Arte-veículo

05/jun

O SESC/Santos, São Paulo, SP, apresenta a exibição coletiva com 40 artistas e grupos estudados na pesquisa Arte-veículo, da curadora Ana Maria Maia. Desde a televisão, inaugurada em 1951, e a Internet, difundida no início dos anos 2000, diferentes artistas e grupos figuraram no agendamento midiático para nele experimentar e praticar “inserções em circuitos ideológicos”, como alegou Cildo Meireles em 1970. Ou disseminar “ideias vírus”, conforme Giseli Vasconcelos prescreveu já em 2006, fazendo ressoarem ao longo das décadas os termos de uma relação que se dá entre os veículos de comunicação como hospedeiros e os artistas como parasitas.

 

Para repercutir intervenções midiáticas no contexto de uma instituição cultural, a curadoria pretende misturar diferentes suportes na organização espacial da exposição, de documentos impressos e registros em vídeo a objetos e instalações. O projeto foge de uma narrativa cronológica para priorizar o entendimento de estratégias recorrentes dos artistas e grupos no decorrer desse intervalo histórico. Desse partido, surgem seus seis núcleos, denominados a partir de verbos que denotam um conjunto de ações: duvidar da verdade, perder-se, duelar, “ouviver”, hackear e ficcionalizar. A exposição propõe também um programa público de performances, conversas e laboratórios, e ainda a reinserção de trabalhos em espaços de imprensa e mídias, como jornais, revistas e programas de rádio, e mesmo redes sociais. Destaque para o Grupo Manga Rosa: Carlos Dias, Francisco Zorzette e Jorge Bassani.

 

Até 28 de julho.

Em cartaz na Bergamin & Gomide

03/jun

A Burrice dos Homens: uma colagem espaço-temporal realizada em conversa com Tiago Carneiro da Cunha na Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP. Até 20 de julho.

 

Entre 1985 e 1986, Martin Kippenberger, em Colônia, embarcou rumo ao Brasil acompanhado pela fotógrafa Ursula Böckler, encarregada de registrar o périplo de três meses. Àquela altura, o artista já era um herói local na Alemanha Ocidental, famoso tanto por seu trabalho quanto por sua personalidade histriônica. Kippenberger nomeou a expedição ao “exótico” país como “Magical Misery Tour”, parodiando o famoso álbum dos Beatles. O tom sardônico e irreverente é típico do artista. Seu slogan também foi o ponto de partida conceitual para uma série de trabalhos embebidos em estereótipos, autodepreciação e interpretações jocosas, que expressam uma aposta na autoridade moral e cultural supostamente conferida por seu passaporte alemão. As fotos de Böckler revelam Kippenberger como um típico “gringo”: vermelho de sol, de shorts e sem camisa, encantado com as mazelas tropicais e pronto a interpretá-las a partir de sua posição privilegiada. Naquela época, ainda se falava em “Terceiro Mundo” e o circuito da arte contemporânea oficial se concentrava essencialmente entre Nova York, Londres e Colônia.

 

“Aqui é o fim do mundo”, escreveu Torquato Neto, quase vinte anos antes, no refrão da música Marginália II, gravada por Gilberto Gil em 1967. O poeta piauiense desconstrói – com a fluência associativa típica do grupo tropicalista – a exaltação nacionalista do romântico Gonçalves Dias. Seu exercício sagaz de intertextualidade desvela a complexa realidade brasileira durante a ditadura militar. Era o início dos chamados “anos de chumbo” e o experimentalismo exuberante da Tropicália logo foi dispersado por uma série de perseguições e pelo exílio dos integrantes do movimento, que antes de partirem protagonizaram uma verdadeira revolução estética no cenário cultural brasileiro.

 

Em 1971, Ivan Cardoso convidou Torquato Neto para interpretar Nosferatu no Brasil, um clássico do gênero “Terrir”, termo criado pelo poeta Haroldo de Campos. No mesmo ano, Neville de Almeida rodou o lendário Mangue-Bangue, uma colagem audiovisual radical realizada numa zona de prostituição carioca que o cineasta visitou com Hélio Oiticica. Os dois filmes revelam certa desconfiança dos cânones da história do cinema ocidental, mostrando, cada um a sua maneira, pela via do absurdo tragicômico e do deboche, um Brasil ameaçado pelo autoritarismo e pela censura.

