A natureza vista por Rodrigo Bivar

21/jul

 

 

Rodrigo Bivar apresenta a exposição individual “Breve” na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP. A mostra faz parte do II Ciclo Expositivo de 2022 da instituição e reverbera a produção figurativa do artista. As dezessete pinturas, todas em pequeno formato, trazem pássaros e naturezas mortas, criando uma continuidade do interesse de longo prazo do artista em cenas cotidianas, natureza e retratos.

 

Neste conjunto, Bivar voltou-se à representação de elementos que poderia nomear, orientando-se para o seu entorno. Na série “Bípedes”, fez retratos de passarinhos, explorando um recorte de imagem que se assemelha a uma fotografia, explorando um olhar que humaniza esses animais. O artista ressalta, nesta mostra, a efemeridade, o curto instante que temos para observar um pássaro, que geralmente rapidamente alça voo.

 

Em “Breve” observamos o esforço de captar o transitório e registrá-lo por meio da tinta na tela. A exposição fica aberta até 18 de setembro, uma rara oportunidade de adentrar o universo proposto por Rodrigo Bivar.

 

Duas mostras no MASP

 

 

O MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, abriga duas exposições poderosas que apontam uma parte da diversidade nacional: “Dalton Paula: Retratos Brasileiros”, com pinturas sobre lideranças e personalidades negras; e “Joseca Yanomami: Nossa Terra-Floresta”, com obras sobre a vida e a cosmologia do povo Yanomami. As duas mostras ficam em cartaz de 29 de julho a 30 de outubro.

 

Arte negra

 

Com curadoria de Adriano Pedrosa, Glaucea Britto e Lilia Schwarcz, a mostra “Retratos Brasileiros” reúne 45 pinturas – muitas delas inéditas – do artista contemporâneo brasiliense Dalton Paula. Ele produziu 12 desses trabalhos com apoio do MASP, e, por isso, as obras foram doadas para a instituição. As pinturas retratam lideranças e personalidade negras que foram historicamente invisibilizadas no Brasil. As obras são o resultado de um longo processo criativo, que passa por um estudo de biografias dos homenageados e a coleta de documentos sobre eles, como fotos e recortes de jornal. Entre essas figuras, estão a escritora Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra no país; Manuel Congo, o líder da maior rebelião de escravos no Vale do Paraíba; e Assumano Mina do Brasil, um famoso alufá (nome dado aos líderes religiosos muçulmanos no norte da África) no Rio de Janeiro. Em sua investigação, o artista busca ressignificar e dar protagonismo às contribuições de personalidades afrodescendentes.

 

Arte Yanomami

 

Já a mostra “Nossa Terra-floresta” é pautada pela celebração aos 30 anos da homologação da terra indígena Yanomami. Com curadoria de Adriano Pedrosa e David Ribeiro, a exposição reúne 93 desenhos do artista Joseca Yanomami, que retrata personagens, cenas, paisagens, mitologia desse povo indígena. O artista adota como referência a floresta amazônica e os vários seres que a habitam. Os cantos xamânicos, a vida cotidiana dos Yanomami e as lutas das lideranças indígenas e dos espíritos também são elementos presentes nas obras, que foram produzidas entre 2011 e 2013. Muitos dos desenhos são acompanhados por descrições feitas originalmente em yanomami pelo artista e que dão conta das dimensões cosmológicas presentes em sua narrativa visual. A obra “Urihi xi wãrii tëhë thë urihi huëmaɨ wihi thëã (Os xamãs seguram a terra quando esta entra em caos)”, de 2011, por exemplo, se preocupa em demonstrar o trabalho de preservação da terra pelos xamãs.

