MAM RIO/Instalação de Sonia Andrade

11/jul

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou no segundo andar, Espaço 2.3, a exposição “… às contas”, uma instalação inédita criada especificamente para o espaço do Museu pela artista Sonia Andrade, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. A artista dispõe em nove colunas – cada uma com cerca de quatro metros de altura – contas de serviços básicos pagas e acumuladas entre 1968 e 2018, como luz, gás, telefone, televisão, internet e celular.

 

Distribuídas por tipo de serviço e em ordem cronológica, as contas estão unidas por elos metálicos e presas a correntes usadas habitualmente para amarrar e trancar bicicletas. “Ao usar este material, a artista deliberadamente introduziu uma carga semântica que faz alusão à impossibilidade de se viver livre dessas contas, da perda da mobilidade, da escravidão submetida por esses encargos”, destaca Fernando Cocchiarale. O curador acrescenta que a artista não pretendeu uma aproximação estatística ou de gráficos econômicos. “É uma materialização poética do que a pessoa paga para viver”, diz. O conjunto de contas, formado inicialmente por contas de luz, água, gás e esgoto, com o passar dos anos, ganhou a companhia das contas de televisão a cabo, de internet, de telefone fixo e de celular.

 

Os dois curadores apontam, no texto que acompanha a exposição, que parte da produção da artista nos últimos 50 anos teve o “corpo colocado como centro da ação”. “Em seus primeiros vídeos, na década de 1970, o corpo era testado em seus limites e condicionamentos, seja deformado por um fio de náilon, tendo os cabelos tosados, a mão presa a uma tábua por pregos e fios ou ainda parcialmente aprisionado em gaiolas”, lembram. Neste trabalho mostrado agora no MAM, “o corpo não é mais tratado de maneira icônica, mas por meio dos índices que efetivamente permitiram a sobrevivência real da artista. É o corpo como termômetro, unidade de medida e arena”, afirmam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Sonia Andrade realizou sua primeira individual, em 1976, na Área Experimental do MAM Rio. No Museu, realizou outras mostras individuais, sendo a última em 1999: “Goe, and catche a falling starre – Sonia Andrade”. As demais foram “Situações Negativas”, em 1984 e “A Caça – Sonia Andrade”, em 1978.

 

Sobre a artista

 

“Nasci no Rio de Janeiro em 1935. A minha relação com as artes plásticas começou quando eu já estava perto de fazer 40 anos. De início, estudei com a artista Maria Tereza Vieira entre 1972 e 1973; durante 1974 frequentei as aulas da Anna Bella Geiger, e nesse mesmo ano, 1974, eu e Fernando Cocchiarale decidimos organizar um grupo do qual fizeram parte os artistas Ana Vitoria Mussi, Anna Bella Geiger, Leticia Parente, Miriam Danowski, Ivens Machado, Paulo Herckenhof, Fernando e eu. O grupo funcionou com reuniões semanais até 1976, quando foi dissolvido. A partir de 1978 passei a morar, também, em Paris, onde entre 1978 e 1982 estudei caligrafia chinesa com o mestre Ung No Lee. Em 1982, mudança para Zurique, onde morei até 1998, quando voltei definitivamente para o Rio de Janeiro. Em Zurique estudei a caligrafia chinesa com a mestre Suishu Tomoko Arii no Ostasiatische Seminar da Universitat de Zurich. Durante todos os anos em que morei no exterior o meu tempo foi dividido igualmente entre a Europa e o Brasil”.

 

Até 22 de setembro.

 

 

Mundo vivo em Paris

09/jul

Reunindo uma comunidade de artistas, botânicos e filósofos, a Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, França, ecoa a mais recente pesquisa científica que lança nova luz sobre as árvores. Organizada em torno de grandes conjuntos de obras, a exposição “Trees” dá voz à numerosas pessoas e artistas (entre os quais, alguns artistas brasileiros) que, através de sua jornada estética ou científica, desenvolveram um forte e íntimo vínculo com as árvores, revelando assim a beleza e a riqueza biológica desses grandes protagonistas do mundo vivo, ameaçado hoje com o desmatamento em larga escala. A curadoria é de Bruce Albert, Hervé Chandès e Isabelle Gaudefroy.