 

A versão marginal e ensolarada do vampiro Nosferatu, que toma água de coco em Copacabana ao som de bossa-nova, poderia facilmente ser um dos personagens cáusticos de Tiago Carneiro da Cunha, que são o ponto de partida desta exposição. Minha opção, neste texto, de chegar ao seu trabalho pela via da associação livre, replica a dinâmica que nos levou às obras em exposição: uma procura compartilhada por artistas de diferentes gerações que, assim como ele e os exemplos citados acima, optam por habitar a tênue linha entre o cômico, o trágico, o melancólico e o sedutor quando se propõem a representar e a discutir criticamente os códigos visuais que constituem uma ideia de identidade cultural brasileira ou, mais amplamente, da região que se convencionou chamar de América Latina no mundo globalizado e do chamado “circuito internacional da arte contemporânea” – que a propósito começou a ser instaurado na época da viagem de Kippenberger.

 

Yes, nós temos bananas e melancolia tropical para dar e vender na exposição. Optamos por criar um ambiente cacofônico, repleto de associações livres, jogos semânticos, homenagens, intertextualidades, releituras e profanações variadas. Os trabalhos em exposição põem em cheque a ideia de alta e baixa cultura, optam pela transgressão e pela idiossincrasia como antídotos às interpretações rasas, discursos fechados e olhares unilaterais. Levando isso em conta, a inclusão de uma das imagens originais feitas por Böckler – única artista europeia na mostra -, a qual retrata Kippenberger no Brasil, tem a intenção de ressaltar a autonomia do olhar da fotógrafa em relação à abordagem ambivalente do projeto do artista. Em várias imagens, as lentes de Böckler captam com certo constrangimento os movimentos de um artista-turista fanfarrão em um Brasil recém-saído de vinte anos de ditadura militar, e acabam por se tornar um documento visual importante da mentalidade de uma época.

 

Distante da “miséria mágica” estilizada por Kippenberger, o território estereotipado que Carneiro da Cunha explora há anos e que ecoa nesta exposição, é resultado da sublimação intencional de um contexto que é insuportavelmente real. Ao evocar com humor o que é canônico ou inenarrável, sua obra nos aproxima de elementos da nossa sociedade que, por serem tão flagrantes e traumáticos, desafiam a razão. Quando o noticiário se aproxima tão intensamente da narrativa fantástica, os monstros lodosos e os diabos sacanas de Tiago Carneiro da Cunha, ou mesmo o escatológico Polochon de Lina Bo Bardi, deixam de parecer absurdos e nos lembram do potencial agregador – e por que não revolucionário? – do senso de humor como ponto de partida para reflexões criticas sobre dinâmicas sociais arraigadas, e que necessitam de revisão.

Fernanda Brenner

 

 

Lista de artistas:

 

Adriano Costa, Amadeo Luciano Lorenzato, Ana Prata, Anna Bella Geiger, Antônio Dias, Antonio Henrique Amaral, Artur Barrio, Cabelo, Cícero Dias, Cristiano Lenhardt, Erika Verzutti, Glauco Rodrigues, Hélio Oiticica, Ivan Cardoso, Ismael Nery, Jac Leirner, Jarbas Lopes, José Antônio da Silva, Leda Catunda, Lina Bo Bardi, Oswaldo Goeldi, Pedro Caetano, Radamés “Juni” Figueroa, Rogério Reis, Saint Clair Cemin, Tiago Carneiro da Cunha, Tonico Lemos Auad, Ursula Böckler, Vicente do Rego Monteiro, Wilma Martins, Yuli Yamagat.

Catunda na Fundação Rolim Amaro

Na Roda da FAMA com Leda Catunda, acontecerá no dia 15 de junho, das 10h30 às 11h30, na Sala Rolim Amaro, Itu, São Paulo, SP. “Na roda da FAMA” é uma ação da Oficina Educativa da Fábrica de Arte Marcos Amaro e tem como objetivo gerar aproximações entre os artistas do acervo ou com obras expostas com a comunidade artística e com o público geral interessado em arte de Itu e interior de São Paulo. A proposta do encontro tem como foco o compartilhamento de experiências em pesquisa e criação artística. A partir da obra “A Cachoeira” (1985) presente na exposição “Utopia de colecionar o pluralismo da arte” com curadoria de Ricardo Resende em cartaz na FAMA, a artista Leda Catunda propõe uma conversa sobre seu percurso e processo poético.
Sobre a artista

Leda Catunda nasceu em São Paulo em 1961, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais, destacam-se as mostras “I love you baby” no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo/SP, 2016), a Seleção de obras de 1985 a 2015 no Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza/CE, 2015), as Pinturas Recentes, no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, 2013), que itinerou também para o MAM Rio (Rio de Janeiro, 2013); além de Leda Catunda: 1983-2008, mostra retrospectiva realizada na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2009). Uma das expoentes da chamada Geração 80, a artista esteve nas antológicas “Como Vai Você, Geração 80?”, Parque Lage (Rio de Janeiro, 1984); e Pintura como Meio, MAC-USP (São Paulo, 1983). Sua carreira inclui ainda participações em três Bienais de São Paulo (1994, 1985 e 1983), além da Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2001) e da Bienal de Havana (Cuba, 1984). Sua obra está presente em diversas coleções públicas, como: Instituto Inhotim (Brumadinho); MAM Rio de Janeiro; Fundação ARCO (Madrid, Espanha); Stedelijk Museum (Amsterdã, Holanda); além de Pinacoteca do Estado, MAC-USP, MASP, MAM (todas de São Paulo).

