, num momento efervescente, no qual estava em curso o sonho da modernidade nacional. Nas artes plásticas levantavam-se discussões acirradas e sofisticadas em torno do Abstracionismo Geométrico, uma linguagem que se propunha universal pela construção de um espaço racional, sem emoções, hedonismo ou patriotismo. Eram questões que Carvão desconhecia inteiramente, mas, após completar seu estágio, inscreveu-se, em 1952,  no lendário curso de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde passou a conviver com  Lygia Pape, Abraham Palatnik, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mário Pedrosa e Ferreira Gullar. Foi um mergulho vertical e radical …ele participou da criação do Grupo Frente (1954-56).

 

As obras de Carvão realizadas nesse período respondem aos enunciados do Concretismo. …Na série “Cromáticas”, que vai de 1957 a 1960, o artista constrói com a cor, que vive e pulsa, plena de emoção.

 

….O novo grupo, que busca a experimentação, é uma alforria para Carvão. Sua pesquisa intensifica-se a tal ponto que a cor sai dos limites da tela para ganhar o espaço e o artista produz as emblemáticas obras  “Cubo-Cor”(1960) e “Cerne-Cor”(1961). Segundo ele:  “Eu queria uma espécie de resumo da cor, queria, dar corporeidade à cor, o vermelho feito com pigmento e cimento. Todo cor, não só superficialmente pintado”.

 

No final de 1961, Aluísio parte para a Europa utilizando o prêmio de viagem recebido do Salão Nacional de 1960.  Na volta ao Brasil, em 1963, torna-se professor do MAM-RJ e trabalha em artes gráficas e desenho industrial.

 

Nesse período a cor e a geometria quase desaparecem da obra do artista, como que levadas pela ditadura militar que se impõe a partir de 1964. …No final da década, Carvão começa a empregar materiais não tradicionais, como tampinhas de garrafas e pregos, construindo obras óticas como “Superfície I”, e cinéticas/sonoras como os “Farfalhantes”(1967). Essa pesquisa se estende até 1971/3 quando produz as “Constelações” realizadas com barbantes tensionados.

 

Em 1975 Aluísio Carvão recomeça a pintar e a cor volta a ele soberana, luminosa e sensual. Nessas novas pinturas ele revê as memórias de infância, relembra sua cidade amazônica, alude a pipas, mastros e bandeirinhas. Esses signos poéticos, invadidos de cor, alcançam sua plenitude na série de sete obras apresentada 17a Bienal de São Paulo, em 1983.

 

Ainda na década de 1980 Aluísio tornou-se professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Era adorado pelos alunos e ajudou a formar a chamada “Geração 80. Em 1997, com vigor redobrado,  inaugurou duas obras monumentais : o Mural Lagoa-Barra no Rio de Janeiro e o Cubo-Cor no Parque da Marinha em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

 

Até sua morte, em 2001, Aluísio Carvão continuou pintando, cada vez mais liricamente. Suas obras são um marco na arte brasileira, e quem o conheceu nunca esquecerá de seus olhos luminosos e profundamente azuis, dos quais parecia se desprender a Cor.

 

Denise Mattar

2012

 

Até 14 de setembro