Nova artista no elenco da Galatea

06/mar

 

A Galatea tem o prazer de anunciar a representação da artista Carolina Cordeiro, nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1983. Formou-se em Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 2008. Concluiu, em 2014, o mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e, em 2021, seu doutorado no departamento de Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, com período sanduíche no Chelsea College of Art and Design, em Londres. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo.

A sua relação com o fazer artístico partiu do desenho, técnica que explorou desde cedo e estudou formalmente. Hoje, em seu processo criativo, ele opera a passagem de um projeto do papel ao mundo e às diferentes linguagens experimentadas pela artista. Já em sua primeira individual, Quase é um lugar que existe (2006), Carolina Cordeiro reúne desenho, fotografia e objeto em um diálogo amarrado e em uma relação de complementaridade. De lá para cá, a sua produção mostrou-se cada vez mais plural em termos de suporte e cada vez mais interessada em se desenvolver a partir da influência e dos recursos que o ambiente onde se dá pode oferecer.

Sendo a sua pesquisa baseada em processos imersivos, Cordeiro defende uma relação de contaminação com a paisagem. O seu trabalho não apresenta, portanto, simples intervenções no espaço, mas também o quanto o espaço e os elementos que o compõem atuam sobre a artista e se desdobram em sua obra. Uma noite a 550km daqui (2010-2017), instalação com feltro e carrapicho, demonstra bem esse princípio. Seu título se refere à distância entre o Ateliê Fidalga, um dos lugares onde a obra foi exposta, e um município de Minas Gerais, no Brasil, onde a artista recolheu as sementes de Xanthium cavanillesii, popularmente conhecidas como carrapichos. Com essas sementes, que têm o poder de se dispersar por se agarrarem nos pelos dos animais, criou um céu estrelado fixando-as em feltro azul escuro. O título do trabalho marca, ao mesmo tempo, a distância e a conexão que ele opera entre dois espaços, podendo variar de acordo com o local em que é montado, sempre tendo como referência a sua origem – uma cidade em Minas Gerais.

Os títulos, a propósito, são de grande importância na obra de Carolina Cordeiro. O seu interesse pela poesia e pela música popular brasileira seriam responsáveis por isso. América do Sal (2021) e As impurezas do branco (2019), por exemplo, fazem referência a dois poetas brasileiros consagrados, respectivamente, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. A relação com o cancioneiro popular influencia até mesmo a escolha de materiais, como ocorre com o zinco nos trabalhos Sem título (2019), que consiste em placas de zinco cortadas como cartas de baralho com as quais se fazem castelos, e Dizem que há um silêncio todo negro (2019), instalação feita com uma placa de zinco perfurada que joga tanto com a passagem da luz quanto com o imaginário da violência.

O aspecto coeso da pesquisa de Carolina Cordeiro se mostra na interpenetração dos temas e materiais e em como um projeto não implica no abandono do outro, mas se estende no outro. Entre o trabalho das assadeiras (Sem título), de 2009, que segue sendo montado, e Paisagem, de 2019, pode-se estabelecer diversas conexões, como a economia de linguagem, o interesse geométrico e um grande fundo simbólico – como a vida doméstica ou a terra vermelha da cidade da natal.

Em 2021, Carolina Cordeiro fundou, junto com os artistas Bruno Baptistelli, Frederico Filippi e Maíra Dietrich, a Galeria de Artistas, projeto criado por e para artistas como meio de experimentar novas forma de inserção no mercado. Em 2020, foi indicada ao prêmio PIPA. A artista participou de diversas residências artísticas nacionais e internacionais, entre elas: CASCO: Programa de integração arte e comunidade, Rio Grande do Sul, Brasil, 2020; Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, Brasil, 2019; Red Bull Station, São Paulo, Brasil, 2016; Homesession, Barcelona, Espanha, 2011; GlogauAIR Art Residency Berlin, Berlim, Alemanha, 2009.