Artistas participantes e colaboradores da exposição: Efacio Álvarez, Herman Álvarez, Fernando Allen, Fredi Casco, Claudia Andujar, Eurides Asque Gómez, Thijs Biersteker, José Cabral, Johanna Calle, Jorge Carema, Alex Cerveny, Raymond Depardon, Claudine Nougaret, Diller Scofidio + Renfro, Mark Hansen, Laura Kurgan, Ben Rubin, Robert Gerard Pietrusko, Ehuana Yaira, Paz Encina, Charles Gaines, Francis Hallé, Fabrice Hyber, Joseca, Clemente Juliuz, Kalepi, Salim Karami, Mahmoud Khan, Angélica Klassen, Esteban Klassen, George Leary Love, Cesare Leonardi, Franca Stagi, Stefano Mancuso, Sebastián Mejía, Ógwa, Marcos Ortiz, Tony Oursler, Giuseppe Penone, Santídio Pereira, Nilson Pimenta, Osvaldo Pitoe, Miguel Rio Branco, Afonso Tostes, Agnès Varda, Adriana Varejão, Cássio Vasconcellos, Luiz Zerbini (foto).

Até 10 de novembro.

Louise Bourgeois na FIC

14/mai

Em itinerância promovida pelo Itaú Cultural, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe paa exibição a partir do 18 de maio, “Spider”, escultura de Louise Bourgeois.  Depois de permanecer pouco mais de duas décadas em regime de comodato ao lado do Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP, em dezembro do ano passado a obra – pertencente à Coleção Itaú Cultural – começou uma série de itinerâncias pelo país. Primeiro foi levada a Minas Gerais, para ser exibida na Galeria Mata do Inhotim. Agora a escultura chega a Porto Alegre com uma novidade: a gravura da artista “Spider and Snake”. Na Fundação Iberê Camargo, a escultura permanecerá em exibição por mais de dois meses. Na sequência, viaja para Curitiba e Rio de Janeiro.

 

“Spider”, obra realizada pela escultora francesa Louise Bourgeois (1911-2010) em 1996, foi vista no Brasil pela primeira vez na 23ª Bienal Internacional de São Paulo e adquirida para a Coleção Itaú Cultural. Em 1997, o instituto a cedeu em regime de comodato ao Museu de Arte Moderna – MAM/SP, no Parque Ibirapuera. Ela permaneceu ali até 2017, em um espaço de vidro de onde podia ser observada da marquise do parque. Na ocasião, a escultura foi enviada para a Fundação Easton, em Nova York, para averiguação e restauro, de modo a garantir a sua longevidade e possibilitar a sua exibição em espaços expositivos diversos. Em dezembro passado, “Spider” botou o pé na estrada.

 

“Assim como fazemos com grande parte da Coleção Itaú Cultural, tomamos a decisão de circular uma das suas mais importantes obras internacionais e ampliar o acesso do público a esta grandiosa escultura”, diz o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.

 

“Spider reafirma a nossa parceria com a Coleção Itaú Cultural e o nosso compromisso de trazer a Porto Alegre o que há de mais instigante e inquieto na arte moderna no Brasil e no mundo”, arremata o superintendente da FIC, Emilio Kalil.

A parceria entre as duas instituições, vem de longa data e foi retomada em maio de 2018 com a exposição “Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural”, um recorte de 144 obras fotográficas de importantes artistas do movimento modernista brasileiro, dos quais 60 nunca haviam estado antes em Porto Alegre. Agora, a fundação recebe do instituto a mostra da famosa aranha gigante de Bourgeois, que chega pela primeira vez ao Rio Grande do Sul.

