Visita guiada no Paço Imperial.

30/jun

No dia 05 de julho, às 16h, a artista Amanda Coimbra e a curadora Natália Quinderé farão uma visita guiada, gratuita e aberta ao público, pela exposição “Luz estelar ecoando”, em cartaz até o dia 10 de agosto no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Inspiradas nas incríveis imagens feitas pelo telescópio espacial James Webb, da NASA, as 35 obras inéditas da exposição foram produzidas em diferentes suportes, como fotografias, caixas de luz, vídeo e instrumentos ópticos variados. A sala expositiva está com uma luz mais baixa, difusa, criando um ambiente escuro, contemplativo e estelar.

Para realizar os trabalhos, Amanda Coimbra fotografa o céu de forma analógica, usando uma câmera Rolleiflex. Com as imagens prontas, ela faz interferências no filme slide com objetos pontiagudos, em geral compassos, desenhando planetas, estrelas e elementos cósmicos na superfície da película. O resultado é surpreendente e o espectador precisa trabalhar sua percepção para entender o que é real e o que foi criado pela artista. Cores variadas surgem nas obras, seja através das interferências feitas por Amanda Coimbra com marcador permanente, seja pelo próprio processo de raspagem do filme fotográfico, que faz brotar tons de azul da sua superfície. Essas imagens estão expostas de formas variadas. Muitas delas estão em caixas de luz, com fotogramas em sequências, que criam uma narrativa. Três fotogramas foram impressos em tamanho 64 x 80 cm. Há, ainda, um vídeo feito a partir de animações das obras da artista, levando o espectador a uma viagem pelo espaço. Completam a mostra imagens expostas em 10 dispositivos ópticos variados, como monóculos, lupas e retroprojetor.

A prática artística de Amanda Coimbra sempre foi baseada nos processos analógicos da fotografia. Se antes a artista realizava as intervenções no fotograma e depois imprimia, agora o próprio slide tornou-se a obra de arte. Outra novidade é que o céu diurno também ganhou atenção da artista, que antes só trabalhava com imagens noturnas. Além disso, Amanda Coimbra começou a criar desenhos enquanto fotografa, aumentando a exposição e explorando novos elementos de luz.

Além da visita guiada, também estão previstos uma conversa, no dia 02 de agosto, e o lançamento do catálogo virtual da exposição.

MON realiza nova exposição internacional.

26/jun

“Re-Selvagem”, da artista francesa Eva Jospin, é a nova exposição internacional realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON) e a primeira mostra da artista no Brasil. Com curadoria de Marcello Dantas, a inauguração aconteceu no Olho e Espaços Araucária. A exposição reúne nove obras de grandes dimensões, entre elas instalações e desenhos, além de dois vídeos. A matéria-prima das instalações é o bordado de seda e o papelão, mas a artista também usa madeira, bronze, tecido e outros materiais.

“Eva Jospin no Museu Oscar Niemeyer reforça nossa missão de conectar o público paranaense com o que há de mais relevante na arte contemporânea mundial”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira. “Esta exposição ainda reafirma a diretriz de diplomacia cultural que o Paraná estabelece com a França, em um ano especialmente significativo, marcado pelas celebrações do Ano do Brasil na França e da França no Brasil”.

A diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, afirma que a sensibilidade da artista francesa Eva Jospin fica evidente nesta exposição. “Ao abordar a natureza e o tempo em poéticas obras de arte, ela evoca nossa memória afetiva”, diz.

O curador Marcello Dantas conta que Eva Jospin é conhecida por seu meticuloso trabalho de criar, com as próprias mãos, ilusões de um mundo imaginário – arquiteturas silenciosas e espaços naturais abundantes, que nascem do gesto paciente e obsessivo de devolver à matéria um sentido de origem. “A floresta, para Jospin, é mais que uma representação da natureza. É um lugar simbólico, onde o mistério, o inesperado e a transformação acontecem”, diz Marcello Dantas. “Como nos contos antigos, suas florestas são territórios onde nos perdemos para nos reencontrar”. Em “Re-Selvagem”, o visitante atravessa trilhas de papel e sombra, entra em universos de folhagens esculpidas, experimentando uma espécie de rito íntimo. As formas evocam memórias esquecidas, despertam imagens do inconsciente coletivo e provocam silêncio.