Entre suas exposições, destacam-se as individuais: América do Sal, Galeria de Artistas – GDA, São Paulo, 2021; Dizem que há um silêncio todo negro, Auroras, São Paulo, 2019; Una nit a 8360 km d’aquí, Àngels Barcelona, Espanha, 2018; Carolina Cordeiro, Ciclón, Santiago de Compostela, Espanha, 2018; Entre, Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013; Carolina Cordeiro, Homesession, Barcelona, Espanha, 2011. E as coletivas: Semana sim, semana não, Casa Zalszupin, São Paulo, 2022; Lenta explosión de una semilla, OTR. Espacio de arte, Madri, Espanha, 2020; I remember earth, Le Magasin des horizons, Grenoble, França, 2019; Estratégias do Feminino, Farol Santander, Porto Alegre, 2019; Agora somos mais de mil, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2016; Blind Field, Krannert Art Museum, Champaign, Illinois, EUA, 2013.

Em agosto de 2023, a artista abrirá a sua exposição individual na Galatea. Em breve, mais detalhes serão compartilhados.

Novo espaço expositivo da Millan

“Pintura nasce de pintura”, diz Paulo Pasta sobre a nova série de trabalhos que desenvolveu de maneira sistemática nos últimos dois anos e que inaugura, no dia 16 de março, a partir das 18h, o novo espaço expositivo da Millan em Pinheiros, São Paulo, SP. São 90 telas, medindo 10 x 15 centímetros, nas quais revisita questões caras a sua produção nas últimas quatro décadas e, a partir desse processo de síntese e pesquisa, abre novas possibilidades de experimentação. Como diz o escritor e crítico literário Davi Arrigucci Jr. em texto – também conciso e preciso – publicado no livro que acompanha a exposição, a busca de todo artista é que “o ilimitado caiba no mínimo”. As pinturinhas que Pasta vem realizando têm exatamente essa capacidade de condensação entre a desmesura e a concisão.

A nova exposição coincide com um marco importante na trajetória de Paulo Pasta: foi há exatos 50 anos que ele iniciou – na prática – a sua relação com a pintura, aos treze anos de idade. “Desde criança sempre quis ser pintor e prometi para mim mesmo que seguiria esse caminho. E o que fiz desde então foi cumprir essa promessa. O adulto que me tornei presta contas a esse menino que fui, exatamente como acontece com um dos personagens de (Jean-Paul) Sartre no livro Idade da Razão.” Em 2024, completam-se 40 anos da sua primeira mostra individual.

Trabalhando em paralelo às pinturas de grandes dimensões, que mostrou recentemente em Londres e Nova York – respectivamente em junho e novembro do ano passado – e que algumas vezes chegam a consumir três meses de trabalho, Paulo Pasta encontrou no espaço reduzido uma forma de revisitar as principais questões de seu trabalho em pouco tempo e em quantidade. “Tenho uma certa obsessão em me mapear”, confessa.

Em “Pintura de Bolso” o artista ampliou meios e repertórios, encontrou novas formas de organização espacial e cromática, ousou deixar pedaços da tela em branco, adotou em diversos momentos uma pincelada mais fluída e contrastes de cores um tanto inusuais. A adesão ao pequeno formato tem uma forte dose de acaso. “Vi as telinhas, achei bonitas e comprei”, conta. “Percebi que poderia resolver as questões muito rapidamente, adotando caminhos diferentes”, complementa. Você nunca faz duas pinturas iguais, diz o pintor parafraseando Heráclito, e sublinhando que há sempre uma diferença mínima que aparece no aparentemente igual, testemunhando assim o valor do tempo.

“Nessas pequenas telas, Pasta resolve imensuráveis problemas da pintura que não se limitam à questão do tamanho: continuariam a seguir o pintor caso ele fosse escrever um pequeno poema ou um longo romance. Centra-se em questões estruturais, como luz, cor, tempo, memória, atmosfera, síntese e indeterminação, pontos que independem das dimensões da plataforma”, afirma o pesquisador e curador Mateus Nunes em texto crítico sobre a nova série.

A montagem da exposição deverá evidenciar a força individual desses trabalhos ao mostrá-los isoladamente ou em pequenos agrupamentos, como manchas de cor distribuídas no ambiente da galeria, evocando conversas ou notações musicais.

O novo espaço que a galeria inaugura agora tem, como as pinturas de bolso, uma vocação mais intimista. Somando-se ao anexo aberto pela Millan em 2015 – também com uma mostra de inéditos de Paulo Pasta -, a nova área foi reformada para abrigar mostras experimentais e esporádicas, sem a obrigação de seguir o calendário fixo de eventos. A terceira casa da galeria na rua Fradique Coutinho viabilizou uma ampliação das áreas de trabalho, com novos escritórios no segundo andar do prédio, e a expansão da praça que conecta o espaço da rua à área interna da galeria. O projeto ficou à cargo do trio de arquitetos Tomás Millan, Victor Oliveira e Clara Werneck. O imóvel tem 180 m², sendo 71 m² a área para as exposições.