 

 

A mostra

 

Esta “Spider” é a primeira das seis que a artista produziu em bronze a partir de meados da década de 1990 e que estão espalhadas pelo mundo. A escultura será exibida até o dia 28 de julho. Com ela, chega também a gravura “Spider and Snake” – a 15ª das 50 realizadas por Louise em 2003, com uma dimensão de 48,2 x 44,1 cm e pertencente ao acervo do Itaú. As viagens da “Spider” pelo Brasil são acompanhadas de um texto do crítico de arte Paulo Herkenhoff e de um vídeo de pouco mais de cinco minutos realizado pela equipe do Itaú Cultural, com relato da também crítica Verônica Stigger. Este material foi produzido especialmente para estas itinerâncias.

 

Entre imagens da escultura, Verônica Stigger discorre sobre a vida da artista que se entrelaça com esta sua criação. Ela reproduz de Paulo Herkenhoff que as aranhas de Louise Bourgeois representam a mãe da artista, sintetizada em dois adjetivos aparentemente paradoxais: frágil e forte. Diz Verônica Stigger: “A fragilidade e a força se conjugam nesta versão de Spider. À primeira vista, é uma peça imponente, até um tanto monstruosa: ela é toda em bronze, com três metros e meio de altura, oito longas patas e um núcleo central duro, todo torcido em espirais, que faz as vezes de cabeça e ventre – um grande ventre capaz de armazenar os ovos.” E conclui: “Em uma olhada mais atenta, percebe-se como, apesar da força e da rigidez do bronze, ela também é frágil, delicada: suas patas são longas e muito finas, dando a impressão de serem insuficientes para sustentar o pesado corpo da aranha.”

 

Feita em bronze, a escultura pesa mais de 700 quilos, 68kg, cada uma das oito patas; 113kg o corpo e 57kg a cabeça. O seu traslado, exige grande cuidado e dedicação. Com a inexistência do esboço e projeto original da escultura, a equipe do Itaú Cultural criou um aparato para garantir a sua estrutura na desmontagem e remontagem. A produção do instituto desenhou uma plataforma que é colocada debaixo dela para sustenta-la. As partes, cujas pontas são de agulha, são retiradas uma a uma enquanto uma espécie de berço se eleva da plataforma para segurar o corpo do pesado aracnídeo. Na remontagem, o caminho é o inverso.

 

 

Itinerância

 

O plano de viagem de “Spider” tem duração garantida por todo o ano de 2019, durante o qual ainda poderá ser vista no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e no Museu de Arte do Rio, MAR-RJ. A previsão é de que a escultura prossiga em sua viagem pelo país no ano seguinte.

Anna Bella Geiger – Aqui é o centro

06/mai

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta de 11 de maio a 07 de julho de 2019 a exposição “Anna Bella Geiger – Aqui é o centro”, com 20 emblemáticas obras de Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, 1933) pertencentes ao acervo do MAM Rio, em curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Realizados nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990, todos os trabalhos revelam o interesse da artista pela construção do espaço, além das noções de história, fronteira, centro e periferia. Em paralelo à mostra, a artista faz uma releitura da “Circumambulatio”, realizada no MAM Rio em 1972.

 

A mostra “Anna Bella Geiger – Aqui é o centro” se divide em duas partes complementares. A primeira reúne um panorama da produção da artista com 20 obras do início dos anos 1970, todas pertencentes ao acervo MAM Rio. A segunda é a releitura da exposição “Circumambulatio”, apresentada no Museu há quase cinco décadas, e que “se constitui em divisor de águas de seu trabalho, posto que separa o antes modernista – ou seja, sua produção abstrata (1950) e a instigante fase visceral (1960) – do futuro contemporâneo de seu trabalho”, apontam os curadores.

 

“Resultado de um trabalho coletivo desenvolvido e exposto por Geiger e seus alunos do curso de artes visuais do Museu em 1972, “Circumambulatio” é um dos marcos de sua aproximação com o campo de ressonância de questões da arte conceitual que se reafirmam em sua produção dos anos 1970: incorporação da palavra ao trabalho e experimentação de novas mídias (fotos, vídeos, livros de artista, etc.)”, observam os curadores no texto que acompanha a exposição. O título da exposição, agora remontada em parceria da artista com a equipe do museu, deriva de “circumambulação”: ritual de andar em espiral ao redor de objetos sagrados, como ocorre em certas cerimônias do budismo, hinduísmo e islamismo. Mais do que mera palavra, “circumambulatio” – conceito poético que então referenciou as pesquisas de Geiger e seus alunos – determinou, igualmente, a seleção de imagens e textos para esta exposição e definiu sua instalação na área expositiva do Museu.

 

Dentre as ideias fundamentais contidas em texto escrito pela artista para a mostra de 1972, uma é especialmente esclarecedora: “o centro não é simplesmente estático. Ele é o núcleo de onde partem o movimento do uno para o múltiplo, do interior para o exterior. […] A passagem da circunferência para seu centro equivale à passagem do externo para o interno, isto é, da forma à contemplação”. No caso específico do processo poético de Anna Bella Geiger, parece ser possível entender a noção de centro como local de inscrição e ação, cuja dinâmica até hoje permeia a obra da artista.

Leda Catunda e o Projeto Parede 

03/mai

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta até 28 de julho, o “Projeto parede/ Paisagem moderna”, painel assinado por Leda Catunda.

 

 

A palavra do curador 

 

O que é o bom gosto? Neste painel, Leda Catunda reúne diversos materiais e imagens associados ao aprazível: paisagens sinuosas, curvas ondulantes, gatinhos, tecidos estampados, cores intensas. Tais elementos são aproximados do público pelo fazer brejeiro da artista, pois o traço dos desenhos parece infantil e espontâneo, assim como os recortes que delimitam as várias peças. A estratégia para aproximar o público da obra passa pelo reconhecimento dos diversos aspectos familiares nela contidos. Porém, sua presença num museu traz um problema: por que ela é considerada arte, enquanto um desenho amador bonito não seria? Ao conseguir despertar essa reflexão no público, a artista questiona os parâmetros de gosto, de arte, de banalidade e de erudição: mexendo assim com nossos valores presentes, a paisagem se torna moderna.

Felipe Chaimovich

Homenagem à Bahia 

02/mai

Como parte das comemorações dos seus 15 anos, o Museu Afro Brasil, abre no dia 07 de maio, as exposições “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” e “Aberto pela Aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, ambas com curadoria de Emanoel Araújo.

 
“Essa exposição (sobre a Bahia) fala de alguns fatos e pessoas, sobretudo dos artistas, dos homens e das mulheres. Mulheres que fizeram da Bahia essa mágica, inusitada e preciosa cidade, de todos os santos, de muita sensualidade e de pouco pudor, que se esvai pelas ladeiras e ruas sinuosas”, declara Emanoel Araújo.

O núcleo central da mostra é composto pelo modernismo baiano, representado por uma robusta seleção de telas de Carlos Bastos (1925 – 2004), tapeçarias de Genaro de Carvalho (Salvador, Bahia, 1926 – 1971), esculturas em ferro ou “ferramentas de santo”, ligadas à religiosidade afro-brasileira, de José Adário dos Santos (1947), esculturas e gravuras de Rubem Valentim (1922 – 1991), além de jóias de Waldeloir Rego (1930 – 2001).
A representação da baiana está presente na escultura de Noêmia Mourão, nos vestidos de renda Richelieu, além de dezenas de bonecas de cerâmica, madeira e louça. Carmen Miranda, a “pequena notável” que celebrizou a figura da baiana mundo afora, é também homenageada com a exibição de fotografias de revistas, iconografia em porcelana esmaltada, além de um vestido original. A seção inclui ainda fotografias de outras baianas ilustres como Marta Rocha (1936), Miss Brasil em 1954, e Helena Ignez, musa do Cinema Novo.

 
Fotografias e pinturas de personalidades baianas do século XX como o escritor Jorge Amado (1912 – 2001), o compositor Dorival Caymmi, aqui homenageado em painel da artista Regina Silveira, Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986), entre outros, se somam aos bustos em gesso patinado dos alfaiates João de Deus do Nascimento e Luiz Gonzaga das Virgens, e dos soldados Lucas Dantas Amorim Torres e Manoel Faustino dos Santos Lira, realizadas em 2004 pelo artista Herbert Magalhães. Estes são heróis da Revolta dos Alfaiates, também conhecida como Conjuração Baiana ou, ainda, Inconfidência Baiana, revolta social de caráter popular ocorrida em 1798, inspirada pelo ideário da Revolução Francesa.

 
A expressão baiana da arte barroca, que no Brasil diferenciou-se da matriz europeia, não poderia ficar de fora da curadoria. Emanoel Araújo reúne nessa seção fotografias de Silvio Robatto, Davi Glatt, óleos sobre tela de pintores baianos do século XVIII como Joaquim da Rocha (1737 – 1807), Teófilo de Jesus (1758 – 1847) e Veríssimo de Freitas (1758 – 1806), azulejaria, livros e revistas, além de um extenso panorama da cidade de Salvador feito por Floro Freire. A exposição conta ainda com um conjunto de fotografias de Mário Cravo Neto e aquarelas do século XIX da artista inglesa Maria Graham (1785 – 1842), retratando o cotidiano das baianas de Salvador.

“A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” reserva ao público a projeção de filmes ligados ao imaginário baiano como: “Barravento” (1962), dirigido por Glauber Rocha; “Bahia de Todos os Santos” (1960), com direção de Trigueirinho Neto, além da série de documentários do projeto “Centenário de Alexandre Robatto Filho – Pioneiro do Cinema na Bahia”, que conta com os filmes “Entre o Mar e o Tendal” (1952-1953), “Xaréu” (1954), “Vadiação” (1954), Igreja” (1960), “Desfile dos 4 séculos” (1949), “O Regresso de Marta Rocha” (1955), “Um Milhão de KVA” (1949), “A Marcha das Boiadas” (1949), “Ginkana em Salvador” (1952), e “Os Filmes que Eu Não Fiz” (2013).

 

Paralelamente a abertura da exposição “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”, o Museu Afro Brasil apresenta “Aberto pela aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, a primeira exposição individual do premiado fotógrafo e artista multimídia mineiro em São Paulo desde 2015, quando exibiu “Cartas ao Mar”, também no Museu Afro Brasil.
“Aberto pela Aduana”, além de ser o título da exposição, é o nome da principal obra da mostra, o “Livro de Artista de Eustáquio Neves”, produzido a partir da manipulação de materiais de arquivo do fotógrafo, desenhos, colagens entre outras técnicas. Apesar de ter uma estrutura geral semelhante a um livro, a obra é na verdade um objeto de arte que fala por si próprio. Segundo Eustáquio, o nome “Aberto pela Aduana” foi escolhido para estimular a discussão em torno das múltiplas violações do corpo negro, desde o tráfego negreiro aos dias atuais.

 
Aduana, vale lembrar, é o nome dado a repartição governamental de controle do movimento de entradas (importações) e saídas (exportações) de mercadorias para o exterior ou dele provenientes. E é justamente neste ponto que as relações envolvendo a objetificação de milhares de corpos negros durante o tráfico atlântico e, na contemporaneidade, com os estratosféricos números de mortes por causas violentas de jovens negros em todo o território nacional, são traçadas. Entre as obras apresentadas ao público pela primeira vez, além do próprio “Livro de Artista”, estão trabalhos da emblemática série “Máscara de Punição”, formada por imagens construídas a partir da apropriação de um retrato da mãe do artista mesclado a uma foto de uma máscara de ferro. Compõe a mostra obras da emblemática série “Encomendador de Almas”, de 2006.

 
Nas palavras de Emanoel Araujo, curador da exposição, “a fotografia encontra em Eustáquio Neves um homem devoto dos dramas que envolveram e envolvem um passado atormentado e atormentador da nossa história. História de um povo que foi conduzido ao degredo humano e de tamanha força que não se apaga, não sai da nossa alma. (…) Por certo o seu desempenho de grande artista manipulador dessas imagens comove, penetra, sangra e une passado e presente”.

 

 

“O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”

 

Juntamente com a abertura das exposições ocorrerá o lançamento do livro “O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”, da Capella Editorial. Com imagens de cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro; máscaras, painéis em mármore, concreto e granito; gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos, além de textos, entrevistas e pensamentos de Emanoel Araujo, também curador e diretor do Museu Afro Brasil, a obra eterniza o trabalho do artista, cuja produção convida à reflexão sobre a sociedade brasileira – ainda violenta, racista, desigual e injusta. Mais que um livro de arte é um registro histórico da cultura brasileira.

 

 

De 07 de maio a 1º de setembro.

Prêmio para Jac Leirner

O ano de 2019 é um marco especial para o Prêmio Wolfgang Hahn. Pela primeira vez, a Gesellschaft für Moderne Kunst trata de homenagear uma artista sul-americana por sua obra internacionalmente relevante. Isso ampliará a perspectiva do prêmio em relação à evolução da arte contemporânea global. O trabalho de Jac Leirner, localizado na intersecção entre o minimalismo, o conceitualismo e a crítica institucional, é uma adição importante à coleção do Museu Ludwig, Colônia, Alemanha. Graças à dedicação de seus membros, a Gesellschaft für Moderne Kunst apresenta o Prêmio Wolfgang Hahn pelo vigésimo quinto ano consecutivo.

 

Até 21 de julho.

Djanira no MASP

29/abr

O MASP, Museu de Arte de São Paulo, Avenida Paulista, apresenta a primeira grande exposição monográfica dedicada à obra de Djanira da Motta e Silva, Avaré, São Paulo, 1914 – Rio de Janeiro, 1979, desde seu falecimento há quarenta anos. Autodidata e de origem trabalhadora, a artista surgiu no cenário da arte brasileira nos anos 1940. Embora tenha trilhado sólida carreira em vida, nas últimas décadas Djanira foi colocada de lado nas narrativas oficiais da história da arte brasileira. Esta mostra busca, portanto, examinar o papel fundamental da artista na formação da visualidade brasileira e reposicioná-la na história da arte do país durante o século 20.

 

O título “Djanira: a memória de seu povo” – emprestado de uma reportagem dos anos 1970 de Mary Ventura – refere-se à trajetória da artista, à sua história de vida e suas muitas viagens pelo Brasil, bem como sua pintura profundamente engajada com a realidade à sua volta. No caso de Djanira, falar em memória remete ao extraordinário imaginário que a artista criou com base na vida cotidiana, nas paisagens e na cultura popular brasileira, em torno de assuntos frequentemente marginalizados pelas elites.
Esta exposição inclui obras de todos os períodos da produção de Djanira, do início dos anos 1940 ao final dos anos 1970, e segue um princípio cronológico ao mesmo tempo que reúne trabalhos dos principais temas da artista: retratos e autorretratos, diversões e festejos populares, o trabalho e os trabalhadores, a religiosidade afro-brasileira e católica, os indígenas Canela do Maranhão, entre diversos povos e paisagens brasileiros.
A obra de Djanira foi por vezes rotulada pela crítica como arte primitiva ou ingênua, classificações que hoje são entendidas como preconceituosas e perversas, pois refletem uma perspectiva elitista e eurocêntrica segundo a qual todos os trabalhos que não seguem os estilos e gostos eruditos tidos como “oficiais” eram considerados menores – primitivos, ingênuos, naïfs. Esta exposição e o livro que a acompanha visam reparar esses equívocos e incompreensões, devolvendo a urgente visibilidade que a obra de Djanira merece e marcando sua presença fundamental na história da arte brasileira.
“Djanira: a memória de seu povo” inaugura a programação do ciclo “Histórias das mulheres, histórias feministas”, dedicado a artistas mulheres na programação do MASP durante o ano de 2019. A mostra coincidirá com as exposições de Tarsila do Amaral e de Lina Bo Bardi, três pioneiras que trabalharam, cada uma a seu modo, a partir de diferentes fontes populares em suas obras no século 20.

