Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira

21/dez

Com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset Management, “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”, foi aberta ao público em 16 de dezembro e permanecerá em cartaz até 18 de março de 2024. A mostra reúne obras produzidas por 61 artistas negros, de diferentes regiões, nos últimos dois séculos no Brasil. São cerca de 150 pinturas, fotografias, esculturas, instalações, vídeos e documentos abordando uma variedade de temáticas, técnicas e descritivos, distribuídos pelos cinco andares do CCBB, São Paulo.

“O propósito da mostra é um diálogo transversal e abrangente da produção artística afro-brasileira no país”, explica o curador Deri Andrade, pesquisador, jornalista, curador assistente no Instituto Inhotim e criador da plataforma Projeto Afro de mapeamento e difusão de artistas negros/as/es da cultura afro-brasileira. A exposição é um desdobramento do Projeto Afro, em desenvolvimento desde 2016 e lançado em 2020, que hoje reúne cerca de 300 artistas catalogados na plataforma. São nomes que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, do século 19 até os contemporâneos nascidos nos anos 2000. “A exposição traz outra referência e um novo olhar da arte nacional aos visitantes”, afirma o curador. “A história da arte do Brasil apaga a presença negra e o artista negro do seu referencial”, completa.

Cinco eixos, cinco artistas. Assim foi desenhada a exposição que, a partir de cinco nomes centrais, revela diferentes épocas e discussões, contextos, gerações e regiões. De grande abrangência, a mostra percorre do período pré-moderno à contemporaneidade e discute eixos temáticos em torno de artistas negros emblemáticos: Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, RJ,1882-1922), Lita Cerqueira (Salvador, BA, 1952), Maria Auxiliadora (Campo Belo, MG, 1935-São Paulo, SP,1974), Mestre Didi (Salvador, BA,1917-2013) e Rubem Valentim (Salvador, BA,1922-São Paulo, SP, 1991). 

Cada um dos nomes acima lidera, respectivamente, um eixo: Tornar-se, Linguagens, Cosmovisão (sobre engajamento político e direitos), Orum (sobre as relações espirituais entre o céu e a terra, a partir do fluxo entre Brasil e África) e Cotidianos (discussão sobre representatividade).

 

Dois artistas argentinos em foco

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, encerra 2023 fortalecendo seus laços com o Malba – Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, ao trazer para São Paulo “Yente – Del Prete. Vida venturosa”, mostra organizada e apresentada no museu argentino em 2022, mesmo ano em que receberam a retrospectiva de Anna Maria Maiolino, organizada originalmente pela instituição cultural paulistana. Até 18 de fevereiro de 2024. 

Focada no casal de artistas Eugenia Crenovich (Eugenia Crenovich, Buenos Aires, Argentina, 1905-1990), conhecida como Yente, e Juan Del Prete (Vasto, 1897 – Buenos Aires, 1987), a presente exposição, com curadoria da pesquisadora e curadora-chefe do Malba, María Amalia García, ressalta a sinergia criativa do casal e o vínculo amoroso como uma forma de abordar o fazer artístico.

Durante mais de 50 anos, Yente e Juan Del Prete não só compartilharam a vida de casal, mas também trocaram diariamente ideias sobre arte. Realizaram inúmeras exposições individuais e participaram de diferentes coletivas, porém nunca expuseram juntos. Esta exposição reúne-os pela primeira vez com uma seleção de mais de 150 obras, entre pinturas, esculturas, tapeçarias, desenhos e livros de artista, abrangendo a ampla gama de suas carreiras, das décadas de 1930 a 1980. Existem dois elementos constantes na produção do casal: o trânsito entre figuração e abstração, abrangendo diversos estilos e a experimentação marcante de materiais. Na paixão pelo fazer, Yente e Del Prete se apropriaram das múltiplas correntes da arte moderna através de diversas referências, sempre usando os materiais como meios de experimentação.