No dia da abertura, também será lançada uma publicação com o mesmo nome da exposição, “Pintura de Bolso”. O livro traz reproduções das obras que compõem a mostra, além do texto de Davi Arrigucci Jr.

 

Diálogos com cor e luz

“Diálogos com cor e luz” é uma exposição voltada para a difusão da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, que apresenta exclusivamente trabalhos desse acervo. Aqui, reunimos um pequeno recorte de obras com ênfase nas relações entre a cor e a luz na arte brasileira da segunda metade do século 20. Vale destacar que, no século passado, o MAM São Paulo desempenhou um papel significativo na introdução e na propagação das tendências abstracionistas no Brasil. Dois exemplos merecem ser citados: a mostra inaugural do museu, Do Figurativismo ao Abstracionismo, realizada em março de 1949 por Léon Degand (1907-1958), e a exposição Ruptura, em dezembro de 1952, que deu início ao movimento concretista na arte brasileira, com a publicação de seu manifesto.

Agrupamos no espaço várias gerações de artistas, sem privilegiar tendências nem estabelecer uma ordem cronológica. Misturamos tempos e linguagens, para incentivar nosso olhar à percepção de semelhanças e diferenças entre as várias poéticas visuais nos diversos tratamentos da luz e da cor. A museografia distribuiu no espaço os painéis radiais, numa referência ao disco de cores – ou seja, ao experimento óptico de Isaac Newton (1643-1727), publicado em 1707 em seu livro Opticks. Nele, o físico inglês demonstra, por meio de um disco de sete cores (vermelho, violeta, azul índigo, azul ciano, verde, amarelo e laranja), sua teoria de que a luz branca do Sol é formada pelos matizes do arco-íris. Ao girarmos o disco com velocidade, as cores se sobrepõem em nossa retina e nos fazem enxergar o branco.

A seleção de obras, ao enfatizar os diálogos com a cor e a luz em diversos suportes, chama atenção para a luz como elemento fundante da percepção. Trabalhar com a luz significa que temos de lidar também com a sombra, a escuridão ou a ausência de luz. E nos interessa justamente o primeiro contato que temos com a cor, anterior às teorizações e aos sentidos que acrescentamos a ela. A cor é indissociável daquilo que ela expressa. Ela mesma já é expressão, não apenas a tradução de uma ideia ou sentido preconcebido.

Fundamental é nos livrarmos dos sentidos já instituídos e sedimentados no campo da cultura, de conceitos anteriores ao vivido, para aí podermos ter a experiência com a duração da cor. Em vez de pensarmos a cor e a luz como elementos idealizados, o contato direto com a arte nos ajuda a restituir o vínculo originário com o mundo. Os diálogos entre luz e cor na arte nos mostram que o mundo pode ser surpreendente e nossa relação com ele, inesgotável.

 

Fábio Magalhães e Cauê Alves

Curadores

Diálogos com cor e luz

Coletiva com Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Amelia Toledo, Arthur Luiz Piza, Cássio Michalany, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz Aquila, Lygia Clark, Manabu Mabe, Marco Giannotti, Maria Leontina, Maurício Nogueira Lima, Mira Schendel, Paulo Pasta, Rubem Valentim, Sérgio Sister, Takashi Fukushima, Thomaz Ianelli, Tomie Ohtake, Wega Nery e Yolanda Mohalyi.

Até 28 de maio.

A nova série de Vik Muniz

03/mar

 

As obras do mega artista-fotógrafo estão na individual “Dinheiro Vivo” que inaugura na sede paulistana da Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, no próximo sábado 04.

Depois de desconstruir, ressignificar e interrogar ícones os mais variados da nossa cultura material, o artista se debruça sobre um elemento absolutamente reconhecível, corrente e prenhe de significados: as cédulas de real emitidas pelo Tesouro Nacional.

