Centenário de Gilberto Chateaubriand.

05/ago

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) inaugura no dia 09 de agosto a exposição “Gilberto Chateaubriand: uma coleção sensorial”, que abre as comemorações pelo centenário de nascimento de um dos maiores colecionadores da história da arte brasileira. A mostra estará em cartaz até 09 de outubro. De grande escala, a mostra reúne aproximadamente 350 obras de um dos mais representativos conjuntos da produção artística nacional. Desde 1993, cerca de 6.400 das 8.300 peças que compõem a Coleção Gilberto Chateaubriand estão sob a guarda do MAM Rio, consolidando uma parceria fundamental para a preservação e difusão da arte brasileira.

Com curadoria de Pablo Lafuente e Raquel Barreto, o público será convidado a uma imersão nas camadas de significado, afeto e história que atravessam a coleção, ao longo de mais de cinco décadas cuidadosamente constituída por Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Mello (1925-2022), diplomata e presença marcante nas artes visuais do país. Segundo o próprio Gilberto Chateaubriand, o colecionismo surgiu por acaso, em 1953, durante uma viagem a Salvador, quando foi apresentado ao pintor José Pancetti (1902-1958) pelo colecionador Odorico Tavares. Ao visitar o ateliê, adquiriu não só a tela Paisagem de Itapuã, mas a paixão por colecionar.

De acordo com Pablo Lafuente, diretor artístico do museu, “a coleção de Gilberto consegue oferecer um panorama complexo da história da arte brasileira do século 20, atenta aos movimentos e artistas que a compuseram, tornando-se uma das mais importantes do país ao mesmo tempo que revela as relações fascinantes que Gilberto tinha com obras e com artistas”.

“Gilberto Chateaubriand se dedicou com intensidade à formação de uma das coleções particulares mais significativas que temos no Brasil. A coleção é única em sua habilidade de unir tradição e experimentação, incluindo desde os modernistas icônicos a jovens artistas de diversas regiões do país e suas propostas experimentais”, observa Raquel Barreto, curadora-chefe do MAM Rio.

Um olhar sensorial para a arte brasileira

Um século de arte no Brasil

Com obras de Adriana Varejão, Alair Gomes, Anita Malfatti, Anna Bella Geiger, Antonio Bandeira, Artur Barrio, Beatriz Milhazes, Candido Portinari, Carlos Vergara, Cícero Dias, Cildo Meireles, Djanira, Edival Ramosa, Gervane de Paula, Glauco Rodrigues, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ivan Serpa, José Pancetti, Lasar Segall, Luiz Zerbini, Lygia Clark, Maria Martins, Rubens Gerchman, Tarsila do Amaral, Tomie Ohtake e Vicente do Rego Monteiro, entre muitos outros, a exposição cobre cerca de 100 anos de arte no Brasil e permite ao visitante percorrer, de forma não linear, uma ampla e plural história da cultura visual do país.

A exposição “Gilberto Chateaubriand: uma coleção sensorial” é organizada em colaboração com o Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand e tem patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da Petrobras, da Light, do Instituto Cultural Vale e da Vivo através da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro

Giuseppe Boscagli no Museu de Arte do Paço.

04/ago

A exposição Boscagli, de Júlio de Castilhos a Rondon, comemorativa aos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, inicia dia 06 de agosto, e segue até 31 de outubro, na Pinacoteca Aldo Locatelli, localizada no Museu de Arte do Paço, Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.

A mostra revela a trajetória de Giuseppe Boscagli, pintor e fotógrafo italiano, cuja obra e vida se entrelaçam com a história brasileira. O artista destaca o papel de imigrantes italianos na formação da identidade regional e nacional, através de sua memória visual – retratos, paisagens, marinhas e registros etnográficos produzidos no Brasil entre 1899 e 1945. Além disso, a exposição agrega registros da expedição Roosevelt-Rondon (1913-1914) e apresenta obras originais em óleo, cartão e madeira, incluindo oito retratos históricos de figuras públicas como Conde de Porto Alegre, Gaspar Silveira Martins e Pinheiro Machado.