 

“Djanira: a memória de seu povo” tem curadoria de Isabella Rjeille, curadora-assistente, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP.

 

 

Até 19 de maio.

Exposição-ensaio

22/abr

A exposição-ensaio, realizada pelo Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, e organizada pelos seus curadores Luise Malmaceda e Paulo Miyada, parte da obra do artista paranaense Miguel Bakun (1909-1963) para refletir sobre a representação da paisagem subtropical brasileira. “Trata-se de uma paisagem tantas vezes desconsiderada pelo imaginário eminentemente litorâneo, quente e praieiro de um país cujos cartões postais concentram-se ao norte do trópico de Capricórnio”, afirmam os curadores.

 
“Aprendendo com Miguel Bakun: Subtropical”, como sugerem Malmaceda e Miyada, trata-se de uma imersão pela “estética do frio”, conceito elaborado pelo músico gaúcho Vitor Ramil em livro de título homônimo, cuja mediadora são as obras de Bakun, balizadas pelo apreço à paisagem cotidiana de uma Curitiba dos anos 1940, às vésperas de sua modernização e ainda atravessada por indícios de seu entorno rural. Segundo os curadores ainda, o pintor paranaense, ao depositar sobre tela ágeis pinceladas utilizando uma restrita paleta formada pelas cores amarela, azul e verde entremeadas por branco puro, foi capaz de materializar esse imaginário de Brasil adverso às representações da natureza exótica e vibrante historicamente interpretada por viajantes estrangeiros, ou mesmo pelo cânone moderno, e exportada como imagem-ideal do país.

 
“Em pinturas de fatura energética, extrapolou a apreensão do real para formar estudos de uma paisagem interna amparada na subjetividade, disparadoras de reflexões sobre tempo, atenção, singeleza, interior, intuição e silêncio – protagonistas desta exposição, que costura nessa trama temporalidades e poéticas entre artistas de diferentes gerações”, completam.

 

A mostra, com patrocínio do Banco Barigui, Grupo Barigüi, Tradener e Moageira Irati, se propõe apresentar, de forma inédita em São Paulo, um amplo recorte da produção de Bakun, contextualizada na história da arte brasileira. Em diálogo com o artista protagonista, a exposição se divide em três grandes núcleos: um primeiro que contempla a especificidade da paisagem do Sul, sobretudo do Paraná, formado por obras de Alfredo Andersen, Bruno Lechowski, Caio Reisewitz, e Marcelo Moscheta; um segundo dedicado a circunscrever Bakun no interior do modernismo brasileiro, ao lado de Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Iberê Camargo, e José Pancetti; e um terceiro núcleo de artistas contemporâneos que, assim como Bakun, têm na paisagem fonte de inesgotável pesquisa, como Marina Camargo, Lucas Arruda e Fernando Lindote.

 

Miguel Bakun (Marechal Mallet, PR 1909 – Curitiba, PR, 1963) é considerado um dos principais artistas modernos do Paraná. Autodidata, sua incursão nas artes plásticas se dá no final dos anos 1920 por influência do pintor José Pancetti, ambos marinheiros no Rio de Janeiro. Em 1930 é desligado da Marinha e volta para Curitiba, onde trabalha em diversas frentes para manter o próprio sustento e inicia uma obra pictórica intensa. No início dos anos 1940 instala ateliê em prédio cedido pela prefeitura a vários artistas, momento em que estabelece maior convívio com o meio cultural da cidade, que nunca o integrou plenamente. É o período mais produtivo do artista: dedica-se à pintura de retratos, naturezas-mortas, marinhas, e, sobretudo, à pintura de paisagem. A liberdade com a qual apreendeu a paisagem fez com que fosse superada sua complexa condição de trabalho, que incluía desde barreiras técnicas à precariedade dos materiais utilizados, como a paleta reduzida de cores e a tela preparada com estopa. A combinação ousada de amarelos, azuis e verdes, bem como as pinceladas energéticas de densas massas de tinta, fizeram de Bakun um pioneiro da arte moderna no Paraná, ainda que tal reconhecimento tenha se dado postumamente. A difícil situação econômica do artista, assim como a pouca penetrabilidade de sua produção do sistema de artes local, levou ao seu suicídio em 1963, aos 54 anos.

 
De 24 de abril até 26 de maio.

Os perigosos anos 1960

Os anos 1960 foram marcados por movimentos de contestação em vários países do mundo, por motivos diversos – sistemas educacionais, costumes, repressão política, contestação de guerras. No Brasil não foi diferente e, a despeito da censura imposta por um regime de exceção, houve no período uma intensa produção artística, que retratou a atmosfera de tensão e riscos da época.

 

Para revisitar esse contexto, especificamente o período de 1965 a 1970, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, exibirá, entre 30 de abril e 28 de julho, a exposição “Os anos em que vivemos em perigo”, que traz um recorte da coleção focado na segunda metade da década de 1960, um período plural da arte brasileira, que foi fundamental para o desenvolvimento de nossa produção até os dias atuais. Tal cenário transformou o antropofágico caldeirão cultural do país, no mesmo momento em que acontecia a reestruturação do MAM que, em 1969, teve sua nova sede inaugurada, resistindo aos tempos e chegando até o momento atual em que celebra seus 70 anos de história.

 

Com curadoria de Marcos Moraes, a exposição reúne desde a tendência pop até obras de filiação surrealista, muitas das quais exprimindo as inquietações sociais e comportamentais que marcaram aquela época. São ao todo 50 obras de artistas como Antônio Henrique Amaral, Anna Maria Maiolino, Antônio Manuel, Cláudio Tozzi, Maureen Bisilliat, Wesley Duke Lee, entre outros.

 

Pinturas, xilogravuras, fotografias e objetos foram selecionados para apresentar imagens associadas ao ambiente cultural vigente como as manifestações, greves, censura, utopia, repressão, desejo e identidade brasileira – um apanhado que apresenta a potencialidade da ampliação de horizontes produzida pela vanguarda brasileira nesta época. A ação educacional do museu também contribuirá para oferecer aos espectadores oportunidades de pensar sobre a cultura daquela década, oferecendo atividades estimulantes que complementam a experiência da visita ao MAM.

 

“Para a seleção de obras, considerei o contexto, o ambiente efervescente e os acontecimentos que envolveram esses artistas no período dos anos 60 com atitudes radicais frente ao sistema da arte vigente no país, entre eles as exposições: Nova Objetividade Brasileira (MAM RJ), 1ª JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery & Sons) e a 9ª Bienal de São Paulo. A proposta desta mostra será refletir sobre esses complexos momentos vividos, tendo como marcos os anos de 1965 e 1970 rebatendo e rebatidos em 2019, suas atmosferas marcadas pela vida e a presença do perigo e da ameaça”, propõe Marcos Moraes.

 

Sobre o curador

Marcos Moraes é doutor pela FAU-USP e bacharel em Direito e Artes Cênicas pela mesma Universidade, além de especialista em Arte – Educação – Museu e Museologia. Professor de história da arte, é coordenador dos cursos de Artes Visuais da FAAP, da Residência Artística FAAP e do Programa de residência da FAAP, na Cité des Arts, Paris. Integrou o Grupo de Estudo em Curadoria do MAM e o corpo de interlocutores do PIESP. É membro do ICOM Brasil e do Conselho do MAM SP. Curador independente, seus mais recentes projetos curatoriais incluem Jandyra Waters: caminhos e processos; Entretempos e Lotada (MAB Centro, Museu de Arte Brasileira FAAP), além de Imagens Impressas: um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília, Florianópolis). É responsável por publicações sobre artistas como Luiz Sacilotto, Adriana Varejão, Rodolpho Parigi, Mauro Piva.

 

De 30 de abril a 28 de julho.