Sobre a artista.

Eva Jospin nasceu em 1975 em Paris, onde formou-se na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts. Nos últimos 15 anos, vem criando florestas meticulosas e paisagens arquitetônicas, que explora por meio de diversas mídias. Desenhadas a tinta ou bordadas, esculpidas em papelão ou em bronze, suas obras evocam jardins barrocos italianos, decorações rocaille do século XVIII e grutas artificiais. Foi residente na Villa Medici, em Roma, em 2017, e eleita para a seção de Escultura da Academia de Belas Artes em 2024. Entre suas exposições internacionais, destacam-se: “Inside”, no Palais de Tokyo, em Paris (2014); “Sous-Bois”, no Palazzo dei Diamanti, em Ferrara (2018); “Eva Jospin – Wald(t)räume”, no Museum Pfalzgalerie, em Kaiserslautern (2019); “Among the Trees”, na Hayward Gallery, em Londres (2020); “Paper Tales”, no Het Noordbrabants Museum, em Den Bosch (2021); “Galleria”, no Musée de la Chasse and Nature, em Paris (2021); “Panorama”, na Fondation Thalie, em Bruxelas (2023); e “Palazzo”, no Palais des Papes, em Avignon (2023). Em 2024, apresentou duas novas exposições individuais: “Selva”, no Museo Fortuny, em Veneza, durante a 60ª Bienal de Veneza, e “Eva Jospin – Versailles” na Orangerie do Castelo de Versalhes. Também desenvolveu diversas instalações de grande porte como parte de encomendas especiais, incluindo “Panorama” (2016), no centro do Cour Carrée do Louvre, e “Cénotaphe” (2020), na Abadia de Montmajour. Além disso, criou uma série de painéis bordados para o desfile Dior Haute Couture 2021-2022 (Chambre de Soie, 2021).

 Sobre o curador.

Marcello Dantas é um renomado curador, diretor artístico e produtor brasileiro, reconhecido por sua abordagem interdisciplinar que integra arte, tecnologia e experiências sensoriais imersivas. Nascido no Rio de Janeiro em 1968, Marcello Dantas possui uma formação acadêmica diversificada: estudou Relações Internacionais e Diplomacia em Brasília, História da Arte e Teoria do Cinema em Florença, e graduou-se em Cinema e Televisão pela New York University, onde também realizou pós-graduação em Telecomunicações Interativas. Ao longo de sua carreira, Marcello Dantas foi responsável pela concepção e direção artística de diversos museus e pavilhões, tanto no Brasil quanto no exterior. Também é conhecido por curar exposições de grande impacto, que atraem vasto público e crítica especializada. Entre elas “Ai Weiwei: Raiz”, do artista chinês Ai WeiWei, e “Invisível e Indizível”, do artista espanhol Jaume Plensa, ambas no Museu Oscar Niemeyer.

Sobre o MON.

O Museu Oscar Niemeyer (MON) é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Cultura. A instituição abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além de grandiosas coleções asiática e africana. No total, o acervo conta com aproximadamente 14 mil obras de arte, abrigadas em um espaço superior a 35 mil metros quadrados de área construída, o que torna o MON o maior museu de arte da América Latina.

Até 03 de agosto.

Expressividade fotográfica em preto e branco.

24/jun

Fotógrafo especializado na reprodução de obras de arte para catálogos e livros, Fernando Zago já trabalhou, ao longo de anos, para um grande número de artistas gaúchos, dos quais tornou-se próximo. O sentimento de amizade estimulou-o a fotografá-los em seus ateliês ou no StudioZ, de sua propriedade. O resultado poderá ser visto na exposição “Amigos Artistas”, que será inaugurada no dia 25 de junho no Museu de Arte do Paço, Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico de Porto Alegre e permanecerá em cartaz até 19 de setembro.

“Não se pode fazer retrato sem tomar em consideração o caráter e o aspecto do motivo. O retrato bem-sucedido exige uma combinação de conhecimentos técnicos, interesse pelas pessoas e compreensão das inibições criadas pela câmera”, diz Fernando Zago. As 34 fotos da mostra são em preto e branco, no estilo clássico, com fundos neutros, luz dura e alto contraste para ganhar mais expressividade.