 

 

Para conhecer e debater

20/jul

 

 

O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São Paulo, SP, tem buscado, ao longo de seus quase dezoito anos de existência, valorizar e promover a herança de matriz africana no Brasil por meio do mapeamento, preservação, pesquisa e difusão de suas diferentes manifestações culturais e das múltiplas criações delas originadas. O histórico de encontros, palestras, congressos e cursos realizados e acolhidos pelo museu desde sua inauguração, em 2004, é vasto e compreende, igualmente, eventos que buscam refletir e discutir sobre as produções no próprio continente africano, tanto as contemporâneas quanto aquelas que refletem diferentes momentos de sua história.

 

Com o objetivo de diversificar ainda mais essa atuação e se consolidar como um espaço de encontro, reflexão e construção coletiva de conhecimento e de partilha de saberes e experiências, o Museu Afro Brasil lançou, no primeiro semestre de 2022, a Escola MAB – Escola do Museu Afro Brasil.

 

Artes Visuais e História da Arte a partir do MAB, no qual serão abordadas e discutidas questões formais e conceituais acerca de obras e coleções que integram o acervo do Museu Afro Brasil, assim como das temáticas que as cercam e que delas emanam, compreendendo as lacunas e ausências em sua constituição. Tais cursos compreenderão também aspectos relacionados às exposições temporárias realizadas no museu.

 

Cursos de aperfeiçoamento técnico voltados à gestão de acervos, sua conservação, documentação e estratégias de difusão, além de montagem de exposições, restauro, entre outros, oferecidos por especialistas e profissionais renomados na área.

 

Cursos na área do Patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, contemplando diferentes linguagens e manifestações como a música, a literatura e as artes cênicas. Serão igualmente oferecidos cursos de introdução a idiomas falados no continente africano.

 

E, finalmente, a série O Pensamento de …  oferecerá cursos que abordarão a produção de intelectuais africanas(os) em diferentes áreas de conhecimento, trazendo ao público uma introdução a uma produção ainda pouco conhecida e debatida no Brasil e no mundo.

 

Em seu curso inaugural, “Artistas Africanas – Olhares Contemporâneos”  lançado no mês de maio, a Escola MAB apresentou um panorama contemporâneo do trabalho de oito artistas mulheres, originárias de distintas regiões do continente africano. Da cerâmica à pintura, da performance à instalação, da fotografia ao vídeo, suas obras abarcam múltiplas linguagens e revelam a diversidade da produção artística africana contemporânea.

 

No segundo semestre de 2022, a Escola MAB dará continuidade e aprofundará a reflexão sobre as formas e caminhos pelos quais a produção artística africana e seus artistas se fizeram e se fazem presentes nas instituições museológicas e no circuito artístico do Brasil e do mundo. Serão oferecidos cursos sobre as cenas artísticas em países como Angola, Moçambique e Senegal e as aulas serão ministradas tanto por professores brasileiros quanto do continente africano. O público terá igualmente oportunidade de participar do curso “Introdução à arte africana a partir do acervo do MAB”.

 

Dentro do Eixo Cursos de aperfeiçoamento técnico, os cursos “Gestão de acervos em Museus” (em formato de workshop presencial de um dia e, posteriormente, de curso extensivo virtual) e “Exposição de arte e o olhar do conservador” ampliarão o campo de atuação da Escola, abarcando os diferentes aspectos técnicos envolvidos no trabalho de um profissional de museu.

 

Finalmente, a série “O Pensamento de …”  terá início com uma introdução ao pensamento do intelectual ugandense Mahmood Mamdani, reconhecido como um grande especialista em política africana e internacional, autor de obras que exploram a interseção entre política e cultura, os estudos comparativos do colonialismo, a história da guerra civil e do genocídio na África e a história e teoria dos direitos humanos, dentre outros temas.

 

A Escola MAB oferecerá materiais de apoio aos alunos, assim como certificados aos participantes (mediante comprovação de 75% de frequência às aulas), além de bolsas de estudos a professores da rede pública de ensino e a pessoas pretas, indígenas, trans, travestis e em situação de vulnerabilidade social. Os cursos serão propostos em diferentes modalidades, virtual, presencial ou híbrida,  e em diferentes horários. A carga horária também terá variação de acordo com o programa do curso oferecido.