Sobre o artista.

Giuseppe Boscagli nasceu em 29 de abril de 1862, na comuna de Rapolano, província de Siena, Itália, e faleceu no Rio de Janeiro, em 30 de maio de 1945. Em 1888, imigrou para Buenos Aires, Argentina, e de lá para o Brasil, em Porto Alegre, no final de 1899. Seu trabalho é uma valiosa documentação visual do Brasil no início do século 20, especialmente das comunidades indígenas e dos pioneiros das regiões de colonização.

FLECHA encerra temporada na Casa Brasil.

31/jul

A queima de um bastão de ervas e folhas secas marcam o encerramento da exposição FLECHA, da artista multidisciplinar Mercedes Lachmann, na Casa Brasil (ex-Casa França-Brasil), Rio de Janeiro, no domingo, dia 03 de agosto, a partir das 15h. A mostra é uma instalação imersiva, com som, imagem e esculturas, que tem raízes em saberes ancestrais femininos, explorando a conexão com o mundo vegetal, sob curadoria de Cristiana Tejo.

As folhas de plantas tropicais dispostas de forma performática na nave principal da Casa e as ervas que estão em secagem desde o início da temporada de FLECHA vão integrar o bastão, confeccionado por voluntários, acrescido de intenções, afetos e trocas de conhecimentos sobre as plantas e seus usos sagrados.

A exposição tem ainda 55 trabalhos de flechas de ferro, em formatos diferentes, quatro esculturas de madeira com vidro soprado, quatro totens – esculturas de restos de desmate, em composição com esferas de vidro com tinturas de ervas ou com outros vidros, bronze ou flecha, uma instalação de 11 elementos com hastes verticais que portam vidros com tintura de plantas, um braço de bronze, vídeos, um secador de erva e dois vídeos.

“FLECHA” foi apresentada em 2023 no Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC) de Santo Tirso, Porto, Portugal. A mostra, exibe no Rio com mudanças, que ampliam a ocupação conceitual do espaço, tem apoio da República Portuguesa e do Programa de Internacionalização do Departamento Geral de Artes de Portugal.

Conversa na Sala dos Archeiros.

28/jul

O Paço Imperial realiza conversa em torno da exposição “Luz estelar ecoando”.

Na ocasião também será lançado o catálogo virtual da mostra, que pode ser vista até o dia 10 de agosto.

A artista Amanda Coimbra, a curadora Natália Quinderé e o fotógrafo Vicente de Mello participarão de uma conversa gratuita e aberta ao público no próximo sábado, dia 02 de agosto, às 15h, na Sala dos Archeiros, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. O catálogo terá cerca de 45 páginas, textos de Natália Quinderé e Amanda Coimbra, design de Marcelo Albagli e fotos de Rafael Adorján e Mari Morgado.

Durante o bate-papo, eles compartilharão referências visuais e conceituais que atravessam seus processos criativos e pesquisas, além de apresentar trechos do catálogo virtual da exposição, aprofundando a experiência do público com as obras.

Depoimentos de artistas dos anos 1980.

24/jul

Ampliando as discussões em torno da grande exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo até o dia 04 de agosto, o Arquivo Fullgás conta com cerca de 100 depoimentos de artistas visuais que iniciaram suas trajetórias na década de 1980.

Assim como na exposição, o Arquivo Fullgás conta com depoimentos de artistas visuais de todas as regiões do país, uma oportunidade de ter acesso às memórias dos artistas que integram essa geração. Desta forma, estão disponíveis depoimentos de Beatriz Milhazes, Sérgio Lucena, Chico Machado, Mauricio Castro, Cristóvão Coutinho, Gervane de Paula, Rosângela Rennó, Guache Marque, Alice Vinagre, Elder Rocha, Goya Lopes, Sergio Romagnolo, entre muitos outros.