A partir de uma quantidade grande de restos de papel-moeda que iriam para o descarte e que lhe foram cedidos pela Casa da Moeda, ele reconfigurou elementos indiciais dessas notas em novas composições profundamente instigantes, que provocam o espectador, gerando simultaneamente familiaridade e estranheza.

A partir desses fragmentos de papel com alto teor simbólico, Muniz reorganiza e recria dois tipos de imagem. No primeiro grupo estão reconstituições muito fiéis, porém em tamanho agigantado, dos animais que ilustram as notas da moeda nacional, como a onça, a tartaruga ou o lobo guará. Animais que muitas vezes estão em risco de desaparecer e que circulam de mão em mão, de forma banalizada, que adquirem majestade na leitura de Muniz.

O segundo conjunto reúne uma série de recriações de obras clássicas de pintores viajantes que percorreram e retrataram a paisagem brasileira no século 19, como Rugendas e Taunay. Nestas últimas obras ocorre uma pequena subversão, pois o artista alterou as referências cromáticas de origem pela gama de cores mais restrita e contrastante das cédulas, o que gera um maior estranhamento, deslocando as imagens já clássicas para um tipo de representação menos naturalista da natureza.

O verde das araucárias torna-se, assim, cor de vinho e as diferentes tonalidades azuis dos céus assumem um tom mais esbranquiçado, deixando entrever ainda alguns sinais gráficos que parecem ter escapado propositalmente nos recortes.

A ambiguidade da coisa representada sempre foi um ponto fundamental da obra de Muniz. Como afirma o jornalista e escritor Eduardo Bueno em texto de apresentação da exposição, ele passou a maior parte do tempo a “investigar a relação entre os objetos e sua representação”. Sua obra recria um círculo infinito de significados ao recorrer a gestos aparentemente simples, como recortar e colar. Agora, entretanto, alcança uma camada mais profunda, usando o próprio papel moeda como matéria e o transformando em “meio, mensagem e representação de si mesmo”.

Destituídas do valor financeiro, elas ainda são capazes de articular uma imagem. As aparas de papel já não valem mais nada enquanto moeda corrente, mas adquirem nova dimensão poética como obra de arte. Muniz nos conduz, assim, a uma reflexão sobre a ideia de valor e seus múltiplos sentidos. Afinal, o que dita o valor da arte? A matéria é mais importante do que a imagem? Ou seria o contrário?

Ao lidar com o dinheiro como matéria-prima, Vik Muniz se soma a um grupo de artistas de matriz conceitual que já se debruçou sobre essas relações de valor e fetiche da moeda, como Cildo Meireles, Jac Leirner e Barrão. E resgata outros aspectos importantes de sua reflexão e prática artística como a relação entre as coisas e suas representações e um foco atento a questões como a preservação ambiental, tema que já explorou no filme “Lixo Extraordinário” (2010).

Mais do que reciclar, ressignificar, seduzir e desconcertar a partir de elementos aparentemente simples, Muniz resgata por meio das obras de “Dinheiro Vivo” um debate em torno do ciclo de produção e abstração do valor, recuperando o que há de concreto no mundo real.

“No meio de todas essas crises ambientais que a gente tem sofrido eu comecei a pensar de novo dessa forma: a gente está cortando uma árvore para fazer dinheiro. Então, eu fico imaginando que essas obras todas são imagens da natureza, feitas com o que sobrou da natureza”, resume ele.

 

(Fonte:Ligia Kass-RG).

 

Nova artista representada

01/mar

 

A Simões de Assis, Curitiba e São Paulo, anuncia a representação da artista Lize Bartelli. Nascida no Rio de Janeiro, artista visual autodidata, Bartelli atualmente vive entre Londres e Los Angeles. A artista vem desenvolvendo seu trabalho pictórico com foco principal em retratos, visões intimistas, geralmente de mulheres, que se apresentam quase como uma meditação sobre a posição feminina na sociedade, explorando a representação dessa identidade e seus possíveis desdobramentos na história da arte e na cultura popular. Ela também sugere narrativas sobre autorreflexão, aparências enganosas, identidade e a passagem do tempo. Lize Bartelli nomeia seu trabalho como Fauvismo Pop, com um uso de cor figurativo, mas não realista, com personagens de peles verdes e azuis, e cenários criados a partir de uma pesquisa cromática muito singular e própria, marcada por tonalidades fortes misturadas pela própria artista.

 

 

A intensidade luminosa de Marilia Kranz

28/fev

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de anunciar a mostra que inicia o seu programa de 2023: “Marilia Kranz: relevos e pinturas”, com abertura no dia 09 de março, às 18h.

Marilia Kranz nasceu e viveu na cidade do Rio de Janeiro, cuja paisagem é assunto recorrente em sua obra. Desenhando desde a infância, inicia aos 17 anos seus estudos formais em arte, cursando pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1956, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes, onde estuda durante três anos. Passa, ainda, pelos ateliês de Catarina Baratelli (pintura, 1963-66) e Eduardo Sued (gravura, 1971).

Em um primeiro momento de sua produção, até meados da década de 1960, Kranz se dedica ao desenho e ao estudo da pintura. Na sequência, começa a produzir relevos abstratos em gesso, papelão e madeira, que integraram a sua primeira exposição individual, em 1968, na Galeria Oca, no Rio de Janeiro. Em 1969, ao retornar de viagens que fez à Europa e aos Estados Unidos, passa a produzir os relevos a partir da técnica de moldagem a vácuo com poliuretano rígido, fibra de vidro, resina e esmaltes industriais; além das esculturas com acrílico cortado e polido, chamadas de Contraformas.

Kranz inova ao produzir quadros-objetos a partir da técnica de vacum forming, pouco difundida no Brasil naquela época, até mesmo no setor industrial. Além disso, o conteúdo dos trabalhos também guarda forte caráter experimental. Segundo o crítico de arte Frederico Morais, as formas abstratas e geométricas exploradas nestas obras e na produção de Marilia como um todo se aproximariam mais de artistas como Ben Nicholson, Auguste Herbin e Alberto Magnelli do que das vertentes construtivistas de destaque no Brasil, como o Concretismo e o Neoconcretismo.

A partir do ano de 1974, Kranz retoma a prática da pintura, trazendo para o centro da tela elementos constituintes das suas paisagens preferidas no Rio de Janeiro. Comparada a artistas como Giorgio de Chirico e Tarsila do Amaral, os seus cenários e figuras geometrizados, beirando a abstração, contêm solenidade e erotismo ao mesmo tempo. Os tons pasteis, por sua vez, tornam-se a sua marca. “A cor cede diante da intensidade luminosa”, diz Frederico Morais. Ao observarmos as flores e as frutas que protagonizam com grande sensualidade várias de suas pinturas, pensamos também em Georgia O’Keeffe, considerada por Kranz sua “irmã de alma”.

A artista carioca é também conhecida pela defesa da liberação sexual feminina e da liberdade política durante a ditadura militar no Brasil, além da luta pelas causas ambientais, atuando como uma das fundadoras do Partido Verde em 1986.

Marilia Kranz expôs em galerias e instituições nacionais e internacionais e recebeu inúmeros prêmios pelas suas pinturas e esculturas, entre eles: o prêmio em escultura do 13º Panorama de Arte Atual Brasileira, em 1981, e o prêmio de aquisição do Salão de Artes Visuais do Estado do Rio, em 1973. Em 2007, contou com a exposição retrospectiva Marilia Kranz: relevos e esculturas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ocasião em que foi lançada a monografia Marilia Kranz, escrita pelo crítico de arte Frederico Morais, que acompanhou a artista durante toda a sua carreira.

 

Até 29 de abril.

Série inédita de Cildo Meireles

27/fev

 

A Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta até 18 de março – “Cildo Meireles: No Reino Da F*Da (1964-1987)” -, um conjunto raramente visto de desenhos e pinturas realizados durante os “anos de chumbo” e os anos de transição para a democracia, inédita série de trabalhos de Cildo Meireles.  De acordo com o curador Ricardo Sardenberg, os trabalhos “enfatizam o aspecto onírico-erótico da obra do artista, além do seu pendor em usar a velocidade e a urgência do desenho para criar uma das crônicas político-policial mais incisivas do período da ditadura militar”. Dois exemplares da série que dá nome a exposição “No reino da f*da (1965)”, em que personagens grotescos aparecem em cenas carregadas de violência e erotismo, estão presentes na galeria.

Novo espaço expositivo da Gomide&Co

 

A Gomide&Co tem a alegria de apresentar “Não vejo a hora”, mostra individual de Lenora de Barros. Com abertura marcada para o dia 08 de março, quarta-feira, das 18h às 22h. A exposição celebra também a inauguração do novo espaço expositivo da galeria, na Avenida Paulista, 2644, São Paulo, SP.

“Não vejo a hora” reúne um conjunto de trabalhos, em sua maioria inéditos, que têm como denominador comum uma elaboração sobre o tempo. Lenora de Barros sabe que diante das formas convencionais de medir o tempo, o tempo parece sempre ganhar de nós. Assim, a artista coloca em cena o seu repertório poético com vias a nos endereçar, aliando rigor e humor, formas de dilatar, desacelerar, quebrar e embaralhar o tempo.

Catalogação da obra de Lorenzato

15/fev

 

Foi lançado no mês passado o Projeto Amadeo Luciano Lorenzato, que busca identificar e catalogar as obras do artista mineiro em uma plataforma digital, contínua e aberta. Com apoio do Itaú Cultural, a iniciativa partiu do galerista Thiago Gomide, mineiro como Lorenzato, e que tem o artista no elenco e de sua Gomide & Co.

Segundo o pesquisador Mateus Nunes, que coordena o projeto, Gomide “sempre foi atento à importância do artista, que tinha seus debates muito restritos a Minas Gerais” e ele sentia a necessidade de “enfatizar a presença de Lorenzato na história da arte em um panorama mais amplo”. Nunes é doutor em História da Arte pela Universidade de Lisboa, professor do MASP e pesquisador integrado do Instituto de História da Arte da Universidade de Lisboa.

“A submissão pelo formulário objetiva, sobretudo, alcançar uma capilaridade em que a pesquisa de campo que empreendemos não chega, como as coleções particulares de muitos colecionadores”, Mateus Nunes, coordenador geral do Projeto Lorenzato

Por ora, foram catalogadas em torno de 300 obras, e há cerca de outros 100 trabalhos submetidos pela plataforma do site. De acordo com Nunes, Gomide estima que Lorenzato tenha entre 3 mil e 4 mil obras espalhadas pelo mundo. A catalogação do Projeto Amadeo Luciano Lorenzato feita a partir da submissão dos formulários, conta ele, tem sido minoritária. Para o lançamento, foi formado um banco de dados de centenas de obras a partir de pesquisa de campo em galerias e instituições de arte, além de publicações, catálogos, exibições em exposições, etc.

“A submissão pelo formulário objetiva, sobretudo, alcançar uma capilaridade em que a pesquisa de campo que empreendemos não chega, como as coleções particulares de muitos colecionadores”, diz o pesquisador à arte!brasileiros, explicando que, além de três pessoas que trabalham diretamente na catalogação, as equipes das galerias e instituições de arte colaboradoras têm ajudado, cedendo imagens, fichas técnicas e pesquisas já presentes em seus próprios bancos de dados.

Nos próximos meses, será feita a primeira assembleia do Conselho Consultivo, presidido por Thiago Gomide, para a análise e deliberação do que vem sendo submetido por meio da plataforma. Entre os membros pesquisadores do Conselho estão Rodrigo Moura, autor de Lorenzato, livro publicado pela editora Ubu, e curador do El Museo del Barrio, em Nova York; Sabrina Sedlmayer, Laymert Garcia dos Santos e Luisa Duarte; os galeristas Vilma Eid, Pedro Mendes, Rodrigo Ratton e James Green; e Rui Terenzi Neuenschwander, colecionador de arte e primo de segundo grau do artista.

 

Trajetória

Amadeu Luciano Lorenzato (1900-1995) nasceu e morreu em Belo Horizonte, capital mineira. Ao longo de sua trajetória, atuou como pintor e escultor. Mudou-se com a família em 1920 para Arsiero (Itália), onde trabalhou como pintor de paredes. Estudou na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza. Em 1926, foi para Roma, onde ficou dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman, com quem desenhava nos fins de semana. Em 1928, ambos iniciaram uma viagem de bicicleta ao leste europeu, passando por Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Turquia. Em Paris, participou da montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial. No início da década de 1930, voltou para a Itália, onde permaneceu até 1948, quando retornou ao Brasil. Em BH, retomou o ofício de pintor de paredes até meados dos anos 1950, quando, devido a um acidente, passou a se dedicar apenas à pintura. No comunicado de lançamento do projeto, Mateus Nunes ressalta que Lorenzato “é um artista que não obedece a moldes historiográficos usuais, como enquadramento em estilos, foi fora do eixo Rio-SP e utilizava técnicas não usuais”. O texto salienta ainda aspectos em oposição na produção de Lorenzato: figurativo versus abstrato, estética brasileira versus internacional, imaginário versus autêntico. Para Nunes, Lorenzato era o próprio denominador comum de sua obra.

“Ele fazia congregar esses opostos de maneira híbrida, erudita e intuitiva, ao ponto de manipular ferramentas visuais, como a perspectiva, por exemplo, para a criação de uma atmosfera nostálgica. O Projeto Amadeo Luciano Lorenzato refrisa o aspecto autobiográfico na produção do artista”, diz.

O pesquisador destaca também que a prática de Lorenzato, iniciada na década de 1920, percorreu um longo caminho até 1964 – as pinturas anteriores a 1948, ano em que retornou ao Brasil, foram destruídas durante a Segunda Guerra, conta ele -, quando apresentou alguns trabalhos aos críticos de arte Sérgio Maldonado e Palhano Júnior, responsáveis pela organização de suas primeiras mostras individuais. Ainda em vida, no início dos anos 1970, Lorenzato participou de exposições internacionais, na antiga Checoslováquia e na França.

“(O trabalho de Lorenzato) ficou por mais de 40 anos sendo exposto apenas no Brasil, com quase todas as mostras sendo feitas em Minas Gerais. Os debates foram reavivados há cinco anos, quando Lorenzato foi reinserido no panorama de discussão global, com exposições em Londres e em Nova York”, Mateus Nunes, coordenador geral do Projeto Lorenzato

“Depois dessas participações, seu trabalho ficou por mais de 40 anos sendo exposto apenas no Brasil, com quase todas as mostras sendo feitas em Minas Gerais. Os debates foram reavivados há cinco anos, quando Lorenzato foi reinserido no panorama de discussão global, com exposições em Londres e em Nova York. O objetivo do projeto é que, por meio da catalogação, Lorenzato tenha uma repercussão digna ao tamanho de sua obra tanto no Brasil quando no exterior”, afirma Nunes.

 

Obra dispersa

Um dos principais desafios do Projeto é saber que se trata de um arquivo em constante expansão. O pesquisador lembra também que a obra de Lorenzato é bastante dispersa. Por exemplo, foram identificados indícios da presença de um trabalho feito pelo artista no período em que colaborou com Cornelius Keesman, “mas ainda sem grandes descobertas”, segundo Nunes, que considera as obras feitas à época na Itália “de muito difícil rastreamento”. Daí a necessidade de que os processos do Projeto ocorram em parte online:

“Ele pede uma plataforma aberta, que solicite aos colecionadores e pesquisadores o envio de obras para análise e catalogação. Há peculiaridades menos específicas, como acontece na catalogação das obras muitos artistas, como imprecisão de datas, falta de registros fotográficos que sigam um certo padrão de qualidade para um banco de dados padronizado e pouquíssima bibliografia acerca de Lorenzato”, explica. “A catalogação geral deve durar alguns anos e ficar sempre aberta a novas análises. É possível que, no futuro, exposições e publicações sejam fomentadas a partir do Projeto, mas não há planos para desenvolvê-los em um futuro próximo”.

 

Fonte: por Eduardo Simões em arte!brasileiros

Novo espaço expositivo da Gomide&Co

 

A Gomide&Co tem a alegria de apresentar “Não vejo a hora”, mostra individual de Lenora de Barros. Com abertura marcada para o dia 08 de março, quarta-feira, das 18h às 22h. A exposição celebra também a inauguração do novo espaço expositivo da galeria, na Avenida Paulista, 2644, São Paulo, SP.

“Não vejo a hora” reúne um conjunto de trabalhos, em sua maioria inéditos, que têm como denominador comum uma elaboração sobre o tempo. Lenora de Barros sabe que diante das formas convencionais de medir o tempo, o tempo parece sempre ganhar de nós. Assim, a artista coloca em cena o seu repertório poético com vias a nos endereçar, aliando rigor e humor, formas de dilatar, desacelerar, quebrar e embaralhar o tempo.