Siron nas Telas

24/out

Com direção e roteiro de André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos, o artista visual Siron Franco é o mote de “Siron Tempos Sobre Tela”. Como bem atesta sua trajetória nacional e internacional, Siron Franco tem imagem pública fixada e é nome consagrado na arte contemporânea brasileira. O filme estreou na programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em São Paulo, SP. A produção é da Pacto Filmes e na equipe os nomes de Danilo do Valle na montagem; Pablo Nóbrega na direção de fotografia; trilha sonora de Gregory Slivar e desenho de som de Rosana Stefanoni. Estão programadas mais duas projeções: às 15:50h do dia 28 de outubro no Espaço Itaú de Cinema Augusta e às 14:00h do dia 29 de outubro no Cine SESC.

 

 

Cerâmicas de Kimi Nii

23/out

A Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta esculturas inéditas de Kimi Nii. A artista nipo-brasileira exibe criações inspiradas em elementos da natureza e revela sua concepção minimalista de paisagem

 

Luz e elementos da natureza despertam encantamento da artista nipo-brasileira Kimi Nii. Ela encontrou no Brasil uma rica variedade de tons, espécies e cenários naturais que inspiram suas criações, esculturas minimalistas, nas quais convida o espectador a construir paisagens mentais. Essa é a proposta da exposição “Montanha das nuvens brancas”, individual que Kimi Nii estreia em 26 de outubro, com curadoria de Ricardo Resende.

 

A intimidade com a cerâmica proporciona à artista a habilidade de fundir elementos da cultura japonesa, guardados em sua memória e bagagem, com referências brasileiras, captadas a partir de sua vivência no País. Autora de uma pesquisa centralizada nas formas e luzes da natureza, as obras de Kimi Nii se assemelham a paisagens e aludem sobre dois lados do mundo.

 

Nascida em Hiroshima, dois anos após a explosão da bomba atômica, a artista mudou-se aos nove anos de idade para São Paulo, e seu fascínio pela luz e a natureza brasileira a fizeram ficar.

 

Em “Montanhas das nuvens brancas”, Kimi Nii apresenta formas cilíndricas que se repetem, mas sem nunca se igualarem, e mimetizam a forma das nuvens brancas sobre a ação do vento. “As nuvens são mágicas para mim e, nessa exposição, quero trazer os extremos opostos: a terra e o céu”, explica a artista.

 

“É proposto pela artista o silêncio entre as nuvens que estão espalhadas pelas alturas da sala expositiva e as formas cônicas alinhadas no chão, organizadas em uma linha reta que desenha em perspectiva para quem adentra a sala”, explica o curador.

 

Em contraposição, formas cônicas são alinhadas de modo a remeter às formas montanhosas. Em meio a essas duas estruturas, estão peças que apontam para plantas da família dos Hibiscos, chamadas de fauna pela artista, concebidas a partir de sua investigação sobre as formas dessas espécies e sua dinâmica na natureza.

 

O minimalismo é um dos traços fundamentais da poética de Nii, que conserva em suas cerâmicas a essência da matéria, da forma e da cor do barro, despindo-as de elementos supérfluos e fazendo delas formas exuberantes. A produção da artista é pautada na organicidade e apenas naquilo que lhe parece fundamental. “A obra de Kimi Nii é sobre a vida transformada em objetos belos e harmoniosamente organizada com a matéria da argila”, sintetiza

 

Ricardo Resende

Até 23 de novembro.

 

 

A obra de Miguel Bakun

18/out

A partir do dia 26 de outubro a obra de Miguel Bakun entrará em exibição na Simões de Assis Galeria de Arte, Jardins, São Paulo, SP, estendendo-se até 14 de dezembro. A apresentação é do crítico Ronaldo Brito.

 

Miguel Bakun

Por Osmose

Texto de Ronaldo Brito

 

Não se enganem com a escala modesta, as cores terrosas, enfim, o aspecto de casual abandono que preside sobre as telas de Miguel Bakun. Elas não respondem passivamente ao mundo. À sua maneira enviesada, avançam decididas sobre ele e o recortam à medida do Eu do artista. Quase chegamos a vê-lo se aproximar furtivamente da paisagem para abreviá-la, tomá-la para si, impregná-la com seu lirismo pungente mas nem um pouco declamado. De fato, nosso pintor parece operar por osmose. É preciso, primeiro, reduzir a cena ao alcance de seus poderes de transfiguração e encantamento, poderes limitados porque intensos demais. Para esse autodidata de província, desamparado de tradição, isso desde logo implicava a empatia com trechos esquecidos de mundo, entregues à própria sorte, inéditos porque jamais mereciam atenção pública. Este é o lar, o único lar possível, desvalido e transitório, desse livre exercício de pintura que, por vocação, procede às avessas do mundo burguês administrado.