Nas palavras de Maria Amalia García: “A transição entre figuração e abstração foi uma constante no casal, abrangendo vários estilos (cubismo, surrealismo, abstração, expressionismo, entre outros), bem como uma marcada experimentação, tanto com materiais de arte (suportes diversos, têmperas, tintas, tintas a óleo trabalhadas com pincel e espátula; extensos empastamentos e gotejamentos), bem como com uma vasta gama de elementos de bricolagem e materiais descartados. Yente e Del Prete, na sua paixão irreprimível pelo fazer, apropriaram-se do cânone da arte moderna através de diversas referências, correntes e representações”, destaca a curadora. As peças expostas são provenientes principalmente da Coleção Yente – Del Prete, dirigida por Liliana Crenovich (sobrinha da artista) e de importantes coleções privadas e públicas argentinas, como o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires e a Coleção Amalita, entre outros.

 

Embora a abstração tenha sido um caminho de exploração criativa que os uniu de maneira fundamental, a mostra não se limita a esse recorte, percorrendo ambas as trajetórias e abrangendo o arco completo de suas ricas experimentações. “Vida Venturosa” é organizada em dois grandes núcleos: “A união na abstração” e “Voracidade”, que são divididos em subnúcleos, atravessando mais de cinquenta anos de produção. Apesar das diferenças entre si – ele, um imigrante italiano instalado no bairro de La Boca e formado sob tutela dos pintores do bairro; ela, de Buenos Aires, graduada em filosofia e a caçula de uma família judia abastada de origem russa – o casal percorreu um caminho conjunto de pesquisa artística através de diversas linguagens e materiais. Se conheceram no inverno de 1935, quando Del Prete já havia passado três anos na Europa, onde dedicou-se à experimentação com a colagem e à abstração, expondo em companhia da vanguarda construtivista parisiense. De volta a Buenos Aires, realizou duas exposições emblemáticas, onde apresentou fotomontagens, pinturas abstratas, colagens com cordões e chapas metálicas, esculturas em gesso esculpido e projetos de decoração, gerando rejeição e incompreensão na cena artística portenha. Paralelamente a seus estudos de filosofia, Yente realizava retratos familiares e caricaturas e ilustrações para revistas. No início dos anos 1930 ampliou sua formação plástica em passagem pelo Chile. Depois do encontro com Del Prete, começou sua pesquisa na abstração e por volta de 1937 produziu composições biomórficas: núcleos arredondados e coloridos que às vezes apresentam elementos figurativos. Nos anos 1940 seguiu com propostas mais construtivas, escolha que a levou a destruir sua obra anterior, ação em consonância com as sistemáticas destruições de Del Prete, em seu caso justificadas pela falta de espaço. Contudo, a produção aniquilada de Yente não foi documentada como a dele. O casal não escapou aos papéis de gênero vigentes à época, e a carreira de Del Prete foi privilegiada. Nada do entorno do casal parece ter ficado sem exploração em seus trabalhos. Para além de posição crítica diante das modas, Yente e Del Prete tiveram empatia e flexibilidade para se deixarem atrair pelas diversas possibilidades que a visualidade abria. Segundo Maria Amalia García, “Em um constante ir e vir entre figuração e abstração, durante os anos 50 e 60 abraçaram a experimentação pictórica, a colagem, a montagem de objetos e os têxteis. Ainda que de maneiras diferentes, foram vorazes apropriadores de estilos, materiais e técnicas. As anedotas da arte argentina remetem à “gula” de Del Prete para se referir a sua desenfreada produção. Yente, embora mais moderada em seus procedimentos, não foi por isso menos voraz. Sua obra se desdobrou em diversos suportes: não apenas se dedicou ao desenho, à pintura, aos relevos e à escultura, mas também expandiu seu trabalho aos têxteis, aos livros de artista e ao trabalho de arquivo”, completa.