 

Iberê no Festival de Cinema de Gramado

 

 

O filme em curta-metragem sobre a produção de Iberê Camargo será exibido no Festival de Cinema de Gramado. O documentário “Tudo permanece em constante movimento”, da artista visual Cristine de Bem e Canto, foi selecionado para o 50° Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curta-metragem Gaúcho. Com sete minutos de duração, o filme será exibido no dia 14 de agosto, no Palácio dos Festivais, com entrada gratuita.

 

O filme nasceu a partir da participação da artista no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, cujo resultado pode ser conferido no Google Arts & Culture da Fundação Iberê Camargo, instituição parceira do projeto “Iberê Camargo: um corpo fotográfico”.

 

Em 1992, ao acompanhar a produção de guaches das séries “Andando contra o vento” (1993) e “O homem da flor na boca – um ato de amor à vida” (1992) e da pintura “Tudo te é falso e inútil V” (1993), no ateliê da rua Alcebíades Antônio dos Santos, Cristine produziu aproximadamente 500 fotogramas em preto e branco. As imagens ficaram guardadas durante 30 anos e foram retomados em 2022 para a produção de um livro digital.

 

Com o transcorrer do tempo, essas fotografias revelaram uma nova potência: ao dedicar-se a transposição do analógico para o digital, no tratamento das imagens, a artista percebeu a integração do corpo do pintor com o próprio corpo da pintura e, também, do espaço que ambos habitavam.

 

“Porque tu tiras tantas fotos?” – perguntou Iberê a Cristine. Esta resposta só viria décadas depois: para colocar o corpo do pintor uma vez mais em movimento. Para isso, ela precisou também da animação que o vídeo possibilita. Aliado ao trabalho de design de som, que reforça a corporificação do espaço e seus afetos, assim surgiu o documentário. No tratamento das fotografias, alguns movimentos e gestos de Iberê Camargo quase imperceptíveis – como abrir e fechar a boca, para assimilar a mesma expressão de seu modelo, foram reativados na sequência animada das fotografias.

 

Esculturas em escala humana

18/jul

 

 

A exposição individual de Katia Politzer, Galerias A e I – 3º andar, no Centro Cultural Correios RJ, apresenta esculturas em escala humana, além de grandes instalações. A exposição “Triagem” é uma antropogonia, criação de figuras com algumas características humanas e histórias imaginárias, tendo o retrato e a cabeça como categorias da imagem. Aqui o que interessa à artista é o debate atual em torno de grupamentos humanos, envolvendo basicamente quatro vetores: movimentos identitários, multiculturalismo, migrações e xenofobia, dados em termos abstratos, refutando quaisquer sintomas de uma politicidade não-artística.

 

Com esta proposta, Katia Politzer apresenta sua exibição individual a partir do dia 21 de julho. Ocupando as Galerias A e I no 3º andar, a exposição consiste de instalações (“Sitiação”, “Captura”, “Motinada”, “Rasto” e “Banquete dos Excluídos”) e esculturas (“Saga”, “Fortuna” e  “Matroca”), inéditas, realizadas a partir de 2020. Materialmente híbridas, (cerâmica, vidro, ferro, tecido, cimento, silicone e poliestireno), variam do pequeno ao grande formato, com peças moldadas em escala humana, utilizando seu próprio corpo ou de modelos. As cabeças, rostos, máscaras e transfigurações de corpos às vezes perdem a configuração humana arquétipa, e se tornam disformes ou desconstruídos, podendo revelar processos psíquicos internos ou talvez anunciando o pós-humano do fim do Antropoceno.