 

Depois, é urgente estreitar o contado físico. Muito da força poética de Bakun deriva da sensação de presença corpórea – sentimos o artista em meio à natureza, quase indistinto, a acompanhar sua pulsação orgânica; e o assistimos ainda a absorver a cena, em geral concisa e transversa, até que a tela literalmente a incorpore. É um truísmo: segundo a lógica contrária do trabalho de arte, o errado costuma dar certo. No caso de Miguel Bakun, o óleo fruste, sem brilho, quem sabe veio a ser o veículo ideal a permitir a coalescência com o vegetal, a porosidade com que assimila a matéria orgânica. As extraordinárias marinhas, por sua vez, ostentam um pronunciado acento mineral. Já os céus não exalam nada de aéreo: são quase metálicos. Trata-se sempre, porém, da mesma ânsia tátil que desobedece à vontade a regra acadêmica da textura, a correta imitação visual da sensação tátil. A matéria da pintura é o espírito do pintor. A contraprova vem em seus autorretratos despojados, gênero mimético por definição. Reparem como a figura do artista é feita do mesmo estofo do interior que, ao invés de o acolher e distinguir, expõe sua precária condição existencial. Menos do que representante típico da boêmia – habitat por excelência do pintor extraviado da época – Miguel Bakun se apresenta como o homem comum, funcionário de repartição, comerciário talvez, desgastado pelo trabalho, com a fisionomia um tanto perplexa.

 

Uma vez que o quadro pós-impressionista busca a verdade em si mesmo, em sua própria personalidade, e só se autojustifica graças à coerência e potência formais, é evidente que a natureza deixa de ser Criação, a guardar um segredo que a pintura nos ajudaria a resgatar. O humilde e isolado Bakun foi entre nós um dos primeiros paisagistas para quem o contato com a natureza, o Outro do homem, se converte no modo insigne de interrogar o destino pessoal. Modo solitário, silencioso e meditativo, que a agitação e o convívio humano anônimo e conspícuo da cidade grande tornaram impraticável. De alguma maneira, por meios e modos difusos, Miguel Bakun fez-se contemporâneo de Cézanne e Van Gogh. Ele não passava os olhos sobre as reproduções de suas telas, a essa altura, já emblemáticas; à sua medida, ele as introjetava, examinava a fundo, até as últimas partículas de seu ser.

 

A cronologia termina, assim, quase irrelevante. O que importa é que essas pequenas telas introspectivas, que adquirem direito de cidadania como linguagem moderna inicial nos tardios anos 1940, continuam a seduzir e intrigar o olhar contemporâneo. Quer dizer, permanecem e, para muitos de nós, só agora aparecem como agentes do nosso acervo simbólico modernista, instintivamente envolvidas que estavam com o difícil processo de formação do sujeito estético moderno no Brasil. Junto às telas de uns poucos pares, Guignard, Pancetti e um Alfredo Volpi que ainda preparava o salto mortal em direção à plena pintura autônoma, elas nos levam a interrogar o presente de nosso passado modernista. Porque, visivelmente, o atualizam.

Galeria Marcelo Guarnieri/São Paulo

17/out

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, de 17 de outubro a 14 de novembro, em sua sede de São Paulo, as exposições de Amelia Toledo e Zé Bico (José Carlos Machado). Zé Bico apresentará na Sala 1 um conjunto de esculturas produzidas durante os últimos quatro anos, exibidas pela primeira vez. Amelia Toledo ocupará a Sala 2 com pinturas da série “Horizontes”, produzidas em 2012 e “Poço”, escultura produzida entre a década de 1990 e os anos 2000.