 

 

Celebrando Michelangelo Pistoletto

13/dez

Exposição em São Paulo celebra os 90 anos do artista Michelangelo Pistoletto. A exibição gratuita acompanha o calendário mundial de homenagens ao artista fundamental do movimento italiano Arte Povera e fica em cartaz até 03 de março de 2024.

O Instituto Artium de Cultura apresenta a exposição de arte Terzo Paradiso – uma seleção especial de obras do grande artista italiano Michelangelo Pistoletto, no palacete histórico em Higienópolis, São Paulo. A mostra é parte de uma série de exposições do artista em curso pelo mundo, que aconteceram em Paris; Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos; e Turim, Itália.

Maior expoente do movimento artístico Arte Povera – que se propõe usar materiais inúteis – há quase 20 anos, o trabalho de Pistoletto é dedicado ao que chamou Terceiro Paraíso – uma reconfiguração do símbolo do infinito, que dá nome à mostra. Nas extremidades, a natureza e o artificial; no centro, a inserção de um círculo que simboliza abertura, criação, uma proposta de práticas para uma transformação responsável da cultura e da sociedade.

 

Figuras humanas de Giovani Caramello

Até 18 de fevereiro de 2024, a Caixa Cultural São Paulo, apresenta a exposição “Hiper-realismo no Brasil” de Giovani Caramello, escultor hiper-realista brasileiro. A mostra exibe dez obras impressionantes, que abrangem a carreira do artista entre 2017 e 2022, utilizando diversas materialidades e linguagens. A exposição, que já atraiu 8.200 visitantes em Curitiba, destaca esculturas em silicone e bronze, explorando técnicas como cerâmica e resina.

Giovani Caramello, reconhecido como um dos principais escultores hiper-realistas do Brasil, traz pela primeira vez a São Paulo suas esculturas que reproduzem figuras humanas com impressionante precisão de detalhes e a diversidade de técnicas utilizadas pelo artista, desde as esculturas hiper-realistas em silicone até as mais recentes produções em bronze.

O curador Ícaro Vidal destaca que a obra de Caramello fortalece o movimento hiper-realista da arte contemporânea brasileira, provocando reflexões sobre a fragilidade da vida e a impermanência das coisas materiais. Ícaro Vidal salienta ainda que “…as esculturas de Caramello transcendem o mero espetáculo visual, levando o espectador a refletir sobre a construção da vida humana”.

A exposição também presta homenagem ao trabalho autoral de Giovani Caramello, expondo breves biografias das figuras notáveis que ajudaram a consolidar o gênero hiper-realista. O evento ocorre na Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, Centro. Com a entrada gratuita, o espaço proporciona acesso ao poder transformador da arte, promovendo o desenvolvimento sustentável, a responsabilidade social e o bem-estar da população.

 

As formas expansivas de Diambe

08/dez

A Simões de Assis, São Paulo, Curitiba, anuncia a representação de Diambe (Rio de Janeiro, 1993). Sua prática expande as noções de coreografia e escultura, desdobrando em instalações que também incorporam pinturas, filmes, têxteis e performances. Diambe explora possibilidades fabulativas de novos seres, elevando aspectos estéticos e ornamentais da natureza. Trata da materialidade ao lidar com o bronze e com formas reconhecíveis de povos diaspóricos, agora em novos arranjos, mimetizando outros seres ou criando novos integrantes de seu ambiente criado. Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros.  

 

Jarbas Lopes na Pinacoteca

29/nov

A Gentil Carioca tem o prazer de anunciar Jarbas Lopes: eixos, com curadoria de Renato Menezes, na Pinacoteca de São Paulo. A abertura acontece neste sábado, dia 25 de novembro, das 11h às 18h.