Blocos de cor na Mul.ti.plo

31/maio

No dia 04 de junho, a artista visual Sandra Antunes Ramos inaugura a mostra “Costuras”, na Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ. Nessa mostra individual a artista reúne cerca de 30 pinturas em pequenos formatos, em técnicas combinadas: tinta a óleo, costura sobre papel, folhas de ouro, chapas de cobre e latão, tinta acrílica metalizada, caneta metalizada, cera para dourar e linhas metalizadas.

 
Sandra Antunes Ramos trabalha tanto a questão pictórica, com blocos de cor, – sua marca registrada -, como rompe com isso, através de linhas fluídas costuradas, que remetem ao corpo feminino; obras delicadas, tanto no formato quanto no acabamento, que equilibram o geométrico e o orgânico, a rigidez e a fluidez.

 
As pinturas, em média de 21 x 21 cm, em sua maioria, são quadradas e dividas em três planos. O primeiro, pintado a óleo, carrega certa profundidade. O segundo é composto por um traçado de linhas que formam uma renda geométrica, que parecem projetar-se para fora do papel. E, por fim, unindo esses dois planos antagônicos, como numa sutura, rompem traços orgânicos de estudos que a artista realiza há anos a partir da observação de modelo vivo em movimento.

 

 

A palavra da artista

 
Pequenos formatos. Essa escala me é familiar e faz muito sentido para o meu trabalho, pois é a escala da mão, da mão que borda, da mão que pinta, da mão que colore compulsivamente até obter uma camada uniforme, quase contrária ao que o material inicialmente propõe.

 

Eu pinto com os dedos. O material mais forte que uso é o bastão oleoso, que espalho com a mão.
O papel é mais frágil do que a tela. Além disso, uso papéis finos, transparentes, que marcam, vincam, reagem mais. A tinta a óleo, mesmo no papel, demora muito para secar e uso diversas camadas. Depois vem a costura, que é lenta também.

 

 
Opiniões

 
Para o crítico de arte Alberto Tassinari, Sandra cria peças “no tamanho das coisas que a mão pega”. A arte de Sandra pede contemplação, são trabalhos mais condizentes com um canto sereno de uma casa ou algo equivalente. “Precisam ser olhados de perto. Caso contrário, não pulsarão. Ao aproximar-se deles, é como se o olhar os abrisse com uma grande angular. Ou, ainda, com o foco fechado, ora aqui, ora ali, na superfície de seus movimentos infindáveis. Não enchem a sala, mas inundam o olhar”, explica Tassinari.

 
Segundo o artista Paulo Pasta, o trabalho de Sandra organiza-se a partir de “uma indefinição muito poderosa entre o reconhecível e o criado, um lugar entre a figuração e a abstração. E esse lugar ‘entre’ parece algo pessoal e diferente de muita coisa que hoje se vê por aí”. Ele fala também de sua relação com os pigmentos: “Sandra vai descobrindo as cores do desenho à medida que o vai construindo, um pouco como caminhar no escuro. E suas relações de cores possuem também um gosto muito próprio, igual ao seu espaço: são inesperadas, ousadas. Mas principalmente muito vividas e experimentadas”, finaliza.

 

É a segunda individual da artista no Rio de Janeiro, sendo a primeira em 2014, também na Mul.ti.plo. “Sandra nos mostra como uma artista contemporânea pode retomar o gesto manual como condição de uma escolha do seu consciente processo criativo. As silhuetas costuradas por Sandra fogem às obviedades, insinuam um corpo de enigmas. Desconcertante campo da delicadeza”, explica Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo.
 

 

Sobre a artista

 
Sandra Antunes Ramos nasceu em 1964, em São Paulo, SP, onde vive e trabalha. Sua trajetória em arte visual começou tardiamente. Dedicou-se por cerca de dez anos à atividade de educadora. Posteriormente, migrou para as artes gráficas, onde realizou diversos desenhos de livros e capas. Como designer, teve uma larga experiência na diagramação e no desenho de livros de arte. Em 2014, realizou sua primeira individual, na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, no Rio de Janeiro, com curadoria de Alberto Tassinari. Em 2016, realizou uma exposição individual na Galeria Millan, voltando a expor lá em 2017, em uma coletiva no espaço Anexo Millan. Participou de exposições coletivas, como paratodos 2 (2017), na Carpintaria, Rio de Janeiro, e a mostra impávido colosso (2019), n’A Mesa, também na capital carioca.

 

 
Até 11 de julho.

Nazareth Pacheco na Kogan Amaro

27/maio

Expoente de uma geração de artistas que despontou entre as décadas de 1980 e 1990, tempo em que o País entrava em ebulição com pautas relacionadas à mulher, Nazareth Pacheco tomou sua condição feminina e sua biografia, em particular as narrativas relacionadas à história de seu corpo, como matéria-prima para suas obras tridimensionais. Após um mergulho no passado, em meio às lembranças afetivas, a artista emergiu dando vida a trabalhos inéditos, agora exibidos em “Registros/Records”, individual na Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP..

A mostra reúne trabalhos que evidenciam sua produção artística dos últimos cinco anos, período em que Nazareth Pacheco viveu o luto de seus pais, figuras importantes em sua trajetória e formação, e algumas tantas intervenções cirúrgicas em seu corpo, decorrentes de um problema congênito que a acompanha desde a infância. É assim que a artista conjuga passado e presente, ideia aparente em Registros (2019), instalação feita a partir de recortes de exames médicos seus e dos seus pais. Fincada no teto da Galeria, a obra se esparrama até o chão e faz lembrar uma espécie de cascata, densa e fluida como a vida.

Nazareth cresceu em um ambiente de incentivo aos trabalhos artesanais, com mãe e avó adeptas ao tricô e ao bordado. Foi com elas que aprendeu o ofício, na época de extrema importância para lhe ajudar a desenvolver habilidades com as mãos, que também passaram por processos cirúrgicos. É dessa memória que surge Vida (2019), trabalho composto por camisolas de sua mãe, vestes distintas e delicadas, hoje apresentadas com restauros de pérolas e cristais, uma ressignificação singela para as avarias deixadas pelo tempo. A intimidade com os objetos clínicos é uma constante na vida e na obra da artista, não apenas pelas sucessivas operações, mas, também, por sua figura paterna. Em homenagem a seu pai, médico neurologista, Nazareth exibe DELE (2018), uma tríade de instrumentos fundidos em bronze. Sem medo ou pudor, Nazareth Pacheco convida o público a imergir em seu íntimo. É o que faz na série Momentos (2017), na qual exibe registros em polaroids do pré e do pós-operatório de uma de suas inúmeras cirurgias.

Na ocasião da abertura, a artista lançou um livro que documenta seus mais de 30 anos de trajetória. Intitulado “Nazareth Pacheco”, a publicação foi idealizada pela artista e contou com a colaboração de colegas de longa data. O livro foi organizado por Regina Teixeira da Costa e contempla análises de autores de diversas gerações, como Ivo Mesquita, Marcus Lontra da Costa e Tadeu Chiarelli, além de críticas inéditas assinadas por Cauê Alves e Moacir dos Anjos.

Até 15 de junho.

Darzé exibe Florival Oliveira

15/maio

A Paulo Darzé Galeria, Corredor da Vitória, Salvado, Bahia, apresenta de 16 de maio, com temporada até 15 de junho, a exposição de esculturas, painéis e objetos de Florival Oliveira. São 40 trabalhos individuais, com a montagem em processo de instalações sobre o plano horizontal e vertical da galeria feita em madeira, aço inox, alumínio plotado e MDF com jato de tinta.

 

Para Florival, fora as técnicas e materiais utilizados, realça a temática, implícita no título do texto de apresentação escrito por Carolina Paz, denominado Plano Fértil. “O processo se dá no coletivo com trabalhos desenvolvidos em aço inox e soda, plotagem em alumínio recortado, MDF e pintura automotiva. Os trabalhos em madeira, resultam de processo individual utilizando as sobras de madeira das carpintarias, a exemplo dos arcos em meia lua que organizam o trabalho tridimensional”.

 

“Minha última individual foi em 2013. Ao longo dos últimos seis anos surgiram propósitos bem específicos quanto ao resultado daquilo que atualmente apresento e o que deve ser mostrado. Foi salutar o amadurecimento das ideias culminando uma nova conceituação nos direcionamentos processuais. As ações nas mostras coletivas permitiram o desenvolvimento do trabalho a uma dilatação de importância paradigmática o que faz resultar em mudanças conceituais e técnicas. Acredito que esse foi e é resultado dessas minhas caminhadas como artista, buscando uma aproximação do contexto contemporâneo enquanto linguagem. Esse é um valor especificamente meu quando busco no inusitado a potência devida como expressão da minha arte”.

 

 

Apresentação da mostra

 

Escrita por Carolina Paz, artista e cientista social, sob o título Plano Fértil, é realçado em seu texto que “a obra de Florival Oliveira é puro processo derivado de sua relação íntima com os materiais, suas condições socioeconômicas de produção e o compromisso com os procedimentos que o artista impõe a si e aos objetos que produz. Conhecer essa trajetória é um privilégio que agrega ainda mais força à leitura do trabalho”.

“Quando a poesia é potente há quem acredite que ela fale por si. Diz-se que experimentá-la no presente, sem qualquer outra informação a seu respeito, é suficiente. Porém, conhecer o processo de sua produção pode ampliar as possibilidades de experiência do espectador sobre a obra. Como esse trabalho foi feito? Quais as considerações e decisões tomadas pelo artista para tal e qual gesto no trabalho?”

“A obra de Florival Oliveira é puro processo derivado de sua relação íntima com os materiais, suas condições socioeconômicas de produção e o compromisso com os procedimentos que o artista impõe a si e aos objetos que produz. Conhecer essa trajetória é um privilégio que agrega ainda mais força à leitura do trabalho”.
“As peças em exposição na Paulo Darzé Galeria são consequências de investigações anteriores e desdobramentos das formas com as quais o artista trabalha há décadas. Nesta nova série, as esculturas parecem querer ocupar mais as superfícies das paredes e do chão do que a atmosfera do lugar”.

“Formas selecionadas de uma numerosa produção orientada por um intenso interesse de Florival em explorá-las em todas suas dimensões, por dentro e por fora, para os lados, horizontal e verticalmente, como se quisesse esgotar todas as possibilidades de suas configurações e posições”.

“São quatro as formas primordiais a partir das quais Florival opera desdobramentos isolando seus conteúdos. Olhando-as a partir de seu interior cria os “módulos vazados” em aço inox. Quando as delineia e as contorce sugere um corpo em movimento. São formas-sujeito e são suas próprias trajetórias, seus passos representados em formas sólidas, “objetos” e “painéis escultóricos” em MDF cobertos pelo branco da tinta automotiva”.

“Vibrando em cópias de si mesmas e em uma proliferação de facetas querendo se mostrar por inteiro, as formas modulares conjugadas em três planos, os “relevos” recortados do papel cartão colorido com tinta acrílica de cores diferentes, parecem confirmar essa volta da escultura ao bidimensional. Não para apaziguá-la ou conformá-la à parede, mas evidenciando a capacidade infinita de cada face-plano em gerar a partir de si as demais formas que ocupam o mundo”.

“Florival revela intuitivamente uma conexão com sua história pessoal e seu desenvolvimento artístico na xilogravura. É fascinante descobrir, acompanhando sua produção bem de perto nos últimos dois anos, que talvez tudo se originou ali, na xilo: as sobras de madeira retiradas da matriz são formas que o interessam desde sempre. Curvas, meia luas… O olhar que se encanta por essas formas primordiais também as encontra, em outro contexto, nas sobras das oficinas de marcenaria locais (do sertão baiano, onde vive o artista). Lá esses indícios de madeira são encontrados em maior escala. São arcos e semiarcos do refugo dos cortes de portas e janelas feitas pela serra de fita”.

“Lidar com esses “módulos”, assim denominados por Florival, é algo que parece tomar todo seu pensamento. Sou testemunha de que é quase impossível fazê-lo enxergar quaisquer formas no mundo sem essa sua elaboração modular e matemática. Uma combinação de cálculos de adição, acoplamento e divisão está em seu olhar e em seu discurso. Sou da opinião de que este raciocínio traduz sua visão de mundo de forma profunda. E creio que esta é uma ação de procura e descoberta inesgotável”.
“A força da brutalidade introvertida dos trabalhos anteriores deu lugar à elegância, também forte, porém graciosa e expansiva. Florival, desta vez, nos propõe pensar em planos férteis de potência infinita”.
Sobre o artista

 

Florival Oliveira nasceu em Riachão do Jacuípe, Bahia, onde vive, hoje dividindo o espaço com Salvador, Bahia, em 18 de agosto de 1953. Iniciou a sua carreira em 1976. Sua obra é detentora de alguns prêmios e está representada nos acervos do Museu de Arte Moderna da Bahia; Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana; ACBEU Salvador; Biblioteca da Universidade da Bahia; Museu Regional de Feira de Santana.

 

Texto de Claudius Portugal

O que logo chama a atenção em seus trabalhos são as suas formas, os volumes, os espaços, os movimentos, e a escolha dos materiais. Há na sua arte uma busca incessante de uma precisão técnica por meio de uma pesquisa incisiva e paciente, através de uma linguagem contemporânea de tratar a matéria. Ao mesmo tempo, é uma arte que tem como chão a sua terra, saberes e fazeres de sua gente, o que faz tornar-se um tradutor do sentimento de universalidade do mundo que vive na sua aldeia, portas do sertão baiano.
Estas são marcas de uma obra onde o desejo de expressão ultrapassa a infância e a vivência de um homem do campo, como é a sua realidade na cidade natal, de vaqueiros e suas roupas de couro, das boiadas, dos utensílios e ferramentas indispensáveis ao dia a dia, expostos na feira semanal, passando pelo homem, agora urbano, estudante e, depois, professor de arte, com acesso à informação, à curiosidade, ao estímulo e ao estudo do que há de mais atual nos grandes centros do mundo através não só das técnicas e materiais, mas de sua inventividade em marcar o aqui e agora.
Estas duas vertentes não se chocam, pois, em sua obra, unida por signos e símbolos do Nordeste, o homem está diante do seu habitat, de seu entorno de sertão, ao lado do homem do mar que a capital lhe acrescentou, na sua navegação por portos que o levam aos quatro cantos do mundo. Levando nesta viagem a sua cidade, a sua gente em seu cotidiano, como referência, como investigação, como paciência – o seu fazer é solitário tanto quanto a sua fala é silenciosa, deixando se vir abertamente na arte que realiza – a aventura pessoal de uma linguagem que expressa sua visão de mundo, o mundo de hoje. A sua arte é seu gesto, sua caligrafia, sua escrita, sua voz, seu grito, e o seu modo de estar e ser no mundo. E isto o deixa exposto à visitação pública ao carregar com ela todos nós, admiradores, e se deixa existir como expressão por aquilo que nomeamos arte.

Três artistas no Sesc/Guarulhos

13/maio

A luz natural invade os quadrados de vidro que formam a
cobertura transparente do Sesc Guarulhos, SP. A unidade, erguida
com investimento de 180 milhões de reais, foi inaugurada dia 11.
Em um momento de prováveis cortes de verbas para o Sistema S,
o prédio de 34 200 metros quadrados assinado pelo escritório Dal
Pian Arquitetos finca bandeira em um ponto inédito nos arredores
de São Paulo e, de quebra, passa a atender também a população
da Zona Norte, que contava só com o Sesc Santana.
O novo complexo tem uma das maiores variedades de ambientes.
No saguão de entrada: “Já Estava Assim Quando Cheguei”, de
Carlito Carvalhosa, é um bloco de gesso com mais de 2 toneladas.
Do ladinho, observa-se no 2º piso, “Tintas Polvo”, de Adriana
Varejão, que fala de um tema caro ao Brasil e ao Sesc:
diversidade. No ginásio fica a pintura “Paisagem Desaguando”,
de Janaina Tschäpe.
Fonte: (Veja/SP).

Objetos de Carlos Bevilacqua

09/maio

Continuará em cartaz até o dia 15 de maio, na unidade Ipanema do Centro Cultural Cândido Mendes, a exposição “Indeterminado”, individual de objetos de Carlos Bevilacqua, na Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes de Almeida.

 

Sobre o artista 

Nascido no Rio de Janeiro em 1965, lugar onde vive e trabalha, Carlos Bevilacqua iniciou seus estudos na Universidade Santa Úrsula. Seu início no mundo das artes foi no Projeto Macunaína em 1988, onde recebeu o Prêmio Ivan Serpa. Em 2018 Carlos lançou seu livro “Carlos Bevilacqua” trazendo uma seleção de algumas obras que foram criadas em seus 30 anos de carreira, o livro traz também uma entrevista de Bevilacqua ao curador e professor de filosofia Luiz Camillo Osorio.

Os perigosos anos 1960

22/abr

Os anos 1960 foram marcados por movimentos de contestação em vários países do mundo, por motivos diversos – sistemas educacionais, costumes, repressão política, contestação de guerras. No Brasil não foi diferente e, a despeito da censura imposta por um regime de exceção, houve no período uma intensa produção artística, que retratou a atmosfera de tensão e riscos da época.

 

Para revisitar esse contexto, especificamente o período de 1965 a 1970, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, exibirá, entre 30 de abril e 28 de julho, a exposição “Os anos em que vivemos em perigo”, que traz um recorte da coleção focado na segunda metade da década de 1960, um período plural da arte brasileira, que foi fundamental para o desenvolvimento de nossa produção até os dias atuais. Tal cenário transformou o antropofágico caldeirão cultural do país, no mesmo momento em que acontecia a reestruturação do MAM que, em 1969, teve sua nova sede inaugurada, resistindo aos tempos e chegando até o momento atual em que celebra seus 70 anos de história.

 

Com curadoria de Marcos Moraes, a exposição reúne desde a tendência pop até obras de filiação surrealista, muitas das quais exprimindo as inquietações sociais e comportamentais que marcaram aquela época. São ao todo 50 obras de artistas como Antônio Henrique Amaral, Anna Maria Maiolino, Antônio Manuel, Cláudio Tozzi, Maureen Bisilliat, Wesley Duke Lee, entre outros.

 

Pinturas, xilogravuras, fotografias e objetos foram selecionados para apresentar imagens associadas ao ambiente cultural vigente como as manifestações, greves, censura, utopia, repressão, desejo e identidade brasileira – um apanhado que apresenta a potencialidade da ampliação de horizontes produzida pela vanguarda brasileira nesta época. A ação educacional do museu também contribuirá para oferecer aos espectadores oportunidades de pensar sobre a cultura daquela década, oferecendo atividades estimulantes que complementam a experiência da visita ao MAM.

 

“Para a seleção de obras, considerei o contexto, o ambiente efervescente e os acontecimentos que envolveram esses artistas no período dos anos 60 com atitudes radicais frente ao sistema da arte vigente no país, entre eles as exposições: Nova Objetividade Brasileira (MAM RJ), 1ª JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery & Sons) e a 9ª Bienal de São Paulo. A proposta desta mostra será refletir sobre esses complexos momentos vividos, tendo como marcos os anos de 1965 e 1970 rebatendo e rebatidos em 2019, suas atmosferas marcadas pela vida e a presença do perigo e da ameaça”, propõe Marcos Moraes.

 

Sobre o curador

Marcos Moraes é doutor pela FAU-USP e bacharel em Direito e Artes Cênicas pela mesma Universidade, além de especialista em Arte – Educação – Museu e Museologia. Professor de história da arte, é coordenador dos cursos de Artes Visuais da FAAP, da Residência Artística FAAP e do Programa de residência da FAAP, na Cité des Arts, Paris. Integrou o Grupo de Estudo em Curadoria do MAM e o corpo de interlocutores do PIESP. É membro do ICOM Brasil e do Conselho do MAM SP. Curador independente, seus mais recentes projetos curatoriais incluem Jandyra Waters: caminhos e processos; Entretempos e Lotada (MAB Centro, Museu de Arte Brasileira FAAP), além de Imagens Impressas: um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília, Florianópolis). É responsável por publicações sobre artistas como Luiz Sacilotto, Adriana Varejão, Rodolpho Parigi, Mauro Piva.

 

De 30 de abril a 28 de julho.

“Museu”, exposição de Daniel Senise

15/abr

Encontra-se em cartaz no Instituto Ling, Porto Alegre, RS, a exposição “Museu”, exibição individual de Daniel Senise. “Museu” reúne um conjunto de nove obras recentes – seis pinturas em grandes formatos e três trabalhos em papel – criadas entre 2017 e 2019. São monotipias que retratam salões de importantes museus ao redor do mundo – como a National Gallery (Londres), a Frick Collection (Nova Iorque), o Rijksmuseum (Amsterdan) e o Museu Nacional de Belas Artes (RJ) -, e aquarelas que reproduzem a padronagem dos pisos de madeira de instituições culturais, como o Museu de Arte Antiga de Lisboa.

 

Ao longo dos seus mais de 30 anos de atividade trabalhando nos limites da figuração na pintura, Daniel Senise é considerado um dos maiores expoentes da chamada “Geração 80” e se afirma como um nome importante na cena internacional contemporânea. Para a curadora Daniela Name, nessa exposição Senise reinveste na questão fundamental de sua obra: a ênfase no ausente. As telas representam os espaços vazios dos museus, vestígios e fragmentos que evocam a memória desses locais. “O conjunto de obras reunidas em Museu evidencia como a imagem latente – ela que não está – atinge uma força radical ao ser sequestrada dos espaços arquitetônicos e simbólicos que foram concebidos para guardá-las. Ela é talvez mais presente em sua ausência do que seria em sua representação”, afirma Daniela em seu texto curatorial.

 

 

A palavra da curadora

 

Reencenar a pintura

 

Museu reúne um conjunto de pinturas recentes de Daniel Senise que retratam salões de importantes museus ao redor do mundo – caso da National Gallery, em Londres, e da Frick Collection, em Nova Iorque -, além de aquarelas que reproduzem a padronagem dos pisos de madeira de instituições culturais. Os museus são hoje uma espécie de ruína, uma nostalgia de outro tipo de relação com a imagem. Apontam para a saudade de um diálogo mais vagaroso e áspero, distante da aceleração das redes sociais e suas fotografias produzidas num turbilhão ininterrupto, mas efêmero e deslizante, com pouquíssima aderência à memória.

Ao se relacionar com os museus, Senise reinveste na questão fundamental de sua obra: a ênfase no ausente. Ao longo de sua carreira, o artista se apropriou de obras de Giotto, Caspar Friedrich, Michelangelo e James Whistler, adulterando-as, velando-as integralmente ou abrindo mão de alguns de seus detalhes fundamentais; também marcou a trajetória de um bumerangue sem apresentar o objeto; usou lençóis de hospitais e motéis para criar uma monumental Via Crucis de corpos ausentes.

Aquilo que falta está ainda em Ela que não está – nome de obra paradigmática que aponta para a ausência que sempre foi o princípio e o fim, aquilo que mais importa em sua obra. O protagonismo dessa imagem recalcada, proveniente de outro tempo e outro espaço, tem feito da obra de Senise uma espécie de conversa com fantasmas.

Tais espectros jamais foram assustadores para o artista. E o conjunto de obras reunidas em Museu evidencia como a imagem latente atinge uma voltagem radical ao ser sequestrada dos espaços arquitetônicos e simbólicos que foram concebidos para guardá-las. Assim como Hamlet, que conversa desenvoltamente com o fantasma de seu pai, Senise vem lidando com o legado de imagens da história da arte como um fóssil em brasa, o leitfossil em constante movimento de que nos fala Warburg. O príncipe atormentado de Shakespeare monta uma peça dentro da peça, num paradigma para a metalinguagem artística. Ao dar outra vida para esses museus amputados, Senise reencena a pintura dentro da pintura, num jogo de reflexos por vezes dilacerante e inquisidor: o que temos feito com as imagens que nos importam?

Daniela Name, curadora.

 

 

Sobre o artista

 

Daniel Senise nasceu em 1955 no Rio de Janeiro. Em 1980, se formou em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo ingressado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no ano seguinte, onde participou de cursos livres até 1983. Foi professor na mesma escola de 1985 a 1996. Desde os anos oitenta, o artista vem participando de mostras coletivas, como a Bienal de São Paulo, a Bienal de La Habana, a Bienal de Veneza, a Bienal de Liverpool, a Bienal de Cuenca, a Trienal de Nova Delhi, entre outras realizadas no MASP e no MAM de São Paulo; no Musee d’Art Moderne de la Ville de Paris; no MoMA, em New York; no Centre Georges Pompidou, em Paris; e no Museu Ludwig, em Colônia, na Alemanha. Daniel Senise também tem exposto individualmente em museus e galerias no Brasil e no exterior, entre eles o MAM do Rio de Janeiro; o MAC de Niterói; o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; a Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro; o Museum of Contemporary Art Chicago; o Museo de Arte Contemporáneo, em Monterrey, no México; a Galeria Thomas Cohn Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro; a Ramis Barquet Gallery e a Charles Cowley Gallery, em Nova York; a Galerie Michel Vidal, em Paris; a Galleri Engström, em Estocolmo; a Galeria Camargo Vilaça, em São Paulo; a Pulitzer Art Gallery, em Amsterdam; a Diana Lowenstein Fine Arts Gallery, em Miami; a Galeria Silvia Cintra, no Rio de Janeiro; a Galeria Vermelho, em São Paulo; a Galeria Graça Brandão, em Lisboa; e a Galeria Nara Roesler de Nova York. Atualmente, vive e trabalha no Rio de Janeiro e em São Paulo.

 

 

 Sobre a curadora

 

Daniela Name nasceu no Rio de Janeiro, em 1973. É crítica e curadora de arte, doutora em Comunicação e Cultura e mestre em Histórica e Crítica da Arte pela UFRJ e autora dos livros Norte – Marcelo Moscheta (2012), Almir Mavigner (2013) e Amelia Toledo – Forma fluida (2014). É crítica-colaboradora do jornal O Globo; editora da Revista Caju, uma publicação online dedicada a ensaios e críticas de arte e cultura e assessora de Cultura e Arte da Associação Redes da Maré.

 

 

Até 13 de julho.