 

Formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, Zé Bico (José Carlos Machado) produz e expõe como artista desde meados da década de 1980. Em sua terceira exposição individual na Galeria Marcelo Guarnieri, Zé Bico apresenta uma pesquisa sobre forças de atração e efeitos ópticos desenvolvida nos últimos quatro anos a partir de uma variedade de procedimentos que deram origem a peças de madeira, vidro e espelho. Ter trabalhado por tantos anos com ímãs na produção de suas obras permitiu ao artista desenvolver uma prática baseada em movimentos sutis, de cálculos exatos, gerados não por métodos teóricos, mas sim empíricos. A partir da força magnética dos ímãs, Zé Bico amplia sua investigação sobre o equilíbrio e a instabilidade, explorando, através de novos objetos, a força gravitacional. Daí surgem peças pendentes feitas em madeira que se articulam em conjunto e percorrem uma trajetória que vai do alto, rente ao teto, até uma base que as permitem pousar. O desenho dessas peças pendentes, cubos incompletos que se formam apenas por algumas arestas, se repete em algumas outras que compõem a exposição. Também parecem desintegrados nas peças que nos remetem a encaixes: ainda mais distantes do contorno e volume original do cubo, suas partes se montam umas sobre as outras em diversas posições de equilíbrio.

 

É nas peças em que trabalha com o vidro e com o espelho que leva a ideia de desintegração mais além. Em “Piano”, da série “Eu não vi” (2017/2019) faz uso de um vidro temperado que, a depender da distância em que se olha, vira um espelho. Dessa maneira, os cubos de ferro dispostos em ambos as faces do vidro, ora se revelam, ora se duplicam ou desaparecem. Já na peça em que posiciona uma placa de alumínio quadrada pendendo frente a um espelho também quadrado de mesmas dimensões, trabalha não só com os efeitos da superfície reflexiva, mas integra na composição um duplo que se forma pela sombra. Mais uma vez as questões referentes ao equilíbrio e a instabilidade aparecem, agora associadas a outro ramo da física: a óptica. A prática de Zé Bico, no entanto, dispensa cálculos matemáticos e elaborações teóricas: suas descobertas provêm das experiências cotidianas.

 

Indo contra todas os ângulos retos que compõem a maior parte das obras da mostra, está a dupla de ovos de ganso e laca. Como se estivessem paralisados no tempo, se equilibram de maneira pouco usual. Também contrário às demais peças da exposição que tratam de vazios e desaparecimentos, o ovo é o símbolo do nascimento, um invólucro que guarda um conteúdo repleto de possibilidades. Tendo sido produzidos durante quatro anos, a dupla tal como se vê é resultado do processo de endurecimento da gema associado à escolha de Zé Bico pela composição. Embora não se toquem, o arranjo dos ovos nos remete à ideia de peso e contrapeso, bem como às esculturas anteriores que o artista fazia com ímãs. “A Beira do abismo” (2019) trata da mesma lógica, em uma relação de peso e contrapeso entre o cubo de madeira e as barras de latão. No limite da instabilidade, suscitam em nosso imaginário a possibilidade da queda, assim como todas as outras peças, parecem estar por um triz.

 

Dentre as diversas exposições individuais e coletivas realizadas, destacam-se as seguintes: Projeto Macunaíma, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil; O Reducionismo na Arte Brasileira (19º Bienal de São Paulo), Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil; Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, Fortaleza, Brasil; O Estado da Arte, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil.

 

 

Nova exibição de Ascânio MMM

01/out

A Casa Triângulo, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a exposição individual de Ascânio MMM. A curadoria é de Guilherme Wisnik. As peças espaciais de Ascânio MMM têm uma vocação pública, que denota seu vínculo de base com a tradição construtiva e, mais especificamente, uma proximidade com a Arquitetura, e com a noção de estrutura. Por isso é que muitos desses trabalhos tenham sido instalados em espaços abertos, fora de galerias ou museus.

 

No caso dessa exposição, a tipologia piramidal, remetida a formas históricas totêmicas, combina-se a um novo trabalho mais aberto e abstrato (Quasos/Prisma 1), cuja escala permite que as pessoas penetrem o seu espaço interior e o atravessem. Dependendo do ângulo pelo qual olhamos as peças espaciais de Ascânio – Quasos e Piramidais -, elas assumem aspectos mais sólidos ou mais vazados, dada a profundidade dos perfis utilizados.

 

Até 01 de novembro.

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Salgado no Sesc Paulista

24/set

A exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” é a atração do Sesc Paulista, Bela Vista, São Paulo, SP. O trabalho do fotógrafo Sebastião salgado conta com 56 fotografias que retratam a realidade dos cerca de 50 mil brasileiros que abriram mão de tudo para tentar a sorte nos garimpos de Serra pelada, no Pará.

 

Dentre as fotografias selecionadas para a exposição, se encontram 31 imagens inéditas que também foram captadas durante o período que Salgado passou na região ainda explorada, em 1986. Assim como as já conhecidas, as recém-apresentadas ao público também foram feitas em preto e branco, ressaltando os contrastes do que aparenta ser um formigueiro humano.

 

Além de serem encontradas na exposição física, que tem curadoria de Lélia Wanick Salgado, esposa do fotógrafo, as obras também estão presentes no formato de livro, havendo uma versão para o público geral e outra para colecionadores, ambas editadas pela Taschen.

 
Até 03 de novembro

 

Juntos, Caciporé & Toyota

23/set

Caciporé Torres e Yutaka Toyota inauguram “Caciporé & Toyota – Formas em União | Dicotomia em Diversidade Visual – Ocidente & Oriente”, com curadoria de Issao Minami, no Clube Atlético Monte Líbano, Jardim Luzitânia, São Paulo, SP. A mostra representa um conjunto de obras escultóricas que demonstram a transformação da matéria bruta da natureza em formas espaciais de grande significância visual – as quais ocupam espaços públicos e convivem harmoniosamente com complexos arquitetônicos -, em um encontro histórico que diz respeito à amizade, ao amor e à esperança.

 
“Oriente é o lado do horizonte onde o Sol aparece pela manhã. Ocidente é o lado do horizonte onde o Sol se põe, ao fim do dia. Assim, ‘Oriente & Ocidente’ é nascente e poente, é dicotomia. Dicotomia por ter o mesmo caminhar – tanto faz – do Ocidente & Oriente ou do Oriente & Ocidente! Afinal Oriente, mais introspectivo, cultiva um despertar do divino de dentro para fora e o Ocidente, mais expansivo, faz o caminho da busca ascendente de baixo para cima, do Deus que está nos céus”, comenta o curador Issao Minami.

 

De 25 de setembro a 13 de outubro.

Pierre Verger e Carybé em livro

04/set

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, de 12 a 28 de setembro, a exposição comemorativa para o lançamento da nova edição do livro “Lendas Africanas dos Orixás” de Pierre Verger e Carybé, publicado pela Fundação Pierre Verger. Para a mostra, foram selecionadas fotografias vintages Palácios Reais de Abomey feitas desde meados da década de 1930 até o final da década de 1970 durante cerimônias de culto aos Orixás na cidade de Salvador da Bahia, no Benin e no Haiti. Este conjunto inclui não somente as cenas dos rituais que Verger presenciou, como também os objetos de culto e os instrumentos musicais, também sagrados. Três fotografias feitas em 1936 em Abomey, no Benin, registram detalhes de alguns dos baixo-relevos que integram a fachada do complexo dos Palácios Reais de Abomey. Construídos pelos povos Fon entre meados do século XVII e finais do século XIX, foram designados pela Unesco em 1985 como Patrimônio da Humanidade. Animais míticos esculpidos nas paredes de argila simbolizavam as características dos reis e suas qualidades como governantes, fazendo da arquitetura também um memorial. Além das fotografias de Verger, poderão ser vistos na exposição os desenhos originais de Carybé que foram produzidos para o livro.

 

Grande clássico da mitologia dos deuses africanos, “Lendas Africanas dos Orixás” é um dos títulos mais procurados por pesquisadores, religiosos e interessados em assuntos da diáspora africana. O livro traz um compilado de lendas, cuidadosamente coletadas por Verger em 17 anos de sucessivas viagens pela África Ocidental, desde 1948, período em que se tornou Babalaô (1950) e quando recebeu do seu mestre Oluô o nome de Fatumbi. Todas essas lendas foram anotadas por Verger a partir das narrativas dos adivinhos babalaôs africanos. O livro foi publicado pela primeira vez em 1985 pela editora Corrupio. Esta nova edição, em capa dura, apresenta como novidades o texto do prefácio assinado por Reginaldo Prandi além de um aplicativo para smartphones que permite ouvir as narrações de todas as lendas do livro feitas por Vovó Cici.

 

No sábado seguinte à abertura, no dia 14 de setembro, Vovó Cici estará presente para narrar essas e outras lendas da cultura dos cultos aos deuses africanos. Vovó Cici é Nancy de Souza, Ebome do Ilê Axé Opô Aganju e contadora de histórias da Fundação Pierre Verger.

 

A exposição na Galeria Marcelo Guarnieri marca o lançamento do livro em São Paulo. “Lendas Africanas dos Orixás” foi lançado apenas na Bahia, em agosto, durante a Festa Literária Internacional do Pelourinho – FLIPELÔ, no Centro Histórico de Salvador. Em 14 de setembro o livro será lançado no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa.

 

Sobre o artista

 

Pierre Verger – 1902 – Paris, França – 1996 – Salvador, Bahia. Além de fotógrafo, Pierre Verger era também etnólogo, antropólogo e pesquisador. Durante grande parte de sua vida, esteve profundamente envolvido com as culturas afro-brasileiras e diaspóricas, direcionando uma especial atenção aos aspectos religiosos, como os cultos aos Orixás e aos Voduns. Antes de chegar à Bahia, no Brasil, em 1946, Verger trabalhou por quase quatorze anos viajando pelo mundo como fotógrafo, negociando suas imagens com jornais, agências e centros de pesquisa, e em Paris, mantinha ligações com os surrealistas e antropólogos do Museu do Trocadéro. Nos quatro anos que antecederam sua chegada, passou pela Argentina e pelo Peru, trabalhando por um tempo no Museo Nacional de Lima. Ao chegar no Brasil, colaborou com a revista O Cruzeiro e em Salvador, onde foi viver, pôde registrar, de uma maneira muito particular, o cotidiano de uma cidade essencialmente marcada pela cultura da África Ocidental. Seu fascínio por aquilo ou por aqueles que fotografava ia além da imagem, havia um interesse pelo contexto, suas histórias e tradições, algo que pode ser notado não só em seu trabalho com a fotografia, mas também com a pesquisa. Pierre Verger integra-se de tal maneira à Bahia e sua cultura que em 1951 passa a exercer a função de ogã no terreiro Opô Afonjá de Salvador e no Benin, África, torna-se babalaô.

Estranhamente comum

03/set

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Pina Estação – Largo General Osório, 66, 4º andar – Luz, São Paulo, SP, apresenta, até 28 de outubro de 2019, a exposição “Marepe: estranhamente comum”. Com curadoria de Pedro Nery, curador do museu, trata-se da primeira grande exposição individual do artista baiano em São Paulo que propõe oferecer uma visão abrangente de sua trajetória, iniciada na década de 1990. O conjunto de 30 obras evoca poeticamente uma memória pessoal que se entrelaça à sua cidade natal.

 

Marepe (Marcos Reis Peixoto) nasceu na cidade de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano, em 1970. Situada a leste da Baia de Todos os Santos, conecta o sertão ao mar, tornando-se importante eixo por onde passam as mais diversas mercadorias, de materiais de construção a alimentos. A partir desse vai-e-vem de objetos e pessoas, além da própria história familiar, o artista extrai e elabora suas obras.

 

No processo, Marepe se vale de procedimentos recorrentes da arte contemporânea como o acúmulo e a retirada de objetos de suas funções cotidianas. No entanto, suas obras sugerem dimensões especulativas, alterando a escala, a forma e significado de materiais encontrados ali, para daí criar peças oníricas. Para organizar sua retrospectiva na Pinacoteca, a curadoria destacou três verbos, ou atos simbólicos, aos quais o artista recorre com constância em sua trajetória: mover, transformar e condensar. “Os verbos não são pensados como algo fechado, e sim como elemento guia, permitindo aprofundar o olhar simbólico que as próprias obras sugerem“, explica Nery.

 

Em “Mover”, estão reunidos trabalhos que demonstram, por exemplo, a ação fundamental da prática de Marepe que é a retirada do objeto de seu circuito usual – comercial, urbano ou produtivo – para inseri-lo no campo artístico. O que o artista move não são simples objetos, mas coisas que se relacionam com seu passado e a vida ao seu redor. Daí a ideia da mobilidade como eixo estrutural das obras que ali se apresentam a exemplo de “Mudança” (2005) e “Embutido Recôncavo” (2003). Feitas com móveis de madeira e apresentadas juntas, elas repensam o movimento das próprias formas e das vidas de pessoas que se deslocam de maneira precária.

 

Já “Periquitos” (2005) é uma peça que remete a esse ambiente doméstico e que traz um movimento de escala e de desproporção ao apresentar uma televisão agigantada, desestabilizando, assim, a convenção deste objeto tão familiar. “É interessante pensar nesse desajuste em que existe uma casa, no caso de “Embutido Recôncavo”, onde a televisão não cabe. O ato de mover é, em Marepe, mudar tudo de lugar, desintegrar as relações que parecem ser ordinárias. É tirar do lugar o que convencionamos acreditar ter ordem, para procurar a própria realidade que subjaz ao nosso redor”, define o curador. Essa é a primeira montagem da peça no Brasil, originalmente pensada para sua apresentação na individual do artista no Centre Pompidou, em Paris.

 

Em “Transformar”, são expostos trabalhos cujos objetos de composição sugerem um novo arranjo narrativo. Neste sentido, “O retrato de Bubu” (2005), pertencente ao acervo da Pinacoteca, traz a imagem do avô do artista que, em sua primeira apresentação para a mesma individual no Pompidou, foi pendurado ao lado do retrato de Georges Pompidou, na entrada daquele museu, em Paris. Ao sustenta-los, sob a mesma linguagem, o artista coloca o ex-presidente e seu avô Bubu em pé de igualdade. Aqui, o ato de transformar se dá na medida que o artista relativiza a ordem social, pessoal e geográfica.

 

E, por fim, em “Condensar”, estão reunidos trabalhos que beiram a livre associação, revelando o desejo do artista de compor ideias díspares com recursos simples, oferecendo uma materialidade à serviço da imaginação. Exemplo disso são as imagens “Doce céu de Santo Antônio” (2001), em que o artista é visto de baixo para cima retirando um pedaço de algodão-doce contra o azul do céu e trazendo para sua boca, comendo um pedaço de nuvem desse céu doce imaginado, trazendo, literalmente, o sonho para a realidade. Também é o caso da obra “Chorinho” (2009), feita com carretéis de linha de costura azuis suspensas, que caem fio por fio em tonalidades diferentes até o chão. “Chorinho é uma expressão direta da palavra-ideia e de sua formalização plástica, esses fios que escorrem como lágrimas e caem sobre o chão”, explica Nery. “As obras de Marepe parecem respeitar algumas ações bastante reguladas ao longo de toda a trajetória. O que muda é a forma de interpretar o mundo ao seu redor, e então surge uma nova obra que nos obriga a reinterpretar tudo à nossa volta”, finaliza.

 

Catálogo

 

“Marepe: estranhamente comum” é acompanhada de um catálogo que inclui apresentação do diretor geral da Pinacoteca Jochen Volz, texto introdutório ao artista pelo curador Pedro Nery, ensaios de Raphael Fonseca e Yan Braz, além de uma cronologia crítica por Thierry Freitas. O volume tem cerca de 60 imagens que ilustram os trabalhos mais importantes da trajetória do artista. Português e inglês.

 

Foto MIS 2019

30/ago

Anualmente, o Museu da Imagem e do Som, jardim Europa, São Paulo, SP, dedica um espaço na agenda de programação para exposições exclusivamente de fotografia com obras de artistas nacionais e internacionais. Este ano, o FOTO MIS – antigo “Maio Fotografia” – fica em cartaz de 31 de agosto a 13 de outubro, quando todos os espaços expositivos do Museu serão tomados por obras de artistas singulares e fundamentais na história da fotografia.

 

O FOTO MIS 2019 apresenta as exposições “Todos iguais, todos diferentes?”, do fotógrafo francês Pierre Verger, com uma seleção de retratos realizados entre as décadas de 1930 e 1970 ao redor do mundo; “Estudos fotográficos: 70 anos de memória”, remontagem da primeira exposição individual do fotógrafo Thomaz Farkas e primeira exposição de fotografia realizada em um museu de arte no Brasil; “Caretas de Maragojipe”, de João Farkas, sobre o carnaval como patrimônio imaterial do recôncavo baiano, e “Haenyeo, mulheres do mar”, de Luciano Candisani, que retrata a vida de um grupo de mulheres que vivem na Coreia do Sul e seguem a tradição secular de mergulhar utilizando apenas o ar de seus pulmões para colher produtos marinhos.

 

Integram, ainda, o FOTO MIS a mostra “Moventes”, com obras do Acervo MIS, que conta com curadoria de Valquíria Prates, e “Onde tudo está”, individual de Beatriz Monteiro, projeto selecionado pelo programa anual do MIS, Nova Fotografia 2019.

 

Além das exposições, o FOTO MIS 2019 conta com uma extensa programação paralela. No dia 31 de agosto, abertura da mostra, o MIS realiza ciclo de conversas com os fotógrafos e curadores, visitas guiadas e lançamentos de livros relacionados às exposições, cursos de fotografia, atividades educativas, uma edição da Foto Feira Cavalete e a Maratona Infantil | Especial Fotografia integram a programação paralela.