A mostra, que fica em cartaz até 31 de março de 2024, é dividida em quatro eixos conceituais (Desejo, Flutuação, Ambiente e Temperatura) e reúne obras históricas e inéditas, entre elas uma instalação criada especialmente para a ocasião. O conjunto dos trabalhos celebra o corpo, a rua e a natureza, e ocupa o 4º andar do edifício Pina Estação e o estacionamento do museu.

Jarbas movimenta ideias, ressignifica objetos, idealiza magias e amplia, a partir de suas obras, o conceito de utopias possíveis, Vive e trabalha em Maricá, Rio de Janeiro. Seu processo criativo permeia uma reconfiguração dos objetos e das experiências estéticas, dando-lhes um novo significado e movimento, sempre permeados por um tom crítico.

Pesquisas e processos artísticos

22/nov

A Brazil Jewelry Week (BJW) anuncia sua 5ª edição, nos dias 24, 25 e 26 de novembro, na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP, local que abrigou com sucesso sua primeira edição em setembro de 2019. A escolha do local ressalta a temática central deste ano, “Curadoria de Si”, que propõe uma análise das obras significativas na trajetória dos artistas participantes. Sob a curadoria de Jurandy Valença e coordenação de Chrissie Barban, o evento é uma reflexão sobre o início da pesquisa e do processo artístico, bem como as produções mais recentes, simbolizando um retorno completo, visualmente representado como uma metáfora de uma mão adornada por joias.

A BJW, para além da exposição, contempla palestras e performances no auditório da Casa de Cultura do Parque, com a participação do renomado joalheiro mexicano Jorge Manilla, embaixador internacional da BJW e uma premiação aos vencedores entre os joalheiros participantes. A 2ª e 3ª edições foram realizadas virtualmente, sendo o retorno presencial consolidado na 4ª edição, em dezembro de 2022, na Biblioteca Mário de Andrade. Este último evento contou com um seminário acompanhado pela exposição de mais de 100 artistas, incluindo aproximadamente 80 joalheiros latino-americanos. Tanto a Casa de Cultura do Parque quanto a Biblioteca Mário de Andrade são espaços culturais de grande relevância na cidade de São Paulo e no Brasil.

A curadoria de Jurandy Valença reúne na BJW artistas de oito países, incluindo Brasil, Espanha, Argentina, Chile, Colômbia, México, Paraguai e Venezuela. “ A “Curadoria de Si”, além de iluminar a trajetória de cada artista – pontuando suas criações mais importantes, aquelas que falam, principalmente, de si – também procura relacionar as criações, as joias ao corpo, ao físico e àquele que também é constituído de pensamentos, percepções, emoções, alumbramentos. Adornar a pele, o corpo é algo que vem da pré-história quando os humanos usavam dentes, ossos, pedras, conchas, sementes e pedaços de madeira como símbolos de poder, de status e também de magia. A natureza e o seu próprio corpo ou o de animais eram fonte da matéria prima para a produção de amuletos, jóias, adornos”, explica o curador.

As obras expostas, selecionadas por meio de convocatória aberta, destacam-se por marcar e continuar marcando a trajetória e o processo criativo dos participantes. A exposição, composta por mais de 140 obras, será apresentada durante os três dias do evento, seguindo até março de 2024 na sede do Núcleo Arte Vestível, em Pinheiros, SP.

A BJW consolida-se anualmente como um evento de significativa importância não apenas no cenário da joalheria no Brasil, mas também globalmente, reafirmando seu papel destacado no mundo da arte e da joalheria. O auditório da Casa de Cultura do Parque recebe uma potente agenda de palestras com profissionais da joalheria latino-americanos que discorrem sobre temas diversos e diferenciados. Enquanto sentimentos positivos enriquecem e engrandecem o interior de cada ser vivo, as joias cumprem o papel de evocar o belo, adornar a pele e transmitir mensagens subliminares da alma.