 

“Triagem é o processo de separação que determina prioridades. Desde o século X, a sociedade contemporânea vem sofrendo grandes mudanças na sua estrutura, fragmentando paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, idade e nacionalidade, levando a crises e à violência gerada pela intolerância à Diversidade. E também a crises de Identidade, embora a escala do mundo não seja mais a do sujeito individual, mas do coletivo. Reconheço que como mulher branca idosa privilegiada muitas vezes não tenho lugar de fala. Mas, sem tirar o protagonismo de quem tem, me posiciono num mundo contemporâneo em constante mutação, com visão crítica contra qualquer tipo de injustiça e segregação social”, diz Katia Politzer, levantando algumas questões. “Que mudanças estão acontecendo em quem procura por si?  Como incluir na comunidade humana diferentes rostos, corpos, desejos e histórias singulares, muitas vezes condenados à invisibilidade, à inexistência estética e política?”, questiona ela.

 

Sobre a artista

 

Katia Politzer é artista visual, tendo participado de cursos livres de arte contemporânea nos Estados Unidos e no Rio de Janeiro (Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Escola Sem Sitio – com Celeida Tostes, Lelia Gonzalez, David Cury, Efrain Almeida, Franz Manata, Alexandre Sá e Marcelo Campos). É graduada em Artes pela EBA/UFRJ. O trabalho de Katia Politzer se desenvolve em projetos. Dependendo da base conceitual, podem ser desenho, pintura, escultura ou instalação, em formatos do pequeno ao grande, e com variadas relações com a História da Arte. A partir de objetos do cotidiano, investiga questões da memória e das relações pessoais – do afeto à exclusão. Na Escultura de materiais inorgânicos (vidro, cerâmica, tecido) e orgânicos (pão) pesquisa processos de transformação natural pelo fogo, ar e tempo – ou determinados pelo homem, com foco em estados de interseção e ambivalência. A descriminalização de repertórios marginalizados ou negligenciados culturalmente é grande parte de pesquisas recentes da artista, todas de linhagem neo-expressionista. Do debate acerca da orientação sexual à identidade de gênero – passando pelas formas de segregação social lastreadas na cor, idade, etnia, religião – tudo lhe interessa. Artistas como o brasileiro Tunga, o alemão Thomas Schutte, a americana Christina Bothwell e a francesa Louise Bourgeois são referências diretas às noções de Arte que manipula. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

Até 03 de setembro.

 

 

Instalação de Dorys Daher

 

 

A artista goiana Dorys Daher apresenta a instalação site specific sob curadoria de André Sheik. “Que baliza você irá ultrapassar hoje?”, instiga André Sheik, curador da exposição “Fronteiras”, quando se refere à instalação site specific que a escultora Dorys Daher apresenta, até 23 de setembro, Galeria II – 3º andar, no Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro,  RJ. Ao elevar, do chão ao teto, uma barreira com dois lados de materiais e características diametralmente opostas – uma áspera e opaca, outra lisa e brilhante -, a artista propõe simular uma espécie de rasgo no espaço, expondo uma divisa que não se restringe ao aspecto físico e visual. A obra de grandes dimensões (4m de altura, 4,60m de largura e 10m de comprimento) preenche por completo o pé-direito do espaço expositivo, opondo folhas de alumínio polido a tiras escuras de lixa grossa.

 

Em grande parte de sua produção, Dorys aponta oposições, usualmente apresentadas no contraste de materiais, que tendem a se harmonizar. A artista gosta de observar os diversos lados de uma mesma questão, propondo que muitos deles dependem do ponto de vista de onde se observa. “Nossa perspectiva está condicionada às nossas vivências, às nossas experiências”, defende ela.

 

Composta por quatro tiras de alumínio polido (1m de largura e 8 m de comprimento, cada) e dezoito tiras de lixa grossa (23 cm de largura e 8 metros de comprimento cada), a instalação será colocada entre as colunas de ferro da sala, fixada por arrebites metálicos nas vigotas de ferro. À medida em que se aproximar da obra, o público será convidado a olhar para cima. Os indivíduos tornam-se singelos diante da instalação e observarão os diálogos propostos em “Fronteiras”, iniciados acima, à distância. Contando com mais do que o dobro da altura da linha do horizonte, a escala não é uma escolha puramente plástica. Trata-se de outro recurso metafórico, como explica a artista:

 

“O espaço é o cerne da minha produção escultórica e arquitetônica da artista goiana radicada no Rio de Janeiro. As duas frentes de criação se complementam, possibilitando uma abordagem singular sobre as dimensões estético-sociais que envolvem a escultura e a arquitetura. A ideia é articular criticamente o espaço a outros conceitos geográficos como lugar, território e paisagem, para evidenciar as dimensões que os conectam e diferenciam”.

 

Como uma espécie de monumento-transitório, a obra de Dorys Daher está contextualizada entre a série de movimentos que vem colocando em xeque a estabilidade das concepções de História que construíram a civilização ocidental a partir da modernidade. Mais virtuais – como as fronteiras – ou menos virtuais – como a arquitetura -, elas vêm condicionando os laços que indivíduos e grupos sociais constroem entre si.

 

Sobre a artista

 

Artista goiana radicada no Rio de Janeiro, Dorys Daher nasceu em 1958, no município de Ipameri-GO, onde passou a infância e parte da sua adolescência. Veio para o Rio de Janeiro (onde reside até hoje), iniciou na faculdade de Física e, posteriormente, graduou-se em Arquitetura e Urbanismo. Sua cidade natal, cujo nome tem origem no tupi-guarani, fica entre rios e acolheu seus avós fugindo da II Guerra Mundial. No início do século XX, a localidade teve forte influência de imigrantes estrangeiros de diversas origens: espanhóis, alemães, portugueses, italianos, tchecos, japoneses, sírios e libaneses. A experiência de trânsito está marcada na vida de Dorys, que guarda, na lembrança, histórias – que escuta desde criança – da imigração de seus antepassados.

 

A palavra do curador

 

Existem incontáveis tipos e formas de fronteiras. Elas podem ser aparentes, como um traçado no chão, cercas, muros, rios e montanhas, por exemplo. Mas há, também, as invisíveis, como diferenças culturais, idioma ou ideais instransponíveis. Cada contexto tem seus próprios riscos demarcatórios. Agora, quase tudo está na iminência potencial de se alterar, mudar de estado, passar de um lado a outro. E há aqueles que vivem entre mundos. Alguns limites são maleáveis. Por vezes, para superar um obstáculo, é preciso contorná-lo. Fronteira igualmente significa o ponto máximo a que se pode chegar. Todavia é um lugar não delimitado, posto que inalcançável. Onde ficam as bordas (ou as dobras) do Cosmos? A imaginação humana não tem fim, embora algumas ideias nos pareçam inconcebíveis. O que separa a luz da escuridão? De acordo com o Modelo Padrão da Física, a luz surgiu um milionésimo de trilionésimo de segundo após o Big Bang, a explosão que teria dado origem à forma atual de nosso Universo.

 

André Sheik, junho de 2022.

 

 

A Amazônia no Museu do Amanhã

 

 

A exposição “Amazônia”, de Sebastião Salgado, chega ao Museu do Amanhã, Centro, Rio de Janeiro, RJ, no dia 19 de julho para uma temporada de seis meses permanecendo até 29 de janeiro de 2023.

 

A mostra exibe o resultado de sete anos de experiências e expedições fotográficas na Amazônia brasileira. As fotografias revelam a floresta, rios, montanhas e a vida em doze comunidades indígenas. Esse denso universo marcou o olhar do fotógrafo com imagens impressionantes, em sua grande maioria mostradas ao público pela primeira vez.

 

Idealizada e concebida por Lélia Wanick Salgado, a mostra imersiva, um mergulho no coração da Amazônia, é um convite para ver, ouvir e, ao mesmo tempo, refletir sobre o futuro da biodiversidade e a urgente necessidade de proteger os povos indígenas e preservar esse ecossistema imprescindível para o planeta.

 

Composta por quase 200 painéis fotográficos, a exposição tem causado impacto por onde passa – como França (Museu da Música, Filarmônica de Paris), Itália (MAXXI Museu, em Roma) e Inglaterra (Museu da Ciência, em Londres) – lembrando quão impressionante a vida na floresta é, seja na visão aérea que traz a curva luminosa de um rio, seja nos minuciosos adornos utilizados pelos povos originários. O patrocínio master é da Seguradora Zurich, que também apoia o Instituto Terra, projeto dos Salgado de recomposição da mata nativa no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais; patrocínios ouro da Natura e do Itaú.

 

Diálogo espacial no MON

15/jul

 

 

O MON, Curitiba, PR, promove a exposição coletiva “Ópera Citoplasmática”, com a participação de vinte três artistas e cerca de setenta obras, ocupando o espaço do Olho. A curadoria é de Diego Mauro e Luana Fortes. A curadoria adjunta e concepção é de João GG.

 

“Ópera Citoplasmática” propõe um diálogo com o próprio espaço expositivo do Olho, fazendo com que a sua especificidade arquitetônica participe do projeto. A luminosidade controlada do local possibilita um desenho expográfico e uma ambientação experimental, incorporando a curvatura do teto e o vidro escuro das janelas imensas como elementos importantes.

 

A seleção dos artistas considerou a multiplicidade de linguagens, que inclui desde as mais tradicionais pintura e escultura, passando por instalações, vídeos, projeções de texto, intervenções sonoras feitas especialmente para a exposição e interferências espaciais.

 

Os participantes são Boto, Darks Miranda, Fernanda Galvão, Gabriel Pessoto, Giulia Puntel, Hugo Mendes, Iagor Peres, Ilê Sartuzi, Janaína Wagner, João GG, Juan Parada, Juliana Cerqueira Leite, Luiz Roque, Mariana Manhães, Marina Weffort, Maya Weishof, Miguel Bakun, Motta & Lima, Paola Ribeiro, Rafael RG, Renato Pera, Rodrigo Evangelista e Wisrah Villefort.

 

Formas e cores de Maurício Nogueira Lima

14/jul

 

A exposição traz um conjunto de serigrafias produzidas pelo artista entre 1971 e 1995. O Museu de Arte Contemporânea da USP, Ibirapuera, São Paulo, SP,  apresenta a exposição “Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor”, com vinte serigrafias do acervo do Instituto que leva o nome do artista e uma pintura de coleção particular. Para Stela Politano, curadora do Instituto Maurício Nogueira Lima, “…as serigrafias demonstram o amadurecimento do artista concreto e um momento de maior liberdade no uso e desenvolvimento das suas pesquisas cromáticas”. Documentos e estudos realizados pelo artista complementam a mostra.

 

Sobre o artista

 

Maurício Nogueira Lima (1930-1999) foi o mais jovem integrante do Grupo Ruptura, que reuniu artistas abstratos geométricos no início da década de 1950 em São Paulo. Ao lado de Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto e Waldemar Cordeiro, construiu uma carreira importante como artista concreto e suas obras estiveram presentes nas Bienais de São Paulo (III, IV e V). Em 1960, foi convidado pelo suíço Max Bill para tomar parte da mostra de Arte Concreta em Zurique. Nogueira Lima experimentou um retorno à figuração após o golpe de 1964, aproximando-se de imagens dos meios de comunicação de massa. Em 1967, colaborou com a exposição Nova Objetividade Brasileira (MAM Rio) e assinou o manifesto coletivo Declaração de Princípios Básicos da Nova Vanguarda. No início dos anos de 1970, Nogueira Lima volta suas pesquisas para os efeitos ópticos da cor tendo como base a abstração geométrica, retomando a arte concreta como método e princípio artístico. “A reprodutibilidade do objeto artístico e sua democratização, ideais encontrados no manifesto dos concretos paulistas, são experimentados em seus múltiplos serigráficos”, observa a curadora. É também na década de 1970 que o artista direciona o olhar aos problemas visuais do meio urbano na tentativa de repensar o espaço para neutralizar a poluição urbana por meio da cor. Muitos desses estudos e projetos ainda podem ser visitados, como a Empena São Bento (1979) e as paredes/estruturas lineares das estações de metrô Santana e São Bento (1990), onde se pode observar alguns dos mesmos elementos plásticos de suas serigrafias. Maurício Nogueira Lima buscava a seriação e a multiplicação da forma e da cor, visando uma redistribuição social da criação artística que tanto o fascinava, preocupado em expandir seus estudos e multiplicá-los entre os pares, os alunos, os professores, os amigos e o público. Nas palavras do artista, “concretizo, com formas simples e compreensíveis, as contradições que existem, numa linguagem visual direta e não verbal. Uso os recursos que sei manipular: formas e cores.”

 

 

Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor
Stela Politano
Curadora – Instituto Maurício Nogueira Lima

 

Serigrafia é uma forma de impressão/expressão. É uma informação multiplicada. A série de imagens constitui-se de múltiplos serigráficos baseados em processos fotográficos chamados fotolitos. Para Maurício Nogueira Lima, todo o processo gera apenas múltiplos, compostos de formas e cores.
A partir de 1972, Nogueira Lima realiza pesquisas sobre os efeitos ópticos da cor com base na abstração geométrica. Se detém na construção de massas de cor na estrutura bidimensional, criando outros espaços e temporalidades. Como método e princípio artístico, continua fiel à arte concreta aprendida e vivenciada desde 1952, como integrante do grupo Ruptura. A reprodutibilidade do objeto artístico e sua democratização, ideais encontrados no manifesto dos concretos paulistas, são experimentados em seus múltiplos serigráficos, estabelecendo um universo de encontros poéticos entre formas e cores, resultando em uma estrutura informativa e de impacto óptico.
A exposição Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor apresenta serigrafias que demonstram o amadurecimento do artista concreto e um momento de maior liberdade no uso e desenvolvimento das suas pesquisas cromáticas, fato que pode ser verificado no conjunto documental e nos estudos que complementam a exposição. O artista-arquiteto modela o espaço por meio da cor, na construção geográfica de superfícies coloridas, criando volumes com o deslocamento da linha ou sobreposição de sombras e leveduras. Compôs com o rigor técnico do arquiteto, do artista concreto, do profissional plástico que se tornou ao longo dos anos.
Disciplinas como a matemática, a física, a geometria, a história e a filosofia se tornam veículos para a criação artística, fomentando a intuição e a sensibilidade por outros caminhos. Os concretos paulistas estiveram envolvidos com a pesquisa plástica concreta, com o aprendizado de técnicas de produção e com o exercício profissional emergente. Uma geração responsável e politicamente comprometida com o trabalho artístico e a democratização do seu acesso.
Também é na década de 1970 que Maurício Nogueira Lima direciona seu olhar aos problemas visuais do meio urbano, tendo como objeto de pesquisa a própria cidade de São Paulo. O intuito era repensar o espaço para neutralizar a poluição urbana por meio da cor. Muitos desses estudos e projetos, como a Empena São Bento (1979) e as paredes/estruturas lineares das estações de metrô Santana e São Bento (1990), ainda podem ser visitados. Neles, pode-se encontrar alguns dos mesmos elementos plásticos das serigrafias. Maurício Nogueira Lima buscava a seriação e a multiplicação da forma e da cor, visando uma redistribuição social da criação artística, rememorando o início da arte construtivista soviética, solidária e democrática, que tanto o fascinava. O ativismo político, antes trabalhado segundo a semântica pop na década de 1960, ganha efeitos cinéticos de cor numa atuação sensível do artista, preocupado em expandir seus estudos e multiplicá-los entre os pares, os alunos, os professores, os amigos e o público. Em suas palavras, “concretizo, com formas simples e compreensíveis, as contradições que existem, numa linguagem visual direta e não verbal. Uso os recursos que sei manipular: formas e cores”.

 

Até 25 de setembro.

No Paço Imperial e no Espaço OASIS

 

 

Ricardo Ribenboim presente em dois momentos singulares: o resgate do passado e a criação do novo presente!

 

O artista plástico Ricardo Ribenboim exibe, em datas sequentes no circuito cultural do Rio de Janeiro, após uma ausência de 18 anos, duas exposições individuais: “Rastro dos Restos”, no Paço Imperial e “O Acaso” no Espaço OASIS. As duas mostras estão sob curadoria de Yuri Quevedo. As 120 obras inéditas em exibição, mesmo não se apresentando como recortes de um todo, oferecem dois aspectos complementares e elucidativos da produção do artista nos últimos 5 anos. Em “Rastro dos Restos”, os trabalhos dialogam com o tempo e exibe a consciência do artista sobre o curso da história, a passagem do tempo e a finitude das coisas de onde surge a possibilidade de transformação do todo em vestígios. Já em “O Acaso”, há o compartilhamento por parte do artista, de seu processo criativo onde ressignifica fragmentos de trabalhos antigos. Ricardo Ribenboim oferece a proposição de convivência com o mutável e o incerto, sem buscar frear o fluxo dos eventos e da vida, mas admirando-os como uma força estética.

 

“Em cada um dos espaços a produção de Ricardo Ribenboim é vista sob um aspecto diferente. No Paço Imperial, temos a investigação mais recente do artista, que parte de rastros do passado para configurar o novo. Já no Oasis, espaço de residências experimentais, estão aquelas obras onde ele compartilha conosco  seu processo de trabalho e os entraves para elaborar aquilo que o rodeia.”, explica o curador.

 

“Rastro dos Restos” – Paço Imperial

 

“A partir da lembrança, Ribenboim propõe a singularidade”, define Yuri Quevedo. Coletando, aleatoriamente, restos de materiais diversos, fragmentos do ordinário, do urbano, restos do atelier, rastros de seu próprio trabalho com memórias de sua trajetória, o artista enfrenta o desafio e a necessidade de criar o novo e apresentá-lo na seleção de 80 trabalhos expostos. Enquanto muitos buscam encontrar o sentido de um todo coeso, Ricardo Ribenboim vai na contramão e faz da desarticulação o seu método; desmembra sistemas inteiros e os analisa e, sendo o artista que encontra poesia nova naquilo que sobrou – aquilo que é substantivo no rastro dos restos”, diz o curador. O artista formula uma ecologia própria – o que restou de algo, pode servir de suporte para uma nova realidade. Aqui, a história é vista como uma trama, em que ciclos se reciclam, intercalados com lacunas de esquecimento. Ao construir marcos e estandartes com esses retalhos de lembranças, Ribenboim compartilha conosco sua ética: a memória pode ser matéria do presente à medida em que ela adquire significado no agora.

 

“O Acaso” – Espaço Oasis

 

Nos últimos anos, Ribenboim fez do ateliê e da própria trajetória, um espaço  de reflexão, onde seu potente lado criativo finaliza objetos inconclusos, reanima pedaços de trabalhos antigos e lhes dá nova forma, nova ordem, nova significância. Nas 40 obras selecionadas pelo curador, estão as grandes telas onde ‘sinistras silhuetas tentam romper as camadas’. Desta forma “o artista compartilha conosco o valor do fazer como pensamento, do fazer enquanto dúvida, do fazer como processo de configuração de si e do mundo – e não como terreno das definições e das certezas”, explica Yuri. Em “O Acaso”, Ricardo Ribenboim nos descreve seu processo criativo, as agruras do fazer, onde resgata os vestígios guardados daquilo que as coisas eram antes de serem articuladas em novos sentidos: suas pinturas olham para suas esculturas para transformá-las em imagens. Para Yuri Quevedo, “…como no sonho, o caldo disforme do inconsciente ganha matéria em associações, coincidências e encaixes. Indefinições que resistem a ser figuradas, daí o acaso vira assunto”.

 

Paço Imperial até 15 de agosto e 27 no OASIS.