O curador da exposição, lembra que esse tipo de retrato, produzido por artistas, tem longa tradição na História da Arte. “Podemos referir os exemplos icônicos de Man Ray, Andy Warhol e Robert Mapplethorpe, que também imortalizaram colegas artistas. Por serem capturas feitas por um fotógrafo-artista, os registros transcendem a mera semelhança superficial, buscando momentos que vão além da instantaneidade”, declarou o professor José Francisco Alves.

Os homenageados

A galeria de mulheres artistas homenageadas é composta por Adri Hernandez, Ana Norogrando, Clara Pechansky, Helena Kanaan, Lenir de Miranda, Maria Tomaselli, Marília Fayh, Marilice Corona, Maristela Salvatori e Zoravia Bettiol. A dos homens é integrada por Alfredo Nicolaievsky, Britto Velho, Carlos Tenius, Carlos Wladimirsky, Eduardo Haesbaert, Hidalgo Adams, Hô Monteiro, José Carlos Moura, Luiz Gonzaga, Gustavo Nakle, Paulo Chimendes, Paulo Amaral, Paulo Porcella e Ricardo Aguiar. Foram retratados em vida e já faleceram Danúbio Gonçalves, Ena Lautert, Gelson Radaelli, Henrique Fuhro, José Luiz Roth, Lou Borghetti, Mário Röhnelt, Nelson Jungblut, Paulo Peres e Plinio Bernhartd.

Patrimônio cultural

Depois de encerrada a exposição, as fotografias produzidas por Fernando Zago passarão a integrar o acervo da FUNDACRED, que patrocina o projeto do artista. A FUNDACRED detém um grande acervo de obras de autores gaúchos, “um patrimônio cultural de valor inestimável para o Rio Grande do Sul”, avalia o presidente da Fundação, Nivio Lewis Delgado. Esse acervo é composto por mais de 700 obras de artistas como Aldo Locatelli, Eugênio Latour, João Fahrion, Leopoldo Gotuzzo, Oscar Boeira, Pedro Weingartner e Augusto Luiz de Freitas, entre outros.

Mostra institucional de Manuel Messias.

23/jun

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresentam até 03 de agosto a  exibição de “Manuel Messias – Sem limites”, que conta com o patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e o apoio da Danielian Galeria. A exposição traz a assinatura dos curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Primeira mostra individual institucional de Manuel Messias, a mostra reúne cerca de 70 xilogravuras e traça um panorama sensível e contundente de um artista que manteve uma produção contínua e coesa apesar de ter enfrentado grandes dificuldades por ser um homem negro, nordestino e que viveu nos limites da pobreza e da loucura. “Sem limites”, como ele próprio se definia, Manuel Messias é hoje reconhecido como um importante membro de sua geração e um dos mais destacados nomes da gravura brasileira do século XX.

A exposição perpassa três décadas de produção artística, revelando a potência poética e crítica de Manuel Messias dos Santos (1945-2001), sergipano radicado no Rio de Janeiro desde a infância. Segundo os curadores, foi através de sua mãe, que trabalhou como empregada doméstica na casa de nomes influentes da cena artística carioca, que Manuel Messias pôde frequentar aulas de arte no início dos anos 1960, particularmente o curso livre de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

No Instituto Tomie Ohtake.

18/jun

Manfredo de Souzanetto, Série Olhe bem as montanhas, 1973-1974

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e o Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, apresentam Manfredo Souzanetto – As montanhas, exposição com patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e com apoio da Galeria Simões de Assis. Sob curadoria de Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake, a mostra ficará em cartaz até 03 de agosto.

Paralelamente às exposições Teatro Experimental do Negro nas fotografias de José Medeiros, Manuel Messias – Sem limites e Casa Sueli Carneiro em residência no Instituto Tomie Ohtake.

Propondo um mergulho na formação poética e crítica de um dos nomes mais singulares da arte contemporânea brasileira, a mostra reúne cerca de 50 obras produzidas entre as décadas de 1970 e 1990. São sobretudo desenhos, fotografias e pinturas – a grande maioria advindas do acervo de Manfredo Souzanetto, que as guardou por décadas, como se antevisse a importância desses trabalhos na constituição de sua trajetória.

Nascido em 1947 no norte do Vale do Jequitinhonha, o artista teve uma infância marcada pelas paisagens montanhosas e as riquezas naturais da região – especialmente às pedras, cerâmicas e pigmentos terrosos – elementos que mais tarde se tornariam centrais em sua produção artística. As obras selecionadas revelam o processo de amadurecimento do artista, acompanhando a sua produção durante o percurso que o levou de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, Paris e Juiz de Fora.

Ainda que tenha se deslocado por diferentes centros urbanos e circuitos artísticos, Manfredo Souzanetto manteve uma profunda conexão com sua terra natal. Em sua obra as montanhas mineiras não são apenas formas geográficas, mas entidades afetivas e políticas, evocadas em cores, volumes e superfícies que desafiam fronteiras entre escultura, pintura e intervenção paisagística. Como Paulo Miyada afirma no texto curatorial, “As montanhas, aqui, são muitas e nenhuma. Elas são memória atávica e pensamento junto da paisagem, articuladas de modo visual, material, cromático. Elas, as montanhas, são parte do que constitui este mundo, essas obras e esse artista”, conclui.

Mais do que um panorama histórico, a exposição convida o público a revisitar o gesto de olhar para a paisagem – como já propunha o artista em sua juventude com o emblemático adesivo “Olhe bem as montanhas”. Em um momento em que os territórios naturais enfrentam ameaças crescentes, as obras do artista oferecem uma reflexão sobre permanência, destruição e pertencimento. É um chamado para ver, com outros olhos, aquilo que insiste em permanecer: a paisagem como memória viva e a arte como forma de resistência.

O momento de Miguel Afa no Paço Imperial.

16/jun

O artista Miguel Afa inaugura sua nova exposição individual, “O vento continua, todavia”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A mostra apresenta um conjunto de obras produzidas entre 2023 e 2025, e marca um momento de síntese e afirmação da trajetória do artista, iniciada em 2001 por meio do graffiti nas ruas do Complexo do Alemão, onde nasceu e cresceu.

Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Miguel Afa transita da rua para as instituições com uma linguagem pictórica profundamente marcada por seu percurso pessoal. Sua produção propõe uma reconfiguração poética da imagem do corpo periférico, contrapondo os estigmas da marginalização com cenas que evocam afeto, cuidado e resistência. Trabalhando com uma paleta cromática enigmática, Migeul Afa cria cenas que não suavizam, mas intensificam a complexidade de suas narrativas. Em sua obra, a cor é discurso, e o gesto de esmaecer é, mais do que técnica, ato de lembrança e posicionamento. Suas pinturas revelam simultaneamente o visível e o invisibilizado, tensionando o olhar e o imaginário social.

O texto de apresentação da exposição é assinado por Jeovanna Vieira, que reflete sobre o título da mostra, inspirado em uma frase de Vincent van Gogh: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Jeovanna Vieira escreve: “O título da exposição fragmenta frase de Van Gogh, que em carta para o irmão Theo provoca: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Diante da obra-itinerário produzida por Miguel Afa, somos conduzidos pelo vento pressupondo a teimosia primordial, que justifica tudo ainda estar.”

“O vento continua, todavia” estará em cartaz no Paço Imperial até o dia 10 de agosto. Um dos centros culturais mais importantes do país, com forte carga simbólica na história do Brasil, o Paço – edifício histórico do século XVIII que tem acolhido algumas das exposições mais relevantes do cenário nacional – é palco de diálogos essenciais sobre arte, cultura e memória brasileira. Agora, recebe a mostra que reafirma Miguel Afa como uma voz potente e em ascensão na arte contemporânea do país.

Miguel Afa vive e trabalha no Rio de Janeiro. Começou sua trajetória por meio do graffiti em 2001, nas ruas e becos do Complexo do Alemão, e estudou na Escola de Belas Artes – UFRJ. Seu trabalho reflete sobre o corpo periférico, contrapondo suas adversidades e propondo uma nova leitura imagética que potencializa e valoriza o afeto. Suas obras alternam entre a sensibilidade poética e mensagens políticas diretas.

O olhar do artista transforma o que captura, dando-lhe uma aura própria por meio das cores que utiliza. Sua paleta amena não é mero recurso estético: é essencial à composição, ampliando a complexidade do que é representado. Longe de neutra, a cor é discurso e um posicionamento diante das cenas retratadas. Esmaecer não é apenas um gesto pictórico, mas um ato de lembrança e questionamento, revelando tanto o visível quanto o invisibilizado.

Em 2024, participou das coletivas “Dos Brasis”, no Sesc Quitandinha, Petrópolis (itinerância da mostra apresentada no Sesc Belenzinho, São Paulo) e “O que te faz olhar para o céu?”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. No mesmo ano, realizou a individual “ENTRA PRA DENTRO”, na galeria A Gentil Carioca. Em 2023, realizou a individual “Em Construção” e participou da coletiva “Da Avenida à Harmonia”, ambas no Instituto Inclusartiz no Rio de Janeiro. Suas obras fazem parte de coleções de destaque, como a Jorge M. Pérez Collection.

Artistas na 36ª Bienal de São Paulo.

13/jun

Lidia Lisbôa, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Rebeca Carapiá e Heitor dos Prazeres estão entre os artistas na 36ª Bienal de São Paulo, que inaugura no dia 06 de setembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, SP, e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Intitulada “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, a Bienal tem curadoria geral de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com cocuradoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além de Keyna Eleison como cocuradora at large.

Inspirada pelo poema “Da calma e do silêncio”, da poeta Conceição Evaristo, a Bienal tem como um dos principais alicerces a escuta ativa da humanidade enquanto prática em constante deslocamento, encontro e negociação. Na exposição, serão apresentados projetos inéditos, concebidos a partir do convite da curadoria a Lidia Lisbôa, Maxwell Alexandre, Marlene Almeida e Rebeca Carapiá.

Sobre os artistas.

Lidia Lisbôa

A prática de Lidia Lisbôa se desenvolve em suportes distintos, sobretudo a escultura, o crochê, em performances e em desenhos. Sua pesquisa tem a tessitura de biografias como eixo fundamental, percorrendo os pólos da paisagem, do corpo e da memória ao utilizar matérias nas quais se imprimem o gesto e a mão da artista. Resultado de uma prática artística constante que se mistura à vida, na obra de Lidia Lisbôa, a costura e a criação de narrativas se colocam como exercício de construção subjetiva e, portanto, de cura e ressignificação.

Marlene Almeida

Marlene Almeida é pesquisadora, escultora e pintora, cuja prática fundamentalmente interdisciplinar combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições realizadas especialmente ao Nordeste brasileiro, Marlene Almeida cataloga e armazena amostras de terras coloridas. Essas expedições são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas de todo território nacional. Em sua trajetória, ela também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política.

 Maxwell Alexandre

Pautada pelo conceito de autorretrato, a prática de Maxwell Alexandre extrapola as categorias e suportes tradicionais do fazer artístico. Por meio de uma lógica de citação, apropriação e associação de imagens e símbolos, bem como pelo uso de materiais de valor simbólico e biográfico, Maxwell Alexandre constroi uma mitologia imagética que engloba religiosidade e militarismo. Da mesma maneira, sua obra confronta o estatuto institucional da arte contemporânea e os limites do campo da experiência estética.

Rebeca Carapiá

Ao utilizar o ferro e o cobre como seus principais materiais, o trabalho de Rebeca Carapiá se desdobra em esculturas, instalações, desenhos e gravuras, nos quais torção, união e aproximação entre essas matérias constituem uma caligrafia abstrata. Tomando a palavra como ponto de partida, as obras de Rebeca Carapiá insuflam, dobram e seccionam a linguagem em um exercício de deslocá-la de uma posição linear e monolítica. Assim, seus trabalhos se configuram como uma língua particular, que resulta do liame entre corpo, terreno, memória e os saberes oriundos das vivências da artista, bem como daqueles imbuídos na materialidade das peças.

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um artista plástico, figurinista, compositor e sambista, reconhecido como figura fundamental do contexto cultural carioca no início do século XX e para o Modernismo brasileiro. Heitor dos Prazeres foi um autodidata, e sua inserção no ambiente artístico carioca foi a princípio pela via da música. Na segunda metade dos anos 1930, passou a se dedicar também à pintura, tratando de temas relacionados às tradições e à cultura popular brasileira e cenas do cotidiano das populações negras da cidade. O samba, o carnaval, as paisagens urbanas e as brincadeiras infantis foram seus temas mais frequentes.

Elementos do cotidiano do artista.