“A Joalheria Contemporânea é focada na interação constante com a diversidade cultural; a coexistência múltipla entre diferentes culturas, sem hierarquias, para um crescimento mútuo.” – Chrissie Barban

Sobre o curador e organizadores

Jurandy Valença (Maceió, AL 1969) – Vive e trabalha em São Paulo. Artista visual, curador, jornalista e gestor cultural, atua na área há mais de 25 anos, e atualmente é Diretor da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Foi diretor adjunto do Centro Cultural São Paulo (CCSP), coordenador geral dos centros culturais e teatros da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo; coordenador geral da Oficina Cultural Oswald de Andrade e diretor de projetos do Instituto Cultural Hilda Hilst, em Campinas (SP). Como artista visual e curador, realiza trabalhos em fotografia desde 1998. Participou de mais de 70 exposições, entre individuais e coletivas; e já realizou mais de 20 curadorias. Entre suas curadorias mais recentes destacam-se “Revelando Hilda Hilst” (2020), no MIS/SP, em homenagem aos 90 anos de nascimento da autora paulista; “Uma Ontologia do Vazio” (2020), com esculturas, objetos e fotografias do artista visual Elias Muradi; e “Paisagem/Passagem” (2021), ambas na Fundação Mokiti Okada, em São Paulo; “Hiância” (2021), na Oficina Cultural Oswald de Andrade (SP), com os artistas Eva Castiel e Bruno Ferreira; “O Vazio Abarcado” (2022), em Campinas, na Casa de Vidro, com os artistas Aline Moreno e Jeff Barbato; “O mais profundo é a pele” (2023), na Belizário Galeria, em São Paulo; e na Pinacoteca de São Bernardo do Campo, a coletiva “Zonas de Sombra” (2023), com obras de 9 artistas.

Jorge Manilla (Cidade do México, MEX) – Vive e trabalha na Bélgica. Filho de uma família de ourives e gravadores mexicanos, estudou artes visuais na Academia de San Carlos, no México. Recebeu formação altamente técnica em joalheria na Academia de Artesanato e Design do Instituto Mexicano de Belas Artes. Em 2003, obteve o diploma de bacharel em escultura na Royal Academy of Fine Arts de Ghent. Um ano depois matriculou-se na Faculdade de Arte e Design da Universidade St Lucas, onde obteve em 2006 o título de Mestre em Joalheria e Ourivesaria. Ao criar joias, Jorge Manilla investiga o seu ambiente – religião, emoções, relacionamentos e o sentido da vida. Nos últimos anos, o artista redescobriu o seu amor pela cor preta. Para o artista o preto relaciona-se com algo oculto, secreto e desconhecido e, como resultado, cria um ar de mistério. Mantém as coisas engarrafadas, escondidas do mundo. Suas formas e formas escuras criam uma barreira entre os significados dos objetos e o mundo exterior. Preto implica autocontrole e disciplina, independência e força de vontade. Dá uma impressão de autoridade e poder. Para Manila o preto é o fim, mas o fim implica sempre um novo começo. Quando a luz aparece, o preto se torna branco, a cor dos novos começos. Paralelamente às suas atividades profissionais como artista, atualmente também trabalha como investigador e faz o seu doutoramento sob o título Other Bodies Design na Royal Academy of Fine Arts de Antuérpia, cidade onde também ensina e ministra workshops em diferentes universidades de Arte e Design em todo o mundo. Sua obra tem sido exibida em diversas exposições internacionais e pertence a coleções, públicas e privadas, nos cinco continentes.

Chrissie Barban (São Paulo, SP 1984) – Vive e trabalha em São Paulo. Bacharel em Moda pela Faculdade Belas Artes (SP); Pós-graduação na Central Saint-Denis Martins (Londres, ING). Joalheira desde 2001, fundadora do Núcleo de Joalheria Contemporânea, conceitua e lança A BJW. Fascinada pela vida, investiga o mundo ao redor de maneira visceral com uma singularidade que reverbera nas ações que conduz. Cria e assina coleções de Joalheria Contemporânea para a mecenas Alexandra Fructuoso da Maison Alexandrine (São Paulo, Los Angeles e Dubai). Desenvolveu joias para a cantora e atriz Jennifer Lopez. Faz mentorias na escola/laboratório Núcleo de Joalheria Contemporânea e, há mais de 20 anos, desenvolve sua marca autoral de joalheria contemporânea. Se inspira nas diferenças e as cultiva. Aprecia o diverso e o solicita.