Nas artes visuais, a Geração 80 ficou marcada pela icônica mostra “Como vai você, Geração 80?”, realizada no Parque Lage, em 1984. A exposição no CCBB entende a importância deste evento, trazendo, inclusive, algumas obras que estiveram na mostra, mas ampliando a reflexão. “Queremos mostrar que diversos artistas de fora do eixo Rio-São Paulo também estavam produzindo na época e que outras coisas também aconteceram no mesmo período histórico, como, por exemplo, o “Videobrasil”, realizado um ano antes, que destacava a produção de jovens videoartistas do país”, ressaltam os curadores.

Além das obras de arte, a exposição traz diversos elementos da cultura visual da década de 1980, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos, que fazem parte da formação desta geração. “Mais do que sobre artes visuais, é uma exposição sobre imagem e as obras de arte estão dialogando o tempo inteiro com essa cultura visual, por exemplo, se apropriando dos materiais produzidos pelas revistas, televisões, rádios, outdoors e elementos eletrônicos. Por isso, propomos incorporar esses dados, que quase são comentários na exposição, que vão dialogando com os elementos que estão nas obras de fato”, ressaltam os curadores Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo.

Obras que exploram a cor e a geometria.

23/jul

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro exibe até 15 de setembro a exposição “Frestas”, que celebra os 40 anos de trajetória da artista Renata Tassinari, com curadoria de Felipe Scovino.

“A exposição apresenta um recorte da produção da artista com foco na geometria e nas situações intervalares que sua pintura objetual apresenta. A pesquisa em torno de uma forma que tende à não fixação, move suas obras para um lugar onde a cor e a forma tendem a idealizar uma ideia ou imagem da natureza”, afirma o curador.

A exposição, apresentada na Sala A, no segundo andar do CCBB RJ, terá dez trabalhos, recentes e inéditos, feitos sobre caixas de acrílico, que são pintadas por fora e por dentro, em cores diversas. As obras possuem formatos variados, sendo alguns em grandes dimensões, com tamanhos que chegam a 2,30m X 3,50m. Apesar de não serem feitas no suporte tradicional da tela, a artista chama as obras de pinturas. “Os trabalhos tem uma relação muito forte com a forma e com a cor, uma pesquisa que venho desenvolvendo há muitos anos. São pinturas, mas tem um caráter muito de objeto porque saem da parede e conversam com o espaço.”, afirma Renata Tassinari.

A imagem refletida pelo acrílico espelhado é distorcida, tem movimento, como o fluxo de água de um rio.  “A cor nas obras de Tassinari corre. Mesmo concentrada, adquirindo um certo grau de espessura, a cor deseja o movimento. A estrutura de acrílico, preenchida de cor, longilínea e quebradiça condiciona um deslocamento. Há decididamente a imagem metafórica de um rio e não é à toa, portanto, que alguns títulos, mais uma vez, evoquem esse universo das águas”, diz o curador, referindo-se aos nomes de obras como “Marola”.

A artista começou a trabalhar com as caixas de acrílico – que inicialmente eram usadas como moldura para seus desenhos – em 2002, com o intuito de ampliar a relação arquitetônica das obras com o espaço. No início, ela pintava apenas por cima das caixas, mas, com o tempo, começou a pintar também internamente. “Faço uma relação entre a cor e o brilho; a tinta acrílica vai por dentro e tinta a óleo vai por fora. Venho de uma tradição de pintura na tela de muitos anos e gosto de usar o óleo, pois acho que as cores são mais interessantes, gosto da textura, ela tem mais corpo, acho que funciona melhor”, conta a artista.

Sobre a artista.