12/jun

O artista Allan Weber apresenta a itinerância da individual “My Order” no De La Warr Pavilion, em Bexhill-on-Sea, Inglaterra, com abertura no dia 12 de junho. Em seu segundo ato, a mostra ganha um novo subtítulo: “My Order: existe uma vida inteira que tu não conhece”, inspirado no fotolivro homônimo que o artista lançou em 2020. Com curadoria de Joseph Constable, Pablo León de la Barra e João Conceição, a exposição fica em cartaz até 14 de setembro.

A mostra é co-comissionada com a Nottingham Contemporary, onde foi apresentado o seu primeiro ato, chamado “My order: nenhum lugar no mundo é igual ao nosso lugar no mundo”. Ela resulta de um mês de residência artística que Allan Weber realizou em Nottingham em novembro de 2024, durante o qual retomou e complexificou a sua pesquisa em torno do trabalho com entregas por aplicativo e das conexões estabelecidas dentro do caos urbano e do trânsito pelas ruas e culturas.

A nova exposição expande o conjunto apresentado na primeira com obras inéditas. Entre elas, está uma instalação escultórica e fotográfica site-specific na galeria do andar térreo do De La Warr, pensada em diálogo com a arquitetura do edifício e com os seus arredores. A instalação procura trazer para o campo da arte elementos do cotidiano do artista, como assentos de moto de entregadores, mochilas de entrega e capacetes.

O título da mostra alude tanto ao período no qual Allan  Weber trabalhou como entregador de comida, levando “pedidos” (“orders”) aos clientes, quanto às regras internas que operam as comunidades e sistemas que atravessaram a vida do artista. “My Order” é a resposta de Allan Weber a essas regras: uma afirmação de autonomia e agência.

A ênfase na técnica da gravura.

11/jun

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 14 de junho três exposições, sendo duas com ênfase na técnica da gravura e outra na trajetória de Iberê Camargo. Os curadores da Bienal do Mercosul, Raphael Fonseca, Tiago Sant’Ana e Yina Jiménez Suriel, foram convidados para selecionar obras de Iberê Camargo para a exposição “Iberê Camargo: estruturas do gesto”. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista.

A exposição “Gravura – Experiência matriz” apresenta os diferentes matizes de 43 artistas de renome internacional que passaram pela técnica na Fundação Iberê Camargo.

Artista que incentivou Iberê Camargo na retomada da gravura no final dos anos 1980 e idealizador do Gabinete de Gravura no Museu Nacional de Belas Artes, Carlos Martins faz retrospectiva de seu trabalho na Fundação Iberê Camrago. Mestre supremo de seu ofício, Carlos Martins é um dos gravadores mais apurados, sofisticados e elegantes de sua geração. Dotado de um virtuosismo poucas vezes atingido no campo da repetição da imagem, pode-se dizer também que é um “gravador dos gravadores”. Ele também é arquiteto, museólogo, pesquisador e curador. Por mais de 15 anos, o artista manteve relações profissional e de amizade com Iberê Camargo.

Com curadoria de José Augusto Ribeiro, “Sombra da Terra” sublinha o interesse de Carlos Martins em figurar uma espécie de dimensão metafísica do mundo das coisas. Diversas gravuras de Carlos Martins inspiradas pelos lugares onde foram produzidas. É o caso da série “Journey to Portugal”, de 1976, em que a natureza surge apenas na forma controlada dos jardins, vista entre sombras, por cima de paredes e muros, ou através de janelas. Outro destaque da exposição compõe-se de trabalhos em torno da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes.

“O objetivo da exposição é ressaltar o apuro técnico da produção de Martins na realização de seus trabalhos, a combinação de linguagens e soluções diversas na feitura de uma única imagem e os jogos que se armam, não raro, entre repetições e diferenças em grupos de trabalhos – quando numa série, por exemplo, uma estampa se multiplica por várias unidades, embora cada uma receba tratamento específico e diferente, com cores, formas e soluções de preenchimento variadas. Constitui-se, assim, uma obra que é, ao mesmo tempo, rigorosa, culta e atenta à realidade sensível”, afirma José Augusto Ribeiro.

Sobre o artista.