Joias em reflexão sobre a terra

17/nov

Casulo Escola de Joalheria e M.O.A. Estúdio, Pinheiros, São Paulo, SP, expõe “OQUEVEMDATERRA”, uma mostra coletiva com a presença do artista plástico Marcus Moa e 13 artistas joalheiros exibindo, aproximadamente, 200 trabalhos autorais de refinada técnica criativa e construtiva. Esta exposição, que celebra a estreita relação entre a humanidade e a natureza, tem vernissage agendado para 21 de novembro, terça-feira, às 18 horas, ficando aberta à visitação até 26 de novembro.

“OQUEVEMDATERRA” explora a criatividade de seus artistas, utilizando técnicas inventivas além de conceitos autorais para transmitir suas reflexões sobre a terra, os rios, os minerais, a vida e o conceito primeiro de sustentabilidade.

“A terra, em sua superfície sólida da crosta terrestre onde pisamos, é muito mais do que um mero suporte físico – é a base de nossa existência, um organismo vivo que nutre, sustenta e inspira”, diz Marília Arruda Botelho. Os artistas joalheiros – Adriana Bellinello, Ana Lucia A.G. Marino, Darlene Zambotti, Daniela Rosa, Esperança Leria, Fernanda Colucci, Jacque Basso, João Victor Lioi, Julia Marques, Maria Regina Mazza, Marília Arruda Botelho, Valeria Navarro e Viviana Terra – exploram as complexidades dessa conexão de forma diversa e expressiva. As peças, com conceito e manufatura individual e artesanal, oferecem uma ampla variedade de abordagens artísticas, incluindo serigrafia e jóias, proporcionando a cada um, uma reflexão profunda sobre seu papel na preservação do elemento vital. “OQUEVEMDATERRA” se mostra como um indicador aos visitantes para que comecem a considerar a forma como as consequências de suas ações, tanto individuais como coletivas, podem afetar o meio ambiente, servindo como um lembrete de que somos os únicos responsáveis por cuidar do planeta. Pedras, metais e demais insumos utilizados tanto na confecção das peças como nas obras de arte são certificados e/ou reciclados.

Em participação especial, o trabalho do artista Marcus Moa, cuja inspiração provém da arquitetura brasileira das décadas de 1950 a 1970, bem como de seus elementos constituintes, desde a parte construtiva até o paisagismo. O M.O.A. Estúdio cria projetos utilizando-se da técnica de serigrafia para imprimir suas obras autorais, com materiais de baixo impacto ambiental. Entre suas referências estão mestres renomados como Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer, Burle Marx e Athos Bulcão. “OQUEVEMDATERRA” é um tributo à arte, à joalheria e ao planeta com expografia e direção de arte assinadas pela artista e publicitária Patricia Sper, e cenografia botânica de Paulo Sabiá. “A CASULO Escola de Joalheria e M.O.A. Estúdio convidam todos aqueles que se predispõem a inspirar ação, conscientização e um compromisso renovado com o respeito à proteção do nosso planeta”, diz Moa.

Homenageando Emanoel Araujo

14/nov

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a mais recente exposição individual de Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação, 1940).  Com texto do professor, pesquisador, artista e amigo de longa data de Emanoel Araujo, George Nelson Preston, essa será a primeira mostra após o falecimento do artista em 2022. Em “Afrominimalismo”, vemos sua produção de relevos brancos, alguns inéditos, em que se pode reconhecer uma conexão entre sua visão africanista e universalista. Esses trabalhos congregam a síntese formal do pensamento de Emanoel Araujo quanto à abstração geométrica, estabelecendo também um íntimo diálogo com a instalação do artista na 35ª Bienal de São Paulo. Em cartaz até 16 de deaembro.

OS RELEVOS BRANCOS DE EMANOEL ARAUJO

Relações entre os nexos de causalidade de um visionário africanista/universalista

Prólogo

Nesta exposição em que os relevos brancos de Emanoel Araujo são o foco, reconhecemos um nexo da sua visão africanista e universalista. Em “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro”, propus um cânone do formalismo africano como a principal estética que norteou seu trabalho. Aqui, gostaria de revisitar brevemente essa proposição e atualizá-la. Consideremos também o neoconcretismo brasileiro, o minimalismo, o relevo como meio clássico antigo e o cânone têxtil africano. Se essa mistura parece anômala, consideremos o fato de que, desde o início de sua carreira, Araujo teve um temperamento enciclopédico e considerável interesse pelos relevos greco-romanos, pelo barroco e rococó brasileiros e pela história da arte em geral. Pertinente à nossa discussão aqui é o seu interesse pelos relevos clássicos e tecidos africanos, que têm muito em comum com os cânones gerais da escultura clássica africana.

Estamos habituados a ver antigos relevos gregos e romanos e os seus estilos reavivados em mármore branco, esquecendo-nos de que o tempo corroeu a policromia original. A este respeito, o clima seco foi mais favorável aos relevos egípcios. Os reavivamentos neoclássicos – nos quais o imaculado mármore branco era o suporte – afetam ainda mais nossas percepções. Nos relevos coloridos e nas esculturas de Emanoel, esse drama é representado em tons primários que se refratam em seus próprios tons e matizes.

A ausência de cor nos relevos brancos de Araujo resulta nas sutilezas e na dramaticidade da luz que performa uma escala de cinza – indo do branco, passando pelos cinzas intermediários, até voltar ao branco. Ao visualizar suas peças brancas, os relevos coloridos se tornam uma “película” onipresente em nossa experiência. A nossa experiência é “colorida” da mesma maneira quando nossa imaginação preenche a policromia perdida dos relevos greco-romanos.

A Corrente

No início da década de 1970, o cenário estava sendo montado para uma síntese das inspirações e influências de Araujo. Suas gravuras de formas mínimas feitas em grande escala, evocativas dos têxteis africanos, foram transformadas quando ele dobrou o papel das impressões em forma de máscara e as enrolou a partir da superfície, ocupando as três dimensões. Essas “Gravuras de armar” (1972) foram “o encaminhamento do artista em direção ao tridimentional”.

Devemos considerar também a afinidade dessas gravuras com o neoconcretismo brasileiro do final da década de 1950 e início da década de 1960, talvez, em particular, com a obra de Lygia Clark e de Hélio Oiticica. Nessa exposição, a conversa com o neoconcretismo brasileiro e as formas geométricas bidimensionais das primeiras gravuras podem ser apreciadas nas obras sem título de 2019.

Universalidade e o Cânone Africano

Em 1976 e 1987, e em ocasiões subsequentes, Araujo visitou o Benin e a Nigéria. Os oráculos de seus ancestrais nagô-iorubá haviam-no chamado. Em 1987, não poderia ter conhecido Emanoel Araujo de forma mais oportuna. Isso resultou na publicação de “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro” – meu catálogo para a retrospectiva de dez anos do artista no MASP4.

Aqui estava um suposto minimalista “infectando” flagrantemente o estrito cânone minimalista com inflexões narrativas, culturais e históricas: daí o termo “afrominimalista”.

À época, eu havia identificado vários reflexos da estética africana na obra de Araujo no catálogo do MASP, como a tensão entre um eixo implícito e um eixo real, a repetição rítmica de formas primárias ou mínimas, e a repetição dessas formas interrompidas por surpresas formais, inversões como fugas e motivos pars pro toto – em que uma parte saliente de um objeto representa sua totalidade. O ambiente afro e ameríndio baiano, o barroco e o rococó brasileiros, o concretismo e o minimalismo formam uma corrente interligada. Em 1977, do Prado Valladares descreveu Araujo como um humanista “artista do mundo do conhecimento”. Isto é, não um “investigador de símbolos” paroquial ensinando sobre África. A partir disto, podemos concordar que Araujo projeta seus africanismos como uma linguagem universal em que a iconografia é secundária ao poder emocional e psicológico de um formalismo convincente que desperta em nós a “meta” da iluminação.

Envoi

Quatro níveis de relevo são empregados desde os tempos antigos. São relevos baixos, médios, altos e afundados. O relevo afundado, no qual não há projeção da forma para fora, mas é esculpido abaixo ou no espaço pictórico, é extremamente raro. Em vários relevos brancos, este plano afundado – que é a parede atrás – ganha uma curiosa presença de alteridade palatável. Essa manipulação dos vazios não é de forma alguma recente, sendo um tema recorrente desde a transição de Araujo, no início dos anos setenta, do figurativo para o abstrato.

Para este escritor, é de particular interesse o enorme relevo branco da mostra. É o contraste ou, melhor dizendo, o diálogo entre as suas grandes dimensões e o baixo relevo uniforme que vibra entre ser um enorme repousé e uma gigantesca peça de tecido africano. Penso que este relevo é uma homenagem à criatividade dos pigmeus Twa que vivem entre os povos Kuba , no centro da República Democrática do Congo.

Ainda mais enigmáticas são as obras “Totem angulares vazados” (2015) e sua companheira sem título. Essas obras não são relevos nem esculturas independentes. São estelas – outra forma antiga… São estelas devido à sua esmagadora frontalidade. E combinam aspectos de baixo, alto e médio relevos fluindo entre si. Num intrigante tour de force, como se fosse um léger de main xamânico, o espaço negativo das estelas funciona como o vácuo dos relevos afundados. Na minha imaginação, despejo os rios sinuosos do Brasil nesse vazio, “desdobrando” águas sinuosas na geometria dos têxteis africanos.

George Nelson Preston, PhD, Professor Emérito, CCNY/CUNY – Acadêmico da Cadeira Pierre Verger, Academia Brasileira de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Laura González: Nova Consultora

13/nov

É com grande entusiasmo que a Galatea anuncia que Laura González passa a colaborar como Consultora de Desenvolvimento do Programa Internacional, ajudando a expandir os horizontes de nossos artistas e projetos.

Laura é historiadora da arte, consultora e estrategista cultural baseada em Londres. Ela é co-fundadora da themust.co: uma nova plataforma de e-commerce que vende objetos funcionais criados por artistas, utilizando moda e design como oportunidades para cultivar novas comunidades de colecionadores e apoiadores de arte.

Desde 2015, atua como consultora privada e curadora de coleções de arte moderna e contemporânea na América Latina, Europa e Estados Unidos. De 2011 a 2015, co-fundou e dirigiu o departamento de Arte Latino-Americana na Phillips em Nova York, amplamente reconhecido por expandir no mercado internacional o alcance de artistas conceituais e abstratos da região.

Nascida e criada em San Juan, Porto Rico, Laura possui bacharelado em História da Arte pela Universidade de Yale e mestrado pelo Courtauld Institute. Durante seus estudos em Yale, voltou-se para o modernismo da Europa Ocidental enquanto trabalhava como curadora bolsista na galeria de arte da universidade. No Courtauld Institute, se especializou em práticas experimentais na arte latino-americana e do leste europeu a partir dos anos 1950 até o presente, escrevendo sobre os desafios que essas perspectivas trazem para abordagens críticas tradicionais.