Renata Tassinari nasceu em São Paulo, 1958, e formou-se em Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado, FAAP, em 1980. Dentre suas últimas exposições individuais estão: Reflexos, na Galeria Marilia Razuk, São Paulo; “Construções Planares”, na Maneco Muller: Multiplo, Rio de Janeiro; “Beiras”, na Galeria Marília Razuk, São Paulo; “A Espessura da Cor”, na Lurixs Arte Contemporânea, Rio de Janeiro; “Renata Tassianari”, no Paço Imperial , Rio de Janeiro; “Cor e Estrutura – Pinturas, Desenhos e Colagens”, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, entre outras. Dentre suas principais exposições coletivas estão: “A Tela Insurgente”, no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; “Mulheres na Coleção MAR”, no Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; “Brazilianart”, no Pavilhão da Bienal, São Paulo; “Arquivo Geral”, no Centro Hélio Oiticica, Rio de Janeiro; “1ª Mostra do Programa de Exposições”, no Centro Cultural São Paulo; mostra no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), SP, entre outras.

Sobre o curador.

Felipe Scovino é professor associado do Departamento de História e Teoria da Arte da UFRJ, crítico de arte e curador. Organizou exposições como: Cao Guimarães: estética da gambiarra (Parque Lage), Marcelo Silveira: O guardião de coisas inúteis (MAMAM), Diálogos com Palatnik (MAM-SP), Barrão: fora daqui (Casa França-Brasil), Narrativas em processo: livros de artista na coleção Itaú Cultural (Itaú Cultural, MON; MAR, Franz Weissmann: o vazio como forma (Itaú Cultural) que recebeu o prêmio APCA de melhor retrospectiva, Grid: Ascânio MMM (MON), Edu Coimbra: terraço (Sesc Santo Amaro, Um olhar afetivo para a arte brasileira: Luiz Buarque de Hollanda (Flexa, Rio de Janeiro). Juntamente com Paulo Sergio Duarte, foi curador de Lygia Clark: uma retrospectiva (Itaú Cultural, São Paulo), que recebeu o prêmio de Melhor Retrospectiva 2012 pela APCA. Foi curador de Abraham Palatnik: a reinvenção da pintura (CCBB, Brasília; MON; MAM-SP; Fundação Iberê Camargo; CCBB-RJ; CCBB-BH) que recebeu o prêmio de melhor exposição pela APCA em 2014 e Elisa Martins da Silveira, MAR. Foi curador-adjunto de Diálogo concreto: design e construtivismo no Brasil (Caixa Cultural, RJ e Caixa Cultural, SP).

Exposições no Museu do Amanhã.

22/jul

Claudia Andujar ganha exposição inédita com 130 obras no Museu do Amanhã com  Destaque da Ocupação Esquenta COP, a mostra – em cartaz até 04 de novembro – mescla fotos do povo indígena Yanomami, seu trabalho mais conhecido, a cliques raros de Clarice Lispector e de imigrantes de São Paulo

Aclamada por seu trabalho documental do povo indígena Yanomami, a fotógrafa Claudia Andujar exibe uma grande exposição inédita no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, RJ. Com 130 obras da suíça naturalizada brasileira e peças de 40 artistas que se relacionam ao seu trabalho, a mostra “Claudia Andujar e seu universo: ciência, sustentabilidade e espiritualidade” é o destaque da Ocupação Esquenta COP, iniciativa que discute os temas da conferência que ocorre em Belém em novembro com exposições, seminários, aulões e mais.

A mostra observa como ela lidou com questões de ciência, conservação e natureza, e busca ser um periscópio que focaliza diversos pontos de sua obra – conta o curador Paulo Herkenhoff. Uma celebração ao legado da artista, de 94 anos, a exposição é dividida em cerca de 30 núcleos temáticos, que vão de séries célebres que retratam a Amazônia, como “A floresta” (1972-1974) e “A casa” (1974), a retratos de Clarice Lispector e de migrantes de São Paulo.

