Adriana Varejão na Bahia

18/abr

Um dos nomes mais respeitados das artes visuais do Brasil, Adriana Varejão terá pela primeira vez um conjunto significativo de sua obra exposto em Salvador, BA. “Adriana Varejão – Por uma retórica canibal” é a mostra itinerante que circula neste ano em cidades brasileiras fora do eixo Rio – São Paulo, começando pela capital baiana no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), tendo visitação gratuita que se prolongará por dois meses, até 15 de junho. Com curadoria de Luisa Duarte, a exposição faz parte de um projeto que pretende descentralizar o acesso à importante produção da artista, exibindo 20 obras dos seus mais de 30 anos de trajetória, realizadas entre 1992 e 2016, que inclui trabalhos seminais como “Mapa de Lopo Homem II” (1992 -2004), “Quadro Ferido” (1992) e “Proposta para uma Catequese”, em suas Partes I e II (1993).

“Salvador e Cachoeira são cidades fundamentais na construção da minha obra. Nessas cidades, eu encontrei referências importantíssimas do período barroco que usei em muitos de meus trabalhos, especialmente nos que se referem à azulejaria”, afirma Adriana Varejão. “O claustro do Convento de São Francisco, no Pelourinho, e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em Cachoeira, além de um sem fim de relíquias como os caquinhos de louça das índias e o teto em estilo chinês pintado por Charles Belleville no Seminário de Nossa Senhora de Belém, me ofereceram elementos para construção de muitos dos meus trabalhos que, pela primeira vez, estarão expostos aqui. Fazer essa exposição é como finalmente retornar à casa da mãe depois de uma longa viagem”, completa a artista.

O recorte curatorial da exposição busca enfatizar como muito antes dos estudos pós-coloniais estarem no centro do debate da arte contemporânea, Adriana Varejão já desenvolvia uma pesquisa cuja inflexão está centrada justamente em uma revisão histórica do colonialismo. A mostra descortina diferentes fases de sua produção de modo a levar um conjunto relevante de sua obra pela primeira vez para Salvador, na Bahia, cidade com a maior herança africana do Brasil e responsável por inspirar parte de sua poética.

 

O título da exposição faz referência ao vínculo da obra de Adriana Varejão com a tradição barroca. A retórica é uma estratégia recorrente do barroco, sendo um procedimento que busca a persuasão. Se o método rendeu obras e discursos suntuosos e exuberantes, a favor da narrativa cristã e do projeto de colonização europeu, a retórica canibal, ao contrário, se apresenta como um contraprograma, uma contracatequese, uma contraconquista. Trata-se de uma ruptura com as formas ocidentais modernas de pensamento e ação, em busca dos saberes locais, como o legado da antropofagia. Saem de cena o ouro e os anjos, entram em cena a carne e toda uma cultura marcada pela miscigenação.

Assim, o público tomará contato com uma produção que visita de maneira constante o passado para trazer à luz histórias ocultas, pouco visitadas pela história oficial. A seleção de trabalhos revela ainda a rede de influências que atravessa a obra da artista: do citado barroco à China, da azulejaria à iconografia da colonização, da história da arte à religiosa, do corpo à cerâmica, dos mapas à tatuagem, vasto é o mundo que alimenta a poética de Adriana Varejão. Ao longo da exposição comparecem trabalhos de quase todas as séries produzidas pela artista, tais como: “Terra incógnita”, “Proposta para uma Catequese”, “Acadêmicos”, “Línguas e cortes”, “Ruínas de Charques” e “Pratos”. Na composição da expografia, como ferramenta de mediação com o público, textos curtos descrevem e contextualizam as obras.

“É com muita satisfação que participamos desse importante projeto, que valoriza uma das mais importantes artistas brasileiras da contemporaneidade. Essa parceria sustenta nosso compromisso com a arte e com a democratização da cultura a um número cada vez maior de pessoas”, afirma Antonio Almeida, sócio-diretor da Galeria Almeida e Dale. “Por meio desta itinerância, levaremos a arte singular de Adriana Varejão para cidades que ficam fora do eixo Rio-São Paulo e que, até então, nunca haviam recebido uma exposição da artista”, reforça Carlos Dale, também sócio-diretor da galeria.

 

Para pensarem em conjunto a exposição, Adriana Varejão, junto com Luisa Duarte, uniram-se ao artista visual baiano Ayrson Heráclito e à antropóloga paulista Lilia Schwarcz, referências dos estudos da história e cultura afro-brasileiras, para uma conversa pública, também gratuita, no Museu de Arte da Bahia (MAB). Ambos os museus, vinculados ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) e Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (SecultBA), são parceiros nesta realização.

Adriana Varejão é representada pelas Galerias Fortes D’Aloia & Gabriel, Gagosian e Victoria Miro.