Há 50 anos, Carlos Martins produz um trabalho gráfico notabilizado pelo apuro técnico empregado nas diferentes etapas de construção de uma imagem, no desenho, gravação e impressão. Carlos Botelho Martins Filho nasceu em Araçatuba, SP, 1946. Iniciou seus estudos em gravura em metal na década de 1970, na Inglaterra, frequentando a Chelsea School of Art, Sir John Cass School e Slade School of Arts, além da Academia Raffaelo na Itália, retornando ao Brasil em 1978. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, trabalhando na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) como professor de gravura. Durante a década 1980 ministrou cursos, ao modelo inglês de evening class, que ocupavam horários ociosos de ateliês de escolas e de universidades para a realização de cursos livres.

“Gravura – Experiência matriz” mostra os diferentes matizes de artistas de renome internacional que passaram pela técnica na Fundação Iberê Camargo, reunindo na exposição obras de 43 artistas que vivenciaram a técnica na prensa que pertenceu a Iberê Camargo. São eles: Afonso Tostes, Alex Cerveny, Angelo Venosa, Antonio Dias, Álvaro Siza, Caetano de Almeida, Carlos Martins, Carlos Fajardo, Carlos Pasquetti, Carmela Gross, Daniel Acosta, Daniel Feingold, Daniel Escobar, Daniel Melim, Elisa Bracher, Iole de Freitas, Janaina Tschäpe, Jorge Macchi, José Bechara, José Patrício, José Resende, Laura Andreato, Léon Ferrari, Lucas Arruda, Luciana Maas, Luiz Carlos Felizardo, Marcos Chaves, Maria Lucia Cattani, Matias Duville, Nelson Felix, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Pablo Chiuminatto, Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Rafael Pagatini, Regina Silveira, Rodrigo Andrade, Rosângela Rennó, Santídio Pereira, Teresa Poester, Vera Chaves Barcellos, Waltercio Caldas.

A exposição traz um recorte da coleção com artistas de diferentes matizes e suas respectivas obras produzidas nas mais variadas técnicas da gravura em metal em sete módulos temáticos: matéria da memória em P&B, abstrações, figuras, riscados, paisagens, grafismos e cartografias. “Gravura – Experiência matriz” é organizada pela Fundação Iberê Camargo, que, em 1999, ainda na casa do artista no bairro Nonoai, promoveu oficinas de gravura ministradas por Anna Letycia, Evandro Carlos Jardim, Claudio Mubarac e Carlos Martins. Nesse período, foi proposto que as matrizes das obras fossem doadas para a instituição, dando início à Coleção Ateliê de Gravura. Em 2001, foi criado o Projeto Artista Convidado, como programa de residência artística sob a coordenação de Eduardo Haesbaert que foi assistente e impressor de Iberê Camargo. Os artistas experimentaram a gravura, muitos deles pela primeira vez, e produziram obras inéditas criadas a partir de suas poéticas. Desde então, o projeto recebeu mais de 100 artistas residentes. O Ateliê de Gravura conserva a prensa e as ferramentas utilizadas por Iberê Camargo que, desde os anos 1940, teve a prática da gravura simultânea ao seu ofício de pintor. “Estabelecemos uma profícua troca a partir de pesquisas, conceitos e pensamentos de cada residente. Suas expressões são reveladas em obras gráficas e posteriormente multiplicadas, tornando-as parte do acervo do artista e da Fundação”, destaca Eduardo Haesbaert.

Curadores da 14ª Bienal do Mercosul assinam a curadoria da exposição “Iberê Camargo: estruturas do gesto”.

Raphael Fonseca, Yina Jiménez Suriel e Tiago Sant’Ana, curadores da 14ª Bienal do Mercosul, foram convidados para assinar a seleção de obras que fazem parte do acervo da instituição. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista. Chamam a atenção os desenhos de crânios e gatos presentes na mostra e que participaram da mais recente edição da Bienal do Mercosul.

Um dos destaques da exposição é um estudo feito em 1966 para o painel da Organização Mundial de Saúde em guache, pastel seco e grafite sobre papel. Criada no segundo pós-guerra (1947), no contexto da reconstrução e da reorganização do mapa político internacional, a OMS recebeu doações de todos os países membros para construir e equipar a sua sede na Suíça. O Brasil, por meio do Ministério de Relações Exteriores, ofereceu um presente cultural: uma pintura original que Iberê Camargo realizaria in loco. Foram quatro meses de trabalho em uma pintura 49 metros quadrados. Para criar uma “vegetação colorida”, Iberê Camargo realizou uma série de esboços e começou a brincar livremente com as formas. Trinta estudos feitos com grafite, guache, grafite, lápis de cor, nanquim, tinta a óleo e outros materiais ficaram guardados por mais de 40 anos nos porões da agência de Saúde da Organização das Nações Unidas em uma caixa lacrada com o inédito projeto de Iberê Camargo, com uma mensagem do próprio artista escrita na tampa: ”Não dobre e não remova nada sem a autorização do diretor-geral”. Eles só foram descobertos em 2007, após uma consulta da Fundação Iberê Camargo, a pedido de Maria Coussirat Camargo. A caixa foi aberta em janeiro de 2008, na presença de autoridades da Organização Mundial da Saúde, e encontram-se preservados no Arquivo da OMS, em Genebra, como parte do presente do governo brasileiro. Iberê e Maria Camargo mantiveram alguns estudos, que estão sob os cuidados da Fundação Iberê Camargo.

A potência emocional de Stella Margarita

10/jun

A trajetória de Stella Margarita pelo circuito artístico do Rio de Janeiro foi breve, mas profundamente marcante. Um recorte significativo de sua produção poderá ser contemplado na exposição “Stella Margarita: Fugas que se movem”, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, Botafogo, no dia 17 de junho. A expressão “fugas que se movem” é da própria Stella Margarita. A partir dela, foi construído este retrato curatorial, um convite à imersão na força psicológica e humana de sua pintura.

Tendo como ponto em comum a investigação da dimensão humana e do movimento físico e emocional, foram selecionadas algumas de suas principais séries, entre elas Abraços, Álbum de Família e Fotogramas. A proposta desta individual é oferecer ao público uma imersão nessas fugas: uma visão de mundo singular, ancorada na dimensão humana mais do que na estética pura. Embora sua técnica fosse apurada, o verdadeiro motor de sua criação sempre foi o sentimento. Stella Margarita buscava traduzir emoções em imagem – por isso, dedicou-se intensamente a retratar olhares, gestos, abraços. Fundos marcantes, muitas vezes abstratos, revelam atmosferas emocionais. Os personagens parecem levitar, cair, escapar, mas como se trata de fugas que se movem, há sempre a possibilidade do reencontro, da volta.

Atualmente, sua obra pode ser vista na novela Vale Tudo (TV Globo), nas telas assinadas pela personagem Heleninha, interpretada por Paolla Oliveira.

“O movimento é um elemento central na linguagem de Stella. Ele se revela na pincelada livre e marcante, nos flagrantes de cenas cotidianas, e nas apropriações que fez do cinema e da performance, incorporando essas expressões a sua própria. Mas trata-se sempre de um movimento em fuga – fugas que se movem, fugas que retornam. É nessa constante busca e deslocamento que sua obra pulsa com uma densidade psicológica única. Muitas vezes perturbadora. Um convite à fuga, e ao retorno”.

Stella Margarita iniciou sua formação artística tardiamente, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Produziu intensamente por cerca de uma década, combinando urgência criativa e consistência técnica. Reinventou-se diversas vezes; adotou novos nomes, novos projetos e abraçou uma nova missão artística. Ganhou prêmios, como o do IBEU, participou de uma residência em Leipzig, e integrou diversas exposições. Sua ascensão, no entanto, foi abruptamente interrompida em 2020 por um diagnóstico de ELA bulbar, uma forma agressiva e rara da doença. Frente à progressiva limitação motora, Stella Margarita impôs a si mesma uma nova resistência: espalhou em seu ateliê a frase “fuerza carajo” como um grito de vida. E seguiu criando. Em 2021, montou um estúdio improvisado em Genebra, onde considerava iniciar um tratamento experimental. Contudo, optou por voltar ao Rio de Janeiro, e transformou sua casa em espaço de produção. Mesmo com a redução da motricidade e do tamanho dos quadros, a potência emocional se manteve intacta. Talvez como um gesto de ironia poética, suas últimas telas retratam cenas leves da vida familiar, cores quentes, ambientes externos, cotidianos ternos. Uma fuga, ou talvez uma síntese. Stella partiu precocemente em 2022, aos 66 anos de idade, deixando um legado artístico admirável.

Até 19 de julho.