A Ocupação tem mais duas mostras. Em “Água Pantanal fogo”, fotos de Lalo de Almeida e Luciano Candisani apresentam o bioma e sua destruição. E a coletiva “Tromba d’água”, que tem entrada gratuita, reúne 27 obras em diferentes suportes de 14 mulheres latinas, entre nomes como Rosana Paulino e Suzana Queiroga, que tratam da relação do feminino com a natureza.

A exposição “Tromba d´Água” exibe vinte e sete trabalhos de catorze artistas latino-americanas, Alice Yura, Azizi Cypriano, Guilhermina Augusti, Jeane Terra, Luna Bastos, Marcela Cantuária, Mariana Rocha, Marilyn Boror Bor, Natalia Forcada, Rafaela Kennedy, Roberta Holiday, Rosana Paulino, Suzana Queiroga e Thais Iroko. Com entrada gratuita, as obras estão expostas na Galeria Leste: são pinturas, esculturas, fotografias e videoarte, que refletem sobre histórias e saberes transmitidos por mulheres que enfrentam e rompem barreiras.

De acordo com o Instituto Aristas Latinas, que organizou a mostra, o fenômeno natural Tromba D’Água serve como metáfora de transformação coletiva. “Todas as catorze artistas convidadas para ocupar este espaço traduzem, em poéticas próprias, a relação direta e subjetiva com a principal fonte da vida humana e suas principais controvérsias e desdobramentos sociais, raciais e econômicos”, dizem as curadoras Ana Carla Soler, Carolina Rodrigues e Francela Carrera, destacando a relação do feminino com a Natureza.

As cianotipias de Michael Naify.

18/jul

O artista e fotógrafo americano Michael Naify (ex-sócio da editora Cosac Naify), inaugura sua primeira exposição individual no Brasil: “Origens”. A mostra será inaugurada no dia 23 de julho no Centro Cultural Correios RJ, com curadoria de Shannon Botelho. Michael Naify apresenta uma série de cianotipias desenvolvidas após uma imersão em Minas Gerais, iniciada pouco depois do rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019. O trabalho propõe uma reflexão sobre memória, território e estruturas de poder a partir de um processo técnico rigoroso, que envolve intervenções com café, alvejante e resina natural

Sobre o artista.

Michael Naify é um fotógrafo cujo trabalho questiona as  profundas cicatrizes deixadas pelo colonialismo, capitalismo e escravidão. Em seu projeto Origins, Naify volta suas lentes para Minas Gerais, Brasil, explorando as paisagens da extração e da memória. Usando processos fotográficos históricos como a cianotipia, ele revela as marcas silenciosas incrustadas na terra, no ferro e nas vidas humanas. Suas imagens não são meros documentos; são meditações sobre resiliência e resistência, escavando histórias ocultas para confrontar o presente. A prática de Naify combina o rigor de um historiador com a sensibilidade de um artista, convidando os espectadores a ver que, sob cada superfície visível, existe uma história invisível que precisa ser contada. Nascido em San Francisco, em 1962, é formado em História e MBA pela University of San Francisco e possui MFA em Fotografia pelo San Francisco Art Institute. Atuou na indústria de pós-produção cinematográfica e foi cofundador da editora brasileira Cosac & Naify. Recentemente publicou o livro Room 32 em parceria com sua esposa, a artista brasileira Simone Cosac Naify, em que investigam relações humanas e estados emocionais a partir de experiências vividas durante uma temporada de férias. Vive entre os Estados Unidos, Brasil e Itália.

A obra de Luana Vitra em Nova Iorque.

17/jul

A prática de Luana Vitra está profundamente enraizada em sua terra natal, Minas Gerais – região marcada pela extração mineral e pela intensa presença do ferro, elementos que atravessam sua produção de forma recorrente. Sua pesquisa se ancora em tradições filosóficas e espirituais da diáspora afro-brasileira, nas quais a terra é frequentemente compreendida como uma ancestral. Esta exposição no  SculptureCenter, Nova Iorque, USA, amplia as investigações recentes de Luana Vitra em torno da materialização da força energética e simbólica de elementos naturais como a pedra, o barro e a areia. Aqui, ela entende os minerais como mediadores entre mundos seculares e espirituais – receptores, condutores, transformadores e sedimentadores de energia -, atribuindo-lhes forma por meio de uma nova instalação escultórica.