 

 

Sobre a artista

 

Adriana Varejão (Rio de Janeiro, 1964) –As obras de Adriana Varejão encontram-se em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro; Fundación “la Caixa”, Barcelona; Stedelijk Museum, Amsterdã; e Hara Museum, Tóquio. Entre suas principais exposições institucionais, incluem-se “Azulejões,” Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, Brasil (2001); “Chambre d’échos / Câmara de ecos”, Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris (2005, itinerância para o Centro Cultural de Belém, Lisboa; e DA2, Salamanca, Espanha); Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio (2007); “Adriana Varejão – Histórias às Margens,” Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2012, itinerância para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina em 2013); “Adriana Varejão,” The Institute of Contemporary Art, Boston (2014); e “Adriana Varejão: Kindred Spirits,” Dallas Contemporary (2015). A artista participou da Bienal de São Paulo (1994, 1998); 12th Biennale of Sydney (2000); International Biennial Exhibition, SITE Santa Fe (2004); Liverpool Biennial (1999, 2006); Bucharest Biennale (2008); Istambul Biennial (2011); “30x Bienal”, Fundação Bienal de São Paulo (2013); Bienal do Mercosul, Brasil (1997, 2005, 2015); e da primeira Bienal de Arte de Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015). Em 2008, um pavilhão permanente dedicado à obra de Varejão foi inaugurado em Inhotim Centro de Arte Contemporânea. Em 2016, foi contratada para produzir um mural temporário baseado em seu épico trabalho “Celacanto provoca maremoto” para cobrir a fachada inteira do Centro Aquático para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Recebeu o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), e o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela exposição “Histórias às margens”, realizada em 2012/13 no MAM SP, MAM Rio e MALBA.

 

 

Sobre a curadora

 

Luisa Duarte (Rio de Janeiro, 1979) –Crítica de arte, curadora independente e professora. Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi por nove anos crítica de arte do jornal O Globo. Integrou o conselho do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2009-2012) e a equipe do programa Rumos Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural (2005/2006). Coordenou o ciclo de conferências “Passado, presente e futuro – memória e projeção”, na 28ª Bienal de São Paulo (2008). Organizou em dupla com Adriano Pedrosa o livro “ABC – Arte Brasileira Contemporânea”, pela Cosac & Naify (2014). Organizou o seminário internacional “Biblioteca Walter Benjamin”, no Museu de Arte do Rio – MAR (2015). Foi curadora, em dupla com Evandro Salles, da exposição “Tunga – o rigor da distração” (2018), também no MAR. Em 2019, faz parte da equipe curatorial da 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, sendo responsável pelos programas públicos da edição, cuja abertura está prevista para outubro, em São Paulo.

 

 

Até 15 de junho.

MON exibe Ivens Machado

15/abr

O Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, apresenta a mostra individual de Ivens Machado “Mestre de Obras”. São desenhos, esculturas, fotografias e vídeos relacionados a diferentes períodos da trajetória do artista, procurando criar um diálogo entre as várias vertentes. Ivens Machado foi um dos artistas mais importantes de sua geração e um dos pioneiros da vídeoarte no Brasil.

 

“Partedo legado de um dos artistas mais importantes de sua geração está agora acessível ao público do Paraná e do Brasil, graças a essa imperdível realização do Museu Oscar Niemeyer”, disse o secretário de Estado da Comunicação Social e da Cultura, Hudson José. “A exposição apresentada pelo Museu Oscar Niemeyer apresenta ao público um conjunto expressivo de obras desse importante artista brasileiro, que influenciou várias gerações”, comentou a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Com genialidade, ele conseguiu extrapolar a matéria, permitindo que seu trabalho evoque sensações”, disse.

 

 

Trajetória 

 

No início da década de 1970, Ivens Machado produziu obras em papel utilizando cadernos pautados ou quadriculados, onde realizou interferências. Na década seguinte, sua obra é marcada por um envolvimento maior com a escultura. Em grande parte de seu trabalho escultórico, utiliza materiais da construção civil, trabalhando com formas e superfícies irregulares. Produzida pelo MON, a exposição apresenta de forma abrangente e expressiva a obra do artista, incluindo trabalhos poucas vezes mostrados no Brasil. A exposição será para o público uma experiência inédita e de grande intensidade artística.

 

“A mostra reúne o conjunto de sua obra, atravessando meio século de uma produção marcada pela sua força, sua crueza e também sua delicadeza e alegria”, diz a curadora Mônica Grandchamp. Ela explica que, num primeiro momento o impacto da obra pode trazer desconforto, mas com um segundo olhar, encontra-se a fantasia, a sutileza e a delicadeza. Segundo a curadora, há uma série de obras ainda pouco vistas pelo público e que são desconhecidas da geração mais jovem, bem como obras icônicas que influenciaram diversos artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, dentre outros.

 

“Ivens Machado não se filiou a nenhuma escola e sim criou seu próprio caminho, solitário e particular, fundamental no desenvolvimento da arte contemporânea brasileira”, diz Mônica. O conjunto de obras da exposição pretende mostrar toda a diversificação do trabalho de Ivens Machado, que se mantém atual e desconhecido do público.

 

Até 28 de julho.

Exposição de Rosana Paulino

12/abr

O Museu de Arte do Rio – MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no dia 13 de abril a exposição “Rosana Paulino: a costura da memória”. Após temporada de sucesso na Pinacoteca, em São Paulo, a maior individual da artista já realizada no Brasil chega à cidade com 140 obras produzidas ao longo dos seus 25 anos de carreira. Assinada por Valéria Piccoli e Pedro Nery, curadores do museu paulistano, a mostra reúne esculturas, instalações, gravuras, desenhos e outros suportes, que evidenciam a busca da artista no enfrentamento com questões sociais, destacando o lugar da mulher negra na sociedade brasileira.

 

Rosana Paulino surge no cenário artístico nos anos 1990 e se distingue, desde o início de sua prática, como voz única de sua própria geração. Os trabalhos selecionados, realizados entre 1993 e 2018, mostram que sua produção tem abordado situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira, bem como os diversos tipos de violência sofridos por esta população.

 

Um dos destaques da mostra é a “Parede da Memória”. Realizada quando a artista ainda era estudante, a instalação é composta por 11 fotografias da família Paulino que se repetem ao longo do painel, formando um conjunto de 1.500 peças. As fotos são distribuídas em formatos de “patuás” – pequenas peças usadas como amuletos de proteção por religiões de matriz africana. O mural se transforma em uma denúncia poética sobre a invisibilidade dos negros e negras que não são percebidos como indivíduos. Quando os 1.500 pares de olhos são postos na parede, “encarando” as pessoas, eles deixam de ser ignorados.

 

A exposição também conta com uma série lúdica de desenhos feitos por Rosana Paulino, na qual a artista revela sua fascinação pela ciência e, em especial, pela ideia da vida em eterna transformação. Os ciclos da vida de um inseto são feitos e comparados com as mutações no corpo feminino, por exemplo. A instalação “Tecelãs”, de 2003, composta de cerca de 100 peças em faiança, terracota, algodão e linha, leva para o espaço tridimensional o tema da transformação da vida explorado nos desenhos. Em alguns de seus trabalhos a relação de ciência e arte é destacada, como em “Assentamento, de 2013. A série retrata gravuras em tamanho real de uma escrava feitas por Ausgust Sthal para a expedição Thayer, comandada pelo cientista Louis Agassiz, que tinha como objetivo mostrar a superioridade da raça branca às demais. Para Paulino, “a figura que deveria ser uma representação da degeneração racial a que o país estava submetido, segundo as teorias racistas da época, passa a ser a figura de fundação de um país, da cultura brasileira. Essa inversão me interessa”, finaliza a artista.

 

 

Sobre a artista

 

Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres e bacharel em gravura pela ECA/USP. Foi bolsista do programa bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e CAPES de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália. Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão. Possui obras em importantes museus tais como MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo; UNM – University of New Mexico Art Museum e Museu Afro-Brasil – Pão Paulo.

 

Piti Tomé no Paço Imperial

09/abr

Na próxima quinta-feira, dia 11 de abril, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “90 tentativas de esquecimento”, com mais de 100 obras inéditas da carioca Piti Tomé, que discutem questões sobre a memória e o esquecimento, em trabalhos que giram em torno da fotografia. Com curadoria de Efrain Almeida, a exposição ocupará dois espaços do Paço Imperial, com obras produzidas entre 2018 e 2019, que dialogam entre si. Esta é a primeira exposição individual da artista em uma instituição, após ter começado sua trajetória em 2012, e já tendo participado de mostras coletivas no MAM Rio, onde possui obras na coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio; na Casa França-Brasil; no Museu da República; no Parque Lage; no Espaço Cultural BNDES, entre muitos outros. Paralelamente à exposição no Paço Imperial, a artista apresenta mostra na C. Galeria, no Jardim Botânico. 
 
Até 07 de julho.

TARSILA NO MASP 

05/abr

Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886 – São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século XX e figura central do Modernismo. Esta exposição que o MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, exibe é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações.

 

De família abastada, de fazendeiros do interior de São Paulo, Tarsila desenvolveu seu trabalho com base em em vivências e estudos em Paris a partir de 1923. Por meio das aulas com André Lhote  e Fernand Léger, aprendeu a devorar os estilos modernos da pintura europeia, como o Cubismo, de maneira antropofágica e produzir algo singular. É importante chamar atenção para a noção de antropofagia, criada por Oswald de Andrade: um programa poético através do qual intelectuais brasileiros canibalizariam referências culturais europeias com o objetivo de digeri-las e criar algo único e híbrido, além de incluir elementos locais, indígenas e afro-atlânticos. De volta ao Brasil, declarou: “Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior, aprender com os que ainda não foram corrompidos pelas academias”.

 
O enfoque da exposição é o “popular”, noção tão complexa quanto contestada, e que Tarsila explorou de diferentes modos em seus trabalhos ao longo de toda a sua carreira. O popular está associado aos debates sobre uma arte ou identidade nacional e a invenção ou construção de uma brasilidade. Em Tarsila, o popular se manifesta através das paisagens do interior ou do subúrbio, da fazenda ou da favela, povoadas por indígenas ou negros, personagens de lendas e mitos, repletas de animais e plantas, reais ou fantásticos. Mas a paleta de Tarsila (que serve de inspiração para as cores da expografia) também é popular: “azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.

 
Boa parte da crítica em torno de Tarsila feita até hoje no Brasil enfatizou suas filiações e genealogias francesas, possivelmente em busca da legitimação internacional da artista, mas assim marginalizando os temas, as personagens e as narrativas populares que ela construiu. Hoje, após bem-sucedidas mostras nos Estados Unidos e na Europa, podemos olhar para Tarsila de outras maneiras. Nesse sentido, os ensaios e comentários sobre suas obras incluídos na exposição e no catálogo são elementos fundamentais deste projeto. Não por acaso a polêmica pintura “A negra” recebe atenção especial dos autores e é um trabalho central na mostra. Outra peça que fará uma boa repercussão na exibição é a presença do famoso “Abaporu”, obra cedida especialmente pelo MALBA, Buenos Aires, Argentina.

 
“Tarsila popular” não busca esgotar essas discussões, que levam em conta também questões de raça, classe e colonialismo, mas apontar para a necessidade de estudar essa artista tão fundamental em nossa história da arte a partir de novas abordagens.

 

Esta exposição faz parte de uma série que o MASP organiza reconsiderando a noção de “popular”: desde “A mão do povo brasileiro 1969/2016″ e “Portinari popular”, em 2016, até “Agostinho Batista de Freitas”, em 2017, e “Maria Auxiliadora”, em 2018. “Tarsila Popular” é organizada no contexto de um ano inteiro dedicado a artistas mulheres no MASP em 2019 sob o título de “Histórias das mulheres, histórias feministas”. A exposição dialoga com duas outras dedicadas a artistas que exploraram a noção do popular de diferentes maneiras: “Djanira: a memória de seu povo”, em cartaz até 19 de maio, e “Lina Bo Bardi: Habitat”, até 28 de julho.

Tarsila popular tem curadoria de Fernando Oliva, curador do MASP.

 

 

Até 28 de julho.

Natureza-Morta no MAM Rio

03/abr

O MAM RIO, Parque do Flamengo, Rio de janeiro, RJ, apresenta a partir do próximo dia 06 de abril, a exposição “Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio”. Com o mesmo título de uma instalação de Adriana Varejão, a exposição investiga este importante gênero da pintura, em obras em diversos suportes pertencentes ao acervo do Museu criadas por 35 artistas de várias gerações. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne mais de 40 obras – entre pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações – produzidas por 39 artistas de diferentes gerações. A exposição dá continuidade às investigações de gêneros da pintura a partir dos acervos do Museu, mostradas em “Constelações – O Retrato nas Coleções MAM Rio” e “Horizontes – A Paisagem nas Coleções MAM Rio”, em cartaz até o próximo dia 12 de maio de 2019.

 

Com o mesmo título de um backlight fotográfico de Adriana Varejão, de 1999, a exposição busca revelar não só a dimensão mais histórica do gênero natureza-morta, mas também “possibilidades de releituras contemporâneas desse conceito”, como informam os curadores. O conjunto de obras não foi reunido “somente com base no enquadramento estrito das obras nas características evidentes deste gênero, mas também na livre correlação dos trabalhos com o sentido mais geral da exposição”, explicam. “Sob tal licença, “Alegria” também transborda do âmbito da pintura, da gravura, do desenho e da fotografia, para aquele, expandido, da escultura, do vídeo e de instalações para traçar um panorama aberto desse gênero da pintura no Brasil no exterior”, contam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Os artistas que integram a exposição são de várias gerações, como Volpi, Guignard, Dacosta, Vicente do Rego Monteiro, a portuguesa Lourdes Castro, Wilma Martins, Adriana Varejão, Ivens Machado, Karin Lambrecht, Artur Barrio e Raul Mourão.

 

 

Natureza-Morta

 

A natureza-morta, da mesma forma que o retrato e a paisagem, foi um dos grandes gêneros da pintura europeia, entre os séculos XV e XVI, na Renascença. “Esses gêneros ganharam corpo como alternativa às pinturas de cenas religiosas, proibidas nos países que aderiram à reforma protestante, como a Holanda, que viu nascer o primeiro mercado de arte de que se tem notícia”, dizem os curadores. “As naturezas-mortas podem ser caracterizadas pela representação de objetos inanimados, vistos de uma curta distância. Sua escala intimista, somada à composição feita com base em motivos banais, mas agradáveis – frutas, flores, alimentos e objetos familiares ao olhar burguês – não significava, porém, que tais pinturas tivessem um teor laico-secular, apenas contemplativo, função que somente se consolidaria no começo do modernismo. Ainda que tratassem de cenas domésticas, essas pinturas, a despeito de sua fatura naturalista, tinham um teor simbólico então acessível a todos: evocavam o agradecimento pelo pão nosso de cada dia, conquistado pelo trabalho humano, sob a bênção divina”. O gênero atravessou os tempos, e na segunda metade do século XIX as naturezas-mortas já haviam se libertado de sua simbologia protestante inicial, e se tornaram “fundamentais para a revolução que permitiu à pintura superar a ênfase no tema que a havia marcado no romantismo e no neoclassicismo – batalhas, coroações, funerais e casamentos reais, pintados em formatos grandiosos que direcionavam o olhar para a narrativa e não para a própria pintura”. Os curadores complementam: “A banalidade temática das naturezas-mortas abriu caminho para a contemplação exclusiva de elementos cromáticos, formais, espaciais e compositivos, que não só se tornaram essenciais para a fruição modernista, como abriram caminho para a arte abstrata com Wassily Kandinsky, em 1910”.

 

 

Artistas expositores

 

Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Vicente do Rego Monteiro, Aldo Bonadei, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Glauco Rodrigues, Lourdes Castro, Anna Bella Geiger, Wilma Martins, Luis Humberto, Eduardo Costa, Ivens Machado, Wanda Pimentel, Artur Barrio, Waltercio Caldas, Vilma Slomp,Claudia Jaguaribe, Karin Lambrecht, Brígida Baltar, Jorge Barrão,Roberto Huarcaya, Marcos Chaves, Edgard de Souza, Franklin Cassaro, Katia Maciel, Adriana Varejão, Efrain Almeida, Raul Mourão, José Damasceno, Julio Bernardes, Pedro Calheiros, Rodrigo Braga e Felipe Barbosa.

 

 

De 06 de abril a 07 de julho.

Xadalu: Residência Artística

02/abr

No dia 12, sábado, das 14h às 17h, o Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, abrirá suas portas para que o público possa acompanhar a produção do artista. A atividade é gratuita e as inscrições devem ser feitas pelo link https://forms.gle/cp6ZeBAWLjnL1FRRA.

De 08 a 15 de abril, a Fundação Iberê recebe o artista visual Xadalu para uma Residência Artística no Ateliê de Gravura. Neste período, ele experimentará a técnica da gravura em metal, tendo como tema a mitologia “Guarani Mbya”. Prêmio Açorianos de Artes Visuais 2019 – Destaque em Exposição Individual, Xadalu tem uma profunda relação com a arte e a cultura indígenas no Rio Grande do Sul, e seu envolvimento com a causa Mbya-guarani traz luz para a questão do resgate e continuidade da cultura indígena no Estado.

Olhar às etnias

Dione Martins (Xadalu) e um amigo imaginaram criar uma empresa que leva o nome dos artista. O sonho foi realizado logo nas primeiras intervenções nas ruas, com o indiozinho que colava pelas paredes. Xadalu não reivindica a identidade indígena, mas, por meio de sua arte, quer dar visibilidade às etnias. “Sou mestiço e não fico à espera por mudanças na sociedade, potencializo a minha arte para agir na escala individual”, explica. Em 1996, Maria Catarina e Dalva, mãe e vó de Xadalu, deixaram Alegrete para tentar uma nova vida em Porto Alegre. Até 1999, ele e a mãe juntavam latinhas para sobrevivência. Depois foi gari, até que em 2003 criou uma oficina de serigrafia na Vila Funil, onde morava.

O personagem Xadalu surgiu pela primeira vez em 2004, como uma forma de manifestação artística, trazendo luz ao tema da destruição da cultura indígena, abordando essa e outras causas sociais e ambientais. Hoje, o indiozinho está presente em mais de 60 países, nos quatro continentes, fazendo parte de um cenário mundial da arte urbana contemporânea, participando de exposições e diversos festivais de arte, com obras em acervos de museus do Rio Grande do Sul, sempre com foco na informação e conscientização dos temas abordados. Xadalu tem fortalecido sua relação com comunidades indígenas do Estado, sempre buscando formas de contribuição e apoio aos moradores das aldeias. Da mesma forma o artista está atento às demandas dos bairros periféricos, ministrando cursos e oficinas em escolas e comunidades.

Ernesto Neto na Pinacoteca

29/mar

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e o Banco Bradesco apresentam, de 30 de março a 15 de julho, a exposição “Ernesto Neto: Sopro”, que ocupa o Octógono, sete salas do 1º andar e outros espaços da Pina Luz. Com curadoria de Jochen Volz e Valéria Piccoli, diretor e curadora-chefe do museu, respectivamente, a retrospectiva reúne 60 obras de um dos nomes mais proeminentes da escultura contemporânea. Desde o ínicio de sua carreira nos anos 1980, o artista vem produzindo obras que colocam em diálogo o espaço expositivo e as diversas dimensões do espectador.

 

A partir de uma compreensão singular da herança neoconcreta, Ernesto Neto (Rio de Janeiro, 1964), desdobra suas esculturas iniciais – elaboradas com materiais como meias de poliamida, esferas de isopor e especiarias – em grandes instalações imersivas, que propõem ao espectador um espaço de convívio, pausa e tomada de consciência. Sua prática escultórica engendra-se a partir da tensão de materiais têxteis e de técnicas como o crochê. Essas grandes estruturas lúdicas acolhem ações e rituais que revelam as preocupações atuais do artista: a afirmação do corpo como elemento indissociável da mente e da espiritualidade.

 

Desde 2013, o artista vem colaborando com os povos da floresta, principalmente a comunidade indígena Huni Kuin, também conhecida como Kaxinawá. A população dessa etnia, com mais de 7.500 pessoas, habita parte do estado do Acre e forma a mais numerosa população indígena do estado. “A turma da floresta tem uma ligação muito mais profunda com a natureza. Inclusive, a palavra natureza, como algo que está fora de nós, seres humanos, nem existe nessa comunidade. Eles não veem essa separação”, conta o artista.

 

“A convivência com eles me trouxe um entendimento profundo da espiritualidade, desta força de continuidade do “corpo-eu” e do “corpo-ambiente”, e também uma base estrutural “espíritofilosófica”, além da compreensão de que há muito o que descobrir enquanto humanidade: quem somos? Onde estamos? Para onde vamos?”. O entendimento do planeta como organismo interdependente permeia boa parte das obras de Ernesto Neto.

 

Para esta mostra na Pinacoteca, o artista concebeu novos trabalhos, entre eles, um para o espaço do Octógono, que acolherá quatro ações/rituais participativas abertas ao público ao longo do período expositivo. Integra também o conjunto uma obra seminal em sua trajetória: “Copulônia”, de 1989. De poliamida e esferas de chumbo, seu título faz referência à “cópula” (termo utilizado pelo artista para caracterizar um tipo de elemento, presente na obra, em que duas partes se penetram) e à “colônia” (seção da obra na qual os elementos se repetem). “Traz a ideia de população, família, corpo coletivo e convivência simbiótica”, define o artista.

 

“Copulônia marca o momento em que Neto começa a pensar a escultura não mais como um único volume mas como um todo composto de partes. Outras obras icônicas dele integram a seleção, como aquelas que contem especiarias (cravo, açafrão, urucum), as Naves (arquiteturas de tecido em que o visitante é convidado a entrar) e mesmo as mais recentes estruturas habitáveis confeccionadas em crochê. As obras do Neto convocam a participação do visitante e ativam outros sentidos além do olhar”, comenta Piccoli.

 

A exposição propõe demonstrar como a fisicalidade, o indivíduo e o coletivo sempre estiveram presentes, desde o início, na prática do artista, moldando sua poética. Sua colaboração atual com líderes políticos e espirituais das nações Huni Kuin, cujas contribuições ao artista recebem na mostra uma sala própria, aparece como uma consequência natural de sua pesquisa escultórica. “Neto vem explorando e expandindo os princípios da escultura radicalmente desde o começo de sua trajetória. Gravidade e equilíbrio, solidez e opacidade, textura, cor e luz, simbolismo e abstração ancoram sua prática, num contínuo exercício acerca do corpo individual e coletivo e da construção em comunidade”, observa Jochen Volz.

 

Esta é também a primeira exposição que propõe traçar seus primeiros experimentos nesse campo através da investigação e da apropriação do espaço expositivo até atingir seu atual engajamento social. Num momento marcado pelo descompasso entre humano e natureza, Neto propõe que a arte seja uma ponte para a reconexão humana com esferas mais sutis. “O artista é uma espécie de pajé. Ele lida com o subjetivo, com o inexplicável, com aquilo que acontece entre o céu e a terra, com o invisível. Desse lugar, consegue trazer coisas”, finaliza Neto.

 

A mostra é acompanhada de um catálogo e tem patrocínio do Banco Bradesco, Escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados, Iguatemi São Paulo e Havaianas. Após sua estreia na Pinacoteca, a exposição será recebida pelo Malba – Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Argentina e pelo Centro Cultural Palacio de La Moneda, em Santiago no Chile. “Ernesto Neto: Sopro” integra a programação de 2019 da Pinacoteca, dedicada à relação entre arte e sociedade. Por meio dela, a instituição propõe examinar as dimensões sociais da prática artística, apresentando exposições que redimensionam a ideia de escultura social, cunhada pelo artista e ativista alemão Joseph Beuys.

 

 

Sobre o artista

 

Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: GaiaMotherTree, Zurich Main Station, apresentado pela Fondation Beyeler, (Zurique, Suíça, 2018); Boa, Museum of Contemporary Art Kiasma (Helsinque, Finlândia, 2016); Rui Ni / Voices of the Forest, Kunsten Museum of Modern Art (Aalborg, Dinamarca, 2016); Aru Kuxipa | Sacred Secret, TBA21 (Viena, Áustria, 2015); The Body that Carries Me, Guggenheim Bilbao (Bilbao, Espanha, 2014); Haux Haux, Arp Museum Bahnhof Rolandseck (Remagen, Alemanha, 2014); Hiper Cultura Loucura en el Vertigo del Mundo, Faena Arts Center (Buenos Aires, Argentina, 2012); La Lengua de Ernesto, MARCO (Monterrey, México, 2011) e Antiguo Colegio de San Ildefonso (Cidade do México, 2012); Dengo, MAM (São Paulo, 2010). Destacam-se, ainda, suas participações nas Bienais de Veneza (2017, 2003 e 2001), de Lyon (2017), de Sharjah (2013), de Istambul (2011) e de São Paulo (2010 e 1998). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, entre elas: Centre Georges Pompidou (Paris), Inhotim (Brumadinho), Guggenheim (Nova York), MCA (Chicago), MOCA (Los Angeles), MoMA (Nova York), Museo Reina Sofía (Madri), SFMOMA (San Francisco), Tate (Londres) e TBA21 (Viena).

Arte e Inteligência Artificial

28/mar

Em “Das tripas coração”, individual que a artista visual Katia Wille apresenta na Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro, Catete, RJ, apesenta obras com características originais. A ideia é estabelecer uma simbiose sensorial entre obras de arte e o espectador. Para que isso fosse possível, a artista desenvolveu, em parceria inédita com a Microsoft, um conceito que integra inteligência artificial ao ambiente, que será mostrado pela primeira vez em uma exposição de arte no Brasil. Utilizando a capacidade da inteligência artificial na nuvem, as obras reagem à presença de pessoas, se movimentam a partir da análise de sentimento do visitante e interagem por meio de movimentos diante de estímulos visuais, faciais e sonoros.

 

“Quero expor ao máximo a vulnerabilidade das relações humanas, e questiono como seria esticar-se para além do nosso ponto de ruptura? Fazer das tripas coração representa a eterna busca pelo impossível, alcançar o outro e estabelecer relações de ressonância. As membranas em látex são estruturas que reluzem, se movimentam, provocam sensações e se espalham pelo espaço como se quisessem respirar o ar que respiramos e pulsar com a frequência do nosso coração, indo além do diálogo entre obra e espectador. O objetivo final é começar a criar um espelho de nós mesmos nas obras: o corpo seria representado pelos braços robóticos e sensores responsáveis pelos movimentos, a mente pela inteligência artificial que aprende com os nossos sentimentos e dá os comandos para que os movimentos aconteçam e a alma é representada pela arte das membranas de eco látex pintadas como uma pele frágil e reluzente. Está estabelecida assim uma relação de confiança e imersão entre o artista, obra e público”, afirma Katia Wille.

 

A curadoria é de Isabel Sanson Portella, coordenadora e curadora da Galeria do Lago: “As obras de Katia Wille se espalham pelo espaço, suas figuras brilham com paixão e fúria. Os corpos incham em cor, elas balançam e torcem, pernas se estendem em uma dança que quer aproveitar e amplificar a vulnerabilidade das relações humanas, não suavizar”.

 

“A IA já não é algo distante do dia a dia das pessoas e a possibilidade de integração da inteligência artificial ao ambiente artístico, modificando a forma como interagimos com uma obra e a experiência que temos em uma exposição, mostra justamente isso. A Microsoft assumiu o compromisso de democratizar a IA e esse é um projeto que dialoga com esse propósito”, diz Maisa Penha, diretora de tecnologia para parceiros e IA na América Latina.

 

A ocupação do espaço expositivo se dá de forma fluida, com pinturas em painéis de grandes dimensões em tecido metalizado, dialogando com instalações em eco látex (material desenvolvido pela própria artista a partir da mistura de látex líquido, reciclado com tecidos e outros materiais). As obras em eco látex ficam suspensas pelo teto ou onduladas nas paredes. Trata-se de um material poroso, ora em forma de bolhas, ora esticado ou ondulado, o que permite destacar texturas e o brilho acobreado da superfície. As cores dos tecidos de base para as pinturas, em tons primários como o azul, vermelho e amarelo, contrastam com os tons metálicos das instalações.

 

As obras foram divididas em três momentos que se interconectam: encantamento, simbiose e irradiação. Marcado por tons de azul, o primeiro momento tem a intenção de mostrar uma mudança; a ordem das coisas foi invertida, os pés estão para o alto, algumas nadadoras e nadadores – figuras retratadas pela artista -, caindo, fazendo referência ao momento do Encantamento, ao “cair de amores”, à busca e ao encontro. A cor vermelha e seus sobretons pontuam o segundo momento: o desdobramento e a formação de amálgamas humanos, seres simbióticos, quando existe a busca pelo outro. Já o terceiro momento assinala o encontro do equilíbrio com a cor amarela, selando a formação do duplo perfeito onde não é necessário mais esforço, muito menos caber no outro, cada um com a sua identidade, irradiando- se mutuamente.

 

 

Sobre a artista

 

Katia Wille nasceu no Rio de Janeiro. É formada em artes visuais pela Universidade de Amsterdam, Holanda, e passou os últimos dez anos morando e trabalhando entre a Europa, a Ásia e o Brasil. As questões do feminino, da busca de sua essência e transformações, sempre povoaram as obras da artista, que pensa movimento e cor integrados ao todo. A delicadeza das formas, a ação que se desenvolve tanto em círculos e entrelaces, convida o espectador a mergulhar em águas míticas e se deixar levar pelos encantos do olhar de suas ninfas, pelo poder das deusas, pela força da mulher. Exposições individuais: “Mas Afinal: Quem tem medo de tamanha liberdade?” – Galeria VillaNova/SP; “Fluxofloração” – Centro Cultural da Justiça Federal/RJ; “Maria dos olhos de piscina” – H.Contemporaneo/RJ; “O Tudo Do Todo” – Z42 Arte Contemporanea/RJ ; “E daí? Eu adoro voar” – Tramas Arte Contemporânea/RJ; “CompulsArt” – Casa Ipanema/RJ; “As Nadadoras – Livre Galeria/RJ. Exposições coletivas:  “Um dia de sol” – Galeria Sal/RJ; “Arte brasileira na contemporaneidade” – InnGaleria/SP; “Para Todos” – Galeria Carpintaria/Fortes D’Aloia & Gabriel/RJ”; “Olhar Feminino” – Galeria André/SP; “Somos todos Clarisse” – Museu da República/Galeria do Lago/RJ; “A Máquina do Mundo – residência artística” – Z42/RJ; “Weel Chair Fest/ Rio Olympic Games” –  Boulevard Olímpico/RJ.  Publicações: “Arte brasileira na contemporaneidade” – Volume: III, Ornitorrinco – São Paulo, Brasil. Agosto 2018 Autora: Carmen Pousada; Prêmios e programas de residência artística: “European Union Visual Arts and Design Awards” – Tokyo (Japão), Março 2010; Z42 – Rio de Janeiro, Brasil.

 

Até 31 de maio.

Visões de Iberê Camargo 

Para celebrar os 247 anos da cidade de Porto Alegre, a Fundação Iberê inaugurou a exposição “Visões da Redenção”. A mostra traz um recorte de 77 obras de Iberê Camargo (66 desenhos, três gravuras e oito pinturas), produzidas no início dos anos 1980 – quando o artista retornou à Capital gaúcha, após um período de 40 anos vivendo no Rio de Janeiro. Frequentador assíduo do Parque da Redenção, o artista gostava de observar o ir e vir das pessoas: anônimos, músicos, palhaços, ciclistas, moradores de rua e performers. De simples registros desses passeios, logo as anotações do artista ganharam um significado maior. Os “personagens” da Redenção foram convidados para aturem como modelos vivos em seu ateliê, e, muitos deles, desdobraram-se nas séries “Fantasmagoria”, “Ciclistas” e “Ecológica” (Agrotóxicos).

 

 

Teatro de rua 

 

Em 1985, Iberê Camargo assistiu a performance “A dúzia suja”, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, se encantou com a apresentação e, durante um final de semana, transformou a Terreira da Tribo – como é chamado o espaço do grupo – em ateliê. Lá desenhou os atores vestidos com o figurino do espetáculo para a série “Ecológica”. A única exposição individual com o conjunto completo da série (mais de 20 guaches) foi realizada em 1986. Parte dela foi exposta em outras capitais do Brasil e Uruguai e, hoje, encontra-se em coleções particulares.

 

Para este trabalho, o artista expressou as formas da natureza e da condição humana, atingidas pela vida, por meio de árvores fantasmagóricas e de figuras que habitavam a cena, sem rumo. O parque mais tradicional da cidade – e palco para as mais diversas manifestações sociais, culturais e políticas – revelou-se como um portal, um deslocamento da realidade para outra ordem no tempo. Delírio e devaneio – um novo estar no mundo.

 

“Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida, que é minha vida, e tua vida, é nossa vida nesse caminhar no mundo. Pinto porque a vida dói.” (Iberê Camargo).

 

“Acompanhei inúmeras jornadas de Iberê pela procura dessas imagens que nos ferem com delicadeza, cheias de visualidade e significados. Esses rascunhos, por si só, são maravilhosos, mas serviam para recriações na volta ao estúdio. Surgiam daí guaches sobre papel, elementos novos nas pinturas e potentes gravuras em metal. Foi num dia desses, quando o artista ainda morava na rua Lopo Gonçalves, que saímos a pé para mais um percurso no Parque da Redenção. Chegamos na fonte entre árvores, naquele momento riscada pela luz do sol: um cenário de filme. À volta dela vários mendigos conversavam e lavavam as suas roupas. O artista pareceu iluminado. Apenas com os olhos e a mão em movimento, executou desenhos lindos e fluidos como música. Depois num gesto de gratidão pagou os modelos: entregou uma nota de dinheiro a cada um deles e fomos embora. Nesse dia uma figura me provocou a atenção: o homem flagrado de frente, curvado sobre o espelho d’água da fonte, com o olhar fixo no artista e suas costas acima da própria cabeça, passava uma sensação simultânea de dignidade e sofrimento, como se estava pronto para carregar o peso do mundo”, conta o artista plástico Gelson Radaelli.

 

 

 

Até 21 de abril.