Em “Amulets”, Luana Vitra convida o público a olhar para além das propriedades materiais dos minerais e de sua circulação como mercadorias, e a imaginar as dimensões espirituais a que pertencem. As formas que emergem em sua prática se tornam orações visuais, encantamentos ou manifestações de uma energia ancestral. A exposição “Amulets” se abre com uma cortina ultramarina – tonalidade associada ao lápis-lazúli, mineral tradicionalmente utilizado em rituais espirituais. As esculturas verticais em ferro – formas que surgiram à artista em sonhos – são concebidas como manifestações corpóreas do espírito mineral; a areia ao seu redor atua como proteção para o fluxo desses movimentos.

Luana Vitra: Amulets é organizada por Jovanna Venegas, curadora. Por ocasião da mostra, o SculptureCenter publicará o primeiro catálogo da artista em inglês (lançamento previsto para a primavera de 2025), com ensaio comissionado de Gabi Ngcobo, diretora do Kunstinstituut Melly (Roterdã); uma entrevista entre Luana Vitra e Diane Lima, curadora e escritora independente baseada em Nova York; e um texto curatorial de Jovanna Venegas. O projeto gráfico é assinado pelo Studio Lhooq.

Revisão do POP nacional.

Made in Brazil: Entre desejo, bandeiras e censura, arte pop brasileira ocupa a Pinacoteca de São Paulo.

Às vésperas do carnaval de 1968, centenas de pessoas se reuniram em Ipanema, no Rio de Janeiro, para um evento que ficaria conhecido como o “Happening das bandeiras na Praça General Osório”. Estandartes se espalharam em uma intervenção coletiva de artistas que queriam extrapolar o ambiente dos museus e galerias e criar espaços alternativos de cultura, reivindicando a esfera pública que havia sido silenciada e esvaziada pela ditadura militar. Transformando a rua em festa – com a presença, inclusive, de músicos da Estação Primeira de Mangueira -, estes sujeitos articularam a participação do espectador nas obras, questionando o sentido da arte em um mundo difícil e violento.

Hoje, as bandeiras serigrafadas que fugiam do espaço institucionalizado agora ganham destaque na exposição “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 60-70”, em cartaz na  Pina Contemporânea, São Paulo, SP, até outubro. Reunindo cerca de 250 obras emblemáticas da segunda metade do século 20, a mostra faz uma espécie de “retrato de geração” de artistas que exploraram a linguagem da pop arte em um contexto de crise política e ascensão da cultura de massa, tendo reagido ao golpe militar de 1964, ao endurecimento do regime em 68, ao silêncio depois de 70 e, finalmente, ao processo de redemocratização a partir de 80. Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, outros aspectos do espaço urbano também chamaram atenção dos artistas da década de 60. Contraditória e em constante transformação, a rua foi compreendida como um ambiente de controle e vigilância e, ao mesmo tempo, como território de expressões populares e de resistência.

Na exposição, diversas obras exploram a visualidade do cotidiano (com a apropriação de signos urbanos como letreiros, anúncios e fachadas); ruídos da cidade o futebol como paixão nacional e identidade coletiva; as manifestações e passeatas estudantis; e os corpos em movimento. Inspirados nessa efervescência, os visitantes poderão ainda experimentar e “ativar” os famosos Parangolés de Hélio Oiticica. Com curadoria de Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 1960-70” segue em cartaz até 05 de outubro e é imperdível para quem passa por São Paulo. Depois, a mostra viaja para a Argentina e passa a ser exibida no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), a partir de 05 de novembro.

Texto: Carla Gil, pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP.